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Em seu poema "O Bicho", Manuel Bandeira descreve o dia em que encontrou um homem faminto procurando, de forma instintiva e animal, comida em meio a detritos urbanos. Assim, a obra, que retrata a insegurança alimentar no Brasil na década de quarenta, continua válida, uma vez que a fome é um problema persistente na nação verde-amarela. Desse modo, destacam-se como principais fatores atuais responsáveis pela fome a pandemia do novo coronavírus e o desenvolvimento capitalista. Em primeiro olhar, a eclosão mundial do vírus sars-cov-2 é uma das principais causas da atual fome no Brasil. Segundo a pesquisa "Alimentos para Justiça", realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020, a insegurança alimentar atingiu, no total, 59,4% dos brasileiros, superando a porcentagem registrada no início da última década, de aproximadamente 25%. Dessa forma, nota-se o agravamento e persistência da fome no Brasil em consequência da recente crise da Covid-19. Sob essa óptica, a forte influência capitalista brasileira também ganha destaque na perseverança da miséria alimentar no Brasil. De acordo com o episódio "Fifteen Million Merits", da série televisiva britânica "Black Mirror", uma boa alimentação só é adquirida com uma suficiente remuneração consequente de um bom desempenho no trabalho. Porém, como retratado na média-metragem, o modo capitalista de vivência não permite a reinserção de indivíduos mal nutridos em funções remuneradas que requerem capacidades físicas e psicológicas elevadas, alheias àqueles que, por falta de dinheiro, sofrem de insuficiência alimentar, introduzindo o cidadão a um ciclo vicioso. Dessarte, a fome no Brasil é um problema persistente, pois o capitalismo impossibilita a reincorporação à sociedade saciada de pessoas famintas. Portanto, expõe-se a necessidade de medidas que diminuam a persistência da fome brasileira. Nesse viés, cabe ao Estado, por meio dos ministérios da Cidadania e da Economia, aumentar os fundos e a quantidade de benefícios do programa Bolsa Família e do Auxílio Emergencial, uma vez que tal programa já se mostrou eficaz, porém encontra-se insuficiente perante o agravamento da fome frente à pandemia. Além disso, a Secretaria do Trabalho deve, por meio de incentivos - fiscais, por exemplo -, estimular que empresas contratem pessoas que sofrem de insuficiência alimentar e os ajude em sua recuperação e reinserção no mercado de trabalho. Feito isso, a fome no Brasil diminuirá e as cenas descritas por Manuel Bandeira não sairão de seu poema.
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