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Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 1 🦎 Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais Bárbara Aguiar dos Santos Medicina UFMG 158 Referências teóricas e imagens: Anatomia Orientada para Clínica, 8ª edição - Moore Peritônio e Cavidade Peritoneal Peritônio O peritônio é uma túnica serosa transparente, contínua, brilhante e deslizante que reveste a cavidade abdominopélvica e recobre as vísceras; É formado por duas lâminas: o periônio parietal, o qual reveste a face interna da parede abdominopélvica, e o peritônio visceral, responsável por revestir vísceras; As duas lâminas do peritônio são formadas por mesotélio, uma lâmina de epitélio pavimentoso simples; O peritônio parietal apresenta a mesma vascularização sanguínea e linfática, e a mesma inervação somática que a região da parede que reveste. É sensível à pressão, à dor, ao calor e ao frio; A dor no peritônio parietal geralmente é bem localizada, exceto na face inferior da parte central do diafragma, inervada pelos nervos frênicos, cuja irritação costuma referir-se nos dermátomos C3-C5 sobre o ombro; O peritônio visceral e os órgãos que ele recobre têm a mesma vascularização sanguínea e linfática, bem como a mesma inervação visceral. É insensível ao toque, ao calor e ao frio, sendo estimulado basicamente por distensão e irritação química; A dor no peritônio visceral é mal localizada, porque é referida nos dermátomos dos gânglios sensitivos espinais que emitem as fibras sensitivas. Logo, a dor: Oriunda do intestino anterior é sentida geralmente no epigástrio; Oriunda do intestino médio é sentida na região umbilical; Oriunda do intestino posterior é sentida na região púbica. Os órgãos intraperitoneais são quase completamente recobertos por peritônio visceral, enquanto os órgãos extraperitoneais, retroperitoneais e subperitoneais estão situados fora da cavidade peritoneal (externamente ao peritônio parietal) e são apenas parcialmente cobertos por peritônio; As áreas que não são recobertas por peritônio são chamadas áreas nuas e permitem a entrada e saída de estruturas neurovasculares para os órgãos intraperitoneais; Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 2 Uma prega peritoneal é uma reflexão de peritônio elevada da parede do corpo por vasos sanguíneos, ductos e ligamentos formados por vasos fetais obliterados subjacentes; Um recesso ou fossa peritoneal é uma bolsa de peritônio formada por uma prega peritoneal; Cavidade Peritoneal A cavidade peritoneal é um espaço potencial com espessura capilar, situado entre as lâminas parietal e visceral do peritônio; A cavidade peritoneal não tem órgãos, mas contém uma fina película de líquido peritoneal, formado por água, eletrólitos e outras substâncias derivadas do líquido intersticial em tecidos adjacentes; O líquido peritoneal lubrifica as faces peritoneais, permitindo que as vísceras movimentem-se umas sobre as outras sem atrito e permitindo os movimentos da digestão. Este líquido também contém leucócitos e anticorpos que combatem infecções; A cavidade peritoneal é completamente fechada nos homens, mas nas mulheres há uma comunicação com o exterior do corpo através das tubas uterinas, cavidade uterina e vagina, o que pode ser uma possível via de infecção externa; Vários termos são usados para descrever diferentes partes do peritônio: mesentério, omento maior e omento menor. Subdivisões da Cavidade Peritoneal O mesentério do colo transverso (mesocolo transverso) divide a cavidade abdominal em um compartimento supracólico, o qual contém o estômago, o fígado e o baço, e um compartimento infracólico, onde se encontram o intestino delgado e os colos ascendente e descendente; O compartimento infracólico situa-se posteriormente ao omento maior e é dividido em espaços infracólicos direito e esquerdo pelo mesentério do intestino delgado; Há comunicação livre entre os compartimentos supracólico e infracólico através dos sulcos paracólicos, os sulcos entre a face lateral dos colos ascendente e descendente e a parede posterolateral do abdome. O fluxo é mais livre no lado direito; A bolsa omental é uma cavidade extensa, situada posteriormente ao estômago, ao omento menor e às estruturas adjacentes. Apresenta um recesso superior, limitado superiormente pelo diafragma e pelas camadas posteriores do ligamento coronário do fígado, e um recesso inferior entre as partes superiores das camadas do omento maior; A bolsa omental perrmite o livre movimento do estômago sobre as estruturas posteriores e inferiores a ela, pois as paredes anterior e posterior da bolsa deslizam suavemente uma sobre a outra; A bolsa omental comunica-se com a cavidade peritoneal por meio do forame omental, uma abertura situada posteriormente à margem livre do omento menor; O forame omental pode ser localizado passando-se um dedo ao longo da vesícula biliar até a margem livre do omento menor; Os limites do forame omental são: Anteriormente: o ligamento hepatoduodenal (margem livre do omento menor), contendo a veia porta, a artéria hepática e o ducto colédoco; Posteriormente: a VCI e uma faixa muscular, o pilar direito do diafragma, cobertos anteriormente pelo peritônio parietal; Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 3 Superiormente: o fígado, coberto por peritônio visceral; Inferiormente: a parte superior ou primeira parte do duodeno. Mesentério O mesentério é uma lâmina dupla de peritônio formada pela invaginação do peritônio por um órgão, e é a continuidade dos peritônios visceral e parietal; Constitui um meio de comunicação neurovascular entre o órgão e a parede do corpo; O mesentério une um órgão intraperitoneal à parede do corpo, geralmente a parede posterior do abdome; O mesentério do intestino delgado costuma ser denominado simplesmente "mesentério", embora os mesentérios relacionados a outras partes específicas do sistema digestório recebem denominações de acordo com o local; Omento O omento é uma extensão ou prega do peritônio em duas camadas que vai do estômago e da parte proximal do duodeno até os órgãos adjacentes na cavidade abdominal: O omento maior é uma prega peritoneal proeminente que tem quatro camadas e pende como um avental da curvatura maior do estômago e da parte proximal do duodeno. Após descer, dobra-se de volta e se fixa à face anterior do colo transverso e seu mesentério; O omento menor é uma prega peritoneal muito menor, dupla, que une a curvatura menor do estômago e a parte proximal do duodeno ao fígado. Também une o estômago a uma tríade de estruturas que seguem entre o duodeno e o fígado na margem livre do omento menor (artéria hepática, ducto colédoco e veia porta); O omento maior, grande e cheio de gordura, impede a aderência do peritônio visceral ao peritônio parietal. É bastante móvel e desloca-se ao redor da cavidade peritoneal com os movimentos peristálticos das vísceras; O omento maior também protege os órgãos abdominais contra lesão e proporciona isolamento contra a perda de calor corporal. Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 4 Ligamento Peritoneal Um ligamento peritoneal consiste em uma dupla camada de peritônio que une um órgão a outro ou à parede do abdome. O fígado está conectado: À parede anterior do abdome pelo ligamento falciforme; Ao estômago pelo ligamento hepatogástrico (parte membranácea do omento menor); Ao duodeno pelo ligamento hepatoduodenal (margem espressa e espessa do omento menor); O estômago está unido: À face inferior do diafragma pelo ligamento gastrofrênico; Ao baço pelo ligamento gastroesplênico; Ao colo transverso pelo ligamento gastrocólico (parte do omento maior semelhante a um avental); Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 5 Vísceras Retroperitoneais As vísceras retroperitoneais estão localizadas fora da cavidade peritoneal, isto é, externamente ao peritônio parietal, e são apenas parcialmente recobertas por peritônio; Entre as vísceras retroperitoneaisencontram-se os rins, os ureteres e as glândulas suprarrenais; Existe uma camada de gordura circundando cada rim e seus vasos (gordura perirrenal) denominada cápsula adiposa, a qual se estende até as cavidades centrais denominadas seios renais. A fáscia renal é uma membrana que circunda os rins, as glândulas suprarrenais e a gordura perirrenal, exceto inferiormente. A fáscia renal continua medialmente e envolve os vasos renais, fundindo-se com as bainhas vasculares dessas estruturas; Inferomedialmente, a fáscia renal prolonga-se ao longo do ureter para formar a fáscia periureteral; Externamente à fáscia renal existe o corpo adiposo pararrenal (gordura pararrenal); Superiormente, a fáscia renal é contínua com a fáscia diafragmática, de modo que a inserção primária das glândulas suprarrenais é no diafragma. Inferiormente, as lâminas da fáscia renal não estão fixadas ou apresentam apenas uma inserção frouxa; Rins Estão situados sobre a parede posterior do abdome, um de cada lado da coluna vertebral, no nível das vértebras T12 a L3; O hilo renal esquerdo situa-se perto do plano transpilórico, a cerca de 5 centímetros do plano mediano; O rim direito está aproximadamente 5,5 cm mais baixo do que o polo esquerdo, provavelmente por causa do fígado; Posteriormente, as partes superiores dos rins situam-se profundamente às costelas XI e XII; Cada rim é capaz de se mover de dois a três centímetros em direção vertical durante o movimento do diafragma na respiração profunda; O polo inferior do rim direito está aproximadamente um dedo superior à crista ilíaca; Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 6 Os rins apresentam coloração marrom-avermelhada e medem cerca de 10 centímetros de comprimento, cinco centímetros de largura e 5,5 centímetros de espessura; O fígado, o duodeno e o colo ascendente são anteriores ao rim direito, o qual é separado do fígado pelo recesso hepatorrenal; O rim esquerdo está relacionado com o estômago, o baço, o pâncreas, jejuno e colo descendente; Inferoposteriormente, os rins têm relação com os músculos psoas maior medialmente e quadrado do lombo; O nervo e os vasos subcostais e os nervos ílio-hipogástrico e ilioinguinal descem diagonalmente através das faces posteriores dos rins; A pelve renal é uma expansão achatada da extremidade superior do ureter, de modo que o ápice da pelve renal é contínuo com o ureter; A pelve renal recebe dois ou três cálices maiores, e cada um deles é formado por dois ou três cálices menores. Cada cálice menor recebe uma papila renal, o ápice da pirâmide renal, de onde a urina é excretada; No hilo renal, a veia renal situa-se anteriormente à artéria renal, que é anterior à pelve renal; O seio renal é ocupado pela pelve renal, pelos cálices, por vasos e nervos e por uma quantidade variável de gordura; Os rins estão posicionados obliquamente devido à protrusão da coluna lombar em direção à cavidade abdominal. Ureteres São ductos musculares com 25 a 30 centímetros de comprimento e com lumens estreitos responsáveis por conduzir urina dos rins para a bexiga; Seguem inferiormente a partir dos ápices das pelves renais, nos hilos renais, passando sobre a margem da pelve na bifurcação das artérias ilíacas comuns. A seguir, passam ao longo da parede lateral da pelve e entram na bexiga urinária; As partes abdominais dos ureteres aderem intimamente ao peritônio parietal e têm trajeto retroperitoneal; É possível observar nas radiografias contrastadas que os ureteres normalmente apresentam constrições relativas em três locais: Na junção dos ureteres com as pelves renais; No local onde os ureteres cruzam a margem da abertura superior da pelve; Durante a passagem dos ureteres através da parede da bexiga urinária; São estes locais de constrição que podem ser obstruídos por cálculos renais; Glândulas Suprarrenais Estão localizadas entre as faces superomedial dos rins e o diafraagma, onde são circundadas por tecido conjuntivo contendo considerável cápsula adiposa; São também revestidas pela fáscia renal, estrutura que as fixa no diafragma; O formato e as relações das glândulas suprarrenais são diferentes nos dois lados: Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 7 A glândula suprarrenal direita tem formato piramidal, é mais apical do que a esquerda, situa-se anterolateralmente ao pilar direito do diafragma e faz contato com a VCI anteromedialmente e com o fígado anterolateralmente; A glândula suprarrenal esquerda tem formato de crescente, é medial à metade superior do rim esquerdo e tem relação com o baço, o estômago, o pâncreas e o pilar esquerdo do diafragma; Cada glândula suprarrenal tem duas partes: o córtex suprarrenal e a medula suprarrenal. Vascularização das Vísceras Retroperitoneais Artérias e Veias dos Rins As artérias renais originam-se entre as vértebras L1 e L2; A artéria renal direita é mais longa que a esquerda e passa posteriormente à VCI; Normalmente, cada artéria divide-se perto do hilo renal em cinco artérias segmentares, que são artérias terminais que não fazem anastomoses significativas. Portanto, cada área suprida por cada artéria segmentar é uma unidade independente; As artérias segmentares são distribuídas para os segmentos renais do seguinte modo: O segmento superior, ou apical, é irrigado pela artéria do segmento superior (apical); O segmento anterossuperior é suprido pela artéria do segmento anterior superior; O segmento anteroinferior é suprido pela artéria do segmento anterior inferior; O segmento inferior é irrigado pela artéria do segmento inferior; O segmento posterior é suprido pela artéria segmentar posterior. As quatro primeiras artérias citadas originam-se do ramo anterior da artéria renal, enquanto a última artéria se origina de uma continuação do ramo posterior da artéria renal; Artérias renais extra-hilares, ramos da artéria renal ou da artéria aorta, podem entrar na face externa do rim, muitas vezes em seus polos; Diversas veias renais drenam cada rim e se unem de modo variável para formar as veias renais direita e esquerda, as quais situam-se anteriormente às artérias renais direita e esquerda; A veia renal esquerda é mais longa que a direita, e recebe a veia suprarrenal esquerda, a veia gonadal esquerda e uma comunicação com a veia lombar ascendente. Em seguida, atravessa o ângulo agudo entre a artéria mesentérica superior anteriormente e a aorta posteriormente; Todas as veias renais drenam para a VCI; Artérias e Veias dos Ureteres Os ramos arteriais que irrigam a parte abdominal do ureter originam-se principalmente das artérias renais, mas podem existir ramos oriundos das artérias gonadais, da parte abdominal da aorta e das artérias ilíacas comuns; Os ramos arteriais dos ureteres aproximam-se medialmente e dividem-se em ramos ascendente e descendente, formando uma anastomose longitudinal na parede do ureter; As veias que drenam a parte abdominal dos ureteres drenam para as veias renais e gonadais; Artérias e Veias das Glândulas Suprarrenais Anatomia do Peritônio e das Vísceras Retroperitoneais 8 As glândulas suprarrenais são amplamente irrigadas em função de sua participação essencial no sistema endócrino; As artérias suprarrenais ramificam-se livremente antes de entrarem em cada glândula, de modo que cerca de 50 a 60 artérias penetram a cápsula que cobre toda a superfície das glândulas; As artérias suprarrenais têm três origens: Artérias suprarrenais superiores originam-se das artérias frênicas inferiores; Artérias suprarrenais médias originam-se da parte abdominal da aorta, perto do nível de origem da artéria mesentérica superior (AMS); Artérias suprarrenais inferiores partem das artérias renais. A drenagem venosa das glândulas suprarrenais se faz para veias suprarrenais calibrosas: A veia suprarrenal direita é curta e drena para VCI; A veia suprarrenal esquerda, mais longa, frequentemente se une à veia frênica inferior, drena para a veia renal esquerda. Inervaçãodas Vísceras Retroperitoneais Os nervos para os rins originam-se do plexo nervoso renal e são formados por fibras simpáticas e parassimpáticas; O plexo nervoso renal é suprido por fibras dos nervos esplâncnicos e abdominopélvicos; Os nervos da parte abdominal dos ureteres provêm dos plexos renal, aórtico abdominal e hipogástrico superior; As fibras aferentes viscerais que conduzem a sensação de dor acompanham as fibras simpáticas retrógradas até os gânglios sensitivos espinais e os segmentos medulares T11-L2; A dor ureteral geralmente é referida ao quadrante inferior ipsilateral da parede anterior do abdome e principalmente na região inguinal; As glândulas suprarrenais são ricamente inervadas pelo plexo celíaco e pelos nervos esplâncnicos abdominopélvicos; As fibras simpáticas pré-ganglionares mielínicas atravessam os gânglios paravertebrais e pré- vertebrais, sem fazer sinapse, e são distribuídas para as células cromafins da medula suprarrenal.
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