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Natália Furlaneto INTRODUÇÃO Os médicos precisam integrar uma grande variedade de dados clínicos enquanto enfrentam pressões conflitantes para reduzir as incertezas diagnósticas, os riscos para os pacientes e os custos. Decidir qual informação deve obter, quais exames solicitar, como interpretar e integrar essas informações em hipóteses diagnósticas e quais tratamentos administrar é um tópico conhecido como “tomada de decisão clínica”. Em casos mais complexos, uma metodologia estruturada, quantitativa, analítica pode ser uma melhor abordagem para tomada de decisão. Mesmo quando o padrão reconhecido fornece a possibilidade diagnóstica mais provável, a tomada de decisão analítica, em geral, é utilizada para confirmar o diagnóstico. Os métodos analíticos podem incluir aplicação dos princípios da medicina baseada em evidências, uso de diretrizes clínicas e de várias técnicas quantitativas específicas (p. ex., teorema de Bayes). CONCEITOS BÁSICOS É necessário reduzir ao máximo suas incertezas diagnósticas. - O médico que mais sabe, tem mais dúvidas, mais diagnósticos diferenciais, porém, um dos objetivos do uso de ferramentas é reduzir as incertezas. Reduzir os riscos para os pacientes e para os profissionais de saúde. - Situações podem ser imprevisíveis: alergias, reações que levam a óbito. Repercussões no organismo podem ser imprevisíveis, mas o uso de medicina baseada em evidências reduz o risco. Reduzir os custos: financeiros, emocionais, pessoais (↓ impacto da doença no indivíduo e na família). - Ex: mãe que acompanha a criança durante a internação ↑ custo financeiro, mas ↓ custo emocional. BASES DA TOMADA DE DECISÃO CLÍNICA Instinto: é importante esse sentimento primitivo para domínio de situações emergenciais. Uma decisão apenas baseada em instinto não é ideal, mas a presença dele pode ser válida. Intuição: pode envolver crenças espirituais, atributo inconsciente originado de uma situação já vivenciada/estudada (experiência anterior, concreta ou abstrata, que ficou guardada em algum lugar do cérebro), que emerge diante de uma situação semelhante (a pessoa sabe, mas não existe uma objetividade da origem daquela informação). - Reconhecimento de padrões anteriores. Crenças subconscientes. Crenças conscientes. Baseada em valores éticos e morais (''parece certo'' ou ''é o mais justo''). Influência do contexto histórico, familiar, político, cotidiano. OBS: o resultado mais desejado é a cura completa, mas às vezes o resultado/sucesso possível é qualidade de vida ou uma boa morte. ESTRATÉGIAS DE TOMAD A DE DECISÃO CLÍNICA Geração de hipóteses estruturadas: sindrômica, etiológica e anatomofuncional. Baseadas em anamnese e exame físico adequados. Planejamento diagnóstico e terapêutico. GERAÇÃO DE HIPÓTESE Envolve a identificação das principais possibilidades diagnósticas (diagnóstico diferencial) que podem explicar o problema do paciente. A principal queixa do paciente e os dados demográficos básicos (idade, sexo, raça) são os pontos de partida para o diagnóstico diferencial, que geralmente é gerado por um padrão de reconhecimento. Cada elemento na lista de possibilidades recebe uma estimativa de probabilidade, ou plausibilidade, deste ser o diagnóstico correto (probabilidade pré-teste). PROBABILIDADE E CHANCES A probabilidade de uma doença (ou evento) ocorrer em um paciente cujas informações clínicas são desconhecidas é a frequência em que a doença ou evento ocorre em na população. A probabilidade varia de 0,0 (impossível) a 1,0 (certeza) e geralmente é expressa em porcentagem (de 0 a 100). Uma doença que ocorre em 2 de cada 10 pacientes tem uma probabilidade de 2/10 (0,2 ou 20%). As probabilidades muito pequenas ao redor de 0, excluindo assim toda possibilidade da doença (algumas vezes feito raciocínio clínico implícito), podem levar a conclusões errôneas quando são utilizados métodos quantitativos. MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA Formulação de uma boa hipótese: estruturada! Reunir evidências para responder as perguntas iniciais perguntas bem elaboradas são até mais importante que as respostas!!! Avaliação da qualidade e validade das evidências. Decidir como aplicar as evidências ao tratamento de um determinado paciente é a tomada de decisão final e definitiva. A decisão pode ser aplicar determinado método ou não!!! NÍVEIS DE EVIDÊNCIA 1- Revisão sistemática ou metanálise: evidências sólidas. 2- Coorte. 3- Caso-controle associado a revisão sistemática. 4- Casuística, coorte de baixa qualidade ou estudo de caso- controle. 5- Opinião de especialista. ERROS COGNITIVOS NA TOMADA DE DECISÃO CL ÍNICA Apesar de haver modelos matemáticos quantitativos para orientar a tomada de decisão clínica, os médicos raramente utilizam computação formal para tomada de decisões no tratamento de pacientes na prática cotidiana. Em vez disto, uma compreensão intuitiva de probabilidades é associada ao processo cognitivo denominado heurístico, para orientar o julgamento clínico. HEURÍSTICA é geralmente denominada regra geral (rules of thumb), palpite ou atalhos mentais. Heurística habitualmente envolve um padrão de reconhecimento e se baseia na integração subconsciente de informações do paciente reunidas a esmo, com experiência prévia, mais do que a geração consciente de um diagnóstico diferencial rigoroso, que é avaliado formalmente utilizando dados específicos da literatura. Este raciocínio informal, em geral, pode apresentar falhas, pois a heurística pode levar a vários tipos de erros inconscientes (erros cognitivos). Os estudos sugerem que há mais erros médicos Natália Furlaneto envolvendo erros cognitivos do que falta de conhecimento ou de informação. TIPOS DE ERROS COGNITIVOS Há vários tipos de erros cognitivos e, apesar de obviamente ser mais importante evitar erros do que propriamente classificá-los, uma vez cometidos, estar ciente dos tipos comuns de erros cognitivos pode ajudar os médicos a reconhecê-los e evitá-los. Os erros cognitivos podem ser grosseiramente classificados como os que envolvem: Avaliação incorreta da probabilidade pré-teste (superestimar ou subestimar a probabilidade da doença). Falha em considerar com seriedade todas as possibilidades relevantes. Ambos os tipos de erros podem levar facilmente a testes impróprios (para mais ou para menos) e erros diagnósticos. Erro de disponibilidade É quando os médicos escolhem a primeira coisa que lhes vem à mente. Isso muitas vezes distorce a probabilidade de doença pregressa porque uma experiência recente ou memorável torna um dado diagnóstico mais "fácil" de lembrar. A experiência geralmente leva à superestimativa da probabilidade, quando há memória de um caso dramático ou que envolveu um paciente com mau resultado ou um processo judicial. A experiência também pode levar à subestimativa. Por exemplo, um residente que examinou poucos pacientes com dor torácica e todos apresentavam causas benignas, pode começar a realizar avaliações apressadas desta queixa, mesmo em populações nas quais a prevalência de doenças é elevada. Erro de representação Quando os médicos se concentram na presença ou ausência das manifestações clássicas de uma doença sem levar em consideração a prevalência da doença. Ex: um homem jovem e saudável com dor no peito menor chance de ser IAM. Fechamento prematuro Tirar conclusões precipitadas. Esse é um dos erros mais comuns; os médicos fazem um diagnóstico rápido (geralmente pelo reconhecimento de padrões), não consideram outros possíveis diagnósticos e param de obter dados. A suspeita diagnóstica muitas vezes nem mesmo é confirmada por exames apropriados. Comuns quando o paciente parece estar apresentando uma exacerbação de uma doença conhecida. Ex: mulher com história de enxaqueca de longo prazo (e que, na verdade, tem uma nova hemorragia subaracnoidea) apresenta cefaleia que pode ser interpretadaerroneamente como uma nova crise de enxaqueca. Erros de fundamento Quando os médicos se agarram firmemente a uma impressão inicial mesmo quando dados conflitantes e contraditórios se acumulam. Quando se tem uma ideia fixa, difícil de se reverter. Ex: paciente que já foi alcoólatra, não é mais, mas o profissional tenta culpar isso. Viés de confirmação Supressão de evidências, o que significa que os médicos aceitam seletivamente os dados clínicos que corroboram uma hipótese desejada e ignoram os dados que não o fazem. Predisposição à confirmação, em geral, compõe um erro de ancoragem quando o médico utiliza dos dados de confirmação para sustentar a hipótese ancorada, mesmo quando evidências claramente contraditórias também estão disponíveis. Por exemplo, um médico pode se fixar firmemente em elementos da história do paciente que sugerem síndrome coronariana aguda (SCA) para confirmar a suspeita inicial de SCA, mesmo quando os ECG seriados e as enzimas cardíacas forem normais. Erros de atribuição Tomada de decisões de acordo com estereótipos negativos, o que pode levar os médicos a ignorar ou minimizar a possibilidade de uma doença grave. Os pacientes psiquiátricos que desenvolvem doenças físicas são particularmente suscetíveis a serem vítimas de erros de atribuição, pois não apenas podem ser objeto de estereótipos negativos, como também sua descrição dos sintomas não é clara, é inconsistente ou confusa, levando o médico a considerar que suas queixas sejam de origem mental. Erro afetivo Ocorre ao permitir que sentimentos pessoais (positivos ou negativos) sobre um paciente influenciem a tomada de decisão. Ex: evitar exames ou testes desagradáveis, porém, necessários, por apego ou simpatia pelo paciente (p. ex., evitar um exame pélvico em uma paciente tímida ou fazer hemoculturas em um paciente muito doente com veias difíceis). Ou, de modo semelhante, não fazer a avaliação convencional para um paciente antipático (p. ex., minimizar o significado da dispneia de um paciente com uma fala ofensiva ou para alguém com DPOC que continua a fumar). FATORES DE RISCO DE ERROS COGNITIVOS Fatores internos e externos podem aumentar o risco de erro cognitivo. Os fatores de risco internos são: Conhecimento e treinamento médicos insuficientes: principal. - P/ cometer menos erros estudar e treinar mais. Fadiga e/ou privação de sono: produção de erros. Equilíbrio entre a aceitação do risco e a aversão ao risco: condutas errôneas que aceitam demais os riscos. Os fatores de risco externos são: Carga ↑ de trabalho. Distrações: celular, pensamento em ''outro lugar''. Gerenciamento dos recursos da equipe: presença ou ausência de recursos financeiros, por ex. MINIMIZAÇÃO DE ERROS COGNITIVOS Algumas estratégias específicas podem ajudar a minimizar erros cognitivos. Tipicamente, após terem sido realizados história e exame físico, os médicos, em geral, formam uma avaliação diagnóstica com base heurística. Neste ponto, é relativamente fácil inserir uma pausa formal para reflexão, levantando diversas questões: Se não for o diagnóstico que está sendo avaliado, o que mais poderia ser? Qual é o diagnóstico mais grave possível? Há evidências que estão em desacordo com o diagnóstico que está sendo avaliado? Estas questões podem ajudar a expandir o diagnóstico diferencial para incluir coisas que podem ter sido deixadas de lado devido a erros cognitivos e, assim, levar o médico a obter outras informações necessárias. ENTENDENDO OS EXAMES COMPLEMENTARES E SEUS RESULTADOS Os resultados de exames podem auxiliar a realização de um diagnóstico em pacientes sintomáticos (exames diagnósticos) ou identificar doenças ocultas em pacientes assintomáticos (rastreamento). Entretanto, os resultados de exames podem interferir na tomada de decisão se o exame discriminar mal os pacientes com e sem doenças, se os resultados forem discordantes do quadro clínico ou se forem integrados de forma imprópria ao contexto clínico. Natália Furlaneto Os exames de laboratório são imperfeitos e podem identificar erroneamente alguns indivíduos que não apresentam uma doença específica como portadores da doença (falso-positivo) ou identificar erroneamente alguns indivíduos afetados como não portadores da doença (falso-negativo). A capacidade do exame de identificar corretamente pacientes com uma doença depende de quanto é provável que o indivíduo tenha a doença (probabilidade prévia) e das características operacionais intrínsecas do teste. Embora os exames diagnósticos contribuam, em geral, para a tomada de decisão diagnóstica clínica, eles podem ter consequências indesejadas ou não intencionais. Os exames devem ser realizados com deliberação e finalidade e com a expectativa de que os resultados reduzam a ambiguidade em relação ao problema do paciente e contribuam para a saúde. Além do risco de fornecer informações enganadoras (retardando o início do tratamento ou induzindo a tratamento desnecessário), os exames de laboratório consomem recursos limitados e podem expor o paciente a riscos de efeitos adversos do próprio exame. SENSIBIL IDADE, ESPEC IFICIDADE E VALORES PREDITIVOS Sensibilidade, especificidade e valores preditivos são tipicamente considerados características do exame em si, independentemente da população de pacientes. A sensibilidade é a probabilidade de o resultado do exame ser positivo quando os pacientes têm a doença (verdadeiro positivo) Deste modo, um exame que é positivo em 8 de 10 pacientes com a doença tem sensibilidade de 0,8 (também expressa como 80%). A sensibilidade representa o quanto o teste detecta a doença; um teste com baixa sensibilidade não identifica muitos pacientes com a doença, e um teste com alta sensibilidade é útil para excluir um diagnóstico quando os resultados são negativos. A sensibilidade é o complemento da taxa de falso-negativo (taxa de falso-negativos + sensibilidade = 100%). A especificidade é a probabilidade de o resultado do exame ser negativo em pacientes sem a doença (verdadeiro negativo) Assim, um teste que é negativo em 9 de 10 pacientes sem a doença tem uma especificidade de 0,9 (ou 90%). A especificidade mede quão bem o exame identifica corretamente pacientes com a doença, pois os testes com alta especificidade têm baixa taxa de falso-positivo. Um exame com baixa especificidade diagnostica vários pacientes sem a doença como portadores da doença. É o complemento da taxa de falso-positivo. O valor preditivo positivo (VPP) é a proporção de pacientes com resultado do exame positivo que realmente têm a doença Se 9 de 10 resultados positivos de exames estão corretos (verdadeiro positivo) o VPP é 90%. Como todos os resultados de exames positivos representam um número de positivos verdadeiros e de falso-positivos, o PPV descreve a probabilidade de um resultado de exame positivo em determinada população de pacientes representar um positivo verdadeiro. O valor preditivo negativo (VPN) é a proporção de pacientes com resultado negativo no exame que realmente não têm a doença Assim, se 8 dos 10 resultados negativos do exame estão corretos (verdadeiro negativo), o VPN é 80%. Como nem todos os resultados de exames negativos são negativos verdadeiros, alguns pacientes com resultados de exames negativos, na verdade, apresentam a doença. O NPV representa a possibilidade de um resultado de exame negativo em determinada população de pacientes representar um negativo verdadeiro. EXAMES SEQUENCIAIS Os médicos geralmente realizam exames em sequência durante várias avaliações diagnósticas. Se a chance pré-teste antes do teste sequencial é conhecida e o IP de cada teste em sequência é conhecido, as chances pós-teste podem ser calculadas utilizando a seguinte fórmula: Chance pré-teste × LR1 × LR2 × LR3 = chance pós-teste Este método é limitado pela importante presunção de que cada exame é condicionalmente independentedo outro. EXAMES DE TRIAGEM Os pacientes frequentemente consideram se devem ou não realizar uma triagem para doenças ocultas. As premissas dos programas de rastreamento são a detecção precoce, possibilitando a melhora dos resultados em pacientes com doença oculta, e que os resultados falso-positivos, que geralmente ocorrem no rastreamento, não representem uma carga (p. ex., custos e efeitos adversos de exames confirmatórios, tratamentos indesejados) que exceda este benefício. Para minimizar esta possível carga, os médicos devem escolher o teste de rastreamento adequado. O rastreamento não é apropriado quando os tratamentos são ineficazes ou a doença é muito rara (a menos que possa ser identificada uma subpopulação na qual a prevalência é mais elevada). Teoricamente, o melhor exame, tanto para rastreamento como para diagnóstico, é aquele com sensibilidade e especificidade mais elevadas. Entretanto, estes exames altamente precisos geralmente são complexos, caros e invasivos (p. ex., angiografia coronariana); sendo assim, não são práticos para rastreamento de grandes números de indivíduos assintomáticos. Caracteristicamente deve ser feita alguma opção em sensibilidade, especificidade ou ambas ao selecionar um exame de rastreamento. Um médico escolhe um exame que otimize a sensibilidade ou especificidade, dependendo das consequências de um resultado de exame falso-positivo ou falso-negativo, assim como da probabilidade de doença pré-teste. Um exame de rastreamento ideal é aquele que é sempre positivo em quase todos os pacientes com a doença, de forma que o resultado negativo exclua com confiança a doença em indivíduos saudáveis. Por exemplo, em um exame para doenças graves para as quais há tratamento eficaz disponível (p. ex., doença coronariana), os médicos poderiam tolerar mais resultados falso-positivos do que falso-negativos (menor especificidade e maior sensibilidade). Apesar de alta sensibilidade ser um atributo muito importante para exames de rastreamento, a especificidade também é importante em certas estratégias de rastreamento. Entre populações com prevalências mais elevadas de doenças, o PPV de um exame de rastreamento aumenta; na medida em que a prevalência diminui, a probabilidade pós-teste ou probabilidade posterior de um resultado positivo diminui. Consequentemente, quando rastreamos uma doença em populações de alto risco, os exames com maior sensibilidade são preferíveis em relação àqueles com maior especificidade, pois são melhores para excluir a doença (menos falso-negativos). Por outro lado, em populações de baixo risco ou para doenças incomuns, nas quais o tratamento tem menor benefício e maior risco, são preferíveis exames com maior especificidade. ANÁLISE ECONÔMICA NA TOMADA DE DECISÃO C LÍNICA Em razão das limitações sociais e pessoais de recursos e das restrições de seguros de saúde, as considerações de custos se tornaram mais relevantes na tomada de decisões clínicas. Os recursos limitados não devem ser desperdiçados; sua autorização depende de uma compreensão dos vários custos e resultados oriundos das estratégias de tratamento. CUSTO Os elementos incluídos na análise de custos são determinados pela perspectiva da análise. Diferentes perspectivas podem levar a diferentes conclusões com base em quais custos e resultados são considerados. Provedores (p. ex., agentes de saúde, instituições) tipicamente consideram os custos apenas dentro da organização (p. ex., pessoal, suprimentos, despesas gerais). Pagadores (p. ex., seguradoras) consideram apenas os reembolsos que terão de realizar. Pacientes consideram as despesas efetivas (p. ex., custo do seguro, deduções, transporte, estacionamento) e perda de renda (para eles mesmos e para sua família). Natália Furlaneto Do ponto de vista da sociedade, todos estes custos são levados em conta juntamente com os custos da perda de produtividade e o custo do tratamento de outras doenças (iatrogências ou que ocorrem naturalmente) que podem ocorrer em pacientes que se recuperam da doença que está sendo tratada. Por exemplo, um homem jovem curado de um linfoma pode desenvolver leucemia ou doença coronariana após alguns anos. A análise de custo de um programa de rastreamento deve incluir os custos de pesquisa de resultados falso-positivos que, com um teste de rastreamento para doença com baixa prevalência, geralmente supera os custos da avaliação e tratamento do paciente que realmente possui a doença. CUSTO MARGINAL O custo marginal é o custo de fornecer (ou reter na fonte) uma unidade de serviço adicional. Este custo, em geral, é um dos mais relevantes para a tomada de decisão clínica individual e tipicamente é bastante diferente do custo geral alocado ao serviço. RESULTADO A eficácia do tratamento médico é medida por alteração do resultado. Os resultados podem ser Orientados pelos pacientes Orientados pelo processo Orientados pela doença Os resultados orientados pelo paciente podem ser reduzidos a três “D”: Morte Deficiência Desconforto Os resultados orientados pelos pacientes são, sem dúvida, os mais importantes. Melhoras no processo (p. ex., redução do tempo de administração de antibióticos ou de permanência na sala de cirurgia) ou das manifestações da doença (p. ex., redução do tamanho do tumor melhorando a saturação de O2) que não reduzem absolutamente a mortalidade, a incapacidade ou o desconforto, dificilmente pode-se afirmar que beneficiem o paciente. Por exemplo, anteriormente administrava-se lidocaína a todos os pacientes com IAM, pois era reconhecido que reduzia a incidência de fibrilação ventricular (melhorava o resultado da doença). O tratamento com lidocaína continuou por vários anos antes de estudos mostrarem que ele não reduzia a mortalidade (não alterava o resultado do paciente) e, assim, esta prática foi interrompida. ANÁLISE DE CUSTO -BENEFÍCIO A análise simples de consequências econômicas dos resultados (análise de custo-benefício) depende do valor presumido, em dólares, do prolongamento da vida e melhora da saúde. Essas presunções, em geral, são discutíveis e raramente objetivas. Além disso, embora essas análises estabeleçam se uma determinada estratégia reduz custo ou requer gasto líquido de recursos, elas não indicam se os gastos são válidos. Análise de custo-efetividade examina os custos médicos e os benefícios de saúde do tratamento separadamente. Ambas as medidas podem ser fortemente afetadas pela perspectiva e duração da análise e pelas suposições subjacentes. A comparação dos custos e dos resultados de saúde das 2 estratégias de tratamento gera 1 de 9 pareamentos. Quando os resultados de saúde são equivalentes (coluna central), a escolha deve se basear no custo; quando os custos são equivalentes (coluna central), a escolha deve se basear nos resultados. Quando uma estratégia tem melhor resultado e custos menores (direita acima e esquerda abaixo), as escolhas são claras. A decisão é difícil somente quando uma estratégia mais cara também produz resultados melhores (células na parte superior esquerda e parte inferior direita); nesses casos, deve-se determinar a relação custo-eficácia marginal. PRONTUÁRIOS MÉDICOS ELETRÔNICOS (PME) E SUPORTE À DECISÃO CL ÍNICA O prontuário médico eletrônico (PME) catalisou a mudança para os médicos disponibilizando grandes quantidades de dados sobre os pacientes e outras informações que podem ser usadas para embasar a decisão clínica. A enorme quantidade de informações sobre os pacientes disponível em um único local eletrônico, em vez de em volumes de papel, pode auxiliar na tomada de decisão clínica, mesmo que o prontuário eletrônico só seja usado como repositório de informações e imagens que podem ser pesquisadas, consultadas e comparadas. EIS ALGUNS BENEFÍCIOS DO PRONTUÁRIO ELETRÔNICO: Alertas automáticos de interações medicamentosas e alergias, e detecção de erros de posologia podem reduziros erros de medicação. Links clinicamente relevantes incorporados ao prontuário eletrônico para pesquisar informações sobre doenças, exames e o tratamento podem estimular o médico a acessar em tempo real as informações mais atuais sobre a doença do paciente. Ferramentas de pontuação clínica e calculadoras de probabilidade pré-teste vinculadas ou incorporadas ao prontuário eletrônico podem coletar informações do prontuário de um paciente específico para auxiliar o médico a tomar decisões de diagnóstico e tratamento, e permitir a intervenção mais precoce no curso da doença. Parâmetros clínicos (p. ex., sinais vitais, resultados de exames) contidos no prontuário eletrônico podem ser usados para criar alertas que notificam o médico ou até que fazem solicitações predeterminadas ou conjuntos de solicitações, pacotes diagnósticos e terapêuticos ou rotas clínicas. A disponibilização da CDS vinculada ao prontuário eletrônico no momento da solicitação dos exames complementares pode diminuir o uso de exames inadequados ou com baixo rendimento. Em geral, essas medidas visam reduzir a variação da prática clínica orientando os médicos sobre o que é considerado a melhor prática, conforme determinado por grupos de especialistas, associações profissionais, planos de saúde ou instituições de saúde. Como o prontuário eletrônico registra o momento em que essas indicações ou alertas são fornecidos aos médicos, pode-se avaliar sua adesão aos protocolos ou às diretrizes. Esses exemplos ilustram o potencial ainda a ser alcançado pelo prontuário eletrônico na CDS. O amadurecimento e o refinamento dos sistemas de prontuário eletrônico e prontuário eletrônico-CDS no futuro ampliará a tomada de decisão clínica tradicional.
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