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Antropologia do Desporto (1)

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Sanito Jorge

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Prévia do material em texto

Manual do Curso de Licenciatura em EF e Desporto 
 Antropologia do desporto 
Universidade Católica de Moçambique 
Centro de Ensino à Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto i 
 
Direitos de autor 
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância 
(CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no 
seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, 
gravação, fotocópia ou outros) sem permissão expressa da entidade editora (Universidade Católica de 
Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a 
processos judiciais. 
 
 
 
 
 
dr.Dominigos Ernesto Dina 
Colaborador do Curso de Ed. Fisica - CED 
 
Docente: Mestre. Bridgette Simone Bruce 
Univesidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Católica de Moçambique 
Centro de Ensino à Distância 
82-5018440 
23-311718 
82-4382930 
Moçambique 
 
Fax: 
E-mail: eddistsofala@teledata.mz 
Website: www. ucm.mz 
mailto:eddistsofala@teledata.mz
 
 Antropologia do desporto ii 
 
Agradecimentos 
Agradeço a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: 
 
Universidade Católica de Moçambique 
Centro de Ensino à Distância. 
Pelo meu envolvimento nas equipas do CED 
como Colaborador, na área de Educação 
Física e Desporto . 
À Coordenação do Curso de Educação Física 
e Desporto . 
Pela contribuição e enriquecimentos ao 
conteúdo 
A coordenadora: Mestre Bridgette Simone 
Bruce . 
Pela facilitação, orientação e prontidão 
durante a concepção do presente manual. 
 
 
 
 Antropologia do desporto iii 
 
Visão geral 5 
Bem vindo à Antropologia do desporto 4º Ano ............................................................... 5 
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 5 
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 6 
Ícones de actividade .......................................................................................................... 6 
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 7 
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................. 7 
Avaliação .......................................................................................................................... 8 
Unidade nº 1 9 
Generalidades .................................................................................................................... 9 
Sumário ........................................................................................................................... 15 
Exercícios 1 ..................................................................................................................... 15 
Unidade nº 2 17 
Antropológico (teorias/correntes antropológicos) .......................................................... 17 
Sumário ........................................................................................................................... 31 
Exercício 2 ...................................................................................................................... 32 
Unidade nº 3 34 
A Cultura ......................................................................................................................... 34 
Sumário ........................................................................................................................... 57 
Exercício 3 ...................................................................................................................... 58 
Unidade nº 4 61 
Cultura material .............................................................................................................. 61 
Sumário ........................................................................................................................... 68 
Exercício 4 ...................................................................................................................... 68 
Unidade nº 5 70 
O parentesco ................................................................................................................... 70 
Sumário ........................................................................................................................... 87 
Exercício 5 ...................................................................................................................... 88 
Unidade nº 6 90 
Cultura do simbólico, ideologias e o papel da religião tradicional em Africa e em 
Mocambique ................................................................................................................... 90 
Sumário ......................................................................................................................... 102 
Exercício 6 .................................................................................................................... 102 
 
 Antropologia do desporto 5 
 
Visão geral 
Bem vindo à Antropologia do 
desporto 4º Ano 
 
Pretendemos que este módulo seja um contributo para que os 
aprendentes adquiram um conhecimento aprofundado da Antropologia 
do Desporto. 
 
Quando terminares o estudo da Antropologia do Desporto 4º Ano, o 
formando será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 Saber o que é Antropologia Cultural, 
 Conhecer os pressupostos da emergência da Antropologia 
Cultural 
 Reconhecer o parentesco como um dos fundamentos da 
organização social entre os homens e, 
 Conhecer as especificidades da Antropologia cultural em 
relação as outras Ciências 
 
 
Quem deveria estudar este 
módulo 
 Este Módulo foi concebido para os estudantes do 4º ano do curso 
de Licenciatura em Educação Física e Desporto. 
A Cadeira Antropologia do desporto foi introduzida para os Formandos, que, na sua 
maioria, são já Professores do EP e/ou do ESG. Começa nestas Presenciais, para, segundo o 
seu propósito, desenvolver uma forma inovadora de estar e ser, conhecer e aplicar a mesma. 
Nesta cadeira vamos falar de uma forma geral da Antropologia do desporto , as carterísticas 
e princípios básicos da antropologia do desporto , objecto do estudo, sua importância na 
área do desporto 
 
 Antropologia do desporto 6 
 
Como está estruturado este 
módulo 
Todos os módulos dos cursos produzidos por CED - UCM encontram-
se estruturados da seguinte maneira: 
Páginas introdutórias 
 Um índice completo. 
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os 
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. 
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de 
começar o seu estudo. 
 
Conteúdo do curso / módulo 
 O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma 
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo 
actividades de aprendizagem, e uma ou mais actividades para auto-
avaliação. 
 
Outros recursos 
 Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma 
lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem 
incluir livros, artigos ou sites na internet. 
 
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação 
 Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada 
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para 
desenvolver as tarefas, assim como instruções para completá-las. Estes 
elementos encontram-se no final do módulo. 
 
Comentários e sugestões 
 Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestõese fazer comentários 
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários 
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo. 
 
Ícones de actividade 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens 
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do 
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de 
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. 
 
 Antropologia do desporto 7 
 
Habilidades de estudo 
Caro Estudante, antes de mais o ensino à distância requer de ti 
uma grande responsabilidade, ou seja, é necessário que tenhas 
interesse em estudar, porque o teu estudo é ‘auto-didáctico’. 
Entretanto, vezes há em que te acharás possuidor de muito 
tempo, enquanto, na verdade, é preciso saber gerí-lo de modo 
que tenhas em tempo útil as fichas informactivas lidas e os 
exercícios do módulo resolvidos, evitando que os entregues fora 
de tempo exigido. 
Precisa de apoio? 
 
Há exercícios que o caro estudante não poderá resolver sozinho, neste 
caso contacte o tutor, via telefone, escreva uma carta participando a 
situação e se estiver próximo do tutor, contacte-o pessoalmente. 
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o 
estudante terá a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, 
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. 
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação, em caso de 
problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa 
fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de 
natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. 
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, 
tem a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste 
período pode apresentar dúvidas, tratar questões administractivas, 
entre outras. 
O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, 
busque apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-se 
mutuamente, reflictam sobre estratégias de superação, mas produza de 
forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas 
competências. 
Tarefas (avaliação e auto-
avaliação) 
 O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e 
auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é 
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes 
do período presencial. 
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não 
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do 
estudante. 
 
 Antropologia do desporto 8 
 
Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser 
dirigidos aos tutores/docentes da cadeira em questão. 
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo 
os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os 
direitos do autor. 
O plágio deve ser evitado. A avaliação da cadeira será controlada da 
seguinte maneira: 
 
 
 
Avaliação 
Os exames são realizados no final da cadeira e os trabalhos marcados 
em cada sessão têm peso de uma avaliação, o que adicionado os dois 
pode-se determinar a nota final com a qual o estudante conclui a 
cadeira. 
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. 
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 (dois) 
testes e 1 (um) exame. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 9 
 
Unidade nº 1 
Generalidades 
 
 
A disciplina de Antropologia do desporto terás noções 
fundamentais da mesma que te ajudarão a compreender a 
natureza da referida disciplina, em relação as outras ciências, 
isto é, peculiaridade, do seu objecto de estudo, os seus métodos 
fundamentais e a relação com as outras Ciências. 
 
 
Ao completares esta unidade / lição será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Saber o que é Antropologia Cultural, 
 Conhecer os pressupostos da emergência da Antropologia 
Cultural 
 Reconhecer o parentesco como um dos fundamentos da 
organização social entre os homens e, 
 Conhecer as especificidades da Antropologia cultural em 
relação as outras Ciências 
 
 
 
 
Terminologia 
 
A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: 
 EF - Educação Física 
 
 
 
 
Antropologia 
Representa uma nova e última etapa da síntese e comparação. 
Ela apoia se nas investigações da Etnologia e da Etnografia. 
A Antropologia oriunda de um reconhecimento da diversidade 
das sociedades, dos grupos e das culturas, aspira com a 
Antropologia ao nível da generalização. 
 
Objectivo da Antropologia Cultural e Social: A disciplina 
visa atingir um conhecimento global do homem. 
 
 Antropologia do desporto 10 
 
 
Objecto de estudo: Ela aborda toda a extensão biológica, social, 
histórica e geográfica do homem, aspirando a um conhecimento 
aplicável ao conjunto do desenvolvimento humano. Sobre o 
objecto de estudo, ainda há vários equívocos, o que é típico de 
uma Ciência social nova. 
 
P. Armando Ribeiro (1998,p. 8), ` Ele diz que é a Ciência do 
homem como ser cultural, entendendo como Cultura o conjunto 
das tradições. 
Bernardo Bernardi (1978, p. 19), ´Antropologia é o significado 
e a estrutura da vida do homem como expressão da sua 
actividade mental.´ 
 
 
 
 
 
A ciência vem de um período muito recente da evolução do 
conhecimento humano, remontando ao período moderno 
Europeu. A Antropologia, só veio a emergir no séc. XIX até 
princípios do séc. XX, o termo Antropologia servia para 
designar a Ciência que actualmente se chama Antropologia 
Física, porém a definição vem mais adiante. Recentemente ela 
tende a significar o reconhecimento das propriedades gerais da 
vida social e das diversas sociedades humanas. Para isso, cobre 
um grande número das ciências que estudam o homem, tais 
como: Antropologia Política, Psicanalítica, Económica, 
Aplicada, a Etnografia, a Etnologia, certos aspectos da 
Linguística, a Arqueologia, Pré- história, etc. 
 
Cada um destes ramos tem tarefas específicas mais que 
concorrem para explicar o homem na sua complexidade. 
Antropologia Física: Tem por objecto o estudo de certas 
características biológicas do homem, as questões da raça, da 
hereditariedade, da nutrição, da diferenciação de sexos, etc. 
Compreende, entre outras a Anatomia Comparada, fisiologia 
Comparada e a patologia Comparada. 
 
Antropologia Social: Ocupa-se mais particularmente em 
estabelecer leis gerais da vida em sociedade que sejam válidas 
tanto nas sociedades tradicionais como nas industrializadas 
modernas. Procura aprender sobre as sociedades quanto ao seu 
funcionamento e aos seus actos. 
 
 
 Antropologia do desporto 11 
 
Antropologia Cultural: Dedica se a problemas de relativismo 
cultural (Investigação da originalidade de cada cultura), do 
estudo das relações que se estabelecem entre os diferentes níveis 
numa dada sociedade e do fenómeno da transmissão da cultura. 
Antropologia Cultural apenas aprenderia a sociedade nas suas 
obras e não nos seus actos e no seu funcionamento. 
 
Antropologia Política: Fala sobre os problemas do poder da 
autoridade, chefia do governo, etc; Assuntos que deram lugar a 
numerosas especulações filosóficas (Sobre a origem e a natureza 
do estado, o aparecimento do direito). 
 
Antropologia Aplicada: Faz a utilização prática das teorias e 
dos resultados do inquérito etnográfico, tendo em vista 
manipular as sociedades com o objectivo, quer de as administrar 
( Como é o caso da política colonial, da assimilação, aculturação 
´Forçada´), quer de as ajudar a a daptar se a sociedade etnológica 
moderna(Como é o caso da aculturação ´Planificada´, política de 
integração), ou o desenvolvimento de uma originalidade 
cultural(Procura de um sincretismo). 
 
Antropologia Psicanalítica: Refere o estudo de sonhos, mitos, 
contos, na análise de jogos, cerimónias, das práticas mágicas,de 
certos aspectos da vida quotidiana, das técnicas de educar. 
 
Antropologia Económica: Interessa se pelas condições da 
produção material, as trocas, os direitos sobre os objectos, as 
formas de utilização dos produtos, englobando os aspectos da 
ecologia e tecnológica. 
 
 
A Antropologia já definiu o seu objectivo ao procurar atingir um 
conhecimento global do homem, abarcando as dimensões físicas, 
culturais, históricas e geográficas. Aspira ainda a um 
conhecimento aplicável a um conjunto de conhecimentos 
aplicável ao conjunto de desenvolvimento humano, desde a 
grande cidade moderna á mais pequena tribo. 
A Antropologia para desenvolver o seu objecto de estudo, 
necessita de um apoio de outras Ciências. De facto nenhuma 
Ciência é capaz de se prover sozinha. É daí que surgem as 
relações entre Antropologia e as outras Ciências do homem. 
Assim, a Antropologia tem uma relação privilegiada com a 
Sociologia, a História, a Economia, a Geografia, a Psicanálise. 
 
 
 
 Antropologia do desporto 12 
 
 
Antropologia= Discurso sobre a (Ciência) do homem. 
 
Sociologia= Discurso sobre a (Ciência) da Sociedade. 
Antropologia procura a explicação dos fenómenos sociais e 
culturais na lógica do observador (Ciência do observado), a 
Sociologia, procura a análise do ponto de vista da própria 
sociedade á qual pertence o cientista (Ciência do observador). 
O Antropólogo distancia se da realidade institucional para 
construir progressivamente a sua problemática analítica á 
medida que vai descobrindo o princípio de organização da 
sociedade estudada. O Sociólogo parte de hipóteses já 
elaboradas e fundadas, geralmente sobre pré- construções 
analíticas ou instituições, procurando, em seguida, aferí-las por 
inquéritos no terreno. Contudo, elas cruzam se, quer no uso de 
métodos, como nos próprios objectos. Por acaso há homens que 
vivem sem sociedades e há sociedades sem os homens entanto 
que indivíduos? 
 
 
O historiador distancia se do seu objecto de estudo pelo tempo. 
Distancia se assim dos valores e categorias da sua própria 
sociedade para melhor compreender, interpretar o `Passado.´ 
Pelo seu lado o Antropólogo `acantona´ o discurso de uma 
comunidade sobre ela mesma para melhor a compreender. 
O olhar da história e da Antropologia leva a ver o outro como ele 
se vê, e, através deste olhar, procura ver e compreender essa 
sociedade global. Como pode observar, há uma convergência, na 
medida em que as duas disciplinas ocupam se da alteridade, isto 
é, do outro ponto para que Antropologia consiga obter a 
dimensão temporal dos acontecimentos, logicamente a história 
prestar-se-á na primeira linha. 
 
Relação entre Antropologia e a Psicanálise 
Quer Antropologia quer a Psicanálise insistem entre o conteúdo 
latente, o implícito e o explicito, e na necessidade de ultrapassar 
o `Sintoma, descodificando–o e dando lhe forma. As duas 
ciências são marcadas pela alteridade. O Antropólogo tenta 
reconhecer e analisar o `Pensamento `, do outro para se situar o 
seu próprio pensamento. O Psicanalista tenta descodificar o 
 
 Antropologia do desporto 13 
 
discurso do outro em se mesmo`Super Ego`, o outro na sua 
origem e em relação ao qual se determina. 
 
 
 
Um método, em ciência, pode ser entendido como o caminho ou 
estratégias usadas para atingir um determinado objectivo. Todas 
as Ciências, quer Sociais, Humanas ou Naturais, possuem um 
método que as caracteriza e as distingue das outras. 
 
A Antropologia tem seus métodos privilegiados tais como: O 
histórico, o Estatístico, o Etnográfico, o Comparativo ou 
Etnográfico, o Monográfico, o Genealógico, entre outros. 
O método histórico é usado na pesquisa dos eventos através do 
tempo, para compreender as diversas transformações ocorridas 
numa determinada cultura. 
 
O método estatístico é empregue para apresentar a variabilidade 
dos aspectos estudados antropologicamente, tanto biológico, 
cultural e que possibilitem a aferência da diversidade biológica 
ou cultural como por ex. a variação das dimensões do corpo ou 
das regiões. 
 
O método Etnográfico é usado na análise descritiva das 
sociedades humanas, ao passo que o método Etnológico ou 
comparativo visa aferir as diferenças e as semelhanças 
apresentadas por um material de referência de diferentes meios 
culturais ou de diferentes tempos culturais. 
O método monográfico, ou estudo de caso, é usado para estudar, 
em profundidade, um determinado grupo humano em todas suas 
dimensões. 
O método genealógico é usado fundamentalmente no estudo do 
parentesco e todas as suas implicações sociais, políticas, 
culturais, como por ex. o impacto do parentesco no ordenamento 
territorial, residencial ou político dos membros de um grupo 
social. 
A sua principal técnica é a observação participante, pois que é 
acompanhada por outras técnicas como a entrevista (Dirigida e 
não dirigida), os formulários e os questionários. Pelo lugar 
central da observação participante, passa a descrever se com 
alguma profundidade. 
 
 
 Antropologia do desporto 14 
 
A observação participante: 
Tal como você viu na definição do objecto de estudo, a 
Antropologia visa conhecer pequenas realidades. A observação 
participante visa conhecer estas pequenas unidades sociais, pelas 
quais se tenta elaborar uma síntese mais geral, apreendendo a 
partir de um certo ponto de vista a totalidade da sociedade. Nas 
unidades sociais mais pequenas ou comunidades, em geral, as 
relações sociais, que tem uma certa coerência interna nos 
aspectos cultural, económico, social, religioso, etc. São 
directamente observáveis pelo investigador. 
Você já imaginou, entre procurar uma resposta numa multidão e 
numa pessoa, onde você teria um interlocutor válido, mais 
objectivo? É o mesmo que ocorre na pesquisa Antropológica. 
Dado que é impraticável estudar grandes superfícies para 
apreender o essencial, o Antropólogo para observar a sociedade 
global parte destes grupos restritos. 
Com a observação participante o Antropólogo aprende as 
unidades sociais restritas simultaneamente de dentro e de fora 
nas suas especificidades e nos seus elementos comuns em 
relação a sociedade global. Assim, a observação participante 
permite extrapolar o global a partir do local. As relações internas 
postas em evidência são feitas no quadro do sócio- cultural e 
económica global. 
 
Contudo, esta técnica, a observação participante tem 
especificidade de considerar, pois ela tem um carácter: (1) 
Interdisciplinar (Na medida em que, Antropologia para explicar 
seu objecto de estudo procura o apoio de outras ciências sociais 
e das técnicas das mesmas); (2) Comparativo (Só se estabelecem 
regularidade, depois de comparadas a realidade estudada com 
outras realidades conhecidas); (3) Histórico (Que provém do 
facto na apreensão da realidade social ser necessário cruzar os 
acontecimentos transversais ou sincrónico e os acontecimentos 
longitudinais ou diacrónicos); e (4) Holístico (Já que a 
compreensão do facto social é possível estudando o nas suas 
variadas dimensões, isto é de forma integral). 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 15 
 
Sumário 
A Antropologia constrói se considerando três etapas hierárquicas, 
começando pela observação, descrição, síntese e generalização. Na 
essência, tudo deve ser depois interpretado no âmbito do plano geral 
da humanidade. 
A Antropologia geral é complexa. Envolve um conjunto de 
especializações que engloba aspectos de natureza física, 
eminentemente social, mais também os aspectos que abarcam facetas 
da vida humana, como a sua intervenção na natureza, as suas relações 
com o mundo oculto. 
A interdisciplinaridade resume a relação que a Antropologia tem com 
outras ciências Sociais e Humanas, dado que ela não pode explicar 
isoladamente o homem. Essas relações são recíprocas, em virtude de 
todas as ciências Sociais serem marcadas pelo estudo de outrasrealidades. 
A Antropologia, tendo como objectivo apreender as especificidades 
duma cultura, tem como o método fundamental a observação 
participante. Na elaboração do seu objecto deve considerar a 
integralidade dos factos sociais (Aplicando o holismo), de que 
nenhuma ciência é autónoma (A interdisciplinaridade), de toda a 
manifestação de um facto social tem correspondente em outros grupos 
sociais (A comparação) e que é necessário atender a temporalidade dos 
factos sociais (Aplicando se o método histórico). 
 
Exercícios 1 
1. Se alguém lhe solicitar a caracterização acima em epígrafe da 
última etapa, que conceito usarias? 
2. Com base em outros autores, apresenta um outro ponto de 
vista sobre o objecto de estudo de Antropologia Cultural e 
Social. 
3. Porquê se houve a necessidade da emergência de muitos 
ramos da Antropologia. 
4. Qual das subdisciplinas Antropológicas devia ser catalizada 
para estudar: 
5. Todas ciências Sociais são Antropológicas. Concorda com a 
afirmação? Fundamente. 
 
 Antropologia do desporto 16 
 
6. Porquê o método Antropológico toma como objecto de 
investigação unidades sociais mais pequenas. 
7. Em que reside a peculiaridade do método Antropológico (A 
observação participante) em relação a observação conduzida 
nas outras Ciências (Por exemplo como a observação das 
paisagens). 
8. Enumere as características do método Antropológico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 17 
 
Unidade nº 2 
 
Antropológico (teorias/correntes 
antropológicos) 
Nesta unidade terá a ocasião de estudar a história da Antropologia 
sócio-cultural e as teorias da Antropologia, bem como as críticas da 
Antropologia em África e, em particular, em Moçambique. Terá ainda 
a ocasião de conhecer conceitos básicos das teorias-correntes da 
Antropologia, nomeadamente os conceitos de evolução, difusão, 
função e estrutura. 
 Ao completares esta unidade / lição será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer as teorias | correntes da Antropologia cultural; 
 
 Conhecer as teorias/ correntes da Antropologia cultural; 
 Conhecer a história da Antropologia, que começa com a própria 
cultura da humanidade; 
 Conhecer os conceitos: Evolucionismo, Difusionismo, 
Funcionalismo e Estruturalismo; 
 Distinguir as teses de cada uma das teorias/ correntes; 
 Explicar as verdadeiras razões históricas do surgimento da 
Antropologia Cultural; 
 Reflectir sobre os pressupostos da Antropologia expressas no 
período de formação; 
 Analisar a situação da Antropologia em África e, em 
particular de Moçambique, durante o domínio colonial. 
 
 
 
 Antropologia do desporto 18 
 
 
 
Terminologia 
 
A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: 
 AP-Antropologia do desporto 
 
 
 
Neste tema aborda a história da Antropologia, a discussão centra 
se nas diferentes contribuições dos cientistas sociais de vários 
países e escolas, o que convencionou chamar se por correntes, 
para a emergência da Antropologia. 
Segundo MARTINEZ (2004), o conhecimento dos rumos 
seguidos nos estudos da Antropologia tem como determinantes, 
por um lado o critério objectivo, pelo qual se avalia ‘ A 
consistência das orientações teóricas e a legitimidade 
metodológica das mesmas’; Por outro lado o critério subjectivo, 
que permite ‘Avaliar os motivos que levaram determinados 
autores a enveredar por um determinado caminho e as razões do 
seu sucesso ou rejeição’ (p. 55) e, finalmente, o critério de 
utilidade, que procura ‘Discutir a orientação teórica em razão da 
sua possível aplicação’. 
A Antropologia sendo como uma ciência recente, ela forma se 
como tal só no séc. XIX e desde aí, a disciplina passou a 
conhecer várias orientações conhecendo avanços e recuos. 
Contudo, por uma questão metodológica e para a identificação 
das abordagens teóricas, vamos avançar com uma sistematização 
dos diferentes pensamentos que, enquadrados no tempo, 
esboçam um itinerário, isto é, a história da Antropologia. 
Entretanto, será difícil dar um levantamento completo de todas 
as contribuições, porque elas vieram de todos os cantos e de 
todos os períodos. 
 
 Antropologia do desporto 19 
 
A emergência da Antropologia coincide com as primeiras 
reflexões do homem sobre se e sobre a natureza, o cosmos ou o 
universo. Uma parte desse conjunto de reflexões chegou aos 
nossos dia por via de lendas e mitos. É o período que Paul 
MERCIER, indica como sendo de ‘Antropologia espontânea’ ou 
o período da pré-história da Antropologia. 
As contribuições deste período são de diversa natureza e origens: 
Ícones, arte parietal (Pinturas rupestres), artes móveis 
(Esculturas), manuscritos dos primeiros povos com escrita 
(Babilónios, Egípcios, Hindus, Fenícios, entre outros). 
Segundo MELLO (2005, p.180-185), a contribuição Greco- 
Romana na formação da Antropologia, foi enorme, com os 
trabalhos de Heródoto, um dos notáveis viajantes e narrador das 
terras visitadas; Platão (A cidade ideal); Aristóteles (Concepções 
teóricas a cerca do estado); Sócrates (Com a crítica a sociedade) 
(Grécia) e Lucrécio (Que fala do homem primitivo, César, 
Tácito, Galeno, Marco Aurélio (Roma). Apesar de, como você 
aprendeu na história, ser considerado como um período de 
retrocesso, tais contribuições continuaram na idade média com 
Santo Agostinho (A cidade de Deus), Avicena (Defende a 
invariabilidade das formas), Averois (Com o evolucionismo) e 
Bacon (Uso de método experimental). As contribuições 
circunscreveram se mais na conservação dos escritos, tradução 
dos sistemas de pensamento de outros povos e na preparação da 
universidade. Viagens e descrições foram também feitas pelo 
Árabes Ibn Khaldum (Séc. XIV). 
No Conjunto destas contribuições, Martinez (2004, p.56), aponta 
que, com o renascimento Europeu e com as viagens de 
exploração, houve grandes contactos que deram origens a 
tratados. Surgiram tratados acerca das afinidades e diferenças 
entre os homens e seus mundos sociais e culturais. Por ex. 
MONTAIGNE, um francês publica seus ensaios (1580), que nos 
transmitem contacto entre os povos onde questionam o 
etnocentrismo e faz a análise comparativa das sociedades. Ainda 
segundo Martinez (Id), o tempo moderno, dominado pelo 
 
 Antropologia do desporto 20 
 
iluminismo ou o culto a razão empresta um antropocentrismo 
base para o estudo dos factos tipicamente humano. 
As maiores contribuições ocorrem no séc. XVIII, Com 
Emmanuel Kant (1724- 1804), que, com o seu pensamento, ‘(…) 
influenciou os vários ramos da ciência. Ele ensina que o 
entendimento constrói o seu objecto, pelo que os fenómenos 
giram em torno da razão’. 
Você lembra se das ditas viagens de ‘Descobrimento’ europeu 
aprendidas na história iniciadas no fim do séc. XV e que 
continuaram a se multiplicar a partir do séc. XVI? As viagens e 
os contactos que se multiplicaram para todos cantos da terra 
foram acompanhados pela produção de relatórios que, mais 
tarde, serviram de documentos essenciais para a produção 
Antropológica. De facto, os estudiosos começam a dispor de 
Maios material Antropológico para a sua pesquisa. Ocorrem 
ainda estudo do corpo humano com Leonardo da Vinci (1452-
1518), no seu aspecto morfológico Dúrer (1514- 1574), nas 
medidas cranianas; Vessálius, com as lições de autonomia e 
Lineu com a classificação das raças. 
No séc. XIX dá se a primeira descoberta do homem fóssil. No 
seu conjunto, todos esses aspectos deram subsídios para a 
emergência da Antropologia física, que conhecera a sua 
fundação no mesmo séc. por Johann Blumembach (MELLO, 
2005, p. 198-190). Antes ou depois vieram ainda contribuições 
das missões científicas mais organizadas e sistematizadas de 
naturalistas, geográficos, humanistas, que tinham como 
objectivo principal colher informações e fazer observações. 
Contam se os exemplos de A. Bering (Nordesteda Ásia); Cook 
(Oceânia) e as viagens posteriores a organização African 
Association, pela Grã- Bretanha, (1788), para interior da Àfrica 
um contributo significativo resultou ainda da sociedade 
Etnológica de Paris (França), que lançou ‘L`Instuction genérale 
aux Vovageurs’, espécie de orientação para a recolha de dados. 
O maior repertório documental existente, o avanço de técnicas 
induziu a especialização, possibilitando a emergência da 
Antropologia Cultural, da pré- história e da Arqueologia. 
Lançava se uma nova disciplina no conhecimento humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 21 
 
 
 
 
PERÍODO DE CONVERGÊNCIA E DE CONSTRUÇÃO: 
 
Mesmo existindo um grande fervor científico durante o séc. XIX 
e a Antropologia atender para várias interpretações, ela parece 
ter procurado definir se a volta do paradigma característico da 
época, o da evolução cujos nomes sonantes do período foram: 
Charles DARWIN (1809- 1882), Edward TYLOR (1871), 
Herbet SPENCER, Augusto COMTE, Matthew ARNORD 
(1879). De facto, a Antropologia não fugiu esse pensamento que 
dominava entre o segundo quartel e finais do séc. XIX, o qual 
veio, de certa forma definir a unidade da Antropologia. Por isso, 
mesmo que alguns autores se tenham recusado no 
evolucionismo, este constituiu o pensamento dominante da 
época. Por isso diz se que foi o período da CONVERGÊNCIA. 
Segundo MARTINEZ (2004), as várias formulações sobre as 
sociedades e as culturas convergiram para três objectivos 
comuns: Origem, idade e a mudança. Apareceram no mesmo 
período revistas de algumas associações científicas, como a 
revista americana Current Anthropolgy, a britânica Man e a 
francesa L’Home, bem como sociedades de Antropologia em 
Gottingen, Cracóvia, Madrid, Nova Iorque, Berlim, Viena e 
Estocolmo. Segundo Mello (2000), tais sociedades eram 
científicos humanitárias e os Antropólogos eram considerados 
‘Amigos dos povos primitivos’. 
 
A teoria evolucionista alcança as suas feições definitivas com o 
aparecimento da obra de Charles DARWIN sobre a evolução,’A 
Origem das espécies’. Edward TYLOR veio aplicar essa teoria 
na Antropologia, dando o arranque da Antropologia moderna, 
isto é, o arranque da fase da construção da Antropologia. De 
facto, foi este que lançou a Antropologia Cultural, cujo marco 
foi a publicação por TYLOR da ‘Cultura primitiva’, em 1871. 
Lewis MORGAN publica na mesma altura (1877) ‘ A Sociedade 
Primitiva’, procurando discutir a organização da família pelos 
diversos estágios de desenvolvimento, isto é, no contesto de 
evolução (Ibid, p. 193). 
 
 
 Antropologia do desporto 22 
 
Apesar de ter existido diversas contribuições como as de: Adolf 
BASTIAN (1826- 1905), médico viajante e Antropólogo, que 
rejeitando os particularismos do corpo e alma do romantismo 
defendeu a unidade do pensamento humano; Jacob BACHOFEN 
(1815-1887), jurista e Antropólogo Alemão, com trabalhos 
comparativos sobre a mitologia e o parentesco; Summer 
MAINE, que via na família patriarcal a base da unidade da 
organização social; Mc Lennan, que lançou a ideia da noção do 
paralelismo e tentou interpretar vários costumes primitivos, 
TYLOR foi o expoente dessas contribuições ao definir o 
conceito de cultura e a coloca - lá como objecto da 
Antropologia. Por outro, Lewis MORGAN introduz o esquema 
da evolução: Selvageria, barbárie e civilização, FRAZER 
preocupa se com o estudo do fenómeno religioso (Id). 
 
 
 
 
EVOLUCIONISMO CULTURAL 
O Evolucionismo deriva do tempo ‘Evolução’. O Evolucionismo 
cultural surgiu com a emergência da própria Antropologia 
Cultural no séc. XIX. Contudo, a ideia da evolução surgiu na 
antiguidade clássica quando os pensadores se preocuparam com 
o problema da origem do Homem e do Universo, como no 
génesis, nos textos das civilizações mesopotâmicas, nos poemas 
épicos da Índia, entre outras narrações. Pode se confirmar isso a 
partir da Bíblia. 
O Evolucionismo estabeleceu se como corrente na segunda 
metade do séc. XIX, apesar de ter, as suas bases fundadas em 
dois séc. procedentes concretamente na ideia de progresso das 
civilizações, expressas por Condorcet e no Iluminismo. O séc. 
XIX conheceu largas transformações sociais, mais também o 
progresso ficou demonstrado pela Revolução Industrial, pela 
explosão do modo de vida urbano, que indicavam a capacidade 
evolutiva do homem. Como defende Martinez (2004, p. 60), o 
gérmen das teorias Evolucionistas alcançou o seu auge neste séc. 
 
 Antropologia do desporto 23 
 
em virtude de haver manifestação de confiança dos estudiosos na 
capacidade do homem de fazer uma história cada vez mais 
grandiosa. 
A teoria Evolucionista apoiar-se-ia no transformismo de Lamark 
identificado como fundador da teoria da Evolução e nas ideias 
de Charles DARWIN sistematizadas na ‘A origem das espécies’. 
Edward TYLOR ao sistematizar o estudo da cultura seria 
considerado o pai da Antropologia. Em 1971 publica o seu livro 
Primitive Culture (Cultura Primitiva). Onde propôs outra 
sequência para o desenvolvimento religioso no Homem: 
Animismo, que segundo ele teria sido o primeiro estágio; O 
Feiticismo, o Politeísmo e o Monoteísmo, como a última fase 
segundo Bernardi (1878, p. 177), com ela estão impregnados 
aspectos que constituiriam centrais nos estudos Antropológicos, 
como a integração étnica, estrutura e função, relativismo 
cultural, o indivíduo e a comunidade. 
As contribuições de Lewis MORGAN (1875), publicou o livro 
Ancient Society, este pesquisador ocupou se do estudo da 
organização social. Segundo Bernardi (Ibid, p. 179) MORGAN 
fez um estudo científico e sistemático do parentesco como 
fundamento necessário da organização social e política. James 
FRAZER é outro clássico deste período. Defendia que todas as 
sociedades passavam por três estádios: Mágico, religioso e 
científico. 
Ele usou largamente o método comparativo dos seus estudos, 
que se declinavam sobre a magia, o totenismo e a exogamia. 
 
 
 
 
Um dos aspectos dominantes dos Evolucionistas foi conceber a 
sucessão dos estágios de desenvolvimento como característico 
nos humanos e verem a cultura como aspecto tipicamente de 
 
 Antropologia do desporto 24 
 
todos os grupos humanos. Segundo eles as mudanças culturais 
resultavam da dinâmica natural e não dependiam do ambiente e 
da história. De modo geral, os evolucionistas debruçaram se 
sobre temas religiosos, familiares, jurídicos e aspectos da cultura 
material, isto é, o objecto de estudo era diversificado. Tais temas 
eram vistos segundo uma evolução universal e unilinear. O 
‘Exótico’ e os povos ‘Primitivo’ constituíam o centro dos 
estudos, cuja razão era encontrada nesse processo evolutivo. 
 
Na interpretação das instituições sociais, os evolucionistas ‘ (…) 
acreditavam que, voltando os olhos ao passado teriam subsídios 
para determinar como a história da cultura humana se 
comportaria’(MELLO,2005). Os evolucionistas introduziram um 
tempo cultural como uma nova dimensão cultural. Esta foi a 
outra característica do evolucionismo. 
Finalmente, o uso alargado do método comparativo, constituiu 
uma das características dos evolucionistas. Contudo, o facto de 
não haver um grande rigor, na aplicação desse método, a falta de 
crítica das fontes e a ausência de trabalho de campo pesaram 
muito no enfraquecimento desta corrente. Por outro, as dúvidas 
repousam sobre os factores da evolução cultural ao indicar 
aspectos subjectivos de carácter psicobiológico. 
 
O DIFUSIONISMO 
O Difusionismo centra se na difusão e no contacto entre os 
povos como factor da dinâmica cultural, que é conhecido como 
fenómeno histórico para explicar a semelhança existente entre as 
diferentes culturas particulares. É por causa disso que também se 
chama historicismo (Mello, 2005,). O Difusionismo congrega 
várias escolasou tendência da Antropologia Cultural: O 
Difusionismo Inglês, Alemão, ou escola de Viena e escola ou 
Difusionismo Americano. O Difusionismo, difundido entre 
 
 Antropologia do desporto 25 
 
1900-1930 está dentro do período da crítica, de que falaremos 
posteriormente. 
Diferentemente do Evolucionismo, preocupa se pelo rigor na 
pesquisa, tendo, por isso desenvolvido um trabalho de campo 
com a recolha de dados e posterior a elaboração teórica. A 
observação participante foi privilegiada como uma das técnicas 
de pesquisa e, ao mesmo tempo, foi incrementado a Linguística. 
Por isso a Etnografia conheceu uma afirmação com o 
Difusionismo. 
Foram também privilegiados estudos das culturas particulares 
dando maior segurança nas afirmações e um maior 
conhecimento de fenómenos antes relegados a um segundo 
plano (Ib, p.224). 
 
 
 
A Escola Inglesa 
Surgida na segunda década do séc. XX a Escola Inglesa teve 
como estudiosos Grafton Elliot SMITH e o seu discípulo, W. J. 
PERRY, que veio a implantar definitivamente a Escola. SMITH 
introduziu o fenómeno do paralelismo cultural, daí que o 
fundamento da escola foi de defender a difusão como principal 
motor da dinâmica cultural. Foi levada a isso talvez ao verificar 
quão difícil é a inovação de novos valores culturais. Para esta 
escola a cultura de todo mundo moderno era basicamente a 
mesma por conta da difusão (Teoria pan-egípcia), ficou 
conhecida por seu método científico e por sua especulação 
fantasiosa. 
Os pontos fracos desta escola foram: A manipulação de 
informações inseguras e duvidosas; Falta de rigor cronológico 
dos acontecimentos e os grandes radicalismos a considerar o 
Difusionismo como única base da explicação das semelhanças 
culturais existentes entre diferentes grupos. 
 
 Antropologia do desporto 26 
 
 
Difusionismo de Viena (O Difusionismo Alemão) 
Esta escola teve como precursores GREABNER, um dos seus 
principais fundadores, RATZEL, FROBBENIUS, W FOY, F. 
SCHMIDT(2001). É a escola também designada como histórico-
cultural. Quanto a metodologia privilegia o uso de informações 
seguras, tendo sido, por isso uma das contribuições desta escola 
para a Antropologia. Grabner defendia que na analise da difusão 
cultural era necessário ter em conta o número e a complexidade, 
onde ‘(…) quanto maior for o número de semelhanças, maior 
são as probabilidades de ter sucedido empréstimos’ (Mello, 
2005).Tanto estes, como os ingleses, o seu trabalho é 
basicamente o de gabinete e neste contexto aproximavam se dos 
evolucionistas. 
 
A Escola/ o Difusionismo Americano 
O principal defensor desta Escola foi Franz Boas. Seguiram lhe, 
segundo Martinez, Krober, Wissler, P. Radin, Sapir, Benedict 
e Mead(2004). Tendo como objecto a cultura universal, a 
principal característica foi de ter optado pelo estudo de áreas 
culturais muito pequenas, por considerarem a cultura complexa e 
ser, segundo eles difícil conhece-la completamente. 
O trabalho de campo foi pouco privilegiado, alias tal como 
ocorria com as outras escolas. 
 
O Funcionalismo 
O Funcionalismo é uma corrente fundada por Bronislaw 
Malinowski, a partir de 1914. Esta corrente teve a sua maior 
influência entre 1930- 1940. Querendo ultrapassar as tendências 
dominantes na época (Preocupações pela origem e pelos 
problemas das transformações sócio- culturais), o Funcionalismo 
tenta explicar o funcionamento de uma cultura num determinado 
momento. As noções de utilidade (Para que serve?), de 
 
 Antropologia do desporto 27 
 
causalidade (Qual é a razão?) e de sistemas (Conhecimento da 
interdependência dos elementos num conjunto coerente), 
determinaram a emergência desta corrente. 
 
Vários foram os representantes da corrente funcionalista: H. 
Spencer, via a função como a finalidade procurada 
intencionalmente; E. Durkhei, defendia a função ‘ Como a causa 
eficiente dos processos sociais de adaptação, de organização e 
de integração’ (Riviere, 2000). Segundo Durkheim, os factos 
sociais são regras de comportamento, normas, padrões de 
valores, expectativa que a sociedade tem dos seus membros. A 
pessoa se encontra num mundo onde existem certas regras e 
onde ela sofre se as viola. E essa realidade ocorre no seu meio de 
residência, não é verdade? A.R. Radcliffe-Brown era de opinião 
de que a função pode contribuir na contribuição e na noção de 
um conjunto, mas não predetermina a instituição que a realiza. 
Interessa se pelos sistemas de relações entre homens e grupos. 
Uma das principais críticas desta corrente reside no facto de não 
explicar a génese e as transformações de uma cultura ou 
organização. 
 
Contudo foi Malinowiski em 1985 quem revolucionou a 
investigação, com o privilegiou o inquérito do campo e a 
elaboração do método de observação-participante. Ele definiu a 
cultura como ‘’aparelho instrumental que permite ao homem 
resolver da melhor maneira os problemas concretos e específicos 
que deve enfrentar no seu meio, quando tem de satisfazer ás suas 
necessidades ‘’ (Id). Segundo ele, se a cultura é um mundo 
artificial criado pelo homem, é também uma extensão do mundo 
natural, dado que a satisfação das necessidades orgânicas ou 
básicas do homem resulta das condições impostas a cada cultura. 
 
 
 Antropologia do desporto 28 
 
A solução desses problemas cria como um novo ambiente que 
permanentemente reproduzido, mantido e administrado cria um 
novo padrão de vida (Martinez, 2004). 
Como modelo de análise para o trabalho de campo, 
Malinowski(1985) elegeu a instituição. MA, que para ele era 
constituída pelos seguintes elementos: Estatuto pessoal, normas, 
aparelhagem material, actividades, função, os tipos 
instituicionais, de acordo com Malinowski, eram classificados 
segundo o princípio de integração, como a família, a aldeia, 
grupos por sexo, por idades e sociedades secretas, etc. 
 
 
Estruturalismo 
Embora possa ser integrado na Escola Funcionalista. Alfred R. 
Radcliffe-Brown, é um dos mentores do Estruturalismo. Ele 
define estrutura como a disposição ordenada das partes ou 
elementos que compõem um todo. Num sentido lato, a estrutura 
associa sistemas, como parentesco, a religião, a política, mas 
num sentido restrito põe em relevo a rede de relações entre as 
posições sociais. É o sistema simbólico das relações constantes 
entre os factos. A análise utilizada pelo Estruturalismo apresenta 
se como uma análise sincrónica, sem considerar a dialéctica que 
existe no desenrolar da história. 
Claude Lévi- Strauss acentua o valor de signo e de símbolo dos 
elementos singulares e a constância das suas relações mútuas. 
Por ex. sobre o parentesco, analisa-o como um sistema de 
comunicação e de trocas entre estatutos e papeis sociais, de 
acordo com um princípio de reciprocidade, que consiste em se 
interditar o parente próximo para o trocar por um cônjuge 
proveniente de outro grupo. 
Uma estrutura oferece um carácter de sistema. Ela consiste em 
elementos tais que uma modificação qualquer de um deles 
acarreta uma modificação de todos outros. 
 
 Antropologia do desporto 29 
 
Em segundo lugar, todo o modelo pertence a um grupo de 
transformações, cada uma das quais corresponde a um modelo 
da mesma família, de modo que o conjunto destas 
transformações constitui um grupo de modelos. 
Em terceiro lugar, as propriedades indicadas acima permitem 
prever de que modo reagirá o modelo, em caso de modificação 
de um dos seus elementos. Em fim, o modelo deve ser 
construído de tal modo que o seu funcionamento possa explicar 
todos os factos observados. Assim, segundo Claude Lévi- 
Strauss, a estrutura é um tipo de formalização que se adapta a 
um conteúdo variado. 
 
 
 
 
Depois da emergência da Antropologia como ciência, ela viu-se 
envolvida, quase em simultâneo, em críticas, em torno da sua 
essência. Por isso, pode dizer-se que a Antropologia conhece a 
primeira crítica internamente.As diferentes correntes que se sucederam podem ser postas nesse 
nível de crítica da Antropologia, já que nos primórdios do séc. 
XX os estudos passaram a apresentar novas direcções, 
relativamente distantes da teoria evolucionista. De facto, a partir 
dessa altura passaram a ser criticados os princípios iniciais da 
Antropologia, foram propostas novas abordagens, condicionando 
a formulação da Antropologia Cultural. Em consequência o 
objecto inicial seria formulado e haveria o enriquecimento da 
Antropologia, por ex. com a integração de estudos psicológicos, 
linguísticos, com a pesquisa do campo. James Franzer (1854- 
1941), avançou com resultados comparativos das sociedades; 
Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955) e Bronislaw Manlinowski 
(1884-1942) desenvolveram intensos ‘trabalhos de campo’. Este 
último veio a ser o mais metódico pesquisador de campo, mais 
 
 Antropologia do desporto 30 
 
privilegiado na Antropologia Moderna. Edward Evans-Pritchard 
(1902-1973), importante sociólogo, se interessou pelo estudo das 
dinâmicas sociais, conflitos e mudanças culturais. 
O sociólogo francês Émille Durkhein (1858-1917), mesmo 
servindo-se da sociologia, procurou encontrar explicação 
científica da acção social e política, apresentando a religião 
como factor integrador fundamental da sociedade. Os seus 
estudos tiveram um cariz etnológico. Este contributo foi 
acrescido por Marcel Mauss (1872-1952), seu discípulo, que 
apesar de ser também sociólogo, formou a primeira geração de 
antropólogos franceses. Este promoveu o surgimento da 
Antropologia Contemporânea francesa ao dar maior ênfase a um 
‘trabalho de campo’ directo, prolongado e sistemático. Publicou 
um manual de Etnografia, em 1947. 
 
Franz Boas (1858-1942), fundou a tradição antropológica 
americana, no fim do séc. XIX, defendendo, contrariamente aos 
evolucionistas, o recurso rigoroso á historia. A geração posterior 
de Antropólogos, formada entre outros, por Abraham Kardiner, 
Margareth Mead e Ralph Linton, seguiu a corrente culturalista, 
que explorou as dimensões inconscientes da civilização ″A 
personalidade individual em relação as práticas do corpo, a 
relação corporal de feminidade e a masculinidade e seus papeis 
sociais, a relação entre culturas″, (Martinez, 2004, p. 59). 
 
A partir dos anos 50 do séc. XX, a Antropologia segue uma 
trajectória complexa sob a influencia de Edward Evans-Pritchard 
(1902-1973), Claude Lévi-Strauss (1908…), e de autores 
contemporâneos como Mary DOUGLAS, manifestando um 
interesse pela história e a mudança, conflitos das dinâmicas 
sociais. Nas gerações dos anos 70-80, do séc. XX dá-se também 
um interesse pelas representações e crenças, pela ideologia e as 
relações de produção, pela organização social e o parentesco, 
 
 Antropologia do desporto 31 
 
pelos mitos e os sistemas de pensamento e pelo simbolismo 
(Id.). 
A Antropologia passou a estudar não só o exótico, o primitivo, 
mas também aspectos culturais do mundo ocidental. Assim a 
área de estudo passou a constituir não o ‘Outro’ geográfico ou 
histórico, para ser o ‘outro’ em relação ao pesquisador. 
 
Mas essa critica terá surgido de fora da Antropologia, quando, 
como aponta Mello, (2005, p.195) os povos que antes eram 
apenas objecto de estudo dos europeus e norte –americanos, 
como os africanos, os asiáticos e os latino-americanos, 
começaram a cultivar também estudos antropológicos. 
Actualmente ocorre a reinterpretação ou reavaliação da 
Antropologia Cultural, segundo perspectivas elaboradas 
internamente e não pela alteridade do europeu. Esperam se ainda 
estudos sistemáticos tipicamente novos, como o estudo da 
cultura popular, o folclore, da globalização, da vida urbana, etc. 
Dessa forma, a Antropologia libertou-se do servilismo colonial. 
 
 
Sumário 
Para a emergência da Antropologia jogou papel importante as 
contribuições de vários povos, períodos e individualidades, 
contudo, apesar de existirem subsídios importantes para o seu 
estabelecimento como ciência, a disciplina veio a conhecer a 
cientificidade, só no séc. XIX, mercê dos grandes contactos á 
escala planetária dos três séculos imediatamente precedentes e 
da insaciável busca dos conhecimentos das outras realidades 
geográficas, históricas, culturais então imprimida durante o 
período moderno europeu. 
Com a formação da Antropologia, apesar de terem existido 
várias tendências nos estudos Antropológicos, o pensamento 
 
 Antropologia do desporto 32 
 
mais comum regia se pelo evolucionismo que então era 
dominante na época. Contudo, foi no interior dessa tendência 
que se afirmou (Construiu-se) a Antropologia Cultural, com 
Edward Tylor. 
Após a emergência da Antropologia como ciência 
desenvolveram se diversas correntes que, de certa forma, 
espelharam as várias concepções do que devia estudar esse ramo 
de conhecimento humano. Assim, seguiram se várias posições 
como a dos Evolucionistas, dos Difusionistas, dos Funcionalistas 
e dos Estruturalistas. Apesar das divergências nos procedimentos 
centraram se no estudo do Homem como um ser cultural. 
Desde da emergência da Antropologia que ela passou a 
confrontar-se com várias críticas quanto a sua orientação. Tais 
críticas ajudaram na reformulação da Antropologia Cultural, a 
qual passou a ser uma disciplina não só de povos exóticos, mas 
também de todos os grupos populacionais. Face a essa crítica, a 
Antropologia estabeleceu-se como uma ciência de facto. 
 
 
Exercício 2 
1. A formação da Antropologia resultou de vários 
contributos em diferentes períodos históricos. Identifique 
os diferentes períodos e os representantes de cada um 
deles. 
2. Que pressupostos existiam já no séc. XIX para a 
emergência da Antropologia. 
3. Porquê é que foi a Antropologia física aquela que se 
notabilizou em primeiro. 
4. Porquê o séc. XIX é chamado Período de Convergência. 
5. Qual é a natureza dos estudos Antropológicos 
dominantes a partir do segundo quartil do séc. XIX. 
6. Em que consistia o período de construção da 
Antropologia Cultural. 
 
 Antropologia do desporto 33 
 
7. Sobre as teorias Antropológicas quanto a sua orientação, 
em que se fundamenta cada uma das teorias expostas. 
8. Procure encontrar, em cada uma das teorias, o conceito 
fundamental e a significação nas teorias elaboradas a cerca da 
cultura humana. 
9. Em que contribuíram as críticas feitas a Antropologia. 
10. Depois deste estudo é capaz de indicar alguns estudos 
antropológicos em Moçambique em particular do período 
colonial? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 34 
 
Unidade nº 3 
 A Cultura 
 
Nesta unidade você vai aprender aspectos relacionados com a Cultura 
Humana, tocando um dos conceitos largamente usados e, 
frequentemente, de forma distorcida, aliás esta unidade é de capital 
importância em virtude de ser aqui onde pode ser entendida toda a 
natureza do ser Humano. 
 
 
 Ao completares esta unidade / lição será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer o conceito de cultura 
 Identificar os elementos de cultura 
 Reconhecer o nível de cultura 
 Conhecer a natureza da cultura; 
 .Conhecer o conceito antropológico de Cultura; 
 Distinguir as diferentes características de Cultura; 
 Explicar a unidade e a diversidade da Cultura; 
 Conhecer os factores sincrónicos e diacrónicos da Cultura; 
 Saber identificar os aspectos que derivam o uso inadequado dos 
conceitos ligados á diversidade cultural 
 
 
 
 
 
Terminologia 
 
A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: 
 AD-Antropologia do desporto 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 35 
 
 
 
O termo Cultura tem múltiplas aplicações e foi usado em diferentes 
épocas e sentidos, tal como ocorre na fase actual. É usado em várias 
ciências, desde das físicas às sociais. Mesmo Antropologia. O seuuso 
conheceu vários significados nas diferentes escolas ou correntes. 
Contudo, o termo tem a sua origem do Grego para significar cultivar. 
O termo Cultura teve sua definição antropológica clássica com 
Edward Tylor. Segundo este, a Cultura é ‘Complexo unitário que 
incluiu o conhecimento as crenças, a arte, a moral, as leis e todas as 
outras capacidades hábitos adquiridos pelo homem como membro da 
sociedade’ (Bernardi, 1978). Há ainda quem entende cultura como 
‘Uma estrutura de significados, transmitido historicamente, encarnado 
simbolicamente, para comunicar desenvolver o conhecimento humano 
e as atitudes para com a vida, uma lógica informal na vida real e do 
sentido comum de uma sociedade, que funciona também como 
controlo’ (Martinez, 2004). Várias definições existem que não seriam 
esgotadas neste módulo. Traremos ainda, mais do que uma definição 
uma caracterização da própria cultura, dada pela Organização das 
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). 
Segundo esta organização a cultura é ‘ Um conjunto de traços 
distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afectivos, que 
caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Ela abrange além da 
arte e das letras os modos de vida, os direitos fundamentais do ser 
humano, e sistemas de valores, as tradições e as crenças. A cultura dá 
ao homem a capacidade de reflexão sobre se mesmo. A cultura faz de 
nós seres especificamente humano, crítico e eticamente 
comprometido. Através da cultura discernimos os valores e fazemos 
opções por meio dela a pessoa se expressa, toma consciência de se, se 
reconhece como projecto inacabado, põe em questão as suas 
realizações, procura descobrir novos significados e cria obras que o 
transcendem’ (Ibid, p.24). 
 
 
 Antropologia do desporto 36 
 
Como pode ver, os três conceitos põem em relevo: O carácter humano 
da cultura, o facto de ela ser transmitida e adquirida de forma histórica 
pelo homem enquanto membros de um grupo social; Ter um carácter 
simbólico, característico de cada grupo humano; Ser um sistema 
completo; Que evolui etc. Assim, no seu sentido Antropológico, a 
cultura insere vários aspectos. 
Importa saber que a Cultura é um produto de actividade mental do 
Homem, está diferente da actividade animal pela sua codificação 
dentro de um grupo social. A sua transmissão é feita segundo regras 
pré-estabelecidas, de geração em geração, por um processo de 
socialização com agentes e instituições bem identificados. 
 
 
 
Tal como falou se da definição da própria cultura, esta envolve vários 
elementos tais como atitude, valores, conhecimentos, costumes. 
Contudo, é necessário dizer que a Cultura é uma totalidade e não um 
aspecto particular ou parcial da actividade mental ou de uma 
manifestação humana. Você não pode identificar, por ex. a simples 
forma de comer, como um padrão cultural, dado que esta é uma 
expressão cultural, integra num vasto complexo. Por detrás da forma 
de comer há outros significados ou a maneira como você e a sua 
comunidade pensam sobre a infância ou em relação ao papel e ao lugar 
da mulher, não é a mesma que as outras sociedades. O mesmo 
acontece com as crenças e todos os outros componentes culturais, tais 
como: Símbolos; Ideologia; Atitudes; Uso de um determinado 
complexo cultural. 
 
Todos estes elementos de cultura são aprendidos normativamente. A 
Cultura tem valores-chave ou essenciais, organizados num sistema. A 
conduta humana governa-se por padrões culturais, isto é, é a cultura 
que orienta a vida das pessoas. Quando na sua comunidade diz se que 
não falta isto ou aquilo porque as pessoas não admitem, é prova dessa 
orientação das pessoas pela cultura. 
 
 Antropologia do desporto 37 
 
Contudo, é necessário enfatizar que o comportamento individual 
apesar de estar sujeito a regras culturais, nem sempre segue o ditado 
ou as regras. Ai surge o que podemos chamar de: Níveis ideais de 
cultura (O que os indivíduos deveriam fazer ou o que dizem estar a 
fazer) e nível real da cultura (O que fazem realmente no seu 
comportamento observável). Mas nem por isso o nível ideal deixa de 
pertencer a realidade. Com esta realidade, a cultura mesmo na 
condição de normalizadora, pode ser a base de emergência de um 
conflito. De facto, sempre que as pessoas se sentem insatisfeitas sobre 
uma determinada conduta, elas violam-na. (Ex. Quando alguém 
ultrapassa a limitação de velocidade num determinado local). E esses 
atropelos existem na sua comunidade não é verdade? 
 
Ainda a cultura poder ser subjectiva, ao expressar o conjunto de 
valores, conhecimento e experiencias presentes nos indivíduos como 
membros de uma sociedade, isto é, quando ela é interpretada de forma 
individual e objectiva, quando o conjunto dos valores e significados é 
exteriorizado formando o património cultural de um povo. 
 
 
 
A Cultura apresenta várias características. Se por um lado há um 
mundo visível, palpável, constituído por artefactos, fazendo parte da 
cultura e do carácter material, por outro existe o invisível, expresso de 
forma simbólica. Assim, a outra natureza Assim, a outra natureza é o 
seu carácter simbólico. De facto, a acção humana está geralmente 
carregada de símbolos que reflectem acções, objectos, espaços, 
instituições, isto é, tudo o que está ligado ao homem. Um simples 
gesto pode significar algo, mas um mesmo gesto pode variar de um 
complexo cultural para o outro. Daí a necessidade de nem sempre ser 
tangível este mundo, precisando, por isso, de uma aprendizagem. O 
próprio símbolo, uma vez integrado num padrão cultural acaba 
desempenhando a função comunicativa entre os membros de um 
determinado grupo. 
 
 Antropologia do desporto 38 
 
Você já fez algo que não seja praticado por um outro ser humano? Ao 
reflectir vai notar que não há nada que você faça que não seja 
praticado por um ser humano ou pelo grupo social onde você se 
integra. É por causa disso que se diz que a Cultura é social, na medida 
em que ela se forma, se partilha e se transmite no interior de um grupo 
social e nunca em indivíduos em separado. Uma norma de 
comportamento só pode ser concebida como tal se envolver um grupo 
social determinado e localizável no espaço. É por causa disso que os 
processos de transmissão são também sociais, seja qual for a 
sociedade. 
Se olhar atentamente vai notar ainda que as práticas sociais e culturais 
são algo que duram no tempo. Nada é passageiro mesmo que varia a 
forma da sua manifestação. É por causa disso que se diz que a Cultura 
é estável. Mas também ela é dinâmica. A primeira vista parece haver 
uma contradição entre a estabilidade e o dinamismo. Mas eles estão 
intrinsecamente ligados. 
Normalmente cada grupo social procura preservar os valores que o 
tornam autêntico e diferente dos outros. Essa procura da demarcação 
espaço cultural leva, de certa maneira a uma estabilidade das normas 
que regem um determinado grupo. Hoje tem-se em Conte que este 
pressuposto, não pode ser visto como um bloqueio aos 
comportamentos de outras culturas dado que isso só podia significar, 
de certa maneira a exclusão cultural dos outros grupos e falta de uma 
comunicação intelectual. A Cultura é dinâmica, na medida em que está 
em constante transformação sempre que existir uma causa para o 
efeito. Essa dinâmica pode ser encontrada num interior de um grupo 
de pessoas ou no seu conjunto. Por ex. uma classe de idades ou uma 
faixa etária, segundo as sociedades tem um certo conjunto de normas, 
que vão sendo complementados a medida em que esse grupo passa 
para estágio superior mas com a própria dinâmica temporal, fruto da 
evolução material de uma sociedade ou da acção directa dos membros, 
de contactos com outros grupos, certos elementos que antes eram 
considerados integrantes podem ser excluídos. Ela transforma-se 
consciente ou inconscientemente. 
 
 Antropologia do desporto 39 
 
A culturaé também selectiva na medida em que integra os valores, 
códigos, sistemas que um determinado grupo acha pertinente. Assim, 
há uma avaliação inicial dos novos elementos que culminam com a 
aceitação ou rejeição dos mesmos numa cultura determinada. Essa 
selecção pode ocorrer ainda na sucessão das gerações. Muitas vezes, 
as novas gerações tem considerado algumas normas das gerações 
procedentes como ‘Fora da moda’. Contudo, quando os factores 
exógenos são fortes, persistentes ou põem em causa a sobrevivência de 
um grupo, pode ocorrer que haja uma integração de certos elementos 
novos sem a respectiva selecção. É isso que ocorre entre os países do 
‘Terceiro mundo’ em relação aos das técnicas muito avançadas. 
A Cultura é universal, regional e local. É universal na medida em todo 
o ser humano é um ser cultural. Não há um homem que não tenha 
cultura. Os Universais Culturais, que você verá mais adiante, são o 
sinónimo dessa universalidade da Cultura, mesmo se saiba que a 
maneira de expressa-los é muitas vezes diferente. Essa diferença surge 
na resposta que cada grupo dá localmente a um certo impulso. Mas por 
outro, pode ser que haja certas práticas especificas de determinados 
locais, circunscritas em função todas as condições existentes ou 
criadas localmente. Nesse âmbito estar-se-á na presença de 
manifestações particulares da Cultura. Estamos a falar da manifestação 
regional ou local da Cultura. 
 
A Cultura é determinante e determinada: Se por um lado a Cultura é 
fruto da actividade mental do Homem, este acaba sendo o produto da 
Cultura. O Homem depois de nascer é circunscrito a um ambiente 
cultural regendo se por comportamentos e norma pré-estabelecidas. 
Contudo, isso não significa que este homem não tem algum papel na 
modificação desse mesmo ambiente na medida em que ele é um 
agente activo no interior do seu meio cultural, através de vários 
processos: Económico, politico, sociais, etc. 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 40 
 
 
 
Se concebermos o Homem como uma ciência distinta das demais 
espécies do reino animal, a sua particularidade será: O facto de ter se 
desligado de forma considerável da natureza, conseguir padronizar as 
aquisições materiais e transmiti-las num determinado contexto. Este 
aspecto é comum a todo o ser humano. Você pode observar ainda que, 
em todas as sociedades humanas, há estruturas mentais comuns a 
todos os indivíduos, estruturas organizacionais fundamentais comuns a 
todas as sociedades e a todas as culturas, mas ao mesmo tempo 
existem uma variedade de culturas e de sociedades. Assim, essa 
realidade leva-nos a dizer que todos os grupos humanos têm cultura, 
do mais pequeno ao mais complexo grupo que se começa. Você já viu 
que por onde anda todo o grupo humano tem alguns pontos tais como: 
 - Uma linguagem padronizada, usada como veiculo de 
transmissão do que é legado pelos grupos predecessores; 
 - Viver em grupos sociais definidos segundo determinadas 
regras como, por exemplo a família, mesmo que não implique e a 
organização familiar seja igual em todos os grupos sociai; 
 - A prática de exogâmia e o tabu do incesto, ou melhor a 
proibição de casamento e da prática de relações sexuais entre parentes 
próximos; 
 - O matrimónio, entendido como relação social estável 
duradoura, entre pessoas; 
 - A divisão social do trabalho. 
Neste caso, poderíamos dizer que a Cultura é universal, porque seja 
para a sociedade fossem aplicados estes termos, iríamos encontrar a 
sua aplicabilidade estes traços culturais que existem em todas ou em 
quase todas as sociedades denominam se universais culturais. Os 
universais culturais têm a particularidade de distinguirem os seres 
humanos das outras espécies animais, isto é, são tipicamente 
manifestas pelo Homem. Contudo, se num sentido geral a Cultura é 
universal ao Homem, no seu sentido mais restrito ela descreve um 
 
 Antropologia do desporto 41 
 
conjunto de diferenças de um grupo humano específico em relação aos 
outros. De facto a Cultura ao ser partilhada pelas pessoas é feita em 
função dos membros de um grupo que vivem num determinado meio. 
A Cultura converte se, assim, num sinal de identidade grupal. Por ex. 
as mesmas práticas anteriormente indicadas como universais Culturais 
ao serem analisadas em função das diferentes áreas culturais tem 
manifestações díspares. Nesse caso falaríamos de diversidade cultural. 
A diversidade Cultural apareceu a partir do momento em que cada 
grupo social se adequa a um ambiente específico teve uma história 
particular ou conheceu um certo desenvolvimento diferente em relação 
aos outros grupos apresentados ou não. Você imagine, por ex. os 
grupos Bantu que migraram para a África Austral, se nos primórdios 
todos os Bantus eram caracterizados pela prática da actividade 
agrícola, as diversas migrações posteriores para os diferentes meios 
ecológicos levaram a uma certa diferenciação entre eles. Hoje 
individualizaram-se ao ponto de identificarem-se como diferentes uns 
dos outros. É nesta identificação de um grupo em relação aos outros, 
que emergem certos fenómenos ligados a diversidade cultural, como, 
por ex. o Etnocentrismo Cultural. 
O Etnocentrismo Cultural é a tendência para aplicar os próprios 
valores culturais no julgamento do comportamento e das crenças de 
pessoas de outras culturas. Quando um grupo cultural ‟X” diz que os 
membros da etnia ‟Y” alimentam se mal, Só pelo facto destes últimos 
comerem um alimento que não é característico desta zona do primeiro 
grupo, está-se em presença de um etnocentrismo cultural. 
Etnocentricamente, os indivíduos pensam que os seus costumes são os 
únicos e são correctos, apropriados e morais. As pessoas pensam que 
as suas normas representam a forma ‘Natural’ de comportamento, daí 
que os outros são julgados como negativos. As visões etnocêntricas 
entendem o comportamento diferente como estranho e ‘ Estranho’, 
mas também como inferior. O etnocentrismo é uma visão de acordo 
com a qual o próprio grupo é o centro de tudo: Todos os outros se 
medem por referência a ele. Cada grupo se alimenta o seu próprio 
orgulho e a sua própria vaidade, proclama a sua superioridade, exalta 
as suas próprias divindades e olha com desprezo para com os outros. O 
 
 Antropologia do desporto 42 
 
Etnocentrismo pode manifestar se em diferentes níveis: Aldeia, tribo, 
minoria étnica, área cultural. 
Com o Etnocentrismo surgiu o termo da alteridade, isto é, o outro, 
considerado como estranho a um determinado grupo de referência. Os 
sistemas coloniais usaram esta alteridade em função de dois 
pressupostos: Geográfico e Histórico. Desta forma, a noção de Cultura 
foi usada política e etnocentricamente para separar grupos humanos. 
De facto, foi com a colonização que surgiram os termos Grupos 
Étnicos ou Etnicidade. 
Um Grupo Étnico é definido por semelhanças entre os seus membros 
(Crenças, valores, hábitos, normas, substratos históricos comuns, etc.) 
e por diferenças em relação aos outros (Língua, religião, historia, 
Geografia, território, etc). Todos estes aspectos são referentes 
simbólicos que estão mais na mente das pessoas que na realidade 
objectiva. Pode existir sem ter um nível de consciência de identidade 
étnica. 
 
 
Desde a origem do Homem, as diferenças foram sempre demarcadas. 
Na fase primitiva podiam ser identificados os grupos humanos das 
savanas e das florestas densas. A história deixou exemplos concretos 
de delimitação de grupos sociais. Por exemplo, na Grécia antiga o 
‘Éthnos’ era um conceito que definiu um grupo de pessoas diferentes 
do povo grego. Nesse caso o ‘Éthnos’ representava o ‘outro’, o 
‘Estrangeiro’ ou o ‘Étnico’. Face ao ‘Éthnos’, existia o génos que 
queria dizer nós. 
Quando estes elementos que identificam são frequentemente usados, 
formam-se como estereótipos. Os estereótipos surgem para aprender a 
realidade organizando-a em categorias: Negros,brancos, os macuas, 
os mulatos e os Machel. Surgem da categoria social, como um 
processo de simplificação e sistematização da informação. Por acaso, 
nunca lhe ocorreu simplificar algo para uma fácil memorização? Os 
estereótipos também surgem por comparação social. Os estereótipos 
exageram as diferenças entre categorias, comparam e organizam a 
 
 Antropologia do desporto 43 
 
informação. Inventam-se diferenças para criar processos de 
identificação. Os estereótipos, podem surgir ainda por atribuição de 
características e determinadas categorias, gerando expectativas e 
condutas. Estes estereótipos são estruturas cognitivas partilhadas 
debaixo das quais estão sistemas de valores transmitidos pelos agentes 
da socialização (Família, escola, órgãos de comunicação social: Por 
ex. é noticia nos canais televisivos extra-africano, a fome, a seca, a 
nudez, as guerras em África). 
 
Estes estereótipos funcionam por meio de um favoritismo endogrupal. 
Geralmente valorizamos de modo positio o nosso grupo e 
desfavorecemos os outros. Acentua-se as diferenças intergrupais e 
reforçam-se as diferenças face aos pensados como ‘Outros’, por meio 
da homogeneidade interna exagerada, na procura de uma coesão 
interna. Com os estereótipos homogeneíam-se o outro grupo, 
separando os seus membros. Ex. Já ouviu falar por exemplo que 
‘Todos os negros são iguais!’ Que o grupo ‟X” é avarento. Mas 
quantas vezes essa informação não refere a verdade! Neste caso, pode 
permitir rivalidade ou concorrências. 
 
 
 
 
Os estereótipos surgem na relação entre diferentes grupos, cuja 
finalidade é de inferiorizar os outros com aspectos negativos. Quando 
tal processo ocorre ao nível de um grupo étnico, estamos em presença 
de um Etnocentrismo. O Etnocentrismo é concebido como sendo o uso 
da própria cultura como base de aplicações ou de descrição da cultura 
de outros grupos étnicos ou povos. Há termos relacionados com um 
etnocentrismo e que são estudados pela Antropologia, tais como: 
Etnicidade, Etnogênese e tolerância étnica. 
 
 
 Antropologia do desporto 44 
 
A Etnicidade tem como base um sentimento colectivo de identidade. 
Implica identificar-se, afirmar-se como grupo étnico, sentir-se parte 
dele. Serve como elemento de inclusão e de exclusão. 
A Etnogênese é o processo de afirmação, revitalização e auto-
consciência da identidade étnica de um grupo humano, numa situação 
de confronto das diferenças sócio-culturais para com outros grupos. A 
África oferece exemplos concretos de práticas etnocêntrica extremas, 
como o genocídio que resultou num confronto entre os Hutu e os 
Thusi. 
 
Contudo a mesma África oferece múltiplos exemplos de convivências 
entre diferentes grupos étnicos, já que, geralmente, muitos países têm 
mais do que uma etnia, resultante da formação histórica desses países. 
Nesse caso tem-se a tolerância étnica, um processo que se manifesta 
num reconhecimento das diferenças culturais mas convivendo num 
mesmo espaço. Contudo, a Antropologia, do ponto de vista 
humanístico deve servir para melhorar a convivência e construir uma 
sociedade democrática e justa. Neste uso positivo das diferenças 
culturais estaríamos a falar do relativismo cultural. 
 
O Relativismo Cultural afirma que uma cultura deve ser estudada e 
compreendida em termo dos seus próprios significados e valores e que 
nenhuma crença ou prática cultural pode ser entendida separada do seu 
sistema ou contexto cultural. O comportamento, numa cultura 
particular, não pode ser julgado com os padrões de outras culturas. O 
Relativismo cultural é tanto uma teoria Antropológica como uma 
atitude e uma prática Antropológica, uma forma de lidar com os 
outros, respeitando a diversidade. Assim, nenhuma cultura ou grupo 
social é mais importante que os outros. 
A linguagem Antropológica é baseada num multicultural, isto é, num 
reconhecimento da existência de diversas culturas, cada uma é 
importante dentro no seu território. É o Relativismo Cultural 
entretanto, nessa perspectiva do Relativismo Cultural ético, há e deve 
haver limites válidos para toda a humanidade que não se tolera 
 
 Antropologia do desporto 45 
 
aspectos imundo, (ex. Mutilação dos clítoris, frequente na África 
Sahariana). Existem, por isso, uma referência moral e valores 
internacionais e humano de justiça e moralidade que nos fazem mais 
Humano. 
Mais também o Relativismo Cultural mais extremos é que valem a 
eliminação de toda a regulamentação de comportamentos Humano e 
pode cair no risco de justificar e/ ou permitir a violência. É por causa 
disso que existem por ex. documentos normativos como ‘A carta dos 
Direitos Humanos’. Neste caso, poderíamos afirmar como fundamento 
Antropológico da cultura: 
O carácter local de toda a cultura, isto é, aplicada a uma certa 
realidade social. 
 
A equivalência de todas as culturas sendo que nenhum ser humano é 
mais cultural que o outro. Assim, tudo o que é Etnocêntrista, Eliteísta, 
o Ocidentalismo, acaba sendo banal. 
 A cultura diz respeito a todas as manifestações humanas. 
 
 
 
A descoberta e a invenção 
A Humanidade vive de descobertas e invenções. Essas descobertas e 
invenções acumuladas vão fazendo parte de um repertório cultural de 
determinados grupos sócias, ou de toda a humanidade, em função de 
sua absorção nos diversos quadrantes do Mundo. Todos os novos 
elementos descobertos ou inventados podem condicionar o inicio de 
um processo que pode culminar numa mudança cultural. Ao se 
constituírem como novidade no grupo em que tais processos ocorrem, 
eles podem, por um lado, ser incorporados num procedimento já 
existente, melhorando o anterior estágio ou então condicionar o 
abandono de anteriores práticas. Quer em vários sentidos, há uma 
mudança de uma prática. Esse processo surge a partir do momento em 
 
 Antropologia do desporto 46 
 
que as práticas individuais são socializadas pela comunidade onde 
ocorrem as mudanças. 
Ao lado da descoberta e da invenção, considerados factores locais, 
existe a difusão, que também participa no processo da dinâmica 
cultural. Não há cultura que não tome por empréstimo elementos de 
outras culturas. Não existe alguma cultura que seja constituída só por 
elementos originários. A difusão contribui para o diálogo inter-
cultural, estimulando o alargamento dos universais culturais e, também 
enriquecendo as culturas locais. A transmissão de um elemento 
cultural de um ponto para o outro pode condicionar, ao mesmo tempo, 
reformulações, na medida em que esse processo nem sempre é 
pacífico. Jogam nesta influência os contactos entre as sociedades. Mas 
nem todos os processos culturais, como por ex. os elementos 
religiosos, são de fácil difusão. 
 
A Enculturação 
É o processo educativo pelo qual os membros duma cultura se tornam 
conscientes e comparticipantes da própria cultura (Bernardi, 1978). 
Ela pressupõe a transmissão da cultura já estabelecida. Ocorre de 
maneira formal, quando transmitida em instituições e modos 
rigidamente estabelecidos e, de maneira informal, na vida quotidiana, 
com a família, grupos de amigos, clubes etc. 
Entretanto, esses dois processos não estão dissociados, dado que a 
família esta enquadrada num complexo sócio-cultural e os pais foram 
educados nas instituições formais de um determinado grupo social. 
Você pode aperceber-se de que ninguém ensina nada em casa que não 
seja prática social local. A iniciação instrutiva, como por ex. os ritos 
de puberdade, faz parte da Enculturção. A adesão implica um certo 
conformismo às regras existentes, más as vezes, o processo de 
transmissão pode ser seguido por uma recusa dessas práticas por parte 
do membro que a recebe. De facto nesse processo enculturacional, a 
recepção dos valores não é aceite de forma passiva, dado que a 
individualidade ou a capacidade de interpretação autónoma do que é 
recebido tem o seu lugar. 
 
 Antropologiado desporto 47 
 
A Enculturação tem fins normativos: As normas sociais (Leis, 
tradições, usos e costumes), função de controlo social e carácter 
institucional numa determinada área cultural. 
Aculturação 
É um processo que resulta das relações existentes entre várias culturas 
e aos efeitos que derivam dessas relações. A Aculturação é uma 
transformação cultural em curso, dos etnemas de um determinado 
grupo sob a influência de um outro. Quando os contactos entre dois 
grupos ocorrem entre povos que partilham a mesma fronteira resulta 
uma osmose cultural, com o entrelaçamento de certos etnemas das 
duas áreas culturais marginais. Quando essa penetração for maior tem 
se o caso de fusão cultural, isto é, quando duas ou mais culturas estão 
inseridas e são comungadas numa área cultural de forma harmoniosa. 
O sincretismo religioso prático em Moçambique, é um exemplo 
prático, por ex. você tem notado que certas pessoas apesar de 
praticarem uma religião introduzida por povos exógenos, continuam a 
venerar os seus defuntos? 
A introdução de rituais locais na religião importada é, também uma 
forma de sincretismo. 
Certos sistemas coloniais imprimiram uma aculturação forçada aos 
grupos dos espaços coloniais, como a que ocorreu em Moçambique. 
Para a ocorrência de Aculturação participam vários factores, desde a 
natureza dos grupos em contacto, o grau de receptividade dos aspectos 
externos por parte do grupo nativo., etc. 
 
A Desculturação 
É um processo de subtracção e da destruição do património cultural. 
Ela pode ocorrer sob várias maneiras. O genocídio pode ser 
enquadrado na política de destruição da cultura. Já ouviu falar-se por 
ex. da ‘Limpeza étnica’? É processo de Desculturação. O processo 
colonial pode ser também responsável pela Desculturação, mesmo que 
este seja parcial, isto é, incidindo sobre um determinado aspecto 
cultural. Mas o processo pode também resultar do interior do grupo, 
quando certos padrões caem em desuso, por não terem um significado 
 
 Antropologia do desporto 48 
 
para o grupo a partir de um determinado momento. Contudo esse 
processo ocorre de forma lenta e imperceptível. 
Globalização 
A globalização que na verdade começa no séc. XVI, com a primeira 
expansão europeia, possibilitando a ligação de todo o Mundo num 
mesmo sistema, tem algum impacto sobre a cultura, condicionando a 
sua dinamicidade. A grande possibilidade dos homens, as rápidas 
comunicações ligando espaços distantes em tempo curto e, em certas 
circunstâncias, de forma instantânea, contribui para um rápido fluxo 
de traços culturais das diferentes regiões do globo. Nesse processo, o 
Mundo é abordado hoje como um todo, onde são encorajados 
contactos interculturais. 
Os elementos de consumo de massa são rapidamente absorvidos, 
principalmente por certos grupos sociais, com um impacto local. 
Aspectos que, são de difícil absorção num complexo cultural, como é 
o caso do aspecto político, hoje encontram uma fácil implementação, 
com a introdução dos processos democráticos ou multipartidários em 
todo o mundo. Com a Globalização surgem, As vezes, processos de 
hegemonia cultural, que consiste na adopção ou na dominação, por 
motivos dinâmicos ou posicionais, de traços de uma outra cultura. 
Contudo, emergem processos de estratificação cultural, que indicam 
não necessariamente uma condição de inferioridade cultural, mas uma 
falta de autonomia completa (Bernardi, 1974, p.46), identificados 
como subculturais. A subcultura participa na cultura dominante, as 
grandes cidades, existem grupos sociais oriundos de várias zonas do 
país e que comungando mesmos traços culturais, manifestam-nos em 
determinadas ocasiões, sem entrar em choque com a cultura 
dominante, da área em que se encontra a urbe. Este pode ser um 
exemplo de uma subcultura. 
 
 
 
Existem quatro factores de cultura, nomeadamente, o próprio homem 
(Anthropos), a Sociedade (Ethnos), o ambiente (Oikos) e o tempo 
 
 Antropologia do desporto 49 
 
(Chronos). Tais factores participam de formas diferentes, na 
emergência da cultura. Veja como cada um participa 
 
O Anthropos/O Homem 
O Anthropos, ou o Homem, na sua realidade individual contribui no 
aspecto cultural, como ser biológico e social. No aspecto biológico, 
você nota que em muitos grupos sociais ou culturais coordenam se em 
função do carácter sexual e etário dos seus membros. Observe na sua 
comunidade e vai notar esse aspecto. De facto, este carácter natural 
produz efeitos estruturais na coordenação social e tem um impacto 
sobre a personalidade e o comportamento adequado a cada um 
daqueles parâmetros. Mas também no processo de Enculturação, o 
Homem não é o simples ser passivo, podendo introduzir certas 
inovações na própria cultura, o génio, no determinado meio cultural, é 
um ex. da função do simples individuo como factor de cultura e as 
vezes torna se herói cultural. E pode ser que figuras carismáticas como 
por exemplo, um presidente consiga introduzir algumas mudanças 
culturais, fruto do seu empenho pessoal. É ai onde podemos identificar 
o lugar do Anthropos como factor da cultura. 
 
Ethnos/ Sociedade 
A Cultura resulta, como se afirmou anteriormente, num contexto 
grupal. As acções dos indivíduos só têm significado se elas estiverem 
circunscritas numa colectividade. Você tem notado que as normas de 
uma comunidade são emanadas em referência a ela. É a socialização e 
a padronização de certas aquisições individuais que torna a cultura 
como resultado de uma colectividade. É da inteiração dos vários 
princípios do Homem vivendo num determinado meio que resulta um 
sistema cultural. 
Por um processo normativo, o Ethnos/ Sociedade, passa a constituir-se 
como um dos factores da cultura, por ser através dele que esta é 
veiculada. 
O Oikos/Ambiente 
 
 Antropologia do desporto 50 
 
Oikos vem do grego ‘Casa’. Expressa o ambiente onde se insere 
Homem. O ambiente, como factor de cultura, condiciona a actividade 
exterior e material do homem. Refuta se que o ambiente condiciona, 
por ex. a maneira de vestir, mas ele não pode ser visto numa vertente 
determinista. Se você poder ler literaturas, como por ex. as de carácter 
histórico, vai perceber que para os primórdios da humanidade as 
culturas foram definidas em função da natureza, como por ex. a 
cultura paleolítica, neolítica, etc. 
Essa dominação era feita em referência ao uso alargado da pedra. Ou, 
se em certos momentos foram empregues termos como cultura ou 
povos primitivos, em referência a sistemas culturais com uma 
dependência acentuada á natureza, hoje ouvimos, por ex. falar-se de 
sociedades urbanas, da era da cibernética, etc. Este facto remete nos a 
considerar que se, numa primeira fase, o modelo da intervenção do 
homem e a sua sobrevivência estiveram muito ligado as condições 
naturais, hoje ele depende mais de factores que resultaram 
basicamente da natureza humana ou cultural. 
Não só é um facto assente nas teorias Antropológicas, mais também é 
uma realidade que o grau da civilização ou material define a forma de 
estar dos diferentes grupos sócias na face da terra. Assim, se essa 
dependência do homem sobre a natureza foi mais notória nos 
primórdios da humanidade, o Homem vem dependendo mais de 
factores fundamentalmente culturais. 
Contudo, apesar disso o Homem nunca pode dissociar-se 
completamente da natureza e viver completamente da cultura. 
Se o Homem não se pode dissociar completamente do que a natureza 
oferece, é lógico que expressa se uma evolução ideal, mas nunca 
totalmente possível. Seja qual for o nível cultural, a vida do homem 
vai estar sempre ligada ao ambiente que o rodeia. 
 
O Chronos/Tempo 
A cultura é um processo e, de forma intrínseca, esta ligada ao tempo. 
Ela desenvolve se e manifesta se no tempo. O tempo é assumido nas 
 
 Antropologia do desporto 51 
 
suas três dimensões: Passado, presente e o futuro.Mas com mais 
ênfase para as primeiras duas. 
Mas é necessário saber que para além do tempo cronológico, que 
acaba de ser mencionado, existe um tempo ecológico e outro social. O 
primeiro é organizado em função dos ciclos anuais e o segundo em 
função dos ritmos de factores sociais, como por ex. a passagem de um 
grupo etário de uma categoria social para outra. Assim, seja o tempo 
cronológico, o ecológico ou o social, eles interferem na cultura de um 
grupo social. 
 
 
 
 
A dinâmica cultural resulta da interacção dos quatro factores. 
Contudo, as vezes e em função de diferentes escolas ou correntes, há 
uma acentuação de um ou de outro factor no processo da dinâmica 
cultural. Neste contexto, na explicação da dinâmica cultural, uns 
privilegiam a personalidade humana, outros realçam o aspecto social, 
enquanto o terceiro grupo é pelos aspectos ambientais e o último pelas 
ligações causais entre os seus acontecimentos (No aspecto temporal). 
Não obstante, o carácter global da própria cultura força que, em última 
instância haja a consideração dos quatro factores no processo 
interactivo. Nessa interactividade privilegiam se, entretanto, as 
relações entre anthropos e ethnos, por um lado e entre os oikos e os 
chronos, por outro lado. 
A relação entre o anthropos e ethnos na cultura resulta pelo facto da 
convergência de indivíduos em sociedade condicionar a vitalidade do 
ethnos e este gerar o anthropos. Essa interacção constante conduz a 
uma dinâmica cultural. Mas por outro, toda a cultura desenvolve se no 
espaço e no determinado tempo, daí que estes estão também 
intimamente ligados. Fora dessas relações bipolares, é necessário ter 
em conta que o homem e a sociedade, como seres culturais vivem num 
determinado ambiente e tempo, daí que não se pode falar da primeira 
interacção fora destes dois últimos factores. E quantas vezes, a própria 
 
 Antropologia do desporto 52 
 
dinâmica cultural não conduz essa relação de processos que em 
princípio podiam ocorrer, num determinado local, depois de longos 
períodos, a ponto de mudar a natureza do ambiente? De facto, essa 
interacção recíproca dos quatro factores constitui o motor da dinâmica 
da própria cultura. 
Para todos os efeitos, é necessário ter em consideração que a cultura 
tem a especificidade Humana por ter dois daqueles factores o próprio 
Homem e a comunidade. É com o homem, entanto que o individuo e 
com a comunidade, entanto que grupo de Homens vivendo num 
determinado ambiente e tempo onde emergem as formas particulares 
da cultura. O Homem, através da sua acção individual pode dar origem 
a formas culturais. A estes aspectos individuais da cultura chamam se 
Antropemas. 
Antropemas são as expressões capilares da cultura originadas pela 
intuição inventiva dum indivíduo, e que, portanto, se especificam 
como raízes da estrutura cultural e social (Bernardi, 1978, p.83). Aqui 
incluem se os aspectos simples, isto é, aspectos particulares da cultura 
humana, visto de forma isolada, como por ex. a invenção do fogo, do 
motor, etc. Mas estes elementos isolados só são culturalmente válidos 
quando não normalizados ou socializados pela própria comunidade 
onde o individuo vive. 
Essa normalização ocorre quando os efeitos individuais são 
enquadrados em outros fenómenos culturais mais extenso. Por ex. a 
invenção do motor pode ser enquadrada nas inovações tecnológicas 
que ocorreram na mesma altura ou que foram sendo acumuladas desde 
a época anterior. 
 
Assim, quando fenómenos individuais são incorporados num conjunto 
mais vasto, isto é, quando eles são regulados no interior de uma 
determinada comunidade, tornam-se colectivo. São os Etnemas. Os 
Etnemas, constituem a articulação dos diferentes Antropemas, ou a 
normalização e socialização de antropemas, formando um corpo. 
Como aponta Bernardi (s/d) ‘Os etnemas são o resultado dos 
antropemas constituído em estruturas, isto é, articulados entre se, 
sistematicamente.Em função de um objecto em análise, um etnema 
 
 Antropologia do desporto 53 
 
pode ser simples ou complexo. O complexo é aquele que envolve 
vários etnemas, como por ex. o parentesco, que resulta da articulação 
de várias famílias, estas consideradas como etnemas simples. De facto, 
a família é um etnema pelo facto de resultar da aglutinação de vários 
membros que, para este caso, desempenham a função de antropemas 
 
 
 
Numa primeira apreensão, entende-se a natureza como a totalidade do 
universo, dentro do qual o Homem se encontra, incluindo todas as 
forças, conhecidas e desconhecidas. Num sentido restrito, entende-se 
como ambiente ecológico. O Homem procura dar um novo significado 
e que está ligado á natureza de forma multifacetada: Pela procura de 
subsistência, de matérias-primas, pelos condicionalismos que esta 
proporciona aquele. Por causa desta realidade, o Homem procura dar 
uma outra significação da Natureza, ele é impelido a pensar á volta 
desta. Assim apesar de se regerem por leis totalmente diferentes, com 
a natureza a reger-se por leis físicas, constantes universais e a 
actividade cultural a reger-se por padrões complexos, muitas vezes 
indefinidos, há pontos de contacto entre os dois universos. 
O Homem socializa ou torna cultural, alguns aspectos naturais, como 
actividade sexual humana, com a introdução de certas prescrições á 
volta dela, por ex. o incesto. De outra forma actividade sexual humana 
torna-se diferente da dos outros animais, em virtude de ser regrada, 
saindo do instinto natural que reina nas espécies animais. A 
linguagem, que na essência é natural, a sua culturalização ocorre com 
a criação das línguas, apesar de se saber, que estas envolvem, por sua 
vez, aspectos tipicamente naturais, por ex. os sons e os gestos, que são 
naturais, mas que caracterizam a linguagem, é atribuído um valor 
simbólico. Assim, mesmo que seja difícil determinar os pontos de 
contacto entre a natureza e a cultura, esta última assenta sobre a 
primeira, daí que é sempre necessário considerá-la nas análises 
culturais. 
 
 Antropologia do desporto 54 
 
 Uma outra vertente de correlação encontra-se entre a cultura e 
civilização. E certas ocasiões, estes termos foram usados de forma 
indiscriminada. Mas em certas escolas, como a Alemã acentuou se o 
uso do termo Cultura no lugar de civilização. 
Alguns autores usam o termo Civilização para indicar uma 
manifestação territorialmente importante da cultura, quando esta 
última é identificada como a forma mais simples e localmente 
circunscrita daquela. 
 É importante especificar que não existe uma escala de classificação de 
Cultura. Para alguns ultrapassarem este problema, procuraram situar a 
cultura no aspecto ideológico e a civilização no aspecto concreto, isto 
é, a expressão material de uma comunidade concreta. 
Outros estudos, procuraram correlacionar os termos a partir do seu 
sentido etimológico, mesmo que, também para esta vertente, o uso de 
um dos termos tenha carregado consigo aspectos negativos, na medida 
em que foi usada para opor os povos colonizados aos outros. Neste 
contexto, Bernardi, (1978) aponta que o termo Civilização pode ser 
usado entanto que parte de uma cultura, não no seu sentido de 
superioridade, mas em relação a forma de estar característica da vida 
urbana. 
Uma outra interacção existe entre a cultura e a sociedade. Toda a 
concepção cultural emerge do interior de um grupo social 
determinado, com um modo de organização e comportamento. Mas ao 
mesmo tempo, a sociedade é uma manifestação tipicamente cultural. 
 
 
Já notou que as pessoas gostam de se identificar com algo que haja 
que as incluem ou estas mais perto delas? Quando alguém diz que é 
docente ou estudante; Jornalista; Shangana, Português ou Chinês; É 
Cristão, é Feminista ou Machista, a que se esta a referir? Estas 
expressões antecipam se a um conjunto de diferentes níveis de 
identidade: Identidade colectiva,Identidade étnica, Identidade de 
 
 Antropologia do desporto 55 
 
género, Identidade Profissional, Identidade Nacional, identidade 
Pessoal, Identidade Comportamental, Identidade Religiosa, etc. 
 
Como pode ver, existem vários tipos de identidade. Todos eles 
expressam a pertença a um grupo ou categoria de pessoas. Contudo, 
nem sempre essa identidade é formada em função do comportamento 
dominante num determinado território. De facto, em função do âmbito 
de análise, é possível ter-se um tipo de identidade que não seja, á prior, 
aliada a uma só área cultural, apesar de, por questões operacionais, a 
primeira poder estar inscrita nesta última. Se dissemos que somos do 
espaço lusófono, este espaço é descontínuo e constituído por várias 
outras identidades especiais: Moçambicanos, Cabo verdianos, São 
Tomenses, Brasileiros, Portugueses, Timorenses, Angolanos. Contudo, 
apesar de ser inclusiva, nem todos os membros do grupo se 
comportam da mesma maneira: Os Portugueses pertencentes ao espaço 
cultural europeu, são diferentes dos povos africanos falantes do 
Português. 
 
Mas todos eles podem identificar-se, num certo momento, como sendo 
homogéneos, isto é, reclamarem a mesma identidade, ao 
identificarem-se como lusófonos, ou seja, falantes do Português, neste 
caso, diferentes dos falantes de uma outra língua, como o Inglês. 
Se analisarmos os diferentes tipos de identidades, veremos que eles 
respondem a certos padrões. Há um espírito que define essa identidade 
como: Disposições psíquicas comuns, por ex. certas normas de 
comportamento de base pelos quais os grupos se identificam ou são 
identificados. Por ex. os estudantes têm uma predisposição idêntica: 
Todos frequentam a escola. 
 
A identidade é a alma colectiva, é a sobrevivência de uma referência 
gloriosa do passado. Geralmente a identidade procura a permanência 
ou a afirmação de um grupo ou de uma pessoa. Muitas vezes, os traços 
resultados são escolhidos de entre os que são considerados positivos 
ou vantajosos para a afirmação dos grupos. Nenhum grupo quer 
projectar aspectos negativos ou que lhe proporcione uma posição 
subalterna. 
 
 Antropologia do desporto 56 
 
 
A identidade é também negociada, porque pode ser firmada na 
diversidade. (Por ex. A Comunidade Lusófona, a Comunidade 
Europeia). Por ex. esta última procura projectar-se através de uma 
concórdia, uma democracia, uma moeda e um mercado comum, 
mesmo que isso não signifique que todos os europeus se comportem 
da mesma maneira. A identidade é uma definição de ‘Nós’ em função 
dos conteúdos das relações para com os ‘Outros’. A identidade 
constrói se historicamente, portanto, está em constante mudança, 
apesar da sua aparente permanência no tempo. Ex. Os Zulos de ontem 
não são como os de hoje. 
 
A identidade constrói socioculturalmente a semelhança interna de um 
grupo pensando como homogéneo (Mesmo que não o seja, como ficou 
vincado com o ex. da Comunidade Europeia), e a diferença 
(Heterogenea e diversificada) face a outros grupos. A identidade 
alimenta-se da alteridade, isto é, a identidade é sempre firmada pela 
presença de um grupo diferente, mas com referências idênticas. O 
médico o é em relação ao enfermeiro. 
A identidade pode ser objectiva, isto é, pensada continuidade da base 
ecológica (Território, meio natural), das bases sociais (População), da 
base temporal (História) e da base cultural (Traços culturais). Mas 
também pode ser subjectiva através da construção da diferença, na 
auto definição da imagem endógena ou interna, na definição da 
imagem exógena e no sentimento de identificação e pertença. Neste 
segundo processo podem ser utilizados instrumentos de auto 
reconhecimento (Ex. Bandeira, escudos, mitos, ícones, folclore, leis, 
etc.). Como você pode notar, muitos destes elementos tem uma grande 
força comunicativa e condensam ideias, imagens e significados 
interiorizados por um dado grupo. Assim, enquanto a cultura é modo 
de vida de um grupo humano, a identidade é a representação da cultura 
de um grupo humano. 
 
 
 
 Antropologia do desporto 57 
 
Sumário 
 
A Cultura é um sistema complexo de práticas características da 
sociedade humana. A cultura compreende vários elementos, desde 
atitudes, valores, conhecimentos, costumes, símbolos, ideologias, 
usos. Existem vários níveis de cultura, desde o ideal ao real. A cultura 
pode ser também objectiva e subjectiva. 
A Cultura tem várias características. Ela é simbólica e material, 
selectiva, social, determinante e determinada, local e universal, estável 
e dinâmica. 
Os Universais culturais são aqueles que apenas constituem o manifesto 
das práticas humanas por exemplo, o acasalamento não é universal 
cultural porque ele ocorre também entre os animais. Apesar de a 
Cultura Humana ser universal ela é diversificada. Essa diversidade dá 
origem a autoridade. Isto é, a formação do outro. 
A identificação do outro é tão antiga como a origem da própria 
humanidade. Tal diferenciação é acompanhada pela introdução de 
estereótipos que, de certa forma, servem para fragilizar o ‘Outro’ e 
favorecer o grupo de pertença. 
A história humana foi marcada pela criação do outro em parte como 
forma de marcar a identidade própria ou de identificar o próximo. Essa 
alteridade, nem sempre, é introduzida de forma positiva, levando a 
emergência por ex. de etnocentrismo, contudo, é necessário saber que 
as diferenças sociais enquadram-se no contexto da multiculturalidade, 
não havendo, por isso alguma cultura mais importante que a outra. 
A cultura nunca é estável. Ela está em constante movimento, quer por 
factores internos, como factores externos. O tipo de mudança depende 
do tipo de agente, do tempo, a aceitabilidade do grupo que é 
pressionado, etc. Contudo, nas relações que se estabelecem entre os 
diferentes grupos sócias surgem as culturas dominantes e as 
subculturas. 
A cultura resulta como um processo em que participam, de forma 
específica, o Homem, como indivíduo biológico e cultural, a 
 
 Antropologia do desporto 58 
 
sociedade, entanto que reguladora das acções individuais e colectiva, o 
Ambiente, pelo facto de ser neste onde se assentam os grupos sociais, 
influenciando de certa forma o comportamento dos Homens e o 
tempo, necessário para o desenvolvimento de toda a matriz cultural. 
A dinâmica cultural resulta da interacção dos quatro factores: 
Anthropos, Ethnos, Chronos e Oikos. Assim, nenhum factor actua de 
forma isolada, não obstante, os primeiros dois serem fundamentais 
para dar esta natureza tipicamente humana a cultura. É por causa desse 
domínio do Anthropos e do Ethnos na dinâmica cultural que emergem 
os Antropemas, estes definidos como aspectos particulares da cultura e 
os etnemas que constituem o conjunto de Antropemas constituídos em 
sistemas. 
A cultura humana está intrinsecamente ligada a natureza. Ela pode 
expressar até a continuidade de factos naturais, mas num contexto 
tipicamente humano. Há ainda o contacto entre a cultura e a 
civilização, na medida em que esta última expressa uma área cultural 
mais vasto, existente num grupo social. 
A identidade expressa o sentimento de pertença de uma pessoa a algo. 
Por isso existem diferentes tipos de identidade, definidos pelo tipo de 
pertença: Profissional, Territorial, Étnica, Linguística, religiosa, etc. A 
identidade é construída e procura formar as bases de sobrevivência de 
um grupo em relação aos outros, dai que sejam escolhidos os aspectos 
positivos. Ela é objectiva quando os traços até ai existente são 
objectivamente imutáveis, como o território de origem ou a história de 
um povo e subjectiva, quando os elementos postos em consideração 
são permutáveis. 
Exercício 3 
1. Indique o conceito de Cultura. 
2. Identifique os elementos da Cultura. 
3. Diferencie a Cultura objectiva da subjectiva. 
4. Procure identificar as expressões do nível ideal e real daCultura da sua comunidade. 
 
 Antropologia do desporto 59 
 
5. Entre a forma de vestir de um indivíduo e a forma de comer da 
sua comunidade, identifique o que expressa a Cultura 
objectiva e a Cultura subjectiva. 
6. Em que consiste cada característica da Cultura. 
7. Apresente as formas da transmissão da Cultura na sua 
comunidade. 
8. Como é que o Homem é capaz de influenciar a dinâmica na 
sua Cultura. 
9. Identifique três universais culturais para além dos que estão 
apontados anteriormente. 
10. Mostre que a Cultura Humana é total mas também 
diversificada. 
11. Como surgem os estereótipos dos seres humanos. 
12. Qual é a finalidade dos estereótipos. 
13. Qual é a etimologia da palavra Etnocentrismo. 
14. Em que se fundamenta a Tolerância Étnica. 
15. Que elementos e acções devem ser postos em consideração no 
país para dissipar processos etnocêntrico. 
16. Identifique os factores do Dinamismo cultural na sua área de 
residência. 
17. Diferencie Enculturação da Aculturação. 
18. Como foi conduzido o processo de aculturação em 
Moçambique no período colonial. 
19. Procure alguns exemplos de regiões ou épocas em que houve a 
tentativa de se conduzir um processo de desculturação. 
20. Identifique o tipo de factor de cultura nas seguintes situações; 
-Construção de casa de caniço junto dos ribeiros cujo a 
formação vegetal é dominantemente herbáceas; - Construção 
de casa de bloco num local onde habitualmente se construíam 
casas de caniço; -Invenção de voleibol; - O processo de 
transmissão de normas de comportamento. 
21. Por que razão na dinâmica cultural é necessário considerar a 
combinação dos quatro factores. 
22. Apresente as relações bipolares privilegiadas entre os 
diferentes factores da dinâmica cultural. 
23. Dê exemplo de etnema e de antropemas que conheces. 
24. Dê exemplos de contacto entre a natureza e a cultura. 
25. Em que difere a cultura da civilização. 
26. Indique os pontos de contacto entre cultura e a sociedade. 
 
 Antropologia do desporto 60 
 
27. O que é uma identidade. 
28. O que está subjacente a formação de uma identidade. 
29. Poderá a identidade carregar consigo aspectos positivos. 
30. Porquê é que se afirma que a identidade é negociada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 61 
 
Unidade nº 4 
Cultura material 
 
A relação entre o Homem e o Ambiente e a exteriorização do 
pensamento humano leva a emergência da tecnologia dos 
artefactos. Estes elementos fazem parte da Cultura material, o 
objecto de estudo desta unidade. Para uma óptima concretização, 
você não precisa de ir longe, A sua comunidade dá exemplos 
concretos de tudo o que vai estudar 
 
 
Ao completares esta unidade / lição será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conhecer a outra parte da Cultura para além da simbólica; 
 Definir os conceitos de Cultura material e Modo de produção. 
 Distinguir o modo de produção das sociedades de caça-colectiva, 
do da sociedade agrícola. 
 
 
 
 
 
Terminologia 
 
A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: 
 AD- Antropologia do desporto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 62 
 
 
 
Então, o que entende por Cultura Material? 
 
A Cultura poderá ser entendida como ‘Conjunto das tradições sociais’, 
como que uma herança social em que nós criamos e desenvolvemos. 
Os elementos culturais, isto é, todos os elementos que constituem uma 
determinada cultura, são: Os usos e costumes, as crenças, a linguagem, 
as tradições orais, a sabedoria, a língua, a musica e a dança, os padrões 
de comportamento, os ideais de vida, as técnicas, etc. 
No estudo de cultura material, a Etnologia, abrange todos os aspectos 
de qualquer cultura que procura analisar e descrever. 
O Homem ao ser ‘Produtor’ de cultura arrasta consigo todo um 
processo de transmissão e difusão, desempenhando um papel mais 
importante, do que a invenção propriamente dita. 
A cultura material centra-se no estudo das relações humanas com o 
ambiente, o que vulgarmente se chama ‘artes industriais’ ou 
‘Tecnologia’. Contudo ela abrange não só o que os seres humanos 
tiram do seu ambiente físico, mas o que também dão a área que os 
rodeia. 
Assim a Cultura é entendida como o conjunto de objectos, valores e 
significados simbólicos e formas de comportamentos repetitivas que 
guiam a conduta dos membros individuais de uma sociedade, 
transformando-a de modo material. 
Nenhum aspecto de cultura pode ser biogenéticamente transmitido. 
Expande-se sim, depois do nascimento, segundo as facetas da cultura 
que a cada um diz respeito. No caso das tatuagens de que falamos no 
princípio, elas não são herdadas ao nascimento. Nem os objectos feitos 
pelos nossos antecedentes são transmitidos de forma genética. 
No estado evolutivo do homem, que hoje já somos (Homo sapiens 
sapiens), dá-se conta de terem existido outras etapas anteriores: Homo 
Australopithecus e Homo Habilis, ambos pertencentes ao Paleolítico 
inferior. Estes eram caracterizados pelo uso de instrumentos de pedra 
(Seixos) e pelo surgimento da primeira linguagem; na fase posterior, 
seguiu-se o Homo Erectus, no período do paleolítico Médio ou seja 
Mesolítico, que passa a usar as raspadeiras, vida em cavernas e inicio 
do uso do fogo; Depois foi a vez do Homo sapiens, seguido pelo 
Homo sapiens-sapiens, do Paleolítico superior e do Neolítico, isto a 10 
000 anos a.C. As suas características fundamentais, são o uso de 
instrumentos sofisticados, práticas de cerimónias e pinturas rupestres. 
Se bem que não iremos abordar esta classificação evolutiva do 
Homem, porque isso não é matéria de Antropologia, importa-nos do 
ponto de vista das sociedades, apenas a última fase, a do Homo 
 
 Antropologia do desporto 63 
 
Sapiens-Sapiens, para diferenciarmos as comunidades de caça-
colectiva, das de agricultores e pastorícia. 
 
A cultura é condicionada pela natureza, pelo local geográfico ou 
particularmente pelo clima. Daí a importância que tem a ecologia para 
a sua compreensão. 
 
O mundo cultural do Homem tem uma abrangência muito grande, 
envolvendo também o mundo natural. Tanto é assim que se pode dizer 
que a natureza conhecida pelo Homem Não é aquela pura, que não foi 
tocada por ele. Toda a natureza que o Homem conhece, conhece-a 
culturalmente, isto é, toda a natureza tem para ele um significado, uma 
relação de valores e de significados. 
Um objecto natural pode receber significados por parte do Homem, 
mas esses significados variam segundo as culturas. Por ex. o sol, a 
chuva e outros elementos da natureza podem significar coisas 
diferentes segundo a cultura em questão, principalmente na relação 
que se tem com aqueles elementos. 
 
 
 
Na economia de caçadores-recolectores, os homens vão buscar a sua 
subsistência á natureza, sem trabalhar nem a restaurar’ o esgotamento 
dos recursos impõe uma migração temporária ou definitiva, a fim de se 
conseguir a reconstrução natural do meio. Nestas deslocações, o grupo 
delimita, quando muito, um território, cuja necessidade só se torna 
patente pela presença de grupos homólogos rivais. Ao contrário, com a 
agricultura, este território é transformado em terreno de cultivo; aí se 
investe o trabalho para lhe conferir uma forma temporária e organizar 
a reconstituição das suas capacidades produtivas. 
Há pois uma diferença fundamental na organização do processo de 
trabalho; O rendimento do processo de caça é instantâneo, quotidiano 
e o produto presta-se mal a ser armazenado; Exige uma cooperação 
para as operações de elevado rendimento ou para a caça de grandes 
predadores, com os quais estes grupos entram em concorrência. Mas 
estes grupos dissolvem-se depois da partilha do resultado da colecta ou 
caçada. Assim, há instabilidade dos grupos activos, dos bandos, das 
hortas. O efectivo é variável, pois a composição modifica-seconstantemente pela circulação dos indivíduos que intervêm na 
 
 Antropologia do desporto 64 
 
produção. O ciclo é anual e por um período improdutivo em que a 
alimentação do grupo tem que ser assegurada: Quer através de uma 
produção de rendimentos imediatos (Caça), quer por um 
armazenamento dos produtos do ciclo anterior, ou a distribuição é 
deferida em todos os casos indispensáveis para se dispor sementes que 
permitam iniciar um novo ciclo. Os ciclos anuais têm portanto 
tendências para encaixarem numa relação constante de adiantamentos 
e de redistribuição entre indivíduos cujas relações anuais pelo que toca 
á produção tendem a transformar-se em relações vitalícias, segundo 
uma ordem de anterioridade/posterioridade. 
Destas características da produção pode-se deduzir nas economias de 
caçadores, relações sociais fracas e descontínua, um débil controlo da 
circulação dos homens e das mulheres; nas economias agrícolas, pelo 
contrário, as relações são vitalícias, baseadas na anterioridade, aos 
mais velhos cabe a função de controlo e da repartição de stocks, de 
controlo da circulação dos subordinados que são inseridos em 
linhagem, cujas genealogias se estendem, e de controlo da afectação 
das mulheres a qual se encontram severamente regulamentada; a nível 
do político, há uma gerontocracia, reguladora destas repartições; a 
nível da ideologia; as genealogias e o culto dos antepassados. 
 
 
Características típicas das sociedades 
1. Caçadores-colectores 
 Produção: 
- A economia é de punção, a terra como objecto de trabalho, os 
instrumentos de trabalho (Rudimentares) são propriedades individuais. 
- As unidades de produção confundem-se com os bandos ou hortas, o 
grupo primitivo é constituído por um número restrito de indivíduos os 
dois sexos, há cooperação nos processos de trabalho. 
 Reprodução: 
 
 Antropologia do desporto 65 
 
As unidades de reprodução compõem-se de uniões de células vizinhas, 
estabelecidas através de uma rede coerente de trocas. 
- A reunião de grupos constitutivos e as suas alianças são comandadas 
não apenas pelas exigências ou toca, mas pelos imperativos da 
produção. 
- O parentesco e em particular o problema de filiação na comunidade 
de caçadores ainda não são relevantes. 
 Colecta: 
- A Colecta exige frequentemente o percurso de longa distância. Ela 
faz-se em grupos para se proteger face aos animais selvagens. 
Requer portanto não só uma preparação física como um conhecimento 
preciso das plantas, dos lugares dos animais perigosos, dos meios de 
protecção relativamente a este, etc. 
 A Caça: 
A Caça e a armadilhagem de pequenos animais são correntemente 
praticadas na proximidade imediata dos campos. Estas actividades 
requerem: 
- Conhecimentos técnicos e conhecimentos das praticas mágicas. 
As formas de cooperação fundam-se na reciprocidade e cooperação 
por compensação. 
 Divisão técnica e social do trabalho é feita por sexo e idade. 
 
2. A comunidade doméstica de agricultores 
O que a invenção da agricultura realizou foi uma transformação da 
natureza pelo homem. Pela domesticação das plantas e dos animais 
estabeleceram se os modos de produzir. A passagem á agricultura foi 
acompanha pelo (a): 
- Alongamento do dia do trabalho, domesticação das plantas e dos 
animais, sedentarização e a definição do território. 
- Elevação do nível das forças produtivas, passagem da terra passou a 
constituir se em meio de trabalho, pelo desenvolvimento de 
actividades paralelas: a caça e a colecta. 
 
 Antropologia do desporto 66 
 
- Estabelecimento de relações sociais de produção por via do 
parentesco, emergência do poder como função dos anciãos sobre os 
grupos de produção. 
- Surgimento dos excedentes leva á criação de celeiros. A existência 
de um excedente potencial ou real não acarreta automaticamente um 
desenvolvimento económico; a produção é orientada nestas formações 
sociais para a satisfação das necessidades e não para o lucro. 
- Envolvimento dos resultados de produção nas trocas, através de 
formas não mercantis, como a oferta recíproca, o tributo e a 
redistribuição. 
- Nova organização social (O parentesco) e a nova concepção do 
Mundo. É possível que a domesticação das plantas e dos animais se 
tenha acompanhado de um imenso desenvolvimento da magia, e da 
religião. Os indivíduos ou grupos sociais senhores das magias, da 
fertilidade, das plantas e dos animais puderam talvez nessas condições, 
conquistar um imenso poder social baseado no seu controlo 
(imaginário) das forças sobrenaturais. Parece ter sido nessas condições 
que se operou o aparecimento dos sacerdotes como grupos sócias 
separados dos produtores (Da produção), e, que transformou de pouco 
a pouco o seu poder de exploração económica 
 
 
 
O princípio de organização da economia não é, segundo os marxistas, 
a repartição mas sim a produção. Todo o modo de produção é definido 
por uma relação específica entre por um lado, o conjunto dos meios 
materiais concorre para a produção numa determinada sociedade: 
matérias-primas, equipamentos e técnicas, o saber fazer, força de 
trabalho, capital, denominados força de trabalho e, por outro lado, as 
condições sociais da produção, ou seja as formas de organização 
económica de divisão do trabalho segundo a idade ou sexo, as 
especializações profissionais, as estratificações ou classes sociais 
(Senhores e escravos, proprietários capitalistas e trabalhadores), e 
segundo, as formas culturais da cooperação ou competição. Todos 
 
 Antropologia do desporto 67 
 
estes pressupostos são variáveis em função das tarefas, o número de 
participantes, das remunerações reais ou simbólicas, que se chama 
relações de produção ou condições sociais de produção, se realizam no 
quadro das unidades de produção, dizem respeito a apropriação ou ao 
controlo dos meios de produção, tais como a terra, os homens, o gado, 
as técnicas e os recursos financeiros. 
C. Meillassoux é um dos primeiros a impulsionar as pesquisas de 
Antropologia Marxista, na sua opinião, a comunidade agrícola nas 
sociedades de auto-subsistência populariza-se em redor do filho mais 
velho, que recebe os produtos do trabalho e os reparte. No quadro 
agrário, a terra é meio. Entre os caçadores-recolectores, ela é objecto 
de trabalho. Se Meillassoux fez apenas um uso fora da noção do Modo 
de Produção, Emanuel Terray situa essa noção no centro de toda a 
problemática, fazendo a sua análise a partir da forma de cooperação. 
Reconhece a exploração dos mais velhos pelos mais novos, mas 
observa que estes, pela idade e pelo casamento, são chamados a 
tornarem-se eles próprios mais velhos, emancipando-se. Assim não 
existe uma classe estável de mais velhos. Mais radicalmente, P. Rey vê 
a relação de classe como dominante no modo de produção da 
linhagem. Acha determinante nas relações de produção o processo de 
apropriação e de reagrupamento dos homens com vista a esta 
produção. 
M. Godelier, ao debater os modos de produção asiática ou de 
linhagem, não deixa de sublinhar a parte, tudo o que é real e o jogo 
dos simbolismos sociais. Demonstra a ligação da economia com as 
outras instâncias: Política, parental, religiosa, e nota que o parentesco 
pode funcionar como infraestrutura e como super estrutura. A ruptura 
de um sistema ou a passagem por ex. a economia de predação (Caça-
colectiva) á economia de produção (Agricola|industrial), não atribui 
necessariamente a contradição mas a modificações externas ou 
internas. 
Em todos os modos de produção, há fenómeno universal: A divisão do 
trabalho, apesar de variar de cultura para cultura. Mesmo tendo uma 
importância no ciclo de produção, a divisão social de trabalho, não 
tem um valor absoluto, dado que se trata, frequentemente, de uma 
 
 Antropologia do desporto 68 
 
escolha cultural, isto é, que depende de cada sociedade. Se no 
princípio a divisão social do trabalhoera feito em função do sexo e 
idade, ela passou a circunscrever-se no status social (Tarefas atribuídas 
conforme o estatuto social na sociedade), aptidão (Para 
mulheres/homens, crianças, adultos e velhos), ou na especialização 
técnica e cultural, dado que certas tarefas são reservadas a 
determinadas categorias de pessoas. 
Contudo, é necessário ter em conta que os vários tipos de divisão vão 
desaparecendo, por exigências do desenvolvimento tecnológico 
(Martinez, 2004, p.90). 
 
Sumário 
A Cultura Material tem sua origem na relação entre o Homem e o seu 
ambiente e a mesma guia o Homem na transformação e produção 
material, não sendo contudo herdado de forma genética. 
Na relação entre o Homem e o meio ambiente que o envolve 
produzem-se significados sobre este, que variam de um local para o 
outro. O Homem conhece a natureza de forma cultural. 
As formas de produção material determinam, sobremaneira, o tipo de 
relações que se estabelecem entre o Homem e o meio ambiente, bem 
como as relações que se estabelecem no interior dos grupos sociais, 
reflectindo-se sobre os níveis de organização social, política e 
religiosa. 
A noção de Modo de Produção é complexa, em virtude de envolver 
vários aspectos e poder variar de um grupo social para o outro, bem 
como de um momento para o outro. Contudo é no interior dele que 
ocorrem as relações sociais e são moldados padrões culturais de cada 
grupo social. 
Exercício 4 
1. Se alguém lhe solicitasse a definição de Cultura Material qual 
seria usando palavras suas. 
 
 Antropologia do desporto 69 
 
2. Olhando para a classificação evolutiva do Homem, quando lhe 
parece ter iniciado a actividade da Cultura Material. 
3. Até que ponto o Meio ambiente (A Ecologia) pode influenciar 
na Cultura material. 
4. Apresente dois aspectos fundamentais (Social económico) que 
distinguem as duas sociedades (Caça-colecta e de 
agricultores). 
5. Especifique os processos que tornam cultural a produção 
material entre os Homens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 70 
 
Unidade nº 5 
O parentesco 
Esta unidade realça os fundamentos da organização social, 
presentes praticamente em todos os grupos sociais tais como: o 
parentesco, o casamento, a família. Como outros temas que você 
nas outras unidades, a partir desta unidade você vai aprofundar o 
carácter eminentemente social e cultural dos aspectos 
anteriormente identificados 
 
 Ao completares esta unidade / lição será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer os fundamentos da formação do Parentesco; 
 Saber como o parentesco se constitui como um dos fundamentos 
da organização social; 
 Saber definir: Parentesco, parente, filiação, aliança, e residência 
matrimonial; 
 Conhecer as formas da emergência de um parentesco; 
 Saber distinguir diferentes tipos de parentes; 
 Ser capaz de esquematizar um parente do Ego, a partir de um 
esquema de parentesco; 
 Discriminar os diferentes fundamentos das alianças 
matrimoniais; 
 
 
 
Terminologia 
 
A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: 
 AD – Antropologia do desporto 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 71 
 
 
 
O termo Parentesco não é de fácil definição. Uma definição simples 
considera que o parentesco seja ‘Um vínculo que liga os indivíduos 
entre si em vista da geração e da descendência’ (Bernardi, 1978, p. 
259). Pode se definir como um sistema simbólico de denominação das 
posições relativa aos laços de descendência e de afinidade. 
Você sabia que um dos primeiros elementos de identificação do 
estatuto social de um indivíduo em cada sociedade humana surge do 
parentesco? 
De facto, quando um indivíduo nasce, a primeira base de identificação 
é um grupo social restrito, a família. É na família onde existem os 
parentes mais próximos. O parentesco é definido em referência a um 
indivíduo, isto é, a um EGO, em relação a uma ou outras pessoas que 
fazem parte de um grupo social. Na essência, o EGO identifica-se com 
a pessoa pela qual começamos a estabelecer as relações com todos os 
outros membros de um grupo social, venham tais ilações da 
consanguinidade ou da afinidade. 
O parentesco institucionaliza as relações sociais. É nele que são 
prescritos ou definidos comportamentos entre os membros de um 
grupo social, como por ex. os tipos de casamentos, as formas de 
tratamento entre os membros, as formas de filiação, isto é, a maneira 
como é definida a pertença dos filhos, etc. 
Contudo, a definição de quem é parente é em si complexa, dado que 
ela pode variar de uma sociedade para outra e pode mesmo evoluir 
com o tempo. Tem-se notado, por ex. uma redução progressiva dos 
núcleos familiares em muitos complexos culturais. Assim, se no 
passado o parentesco envolvia muitos membros, muitas famílias 
alargadas, ele tende a tornar-se cada vez mais restrito, fruto do 
impacto da própria evolução material das sociedades humanas 
(Urbanismo e revolução industrial) ou das migrações. Estes factores 
condicionaram períodos de grandes transformações familiares, com as 
consequentes perturbações e reajustamentos dos núcleos familiares. 
 
 Antropologia do desporto 72 
 
Na definição de quem é parente interferem ainda as concepções 
científicas sobre as relações genéticas, que não são partilhadas por 
todas as sociedades. Você observa na sua comunidade, uma das duas 
situações: Um filho é obra do pai ou então diz-se descendente da mãe. 
Finalmente, se numa primeira fase o parentesco incluía apenas os 
aspectos de consanguinidade, sendo por isso o genuíno e autêntico, por 
baseiar-se no pressuposto biológico, actualmente ele integra outros 
parâmetros, como a adopção. De facto, o parentesco não se resume 
apenas a consanguinidade. Se assim fosse, todos os membros de um 
grupo social acabariam por ser parentes ou então não haveria a 
possibilidade de integração de outros membros que não fossem de 
‘Sangue’. Por isso, o parentesco não só define os membros que fazem 
parte de um grupo social como também os distingue dos que a eles não 
pertencem, isto é, define unidades sociais precisas. Quando você diz, 
por ex. que não é parente de alguém, exclui-se de um grupo social. 
Neste contexto, o parentesco pode integrar ou excluir um membro de 
um determinado grupo em referência. 
 
 
 
A definição de parente nem sempre é pacífica. É assim que para tornar 
este conceito funcional só uma pequena parte da rede genealógica 
constitui a Parentela reconhecida e operatória para um indivíduo. A 
Parentela é um grupo de pessoas que se forma a volta do Ego. 
Contudo, a Parentela não envolve necessariamente uma descendência. 
Você tem uma teia de relações, que entretanto não tem relações com 
seus antepassados ou descendentes directos. Você tem um cunhado, 
tio, avô, sobrinho, cunhada. Entretanto, na sua família, só você é a 
única pessoa que se dirige as anteriores pessoas com aqueles atributos, 
pois eles não são no mesmo momento, cunhado, tio, avô, sobrinho e 
cunhada dos seus pais. Essas relações de parentesco que dizem 
respeito a você é que constituem a sua Parentela. 
Com a parentela, as sociedades definem os seus parentes próximos 
(Aqueles com os quais as regras de comportamento são mais fortes), 
 
 Antropologia do desporto 73 
 
os parentes afastados (Os que, apesar de serem parentes tem relações 
menos fortes) e aqueles que não são parentes. 
Segundo amplitude de membros, há sociedades que comportam um 
Parentesco Alargado, o que envolve uma grande teia de relações, 
enquanto outras tem um Parentesco Restrito, constituído por pequenas 
unidades sociais funcionais. 
A outra unidade funcional que esta intrinsecamente ligada ao 
individuo é a Família. A definição da família é, por vezes, não 
necessária, podendo designar, segundo Mello (2005) o grupo 
composto de pais e filho; uma linhagem (Patrilinear ou matrilinear), 
um grupoque descende do mesmo antepassado, um grupo de parentes 
e descendentes que vivem juntos. A Família pode ser Nuclear 
contrapõe-se a Família Extensa, que congrega Famílias Nucleares, isto 
é, comporta vários casais. É na Família que inegavelmente estão 
presentes as relações universais mais significativas e humanas como: 
A relação entre o homem e a mulher, a relação criada entre os pais e os 
recém- nascidos, as relações entre gerações diferentes. 
Quando se fala da importância social da Família reconhece-se 
geralmente o auto grau de relevância desta no ordenamento social. A 
Família desempenha várias funções: De reprodução; de socialização 
dos filhos; produtiva ou económica, necessária para a perpetuação da 
vida e satisfação das necessidades vitais; Jurídicas, na medida em que 
ela é proprietária de objectos, dotada de direitos e deveres; Religiosa 
onde os membros seniores (Pai ou Mãe) propiciam alguns cultos. 
 
 
 
Segundo a forma como os vínculos se formaram ou o Parentesco 
surgiu, este pode ser real (A consanguinidade), fictício (O da 
adopção) e o das relações de aliança. Apesar de adopção criar laços 
fortes, a consanguinidade parece criar laços mais profundos. Em 
função destes pressupostos, surgem os Parentes Consanguíneos e 
Aliados ou Afins. 
 
 Antropologia do desporto 74 
 
Os Parentes Consanguíneos compreendem os da linha recta, isto é, 
os ascendentes (Os que nasceram antes de um Ego ou de você, como 
os seus avôs e pais) e os descendentes (Os que nasceram depois do 
mesmo Ego ou de você mesmo, como os seus filhos, os seus netos). 
Nestes Parentes consanguíneos são ainda integrados os da linha 
colateral (Germanos, isto é, descendentes do mesmo pai e mãe, no seu 
caso, os seus irmãos, os seus primos e os seus tios. 
São os Parentes Consanguíneos, dão á descendência. Contudo, 
mesmo que se reconheça que o critério dessa relação de descendência 
é o biológico ou natural, esta relação é também cultural, na medida em 
que é determinada em função das regras de um grupo social 
determinado. 
Enquanto a natureza estabelece a consanguinidade, a cultura determina 
os parentes. Assim, o parentesco consanguíneo proporciona a prole ou 
os filhos, enquanto o parentesco por afinidade alarga-se pelo 
casamento. 
Na descendência ou linhagem, os membros do grupo sentem se unidos 
pela referencia a um antepassado comum real e recente, situado entre 
quatro a cinco gerações. O conjunto dessas pessoas que tem o mesmo 
antepassado comum da origem á linhagem. Define-se por linhagem 
‘Um grupo de pessoas descendentes de um mesmo antepassado cujo 
vínculo de descendência é genealogicamente demonstrável e não 
pressuposto miticamente’ (Bernardi, 1978, p.293). Difere do clã, por 
consistir num ‘(…) grupo de pessoas descendentes de um mesmo 
antepassado mítico ou fictício (…) sendo uma realidade pressuposta e 
não demonstrável historicamente’ (Ibid, p.292). 
Os Parentes Aliados, são os indivíduos ligados a um determinado 
grupo de Parentesco por via de casamento. São os membros com que 
se tem as relações de afinidade. Estas relações surgem partindo-se do 
pressuposto segundo o qual na família, marido e mulher não são 
Parentes Consanguíneos. Estes laços de afinidade têm uma grande 
importância no conjunto da organização social de qualquer 
agrupamento humano. Este tipo de relação, mesmo em sociedades 
industrializadas, é, de certa forma, responsável pela distribuição de 
benefícios e aproximações de grupos sociais. 
 
 Antropologia do desporto 75 
 
Por causa destas diferentes formas de Parentesco, nem sempre é 
possível ou fácil diferenciar a origem da Parentela a partir da 
designação dos parentes, por ex. o termo ‘Pai’, pode relegar a um pai 
genitor, adoptivo, ou posicional, isto é, á atribuição a um pai á mesma 
referência. Mas também pode ser pai, aquele que lhe é reconhecida a 
paternidade socialmente, isto é, ao pai social. Na verdade o parentesco 
é um sistema simbólico de denominação das posições relativas aos 
laços de descendência e de afinidade. Por isso, existem dois sistemas 
de Parentesco: Descritivo e Classificatório. 
 No Descritivo são usados termos diferentes para designar cada 
parente. Por ex. o pai tem uma designação e o irmão do pai tem outra 
designação de tio. Ao passo que, no classificatório é usado um termo 
para designar um conjunto de pessoas segundo o seu posicionamento 
no esquema de parentesco, isto é, quando pessoas que não ocupam a 
mesma posição em relação ao Ego são classificadas sob o mesmo 
nome. O Ego, ou você, chamará de irmão ao seu primo paralelo; de 
mãe, as irmãs e primas da mãe, de pai. Aos irmãos e primos do pai, 
etc. 
 
 
Por uma questão operatória a Antropologia usa diferentes símbolos e 
esquemas de Parentesco, os quais permitem, a qualquer leitor, 
identificar as relações entre os diferentes membros do grupo social em 
referência ou apresentado. Assim, os seguintes símbolos tem o 
significado a seguir: 
 □ ∆ : Individuo do sexo indiferenciado, (isto é pode ser Homem ou 
mulher). 
⁄□⁄ ⁄□ : Individuo falecido 
∆ : Indivíduo do sexo masculino 
О : Indivíduo do sexo Feminino 
∆+ : Indivíduo do sexo masculino mais velho 
О : Indivíduo do sexo Feminino mais novo 
 
 Antropologia do desporto 76 
 
 О = :Casamento 
 Divorcio 
 Segundo Casamento 
 Casamento poligâmico 
 Germanidade, irmandade ou fraternidade. 
 Filiação 
 
 Marido e mulher 
 Com filhos 
 
Para além dos símbolos, na Antropologia é usado um conjunto de 
abreviaturas para designar os parentes primários, (Aqueles cuja a 
ligação não precisa de intermediário) secundários, (Aqueles cuja a 
ligação tem um intermediário), terciário (Os que precisam de dois 
intermediários para a sua ligação) e os afins. O quadro que se observa 
a baixo, trás abreviatura dos parentes primários e secundários. 
Abreviaturas dos Parentes Primários e Secundários 
Em francês Em Inglês Em Português 
Pére Pe Father F Pai Pa 
Mére Me Mother M Mãe Ma 
Fils Fs Son S Filho Fo 
Fille Fl Daughter B Filha Fa 
Frére Fr Brother B Irmão Lo 
Soeur So Sister Z Irmã La 
Mari Ma Husband H Marido Eo 
Épouse Ep Wife W Esposa Es 
Onele On Onele U Tio To 
Tante Ta Aunt A Tia Ta 
Neveu Ne Nephew Ne Sobrinho So 
Niésse Ni Niece Ni Sobrinha Sa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 77 
 
 
 
A Filiação constitui um dos fundamentos da transmissão do 
Parentesco. A filiação pode ser legítima, natural ou adoptiva. No 
sentido Antropológico, a Filiação é geralmente traçada apenas por um 
único progenitor: Ou se é filho de um determinado pai ou mãe, 
pertencendo ao grupo de Parentesco daquele ou desta. A Filiação ‘(…) 
entende-se como o conjunto das regras que definem a identidade 
social da criança em relação aos seus ascendentes e que determinam 
a hierarquia dos membros da família, a forma de herança dos bens a 
transmissão dos cargos e funções, até a distribuição da autoridade 
das sociedades (…)’ (Riviére, 1995, p.64-65). Quando você observa 
pessoas na sua área de residência que indicam que pertencem ou são 
da família da mãe ou do pai; quando você nota que certos bens são 
geralmente herdados de um lado e não do outro, está diante de um 
conjunto de procedimentos que se definem na Filiação. De forma 
geral, Filiação pode ser Unilinear (Patrilinear ou Matrilinear); Bilinear 
ou Indiferenciada. 
Na filiação Unilinear, o indivíduo não escolhe o seu grupo de 
pertença. Ele recebe-o. A pertença ao grupo é determinada pelo facto 
de se ser filho do pai ou de se ser filho de determinada mãe, já que em 
certas sociedades aponta-se que uma criança é gerada por um único 
dos seus progenitores. 
Umas consideram que a mãe é a única responsável pelo nascimento da 
criança, negando-se a paternidade fisiológica. 
Na Filiação Patrilinear, designadatambém por Agnática, a pertença ao 
grupo obtêm-se pelo pai e a relação com os membros dos outros 
grupos passa-se exclusivamente pelos indivíduos do sexo masculino 
(Os agnatos). Por ex. os filhos da irmã do pai não são membros do 
grupo de filiação, contrariamente aos irmãos do pai. A Filiação 
transmite-se do pai para o filho. Geralmente nestas sociedades a 
circulação dos membros é feita através de um sistema de 
compensação. 
 
 Antropologia do desporto 78 
 
Normalmente, depois do casamento não se espera que a filha volte 
para aldeia. Numa primeira fase, estas comunidades eram nómadas ou 
inicialmente a sua sobrevivência dependia de recursos frágeis. 
 
 
 
 
 Filiação Patrilinear 
 
 ↓ ▲ ↓ Via de descendência 
 
 
 ▲ О 
 Na filiação Matrilinear ou Uterina, o laço de Parentesco é 
transmitido pela mãe. O Ego masculino, apesar de ser membro do 
grupo de Filiação da sua mãe, ao contrário do que acontece com a 
irmã, não transmite a sua pertença aos filhos. Estas sociedades são 
geralmente sedentárias e geralmente vivem da agricultura. 
Eis o exemplo a seguir: 
 Ө 
 
 
 ∆ Ө 
A filiação bilinear, ou dupla Filiação, combina as duas filiações 
unilineares. A Filiação é reconhecida de ambos os lados (Paterno e 
materno), mas com finalidades diferentes. Num dos lados pode receber 
o apelido e no outro receber, por ex. poderes espirituais. 
 
 
 Antropologia do desporto 79 
 
Por ex: Espírito Sangue 
 ▲ О ∆ Ө 
 
 
 ▲ Ө 
 
 
Ego 
A Filiação Indiferenciada, também designada Cognática ou Bilateral 
ignora o sexo para a definição dos laços do Parentesco. No sistema de 
Filiação Cognática, o Ego é membro de dois grupos de parentesco; o 
do pai e o da mãe. Geralmente este sistema cria uma teia complexa de 
relações que a filiação Unilateral e Bilateral. É característica dos 
países ocidentais. 
 
O Ego recebe a Filiação dos quatro avôs, oito bisavôs e dezasseis 
trisavôs, etc. 
 
 ▲ Θ ∆ Ѻ 
 
 
 ∆ О 
 
 
Ego 
 
 
 Antropologia do desporto 80 
 
Para todos os efeitos, todos os anteriores tipos de Filiação são de 
carácter natural, porque apesar de ela ser determinada culturalmente, 
envolve a consanguinidade. Fora desta, existe a Filiação Adoptiva, 
aquela em que os filhos têm uma origem exterior á Família Nuclear ou 
não tem uma relação genética. Entretanto, esse tipo de Filiação não é 
menos importante que a outra, na medida em que os adoptados gozam 
direitos dos legítimos. 
 
 
 
Quando você diz que alguém é um parente seu está adjacente que 
ambos têm a mesma origem. E como pode notar na sua área de 
residência, dado que, á priori, a filiação é unilinear, há formação de 
grupos colectivos, isto é, um membro é seu familiar ou não com o 
mesmo antepassado seu. Assim, todos os que se identificam com um 
antepassado comum formam, a diferentes escalas, vários grupos de 
parentesco, como a Clã e a Linhagem. 
O Clã é um grupo de filiação unilinear (Patriarcal ou matriarcal) que 
descende de um mesmo antepassado lendário ou mítico. Às vezes, os 
membros invocam um Totem, isto é, representação sacralizada do Clã, 
ligado ficticiamente ao antepassado. As pessoas com o mesmo Totem 
respeitam os mesmos tabus ou as mesmas proibições matrimoniais ou 
unilineares e possuem o mesmo nome genético. A pertença ao Clã 
constitui a base de transmissão da herança e funções de rituais, 
económicas políticas, etc. 
O Clã compreende um certo número de linhagens exógamas (Cujos os 
membros devem se casar fora da linhagem), ligadas a um antepassado 
histórico, cuja recordação se conserva. Por acréscimo demográfico, os 
Clãs e Linhagens podem fragmentar-se, surgindo Clãs, subclãs, 
linhagens principais e secundárias. 
Na filiação unilinear o homem (Patrilinearidade) e a mulher 
(Matrilinearidade) transmitem a pertença ao Clã. Os germanos 
pertencem ao Clã do progenitor transmissor da pertença. 
 
 Antropologia do desporto 81 
 
Em cada uma das filiações distinguem-se ainda os primos cruzados, 
que são os germanos que nascem do irmão da mãe e irmã do pai 
primos paralelos estão proibidos como parceiros, enquanto os 
cruzados são potenciais cônjuges. 
 
Veja o esquema seguinte: 
Consanguinidade 
 
 
 ∆ -------------О ∆ -------- О ∆------------- О 
___|___ ___|___ 
| | | | 
∆ О ∆ О 
 |_______| 
 | 
۞ 
 ___|___ ___|___ 
 | | | | 
 ∆ О ∆ О 
 Primos Primos Ego Primos 
Primos 
 Paralelos Cruzados Cruzados 
Paralelos 
 de Ego de Ego de Ego 
de Ego 
 
 
 
 
 
 
 
 
Numa filiação patrilinear, o esquema seria representado da seguinte 
maneira: 
 
 ∆ ___|___ Θ-----------▲ _______|____________ О------------
-∆ 
 _____|____ ____|___________________|________ 
 | | | | | | 
 ∆ ∆ О Θ ▲ ▲ 
 
 Antropologia do desporto 82 
 
 ____|____ _____|_____ 
_____|_____ 
 | | | | | 
| 
 ∆ О ▲ Θ ▲ 
Θ 
 Primos cruzados EGO Primos 
paralelos 
Legenda: 
▲ Θ Membros da linhagem de Ego 
∆ О Membros de outras linhagens 
 
 
 
Numa filiação matrilinear, o esquema é representado da seguinte 
maneira: 
 ________ _________ 
 | | | | 
∆----------О ∆ ---------- Θ ▲ 
___|___ _____|_________________ 
| | | | | | 
∆ ∆ О ▲ Θ ▲ 
 ___|___ ___|___ ___|___ 
 | | | | | | 
 ∆ О ▲ Θ ▲ Θ 
▲ Θ Membros da linhagem do Ego, isto é os que normalmente 
são designados familiares. 
∆ О Membros de outras linhagens 
 
 
Na sua vida quotidiana você tem ouvido falar de Aliança Matrimonial 
ou simplesmente do casamento. Este constitui uma união estabelecida 
entre dois grupos exógamos, pelo cruzamento de um dos seus 
membros com alguém pertencente a outro grupo. O casamento é uma 
Instituição Social que visa o estabelecimento de vínculos de união 
estáveis entre o homem e a mulher, baseados no reconhecimento de 
 
 Antropologia do desporto 83 
 
direitos de prestações recíprocas de comunhão de vida e de interesses 
segundo as normas das respectivas sociedades. De facto, os 
casamentos são prescritos geralmente pelas normas do local onde se 
realizam, desde que um dosmembros seja nativo. Excluem-se os 
casamentos exóticos. 
A Aliança Matrimonial condiciona processos de filiação, de 
residência, de apelido, de herança de atitudes e é a base da procriação 
legítima no grupo conjugal. A Aliança Matrimonial condiciona o 
estatuto dos novos esposos e a criação de laços jurídicos, sociais e 
económicos. 
A escolha de cônjuge não é aleatória. Participam alguns princípios 
como a origem, as qualidades, a identidade social, para além de que 
esperam se negociações nas famílias dos dois parceiros. Tais 
princípios são tomados em consideração porque um laço matrimonial, 
envolve questões como a idade, o sexo, grau parentesco dos esposos, 
prazo de viuvez, ou o respeito de certos interditos. Por ex. apesar de 
actualmente ocorrerem casamentos homossexuais, em alguns países, 
geralmente são privilegiados os de natureza heterossexual, isto é, que 
resultam da relação entre o homem e a mulher. Assim, os tipos e 
sistemas matrimoniais guiam-se na base da endogamia (Matrimónio 
dentro), que prescreve a escolha do cônjuge do interior de um 
determinado grupo e da exogamia (Matrimónio fora), que proíbe o 
casamento dentro de determinados grupos, ou seja o casamento entre 
parentes do primeiro grau, uma prática que normalmente é proibida 
praticamente em todas as sociedades. 
A escolha de um cônjuge opera-se por ordem decrescente segundo os 
critérios seguintes: No interior da etnia (Etnocentrismo); Exogamia 
(Fora do grupo de Parentesco, que na verdade tem sido um dos 
grandes critérios), afinidade e harmonia das idades. Por isso, existem 
várias formas de casamentos, sendo impossível considerar uma única 
forma de valores universais. Contudo, entre as variadíssimas formas e 
normas existentes, pertence sempre o facto de a comunhão ser 
socialmente reconhecido e regulado. 
Atendendo a escolha dos nubentes, o casamento pode ser: Livre, 
quando os nubentes tem plena liberdade na escolha do seu parceiro; 
 
 Antropologia do desporto 84 
 
Preferencial, quando apenas se considerar aconselhável que o 
individuo dispoe uma determinada pessoa ou entre as pessoas de uma 
determinada categoria social; Prescrito ou Compulsório, quando a 
pessoa ao nascer fica comprometida a um futuro marido ou esposa. 
Assim, pode ser a hipergamia, que é a preferência matrimonial 
concedida por uma mulher a um cônjuge de um estatuto e de condição 
de economia superior; A hipogamia, que é a preferência matrimonial 
concedida por uma mulher a um cônjuge de estatuto e de condição 
económica superior; A hipogamia, casamento em que as mulheres de 
sangue real são coagidas a casar com um cônjuge de estatuto inferior e 
a homogamia ou isogamia, a escolha do cônjuge em meio social, 
geográfico e cultural idêntico ao seu próprio meio. 
Nas práticas de casamento existem as formas de trocas de mulheres 
entre grupos sociais ou no interior de um grupo social. Ocorre por ex. 
que pode haver um casamento preferencial, especialmente entre os 
primos cruzados. Nas vezes em que de grupo para grupo uma mulher é 
dada por troca com outra mulher fala-se de troca directa. É um 
casamento prescrito, como o é, entre os primos cruzados. Mas quando 
uma mulher é compensada por um símbolo reconhecido ou dote. (Por 
ex. vaca, soma de dinheiro), a troca é indirecta. O dote simboliza a 
aliança dos clãs, a troca dos valores, mas também uma indemnização 
pela privação dos serviços agrícolas e caseiro que a filha 
desempenharia caso ficasse com eles ou um direito de apropriação de 
uma filha, o preço de cedência de um poder legal sobre esta. 
Há casos particulares de casamento, por herança, como o livirato, uma 
prática segundo a qual a viúva se casa com um irmão do falecido e 
sororato, em que o viúvo se obriga a casar com uma irmã solteira da 
esposa falecida. 
Os casamentos segundo o número de parceiros, podem ser 
monogâmicos e poligâmicos. Nos casamentos monogâmicos ocorre a 
união matrimonial de um só homem e uma só mulher, representada 
pela fórmula estrutural diádica, О=∆. Destes casamentos resultam 
famílias monogâmicas. Nos casamentos poligâmicos, os cônjuges 
podem ter mais parceiros. Neste caso há a poliginia, quando são 
envolvidos mais mulheres, isto é, quando um homem se casa com 
 
 Antropologia do desporto 85 
 
muitas mulheres e a poliandria, quando uma mulher se casa com mais 
de um homem, contudo, a polagimia é um dos casos mais frequentes. 
De um modo geral, o casamento tem uma função social, quer como 
base de manutenção do grupo social, apesar da procriação quer pela 
manutenção de alianças entre grupos familiares, tendo por isso uma 
função comunitária. Geralmente o casamento dissolve-se por duas 
vias: Por morte de um dos membros, ou pelo divorcio que, por sua 
vez, pode resultar de vários factores: Infertilidade de um dos membros, 
infidelidade, contradições entre os membros, maus tratos, concubinato, 
etc. 
 
 
Os agrupamentos locais e residenciais são unidades funcionais que 
definem a circulação de membros, quer masculinos quer femininos, no 
interior de uma comunidade. O estabelecimento de um casal é objecto 
de regra. Existem vários tipos de residência. Por ex. a residência 
unipolar pode ser definida pelas residências: patrilocal, virilocal, 
matrilocal e uxorilocal. 
É residência patrilocal, quando o casal vive nas terras ou na 
proximidade do grupo do marido. Em Moçambique é característica nas 
comunidades de filiação patrilinear. É virilocal, quando o casal se 
estabelece nas terras não do grupo do marido, mas nas terras próprias 
do marido e pode ser num sistema patrilinear ou matrilinear. De um 
modo geral, os filhos, estando sob o controle do pai, a transmissão da 
herança e a sucessão, na presença de um pressuposto de transmissão 
de um poder político é feita de pai para o filho. O pai é o responsável 
pela transmissão dos rendimentos sociais do grupo ou da educação aos 
filhos, controlando nas famílias migradas por largos tempos ou 
definitivamente. 
É residência matrilocal quando o casal se instala junto dos pais da 
esposa. Geralmente é a avô materna que controla o grupo doméstico. É 
uxorilocal, quando o casal se estabelece em casa da esposa. Quando a 
residência é do mesmo tipo de filiação, por ex. filiação matrilinear e 
 
 Antropologia do desporto 86 
 
residência matrilocal, o regime é dito harmónico. Os homens, apesar 
de saírem dos seus grupos domésticos, deslocam-se frequentemente 
para a povoação da sua mãe. Geralmente apesar de não ser posto de 
lado o papel da mulher, já que ela detém o papel espiritual, a execução 
deste cabe aos irmãos da mãe de um determinado Ego. É Por causa 
disso que há um papel muito forte dos tios maternos, os quais 
controlam a circulação dos sobrinhos uterinos. O poder passa, dessa 
forma, do tio materno ao sobrinho. Entretanto, quer no sistema de 
parentesco e de residência matrilocal ou patrilocal, essa residência tem 
recaído, preferencialmente, nos primogénitos, não obstante existirem 
certas especificidades locais, familiares ou ocasionais. 
Se uma residência unilocal admite o estabelecimento do domicílio ou 
do lado do marido ou da mulher, isto é, deixa a escolha dos cônjuges, 
chama-se bilocal e ambilocal. Mas ela pode ser alertada, se primeiro é 
patrilocal e depois matrilocal, ou o inverso. Mas também pode ser 
duolocal ou natolocal, quando os cônjuges podem, em certas ocasiões, 
residir separadamente, com a sua família. Ela tem geralmente um 
carácter temporário, quando, por ex. o novo casal se encontra a criar 
condições para o seu estabelecimento, ou quando a mulher recebe 
assistência da casa da mãe, durante um parto, período durante o qual, o 
homem visita várias vezes a sua esposa. 
Há vezes em que o par conjugal vai viver em casa do irmão da mãe do 
marido. Neste caso chama residência avuncular. Mas pode ser que a 
escolha do local onde o local se irá se estabelecer seja feita fora da 
decisãodos pais do cônjuge, como nas zonas industrializadas. Neste 
caso temos, temos o caso da residência neolocal. 
 
Sistemas de Atitudes 
Entre os membros de um determinado grupo social são determinados 
certos comportamentos que regem a relação entre os seus 
componentes. Existem por ex. normas de comportamentos entre o tio 
materno e o sobrinho. 
O sobrinho deve obediência e profundo respeito ao tio e às vezes, este 
importuna o sobrinho. Mas é necessário situar essas relações não só ao 
 
 Antropologia do desporto 87 
 
nível destes dois membros, pois envolve o irmão da mãe, a própria 
mãe, o cunhado e o sobrinho. 
Um outro sistema de comportamento situa-se ao nível dos sogros e 
genros, ou entre parentes aliados, como por ex. o gracejo. Muitas 
destas normas circunscrevem-se num respeito ou par inibir tensões 
potenciais entre os membros envolvidos. Existem outras normas de 
comportamento ou sistemas de atitudes, como é o caso de gracejo em 
que os comportamentos se transpõem ao nível da entreajuda ou 
assistência recíproca entre os membros em todas as ocasiões. 
 
Sumário 
O Parentesco é um sistema simbólico de dominação das posições 
relativas aos laços de descendência e de afinidade. O Parentesco é 
definido em referência a um indivíduo (Ego). Mesmo variando de uma 
sociedade para outra e com o tempo, o parentesco continua a definir as 
relações sociais e as normas de comportamento. Se nos primórdios 
envolvia apenas aspectos de consanguinidade, hoje ele alarga-se 
também adopção e os outros critérios. 
A Parentela e a Família Nuclear tornam o Parentesco operatório e 
funcional. É dentro da Parentela e da Família Nuclear que se define os 
parentes próximos e mais distantes. O Parentesco pode ser alargado ou 
restrito, em função das teias de relações que comportam. É na Família 
que se fundam relações tipicamente Humanas e ela desempenha 
diversos papéis, como o de reprodução, socialização, económica e 
religiosa. 
O parentesco pode ser formado por via da consanguinidade, da 
adopção e por aliança. Por isso nem sempre é fácil distinguir a origem 
da Parentela a partir da designação do parente. Na essência existem 
dois sistemas de parentesco: Descritivo e Parentesco. 
A Antropologia usa um conjunto de símbolos para representar ou 
esquematizar o Parentesco. Uma outra forma é o uso de abreviaturas 
para designar os parentes. Estes são geralmente identificados pela 
primeira letra de uma língua dada. 
 
 Antropologia do desporto 88 
 
A Filiação é uma das bases de transmissão do Parentesco. A Filiação 
pode ser unilinear (Patrilinear ou agnática e matrilinear), Bilinear e 
Indiferenciada. 
O Ego é o elemento chave na identificação de parentes. Entre os 
parentes existem os directos, (Consanguíneos), os paralelos e os 
cruzados. Entretanto por uma questão operatória, só a mãe ou o pai é 
que dão a pertença ao Clã. 
A excepção do exotismo e desde que um membro seja nativo, os 
casamentos são prescritos geralmente pelas normas do local onde este 
se realiza. A escolha do cônjuge depende da identidade social, 
questões do sexo, grau de parentesco dos esposos, prazo de viuvez ou 
o respeito de certos interditos. Eles guiam-se ainda pela endogamia, e 
exogamia. De acordo com a forma, ele pode ser livre, preferencial, 
(Hipergamia, hipogamia, homogamia ou isogamia), prescrito ou 
compulsória. Há também os casamentos por herança, (Liverato, e o 
sororato). 
 
Finalmente, segundo o número de pessoas envolvidas, pode ser 
monogâmico e poligâmico (Poliginia e a poliandria). 
Os agrupamentos residenciais são unidades funcionais que 
definem a circulação de membros. O estabelecimento de um 
casal é objecto de regra, podendo ser patrilocal, virilocal, 
matrilocal, e uxorilocal.A residência pode ser ainda bilocal ou 
ainda ambilocal, Duolocal ou natolocal e avunculocal. 
Geralmente nesses grupos residenciais estabelecem-se 
comportamentos que regem a relação entre os seus membros, 
são os sistemas de atitudes, como as que existem entre o tio 
materno e o sobrinho, sogros, e genros, ou entre parentes 
aliados, como por ex. o gracejo. 
 
Exercício 5 
 
1. Identifique a primeira base de referência de um indivíduo. 
2. Como se designa o individuo de referencia num sistema de 
Parentesco. 
3. Porquê é difícil definir um Parentesco. 
4. Qual é a importância social do Parentesco. 
5. Diferencie Parentesco do Parentela. 
6. Que tipo de família predomina na área de residência. 
 
 Antropologia do desporto 89 
 
7. Que funções desempenham a Família na sua área Cultural. 
8. Partindo do seu grupo familiar, identifique os parentes de 
linha Recta e da linha Colateral. 
9. Identifique na sua zona de residência, as bases de 
emergência de parentes por adopção. (Antes do estudante 
responder a esta questão, precisa de fazer uma pesquisa no 
meio em que vive). 
10. Qual é o sistema de Parentesco dominante na sua área de 
residência? Porquê? 
11. Represente um diagrama onde haja um homem com duas 
esposas e com uma filha na segunda esposa. 
12. Repita o mesmo exercício, mas com as seguintes 
situações: Um divórcio no primeiro casamento e dois 
filhos, cujo sexo não se conhece perfeitamente, no 
segundo casamento. 
13. Qual é o tipo de Filiação da sua zona de residência. 
14. Apresente o esquema de Parentesco. 
15. Identifique os grupos de Parentesco. 
16. Elabore a sua árvore genealógica. 
17. Depois de se informar, caracterize o casamento da sua área 
de residência, assinalando o (os) fundamento (os) do 
mesmo (s): 
a) Livre, prescrito ou compulsório, hipergâmico, 
hipogâmico, homogâmico ou isogâmico, preferencial, 
por compensação nupcial, por levirato e sororato; 
monogâmico; poligâmico. 
b) Quais os motivos que determinam a existência do tipo 
de casamento que identificou anteriormente. 
c) Na sua área de residência, ocorre o último tipo do 
casamento identificado na questão anterior. Que tipo. 
18. Identifique as características residenciais da área cultural 
em que se encontra a viver. 
19. Partindo da realidade de Moçambique, identifique e 
demarque as características residenciais mais dominantes do País. 
20. Que importância tem o sistema de atitudes num grupo 
social dado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 90 
 
Unidade nº 6 
Cultura do simbólico, 
ideologias e o papel da 
religião tradicional em Africa 
e em Mocambique 
Depois de ter feito o contacto com aspectos relacionados com os 
pressupostos da emergência da Antropologia e das teorias 
subsequentes, com as características da Cultura, com a cultura 
material, e finalmente com o parentesco, é chegada a vez de ver 
o simbolismo que existe no interior de toda a acção humana, 
quer na produção material, ou no parentesco, nesta unidade você 
vai aprender o que existe do lado imaterial dos homens, desde o 
conjunto de ideias, símbolos, crenças, religiões, etc. 
Ao completares esta unidade / lição será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer a natureza simbólica da Cultura Humana; 
 Distinguir a Religião da Magia; 
 Saber como a ideologia é veiculado dentro de uma comunidade; 
 Caracterizar a prática religiosa tradicional em África e em 
Moçambique; 
 
 
 
 
Terminologia 
 
A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: 
AD-Antropologia do desporto 
 
 
 Antropologia do desporto 91 
 
 
 
Se você for a fazer uma leitura sobre todos os povos vai notar 
que eles têm um conjunto de ideias que se relacionam com a 
cosmovisão ou então existe uma crença sobre um mundo sobre 
natural, ou ainda que os homens estabelecem um relacionamento 
com o mundo invisível. Esse é o lado imaginário do homem, da 
cultura imaterial ou do aspecto ideológico, De facto, toda a 
sociedade humana tem, de certa forma, uma ligação com o 
sobrenatural ou com o imaginário que não se pode situar 
necessariamente ao nível do aspecto religioso. 
Por outro lado quando falamosdas características da cultura, 
vimos que uma delas é o seu carácter simbólico, isto é, que para 
alem de ser material, envolvendo artefactos e objectos, ela 
também comporta uma parte mental, resultante da actividade 
psíquica, quer nos seus aspectos cognitivos, afectivos, 
significados, valores e normas. Contudo, estes dois lados da 
cultura agem de forma recíproca, dado que, como defende 
Maurice Godelier, o material da cultura pode se simbolizar e o 
simbólico da cultura se pode materializar. 
Esse mundo simbólico precisa de ser descodificado pelo facto de 
os símbolos formarem um sistema específico, porque transmite 
mensagens difíceis de captar a primeira vista. Assim, a 
compreensão da cultura dos homens depende da percepção dos 
símbolos, dado que estes tocam a cultura e a sociedade na sua 
globalidade. Por isso, alguns estudiosos consideram o homem 
como ‘Animal simbólico’ e, outros autores, indicam ser difícil 
separar as duas partes. Neste sentido, integram o simbolismo: A 
linguagem verbal, os ritos, as instituições culturais, as relações e 
os costumes, etc. Um ex. prático ao nível do simbólico em 
África é o totemismo. Este expressa um conjunto de seres 
animais e vegetais, usados para atribuir nome a um clã, passando 
a partir deste momento, a ser o nome pelo qual um determinado 
 
 Antropologia do desporto 92 
 
clã se identifica. Na sequência dessa prática, um clã X passa a 
evitar o contacto, principalmente por via de alimentação, com o 
animal ou a planta. 
Contudo, um dos elementos que integra a maior parte dos 
aspectos simbólicos é a religião. O discurso religioso procura 
abarcar a totalidade da experiência humana, ligando o material 
ao sobrenatural, o imanente ao transcendental, com o fim de 
classificar, ordenar, hierarquizar, construir uma moral e dar um 
sentido de á vida. A religião tende para a Metafísica, tendo como 
característica o sacrifício, supondo um intermediário de poderes 
sobrenaturais. 
Todas as religiões dividem o mundo em duas partes: Uma 
sagrada, que envolve objectos de culto, as pessoas do culto e os 
próprios seres cultuados e outra profana, respeitante ao comum, 
ao secular. 
Segundo Martinez, (200)), todas as religiões, das diferentes 
sociedades, tem funções semelhantes, como a essencialista, cujo 
objectivo é manter a identidade e a consistência da sociedade e a 
funcionalidade nos aspectos: Transcendental, na vinculação do 
Homem ao mundo transcendental, ao ser Supremo. Integrador, 
para manter o grupo social unido através da sua identidade 
cultural. Ético, cuja finalidade é de manter normas morais 
uniformes na sociedade e a Função psicológica como o objecto 
de manter o equilíbrio e a harmonia. E como acrescenta Riviére 
‘A pluralidade das religiões não autoriza de forma nenhuma, 
que se considere uma delas como a única verdadeira, não 
passando as outras de esboços ou similacres, apesar da nossa 
tendência para tratarmos como mitos e superstições as crenças 
a que nós não aderimos’. (Reviére, 2000). 
O discurso religioso faz-se de certa maneira parte da ideologia 
de um grupo social, esta definida como o conjunto das 
representações colectivas (Morais, filosóficas, religiosas…), 
através das quais os homens traduzem as suas condições reais de 
 
 Antropologia do desporto 93 
 
existência adoptadas por exprimirem os interesses, reais ou 
imaginários, de uma classe ou grupo social, (Clément e tal. 
1998). 
Geralmente a ideologia permite e garante a manutenção das 
relações sociais, dado que é através dela que estão prescritas, de 
forma subtíl, as relações baseadas numa força exterior, 
reguladoras das mesmas. 
 
O Mito designa ‘Um conjunto de actos repetitivos e codificados, 
por vezes, solenes, de ordem verbal, gestual ou de postura, com 
forte carga simbólica, fundado sobre a crença na força actuante 
de seres ou de poderes sagrados, com os quais o homem tenta 
comunicar, visando obter um determinado efeito’ (Reviére, 
2000, p.154). 
O Rito é endereçado a um ser sobrenatural, diferente dos demais 
e tem: Uma sequência de acções, representações, meios de 
comunicação, feitos por um pessoal especializado e meios reais 
e simbólicos. Assim envolve objectos, divindades, como as 
orações e oferendas, sacrifícios, pessoal como 
oficiantes/Médiums/Padres. 
Eles são feitos em lugares próprios ou habituais, como numa 
árvore, junto de nascentes de rios, nas bases de montanhas, numa 
igreja, em função da sociedade. O Rito religioso é público, 
colectivo e social. 
Por sua vez, o Mito, que se situa a nível da linguagem é formado 
por unidades constitutivas (Mitemas ou elementos míticos). 
Sobre o Mito, Lévi-Strauss desenvolveu um amplo estudo. O 
Mito permite interpretar, assim como estruturar os aspectos 
culturais e mesmo alguns procuram regular a vida de um grupo 
social. Os Mitos inserem aspectos cuja, explicação é vaga, 
imprecisa e não põe directamente em causa a funcionalidade de 
um grupo, mesmo que possa exercer influência sobre a mesma. 
 
 Antropologia do desporto 94 
 
O Mito refere-se a um tempo primordial, relatando 
acontecimentos, das origens. As personagens que aparecem nos 
mitos são seres sobrenaturais, protagonistas de uma actividade 
criadora, revelando-se no Mito a sacralidade das suas obras. 
Segundo Lévi-Straus, o mito pode expressar uma contradição 
impossível de resolver. No mesmo diapasão, para Copans e 
outros (1971,p.319), embora o Mito encontre as suas causas nas 
estruturas sociais, ele pertence a superstrutura, com a finalidade 
de atenuar contradições. Aponta ainda que toda a mitologia 
submete, domina as forças da natureza no campo da imaginação 
e dá-lhes forma, mas desaparece quando tais forças são 
dominadas realmente (Ibid, p.320). Assim, ao narrar realidades 
sobrenaturais, o Mito traduz-se numa história sacra. 
O Mito é uma história exemplar, dado que fornece modelos para 
a conduta humana, orientando o Homem no seu comportamento 
com respeito a Deus e aos outros seres. Porém, mesmo situando-
se neste nível, o Mito não é todo falso, dado que se refere a 
acontecimentos, com a criação do mundo, as origens da espécie 
humana, das coisas, como verdadeiros, como factos objectivos. 
Por isso, os Mitos têm as seguintes características: Tratam das 
origens, os seus protagonistas são os Seres Sobrenaturais, 
através deles entra-se em contacto com o sagrado, são 
transmitidos nos Ritos por especialistas indicados pelos grupos 
sociais. 
A Religião tradicional em África: (O culto aos antepassados, as 
crenças na magia e na feitiçaria, os ritos de possessão). 
 
 
A Religião Tradicional em Africa, envolve um conjunto de 
procedimentos, muitos deles diferentes nas religiões mais 
massificadas do Mundo: O Cristianismo, e o Islamismo ou 
outras que, mesmo ocupando um país ou uma região geográfica, 
 
 Antropologia do desporto 95 
 
são expressivas, como o Hinduísmo, O Budismo. É uma religião 
que crê no culto aos antepassados, pelos quais os vivos se 
endereçam ao Deus e esperam receber, deste, as boas graças, que 
podem passar pelos antepassados, ou podem ser ‘endereçadas’ 
directamente. 
Veja o esquema: 
 
 
 
 
 
Este culto resulta da crença numa segunda vida e da 
transformação dos mortos (Antepassados, um carácter atribuído 
a uma certa categoria de homens), em personalidades místicas de 
ordem superior, inferiores a Deus. Se de facto há uma crença de 
que os antepassados que tiveram uma óptima conduta em vida, 
tem a possibilidade de ter uma relação directa com Deus, 
podendo, para isso se constituir como um bom intermediário 
entre os vivos e Aquele. O culto é realizado por meio de 
oferendas, preces, que varia de um grupo social para outros. 
É uma religião que não tem calendário especificamente 
delimitado, podendo variar segundo o momento em que se 
manifesta o factor de referência para o culto. Por ex. a invocação 
de chuva só pode houver a escassezde chuva. Nos anos em que 
há abundância, esse processo não ocorre. Porém há períodos 
propícios para a sua ocorrência. Assim, é uma religião mais 
prática, que procura resolver os problemas que aparecem no 
quotidiano. 
O comportamento religioso, é às vezes, associado as forças 
malignas, influenciáveis por práticas específicas, como a magia. 
Deus 
Antepassado 
Vivos 
 
 Antropologia do desporto 96 
 
A Magia segundo Reviére (2000) ‘ É uma operação visando agir 
sobre a natureza por meios ocultos, que pressupõem a existência 
quer de espíritos, quer de forças imanentes e extraordinárias’. A 
magia é um ritual prático com finalidades maléficas ou 
benéficas. Embora assente em realidades sociais e de magia, 
diferentemente da religião, é, nos seus ritos, individual. 
Há situações em que a magia é comunitária e aceite pelo grupo, 
as vezes é considerada anti-social, põe em acção poderes 
externos manipulados pelos símbolos (Objectos, fórmulas, 
gestos), visando modificar o curso dos acontecimentos em favor 
de alguém e prejuízo do outro. A magia não se faz num templo 
ou no altar doméstico, mas às escondidas ou num lugar isolado, 
longe de grande público. Os actores envolvem-se em mistério. 
Uma outra acção que se situa a nível do espiritual é a feitiçaria, 
que é concebida como tendo em vista para prejudicar alguém. O 
acto é ofensivo, maléfico para um grupo social, ou para 
indivíduos. Ela pode influenciar-se para a manutenção da ordem 
social, na medida em que alimenta o receio de desvios e de 
tendências nocivas a sociedade. 
Essas práticas são concretizadas por actos repetitivos e 
codificados, de ordem verbal, gestual ou de postura, com forte 
carga simbólica-os Ritos. 
Com os ritos espera-se que uma força actuante de um poder 
sagrado, sobrenatural para a obtenção do efeito desejado. Um 
rito comporta uma sequência de acções, meios reais e 
simbólicos, representações, meios de comunicação. Em 
determinadas ocasiões, tais ritos são concretizados sob um 
estado de possessão, na qual ‘ Um indivíduo se considera estar 
sob o domínio de uma força sobrenatural, que o transforma num 
instrumento da sua vontade, quer com uma finalidade terapêutica 
pessoal, quer como mediação pelo possuído de uma mensagem 
 
 Antropologia do desporto 97 
 
divinatória para a sociedade’. (Reviére, 2000, p. 160). Nessa 
situação diz-se que a pessoa entrou em transe. 
As práticas religiosas tradicionais envolvem ainda a 
adivinhação, que serve para reduzir as incertezas quanto ao 
futuro de um indivíduo, projecto colectivo ou revelar desajustes 
existentes numa comunidade, visando moldar um novo 
comportamento. 
Um outro nível situa-se o tabu, que é um interdito sacralizado ou 
consagrado ou resulta do impuro. Acredita-se que a transgressão 
pode dar origem a uma desorde natural ou social. O tabu é 
definido por membros seniores de uma comunidade, fruto de 
interpretações de experiencias desagradáveis, de sonhos de 
visões, ou de mitos. 
O Poder e o Sagrado nas Formações Sociais, Tradicionais em 
Moçambique 
 O sagrado é a concepção de uma força misteriosa, fascinante, e 
temível, cujos atributos variam de um grupo social para o outro: 
Deus, antepassados, forças superiores, etc. Ele pode situar-se ao 
nível religioso e fora do religioso. No primeiro contexto é a 
força que garante a segurança e é uma totalidade que se 
responsabiliza por tudo que não somos responsáveis. Geralmente 
posiciona-se ao nível de impotência de explicar certos aspectos. 
Quanto ao segundo contexto fora da religiosidade, o sagrado 
pode situar-se ao nível do amor á Pátria, laços sagrados do 
casamento, respeitos sagrados, prescritos no interior de um 
grupo social, como entre pai e filho, genro-sogra, o sagrado é um 
dos contextos fundamentais da circulação do poder no interior 
dos grupos sociais tradicionais, incluindo as urbanas. Por ex. o 
amor de uma bandeira cujo simbolismo pode situar-se ao nível 
do sagrado, base de tarefa governamental em situações 
delicadas, só pelo facto de ter jurado a bandeira nacional até as 
últimas consequências. 
 
 Antropologia do desporto 98 
 
 
 
Após afirmação, no território que mais tarde será conhecido por 
Moçambique, do substrato social bantu e de outro grupos 
populacionais no resto da África, e a formação do respectivo 
universo religioso, houve durante o primeiro milénio e no 
período subsequente, a penetração de outros povos. A 
penetração mercantil europeia e asiática. 
Cada um destes povos trazia consigo seu universo religioso. Para 
além de indianos, chineses os árabes estiveram presentes. Estes 
últimos dominaram as trocas comerciais em longo tempo, 
influenciando o modo de vida local, desde a língua, a forma de 
traje e a religião. Com os árabes e os povos da costa oriental 
africana, foi introduzida a Religião Islâmica, cujos traços 
evidentes foram marcados a partir do séc. XIV a partir do séc. 
XVI surge o Cristianismo. 
A introdução do Islamismo e do Cristianismo em Moçambique, 
nem sempre foi negociada, houve a imposição dos dois créditos 
religiosos que já reclamavam um carácter universal profético e 
hegemónico. As duas religiões foram consideradas pelos 
respectivos povos como o factor ideológico. 
O primeiro impacto que ocorreu sobre as comunidades agrícolas 
foi a secundarização/marginalização das práticas religiosas 
locais, num projecto de uma aculturação programada directa ao 
subtil. 
O Cristianismo foi imposto até nas escolas, com as famosas 
catequeses. 
Não foi possível apagar tudo nas tradições religiosas locais. Os 
africanos resistiram sobre diversas formas tais como a integração 
parcial de alguns caracters das religiões imposta, Reviére (2000, 
 
 Antropologia do desporto 99 
 
p.158) ‘ É um processo contra-aculturativo que implica 
assimilação de mitos, empréstimo de mitos, associação de 
símbolos por vezes inversão semântica e reinterpretação de 
mensagens supostamente divinas’. As evidências indicam que 
com a emergência dessas práticas sincréticas, os africanos 
quiseram preservar esta relação com o sobrenatural, segundo os 
seus fundamentos de vida. 
 
 
Quando os africanos foram impostos novas religiões, 
procuraram, sempre que possível interpretá-las a sua maneira. 
Essa foi a razão da emergência dos sincretismos que vimos 
anteriormente. Na verdade o africano parece ter percebido que a 
sua sobrevivência passava pela criação de um imaginário 
comandado de dentro, mesmo tendo influência externa, tivesse 
influência local ou interna de um grupo social. Foi nesse período 
que emergiram os movimentos políticos religiosos em África. É 
que se designa por Cristianismo ‘Indígena’, como o Apostolowa 
Fe Dedefia Habobo (Sociedade de Revolução Apostólica) no 
Ghana, o Dini ya Nsmbwa Igreja dos antepassados) no Quénia, 
pássaro branco no Zimbabwe, Igreja dos negros no Congo, entre 
outras (Adu, p. 363-365). 
Todas essas igrejas têm uma base local e mesmo usando certas 
teorias então defendidas pelo cristianismo, visavam trazer 
benefícios ao povo local no interior de uma ordem já imposta ou 
estabelecida. 
A história africana testemunhou desde muito cedo nesta relação 
com as religiões externas, alguns movimentos religiosos, que 
com um impacto político visavam, preservar a estabilidade dos 
grupos sociais locais, no séc. XVII houve um movimento de 
‘(…) Kimpa vita (Dona Beatriz) que, africanizando o 
 
 Antropologia do desporto 100 
 
cristianismo anunciava a restauração do antigo reino do Congo e 
uma era de riquezas materiais e espirituais’ (Delumeau, 2002). 
No séc. XX desenvolveu-se o Kimbanguismo, no Congo que 
usando preceitos fundamentalmente cristãos, e a Bíblia, Simon 
Kimbangu, designou a sua aldeia ‘Nova Jerusalém’, processo 
que transformou a sua aldeia em local de peregrinação, 
transformou o seu povo em ‘povo eleito’ e paralelamente 
apostava a restauração da ordem local, que devia serconcretizada pala destruição do sistema colonial europeu. A sua 
expressão política entre as populações levou a sua transformação 
em movimento político, de que se apoiou Mobuto Sesse Sekou 
(Id) um dos ex. presidente do Zaire, actual República 
Democrática do Congo. 
Neste contexto, fala-se de igrejas separatistas ou independentes, 
‘(…) Que procuravam integrar uma parte importante das crenças 
e das práticas africanas na vida cristã (…), expressão do desejo 
dos africanos de encontrar um lugar onde se pudessem sentir em 
casa e incluir nações religiosas africanas nas liturgias cristãs’ 
(Boahen, p. 360). Na África do Sul existiram igrejas etiópicas, 
que defendiam direitos políticos dos africanos e o progresso 
autónomo da África. Assim em África os profetismos e os 
messianismos apresentam uma linguagem contraditória. 
 
 
Todas as sociedades humanas apresentam um lado simbólico na 
sua cultura. Um dos aspectos mais característicos da Cultura 
imaterial é a Religião, A qual procura abarcar a totalidade da 
experiência humana, ligando o material e o sobrenatural, com o 
fim de classificar, ordenar, hierarquizar, construir uma moral e 
dar um sentido á vida. Esta cultura simbólica ou imaterial 
veicula elementos agregadores num determinado grupo social. 
 
 Antropologia do desporto 101 
 
Os Ritos e os Mitos constituem as formas de transmissão e de 
exteriorização dos aspectos simbólicos da cultura humana. 
Enquanto os primeiros encerram o conjunto de regras pelas quais 
o Homem procura comunicar-se com o além, os segundo 
procuram explicar os primórdios da humanidade ou mesmo do 
universo, desse além. 
A Religião Tradicional Africana é fundamentalmente baseada no 
culto aos antepassados, que são os elos de ligação entre os vivos 
e os mortos. 
É uma Religião sem um calendário rígido, acompanhada pela 
prática da magia e adivinhação. Geralmente o sagrado está 
associado á transmissão do poder ou ao estabelecimento de 
regras ou prescrições que regulam a sociedade. 
A introdução de novas Religiões em África, onde anteriormente 
existiam religiões tradicionais trouxe um impacto sobre estas, 
através da sua marginalização e supressão. Alguns resistiram e 
adaptaram-se a nova realidade, tendo absorvido algumas práticas 
das religiões impostas. Surgiram daí os diversos sincretismos e 
religiosos. 
Para contrapor a ordem institucionalizada, alguns grupos sociais 
conheceram no seu interior a formação de movimentos políticos 
com uma base religiosa, como o cristianismo indígena, as igrejas 
separatistas ou independentes, que procuravam encontrar um 
espaço de manobra para a sua expressão cultural e política. 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 102 
 
Sumário 
A Religião Tradicional em Africa, envolve um conjunto de 
procedimentos, muitos deles diferentes nas religiões mais 
massificadas do Mundo: O Cristianismo, e o Islamismo ou 
outras que, mesmo ocupando um país ou uma região geográfica, 
são expressivas, como o Hinduísmo, O Budismo. É uma uma 
religião que crê no culto aos antepassados, pelos quais os vivos 
se endereçam ao Deus e esperam receber, deste, as boas graças, 
que podem passar pelos antepassados, ou podem ser 
‘endereçadas’ directamente. 
Exercício 6 
1. Onde se encontra, na essência, a diferença entre a cultura 
material e imaterial. 
2. Porquê se diz que o ser humano é por natureza 
‘simbólico’. 
3. Apresente o carácter universal da religião. 
4. A partir da sua área de residência, identifique os Ritos 
Religiosos praticados pela respectiva comunidade e os 
grupos praticantes. 
5. Procure encontrar a(s) versão (ões) da origem do Homem 
ou do universo nesses Ritos ou compare-as, se for o caso. 
6. As práticas religiosas africanas conhecem, em função do 
comportamento dos fenómenos naturais, 
descontinuidade. Justifique. 
7. Procure fazer o levantamento dos aspectos sagrados na 
sua área de residência. 
8. Que fundamentos foram capitalizados pelos povos 
estrangeiros na difusão dos seus credos religiosos. 
 
 Antropologia do desporto 103 
 
9. Defina, por suas palavras, Sincretismo Religioso. 
10. Na sua área de residência haverá indícios de integração 
de aspectos religiosos de um grupo exógeno. 
11. O que terá motivado a introdução das diferentes igrejas 
separatistas entre os nativos de várias regiões africanas. 
12. A partir da sua zona de origem, procure evidências de 
movimentos contestatários de origem religiosa, 
explicando como se circunscreveu esse processo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Antropologia do desporto 104 
 
Referência Biblográfica 
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 BERNARDI, Bernard. (1979). A Cultura das sociedades 
Humanas. 
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 BROWN, A.(1955) O estruturalismo. 
 COMTE, Augst, (1879) Estrutura orgânica das 
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 DA VINCI, Leonard, (1882). Estrutura do corpo 
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 DARWIN, Charles. (1882). A evolução das sociedades 
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 DURKHEIN, Émmilé. (1917). A escola sociológica 
Francesa. 
 KANT, Emmanuel. (1804). O entendimento constrói o 
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 MALINOWSKI, Brownislav. (1942) O Funcionalismo 
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 MARTINEZ, M.A. (2004). Construção da ciência 
Antropológica, 2004. 
 MARX, Karl.(1877) O materialismo cultural, a origem 
da família, a propriedade privada e o estado. 
 MORGAN, Lewis. (2003). Hipótese e a evolução 
cultural- Sistemas de parentesco. 
 PRITCHARD, Ernest. (1973). História da cultura 
Humana.

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