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Até as alcachofras tem coração_ uma visão positiva d'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Instituto de Psicologia
ATÉ AS ALCACHOFRAS TÊM CORAÇÃO:
uma visão positiva d'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
Porto Alegre, novembro de 2014
Tatiane Lindemann
ÍNDICE
1.INTRODUÇÃO...................................................................................................................3
1.1 Suporte Social.................................................................................................................3
1.2 Otimismo.........................................................................................................................3
1.3 Criatividade.....................................................................................................................4
1.4 Autoeficácia....................................................................................................................5
2. RESENHA DO FILME......................................................................................................7
3. CONSTRUTOS APLICADOS AO FILME.........................................................................8
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................11
REFERÊNCIAS..................................................................................................................11
1) INTRODUÇÃO
	Esse trabalho busca no novo cinema francês aplicações dos construtos de psicologia positiva. Mais precisamente, no filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de 2001, lançado não faz muito mas já consagrado como clássico. Escolhidos entre os tantos construtos apresentados no filme, encontram especialmente o suporte social, o otimismo, a autoeficácia e a criatividade para dissertarmos sobre. Mas antes de tudo, vamos conceituá-los.
1.1) SUPORTE SOCIAL
	O suporte social é um construto de extrema importância na vida de todos. É através dele que temos nossas redes de apoio que nos fazem bem, nos ajudam em momentos de dificuldades e com quem nos relacionamos. O suporte social pode ser a nível de bairro, de vizinhos de porta, de família, de igreja, congregação, de emprego, escola, faculdade, enfim, são as pessoas com as quais há um relacionamento de confiança e que dão/podem dar o suporte necessário para passar por alguma dificuldade. Em verdade, são interações positivas como a amizade que dominam esse construto. 
	O suporte social tem grande importância na resiliência (quantidade de resistência e de perseverança do ser humano frente a dificuldades). A resiliência social inclusive está atrelada a ter grupos de amigos, vínculos com a escola, estrutura familiar, relacionamentos íntimos e a observação de modelos pró-sociais.	Um exemplo dessa situação são os veteranos da Guerra do Vietnã contando que só mantiveram a sanidade por não estarem sozinhos e por terem criado um sistema de comunicação no cárcere que os permitia conversar, dar aulas, fazer piadas, sem que os vietcongs percebessem. Laços afetivos, dessa forma, são fator de proteção e de coesão social, possibilitando suporte emocional mesmo numa situação tão difícil.
1.2) OTIMISMO
	Sobre otimismo, há duas teorias que dividem opiniões. A primeira é a do Otimismo Aprendido ou Explicativo, de Seligman, que afirma que o otimista atribui a causas externas, variáveis e específicas eventos negativos que venham a ocorrer, em contraponto com o pessimista, que atribuiria causas internas (como que intrínsecas à sua pessoa), estáveis e globais. Enquanto o pessimista tende a acreditar que coisas ruins tendem a acontecer o tempo todo, o otimista atribui causas externas aos acontecidos, interpretando-os como se não tivessem chance de voltar a acontecer. Assim, a explicação própria do sujeito é decisiva na sua conexão ou distanciamento com futuros resultados positivos. Um exemplo disso é um estudo feito com cartas de freiras carmelitas que associaram seu estilo de explicação à sua longevidade: quanto mais positiva sua escrita, mais longevas eram as senhorinhas.
	Há também a teoria do Otimismo Disposicional, que explica otimismo como uma tendência estável ao longo da vida de acreditar que coisas boas acontecerão em detrimento de coisas ruins. Scheier e Carver propuseram essa abordagem bastante focada na expectativa, uma vez que expectativas generalizadas de resultados podem envolver percepções em relação a poder avançar para objetos desejáveis ou se afastar de objetos não-desejáveis.
1.3) CRIATIVIDADE
	Antigamente advinda das musas, tendo o aspecto místico de um espírito para Beethoven e de demônio familiar que morava em sua caneta para Rudyard Kipling, a criatividade sempre interessou os campos do pensamento e da arte. Aristóteles já via com uma disposição interna e sem interferências divinas, mais próxima de uma definição atual. Hoje é aceita como a capacidade de realizar uma produção ao mesmo tempo nova e adaptada ao contexto em que se insere. É um processo de sensibilização a problemas, deficiências e lacunas, preenchidos com uma idéia original e adaptável. São importantes para o florescer da criatividade a flexibilidade a novas idéias, a imaginação, a tolerância a ambiguidades (pela coexistência de múltiplas soluções) e a motivação – paixão interna ou estímulo externo que fomenta nosso esforço).
	Distinguem-se frequentemente dois tipos de motivação relacionadas à criatividade: a intrínseca, e a extrínseca. A primeira relacionada à paixão interna de conhecer, compreender e vivenciar. A outra, ligada a fatores externos como recompensas. Teresa Amabile (1996) realizou um estudo crucial na diferenciação do impacto desses dois diferentes tipos de motivações. Para estimular a motivação intrínseca das crianças, pediu que escrevessem poemas para se divertirem. Já para outro grupo, pediu que escrevessem um poema a fim de agradar seus professores (de forma a verificar o estímulo extrínseco nessa situação). Notadamente, o grupo que procurou prazer ao fazer seus poemas e os fez com paixão, teve resultados mais criativos do que aqueles que o fizeram na tentativa de agradar o professor. A explicação dada é a de que há facilidade por meio da motivação intrínseca pois o estímulo está no próprio trabalho, na medida em que a perspectiva de recompensa provoque as pessoas ao caminho mais rápido de finalizar a tarefa – mas não necessariamente o mais criativo.
	Muito ligado à criatividade na medida que ambas dependem bastante da motivação interna, existe o flow, que, numa explicação simples, é a experiência de fluir, de sentir-se completamente a vontade dentro de si enquanto realiza suas atividades, sem qualquer sentimento ou raciocínio coerente, mas experienciando uma sensação positiva de plenitude. Ele acontece quando nos empenhamos em uma tarefa que nos desafia na medida em que temos capacidade para resolvê-la, mas que essa capacidade também exige de nós certa dedicação. 
1.4) AUTOEFICÁCIA 
Bandura (1997) define a autoeficácia como a crença que o sujeito tem na sua capacidade de produzir os efeitos desejados por suas próprias ações. Ela é baseada nas premissas da teoria cognitiva social, na qual as pessoas não apenas reagem às forças ambientais, mas são também forças de mudança. O sujeito a partir de suas crenças pessoais de autoeficácia define seus objetivos (acontece, por exemplo, a rejeição a um desafio pois a pessoa se sente incapaz de realizá-lo).
Na medida em que uma maior autoeficácia remete a uma atribuição pessoal ao sucesso, uma menor prevê uma atribuição causal. Dessa forma, quem acredita na sua capacidade sabe que venceu por seus próprios meios, enquanto alguém que tem certo descrédito por sua capacidade não a vê da mesma forma e tenta atribuir ao seu sucesso o caráter de sorte. Ainda, há um paralelo entre a autoeficácia e a persistência da pessoa: quanto maior a crença em seu potencial, mais o sujeito procura formas de solucionar determinado problema e se esforça mais. A resolução está em si, é interna. Dessa forma, tais pessoas se tornam menos vulneráveisa estresse e depressão. Porém alguém que já tem uma autoeficácia menor desiste sem muito esforço pois já não acredita em si mesmo naturalmente, e não conseguindo resolver a situação de primeira, tende a desistir.
Para Bandura, as expectativas de autoeficácia podem variar em 3 dimensões: em generalidade (“eu sou de humanas; logo, não sou bom em matemática” ou “vou bem em matemática; logo, vou bem em física também”), em magnitude (“eu consigo realizar tarefas simples”) e em força (se a crença na autoeficácia já é baixa, um resultado negativo pode ser bem danoso, enquanto na situação contrária o sujeito com alta autoeficácia não sofreria tanto impacto – pois a crença na sua capacidade é mais forte).
2) RESENHA DO FILME
	O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain) é um filme precioso. Com sensibilidade, graça, e através de minúcias, a personagem principal, Amélie, se propõe a microrrevoluções no ambiente em que vive. Não fazendo política, não destruindo estruturas, mas sim, trabalhando a sensibilidade e as agruras do cotidiano e as subvertendo, em alguns casos – a reescrita das cartas do marido infiel é uma delas, que mais tarde será melhor explicada. Dirigido por Jean-Pierre Jeunet, é um filme francês estreado em 25 de abril de 2005 e logo alçado ao status de cult. A história da menina que resolve usar de artífices para modificar a vida das pessoas ao seu redor é envolvente e de uma delicadeza ímpar. 
	De narrativa fácil e estilo inconfundível, o filme começa mostrando a infância solitária de Amélie, que no tempo atual do filme trabalha numa cafeteria, Deux Moulins. Ao se propor a devolver uma caixinha que encontrou por acaso a seu dono (que na época de escondê-la era apenas um garoto guardando suas preciosidades de forma a ninguém mais encontrar), e ver a importância desse gesto na vida desse senhor, Amélie resolve intrometer-se na vida dos outros de forma a torná-las melhor. Assim, cria um casal improvável na cafeteria, influencia seu solitário pai a viajar pelo mundo, penaliza o dono da mercearia que destrata sempre que possível seu gentil ajudante Lucien, entre outras coisas. Ainda, apaixona-se pelo moço que recolhia fotos descartadas das cabines fotográficas que encontra acidentalmente e acaba por recolher o álbum que este havia perdido para posteriormente devolvê-lo.
	Amélie então cria estratagemas de forma a tornar essa devolução diferente, e não apenas uma mera entrega. Ao mesmo tempo, cria uma amizade com o senhor Dufayel, seu vizinho que possui uma rara doença que deixa seus ossos frágeis como vidro e que observa a tudo através de uma câmera posicionada em sua janela. E mesmo nessa situação difícil, Amélie consegue fazer uma diferença em sua vida. Ainda, nos permite uma reflexão de que mesmo morando ao lado de nossos vizinhos, muitas vezes não os conhecemos – e perdemos muito por isso.
	A riqueza desse filme não cabe aqui nessa resenha. Não cabe em qualquer escrito que seja, em verdade. A estética preocupada que cria planos de fundo instigantes, os efeitos de luz e câmera, a presença constante do vermelho e do verde, os enquadramentos sensíveis e intimistas. A obra por si é de uma delicadeza extrema, e é obrigatória para qualquer entusiasta do cinema.
3) CONSTRUTOS DA PSICOLOGIA POSITIVA EM O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN
	A película começa por mostrar singulares e cotidianas situações de um determinado momento em especial (3 de setembro de 1973, às 18h28min32s), como a mosca capaz de bater a asa 14.670 vezes por segundo pousando na rua Saint Vincent, o dançar da toalha de mesa quando ninguém está olhando e concomitantemente a tudo isso, a concepção de Amélie Poulain, a personagem principal do filme. Tais situações antevem a preciosidade dos detalhes presentes na obra. Já dizia o provérbio alemão que o diabo está dos detalhes, e esse filme, em especial, se desenvolve tendo nas minúcias das pequenas situações da vida cotidiana seu fio condutor. Através da notícia da morte de Lady Di (situação bastante impactante na época), a vida de Amélie mudou. Não porque ela a tenha inspirado a aproveitar cada segundo da sua vida e viver seu sonho, como muitos enredos propõem, mas sim no cair da tampa de seu perfume que revelou a Amélie um esconderijo infantil de pequenos tesouros. Alguma criança havia guardado seus melhores (e piores) momentos numa caixinha escondida num ladrilho, e ao encontrar, a decisão: retornar a caixinha ao seu antigo dono. Caso tal tesouro trouxesse em si uma importância reconhecida, e de alguma forma modificasse a vida do já senhor que havia guardado a caixinha com tanto esmero, Amélie se proporia a mudar a vida dos outros (sempre na sutileza da indução de detalhes). E de fato, a recuperação do relicário, a nostalgia, as memórias que o inundaram fizeram o senhor entrar em contato com sua filha, de quem havia se afastado e que tinha um filho da idade do antigo jovem quando enterrou suas memórias na parede.
	Ao mesmo tempo que mostra os gostos e os infortúnios de cada personagem, o faz por coisas casuais. Novamente, situações que acontecem cotidianamente. O desconforto nos dedos enrugados no banho, no calção que gruda ao sair da piscina, mas também o prazer em arrancar papéis de parede ou de ver uma apresentação de patinação artística. Ainda, a perspectiva sempre ignorado dos animais é certamente de uma delicadeza prima, ao passo que até mesmo o ponto de vista monocromático é retratado na brincadeira de jogar com a perspectiva de quem gosta/não gosta.
	A infância de Amélie fora bem solitária. Em razão de uma suposta doença do coração que Amélie teria (e que se revela apenas a emoção de ver a atenção de seu distante pai voltada para si ao ser examinada), ela recebe aulas em casa de sua bastante estressada mãe. Seu único amigo Cachalote, o peixinho dourado, em função do ambiente familiar inóspito, após várias tentativas de suicídio, foi jogado ao rio. Dessa forma, Amélie desenvolve um mundo só seu onde vinis são feitos como crepes e a vizinha na verdade não está em coma, mas sim dorme ininterruptamente para depois acordar e nunca mais precisar dormir. Sua chance de ter finalmente companhia, representada na vinda de um irmão, revela-se desoladora: depois de pedir a Deus tal presente, a resposta divina vem no suicídio de uma turista do Quebec que acaba atingindo Amandine, mãe de Amélie, matando-a instantaneamente. Seu pai acaba fechando-se mais ainda na sua solistência e assim que teve idade suficiente, saiu de casa.
	Bom, podemos perceber como desde sempre a criatividade acompanhou Amélie. Se por um lado ela não teve muito apoio social na infância – devido à precoce morte de sua mãe e o maior retraimento de seu pai, agravada ainda mais pelo fato dela ter sido privada da companhia de outras crianças por uma doença do coração fictícia – por outro lado não lhe faltou criatividade. Criatividade essa que não a abandonou quando a adulta – percebe-se por suas intervenções. Que forma melhor de incentivar o pai a viajar se não fazê-lo receber cartas de seu anão de jardim/mausoléu com fotos suas em pontos turísticos do mundo? Ainda, todos os estratagemas para (não) se encontrar com o moço pelo qual estava apaixonada e a teorização do que teria acontecido com ele devido a seu atraso – culminando, na cabeça de Amélie, num eterno exílio no Tajiquistão e uma futura vida inteira comendo borsch? Ou a associação da notícia de cartas sendo recebidas com muitos anos de atraso com a carta que finalmente libertaria Madeleine Wallace do seu eterno suplício de chorar como uma Madalena?
	Imaginação nunca faltou a Amélie. E boa vontade. Como teorizado por Amabile, a criatividade de motivação intrínseca, pelo prazer de ser útil, de fazer o bem, tem muito melhores resultados do que a que visa apenas uma recompensa. Podemos perceber sua disposição natural a ajudar os outros também na cena em que acompanha o senhor cego que sempre ficava no metrô com a sua vitrolinha e juntos caminham na rua com ela lendo o passeio para ele. A experiênciade ver pelos olhos da jovem coisas de que ele provavelmente se lembrava (caso tenha perdido a visão) mas de tempos remotos. Não sendo pela lembrança, certamente foi pela imaginação. De qualquer forma, inseriu-o numa sensação de plenitude que pelo seu rosto não experienciava há muito.
	Esse sentimento de fazer bem aos outros e essa pró-atividade são reflexo de autoeficácia. Uma autoeficácia que aparentemente cresceu (ou pelo menos cresceu em vontade de ser) a partir do momento em que uma situação boba como devolver uma caixinha a seu antigo dono fez toda diferença. A partir do momento em que ele reatou laços com a filha e teve nisso o ponto de partida para conhecer o neto. É também um contraponto engraçado à noção de autoeficácia a maldade do vizinho de Amélie quando, em sua infância, fê-la acreditar não em produzir efeitos positivos com base em suas habilidades, mas sim em provocar acidentes ao fotografar o mundo com sua câmera instantânea. O vizinho, obviamente, foi penalizado por essa maldade para/com a jovem mocinha, que desde sempre teve um instinto de justiceira. Aliás, mesmo no questionamento da sanidade de Collignon que propôs como medida de punição à sua tremenda grosseria, o fez dialogando com detalhes.
	Com detalhes também Amélie dá alforria a Madeleine Wallace, a vizinha que mora no primeiro andar, zeladora do prédio e que em seu primeiro contato, conta sua triste história: abandonada pelo marido que a traía, perdeu também seu cachorro no dia da morte do canalha quando o animal soube da infelicidade e paralisou-se em frente ao retrato de seu antigo dono, olhando-o para sempre com muito amor e devoção. Guardava as antigas cartas do cafajeste com carinho e desde o dia em que ele se foi, sua vida se estagnou. Estava predestinada às lágrimas, já que seu nome era Madeleine, “como na expressão, chorar como uma Madalena”, e “Wallace” remetia às fontes Wallace. Levando em consideração a teoria de otimismo aprendido de Seligman, podemos perceber como a zeladora toma para si o infortúnio como permanente e intrínseco e como permite que causas externas rejam sua vida. Mas a causa maior de seu descompasso seria resolvida: Amélie toma para si as cartas e escreve uma última correspondência, recortando e adulterando trechos das antigas mensagens para fazer a derradeira e redentora, na qual o marido de Madeleine dizia-se arrependido, confessava tudo, pedia desculpas e prometia voltar. Sob o pretexto de um acidente de avião que extraviara a carta (e que de fato havia ocorrido, mas não com a mesma), Amélie reestabelece a vontade de viver de Madeleine na certeza do “ele me ama”.
	À Amélie, sempre faltou suporte social. Na medida em que começou a se preocupar com a vida dos outros, ela se aproximou de bastantes pessoas. Antigamente podia haver simpatia, mas na cumplicidade que ela desenvolveu com o senhor Dufayel, o homem de vidro, ela encontrou um grande ponto de apoio enquanto angustiada pelos estratagemas que inventava. Gina é perceptivelmente preocupada com Amélie também, tanto que testa seu pretendente com provérbios temendo que alguma pessoa desequilibrada se aproximasse da moça. Mesmo seu pai encaminha-se para se tornar uma futura amizade de verdade – na medida em que depois da intervenção de sua filha ele tenha decidido expandir seus horizontes e ir viajar. Nino também será uma fonte de suporte social - visto que relacionamentos naturalmente aumentam a rede de apoio dos envolvidos.
4) CONSIDERAÇÕES FINAIS
	O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é certamente um dos filme mais vivos já filmados. Podemos ver alguns construtos de psicologia positiva capturados do filme (como os construtos de criatividade, flow, suporte social, autoeficácia e otimismo), mas existem mais a serem analisados, haja visto ser um filme cheio histórias e referências que certamente merece uma análise mais aprofundada. Acredito ter sido uma experiência muito interessante de trabalho final da cadeira, numa síntese de tudo que foi visto em aula. Ainda, Amélie buscava fazer os outros felizes, mas no final das contas, ela não só influenciou a vida dos outros pra melhor como tomou as rédeas da própria vida também.
	A riqueza de personagens é notória, cada uma com suas particularidades e um universo inteiro para se analisar. Acredito ter sido importante a análise sob a ótica da psicologia positiva, e apesar de não explicitar todos os construtos presentes o filme ou dado o devido enfoque a todos, certamente criar uma análise em cima da teoria foi enriquecedor.
5) REFERÊNCIAS
AMABILE, T. M. (1996), Creativity in context, Boulder (CO), Westview;
LUBART, T. (2003), Psicologia da Criatividade, Paris, Armand Colin/VUEF;
SELIGMAN, M. E. P. (2002), Authentic Happiness, NY, Free Press;
SNYDER, C. R. & LOPEZ, S. J. (2007), Positive Psychology, Thousand Oaks, Sage Publications;

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