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Manual do Curso de Licenciatura em EF e Desporto Antropologia do desporto Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância Antropologia do desporto i Direitos de autor Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros) sem permissão expressa da entidade editora (Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais. dr.Dominigos Ernesto Dina Colaborador do Curso de Ed. Fisica - CED Docente: Mestre. Bridgette Simone Bruce Univesidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância 82-5018440 23-311718 82-4382930 Moçambique Fax: E-mail: eddistsofala@teledata.mz Website: www. ucm.mz mailto:eddistsofala@teledata.mz Antropologia do desporto ii Agradecimentos Agradeço a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância. Pelo meu envolvimento nas equipas do CED como Colaborador, na área de Educação Física e Desporto . À Coordenação do Curso de Educação Física e Desporto . Pela contribuição e enriquecimentos ao conteúdo A coordenadora: Mestre Bridgette Simone Bruce . Pela facilitação, orientação e prontidão durante a concepção do presente manual. Antropologia do desporto iii Visão geral 5 Bem vindo à Antropologia do desporto 4º Ano ............................................................... 5 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 5 Como está estruturado este módulo .................................................................................. 6 Ícones de actividade .......................................................................................................... 6 Habilidades de estudo ....................................................................................................... 7 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................. 7 Avaliação .......................................................................................................................... 8 Unidade nº 1 9 Generalidades .................................................................................................................... 9 Sumário ........................................................................................................................... 15 Exercícios 1 ..................................................................................................................... 15 Unidade nº 2 17 Antropológico (teorias/correntes antropológicos) .......................................................... 17 Sumário ........................................................................................................................... 31 Exercício 2 ...................................................................................................................... 32 Unidade nº 3 34 A Cultura ......................................................................................................................... 34 Sumário ........................................................................................................................... 57 Exercício 3 ...................................................................................................................... 58 Unidade nº 4 61 Cultura material .............................................................................................................. 61 Sumário ........................................................................................................................... 68 Exercício 4 ...................................................................................................................... 68 Unidade nº 5 70 O parentesco ................................................................................................................... 70 Sumário ........................................................................................................................... 87 Exercício 5 ...................................................................................................................... 88 Unidade nº 6 90 Cultura do simbólico, ideologias e o papel da religião tradicional em Africa e em Mocambique ................................................................................................................... 90 Sumário ......................................................................................................................... 102 Exercício 6 .................................................................................................................... 102 Antropologia do desporto 5 Visão geral Bem vindo à Antropologia do desporto 4º Ano Pretendemos que este módulo seja um contributo para que os aprendentes adquiram um conhecimento aprofundado da Antropologia do Desporto. Quando terminares o estudo da Antropologia do Desporto 4º Ano, o formando será capaz de: Objectivos Saber o que é Antropologia Cultural, Conhecer os pressupostos da emergência da Antropologia Cultural Reconhecer o parentesco como um dos fundamentos da organização social entre os homens e, Conhecer as especificidades da Antropologia cultural em relação as outras Ciências Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para os estudantes do 4º ano do curso de Licenciatura em Educação Física e Desporto. A Cadeira Antropologia do desporto foi introduzida para os Formandos, que, na sua maioria, são já Professores do EP e/ou do ESG. Começa nestas Presenciais, para, segundo o seu propósito, desenvolver uma forma inovadora de estar e ser, conhecer e aplicar a mesma. Nesta cadeira vamos falar de uma forma geral da Antropologia do desporto , as carterísticas e princípios básicos da antropologia do desporto , objecto do estudo, sua importância na área do desporto Antropologia do desporto 6 Como está estruturado este módulo Todos os módulos dos cursos produzidos por CED - UCM encontram- se estruturados da seguinte maneira: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo do curso / módulo O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, e uma ou mais actividades para auto- avaliação. Outros recursos Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites na internet. Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções para completá-las. Estes elementos encontram-se no final do módulo. Comentários e sugestões Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestõese fazer comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Antropologia do desporto 7 Habilidades de estudo Caro Estudante, antes de mais o ensino à distância requer de ti uma grande responsabilidade, ou seja, é necessário que tenhas interesse em estudar, porque o teu estudo é ‘auto-didáctico’. Entretanto, vezes há em que te acharás possuidor de muito tempo, enquanto, na verdade, é preciso saber gerí-lo de modo que tenhas em tempo útil as fichas informactivas lidas e os exercícios do módulo resolvidos, evitando que os entregues fora de tempo exigido. Precisa de apoio? Há exercícios que o caro estudante não poderá resolver sozinho, neste caso contacte o tutor, via telefone, escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor, contacte-o pessoalmente. Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante terá a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação, em caso de problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar dúvidas, tratar questões administractivas, entre outras. O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-se mutuamente, reflictam sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências. Tarefas (avaliação e auto- avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período presencial. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Antropologia do desporto 8 Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos aos tutores/docentes da cadeira em questão. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio deve ser evitado. A avaliação da cadeira será controlada da seguinte maneira: Avaliação Os exames são realizados no final da cadeira e os trabalhos marcados em cada sessão têm peso de uma avaliação, o que adicionado os dois pode-se determinar a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 (dois) testes e 1 (um) exame. Antropologia do desporto 9 Unidade nº 1 Generalidades A disciplina de Antropologia do desporto terás noções fundamentais da mesma que te ajudarão a compreender a natureza da referida disciplina, em relação as outras ciências, isto é, peculiaridade, do seu objecto de estudo, os seus métodos fundamentais e a relação com as outras Ciências. Ao completares esta unidade / lição será capaz de: Objectivos Saber o que é Antropologia Cultural, Conhecer os pressupostos da emergência da Antropologia Cultural Reconhecer o parentesco como um dos fundamentos da organização social entre os homens e, Conhecer as especificidades da Antropologia cultural em relação as outras Ciências Terminologia A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: EF - Educação Física Antropologia Representa uma nova e última etapa da síntese e comparação. Ela apoia se nas investigações da Etnologia e da Etnografia. A Antropologia oriunda de um reconhecimento da diversidade das sociedades, dos grupos e das culturas, aspira com a Antropologia ao nível da generalização. Objectivo da Antropologia Cultural e Social: A disciplina visa atingir um conhecimento global do homem. Antropologia do desporto 10 Objecto de estudo: Ela aborda toda a extensão biológica, social, histórica e geográfica do homem, aspirando a um conhecimento aplicável ao conjunto do desenvolvimento humano. Sobre o objecto de estudo, ainda há vários equívocos, o que é típico de uma Ciência social nova. P. Armando Ribeiro (1998,p. 8), ` Ele diz que é a Ciência do homem como ser cultural, entendendo como Cultura o conjunto das tradições. Bernardo Bernardi (1978, p. 19), ´Antropologia é o significado e a estrutura da vida do homem como expressão da sua actividade mental.´ A ciência vem de um período muito recente da evolução do conhecimento humano, remontando ao período moderno Europeu. A Antropologia, só veio a emergir no séc. XIX até princípios do séc. XX, o termo Antropologia servia para designar a Ciência que actualmente se chama Antropologia Física, porém a definição vem mais adiante. Recentemente ela tende a significar o reconhecimento das propriedades gerais da vida social e das diversas sociedades humanas. Para isso, cobre um grande número das ciências que estudam o homem, tais como: Antropologia Política, Psicanalítica, Económica, Aplicada, a Etnografia, a Etnologia, certos aspectos da Linguística, a Arqueologia, Pré- história, etc. Cada um destes ramos tem tarefas específicas mais que concorrem para explicar o homem na sua complexidade. Antropologia Física: Tem por objecto o estudo de certas características biológicas do homem, as questões da raça, da hereditariedade, da nutrição, da diferenciação de sexos, etc. Compreende, entre outras a Anatomia Comparada, fisiologia Comparada e a patologia Comparada. Antropologia Social: Ocupa-se mais particularmente em estabelecer leis gerais da vida em sociedade que sejam válidas tanto nas sociedades tradicionais como nas industrializadas modernas. Procura aprender sobre as sociedades quanto ao seu funcionamento e aos seus actos. Antropologia do desporto 11 Antropologia Cultural: Dedica se a problemas de relativismo cultural (Investigação da originalidade de cada cultura), do estudo das relações que se estabelecem entre os diferentes níveis numa dada sociedade e do fenómeno da transmissão da cultura. Antropologia Cultural apenas aprenderia a sociedade nas suas obras e não nos seus actos e no seu funcionamento. Antropologia Política: Fala sobre os problemas do poder da autoridade, chefia do governo, etc; Assuntos que deram lugar a numerosas especulações filosóficas (Sobre a origem e a natureza do estado, o aparecimento do direito). Antropologia Aplicada: Faz a utilização prática das teorias e dos resultados do inquérito etnográfico, tendo em vista manipular as sociedades com o objectivo, quer de as administrar ( Como é o caso da política colonial, da assimilação, aculturação ´Forçada´), quer de as ajudar a a daptar se a sociedade etnológica moderna(Como é o caso da aculturação ´Planificada´, política de integração), ou o desenvolvimento de uma originalidade cultural(Procura de um sincretismo). Antropologia Psicanalítica: Refere o estudo de sonhos, mitos, contos, na análise de jogos, cerimónias, das práticas mágicas,de certos aspectos da vida quotidiana, das técnicas de educar. Antropologia Económica: Interessa se pelas condições da produção material, as trocas, os direitos sobre os objectos, as formas de utilização dos produtos, englobando os aspectos da ecologia e tecnológica. A Antropologia já definiu o seu objectivo ao procurar atingir um conhecimento global do homem, abarcando as dimensões físicas, culturais, históricas e geográficas. Aspira ainda a um conhecimento aplicável a um conjunto de conhecimentos aplicável ao conjunto de desenvolvimento humano, desde a grande cidade moderna á mais pequena tribo. A Antropologia para desenvolver o seu objecto de estudo, necessita de um apoio de outras Ciências. De facto nenhuma Ciência é capaz de se prover sozinha. É daí que surgem as relações entre Antropologia e as outras Ciências do homem. Assim, a Antropologia tem uma relação privilegiada com a Sociologia, a História, a Economia, a Geografia, a Psicanálise. Antropologia do desporto 12 Antropologia= Discurso sobre a (Ciência) do homem. Sociologia= Discurso sobre a (Ciência) da Sociedade. Antropologia procura a explicação dos fenómenos sociais e culturais na lógica do observador (Ciência do observado), a Sociologia, procura a análise do ponto de vista da própria sociedade á qual pertence o cientista (Ciência do observador). O Antropólogo distancia se da realidade institucional para construir progressivamente a sua problemática analítica á medida que vai descobrindo o princípio de organização da sociedade estudada. O Sociólogo parte de hipóteses já elaboradas e fundadas, geralmente sobre pré- construções analíticas ou instituições, procurando, em seguida, aferí-las por inquéritos no terreno. Contudo, elas cruzam se, quer no uso de métodos, como nos próprios objectos. Por acaso há homens que vivem sem sociedades e há sociedades sem os homens entanto que indivíduos? O historiador distancia se do seu objecto de estudo pelo tempo. Distancia se assim dos valores e categorias da sua própria sociedade para melhor compreender, interpretar o `Passado.´ Pelo seu lado o Antropólogo `acantona´ o discurso de uma comunidade sobre ela mesma para melhor a compreender. O olhar da história e da Antropologia leva a ver o outro como ele se vê, e, através deste olhar, procura ver e compreender essa sociedade global. Como pode observar, há uma convergência, na medida em que as duas disciplinas ocupam se da alteridade, isto é, do outro ponto para que Antropologia consiga obter a dimensão temporal dos acontecimentos, logicamente a história prestar-se-á na primeira linha. Relação entre Antropologia e a Psicanálise Quer Antropologia quer a Psicanálise insistem entre o conteúdo latente, o implícito e o explicito, e na necessidade de ultrapassar o `Sintoma, descodificando–o e dando lhe forma. As duas ciências são marcadas pela alteridade. O Antropólogo tenta reconhecer e analisar o `Pensamento `, do outro para se situar o seu próprio pensamento. O Psicanalista tenta descodificar o Antropologia do desporto 13 discurso do outro em se mesmo`Super Ego`, o outro na sua origem e em relação ao qual se determina. Um método, em ciência, pode ser entendido como o caminho ou estratégias usadas para atingir um determinado objectivo. Todas as Ciências, quer Sociais, Humanas ou Naturais, possuem um método que as caracteriza e as distingue das outras. A Antropologia tem seus métodos privilegiados tais como: O histórico, o Estatístico, o Etnográfico, o Comparativo ou Etnográfico, o Monográfico, o Genealógico, entre outros. O método histórico é usado na pesquisa dos eventos através do tempo, para compreender as diversas transformações ocorridas numa determinada cultura. O método estatístico é empregue para apresentar a variabilidade dos aspectos estudados antropologicamente, tanto biológico, cultural e que possibilitem a aferência da diversidade biológica ou cultural como por ex. a variação das dimensões do corpo ou das regiões. O método Etnográfico é usado na análise descritiva das sociedades humanas, ao passo que o método Etnológico ou comparativo visa aferir as diferenças e as semelhanças apresentadas por um material de referência de diferentes meios culturais ou de diferentes tempos culturais. O método monográfico, ou estudo de caso, é usado para estudar, em profundidade, um determinado grupo humano em todas suas dimensões. O método genealógico é usado fundamentalmente no estudo do parentesco e todas as suas implicações sociais, políticas, culturais, como por ex. o impacto do parentesco no ordenamento territorial, residencial ou político dos membros de um grupo social. A sua principal técnica é a observação participante, pois que é acompanhada por outras técnicas como a entrevista (Dirigida e não dirigida), os formulários e os questionários. Pelo lugar central da observação participante, passa a descrever se com alguma profundidade. Antropologia do desporto 14 A observação participante: Tal como você viu na definição do objecto de estudo, a Antropologia visa conhecer pequenas realidades. A observação participante visa conhecer estas pequenas unidades sociais, pelas quais se tenta elaborar uma síntese mais geral, apreendendo a partir de um certo ponto de vista a totalidade da sociedade. Nas unidades sociais mais pequenas ou comunidades, em geral, as relações sociais, que tem uma certa coerência interna nos aspectos cultural, económico, social, religioso, etc. São directamente observáveis pelo investigador. Você já imaginou, entre procurar uma resposta numa multidão e numa pessoa, onde você teria um interlocutor válido, mais objectivo? É o mesmo que ocorre na pesquisa Antropológica. Dado que é impraticável estudar grandes superfícies para apreender o essencial, o Antropólogo para observar a sociedade global parte destes grupos restritos. Com a observação participante o Antropólogo aprende as unidades sociais restritas simultaneamente de dentro e de fora nas suas especificidades e nos seus elementos comuns em relação a sociedade global. Assim, a observação participante permite extrapolar o global a partir do local. As relações internas postas em evidência são feitas no quadro do sócio- cultural e económica global. Contudo, esta técnica, a observação participante tem especificidade de considerar, pois ela tem um carácter: (1) Interdisciplinar (Na medida em que, Antropologia para explicar seu objecto de estudo procura o apoio de outras ciências sociais e das técnicas das mesmas); (2) Comparativo (Só se estabelecem regularidade, depois de comparadas a realidade estudada com outras realidades conhecidas); (3) Histórico (Que provém do facto na apreensão da realidade social ser necessário cruzar os acontecimentos transversais ou sincrónico e os acontecimentos longitudinais ou diacrónicos); e (4) Holístico (Já que a compreensão do facto social é possível estudando o nas suas variadas dimensões, isto é de forma integral). Antropologia do desporto 15 Sumário A Antropologia constrói se considerando três etapas hierárquicas, começando pela observação, descrição, síntese e generalização. Na essência, tudo deve ser depois interpretado no âmbito do plano geral da humanidade. A Antropologia geral é complexa. Envolve um conjunto de especializações que engloba aspectos de natureza física, eminentemente social, mais também os aspectos que abarcam facetas da vida humana, como a sua intervenção na natureza, as suas relações com o mundo oculto. A interdisciplinaridade resume a relação que a Antropologia tem com outras ciências Sociais e Humanas, dado que ela não pode explicar isoladamente o homem. Essas relações são recíprocas, em virtude de todas as ciências Sociais serem marcadas pelo estudo de outrasrealidades. A Antropologia, tendo como objectivo apreender as especificidades duma cultura, tem como o método fundamental a observação participante. Na elaboração do seu objecto deve considerar a integralidade dos factos sociais (Aplicando o holismo), de que nenhuma ciência é autónoma (A interdisciplinaridade), de toda a manifestação de um facto social tem correspondente em outros grupos sociais (A comparação) e que é necessário atender a temporalidade dos factos sociais (Aplicando se o método histórico). Exercícios 1 1. Se alguém lhe solicitar a caracterização acima em epígrafe da última etapa, que conceito usarias? 2. Com base em outros autores, apresenta um outro ponto de vista sobre o objecto de estudo de Antropologia Cultural e Social. 3. Porquê se houve a necessidade da emergência de muitos ramos da Antropologia. 4. Qual das subdisciplinas Antropológicas devia ser catalizada para estudar: 5. Todas ciências Sociais são Antropológicas. Concorda com a afirmação? Fundamente. Antropologia do desporto 16 6. Porquê o método Antropológico toma como objecto de investigação unidades sociais mais pequenas. 7. Em que reside a peculiaridade do método Antropológico (A observação participante) em relação a observação conduzida nas outras Ciências (Por exemplo como a observação das paisagens). 8. Enumere as características do método Antropológico. Antropologia do desporto 17 Unidade nº 2 Antropológico (teorias/correntes antropológicos) Nesta unidade terá a ocasião de estudar a história da Antropologia sócio-cultural e as teorias da Antropologia, bem como as críticas da Antropologia em África e, em particular, em Moçambique. Terá ainda a ocasião de conhecer conceitos básicos das teorias-correntes da Antropologia, nomeadamente os conceitos de evolução, difusão, função e estrutura. Ao completares esta unidade / lição será capaz de: Objectivos Conhecer as teorias | correntes da Antropologia cultural; Conhecer as teorias/ correntes da Antropologia cultural; Conhecer a história da Antropologia, que começa com a própria cultura da humanidade; Conhecer os conceitos: Evolucionismo, Difusionismo, Funcionalismo e Estruturalismo; Distinguir as teses de cada uma das teorias/ correntes; Explicar as verdadeiras razões históricas do surgimento da Antropologia Cultural; Reflectir sobre os pressupostos da Antropologia expressas no período de formação; Analisar a situação da Antropologia em África e, em particular de Moçambique, durante o domínio colonial. Antropologia do desporto 18 Terminologia A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: AP-Antropologia do desporto Neste tema aborda a história da Antropologia, a discussão centra se nas diferentes contribuições dos cientistas sociais de vários países e escolas, o que convencionou chamar se por correntes, para a emergência da Antropologia. Segundo MARTINEZ (2004), o conhecimento dos rumos seguidos nos estudos da Antropologia tem como determinantes, por um lado o critério objectivo, pelo qual se avalia ‘ A consistência das orientações teóricas e a legitimidade metodológica das mesmas’; Por outro lado o critério subjectivo, que permite ‘Avaliar os motivos que levaram determinados autores a enveredar por um determinado caminho e as razões do seu sucesso ou rejeição’ (p. 55) e, finalmente, o critério de utilidade, que procura ‘Discutir a orientação teórica em razão da sua possível aplicação’. A Antropologia sendo como uma ciência recente, ela forma se como tal só no séc. XIX e desde aí, a disciplina passou a conhecer várias orientações conhecendo avanços e recuos. Contudo, por uma questão metodológica e para a identificação das abordagens teóricas, vamos avançar com uma sistematização dos diferentes pensamentos que, enquadrados no tempo, esboçam um itinerário, isto é, a história da Antropologia. Entretanto, será difícil dar um levantamento completo de todas as contribuições, porque elas vieram de todos os cantos e de todos os períodos. Antropologia do desporto 19 A emergência da Antropologia coincide com as primeiras reflexões do homem sobre se e sobre a natureza, o cosmos ou o universo. Uma parte desse conjunto de reflexões chegou aos nossos dia por via de lendas e mitos. É o período que Paul MERCIER, indica como sendo de ‘Antropologia espontânea’ ou o período da pré-história da Antropologia. As contribuições deste período são de diversa natureza e origens: Ícones, arte parietal (Pinturas rupestres), artes móveis (Esculturas), manuscritos dos primeiros povos com escrita (Babilónios, Egípcios, Hindus, Fenícios, entre outros). Segundo MELLO (2005, p.180-185), a contribuição Greco- Romana na formação da Antropologia, foi enorme, com os trabalhos de Heródoto, um dos notáveis viajantes e narrador das terras visitadas; Platão (A cidade ideal); Aristóteles (Concepções teóricas a cerca do estado); Sócrates (Com a crítica a sociedade) (Grécia) e Lucrécio (Que fala do homem primitivo, César, Tácito, Galeno, Marco Aurélio (Roma). Apesar de, como você aprendeu na história, ser considerado como um período de retrocesso, tais contribuições continuaram na idade média com Santo Agostinho (A cidade de Deus), Avicena (Defende a invariabilidade das formas), Averois (Com o evolucionismo) e Bacon (Uso de método experimental). As contribuições circunscreveram se mais na conservação dos escritos, tradução dos sistemas de pensamento de outros povos e na preparação da universidade. Viagens e descrições foram também feitas pelo Árabes Ibn Khaldum (Séc. XIV). No Conjunto destas contribuições, Martinez (2004, p.56), aponta que, com o renascimento Europeu e com as viagens de exploração, houve grandes contactos que deram origens a tratados. Surgiram tratados acerca das afinidades e diferenças entre os homens e seus mundos sociais e culturais. Por ex. MONTAIGNE, um francês publica seus ensaios (1580), que nos transmitem contacto entre os povos onde questionam o etnocentrismo e faz a análise comparativa das sociedades. Ainda segundo Martinez (Id), o tempo moderno, dominado pelo Antropologia do desporto 20 iluminismo ou o culto a razão empresta um antropocentrismo base para o estudo dos factos tipicamente humano. As maiores contribuições ocorrem no séc. XVIII, Com Emmanuel Kant (1724- 1804), que, com o seu pensamento, ‘(…) influenciou os vários ramos da ciência. Ele ensina que o entendimento constrói o seu objecto, pelo que os fenómenos giram em torno da razão’. Você lembra se das ditas viagens de ‘Descobrimento’ europeu aprendidas na história iniciadas no fim do séc. XV e que continuaram a se multiplicar a partir do séc. XVI? As viagens e os contactos que se multiplicaram para todos cantos da terra foram acompanhados pela produção de relatórios que, mais tarde, serviram de documentos essenciais para a produção Antropológica. De facto, os estudiosos começam a dispor de Maios material Antropológico para a sua pesquisa. Ocorrem ainda estudo do corpo humano com Leonardo da Vinci (1452- 1518), no seu aspecto morfológico Dúrer (1514- 1574), nas medidas cranianas; Vessálius, com as lições de autonomia e Lineu com a classificação das raças. No séc. XIX dá se a primeira descoberta do homem fóssil. No seu conjunto, todos esses aspectos deram subsídios para a emergência da Antropologia física, que conhecera a sua fundação no mesmo séc. por Johann Blumembach (MELLO, 2005, p. 198-190). Antes ou depois vieram ainda contribuições das missões científicas mais organizadas e sistematizadas de naturalistas, geográficos, humanistas, que tinham como objectivo principal colher informações e fazer observações. Contam se os exemplos de A. Bering (Nordesteda Ásia); Cook (Oceânia) e as viagens posteriores a organização African Association, pela Grã- Bretanha, (1788), para interior da Àfrica um contributo significativo resultou ainda da sociedade Etnológica de Paris (França), que lançou ‘L`Instuction genérale aux Vovageurs’, espécie de orientação para a recolha de dados. O maior repertório documental existente, o avanço de técnicas induziu a especialização, possibilitando a emergência da Antropologia Cultural, da pré- história e da Arqueologia. Lançava se uma nova disciplina no conhecimento humano. Antropologia do desporto 21 PERÍODO DE CONVERGÊNCIA E DE CONSTRUÇÃO: Mesmo existindo um grande fervor científico durante o séc. XIX e a Antropologia atender para várias interpretações, ela parece ter procurado definir se a volta do paradigma característico da época, o da evolução cujos nomes sonantes do período foram: Charles DARWIN (1809- 1882), Edward TYLOR (1871), Herbet SPENCER, Augusto COMTE, Matthew ARNORD (1879). De facto, a Antropologia não fugiu esse pensamento que dominava entre o segundo quartel e finais do séc. XIX, o qual veio, de certa forma definir a unidade da Antropologia. Por isso, mesmo que alguns autores se tenham recusado no evolucionismo, este constituiu o pensamento dominante da época. Por isso diz se que foi o período da CONVERGÊNCIA. Segundo MARTINEZ (2004), as várias formulações sobre as sociedades e as culturas convergiram para três objectivos comuns: Origem, idade e a mudança. Apareceram no mesmo período revistas de algumas associações científicas, como a revista americana Current Anthropolgy, a britânica Man e a francesa L’Home, bem como sociedades de Antropologia em Gottingen, Cracóvia, Madrid, Nova Iorque, Berlim, Viena e Estocolmo. Segundo Mello (2000), tais sociedades eram científicos humanitárias e os Antropólogos eram considerados ‘Amigos dos povos primitivos’. A teoria evolucionista alcança as suas feições definitivas com o aparecimento da obra de Charles DARWIN sobre a evolução,’A Origem das espécies’. Edward TYLOR veio aplicar essa teoria na Antropologia, dando o arranque da Antropologia moderna, isto é, o arranque da fase da construção da Antropologia. De facto, foi este que lançou a Antropologia Cultural, cujo marco foi a publicação por TYLOR da ‘Cultura primitiva’, em 1871. Lewis MORGAN publica na mesma altura (1877) ‘ A Sociedade Primitiva’, procurando discutir a organização da família pelos diversos estágios de desenvolvimento, isto é, no contesto de evolução (Ibid, p. 193). Antropologia do desporto 22 Apesar de ter existido diversas contribuições como as de: Adolf BASTIAN (1826- 1905), médico viajante e Antropólogo, que rejeitando os particularismos do corpo e alma do romantismo defendeu a unidade do pensamento humano; Jacob BACHOFEN (1815-1887), jurista e Antropólogo Alemão, com trabalhos comparativos sobre a mitologia e o parentesco; Summer MAINE, que via na família patriarcal a base da unidade da organização social; Mc Lennan, que lançou a ideia da noção do paralelismo e tentou interpretar vários costumes primitivos, TYLOR foi o expoente dessas contribuições ao definir o conceito de cultura e a coloca - lá como objecto da Antropologia. Por outro, Lewis MORGAN introduz o esquema da evolução: Selvageria, barbárie e civilização, FRAZER preocupa se com o estudo do fenómeno religioso (Id). EVOLUCIONISMO CULTURAL O Evolucionismo deriva do tempo ‘Evolução’. O Evolucionismo cultural surgiu com a emergência da própria Antropologia Cultural no séc. XIX. Contudo, a ideia da evolução surgiu na antiguidade clássica quando os pensadores se preocuparam com o problema da origem do Homem e do Universo, como no génesis, nos textos das civilizações mesopotâmicas, nos poemas épicos da Índia, entre outras narrações. Pode se confirmar isso a partir da Bíblia. O Evolucionismo estabeleceu se como corrente na segunda metade do séc. XIX, apesar de ter, as suas bases fundadas em dois séc. procedentes concretamente na ideia de progresso das civilizações, expressas por Condorcet e no Iluminismo. O séc. XIX conheceu largas transformações sociais, mais também o progresso ficou demonstrado pela Revolução Industrial, pela explosão do modo de vida urbano, que indicavam a capacidade evolutiva do homem. Como defende Martinez (2004, p. 60), o gérmen das teorias Evolucionistas alcançou o seu auge neste séc. Antropologia do desporto 23 em virtude de haver manifestação de confiança dos estudiosos na capacidade do homem de fazer uma história cada vez mais grandiosa. A teoria Evolucionista apoiar-se-ia no transformismo de Lamark identificado como fundador da teoria da Evolução e nas ideias de Charles DARWIN sistematizadas na ‘A origem das espécies’. Edward TYLOR ao sistematizar o estudo da cultura seria considerado o pai da Antropologia. Em 1971 publica o seu livro Primitive Culture (Cultura Primitiva). Onde propôs outra sequência para o desenvolvimento religioso no Homem: Animismo, que segundo ele teria sido o primeiro estágio; O Feiticismo, o Politeísmo e o Monoteísmo, como a última fase segundo Bernardi (1878, p. 177), com ela estão impregnados aspectos que constituiriam centrais nos estudos Antropológicos, como a integração étnica, estrutura e função, relativismo cultural, o indivíduo e a comunidade. As contribuições de Lewis MORGAN (1875), publicou o livro Ancient Society, este pesquisador ocupou se do estudo da organização social. Segundo Bernardi (Ibid, p. 179) MORGAN fez um estudo científico e sistemático do parentesco como fundamento necessário da organização social e política. James FRAZER é outro clássico deste período. Defendia que todas as sociedades passavam por três estádios: Mágico, religioso e científico. Ele usou largamente o método comparativo dos seus estudos, que se declinavam sobre a magia, o totenismo e a exogamia. Um dos aspectos dominantes dos Evolucionistas foi conceber a sucessão dos estágios de desenvolvimento como característico nos humanos e verem a cultura como aspecto tipicamente de Antropologia do desporto 24 todos os grupos humanos. Segundo eles as mudanças culturais resultavam da dinâmica natural e não dependiam do ambiente e da história. De modo geral, os evolucionistas debruçaram se sobre temas religiosos, familiares, jurídicos e aspectos da cultura material, isto é, o objecto de estudo era diversificado. Tais temas eram vistos segundo uma evolução universal e unilinear. O ‘Exótico’ e os povos ‘Primitivo’ constituíam o centro dos estudos, cuja razão era encontrada nesse processo evolutivo. Na interpretação das instituições sociais, os evolucionistas ‘ (…) acreditavam que, voltando os olhos ao passado teriam subsídios para determinar como a história da cultura humana se comportaria’(MELLO,2005). Os evolucionistas introduziram um tempo cultural como uma nova dimensão cultural. Esta foi a outra característica do evolucionismo. Finalmente, o uso alargado do método comparativo, constituiu uma das características dos evolucionistas. Contudo, o facto de não haver um grande rigor, na aplicação desse método, a falta de crítica das fontes e a ausência de trabalho de campo pesaram muito no enfraquecimento desta corrente. Por outro, as dúvidas repousam sobre os factores da evolução cultural ao indicar aspectos subjectivos de carácter psicobiológico. O DIFUSIONISMO O Difusionismo centra se na difusão e no contacto entre os povos como factor da dinâmica cultural, que é conhecido como fenómeno histórico para explicar a semelhança existente entre as diferentes culturas particulares. É por causa disso que também se chama historicismo (Mello, 2005,). O Difusionismo congrega várias escolasou tendência da Antropologia Cultural: O Difusionismo Inglês, Alemão, ou escola de Viena e escola ou Difusionismo Americano. O Difusionismo, difundido entre Antropologia do desporto 25 1900-1930 está dentro do período da crítica, de que falaremos posteriormente. Diferentemente do Evolucionismo, preocupa se pelo rigor na pesquisa, tendo, por isso desenvolvido um trabalho de campo com a recolha de dados e posterior a elaboração teórica. A observação participante foi privilegiada como uma das técnicas de pesquisa e, ao mesmo tempo, foi incrementado a Linguística. Por isso a Etnografia conheceu uma afirmação com o Difusionismo. Foram também privilegiados estudos das culturas particulares dando maior segurança nas afirmações e um maior conhecimento de fenómenos antes relegados a um segundo plano (Ib, p.224). A Escola Inglesa Surgida na segunda década do séc. XX a Escola Inglesa teve como estudiosos Grafton Elliot SMITH e o seu discípulo, W. J. PERRY, que veio a implantar definitivamente a Escola. SMITH introduziu o fenómeno do paralelismo cultural, daí que o fundamento da escola foi de defender a difusão como principal motor da dinâmica cultural. Foi levada a isso talvez ao verificar quão difícil é a inovação de novos valores culturais. Para esta escola a cultura de todo mundo moderno era basicamente a mesma por conta da difusão (Teoria pan-egípcia), ficou conhecida por seu método científico e por sua especulação fantasiosa. Os pontos fracos desta escola foram: A manipulação de informações inseguras e duvidosas; Falta de rigor cronológico dos acontecimentos e os grandes radicalismos a considerar o Difusionismo como única base da explicação das semelhanças culturais existentes entre diferentes grupos. Antropologia do desporto 26 Difusionismo de Viena (O Difusionismo Alemão) Esta escola teve como precursores GREABNER, um dos seus principais fundadores, RATZEL, FROBBENIUS, W FOY, F. SCHMIDT(2001). É a escola também designada como histórico- cultural. Quanto a metodologia privilegia o uso de informações seguras, tendo sido, por isso uma das contribuições desta escola para a Antropologia. Grabner defendia que na analise da difusão cultural era necessário ter em conta o número e a complexidade, onde ‘(…) quanto maior for o número de semelhanças, maior são as probabilidades de ter sucedido empréstimos’ (Mello, 2005).Tanto estes, como os ingleses, o seu trabalho é basicamente o de gabinete e neste contexto aproximavam se dos evolucionistas. A Escola/ o Difusionismo Americano O principal defensor desta Escola foi Franz Boas. Seguiram lhe, segundo Martinez, Krober, Wissler, P. Radin, Sapir, Benedict e Mead(2004). Tendo como objecto a cultura universal, a principal característica foi de ter optado pelo estudo de áreas culturais muito pequenas, por considerarem a cultura complexa e ser, segundo eles difícil conhece-la completamente. O trabalho de campo foi pouco privilegiado, alias tal como ocorria com as outras escolas. O Funcionalismo O Funcionalismo é uma corrente fundada por Bronislaw Malinowski, a partir de 1914. Esta corrente teve a sua maior influência entre 1930- 1940. Querendo ultrapassar as tendências dominantes na época (Preocupações pela origem e pelos problemas das transformações sócio- culturais), o Funcionalismo tenta explicar o funcionamento de uma cultura num determinado momento. As noções de utilidade (Para que serve?), de Antropologia do desporto 27 causalidade (Qual é a razão?) e de sistemas (Conhecimento da interdependência dos elementos num conjunto coerente), determinaram a emergência desta corrente. Vários foram os representantes da corrente funcionalista: H. Spencer, via a função como a finalidade procurada intencionalmente; E. Durkhei, defendia a função ‘ Como a causa eficiente dos processos sociais de adaptação, de organização e de integração’ (Riviere, 2000). Segundo Durkheim, os factos sociais são regras de comportamento, normas, padrões de valores, expectativa que a sociedade tem dos seus membros. A pessoa se encontra num mundo onde existem certas regras e onde ela sofre se as viola. E essa realidade ocorre no seu meio de residência, não é verdade? A.R. Radcliffe-Brown era de opinião de que a função pode contribuir na contribuição e na noção de um conjunto, mas não predetermina a instituição que a realiza. Interessa se pelos sistemas de relações entre homens e grupos. Uma das principais críticas desta corrente reside no facto de não explicar a génese e as transformações de uma cultura ou organização. Contudo foi Malinowiski em 1985 quem revolucionou a investigação, com o privilegiou o inquérito do campo e a elaboração do método de observação-participante. Ele definiu a cultura como ‘’aparelho instrumental que permite ao homem resolver da melhor maneira os problemas concretos e específicos que deve enfrentar no seu meio, quando tem de satisfazer ás suas necessidades ‘’ (Id). Segundo ele, se a cultura é um mundo artificial criado pelo homem, é também uma extensão do mundo natural, dado que a satisfação das necessidades orgânicas ou básicas do homem resulta das condições impostas a cada cultura. Antropologia do desporto 28 A solução desses problemas cria como um novo ambiente que permanentemente reproduzido, mantido e administrado cria um novo padrão de vida (Martinez, 2004). Como modelo de análise para o trabalho de campo, Malinowski(1985) elegeu a instituição. MA, que para ele era constituída pelos seguintes elementos: Estatuto pessoal, normas, aparelhagem material, actividades, função, os tipos instituicionais, de acordo com Malinowski, eram classificados segundo o princípio de integração, como a família, a aldeia, grupos por sexo, por idades e sociedades secretas, etc. Estruturalismo Embora possa ser integrado na Escola Funcionalista. Alfred R. Radcliffe-Brown, é um dos mentores do Estruturalismo. Ele define estrutura como a disposição ordenada das partes ou elementos que compõem um todo. Num sentido lato, a estrutura associa sistemas, como parentesco, a religião, a política, mas num sentido restrito põe em relevo a rede de relações entre as posições sociais. É o sistema simbólico das relações constantes entre os factos. A análise utilizada pelo Estruturalismo apresenta se como uma análise sincrónica, sem considerar a dialéctica que existe no desenrolar da história. Claude Lévi- Strauss acentua o valor de signo e de símbolo dos elementos singulares e a constância das suas relações mútuas. Por ex. sobre o parentesco, analisa-o como um sistema de comunicação e de trocas entre estatutos e papeis sociais, de acordo com um princípio de reciprocidade, que consiste em se interditar o parente próximo para o trocar por um cônjuge proveniente de outro grupo. Uma estrutura oferece um carácter de sistema. Ela consiste em elementos tais que uma modificação qualquer de um deles acarreta uma modificação de todos outros. Antropologia do desporto 29 Em segundo lugar, todo o modelo pertence a um grupo de transformações, cada uma das quais corresponde a um modelo da mesma família, de modo que o conjunto destas transformações constitui um grupo de modelos. Em terceiro lugar, as propriedades indicadas acima permitem prever de que modo reagirá o modelo, em caso de modificação de um dos seus elementos. Em fim, o modelo deve ser construído de tal modo que o seu funcionamento possa explicar todos os factos observados. Assim, segundo Claude Lévi- Strauss, a estrutura é um tipo de formalização que se adapta a um conteúdo variado. Depois da emergência da Antropologia como ciência, ela viu-se envolvida, quase em simultâneo, em críticas, em torno da sua essência. Por isso, pode dizer-se que a Antropologia conhece a primeira crítica internamente.As diferentes correntes que se sucederam podem ser postas nesse nível de crítica da Antropologia, já que nos primórdios do séc. XX os estudos passaram a apresentar novas direcções, relativamente distantes da teoria evolucionista. De facto, a partir dessa altura passaram a ser criticados os princípios iniciais da Antropologia, foram propostas novas abordagens, condicionando a formulação da Antropologia Cultural. Em consequência o objecto inicial seria formulado e haveria o enriquecimento da Antropologia, por ex. com a integração de estudos psicológicos, linguísticos, com a pesquisa do campo. James Franzer (1854- 1941), avançou com resultados comparativos das sociedades; Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955) e Bronislaw Manlinowski (1884-1942) desenvolveram intensos ‘trabalhos de campo’. Este último veio a ser o mais metódico pesquisador de campo, mais Antropologia do desporto 30 privilegiado na Antropologia Moderna. Edward Evans-Pritchard (1902-1973), importante sociólogo, se interessou pelo estudo das dinâmicas sociais, conflitos e mudanças culturais. O sociólogo francês Émille Durkhein (1858-1917), mesmo servindo-se da sociologia, procurou encontrar explicação científica da acção social e política, apresentando a religião como factor integrador fundamental da sociedade. Os seus estudos tiveram um cariz etnológico. Este contributo foi acrescido por Marcel Mauss (1872-1952), seu discípulo, que apesar de ser também sociólogo, formou a primeira geração de antropólogos franceses. Este promoveu o surgimento da Antropologia Contemporânea francesa ao dar maior ênfase a um ‘trabalho de campo’ directo, prolongado e sistemático. Publicou um manual de Etnografia, em 1947. Franz Boas (1858-1942), fundou a tradição antropológica americana, no fim do séc. XIX, defendendo, contrariamente aos evolucionistas, o recurso rigoroso á historia. A geração posterior de Antropólogos, formada entre outros, por Abraham Kardiner, Margareth Mead e Ralph Linton, seguiu a corrente culturalista, que explorou as dimensões inconscientes da civilização ″A personalidade individual em relação as práticas do corpo, a relação corporal de feminidade e a masculinidade e seus papeis sociais, a relação entre culturas″, (Martinez, 2004, p. 59). A partir dos anos 50 do séc. XX, a Antropologia segue uma trajectória complexa sob a influencia de Edward Evans-Pritchard (1902-1973), Claude Lévi-Strauss (1908…), e de autores contemporâneos como Mary DOUGLAS, manifestando um interesse pela história e a mudança, conflitos das dinâmicas sociais. Nas gerações dos anos 70-80, do séc. XX dá-se também um interesse pelas representações e crenças, pela ideologia e as relações de produção, pela organização social e o parentesco, Antropologia do desporto 31 pelos mitos e os sistemas de pensamento e pelo simbolismo (Id.). A Antropologia passou a estudar não só o exótico, o primitivo, mas também aspectos culturais do mundo ocidental. Assim a área de estudo passou a constituir não o ‘Outro’ geográfico ou histórico, para ser o ‘outro’ em relação ao pesquisador. Mas essa critica terá surgido de fora da Antropologia, quando, como aponta Mello, (2005, p.195) os povos que antes eram apenas objecto de estudo dos europeus e norte –americanos, como os africanos, os asiáticos e os latino-americanos, começaram a cultivar também estudos antropológicos. Actualmente ocorre a reinterpretação ou reavaliação da Antropologia Cultural, segundo perspectivas elaboradas internamente e não pela alteridade do europeu. Esperam se ainda estudos sistemáticos tipicamente novos, como o estudo da cultura popular, o folclore, da globalização, da vida urbana, etc. Dessa forma, a Antropologia libertou-se do servilismo colonial. Sumário Para a emergência da Antropologia jogou papel importante as contribuições de vários povos, períodos e individualidades, contudo, apesar de existirem subsídios importantes para o seu estabelecimento como ciência, a disciplina veio a conhecer a cientificidade, só no séc. XIX, mercê dos grandes contactos á escala planetária dos três séculos imediatamente precedentes e da insaciável busca dos conhecimentos das outras realidades geográficas, históricas, culturais então imprimida durante o período moderno europeu. Com a formação da Antropologia, apesar de terem existido várias tendências nos estudos Antropológicos, o pensamento Antropologia do desporto 32 mais comum regia se pelo evolucionismo que então era dominante na época. Contudo, foi no interior dessa tendência que se afirmou (Construiu-se) a Antropologia Cultural, com Edward Tylor. Após a emergência da Antropologia como ciência desenvolveram se diversas correntes que, de certa forma, espelharam as várias concepções do que devia estudar esse ramo de conhecimento humano. Assim, seguiram se várias posições como a dos Evolucionistas, dos Difusionistas, dos Funcionalistas e dos Estruturalistas. Apesar das divergências nos procedimentos centraram se no estudo do Homem como um ser cultural. Desde da emergência da Antropologia que ela passou a confrontar-se com várias críticas quanto a sua orientação. Tais críticas ajudaram na reformulação da Antropologia Cultural, a qual passou a ser uma disciplina não só de povos exóticos, mas também de todos os grupos populacionais. Face a essa crítica, a Antropologia estabeleceu-se como uma ciência de facto. Exercício 2 1. A formação da Antropologia resultou de vários contributos em diferentes períodos históricos. Identifique os diferentes períodos e os representantes de cada um deles. 2. Que pressupostos existiam já no séc. XIX para a emergência da Antropologia. 3. Porquê é que foi a Antropologia física aquela que se notabilizou em primeiro. 4. Porquê o séc. XIX é chamado Período de Convergência. 5. Qual é a natureza dos estudos Antropológicos dominantes a partir do segundo quartil do séc. XIX. 6. Em que consistia o período de construção da Antropologia Cultural. Antropologia do desporto 33 7. Sobre as teorias Antropológicas quanto a sua orientação, em que se fundamenta cada uma das teorias expostas. 8. Procure encontrar, em cada uma das teorias, o conceito fundamental e a significação nas teorias elaboradas a cerca da cultura humana. 9. Em que contribuíram as críticas feitas a Antropologia. 10. Depois deste estudo é capaz de indicar alguns estudos antropológicos em Moçambique em particular do período colonial? Antropologia do desporto 34 Unidade nº 3 A Cultura Nesta unidade você vai aprender aspectos relacionados com a Cultura Humana, tocando um dos conceitos largamente usados e, frequentemente, de forma distorcida, aliás esta unidade é de capital importância em virtude de ser aqui onde pode ser entendida toda a natureza do ser Humano. Ao completares esta unidade / lição será capaz de: Objectivos Conhecer o conceito de cultura Identificar os elementos de cultura Reconhecer o nível de cultura Conhecer a natureza da cultura; .Conhecer o conceito antropológico de Cultura; Distinguir as diferentes características de Cultura; Explicar a unidade e a diversidade da Cultura; Conhecer os factores sincrónicos e diacrónicos da Cultura; Saber identificar os aspectos que derivam o uso inadequado dos conceitos ligados á diversidade cultural Terminologia A terminologia que vai usar nesta unidade é a seguinte: AD-Antropologia do desporto Antropologia do desporto 35 O termo Cultura tem múltiplas aplicações e foi usado em diferentes épocas e sentidos, tal como ocorre na fase actual. É usado em várias ciências, desde das físicas às sociais. Mesmo Antropologia. O seuuso conheceu vários significados nas diferentes escolas ou correntes. Contudo, o termo tem a sua origem do Grego para significar cultivar. O termo Cultura teve sua definição antropológica clássica com Edward Tylor. Segundo este, a Cultura é ‘Complexo unitário que incluiu o conhecimento as crenças, a arte, a moral, as leis e todas as outras capacidades hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade’ (Bernardi, 1978). Há ainda quem entende cultura como ‘Uma estrutura de significados, transmitido historicamente, encarnado simbolicamente, para comunicar desenvolver o conhecimento humano e as atitudes para com a vida, uma lógica informal na vida real e do sentido comum de uma sociedade, que funciona também como controlo’ (Martinez, 2004). Várias definições existem que não seriam esgotadas neste módulo. Traremos ainda, mais do que uma definição uma caracterização da própria cultura, dada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Segundo esta organização a cultura é ‘ Um conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afectivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Ela abrange além da arte e das letras os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, e sistemas de valores, as tradições e as crenças. A cultura dá ao homem a capacidade de reflexão sobre se mesmo. A cultura faz de nós seres especificamente humano, crítico e eticamente comprometido. Através da cultura discernimos os valores e fazemos opções por meio dela a pessoa se expressa, toma consciência de se, se reconhece como projecto inacabado, põe em questão as suas realizações, procura descobrir novos significados e cria obras que o transcendem’ (Ibid, p.24). Antropologia do desporto 36 Como pode ver, os três conceitos põem em relevo: O carácter humano da cultura, o facto de ela ser transmitida e adquirida de forma histórica pelo homem enquanto membros de um grupo social; Ter um carácter simbólico, característico de cada grupo humano; Ser um sistema completo; Que evolui etc. Assim, no seu sentido Antropológico, a cultura insere vários aspectos. Importa saber que a Cultura é um produto de actividade mental do Homem, está diferente da actividade animal pela sua codificação dentro de um grupo social. A sua transmissão é feita segundo regras pré-estabelecidas, de geração em geração, por um processo de socialização com agentes e instituições bem identificados. Tal como falou se da definição da própria cultura, esta envolve vários elementos tais como atitude, valores, conhecimentos, costumes. Contudo, é necessário dizer que a Cultura é uma totalidade e não um aspecto particular ou parcial da actividade mental ou de uma manifestação humana. Você não pode identificar, por ex. a simples forma de comer, como um padrão cultural, dado que esta é uma expressão cultural, integra num vasto complexo. Por detrás da forma de comer há outros significados ou a maneira como você e a sua comunidade pensam sobre a infância ou em relação ao papel e ao lugar da mulher, não é a mesma que as outras sociedades. O mesmo acontece com as crenças e todos os outros componentes culturais, tais como: Símbolos; Ideologia; Atitudes; Uso de um determinado complexo cultural. Todos estes elementos de cultura são aprendidos normativamente. A Cultura tem valores-chave ou essenciais, organizados num sistema. A conduta humana governa-se por padrões culturais, isto é, é a cultura que orienta a vida das pessoas. Quando na sua comunidade diz se que não falta isto ou aquilo porque as pessoas não admitem, é prova dessa orientação das pessoas pela cultura. Antropologia do desporto 37 Contudo, é necessário enfatizar que o comportamento individual apesar de estar sujeito a regras culturais, nem sempre segue o ditado ou as regras. Ai surge o que podemos chamar de: Níveis ideais de cultura (O que os indivíduos deveriam fazer ou o que dizem estar a fazer) e nível real da cultura (O que fazem realmente no seu comportamento observável). Mas nem por isso o nível ideal deixa de pertencer a realidade. Com esta realidade, a cultura mesmo na condição de normalizadora, pode ser a base de emergência de um conflito. De facto, sempre que as pessoas se sentem insatisfeitas sobre uma determinada conduta, elas violam-na. (Ex. Quando alguém ultrapassa a limitação de velocidade num determinado local). E esses atropelos existem na sua comunidade não é verdade? Ainda a cultura poder ser subjectiva, ao expressar o conjunto de valores, conhecimento e experiencias presentes nos indivíduos como membros de uma sociedade, isto é, quando ela é interpretada de forma individual e objectiva, quando o conjunto dos valores e significados é exteriorizado formando o património cultural de um povo. A Cultura apresenta várias características. Se por um lado há um mundo visível, palpável, constituído por artefactos, fazendo parte da cultura e do carácter material, por outro existe o invisível, expresso de forma simbólica. Assim, a outra natureza Assim, a outra natureza é o seu carácter simbólico. De facto, a acção humana está geralmente carregada de símbolos que reflectem acções, objectos, espaços, instituições, isto é, tudo o que está ligado ao homem. Um simples gesto pode significar algo, mas um mesmo gesto pode variar de um complexo cultural para o outro. Daí a necessidade de nem sempre ser tangível este mundo, precisando, por isso, de uma aprendizagem. O próprio símbolo, uma vez integrado num padrão cultural acaba desempenhando a função comunicativa entre os membros de um determinado grupo. Antropologia do desporto 38 Você já fez algo que não seja praticado por um outro ser humano? Ao reflectir vai notar que não há nada que você faça que não seja praticado por um ser humano ou pelo grupo social onde você se integra. É por causa disso que se diz que a Cultura é social, na medida em que ela se forma, se partilha e se transmite no interior de um grupo social e nunca em indivíduos em separado. Uma norma de comportamento só pode ser concebida como tal se envolver um grupo social determinado e localizável no espaço. É por causa disso que os processos de transmissão são também sociais, seja qual for a sociedade. Se olhar atentamente vai notar ainda que as práticas sociais e culturais são algo que duram no tempo. Nada é passageiro mesmo que varia a forma da sua manifestação. É por causa disso que se diz que a Cultura é estável. Mas também ela é dinâmica. A primeira vista parece haver uma contradição entre a estabilidade e o dinamismo. Mas eles estão intrinsecamente ligados. Normalmente cada grupo social procura preservar os valores que o tornam autêntico e diferente dos outros. Essa procura da demarcação espaço cultural leva, de certa maneira a uma estabilidade das normas que regem um determinado grupo. Hoje tem-se em Conte que este pressuposto, não pode ser visto como um bloqueio aos comportamentos de outras culturas dado que isso só podia significar, de certa maneira a exclusão cultural dos outros grupos e falta de uma comunicação intelectual. A Cultura é dinâmica, na medida em que está em constante transformação sempre que existir uma causa para o efeito. Essa dinâmica pode ser encontrada num interior de um grupo de pessoas ou no seu conjunto. Por ex. uma classe de idades ou uma faixa etária, segundo as sociedades tem um certo conjunto de normas, que vão sendo complementados a medida em que esse grupo passa para estágio superior mas com a própria dinâmica temporal, fruto da evolução material de uma sociedade ou da acção directa dos membros, de contactos com outros grupos, certos elementos que antes eram considerados integrantes podem ser excluídos. Ela transforma-se consciente ou inconscientemente. Antropologia do desporto 39 A culturaé também selectiva na medida em que integra os valores, códigos, sistemas que um determinado grupo acha pertinente. Assim, há uma avaliação inicial dos novos elementos que culminam com a aceitação ou rejeição dos mesmos numa cultura determinada. Essa selecção pode ocorrer ainda na sucessão das gerações. Muitas vezes, as novas gerações tem considerado algumas normas das gerações procedentes como ‘Fora da moda’. Contudo, quando os factores exógenos são fortes, persistentes ou põem em causa a sobrevivência de um grupo, pode ocorrer que haja uma integração de certos elementos novos sem a respectiva selecção. É isso que ocorre entre os países do ‘Terceiro mundo’ em relação aos das técnicas muito avançadas. A Cultura é universal, regional e local. É universal na medida em todo o ser humano é um ser cultural. Não há um homem que não tenha cultura. Os Universais Culturais, que você verá mais adiante, são o sinónimo dessa universalidade da Cultura, mesmo se saiba que a maneira de expressa-los é muitas vezes diferente. Essa diferença surge na resposta que cada grupo dá localmente a um certo impulso. Mas por outro, pode ser que haja certas práticas especificas de determinados locais, circunscritas em função todas as condições existentes ou criadas localmente. Nesse âmbito estar-se-á na presença de manifestações particulares da Cultura. Estamos a falar da manifestação regional ou local da Cultura. A Cultura é determinante e determinada: Se por um lado a Cultura é fruto da actividade mental do Homem, este acaba sendo o produto da Cultura. O Homem depois de nascer é circunscrito a um ambiente cultural regendo se por comportamentos e norma pré-estabelecidas. Contudo, isso não significa que este homem não tem algum papel na modificação desse mesmo ambiente na medida em que ele é um agente activo no interior do seu meio cultural, através de vários processos: Económico, politico, sociais, etc. Antropologia do desporto 40 Se concebermos o Homem como uma ciência distinta das demais espécies do reino animal, a sua particularidade será: O facto de ter se desligado de forma considerável da natureza, conseguir padronizar as aquisições materiais e transmiti-las num determinado contexto. Este aspecto é comum a todo o ser humano. Você pode observar ainda que, em todas as sociedades humanas, há estruturas mentais comuns a todos os indivíduos, estruturas organizacionais fundamentais comuns a todas as sociedades e a todas as culturas, mas ao mesmo tempo existem uma variedade de culturas e de sociedades. Assim, essa realidade leva-nos a dizer que todos os grupos humanos têm cultura, do mais pequeno ao mais complexo grupo que se começa. Você já viu que por onde anda todo o grupo humano tem alguns pontos tais como: - Uma linguagem padronizada, usada como veiculo de transmissão do que é legado pelos grupos predecessores; - Viver em grupos sociais definidos segundo determinadas regras como, por exemplo a família, mesmo que não implique e a organização familiar seja igual em todos os grupos sociai; - A prática de exogâmia e o tabu do incesto, ou melhor a proibição de casamento e da prática de relações sexuais entre parentes próximos; - O matrimónio, entendido como relação social estável duradoura, entre pessoas; - A divisão social do trabalho. Neste caso, poderíamos dizer que a Cultura é universal, porque seja para a sociedade fossem aplicados estes termos, iríamos encontrar a sua aplicabilidade estes traços culturais que existem em todas ou em quase todas as sociedades denominam se universais culturais. Os universais culturais têm a particularidade de distinguirem os seres humanos das outras espécies animais, isto é, são tipicamente manifestas pelo Homem. Contudo, se num sentido geral a Cultura é universal ao Homem, no seu sentido mais restrito ela descreve um Antropologia do desporto 41 conjunto de diferenças de um grupo humano específico em relação aos outros. De facto a Cultura ao ser partilhada pelas pessoas é feita em função dos membros de um grupo que vivem num determinado meio. A Cultura converte se, assim, num sinal de identidade grupal. Por ex. as mesmas práticas anteriormente indicadas como universais Culturais ao serem analisadas em função das diferentes áreas culturais tem manifestações díspares. Nesse caso falaríamos de diversidade cultural. A diversidade Cultural apareceu a partir do momento em que cada grupo social se adequa a um ambiente específico teve uma história particular ou conheceu um certo desenvolvimento diferente em relação aos outros grupos apresentados ou não. Você imagine, por ex. os grupos Bantu que migraram para a África Austral, se nos primórdios todos os Bantus eram caracterizados pela prática da actividade agrícola, as diversas migrações posteriores para os diferentes meios ecológicos levaram a uma certa diferenciação entre eles. Hoje individualizaram-se ao ponto de identificarem-se como diferentes uns dos outros. É nesta identificação de um grupo em relação aos outros, que emergem certos fenómenos ligados a diversidade cultural, como, por ex. o Etnocentrismo Cultural. O Etnocentrismo Cultural é a tendência para aplicar os próprios valores culturais no julgamento do comportamento e das crenças de pessoas de outras culturas. Quando um grupo cultural ‟X” diz que os membros da etnia ‟Y” alimentam se mal, Só pelo facto destes últimos comerem um alimento que não é característico desta zona do primeiro grupo, está-se em presença de um etnocentrismo cultural. Etnocentricamente, os indivíduos pensam que os seus costumes são os únicos e são correctos, apropriados e morais. As pessoas pensam que as suas normas representam a forma ‘Natural’ de comportamento, daí que os outros são julgados como negativos. As visões etnocêntricas entendem o comportamento diferente como estranho e ‘ Estranho’, mas também como inferior. O etnocentrismo é uma visão de acordo com a qual o próprio grupo é o centro de tudo: Todos os outros se medem por referência a ele. Cada grupo se alimenta o seu próprio orgulho e a sua própria vaidade, proclama a sua superioridade, exalta as suas próprias divindades e olha com desprezo para com os outros. O Antropologia do desporto 42 Etnocentrismo pode manifestar se em diferentes níveis: Aldeia, tribo, minoria étnica, área cultural. Com o Etnocentrismo surgiu o termo da alteridade, isto é, o outro, considerado como estranho a um determinado grupo de referência. Os sistemas coloniais usaram esta alteridade em função de dois pressupostos: Geográfico e Histórico. Desta forma, a noção de Cultura foi usada política e etnocentricamente para separar grupos humanos. De facto, foi com a colonização que surgiram os termos Grupos Étnicos ou Etnicidade. Um Grupo Étnico é definido por semelhanças entre os seus membros (Crenças, valores, hábitos, normas, substratos históricos comuns, etc.) e por diferenças em relação aos outros (Língua, religião, historia, Geografia, território, etc). Todos estes aspectos são referentes simbólicos que estão mais na mente das pessoas que na realidade objectiva. Pode existir sem ter um nível de consciência de identidade étnica. Desde a origem do Homem, as diferenças foram sempre demarcadas. Na fase primitiva podiam ser identificados os grupos humanos das savanas e das florestas densas. A história deixou exemplos concretos de delimitação de grupos sociais. Por exemplo, na Grécia antiga o ‘Éthnos’ era um conceito que definiu um grupo de pessoas diferentes do povo grego. Nesse caso o ‘Éthnos’ representava o ‘outro’, o ‘Estrangeiro’ ou o ‘Étnico’. Face ao ‘Éthnos’, existia o génos que queria dizer nós. Quando estes elementos que identificam são frequentemente usados, formam-se como estereótipos. Os estereótipos surgem para aprender a realidade organizando-a em categorias: Negros,brancos, os macuas, os mulatos e os Machel. Surgem da categoria social, como um processo de simplificação e sistematização da informação. Por acaso, nunca lhe ocorreu simplificar algo para uma fácil memorização? Os estereótipos também surgem por comparação social. Os estereótipos exageram as diferenças entre categorias, comparam e organizam a Antropologia do desporto 43 informação. Inventam-se diferenças para criar processos de identificação. Os estereótipos, podem surgir ainda por atribuição de características e determinadas categorias, gerando expectativas e condutas. Estes estereótipos são estruturas cognitivas partilhadas debaixo das quais estão sistemas de valores transmitidos pelos agentes da socialização (Família, escola, órgãos de comunicação social: Por ex. é noticia nos canais televisivos extra-africano, a fome, a seca, a nudez, as guerras em África). Estes estereótipos funcionam por meio de um favoritismo endogrupal. Geralmente valorizamos de modo positio o nosso grupo e desfavorecemos os outros. Acentua-se as diferenças intergrupais e reforçam-se as diferenças face aos pensados como ‘Outros’, por meio da homogeneidade interna exagerada, na procura de uma coesão interna. Com os estereótipos homogeneíam-se o outro grupo, separando os seus membros. Ex. Já ouviu falar por exemplo que ‘Todos os negros são iguais!’ Que o grupo ‟X” é avarento. Mas quantas vezes essa informação não refere a verdade! Neste caso, pode permitir rivalidade ou concorrências. Os estereótipos surgem na relação entre diferentes grupos, cuja finalidade é de inferiorizar os outros com aspectos negativos. Quando tal processo ocorre ao nível de um grupo étnico, estamos em presença de um Etnocentrismo. O Etnocentrismo é concebido como sendo o uso da própria cultura como base de aplicações ou de descrição da cultura de outros grupos étnicos ou povos. Há termos relacionados com um etnocentrismo e que são estudados pela Antropologia, tais como: Etnicidade, Etnogênese e tolerância étnica. Antropologia do desporto 44 A Etnicidade tem como base um sentimento colectivo de identidade. Implica identificar-se, afirmar-se como grupo étnico, sentir-se parte dele. Serve como elemento de inclusão e de exclusão. A Etnogênese é o processo de afirmação, revitalização e auto- consciência da identidade étnica de um grupo humano, numa situação de confronto das diferenças sócio-culturais para com outros grupos. A África oferece exemplos concretos de práticas etnocêntrica extremas, como o genocídio que resultou num confronto entre os Hutu e os Thusi. Contudo a mesma África oferece múltiplos exemplos de convivências entre diferentes grupos étnicos, já que, geralmente, muitos países têm mais do que uma etnia, resultante da formação histórica desses países. Nesse caso tem-se a tolerância étnica, um processo que se manifesta num reconhecimento das diferenças culturais mas convivendo num mesmo espaço. Contudo, a Antropologia, do ponto de vista humanístico deve servir para melhorar a convivência e construir uma sociedade democrática e justa. Neste uso positivo das diferenças culturais estaríamos a falar do relativismo cultural. O Relativismo Cultural afirma que uma cultura deve ser estudada e compreendida em termo dos seus próprios significados e valores e que nenhuma crença ou prática cultural pode ser entendida separada do seu sistema ou contexto cultural. O comportamento, numa cultura particular, não pode ser julgado com os padrões de outras culturas. O Relativismo cultural é tanto uma teoria Antropológica como uma atitude e uma prática Antropológica, uma forma de lidar com os outros, respeitando a diversidade. Assim, nenhuma cultura ou grupo social é mais importante que os outros. A linguagem Antropológica é baseada num multicultural, isto é, num reconhecimento da existência de diversas culturas, cada uma é importante dentro no seu território. É o Relativismo Cultural entretanto, nessa perspectiva do Relativismo Cultural ético, há e deve haver limites válidos para toda a humanidade que não se tolera Antropologia do desporto 45 aspectos imundo, (ex. Mutilação dos clítoris, frequente na África Sahariana). Existem, por isso, uma referência moral e valores internacionais e humano de justiça e moralidade que nos fazem mais Humano. Mais também o Relativismo Cultural mais extremos é que valem a eliminação de toda a regulamentação de comportamentos Humano e pode cair no risco de justificar e/ ou permitir a violência. É por causa disso que existem por ex. documentos normativos como ‘A carta dos Direitos Humanos’. Neste caso, poderíamos afirmar como fundamento Antropológico da cultura: O carácter local de toda a cultura, isto é, aplicada a uma certa realidade social. A equivalência de todas as culturas sendo que nenhum ser humano é mais cultural que o outro. Assim, tudo o que é Etnocêntrista, Eliteísta, o Ocidentalismo, acaba sendo banal. A cultura diz respeito a todas as manifestações humanas. A descoberta e a invenção A Humanidade vive de descobertas e invenções. Essas descobertas e invenções acumuladas vão fazendo parte de um repertório cultural de determinados grupos sócias, ou de toda a humanidade, em função de sua absorção nos diversos quadrantes do Mundo. Todos os novos elementos descobertos ou inventados podem condicionar o inicio de um processo que pode culminar numa mudança cultural. Ao se constituírem como novidade no grupo em que tais processos ocorrem, eles podem, por um lado, ser incorporados num procedimento já existente, melhorando o anterior estágio ou então condicionar o abandono de anteriores práticas. Quer em vários sentidos, há uma mudança de uma prática. Esse processo surge a partir do momento em Antropologia do desporto 46 que as práticas individuais são socializadas pela comunidade onde ocorrem as mudanças. Ao lado da descoberta e da invenção, considerados factores locais, existe a difusão, que também participa no processo da dinâmica cultural. Não há cultura que não tome por empréstimo elementos de outras culturas. Não existe alguma cultura que seja constituída só por elementos originários. A difusão contribui para o diálogo inter- cultural, estimulando o alargamento dos universais culturais e, também enriquecendo as culturas locais. A transmissão de um elemento cultural de um ponto para o outro pode condicionar, ao mesmo tempo, reformulações, na medida em que esse processo nem sempre é pacífico. Jogam nesta influência os contactos entre as sociedades. Mas nem todos os processos culturais, como por ex. os elementos religiosos, são de fácil difusão. A Enculturação É o processo educativo pelo qual os membros duma cultura se tornam conscientes e comparticipantes da própria cultura (Bernardi, 1978). Ela pressupõe a transmissão da cultura já estabelecida. Ocorre de maneira formal, quando transmitida em instituições e modos rigidamente estabelecidos e, de maneira informal, na vida quotidiana, com a família, grupos de amigos, clubes etc. Entretanto, esses dois processos não estão dissociados, dado que a família esta enquadrada num complexo sócio-cultural e os pais foram educados nas instituições formais de um determinado grupo social. Você pode aperceber-se de que ninguém ensina nada em casa que não seja prática social local. A iniciação instrutiva, como por ex. os ritos de puberdade, faz parte da Enculturção. A adesão implica um certo conformismo às regras existentes, más as vezes, o processo de transmissão pode ser seguido por uma recusa dessas práticas por parte do membro que a recebe. De facto nesse processo enculturacional, a recepção dos valores não é aceite de forma passiva, dado que a individualidade ou a capacidade de interpretação autónoma do que é recebido tem o seu lugar. Antropologia
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