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4 Modificações Locais do Organismo Materno O mecanismo do trabalho de parto é, essencialmente, um processo de acomodação entre o feto e o canal através do qual ele deve passar; por isso, é evidente que a obstetrícia não tinha uma base científica até que fosse claramente compreendida a anatomia do esqueleto pélvico e das partes moles a ele associadas. — J. Whitridge Williams (1903) Modificações Sistêmicas ou Gerais: atingem diversos aparelhos do organismo. Modificações Locais: acometem o aparelho genital, especialmente, o útero. Afinal, tudo se desenvolve e se multiplica no útero. Marcha da gestante A gestante, ao andar, lembra a marcha anserina, pelos seus passos oscilantes e mais curtos. A base de sustentação ampliada e os ângulos aumentados entre os pés e a linha mediana, principalmente à direita, por conta do dextrodesvio uterino, conferem particularidades à sua movimentação. Útero A partir da fusão dos ductos müllerianos, durante o período da embriogênese, há a formação do útero. Composto por 3 camadas separadas e diferenciadas: 1. Serosa, que realiza a cobertura peritoneal externa 2. Miométrio, camada muscular lisa 3. Endométrio, é uma membrana mucosa que realiza o revestimento da cavidade uterina É um órgão com características peculiares do ponto de vista funcional e histológico. Com grande capacidade de modificação, principalmente, quando gravídico. 5 Constitui-se, basicamente, de corpo, colo e istmo do útero. Possui relação com a vagina e anexos (ovários, tubas uterinas, etc). Gestação ectópica → gestação que ocorre fora da camada endometrial póstero-superior do útero, pode ocorrer nas tubas uterinas, nos ovários, na região cornual do útero, fora do útero (região abdominal). Consistência do Útero A diminuição da consistência é subordinada à embebição gravídica (modificações gestacionais) e à redução do tônus, precocemente notadas especialmente no istmo, determinando o sinal de Hegar. Essa embebição gravídica amolece o útero como um todo. Embebição gravídica → aumento do teor aquoso dos tecidos (“maior quantidade de água”) Sinal de Hegar: o istmo adquire uma consistência amolecida ao toque vaginal. Volume Uterino O corpo do útero tem um volume crescente, mantendo sua conformação esférica até o 4º a 5º mês, quando o eixo de alongamento predomina sobre os transversos, dando ao útero um formato cilíndrico. E há expansão também do istmo. Nos primeiros 2 meses da gestação, o útero é um órgão totalmente pélvico, com 12 semanas já se torna perceptível ao palpar abdominal, o que depende da quantidade do panículo adiposo (gordura na região da barriga) e da musculatura da parede. O crescimentos nos outros meses pode ser acompanhado, mensalmente, pela delimitação do fundus e pela medição da altura em relação à sínfise púbica. Figura. O útero nas diversas fases da vida. A. Feto a termo: o colo é maior do que o corpo. B. Recém-nascido e infância; carente de estímulos hormonais, o útero regride, de modo mais acentuado no corpo. C. Puberdade: a atividade ovariana provoca o desenvolvimento do órgão. D. Menacma: útero não gravídico de nuligesta. E. Menacma: útero não gravídico, de multigesta. F. Senilidade: há involução de todo o órgão, especialmente do corpo. G. Na gestante. Volume do útero em suas fases Não gravídico → capacidade de 10mL, comprimento de 6-8cm, largura de 4,5cm e espessura de 2,5cm Gravídico → capacidade de 5-10L (na gestação à termo) Há um aumento no número de células miometriais no início da gestação (hiperplasia) e, depois, uma estabilização. Durante a segunda metade da gestação, o crescimento miometrial se dá pelo processo de aumento do tamanho das células (hipertrofia), sob influência dos hormônios esteroides (destaque para os estrogênios). Porém, na segunda metade da gestação, também há o processo de distensão, pelo aumento do conteúdo (feto cresce), levando a um afinamento progressivo da parede uterina, principalmente do istmo, que não sofre o 6 processo de hipertrofia (integra o segmento inferior do útero), com isso a fibra muscular fica mais longilínea, pelo estiramento. Peso Uterino O útero sofre um aumento repentino no seu peso. Não gravídico → de 4 a 70g Gravídico → de 1.100 a 1.200g Estrutura Uterina Interna (Endométrio/Túnica Mucosa) • Reação decidual • Decídua basal: nidação ovular e implatanção do ovo fecundado, componente materno da placenta. Os vilos coriônicos voltados para a decídua basal são altamente desenvolvidos e formam o córion frondoso ou viloso • Decídua capsular: ao redor do ovo, camada superficial que recobre o embrião em desenvolvimento e o seu saco coriônico • Decídua parietal: restante da decídua que corresponde à camada uterina não ocupada pelo feto Por volta da 10ª semana – a decídua capsular e parietal se juntam ao trofoblasto e dão origem ao cório (será a placenta, bolsa amniótica). Média (Miométrio/Túnica Muscular) Miométrio: ocorre o processo de hiperplasia, hipertrofia e estiramento das fibras musculares, além do aumento de tecido conjuntivo, de maneira generalizada, e dos líquidos intersticiais (embebição gravídica). É também muito maior a vascularização. Acredita-se que o útero seja constituído de 3 camadas: • Uma interna, fina, de fibras musculares circulares • Uma externa, fina, de fibras musculares, na maior parte, longitudinais • Uma central, a mais grossa, de fibras que se entrelaçam As fibras miometriais são longitudinais no fundo e corpo do útero, na região do istmo e colo (segmento inferior) são paralelas. Local da Incisão Cesariana: O segmento inferior é o local escolhido, na maioria das vezes, por ser fino e conter menos músculos e vasos sanguíneos. Feita nas fibras paralelas, porque está paralela às fibras musculares, aos ligamentos. Cesária Longitudinal: Sempre será feita cesárea corporal, por condições específicas da paciente, presença de miomas, etc. Incisão de pele não tem nada a ver com incisão de útero. 7 Externa (Perimétrio/Túnica Serosa) Peritônio visceral. Forma Uterina O útero não gravídico tem a forma piriforme (corpo mais largo que a região do colo) e está localizado na região intrapélvica (o útero não é palpável, se a paciente não tiver nenhuma patologia, como mioma), já o útero gravídico assume a forma globosa e assimétrica. Sinal de Piskacek → crescimento inicial que resulta no aumento desigual, principalmente, da zona de implantação, levando o útero a uma forma assimétrica, sinal percebido ao toque vaginal. Sinal de Nobile-Budin → percepção da forma globosa do útero ao toque dos fundos dos sacos laterais, podendo ser percebido também o pulso da artéria uterina. Até 12ª semana → o útero cresce em todas as direção de forma globosa, até uma parada que ocorre, pelo processo de isquemia, ocorrendo então o preenchimento dos fundos de sacos laterais ao toque vaginal (sinal de nobile-budin). A partir da 20ª semana → ocorre a conversão do formato uterino globoso para cilíndrico, levando a uma melhora no fluxo sanguíneo e o crescimento fetal. Após essa conversão, crescimento longitudinal, desenvolvimento da região ístmica, permitindo a manutenção do concepto na parte mais baixa (apresentação fetal). Trabalho de parto → esvaecimento cervical (colo fica mais fino) e formação do canal de parto. A cilindrificação é um processo que ocorre pelo desenvolvimento longitudinal do istmo. Apresentação cefálica → bebê tem a cabeça voltada para a pelve materna Apresentação pélvica → pelve do bebê voltada para a pelve materna Posição Uterina Não gravídico → posição de anteversoflexão e intrapélvico. Pacientes com útero retrovertido têm alguma dificuldade durante a gestação (segundo alguns estudos) → já é anteriorizado.Até no início da gestação o útero mantém essa posição, motivando a polaciúria, sintoma importante para o diagnóstico de gravidez. Com o crescimento do útero, há desvio para o lado direito, por conta do cólon sigmoide fixo no lado esquerdo, com isso o órgão sofre uma dextrorrotação e dextrodesvio. E esse fenômeno leva a modificações anatômicas renais e vasculares. Alterações renais: • Os rins deslocam-se para cima pelo aumento do volume uterino e também aumentam em tamanho (~1cm), por conta do maior volume vascular renal e do espaço intersticial. • Ocorre uma dilatação renal na porção superior, a partir da 7ª semana, chamada de hidronefrose fisiológica leve à direita, resultante tanto dos fatores mecânicos, quanto hormonais. • O útero expandido diretamente comprime os ureteres (a nível de linha inominada), em contrapartida a progesterona inibe a musculatura lisa ureteral, determinando ureteroectasia. • A dilatação ureteral é mais pronunciada à direita em virtude da dextrorrotação uterina, estando o ureter esquerdo relativamente protegido pelo cólon sigmoide. • A dilatação do sistema urinário superior pode aumentar a estase urinária, predispondo a gestante a infecções urinárias e pielonefrite. Alterações vasculares: • A partir da 20ª semana de gestação, o útero impede o retorno venoso ao coração quando a gestante está na posição supina, pela compressão da veia cava inferior (VCI), há compressão a aorta também. Com isso, muitas mulheres apresentam 8 a síndrome de hipotensão supina, chegando a apresentar, muitas vezes, perda de consciência. Ao se adotar o decúbito lateral esquerdo → débito cardíaco é restaurado quase imediatamente, é indicada essa posição para que a gestante durma. Até 32-34 semanas, a altura uterina é compatível com a idade gestacional. Se não estiver compatível pensar em hipóteses: Se a AU estiver menor → RCIU, morte fetal, oligodrâmnio Se a AU estiver maior → miomas, macrossomia fetal, gestação múltipla, polidrâmnio Coloração Uterina Intenso afluxo sanguíneo – tom vinhoso Vascularização Uterina Fluxo de 50mL/min para 500mL/min A região ístmica possui vasos uterinos paralelos às fibras miometriais. Coloração da vulva Sinal de Jacquemier: a vulva adquire pigmento e a região que faz limite com a extremidade inferior da vagina perde a coloração rósea e torna-se vermelho- vinhosa, com ninfas e grandes lábios entreabertos, pela hipertrofia. Região externa: hiperpigmentação até o períneo, ficando mais escurecida. Coloração e consistência do colo uterino Sinal de Goodell: em função da maior vascularização, o colo fica azulado durante a gravidez. E sob a influência dos estrogênios e da progesterona, torna-se amolecido durante a gestação. Hiperplasia glandular e eversões de mucosa endocervical – ectopias, são “feridas” que surgem por conta dessa eversão, já que a região fica mais sensível e se a gestante tiver uma relação sexual, pelo impacto do pênis → pode ocorrer um sangramento, então orientar a não ter relações, para não ter esse susto. Esperar ter uma reepitalização, para voltar a ter relações sexuais. Rolha de Schroeder → hipertrofia glandular com secreção muco espesso, o “tampão”, não tem odor, a paciente apresenta como queixa que está constantemente “molhada”. Corrimento vaginal → deve ser examinado e tratado, pode ser só fisiológico, mas pode ser algo patológico (vaginose bacteriana, clamídia, candidíase, etc), por conta dessa infecção, pode ser liberada prostaglandinas e a gestante entrar em trabalho de parto prematuro. O colo uterino tem uma posição posteriorizada e alongada, com anteriorização e encurtamento ao final da prenhez. Incompetência Istmocervical → é mais curto desde o princípio, a fibra muscular é mais curta, istmo não consegue manter o útero fechado. Para esses casos são indicados a circlagem, para manter o colo fechado e manter a gestação. Dilatação por fatores mecânicos e colagenólise (prostaglandinas – são liberadas durante as infecções). Ovários Aumento da vascularização, maturação do corpo lúteo na fase inicial, mantendo a gestação. Há hipertrofia desse corpo lúteo no início da gestação, antes da formação da placenta. Pode ser visto na USG e ser confundido com um cisto de ovário, mas NÃO é. Insuficiência do corpo lúteo → o corpo da gestante apresenta uma deficiência na produção de progesterona e consequentemente não consegue manter uma dosagem de progesterona adequada para o corpo lúteo, com isso há a perda por aborto do concepto (passa a se chamar feto na 9ª semana de gestação). O corpo lúteo irá produzir progesterona até a 12ª semana de gestação, a partir daí a placenta assume essa função. 9 Tubas uterinas Há um aumento da vascularização, aumento das fímbrias e hipertrofia do ligamento redondo. Vagina Sinal de Kluge: vagina adquire coloração violácea, pelo aumento da vascularização na região. Sinal de Osiander: percepção da pulsação da artéria vaginal no fundo de saco arterial ao toque vaginal. Há hipertrofia da musculatura lisa, afrouxando o tecido conjuntivo, as paredes ficam aumentadas e perdem a rugosidade. A vagina também aumenta a sua vascularização com a gravidez. Sob a influência dos estrogênios, o epitélio vaginal espessa-se durante a gravidez e há aumento da sua descamação, o que resulta maior secreção vaginal. Essa secreção tem pH mais ácido (3,8 a 4,0) do que o comum na mulher não gestante, para proteger contra a infecção ascendente, e isso ocorre pelo fluxo da secreção vaginal aumentado, reprodução dos bacilos Doderlein → glicogenólise → ácido lático → aumento da acidez vaginal. E isso facilita o processo da candidíase. Orientar a gestante a usar calcinha de algodão, retirá-la para dormir, evitar roupas justas, tudo isso para favorecer a ventilação da região. Mamas A inspeção mostra mamas com volume aumentado, em consequência da hipertrofia e das modificações que ocorrem gradualmente para adaptá-las à amamentação. Hipersensibilidade mamária → diminui até a 10ª semana Hipertrofia do tecido alveolar → crescimento Sinal de Hunter → a aréola primitiva, mais escura do que fora da gestação, apresenta, ao redor, a aréola secundária, menos pigmentada, de limites imprecisos, chamada também de aréola gravídica. Tubérculos de Montgomery → aparecem na aréola primitiva, em número de 12-15, que costumam involuir no puerpério. Podem ser: glândulas mamárias acessórias, ou sebáceas, hipertrofiadas e salientes. Amamentação: o bebê não tem que sugar o mamilo, e sim a aréola, para ter uma sucção adequada e não machucar a mama, atrapalhando a amamentação. Orientar no pré-natal: uso de bucha vegetal para fortalecer a região, tomar sol pela manhã nas mamas. Pomadas a base de lanoíla podem auxiliar também, até no processo da amamentação. A partir da 20ª semana (segundo o livro e 16ª semana, segundo os slides do professor) aparece a secreção de colostro, que pode ser percebida pela expressão da base (manobra semiológica) dos canais galactóforos, evitar fazer apenas a compressão da região justamamilar que, além de infrutífera, pode incomodar a paciente. Orientar a paciente não estimular a mama, porque essa estimulação, leva à liberação de ocitocina, que é um dos hormônios responsáveis pelo trabalho de parto. Estrias Aparecimento de estrias avermelhadas pelo aumento da vascularização do tecido conjuntivo subdérmico. Não somem após a gestação, mas podem ser tratadas. 10 Rede venosa de Haller → a circulação mais intensa que acompanha o desenvolvimento das mamas pode ser notada por uma trama de vasos venosos na pele.
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