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1- Tomada de decisão clínica

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Natália Furlaneto 
INTRODUÇÃO 
Os médicos precisam integrar uma grande variedade de dados 
clínicos enquanto enfrentam pressões conflitantes para reduzir as 
incertezas diagnósticas, os riscos para os pacientes e os custos. 
Decidir qual informação deve obter, quais exames solicitar, como 
interpretar e integrar essas informações em hipóteses diagnósticas 
e quais tratamentos administrar é um tópico conhecido como 
“tomada de decisão clínica”. 
Em casos mais complexos, uma metodologia estruturada, 
quantitativa, analítica pode ser uma melhor abordagem para 
tomada de decisão. Mesmo quando o padrão reconhecido fornece 
a possibilidade diagnóstica mais provável, a tomada de decisão 
analítica, em geral, é utilizada para confirmar o diagnóstico. Os 
métodos analíticos podem incluir aplicação dos princípios da 
medicina baseada em evidências, uso de diretrizes clínicas e de 
várias técnicas quantitativas específicas (p. ex., teorema de Bayes). 
CONCEITOS BÁSICOS 
 É necessário reduzir ao máximo suas incertezas diagnósticas. 
- O médico que mais sabe, tem mais dúvidas, mais diagnósticos 
diferenciais, porém, um dos objetivos do uso de ferramentas é 
reduzir as incertezas. 
 Reduzir os riscos para os pacientes e para os profissionais de 
saúde. 
- Situações podem ser imprevisíveis: alergias, reações que 
levam a óbito. Repercussões no organismo podem ser 
imprevisíveis, mas o uso de medicina baseada em evidências 
reduz o risco. 
 Reduzir os custos: financeiros, emocionais, pessoais (↓ 
impacto da doença no indivíduo e na família). 
- Ex: mãe que acompanha a criança durante a internação  ↑ 
custo financeiro, mas ↓ custo emocional. 
BASES DA TOMADA DE DECISÃO CLÍNICA 
 Instinto: é importante esse sentimento primitivo para domínio 
de situações emergenciais. Uma decisão apenas baseada em 
instinto não é ideal, mas a presença dele pode ser válida. 
 Intuição: pode envolver crenças espirituais, atributo 
inconsciente originado de uma situação já vivenciada/estudada 
(experiência anterior, concreta ou abstrata, que ficou guardada 
em algum lugar do cérebro), que emerge diante de uma 
situação semelhante (a pessoa sabe, mas não existe uma 
objetividade da origem daquela informação). 
- Reconhecimento de padrões anteriores. 
 Crenças subconscientes. 
 Crenças conscientes. 
 Baseada em valores éticos e morais (''parece certo'' ou ''é o 
mais justo''). Influência do contexto histórico, familiar, político, 
cotidiano. 
OBS: o resultado mais desejado é a cura completa, mas às vezes o 
resultado/sucesso possível é qualidade de vida ou uma boa morte. 
ESTRATÉGIAS DE TOMAD A DE DECISÃO CLÍNICA 
 Geração de hipóteses estruturadas: sindrômica, etiológica e 
anatomofuncional. 
 Baseadas em anamnese e exame físico adequados. 
 Planejamento diagnóstico e terapêutico. 
GERAÇÃO DE HIPÓTESE 
Envolve a identificação das principais possibilidades diagnósticas 
(diagnóstico diferencial) que podem explicar o problema do 
paciente. A principal queixa do paciente e os dados demográficos 
básicos (idade, sexo, raça) são os pontos de partida para o 
diagnóstico diferencial, que geralmente é gerado por um padrão de 
reconhecimento. Cada elemento na lista de possibilidades recebe 
uma estimativa de probabilidade, ou plausibilidade, deste ser o 
diagnóstico correto (probabilidade pré-teste). 
PROBABILIDADE E CHANCES 
A probabilidade de uma doença (ou evento) ocorrer em um 
paciente cujas informações clínicas são desconhecidas é a 
frequência em que a doença ou evento ocorre em na população. A 
probabilidade varia de 0,0 (impossível) a 1,0 (certeza) e geralmente 
é expressa em porcentagem (de 0 a 100). Uma doença que ocorre 
em 2 de cada 10 pacientes tem uma probabilidade de 2/10 (0,2 ou 
20%). As probabilidades muito pequenas ao redor de 0, excluindo 
assim toda possibilidade da doença (algumas vezes feito raciocínio 
clínico implícito), podem levar a conclusões errôneas quando são 
utilizados métodos quantitativos. 
MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA 
 Formulação de uma boa hipótese: estruturada! 
 Reunir evidências para responder as perguntas iniciais  
perguntas bem elaboradas são até mais importante que as 
respostas!!! 
 Avaliação da qualidade e validade das evidências. 
 Decidir como aplicar as evidências ao tratamento de um 
determinado paciente  é a tomada de decisão final e 
definitiva. A decisão pode ser aplicar determinado método ou 
não!!! 
NÍVEIS DE EVIDÊNCIA 
1- Revisão sistemática ou metanálise: evidências sólidas. 
2- Coorte. 
3- Caso-controle associado a revisão sistemática. 
4- Casuística, coorte de baixa qualidade ou estudo de caso-
controle. 
5- Opinião de especialista. 
ERROS COGNITIVOS NA TOMADA DE DECISÃO CL ÍNICA 
Apesar de haver modelos matemáticos quantitativos para orientar 
a tomada de decisão clínica, os médicos raramente utilizam 
computação formal para tomada de decisões no tratamento de 
pacientes na prática cotidiana. Em vez disto, uma compreensão 
intuitiva de probabilidades é associada ao processo cognitivo 
denominado heurístico, para orientar o julgamento clínico. 
HEURÍSTICA é geralmente denominada regra geral (rules of 
thumb), palpite ou atalhos mentais. Heurística habitualmente 
envolve um padrão de reconhecimento e se baseia na integração 
subconsciente de informações do paciente reunidas a esmo, com 
experiência prévia, mais do que a geração consciente de um 
diagnóstico diferencial rigoroso, que é avaliado formalmente 
utilizando dados específicos da literatura. 
Este raciocínio informal, em geral, pode apresentar falhas, pois a 
heurística pode levar a vários tipos de erros inconscientes (erros 
cognitivos). Os estudos sugerem que há mais erros médicos 
 Natália Furlaneto 
envolvendo erros cognitivos do que falta de conhecimento ou de 
informação. 
TIPOS DE ERROS COGNITIVOS 
Há vários tipos de erros cognitivos e, apesar de obviamente ser 
mais importante evitar erros do que propriamente classificá-los, 
uma vez cometidos, estar ciente dos tipos comuns de erros 
cognitivos pode ajudar os médicos a reconhecê-los e evitá-los. 
Os erros cognitivos podem ser grosseiramente classificados como 
os que envolvem: 
 Avaliação incorreta da probabilidade pré-teste (superestimar 
ou subestimar a probabilidade da doença). 
 Falha em considerar com seriedade todas as possibilidades 
relevantes. 
Ambos os tipos de erros podem levar facilmente a testes 
impróprios (para mais ou para menos) e erros diagnósticos. 
 
Erro de disponibilidade 
É quando os médicos escolhem a primeira coisa que lhes vem à 
mente. Isso muitas vezes distorce a probabilidade de doença 
pregressa porque uma experiência recente ou memorável torna um 
dado diagnóstico mais "fácil" de lembrar. A experiência geralmente 
leva à superestimativa da probabilidade, quando há memória de 
um caso dramático ou que envolveu um paciente com mau 
resultado ou um processo judicial. 
A experiência também pode levar à subestimativa. Por exemplo, 
um residente que examinou poucos pacientes com dor torácica e 
todos apresentavam causas benignas, pode começar a realizar 
avaliações apressadas desta queixa, mesmo em populações nas 
quais a prevalência de doenças é elevada. 
 
Erro de representação 
Quando os médicos se concentram na presença ou ausência das 
manifestações clássicas de uma doença sem levar em consideração 
a prevalência da doença. 
Ex: um homem jovem e saudável com dor no peito  menor 
chance de ser IAM. 
 
Fechamento prematuro 
Tirar conclusões precipitadas. Esse é um dos erros mais comuns; os 
médicos fazem um diagnóstico rápido (geralmente pelo 
reconhecimento de padrões), não consideram outros possíveis 
diagnósticos e param de obter dados. A suspeita diagnóstica muitas 
vezes nem mesmo é confirmada por exames apropriados. 
Comuns quando o paciente parece estar apresentando uma 
exacerbação de uma doença conhecida. Ex: mulher com história de 
enxaqueca de longo prazo (e que, na verdade, tem uma nova 
hemorragia subaracnoidea) apresenta cefaleia que pode ser 
interpretadaerroneamente como uma nova crise de enxaqueca. 
 
Erros de fundamento 
Quando os médicos se agarram firmemente a uma impressão inicial 
mesmo quando dados conflitantes e contraditórios se acumulam. 
Quando se tem uma ideia fixa, difícil de se reverter. 
 Ex: paciente que já foi alcoólatra, não é mais, mas o profissional 
tenta culpar isso. 
Viés de confirmação 
Supressão de evidências, o que significa que os médicos aceitam 
seletivamente os dados clínicos que corroboram uma hipótese 
desejada e ignoram os dados que não o fazem. Predisposição à 
confirmação, em geral, compõe um erro de ancoragem quando o 
médico utiliza dos dados de confirmação para sustentar a hipótese 
ancorada, mesmo quando evidências claramente contraditórias 
também estão disponíveis. Por exemplo, um médico pode se fixar 
firmemente em elementos da história do paciente que sugerem 
síndrome coronariana aguda (SCA) para confirmar a suspeita inicial 
de SCA, mesmo quando os ECG seriados e as enzimas cardíacas 
forem normais. 
 
Erros de atribuição 
Tomada de decisões de acordo com estereótipos negativos, o que 
pode levar os médicos a ignorar ou minimizar a possibilidade de 
uma doença grave. 
Os pacientes psiquiátricos que desenvolvem doenças físicas são 
particularmente suscetíveis a serem vítimas de erros de atribuição, 
pois não apenas podem ser objeto de estereótipos negativos, como 
também sua descrição dos sintomas não é clara, é inconsistente ou 
confusa, levando o médico a considerar que suas queixas sejam de 
origem mental. 
 
Erro afetivo 
Ocorre ao permitir que sentimentos pessoais (positivos ou 
negativos) sobre um paciente influenciem a tomada de decisão. 
Ex: evitar exames ou testes desagradáveis, porém, necessários, por 
apego ou simpatia pelo paciente (p. ex., evitar um exame pélvico 
em uma paciente tímida ou fazer hemoculturas em um paciente 
muito doente com veias difíceis). Ou, de modo semelhante, não 
fazer a avaliação convencional para um paciente antipático (p. ex., 
minimizar o significado da dispneia de um paciente com uma fala 
ofensiva ou para alguém com DPOC que continua a fumar). 
FATORES DE RISCO DE ERROS COGNITIVOS 
Fatores internos e externos podem aumentar o risco de erro 
cognitivo. 
Os fatores de risco internos são: 
 Conhecimento e treinamento médicos insuficientes: principal. 
- P/ cometer menos erros  estudar e treinar mais. 
 Fadiga e/ou privação de sono: produção de erros. 
 Equilíbrio entre a aceitação do risco e a aversão ao risco: 
condutas errôneas que aceitam demais os riscos. 
Os fatores de risco externos são: 
 Carga ↑ de trabalho. 
 Distrações: celular, pensamento em ''outro lugar''. 
 Gerenciamento dos recursos da equipe: presença ou ausência 
de recursos financeiros, por ex. 
MINIMIZAÇÃO DE ERROS COGNITIVOS 
Algumas estratégias específicas podem ajudar a minimizar erros 
cognitivos. Tipicamente, após terem sido realizados história e 
exame físico, os médicos, em geral, formam uma avaliação 
diagnóstica com base heurística. Neste ponto, é relativamente fácil 
inserir uma pausa formal para reflexão, levantando diversas 
questões: 
 Se não for o diagnóstico que está sendo avaliado, o que mais 
poderia ser? 
 Qual é o diagnóstico mais grave possível? 
 Há evidências que estão em desacordo com o diagnóstico que 
está sendo avaliado? 
Estas questões podem ajudar a expandir o diagnóstico diferencial 
para incluir coisas que podem ter sido deixadas de lado devido a 
erros cognitivos e, assim, levar o médico a obter outras 
informações necessárias. 
ENTENDENDO OS EXAMES COMPLEMENTARES E SEUS 
RESULTADOS 
Os resultados de exames podem auxiliar a realização de um 
diagnóstico em pacientes sintomáticos (exames diagnósticos) ou 
identificar doenças ocultas em pacientes assintomáticos 
(rastreamento). Entretanto, os resultados de exames podem 
interferir na tomada de decisão se o exame discriminar mal os 
pacientes com e sem doenças, se os resultados forem discordantes 
do quadro clínico ou se forem integrados de forma imprópria ao 
contexto clínico. 
 Natália Furlaneto 
Os exames de laboratório são imperfeitos e podem identificar 
erroneamente alguns indivíduos que não apresentam uma doença 
específica como portadores da doença (falso-positivo) ou 
identificar erroneamente alguns indivíduos afetados como não 
portadores da doença (falso-negativo). A capacidade do exame de 
identificar corretamente pacientes com uma doença depende de 
quanto é provável que o indivíduo tenha a doença (probabilidade 
prévia) e das características operacionais intrínsecas do teste. 
Embora os exames diagnósticos contribuam, em geral, para a 
tomada de decisão diagnóstica clínica, eles podem ter 
consequências indesejadas ou não intencionais. Os exames devem 
ser realizados com deliberação e finalidade e com a expectativa de 
que os resultados reduzam a ambiguidade em relação ao problema 
do paciente e contribuam para a saúde. Além do risco de fornecer 
informações enganadoras (retardando o início do tratamento ou 
induzindo a tratamento desnecessário), os exames de laboratório 
consomem recursos limitados e podem expor o paciente a riscos de 
efeitos adversos do próprio exame. 
SENSIBIL IDADE, ESPEC IFICIDADE E VALORES 
PREDITIVOS 
Sensibilidade, especificidade e valores preditivos são tipicamente 
considerados características do exame em si, independentemente 
da população de pacientes. 
 A sensibilidade é a probabilidade de o resultado do exame ser 
positivo quando os pacientes têm a doença (verdadeiro 
positivo) 
Deste modo, um exame que é positivo em 8 de 10 pacientes com a 
doença tem sensibilidade de 0,8 (também expressa como 80%). A 
sensibilidade representa o quanto o teste detecta a doença; um 
teste com baixa sensibilidade não identifica muitos pacientes com 
a doença, e um teste com alta sensibilidade é útil para excluir um 
diagnóstico quando os resultados são negativos. A sensibilidade é 
o complemento da taxa de falso-negativo (taxa de falso-negativos 
+ sensibilidade = 100%). 
 A especificidade é a probabilidade de o resultado do exame ser 
negativo em pacientes sem a doença (verdadeiro negativo) 
Assim, um teste que é negativo em 9 de 10 pacientes sem a doença 
tem uma especificidade de 0,9 (ou 90%). A especificidade mede 
quão bem o exame identifica corretamente pacientes com a 
doença, pois os testes com alta especificidade têm baixa taxa de 
falso-positivo. Um exame com baixa especificidade diagnostica 
vários pacientes sem a doença como portadores da doença. É o 
complemento da taxa de falso-positivo. 
 O valor preditivo positivo (VPP) é a proporção de pacientes 
com resultado do exame positivo que realmente têm a doença 
Se 9 de 10 resultados positivos de exames estão corretos 
(verdadeiro positivo) o VPP é 90%. Como todos os resultados de 
exames positivos representam um número de positivos 
verdadeiros e de falso-positivos, o PPV descreve a probabilidade de 
um resultado de exame positivo em determinada população de 
pacientes representar um positivo verdadeiro. 
 O valor preditivo negativo (VPN) é a proporção de pacientes 
com resultado negativo no exame que realmente não têm a 
doença 
Assim, se 8 dos 10 resultados negativos do exame estão corretos 
(verdadeiro negativo), o VPN é 80%. Como nem todos os resultados 
de exames negativos são negativos verdadeiros, alguns pacientes 
com resultados de exames negativos, na verdade, apresentam a 
doença. O NPV representa a possibilidade de um resultado de 
exame negativo em determinada população de pacientes 
representar um negativo verdadeiro. 
EXAMES SEQUENCIAIS 
Os médicos geralmente realizam exames em sequência durante 
várias avaliações diagnósticas. Se a chance pré-teste antes do teste 
sequencial é conhecida e o IP de cada teste em sequência é 
conhecido, as chances pós-teste podem ser calculadas utilizando a 
seguinte fórmula: 
Chance pré-teste × LR1 × LR2 × LR3 = chance pós-teste 
Este método é limitado pela importante presunção de que cada 
exame é condicionalmente independentedo outro. 
EXAMES DE TRIAGEM 
Os pacientes frequentemente consideram se devem ou não realizar 
uma triagem para doenças ocultas. As premissas dos programas de 
rastreamento são a detecção precoce, possibilitando a melhora dos 
resultados em pacientes com doença oculta, e que os resultados 
falso-positivos, que geralmente ocorrem no rastreamento, não 
representem uma carga (p. ex., custos e efeitos adversos de exames 
confirmatórios, tratamentos indesejados) que exceda este 
benefício. Para minimizar esta possível carga, os médicos devem 
escolher o teste de rastreamento adequado. O rastreamento não é 
apropriado quando os tratamentos são ineficazes ou a doença é 
muito rara (a menos que possa ser identificada uma subpopulação 
na qual a prevalência é mais elevada). 
Teoricamente, o melhor exame, tanto para rastreamento como 
para diagnóstico, é aquele com sensibilidade e especificidade mais 
elevadas. Entretanto, estes exames altamente precisos geralmente 
são complexos, caros e invasivos (p. ex., angiografia coronariana); 
sendo assim, não são práticos para rastreamento de grandes 
números de indivíduos assintomáticos. Caracteristicamente deve 
ser feita alguma opção em sensibilidade, especificidade ou ambas 
ao selecionar um exame de rastreamento. 
Um médico escolhe um exame que otimize a sensibilidade ou 
especificidade, dependendo das consequências de um resultado de 
exame falso-positivo ou falso-negativo, assim como da 
probabilidade de doença pré-teste. Um exame de rastreamento 
ideal é aquele que é sempre positivo em quase todos os pacientes 
com a doença, de forma que o resultado negativo exclua com 
confiança a doença em indivíduos saudáveis. Por exemplo, em um 
exame para doenças graves para as quais há tratamento eficaz 
disponível (p. ex., doença coronariana), os médicos poderiam 
tolerar mais resultados falso-positivos do que falso-negativos 
(menor especificidade e maior sensibilidade). Apesar de alta 
sensibilidade ser um atributo muito importante para exames de 
rastreamento, a especificidade também é importante em certas 
estratégias de rastreamento. Entre populações com prevalências 
mais elevadas de doenças, o PPV de um exame de rastreamento 
aumenta; na medida em que a prevalência diminui, a probabilidade 
pós-teste ou probabilidade posterior de um resultado positivo 
diminui. Consequentemente, quando rastreamos uma doença em 
populações de alto risco, os exames com maior sensibilidade são 
preferíveis em relação àqueles com maior especificidade, pois são 
melhores para excluir a doença (menos falso-negativos). Por outro 
lado, em populações de baixo risco ou para doenças incomuns, nas 
quais o tratamento tem menor benefício e maior risco, são 
preferíveis exames com maior especificidade. 
ANÁLISE ECONÔMICA NA TOMADA DE DECISÃO C LÍNICA 
Em razão das limitações sociais e pessoais de recursos e das 
restrições de seguros de saúde, as considerações de custos se 
tornaram mais relevantes na tomada de decisões clínicas. Os 
recursos limitados não devem ser desperdiçados; sua autorização 
depende de uma compreensão dos vários custos e resultados 
oriundos das estratégias de tratamento. 
CUSTO 
Os elementos incluídos na análise de custos são determinados pela 
perspectiva da análise. Diferentes perspectivas podem levar a 
diferentes conclusões com base em quais custos e resultados são 
considerados. 
 Provedores (p. ex., agentes de saúde, instituições) tipicamente 
consideram os custos apenas dentro da organização (p. ex., 
pessoal, suprimentos, despesas gerais). 
 Pagadores (p. ex., seguradoras) consideram apenas os 
reembolsos que terão de realizar. 
 Pacientes consideram as despesas efetivas (p. ex., custo do 
seguro, deduções, transporte, estacionamento) e perda de 
renda (para eles mesmos e para sua família). 
 Natália Furlaneto 
Do ponto de vista da sociedade, todos estes custos são levados em 
conta juntamente com os custos da perda de produtividade e o 
custo do tratamento de outras doenças (iatrogências ou que 
ocorrem naturalmente) que podem ocorrer em pacientes que se 
recuperam da doença que está sendo tratada. Por exemplo, um 
homem jovem curado de um linfoma pode desenvolver leucemia 
ou doença coronariana após alguns anos. A análise de custo de um 
programa de rastreamento deve incluir os custos de pesquisa de 
resultados falso-positivos que, com um teste de rastreamento para 
doença com baixa prevalência, geralmente supera os custos da 
avaliação e tratamento do paciente que realmente possui a doença. 
CUSTO MARGINAL 
O custo marginal é o custo de fornecer (ou reter na fonte) uma 
unidade de serviço adicional. Este custo, em geral, é um dos mais 
relevantes para a tomada de decisão clínica individual e 
tipicamente é bastante diferente do custo geral alocado ao serviço. 
RESULTADO 
A eficácia do tratamento médico é medida por alteração do 
resultado. Os resultados podem ser 
 Orientados pelos pacientes 
 Orientados pelo processo 
 Orientados pela doença 
Os resultados orientados pelo paciente podem ser reduzidos a três 
“D”: 
 Morte 
 Deficiência 
 Desconforto 
Os resultados orientados pelos pacientes são, sem dúvida, os mais 
importantes. Melhoras no processo (p. ex., redução do tempo de 
administração de antibióticos ou de permanência na sala de 
cirurgia) ou das manifestações da doença (p. ex., redução do 
tamanho do tumor melhorando a saturação de O2) 
que não reduzem absolutamente a mortalidade, a incapacidade ou 
o desconforto, dificilmente pode-se afirmar que beneficiem o 
paciente. Por exemplo, anteriormente administrava-se lidocaína a 
todos os pacientes com IAM, pois era reconhecido que reduzia a 
incidência de fibrilação ventricular (melhorava o resultado da 
doença). O tratamento com lidocaína continuou por vários anos 
antes de estudos mostrarem que ele não reduzia a mortalidade 
(não alterava o resultado do paciente) e, assim, esta prática foi 
interrompida. 
ANÁLISE DE CUSTO -BENEFÍCIO 
A análise simples de consequências econômicas dos resultados 
(análise de custo-benefício) depende do valor presumido, em 
dólares, do prolongamento da vida e melhora da saúde. Essas 
presunções, em geral, são discutíveis e raramente objetivas. Além 
disso, embora essas análises estabeleçam se uma determinada 
estratégia reduz custo ou requer gasto líquido de recursos, elas não 
indicam se os gastos são válidos. 
Análise de custo-efetividade examina os custos médicos e os 
benefícios de saúde do tratamento separadamente. Ambas as 
medidas podem ser fortemente afetadas pela perspectiva e 
duração da análise e pelas suposições subjacentes. A comparação 
dos custos e dos resultados de saúde das 2 estratégias de 
tratamento gera 1 de 9 pareamentos. Quando os resultados de 
saúde são equivalentes (coluna central), a escolha deve se basear 
no custo; quando os custos são equivalentes (coluna central), a 
escolha deve se basear nos resultados. Quando uma estratégia tem 
melhor resultado e custos menores (direita acima e esquerda 
abaixo), as escolhas são claras. A decisão é difícil somente quando 
uma estratégia mais cara também produz resultados melhores 
(células na parte superior esquerda e parte inferior direita); nesses 
casos, deve-se determinar a relação custo-eficácia marginal. 
 
 
PRONTUÁRIOS MÉDICOS ELETRÔNICOS (PME) E 
SUPORTE À DECISÃO CL ÍNICA 
O prontuário médico eletrônico (PME) catalisou a mudança para os 
médicos disponibilizando grandes quantidades de dados sobre os 
pacientes e outras informações que podem ser usadas para 
embasar a decisão clínica. 
A enorme quantidade de informações sobre os pacientes disponível 
em um único local eletrônico, em vez de em volumes de papel, 
pode auxiliar na tomada de decisão clínica, mesmo que o 
prontuário eletrônico só seja usado como repositório de 
informações e imagens que podem ser pesquisadas, consultadas e 
comparadas. 
EIS ALGUNS BENEFÍCIOS DO PRONTUÁRIO ELETRÔNICO: 
 Alertas automáticos de interações medicamentosas e alergias, 
e detecção de erros de posologia podem reduziros erros de 
medicação. 
 Links clinicamente relevantes incorporados ao prontuário 
eletrônico para pesquisar informações sobre doenças, exames 
e o tratamento podem estimular o médico a acessar em tempo 
real as informações mais atuais sobre a doença do paciente. 
 Ferramentas de pontuação clínica e calculadoras de 
probabilidade pré-teste vinculadas ou incorporadas ao 
prontuário eletrônico podem coletar informações do 
prontuário de um paciente específico para auxiliar o médico a 
tomar decisões de diagnóstico e tratamento, e permitir a 
intervenção mais precoce no curso da doença. 
 Parâmetros clínicos (p. ex., sinais vitais, resultados de exames) 
contidos no prontuário eletrônico podem ser usados para criar 
alertas que notificam o médico ou até que fazem solicitações 
predeterminadas ou conjuntos de solicitações, pacotes 
diagnósticos e terapêuticos ou rotas clínicas. 
 A disponibilização da CDS vinculada ao prontuário eletrônico no 
momento da solicitação dos exames complementares pode 
diminuir o uso de exames inadequados ou com baixo 
rendimento. Em geral, essas medidas visam reduzir a variação 
da prática clínica orientando os médicos sobre o que é 
considerado a melhor prática, conforme determinado por 
grupos de especialistas, associações profissionais, planos de 
saúde ou instituições de saúde. Como o prontuário eletrônico 
registra o momento em que essas indicações ou alertas são 
fornecidos aos médicos, pode-se avaliar sua adesão aos 
protocolos ou às diretrizes. Esses exemplos ilustram o potencial 
ainda a ser alcançado pelo prontuário eletrônico na CDS. O 
amadurecimento e o refinamento dos sistemas de prontuário 
eletrônico e prontuário eletrônico-CDS no futuro ampliará a 
tomada de decisão clínica tradicional.

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