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A_IMAGEM_DA_CAVALARIA_CONSTRUIDA_A_PARTI (1) (1)

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ 
ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES 
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A IMAGEM DA CAVALARIA CONSTRUÍDA A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO 
DA ORDEM DA CAVALARIA DE RAIMUNDO LÚLIO (1279-1283) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016
 
 
SAULO NASCIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A IMAGEM DA CAVALARIA CONSTRUÍDA A PARTIR DA ANÁLISE DO 
LIVRO DA ORDEM DE CAVALARIA DE RAIMUNDO LÚLIO (1279-1283) 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Graduação em 
Licenciatura em História da Pontifícia 
Universidade Católica do Paraná, como 
requisito à obtenção do título de 
Licenciatura em História. 
 
Orientador(a): Profa. Dra. Adriana Mocelim 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016
 
 
 
 
SAULO NASCIMENTO 
 
 
A IMAGEM DA CAVALARIA CONSTRUÍDA A PARTIR DA ANÁLISE DO 
LIVRO DA ORDEM DE CAVALARIA DE RAIMUNDO LÚLIO (1279-1283) 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Graduação 
em Licenciatura em História da 
Pontifícia Universidade Católica do 
Paraná, como requisito à obtenção 
do título de Licenciado em História. 
 
 
COMISSÃO EXAMINADORA 
 
_____________________________________ 
Professora Doutora Adriana Mocelim (Orientadora). 
Pontifícia Universidade Católica do Paraná 
 
 
_____________________________________ 
 
Pontifícia Universidade Católica do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba, 31 de maio de 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta obra a minha 
orientadora Adriana Mocelim pela 
paciência e carinho durante esses 
anos dedicados a mim e a todos os 
seus estudantes. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus por garantir na fé a força necessária para 
compreender minhas limitações e mostrar o caminho para me superar todos os 
dias da minha vida. Agradeço minha mãe Roseli Nascimento por ser 
inspiração, força, companheira e mãe em todas essas horas. Mãe você me fez 
ser forte para as horas difíceis e suave para os bons momentos. Agradeço a 
minha irmã Maria Carolina de Oliveira Pienegonda que viu em mim fonte de 
inspiração enquanto eu via nela a força de uma mulher guerreira que corre 
atrás de seus sonhos. 
Família é algo difícil para se definir nos dias atuais, a minha é composta por 
pessoas muito especiais que mesmo que não dividam consanguinidade são 
integrantes importantes do meu coração e estiveram comigo nessa jornada e 
em tantas outras as quais já cursei. Sobre esse tipo de família reservo um 
espaço especial para Pedro Leonardo Alves Springer, você é meu irmão e 
amigo, é inspiração para continuar estudando e é inspiração de caráter na 
minha vida, é uma honra trilhar os caminhos dessa vida ao seu lado. 
Ainda sobre a família que encontramos na vida agradeço minha orientadora 
Adriana Mocelim que me abriu oportunidade de levar para além da sala de aula 
a pesquisa histórica, sua confiança em mim me deu força para continuar 
trabalhando apesar de todas as adversidades. Agradeço com todo o meu 
coração as pessoas que transcenderam as paredes da universidade e vieram 
fazer parte da minha vida como amigos de verdade, sem vocês essa conquista 
não seria possível: Dani G. da Costa por ter vindo para noite e compor esse 
grupo de amigos; Evandro Silva pelos fantásticos “boa noite’s”; Felipe Tkac 
pelas ótimas discussões que contribuíram para a minha formação e por uma 
amizade muito importante; Gabriel Silva pelas ótimas risadas juntos; Gabriel 
Paris pelo choro juntos; Jacqueline P. Zellner pelo companheirismo e carinho; 
Jhenifer Fernandes por rir comigo mesmo das coisas difíceis; Lucas Augusto 
por enriquecer meu dialogo sobre o medievo e pelo companheirismo; Thays G. 
May por ser parceira para todas as horas e Wesley V. Borges a peça 
importante que uniu todo esse pessoal nessa amizade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Afinal de contas, é disso que 
a história trata, em sua acepção 
mais ampla: como e por que o Homo 
sapiens passou do paleolítico para a 
era nuclear. 
(HOBSBAWM, 2013, p. 96) 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A cavalaria medieval, nas palavras de Flori: “Rainha das batalhas do século XI 
ao XIV” (2006, p. 185) é fruto de estudo e pesquisa por muitos historiadores. 
Pesquisar sobre a cavalaria compreende também o intuito de desconstruir 
alguns valores românticos e buscar compor o entendimento de imagem e ideal 
para o período. Esta monografia irá abordar o ideal de cavalaria proposto por 
Raimundo Lúlio em sua obra “O Livro da Ordem de Cavalaria” no período de 
1279 a 1283 anos aos quais o autor se dedica a refletir sobre a mesma. Para 
entender o ideal proposto por Lúlio é importante conhecer a cavalaria como 
instituição do medievo, bem como o contexto histórico e o ideal proposto por 
aquela sociedade. Conhecendo o contexto histórico é possível levantar alguns 
questionamentos: Quais eram esses valores; sobre quais princípios estavam 
pautados; e quais os vícios que um cavaleiro deveria evitar? Para responder 
esses questionamentos foi empregado o uso da ampla análise bibliográfica de 
autores como Jean Flori, Jacques Le Goff e Ricardo da Costa que auxiliam no 
entendimento do período. 
 
Palavras-chave: Cavalaria Medieval, Ideal de cavalaria, Raimundo Lúlio 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The medieval chivalry, according to Flori: "Queen of the battles of the century XI 
to XIV" (2006, p. 185) is the result of study and research by many historians. 
Search on the chivalry also includes the intention to deconstruct some romantic 
values and seek to compose the image understanding and ideal for the period. 
This paper will handle the ideal of chivalry proposed by Ramon Llull in his work 
"O Livro da Ordem da Cavalaria" in the period 1279-1283 years in which the 
author is dedicated to it. To understand the ideal proposed by Llull is important 
to know the chivalry as a medieval institution, and the historical context and the 
ideal proposed by that society. Knowing the historical context is possible to 
raise some questions: What were those values; about what values were lined; 
and what vices that a knight should avoid? To answer these questions we 
employed the use of extensive literature review of authors such as Jean Flori, 
Jacques Le Goff and Ricardo da Costa that makes up the understanding of the 
period. 
 
Keywords: Medieval Chivalry, Chivalry Ideal, Ramon Llull 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 
CAPÍTULO 1. A ORDEM DA CAVALARIA ....................................................... 11 
1.1 A PENÍNSULA IBÉRICA E MAIORCA NO CONTEXTO DE RAIMUNDO LÚLIO ........................... 15 
CAPÍTULO 2. A IMAGEM DA CAVALARIA SEGUNDO “O LIVRO DA ORDEM 
DA CAVALARIA” DE RAIMUNDO LÚLIO ........................................................ 25 
2.1 DOS VÍCIOS E VIRTUDES DE SER UM CAVALEIRO EXPRESSOS NA OBRA DE LÚLIO ............... 28 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 35 
BIBLIOGRAFIAS .............................................................................................. 37 
FONTES ........................................................................................................... 39 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
A cavalaria medieval, nas palavras de Flori: “Rainha das batalhas do 
século XI ao XIV” (2006, p. 185) é fruto de estudo e pesquisa por muitos 
historiadores. Pesquisar sobre a cavalaria compreende também o intuito de 
desconstruir alguns valores românticos e buscar compor o entendimento de 
imagem e ideal para o período. 
A historiografia se debruçou sobre o tema sob a luz de diversas escolas, 
contudo a escola francesa de Annales foi realmentea mais significativa na 
composição metodológica na análise do medievo. No bojo das mudanças 
propostas, o emprego de diferentes fontes históricas e o trato do documento 
histórico foram imprescindíveis para o crescimento da produção historiográfica 
sobre o medievo. 
Ainda sobre a Escola de Annales e seus representantes no campo do 
medievo, como Marc Bloch, Jacques Le Goff, Georges Duby entre outros, é 
importante ressaltar o entendimento do imaginário, temática principal desta 
monografia. 
A possibilidade de pesquisa pós Annales contribuiu, segundo Oliveira, 
“(...) para o reconhecimento de elementos culturais que não foram postos em 
cena como os modos de pensar, agir, imaginário, as práticas e representações, 
enfim vários objetos que passaram a ser abordados a partir da Cultura” (2014, 
p. 14). 
Esta monografia irá abordar o ideal de cavalaria proposto por Raimundo 
Lúlio em sua obra “O Livro da Ordem de Cavalaria” no período de 1279 a 1283 
anos aos quais o autor se dedica a mesma. Para entender o ideal proposto por 
Lúlio é importante conhecer a cavalaria como instituição do medievo, bem 
como o contexto histórico e o ideal proposto por aquela sociedade. 
Raimundo Lúlio foi um filósofo catalão, cavaleiro da coroa de Aragão, e 
religioso leigo. Sua construção de um ideal de cavalaria permite-nos extrair a 
imagem do cavaleiro ressaltando os ideais da Ordem de Cavalaria que 
deveriam ser exaltados, bem como um modelo proposto para a formação do 
Cavaleiro. Com isso em mente podemos levantar alguns questionamentos: 
 
 
10 
 
Quais eram esses valores; sobre quais princípios estavam pautados; e quais os 
vícios que um cavaleiro deveria evitar? 
Para compor uma análise possível é necessário conhecer a cavalaria 
como parte integrante da sociedade do medievo e que sofreu mudanças ao 
longo dos séculos XI ao XIV. Para tanto, o importante trabalho de autores como 
Jean Flori, Adeline Rucquoi e Ricardo da Costa compuseram a base desta 
pesquisa. 
Entretanto, conhecer a cavalaria não era o bastante. Foi necessário 
entender a cavalaria no tempo de Raimundo Lúlio, entender o contexto 
histórico de Aragão e suas vicissitudes no período. Autores como Adriana 
Zierer, Ricardo da Costa e Luciano José Vianna trazem em suas obras o 
entendimento do reino de Aragão no período de Lúlio, bem como uma pesquisa 
vasta sobre o próprio filósofo catalão. 
A pesquisa está organizada em dois capítulos. Primeiramente aborda 
um contexto histórico da cavalaria medieval de sua formação até o momento 
histórico ao qual Raimundo Lúlio escreve sua obra, bem como compreender o 
contexto de Lúlio no Reino de Aragão. No segundo capítulo é apresentada a 
análise da obra “O Livro da Ordem de Cavalaria” como um manual de 
comportamento aos cavaleiros bem como entender a filosofia luliana no que 
tange os vícios e virtudes dos cavaleiros 
 
 
 
 
 
11 
 
CAPÍTULO 1. A ORDEM DA CAVALARIA 
 
O alvorecer da idade média trouxe consigo conflitos sociais. A Igreja por 
sua vez, personificada nas palavras de Adalberon de Laon tenta estabelecer 
uma organização social: 
A sociedade dos fiéis forma um só corpo, mas o Estado compreende 
três. Porque a outra lei, a humana, distingue duas outras classes: 
com o efeito, nobres e servos não são regidos pelo mesmo estatuto. 
Duas personagens ocupam o primeiro lugar: uma é o rei, a outra o 
imperador; é pelo seu governo que vemos assegurada a solidez do 
Estado.O resto dos nobres tem o privilégio de não suportar o 
constrangimento de nenhum poder, com a condição de se abster dos 
crimes reprimidos pela justiça real. São os guerreiros, protetores das 
igrejas; são os defensores do povo, dos grandes como dos pequenos, 
enfim, de todos, e asseguram ao mesmo tempo a própria segurança, 
A outra classe é a dos servos; esta raça infeliz apenas possui algo à 
custa do seu penar.Quem poderia, pelas bolas da tábua calcular, 
fazer a conta dos cuidados que absorvem os servos, das suas longas 
caminhadas, dos seus duros trabalhos? Dinheiro, vestuário, 
alimentação, os servos fornecem tudo a toda gente. Nem um só 
homem livre poderia subsistir sem os servos. A casa de Deus, que 
acreditam uma, está, pois dividida em três: uns oram, outros 
combatem, outros enfim, trabalham. Apud (VIANNA, 2000, p. 91) 
Essa imagem edificada pelo bispo compõe as três ordens. Dentre as 
três, ressalto o objeto desta pesquisa, os que combatem. Os cavaleiros são 
aqueles protetores dos inermes (aqueles que não dispunham de armas), 
organizam-se em grupos armados, a cavalaria. Esta é dotada de um conjunto 
de valores éticos e morais e revestidos de valores religiosos que 
dicotomicamente caminham entre o paganismo e o cristianismo. 
De fato a Cavalaria é uma ordem militar, mas que passa a ter aspirações 
nobiliárquicas e monásticas religiosas a partir do século XII. Segundo Huizinga: 
À parte os desportos marciais, as ordens de cavalaria abriram uma 
vasta clareira onde o gosto pela alta cultura aristocrática podia 
expandir-se. Tal como os torneios e a accolade, as ordens de 
cavalaria mergulham as suas raízes nos ritos sagrados de um 
passado remoto. As suas origens religiosas são pagãs, somente o 
sistema feudal de pensamento as cristianizou. Estritamente falando, 
as várias ordens são simples ramificações da ordem da cavalaria 
propriamente dita. (1978, p. 63) 
O surgimento da ordem de cavalaria não pode segundo Flori “[...] se 
confundir com a origem da nobreza e da cavalaria.” (2006, p. 185). No início da 
cavalaria, até o século XII, durante as guerras de conquistas territoriais um 
hábil guerreiro poderia ser agraciado pelo seu feito em batalha recebendo do 
 
 
12 
 
lorde que comandava o exército terras e bens como premiação. Este hábil 
guerreiro, agora possuidor de terras poderia se tornar um nobre por definição e 
um cavaleiro por conquista. No século XII, então, o interesse da nobreza para 
com a cavalaria fica mais evidente, torna-se mais difícil distingui-las tendo em 
vista os casamentos entre nobres e cavaleiros e passando então a restringir a 
cavalaria a uma linhagem nobiliárquica. 
O século XII então torna-se o um ponto de convergência entre elas. “[...] 
logo a nobreza controla e comanda a cavalaria, empresta-lhe sua ideologia a 
ponto de, a partir do século XII, a cavalaria aparecer como expressão militar da 
nobreza, que a considera território particular e alicia seus membros.” (FLORI, 
2006, p. 185). Nesse contexto militar e nobiliárquico está também a Igreja, 
como fundamental nas relações de poder. 
A Igreja toma então um papel importante de tentar, segundo Flori, 
“inculcar nesses cavaleiros, e depois em toda a cavalaria, um ideal elevado: a 
proteção das Igrejas, dos fracos e dos desarmados (inermes) no interior da 
Cristandade: a luta contra os infiéis no exterior” (2006, p. 186). A esse 
movimento podemos exemplificar a convocação das Cruzadas1. 
Na Península Ibérica as batalhas e as lutas travadas pelos cavaleiros 
são também dotadas desses valores cristãos, bem como preceitos inerentes ao 
próprio imaginário de batalhas contra os inimigos da fé, num contexto 
conhecido como Reconquista2. 
 
1 Termo utilizado para significar a guerra travada pelos representantes da Cristandade numa 
tentativa papal de exportar a violência. São derivados desse movimento crúzio, nas palavras de 
Monte: “Portanto, factores materiais e estruturais no seio das sociedades medievais, 
associados à própria solidariedade de fé entre cristãos que percepcionavam a expansão 
muçulmana como uma ameaça, favoreceram a génese do movimento crúzio, enquadrado por 
uma renovação cultural e religiosa prosseguida desde antes da 1ª Cruzada a partir da Igreja, e 
que facilitaria a assunção de uma missão bélico-espiritual por parte de reis, guerreiros nobres e 
pebleus, a ser cumprida no Oriente em defesa dos cristãos e dos lugares santos.” (p. 2-3, 
2008). Esses valores foram legitimadospor Urbano II no sínodo de Clermont, segundo Flori: 
“aqueles que até então tinham vivido como saqueadores, martirizando seus irmãos cristãos, 
poderiam ir para o Oriente, onde os cristãos encontravam-se ameaçados pelos muçulmanos, e 
empregar sua energia contra os infiéis.” (2006, p. 479) 
2 O termo reconquista é entendido como “a recuperação de territórios cristãos ‘usurpados’ 
pelos muçulmanos. O ‘renascer’ do antigo reino visigótico constitui uma continuidade político-
ideológica, primeiro assumida por ásture-leoneses e depois com mais força por leoneses e 
castelhanos. Esse ideal, designado por nós como neogótico, fora perseguido com empenho 
nas surtidas para o sul, com tanto ou mais vigor do que o próprio ideal de cruzada pregado 
além-Pirenéus. Os reis cristãos peninsulares teriam, neste quadro, o dever de recuperar esses 
territórios.” PAIVA DO MONTE, Marcel. Cruzada e Reconquista: as duas faces da conquista de 
Lisboa em 1147. In: Revista Medievalista. Nº 5, (Dezembro 2008). Disponível em: 
HTTP://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista. 
 
 
13 
 
A “Reconquista”, que inicialmente, no século VIII, tratava-se de uma 
empreitada dotada de um sentimento de expansão territorial e de ideais 
políticos para reestabelecer o auge imagético do antigo reino Visigótico, atraiu 
inúmeros cavaleiros. No século XI esse ideal recebe os valores de Cristandade, 
conforme Souza: 
Antes mesmo do discurso do Papa Urbano II (1088-1099) que 
pregava a Primeira Cruzada no Oriente (1095), um pontífice anterior, 
Alexandre II (1061-1073), havia concedido, em 1063, indulgências 
para os cavaleiros que fossem combater os muçulmanos na Hispânia 
em nome de Cristo. De fato quando o Papa Pascoal II (1099-1118) 
assimilou (em 1102) espiritualmente a Reconquista às Cruzadas na 
Terra Santa e proibiu aos hispânicos combaterem na Palestina, o 
pontífice proclamou que as indulgências poderiam ser ganhas na 
própria Hispânia, pois se tratava de uma guerra santa na qual 
aqueles que pereciam tinham o Paraíso garantido. (2011, p. 2) 
No contexto das batalhas da “Reconquista” é que Raimundo Lúlio 
compôs um livro com a construção de um ideal de cavalaria, na tentativa de 
imprimir valores e educar os novos cavaleiros: 
No começo, como veio ao mundo menosprezo de justiça devido à 
míngua de caridade, conveio que pelo temor a justiça retornasse à 
sua honra. E por isso, de todo o povo, foram divididos em grupos de 
mil e de cada mil foi eleito e escolhido um homem, mais amável, mais 
sábio, mais leal e mais forte, e com mais nobre coragem, com mais 
ensinamentos e de bons modos que todos os outros. (2010, p.14)3 
Já percebemos, no discurso de Lúlio, um imagético repleto de valores 
que deveriam fazer parte do conceito de cavaleiro. Sabedoria, Lealdade, Força, 
Coragem, Conhecimento e Bons Modos são os valores apontados pelo mesmo 
como parte para ser “escolhido”. Definido o homem, este ser repleto de valores, 
ele teria como companheiro seu cavalo que completa o sentido de cavaleiro, 
definido pelo autor: 
Buscou-se em todas as bestas qual era a mais bela besta e a mais 
veloz, e a que pudesse sustentar maior trabalho, e qual era a mais 
conveniente para servir ao homem; e por que o cavalo é a mais nobre 
besta e a mais conveniente para servir ao homem, por isso, de todas 
as bestas, o homem elegeu o cavalo, que foi doado ao homem que 
foi dos mil homens eleito. E por isso aquele homem tem o nome de 
cavaleiro. (2010, p. 13) 
 
3 COSTA. Ricardo da. Tradução in: LÚLIO. Raimundo. O Livro da Ordem da Cavalaria. São 
Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. Para futuras referências 
o texto de Lúlio será apresentado apenas a tradução. 
 
 
14 
 
O uso do cavalo em batalhas vem de uma conjuntura de elementos que 
são reforçados a partir do século IX, o uso do estribo, vindo do oriente, para 
manter o cavaleiro na cela, contribuiu grandemente para a construção deste 
guerreiro montado. Aliado a isso, avanços técnicos e de armamento 
complementaram e modificaram a condição do cavaleiro medieval, segundo 
Flori: 
No início do século XII, no entanto, um novo método de combate, o 
do choque frontal, surgido meio século antes, mas considerado até 
então secundário, impõem-se a chegar a suplantar os demais: nele 
se usa uma lança em posição horizontal fixa, que o cavaleiro segura 
firmemente encaixada sob o braço. Com esse novo método, adotado 
definitivamente pela cavalaria, a eficiência da lança não depende 
mais da força do braço do guerreiro, mas da velocidade do cavalo: o 
cavaleiro forma um todo com sua montaria e esse “projétil vivo” 
beneficia-se da potência que lhe confere o galope a cavalo. (2006, p. 
187-188) 
A forma de combater mudou e, com isso, a forma como era visto o 
cavaleiro na sociedade medieval. Sua força em combate o preencheu de 
glórias, logo, a nobreza tenta vincular-se a essa força ressaltando seus valores, 
destacando-se como os defensores da Cristandade, dos bons modos e dos 
inermes. 
O rito de ordenação é também incorporado aos valores do cavaleiro. O 
adubamento4 permeia também o misticismo que a função era imbuída, ritos 
que transcendiam a Cristandade e remontam a valores pagãos. O sentido era 
recriar uma tradição militar, um passado glorioso de batalhas em uma mescla 
de culturas religiosas diferentes, bem como ressaltar em seus números a 
presença da linhagem cavaleiresca. 
No conceito de nobreza e cavalaria conforme explanado anteriormente, 
Flori aponta que: “As profundas mudanças sociais do século XI ampliam o 
papel dos cavaleiros na nova sociedade” (2006, p. 189). Por mais que num 
passado não muito distante os cavaleiros tivessem vindo dos camponeses, 
seus costumes e ideais misturavam-se aos nobres a quem serviam, dada a 
 
4 Este termo técnico (adoubement) não está dicionarizado em português, mas o verbo adubar 
nas acepções de “equipar”, “preparar”, “temperar”, decore destes mesmos sentidos do francês 
adouber (significativamente surgido em 1080 na Chanson de Roland), do qual derivou por volta 
de 1150 aquele substantivo para indicar a cerimônia de entrega das armas equipamento que 
fazia de alguém cavaleiro. FRANCO JUNIOR, Hilário. Nota de Tradução. In: LE GOFF, 
Jacques. SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru, Ed. 
EDUSC, 2006. 
 
 
15 
 
proximidade que se encontravam. Contudo, era premissa da nobreza a 
linhagem, a difusão de sua natureza nobre provinha essencialmente da sua 
ligação com seus antepassados, que, por vezes, no imaginário do medievo 
eram até mesmo míticos. Para Flori: 
Sem se confundir ainda com a nobreza, que permanece questão de 
sangue, de nascimento, de linhagem, a cavalaria ganha em dignidade 
e logo compõe uma classe hereditária, que constitui, por usa vez, 
uma aristocracia, na qual se entra por adubamento, rito cavalheiresco 
por excelência, que se reserva cada vez mais apenas aos filhos de 
cavaleiro: só são armados cavaleiros os filhos de pai cavaleiro e de 
mãe nobre. Por essas disposições, a nobreza controla a entrada na 
cavalaria e reserva o acesso a ela a seus próprios membros, numa 
época em que a dignidade cavaleiresca acrescenta distinção àquele 
que a recebe. Cavalaria e nobreza acabam por se fundir ou por se 
confundir. (2006, p. 190) 
É, então, para Flori, no século XIII que nobreza e cavalaria se 
confundem definitivamente. Começa a ficar mais e mais restrita a presença de 
cerimônias de adubamento, tanto pelo seu alto custo, quanto que pela 
exclusividade de linhagem Nobre. Para Lúlio: 
Tão alta e nobre é a Ordem do cavaleiro que não bastou à Ordem 
que se fizesse com as mais nobres pessoas; nem que se lhe doasse 
as bestas mais nobres nem lhe desse as mais honradas armas, antes 
conveio ao homem que se fizessem senhores das gentes aqueles 
homens que são da Ordem de Cavalaria. E porque no senhorio há 
tanto de nobreza, e na servidão tantode submissão, se tu, que 
abraças a Ordem de cavalaria, fores vil e malvado, poderás pensar 
qual a injúria fazes a todos teus submetidos e a todos teus 
companheiros que são bons, porque pela vileza em que estás, 
deverias ser submetido, e pela nobreza dos cavaleiros que são bons, 
és indigno de ser chamado cavaleiro. (2010, p. 17) 
Lúlio considera o cavaleiro pertencente à Ordem um senhor de outros 
homens, ou seja, um nobre por definição. Logo em seu capítulo de início já 
deixa claro a linhagem nobiliárquica ao qual o cavaleiro está inserido e, como 
tal, deve se portar sob os preceitos virtuosos, pois um homem, senhor de 
outros homens que não age apenas por si mesmo, age também em nome de 
seus vassalos. 
 
1.1 A PENÍNSULA IBÉRICA E MAIORCA NO CONTEXTO DE RAIMUNDO 
LÚLIO 
 
 
 
16 
 
A Península Ibérica fora uma região de extrema importância no controle 
administrativo romano. Para Rucquoi “A criação das dioceses Hispaniarum, 
que o imperador Diocleciano estabeleceu em 297 [...], contribuiu 
indiscutivelmente para o nascimento de uma entidade administrativa específica 
que os Visigodos do século VI transformaram em entidade política [...]” (1995, 
p. 11). 
Com a chegada dos visigodos por volta do ano 409 e seu 
estabelecimento em 507 da Era Cristã, essa sede administrativa conhece, 
segundo Rucquoi, “três etapas, do reino de Tolosa (418-507) aos primeiros reis 
visigodos (548-569) passando pelo <protectorado> dos Ostrogodos (507-548)” 
(1995, p.32). 
Valendo-se da tese de Armando Besga, sob a análise de Jiménez, o 
norte da Península Ibérica permaneceu ocupado pelos godos mesmo após a 
chegada dos muçulmanos dando o sentindo a palavra “Reconquista”, traduzida 
como uma empreitada militar e ideológica que viria a acontecer para tomar de 
volta as terras daquela península do poderio dos muçulmanos. Ou seja, já 
havia certa estrutura, ainda que embrionária. Para Jiménez: 
“Em uma palavra, a restauração da ‘ordem dos godos’ ocorrida nos 
tempos de Afonso II não surgiu do nada: tal ordem, mesmo 
embrionária e imperfeita, havia estado presente em Astúrias desde os 
mesmos dias da sublevação de Pelagio contra os invasores 
muçulmanos.5 (ALMEIDA & CARVALHO, p. 455 Apud: JIMÉNEZ, 
2003. p. 155) 
A chegada das forças muçulmanas a Península Ibérica modifica e afasta 
os visigodos para o norte da Península, a força militar muçulmana é descrita 
por McEvedy: 
O primeiro grande avanço aconteceu no Norte da África, onde os 
árabes vinham operando com êxito variável a partir de um 
acampamento estabelecido em Kairuan, no sul da Tunísia, em 670. 
Em 698, eles conduziram essas campanhas a um desfecho vitorioso, 
capturando Cartago, mas o episódio provavelmente teve menos 
importância que a posterior conquista e conversão dos berberes do 
interior (702). Isso deu aos árabes o ímpeto – e os novos recrutas – 
necessários para prosseguir rumo ao resto no Norte da África e entrar 
na Espanha. Ao cruzar Gibraltar (Jebel al-Tarik, em que Jebel 
significa montanha e Tarik é o nome do comandante da invasão), os 
árabes obtiveram uma vitória sobre os visigodos que deixou em suas 
mãos toda a península, exceto uma faixa no norte (711).” (2007, p.38) 
 
5 Tradução do autor. 
 
 
17 
 
A Cristandade remanescente nas Astúrias procurou se reorganizar 
política e estruturalmente oferecendo resistência aos invasores. Reinados 
independentes surgem como resistência e enfrentamento ao domínio 
muçulmano e é nesse contexto que surge a Reconquista, através de 
movimentos que surgiram desde a chegada dos muçulmanos, com batalhas 
constantes em seu território em um processo de longa duração, caracterizado 
inicialmente por conquistas territoriais 
A conquista da Ásia bizantina foi um grande triunfo para o islã. A 
cristandade não pôde se equiparar, mas na outra extremidade do 
Mediterrâneo registrou um importante êxito: a captura de Toledo, em 
1085. Os cristãos da Espanha começavam a atuar conjuntamente: o 
número de seus reinos caíra de seis para três, com Aragão 
absorvendo Navarra e, o mais importante, Afonso VI de Leão 
dominando Castela e a Galiza (1072-5). (MCEVEDY, 2007, p. 66) 
 É com Urbano II, segundo Cardini: 
Enfim, em novembro de 1095, ao final de um sínodo realizado em 
Clermont, no Auvergne, o papa Urbano II [...] dirigiu à aristocracia 
francesa uma advertência divulgada a seguir por toda a Europa: 
aqueles que até então tinham vivido como saqueadores, martirizando 
seus irmãos cristãos, poderiam ir para o Oriente, onde os cristãos 
encontravam-se ameaçados pelos muçulmanos, e empregar sua 
energia contra os infiéis. Assim, com o recurso deste expediente 
destinado a “exportar a violência”, foi assentada a primeira pedra no 
edifício das futuras Cruzadas. A guerra contra os muçulmanos na 
Terra Santa ou na Espanha atraiu um número crescente de 
cavaleiros [...]. (2006, p. 479) 
Tornando-se, então, um amálgama de religiosidade e conquistas 
territoriais, no século XII. Os já cindidos reinos cristãos no norte da península, 
são imbuídos dos valores de Cristandade, valores que davam o tom de 
Cruzada à Reconquista. Devido ao objeto desta pesquisa, será dado o enfoque 
ao Reino Cristão de Aragão, surgido em 1137 da união dinástica do condado 
de Barcelona e do Reino de Aragão, segundo Sabaté: 
O pacto matrimonial estabelecido em 1137 selando o matrimónio do 
conde de Barcelona Ramon Berenguer IV com a pequena Peronella, 
de apenas um ano de idade, herdeira do trono de Aragão, veio alterar 
o testamento do seu falecido tio que cedera o reino às ordens 
militares, cuja pretensão na realidade abrira uma crise institucional 
depois da morte de Afonso “O Batalhador” em 1134. (2013, p. 55) 
A relação de unidade territorial entre Barcelona e Aragão, como reino, é 
descrita por Sabaté: 
 
 
18 
 
Este percurso comum implicou uma aproximação progressiva, 
compartilhando circunstâncias semelhantes diante da fronteira, sob 
um mesmo dinamismo económico e com uma evolução cultural 
semelhante que se espelhou através do latim em uma língua vulgar 
própria. Foi deste modo que no século XII culminou a percepção 
unitária do território que pela primeira vez foi descrito por um nome 
comum: Catalunha. (...) Tratava-se então de um conjunto de espaços 
inicialmente justapostos, mas que rapidamente foram submetidos a 
uma coesão social que, na segunda metade do século XII, permitiu 
estender uma percepção comum sob um mesmo coronómino: 
Aragão. Assim, entre esta centúria e o fim da Idade Média, um 
mesmo soberano e seus descendentes regeram a Catalunha e 
Aragão sem ser capazes de unir mutuamente os dois territórios, 
tornando-se evidente que não foi o peso da dinastia, mas antes o das 
respectivas forças sociais que consolidaram um e outro espaço 
(2013, p. 55-56) 
Está união levou a fronteira ao sul, em direção ao mediterrâneo. 
Conforme Sabaté o reino de Aragão expandiu rapidamente 
(...)centrada nas conquistas de Huesca (1096) e Barbastro (1100) até 
à capital da Marca Superior islâmica, Saragoça (1118), sob o 
estímulo feudal com que se organizou o vale do Ebro central, vindo a 
prolongar-se para sul mediante a incorporação do território em torno a 
Teruel em 1177, bem como nas encostas meridionais que ladeiam a 
fronteira valenciana. (2013, p. 55-56) 
Entretanto, prova de que a “Reconquista” não se resumiu apenas a 
batalhas, mas também a organizações, casamentos e acordos de ambos os 
lados que permearam as conquistas no Reino de Aragão. O cerco de Valência, 
é outro exemplo. Conforme Viana: 
Como o rei estava com poucos cavaleiros, o sítio de Valência não se 
realizou, e como consequência Jaime estabeleceu uma trégua com o 
rei muçulmano seid Abu Seid, na qual este pagaria uma quinta parte 
das rendas de Valência e de Múrcia. Em troca, Jaime se limitava a 
não atacar a cidade valenciana. Estas exigências financeiras e 
defensivas, que aconteceram durante o processo de Reconquista da 
Península Ibérica, foramrealizadas tanto de muçulmanos para 
cristãos quanto de cristãos para muçulmanos, e favoreceram o rápido 
enriquecimento das partes credoras. Estes procedimentos ocorreram 
entre os séculos XI, XII e XIII, em um momento que a guerra era a 
forma mais rápida de enriquecimento. (2008, p. 117) 
A ordem dinástica de Aragão nos leva a Jaime I (1208-1276) que 
assumiu para si os valores empregados na Reconquista e seus avanços para o 
sul da Península o levam a Maiorca, a maior das Ilhas Baleares no 
Mediterrâneo, segundo Terrero: “Aos 22 anos, começou a campanha da 
conquista de Maiorca, com uma grande esquadra que entrou em Palma em 31 
 
 
19 
 
dezembro 1229.6” (1965, p.189). Seu ímpeto era recheado de um valor de 
Cristandade e a necessidade de acalmar os nobres que questionavam seu 
trono, pois, para Terrero: “Foi prematuramente elevado ao trono aos 11 anos, e 
declarado maior de idade, mas até 1227 não havia apaziguado o reino.” (1965, 
p.189). 
As batalhas de Maiorca, também representaram, além da luta, a 
capacidade que o Rei tinha de negociar e adquirir recursos através de 
diplomacia. Como mostra, segundo Andrade nas palavras de Jaime I o acordo 
com o muçulmano Aabet: 
Nós expusemos isso aos nobres da hoste, e todos disseram que era 
bom que isso ocorresse. Depois, o sarraceno nos disse para 
enviarmos cavaleiros a um lugar seguro, a aproximadamente uma 
légua da hoste, que ele sairia dali sob a nossa confiança, para fazer 
seu pacto conosco e nos servir de boa fé e sem engano, pois assim 
nós reconheceríamos o grande serviço que ele nos faria. Assim, 
enviamos vinte cavaleiros e o encontramos naquele lugar. Ele chegou 
com seu presente, e nos ofereceu cerca de vinte bestas carregadas 
de cevada, cabritos, galinhas e uvas. As uvas que ele nos trouxe 
eram de tal qualidade que mesmo estando nos sacos não se partiram 
nem se estragaram. Em seguida, nós dividimos aquele presente que 
ele nos ofereceu com os nobres da hoste. Isso fez aquele anjo que 
Deus nos enviou, e quando digo anjo refiro-me ao sarraceno, pois 
nos fez tanto bem que o tomamos por um anjo, já que se parecia com 
um. (Jaime I de Aragão, 2010 Apud ANDRADE, 2013 p. 111) 
Assim, o conselho do Rei, nas batalhas que aconteceriam em Maiorca, 
recebera um inesperado reforço muçulmano garantindo ainda mais fôlego para 
as tropas aragonesas. 
As descrições das batalhas que se seguiram no cerco de Maiorca 
analisadas por Andrade, mostram-nos também que a força aragonesa se valeu 
de diversos artifícios para vencer, imbuindo o medo no centro da cidade e 
conquistando de vez a cidade de Palma 
Em uma passagem anterior, os cronistas relatam que 
aproximadamente cinco mil sarracenos foram vencidos em uma 
cilada durante o cerco de Maiorca. Neste conflito, Jaime ordenou que 
seus homens cortassem a cabeça de seu líder, chamado Fátila, e a 
arremessassem dentro da cidade (...)” apud (Jaime I de Aragão, 
2010: 125-126) (2013, p. 111). 
 
6 Tradução dos autores. Para futuras referências o texto de Terrero será apresentado apenas a 
tradução. 
 
 
20 
 
Em 1232 Jaime conquista plenamente Maiorca dos muçulmanos, sob 
um importante documento llatinoaràbic del repartiment ele dividiu as terras 
entre os nobres que o ajudaram na campanha, conforme segue: 
 
Tabela 
 
Tabela I: Divisão dos distritos da Ilha 
 
 
 
Fonte: PASTOR, Plácid P. Mallorca, 1230-1232: reflexions a partir de la relectra del códex 
llationarábic del repartiment. 2010, p. 31-33. In: Bolleti de la Societat Arqueològica Lul-liana. 
ISSN 0212 7458. 2010, número 66. Palma de Maiorca. 
 
Conforme demonstra o levantamento de Pastor e aponta Terrero: 
“Jaime, cumprindo o acordo, dividiu a terra para os cavaleiros que o tinham 
 
 
21 
 
ajudado na conquista, principalmente catalães de Ampurdán, o que levou às 
ilhas sua língua e cultura” (1965, p.189). Nesse contexto percebemos uma 
construção cultural na ilha, segundo Costa: “Por volta de 1300, o Mediterrâneo 
ocidental falava o catalão como língua “internacional” para o comércio e a 
diplomacia.” (2001, p. 164). 
Sob o domínio aragonês, “A tomada a cidade de Maiorca, muitos 
sarracenos fugiram ou se esconderam, iniciando um período de pilhagem pelos 
cristãos e de resistência pelos sarracenos. (ANDRADE, 2013, p. 113). O 
vencido Rei Abû Yahya de Maiorca, capturado agora por Jaime I, fica protegido 
dos cristãos sob a guarda real, o que levanta um questionamento, exposto 
segundo Andrade: 
Mesmo que tenha resistido aos cristãos, e o fizera honradamente, 
Abû Yahya estava sob o poder de Jaime, e agora não poderia ser 
tocado pelos cristãos. Enfatizamos a necessidade de não 
entendermos os sarracenos como uma massa homogênea, pois pelo 
contrário, compunham um grupo altamente hierarquizado. Ressalta-
se que, a considerar sua posição social, estas populações foram mais 
ou menos impactadas pelas transformações ocorridas com a 
conquista cristã. Tanto Dom Aabet quanto o walī Abû Yahya – que 
tivera seu poder “traduzido” como o de um rei – ao deixarem de ser 
inimigos do Conquistador se transformaram em seus vassalos e, 
portanto, protegidos do rei. (2013, p.114) 
Maiorca, ainda na época de domínio muçulmano e posteriormente sob 
domínio aragonês, era uma cidade de renomada importância, servindo de 
entreposto comercial, base para os avanços aragoneses e promovendo “(...) 
um intenso comércio com o norte da África (até o Egito) e a conquista da Sicília 
(1282), Sardenha (1323) e o sul da Itália (séc. XV). (COSTA, 2001, p. 164). 
Nesse contexto, ela se difere do restante do Reino e até mesmo da Península. 
Sua localização geográfica proporcionava uma condição estratégica, bem 
como cultural e comercial, diferentes do restante do continente Europeu. 
Conforme o Mapa: 
 
 
 
22 
 
Figura 1 
 
Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. p. 81. São Paulo: Companhia das Letras, 
2007. 
 Nesse contexto, logo após a conquista de Maiorca, já sob o domínio 
aragonês é que nasce Lúlio. Cresceu acompanhando os feitos do Reino de 
Aragão sob o comando do Rei Jaime I, 
(...) nos anos 1238-1245, Jaime conquistou o reino de Valência. O 
império almôada cambaleava, os pequenos principados da Ocitânia 
começaram a ser anexados pela coroa francesa, por sua vez apoiada 
pela Igreja que estava interessada em extirpar a heresia cátara e com 
a concordância tácita de Jaime I, que, neste caso, não desejava uma 
guerra com a França, além de ter sido pressionado pelo papa Honório 
III (1216-1227) a não intervir no Languedoc. (COSTA, 2001, p. 164) 
Da Europa ao Norte da África, Maiorca recebia viajantes e comerciantes 
de diversas partes no entorno do Mediterrâneo, 
[...] A maioria da população, predominantemente burguesa (no 
sentido medieval de “residente do burgo”), imprimia um tom de 
“osmose estamental”, isto é, de amplas possibilidades de ascensão 
social através do trabalho no comércio. Estas características da 
sociedade maiorquina deram um grande dinamismo à visão social de 
Ramon Llull e às relações que ele atribuiu entre o príncipe e seus 
súditos na Árvore Imperial – além de uma importância a esta 
Maiorca 
 
 
23 
 
“burguesia emergente”, em detrimento da nobreza. O porto de 
Maiorca, estrategicamente localizado, era um centro de rotas 
marítimas que se entrecruzavam: do Magreg (proveniente de cinco 
cidades entre Buie e Oran), da Europa, Montpellier, Marselha, 
Gênova e Pisa faziam escala em Maiorca, e depois Minorca. Além 
disso, os maiorquinos faziam uma navegação de cabotagem ao longo 
de toda a costa do Magreb, no Canal da Sardenha e na Sicília, com 
escala em Túnis. (COSTA, 2001, p. 165). 
Ou seja, traduzido na pesquisa de Costa, Maiorca diferenciava-se 
geograficamente e culturalmente do continente e do restante do Reino. Vivia 
um período, tanto para seus moradores quanto para as cidades que a 
rodeavam, de grandes avanços comerciais. 
Lúlio nasceu por volta de 12327 na cidade de Palma deMaiorca, no meio 
de diversas culturas religiosas que ali coabitavam os muçulmanos, cristãos e 
os judeus. Filho de Ramon Llull (Raimundo Lúlio), um cavaleiro que serviu ao 
Reino de Aragão e que recebeu muitas terras em troca de seus serviços a 
coroa, herdou de seu pai estas terras, o que lhe garantiu certo conforto em sua 
vida e, segundo Zierer, “Llull esteve próximo de reis, tendo sido senescal do 
futuro rei Jaime II, de Maiorca” (2009, p. 2 e 3) com apenas 14 anos. Jaulent 
explica que “O próprio Lúlio conta-nos que nessa época sua vida era frívola e 
dissoluta; gostava de compor trovas e poemas para as moças do lugar, e 
facilmente se envolvia com elas.” (2013, p. 29). Fora também adubado 
cavaleiro na corte de Aragão. O filósofo catalão vive intensamente as políticas 
que cercam o Reino e tendo largado as armas e vivido como um eremita e um 
pregador leigo ligado a Ordem dos Franciscanos abandona Maiorca, conforme 
Costa: 
No mesmo ano do tratado de Perpignan, Llull abandonou Maiorca, só 
retornando à ilha após a restituição de Jaime II como rei — vinte anos 
depois —, o que indica claramente sua posição política ao lado de 
Jaime II contra a imposição de vassalagem por parte de Pedro III — 
além do fato do papa apoiar Jaime II. (COSTA, 2001, p. 166) 
Recebeu diversas influências na sua formação desde sua infância, 
perpassando pela sua cristianização que ocorreu em 1262, ainda segundo 
 
7 Segundo Jaulent, “É difícil precisar o ano em que ocorreu o nascimento de Lúlio. Existem 
duas hipóteses: 1232 ou 1235. No lugar onde a tradição situa a casa onde nasceu encontra-se 
uma placa indicando o ano de 1232.” (2013, p. 22) JAULENT, Esteve. Raimundo Lúlio: um 
único pensamento e um único amor. E-book: São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e 
Ciência Raimundo Lúlio, 2013. 
 
 
24 
 
Zierer, “Aos 30 anos teve uma visão de Cristo crucificado por cinco vezes 
diferentes. Em virtude dessas visões decidiu abandonar sua antiga vida e 
tornou-se um pregador leigo.” (2009, p. 3). Sob essas influências, Lúlio cria um 
ideal de cavalaria, o qual discutirei em meu próximo capítulo. 
 
 
 
 
25 
 
CAPÍTULO 2. A IMAGEM DA CAVALARIA SEGUNDO “O LIVRO DA 
ORDEM DA CAVALARIA” DE RAIMUNDO LÚLIO 
 
Raimundo Lúlio, no prólogo de seu livro, apresenta a ideia de um 
cavaleiro que, cansado e idoso, já não porta mais suas armas e repousa em 
um bosque a espera de sua morte e o contraponto, um jovem escudeiro que irá 
ser adubado a pedido do rei. 
Em aquele tempo, à entrada do grande inverno, aconteceu que um 
grande rei muito nobre e de bons e bem abundantes costumes, 
mandou haver cortes. E pela grande fama que tinha nas terras de 
suas cortes, um esbelto escudeiro, só, cavalgando em seu palafrém, 
dirigia-se à corte para ser armado novo cavaleiro; e pelo esforço que 
havia suportado em sua cavalgada, enquanto ia em seu palafrém, 
adormeceu; e naquela hora, o cavaleiro que na floresta fazia sua 
penitência chegou à fonte para contemplar a Deus e menosprezar a 
vaidade deste mundo, segundo que havia se acostumado ao longo de 
cada um dos dias. Enquanto o escudeiro cavalgava assim, seu 
palafrém saiu do caminho e meteu-se pelo bosque, e andou à 
vontade pelo bosque, até que chegou na fonte onde o cavaleiro 
estava em oração. O cavaleiro, que viu chegar o escudeiro, deixou 
sua oração e assentou-se no belo prado, à sombra da árvore, e 
começou a ler em um livro que tinha em sua falda (Saiote, aba). O 
palafrém quando foi à fonte, bebeu da água; e o escudeiro, que sentiu 
em sua dormência que seu palafrém não se movia, despertou e viu 
diante de si o cavaleiro, que era muito velho e tinha grande barba e 
longos cabelos e rotas vestes por seu uso; e pela penitência que 
fazia, era magro e pálido, e pelas lágrimas que vertia, seus olhos 
eram humildes, tudo dando uma aparência de vida muito santa. Muito 
se maravilharam um do outro, pois qual não havia visto nenhum 
homem depois de haver desamparado o mundo e deixado de portar 
armas; e o escudeiro se maravilhou fortemente de como tinha 
chegado naquele lugar. (LÚLIO, 2010, p. 6-7) 
O inesperado encontro do jovem aspirante a cavaleiro com o velho 
cavaleiro cansado é recheado de simbologia. O velho cavaleiro carrega a 
sabedoria da cavalaria apesar de seu corpo cansado e fraco, o jovem carrega o 
vigor de sua juventude. Todo o imaginário no entorno da religiosidade e do 
significado do “ser cavaleiro” pode ser analisado no conceito apresentado por 
Jean Claude Schmitt: “Por imaginário, entendo uma realidade coletiva que 
consiste em narrativas míticas, em ficções, em imagens, partilhadas pelos 
atores sociais. Toda sociedade, todo grupo constituído produz um imaginário, 
sonhos coletivos, garantidores de sua identidade. ” (SCHMITT, 2007, p. 351). 
O encontro das duas gerações pode ser remetido a uma parábola para 
se falar das importantes virtudes a serem dominadas pelos novos cavaleiros e 
os vícios a serem evitados. Segundo Zierer: “Lull utiliza motivos novelescos em 
 
 
26 
 
seu livro provenientes dos textos literários da matéria da Bretanha, como, por 
exemplo, o cavaleiro e o eremita.” (ZIERER & MESSIAS, 2013, p. 134). No 
prólogo percebemos também uma oportunidade de diálogo entre Lúlio e seu 
Rei na crônica seu personagem “o eremita” dialoga com “o escudeiro”, em suas 
palavras: 
- Senhor – disse o escudeiro – é fama por longínquas terras que um 
rei muito sábio mandou haver cortes, e fará a si mesmo cavaleiro e 
logo armará cavaleiros outros barões estrangeiros e privados. E por 
isso, eu vou àquela corte para ser novo cavaleiro; (Lúlio, 2010, p. 7) 
Um rei e sua corte seriam adubados cavaleiros. A preocupação de Lúlio 
sobre o conhecimento dos valores da Cavalaria são expressados por “- Belo 
filho, meus pensamentos são sobre a Ordem de Cavalaria e do grande dever 
que é do cavaleiro manter a alta honra da Cavalaria.” (Lúlio, 2010, p. 9). O 
personagem eremita, criado por Lúlio, surpreende-se ao perceber que as 
regras da Ordem da Cavalaria não foram passadas para o jovem escudeiro e 
faz um alerta: 
- Como, filho? – disse o cavaleiro – e tu não sabes qual é a regra e a 
Ordem de Cavalaria? E como tu podes aspirar à Cavalaria se não 
tens sapiência da Ordem de Cavalaria? Pois nenhum cavaleiro pode 
manter a Ordem que não sabe, nem pode amar sua Ordem, nem o 
que pertence à sua Ordem, se não sabe a Ordem de Cavalaria, nem 
sabe conhecer as faltas que são contra sua Ordem. Nem nenhum 
cavaleiro deve armar outro cavaleiro se não conhece a Ordem de 
Cavalaria, porque desonrado cavaleiro é que faz outro cavaleiro e 
não sabe lhe mostrar os costumes que pertencem ao cavaleiro. 
(LÚLIO, 2010, p.9) 
Tendo estado em contato direto com a coroa de Aragão e sabendo dos 
problemas aos quais esta enfrentava nos anos próximos da escrita do Livro da 
Ordem da Cavalaria, conforme Ricardo da Costa 
Com a morte de Jaime I neste mesmo ano, Jaime II de Maiorca se viu 
envolvido numa guerra de grandes proporções com seu irmão (Pedro 
III de Aragão, 1276-1285 — Pedro III de Aragão também possuía o 
título condal da Catalunha, mas aí era Pedro II) que mobilizou as 
grandes forças políticas de seu tempo: o papado e a coroa francesa. 
Esta guerra afetou diretamente a existência de Miramar e a vida de 
Ramon, e, provavelmente, suas ideias a respeito da função, do papel 
da monarquia e da importância da paz como fator de unidade interna 
da cristandade. A querela começou quando Jaime I fez seu 
testamento (1272) dividindo seu reino entre seus dois filhos Jaime 
recebeu Montpellier, as ilhas Baleares, os condados de Rossillón e 
Cerdaña e as regiões fronteiriças de Vallespir e Conflent; Pedro ficou 
com o reino de Aragão, o principado da Catalunha e Valência. Com a 
 
 
27 
 
morte de Jaime I (1276), Jaime II se coroou rei de Maiorca. (COSTA, 
2001, p. 165-166) 
Para entender a mentalidade de Lúlio naquele momento é necessário 
compreender o momento históricoao qual o autor estava inserido. Havia uma 
disputa territorial entre Pedro III e Jaime II. O momento se agrava em 1279 
(ano de início da escrita da obra O Livro da Ordem da Cavalaria) quando, 
segundo Costa: 
No entanto, Pedro III de Aragão não se conformou com esta divisão 
e, em 1279, pelo Tratado de Perpignan, obrigou seu irmão Jaime II, 
pela força das armas, a reconhecer que administrava a ilha na 
qualidade de “feudatário honrado do conde-rei”, isto é, como vassalo. 
O estado maiorquino se convertia numa série de distritos territoriais 
integrados juridicamente à confederação. O ato de Pedro III fazia 
parte de um plano maior de expansão aragonesa com vistas à 
hegemonia catalã-aragonesa no Mediterrâneo; as ilhas eram um 
ponto estratégico para controlar o comércio marítimo. (COSTA, 2001, 
p.166) 
A ética cavaleiresca que o eremita tratava de explanar ao jovem 
escudeiro estava imbuída de valores que deveriam ser conhecidos e 
relembrados, conforme Zierer e Messias “Além disso, o ofício de cavaleiro está 
associado ao cristianismo, responsável em moldar a cavalaria a partir dos 
princípios ideológicos da fé cristã.” (ZIERER & MESSIAS, 2013, p. 135). 
O escudeiro deixa o encontro com o eremita portando a obra a ser 
analisada, segundo Lúlio 
[...] a regra e a Ordem de Cavalaria estão nesse livro que leio 
algumas vezes para que me faça relembrar a graça e a mercê que 
Deus me fez neste mundo; porque honrei e mantive a Ordem de 
Cavalaria com todo meu poder; porque assim como a Cavalaria da 
tudo que pertence ao cavaleiro, assim o cavaleiro deve empenhar 
todas as suas forças para honrar a Cavalaria. 
[...] O Cavaleiro deu sua bênção ao escudeiro, e o escudeiro pegou o 
livro e muito devotadamente se despediu do cavaleiro, e subiu em 
seu palafrém e se foi para a corte muito alegremente. E sábia e 
ordenadamente deu e apresentou aquele livro ao muito nobre rei e 
toda a grande corte, e permitiu que todo cavaleiro que quisesse entrar 
na Ordem de Cavalaria o pudesse copiar, para que de vez em 
quando o lesse e recordasse a Ordem de Cavalaria. (LÚLIO, 2010, 
p.9-11) 
As dificuldades políticas e o exílio de Lúlio de Maiorca, por cerca de 20 
anos, até o território retornar a Jaime II, podem ter relação com a aspiração da 
parábola apresentada no prólogo, levar o texto ao Rei para que os valores da 
 
 
28 
 
Cavalaria, segundo seus próprios preceitos, fossem relembrados e repassados 
aos novos cavaleiros. Deixando de lado suas aspirações de domínio e de 
controle marítimo do mediterrâneo. O cavaleiro, valendo-se de suas armas, 
deveria proteger a Cristandade, lutar pelos costumes cristãos tendo a fé como 
guia. Entretanto, Lúlio apresenta a ideia de desvio desse caminho, conforme 
abaixo. 
 
2.1 DOS VÍCIOS E VIRTUDES DE SER UM CAVALEIRO EXPRESSOS NA 
OBRA DE LÚLIO 
 
Lúlio apresenta uma série de conceitos no que tangenciava a educação 
de um cavaleiro, bem como a constante vigilância desses conceitos expressos 
em sua obra. Para Marroni “Llull apresenta a educação do cavaleiro permeada 
pela elevação das virtudes como justiça, sabedoria, caridade, lealdade, 
humildade, fortaleza e esperança, todos eles precedidos do mais importante – 
amar e temer a Deus.” (MARRONI, 2013, p. 2). 
Com conceitos pautados na cultura cristã e valendo-se dos preceitos 
bíblicos, segundo Zierer 
No prólogo de sua obra afirma que o livro é dividido em sete partes, 
comparando com os planetas e o ordenamento do mundo. O número 
sete possui uma forte simbologia, pois de acordo com a Bíblia o 
mundo foi criado em sete dias. Por ser um número perfeito está 
ligado as sete virtudes, as três teologais – fé, esperança e caridade; e 
as quatro cardeais – justiça, prudência, fortaleza e temperança. 
Essas virtudes devem ser seguidas pelo cavaleiro para que possa 
encontrar a salvação e estão opostas aos sete pecados capitais – ira, 
avareza, inveja, luxúria, preguiça (acídia), gula (glutonia) e soberba 
(orgulho). Os pecados segundo Llull devem ser combatidos pelos 
bons cavaleiros através da leitura do Livro da Ordem de Cavalaria, da 
frequência às missas, da leitura da Bíblia e das orações. Já os maus 
cavaleiros atacam inocentes, fracos, mulheres e são duramente 
criticados pelo autor. (ZIERER, 2009, p. 5) 
A forma de educação à Cavalaria empregada por Lúlio com os valores 
ideológicos da Cristandade dá sentido às armas do cavaleiro protegendo-o 
contra os vícios e direcionando-o em sua conduta, para o catalão 
 
Ajustada a mais nobre besta ao mais nobre homem, seguidamente 
conveio que o homem elegesse e escolhesse de todas as armas, 
aquelas armas que são mais nobres e mais convenientes para o 
combate e para defender o homem das feridas e da morte, e aquelas 
 
 
29 
 
armas o homem doou e apropriou ao cavaleiro. Ao cavaleiro é dada a 
espada, que é feita à semelhança da cruz, para significar que assim 
como nosso Senhor Jesus Cristo venceu na cruz a morte na qual 
tínhamos caído pelo pecado de nosso pai Adão, assim o cavaleiro 
deve vencer e destruir os inimigos da cruz com a espada. E porque a 
espada é cortante em cada lado, e Cavalaria é para manter a justiça, 
e justiça é dar a cada um o seu direito, por isso a espada do cavaleiro 
significa que o cavaleiro com espada deve manter a Cavalaria e a 
Justiça. Chapéu de ferro é dado ao cavaleiro para significar vergonha, 
porque cavaleiro sem vergonha não pode ser obediente à Ordem de 
Cavalaria. [...] a fim de que não possa entrar nele nem traição nem 
orgulho nem deslealdade nem nenhum outro vício. Cota de malha 
significa castelo e muro contra vícios e faltas; Calças de ferro são 
dadas ao cavaleiro para manter seguros seus pés e suas pernas, 
para significar que cavaleiro deve manter seguros os caminhos com 
ferro (...); Escudo é dado ao cavaleiro para significar ofício de 
cavaleiro, porque assim como o cavaleiro mete o escudo entre si e 
seu inimigo, assim o cavaleiro é o meio que está entre o rei e seu 
povo. (LULIO, 2010, p. 13, 77-83) 
Podemos perceber em seu discurso alguns preceitos evidenciados em 
seu texto e um paralelo com a Bíblia é possível traçar a partir da carta, na fé 
Cristã, aos Efésios escrita por São Paulo 
(...) pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim 
contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes do 
mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas 
regiões celestes. 
Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no 
dia mau e, havendo feito tudo, permanecer firmes. 
Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e 
vestida a couraça da justiça, e calçando os pés com a preparação do 
evangelho da paz, tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual 
podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. 
Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é 
a palavra de Deus; (BÍBLIA, Efésios, 6, 12-17) 
Na visão de Costa, “A sacralização dos gestos pelos quais as armas 
eram entregues ao cavaleiro recém ingresso na ordem tinha como objetivo 
estender o reino de Cristo ao mundo dos homens através da espada em forma 
de cruz (...)”. (COSTA, 2001, p. 23). Assim, Lúlio segue ressignificando cada 
veste, cada arma com a simbologia bíblica exaltando as virtudes e 
demonstrando a proteção contra os vícios que podem abater ao bom cavaleiro. 
A historiadora Bianca Messias traz um quadro com a captação dos 
vícios e virtudes abordados por Lúlio no “Livro da Ordem da Cavalaria” 
conforme segue: 
 
 
30 
 
 
VIRTUDES VÍCIOS 
TEOLOGAIS8 
FÉ LUXÚRIA 
ESPERANÇA AVAREZA 
CARIDADE IRA 
CARDEAIS9 
JUSTIÇA INVEJA 
PRUDENCIA SOBERBA 
FORTALEZA ORGULHO 
TEMPERANÇA GLUTONIA 
 (Fonte: MESSIAS, 2012) 
 
Na visão de Lúlio, as armas são a representação da proteção e do dever 
do cavaleiro para com suas virtudes contra os vícios do mundo. O cavaleiro 
vem para combater tais vícios são estes que evocam diretamente o cavaleiro 
no mundo,segundo o autor: 
Faltou caridade, lealdade, justiça e verdade no mundo; começou 
inimizade, deslealdade, injúria, falsidade; e, por isso surgiu erro e 
turvamente no povo de Deus, que foi criado para que Deus fosse 
amado, conhecido, honrado, servido e temido pelo homem. 
No começo, como veio ao mundo menosprezo de justiça devido à 
míngua de caridade, conveio que pelo temor a justiça retornasse à 
sua honra. E por isso, de todo o povo foram divididos em grupos de 
mil e de cada mil foi eleito e escolhido um homem, mais amável, mais 
sábio, mais leal e mais forte, e com mais nobre coragem, com mais 
 
8 Sobre as virtudes, no texto Lúlio separa as mesmas em teologais e cardeais, sobre diversos 
pensamentos de filósofos medievais a inspiração das virtudes teologais provém de São Paulo e 
trata das virtudes provenientes de Deus, conforme Costa: “Elas se encontram em São Paulo 
(c.10-66 d.C.), em sua Primeira Epístola aos Coríntios, escrita por volta dos anos 50-57 d.C. Ao 
comentar o uso e a hierarquia dos carismas — um dos problemas cruciais do cristianismo 
primitivo — São Paulo, trata da importância da caridade (...) São Paulo fala das três virtudes 
teologais: fé, esperança e caridade, sendo que a caridade — no sentido grego de ágape, um 
amor de dileção, que quer o bem do próximo, sem fronteiras, que busca a paz no sentido mais 
puro, o amor que é a própria natureza de Deus — é a maior delas. (COSTA, 2001, p. 33) 
9 De forma simples podemos relatar no pensamento de Tomás de Aquino transcrito Bazuchi no 
que tange a diferenciação de virtudes cardeais e virtudes teologais como a primeira um 
comportamento racional, adquirido da aprendizagem e a segunda ser pertinente ao divino, 
doadas por Deus na alma do homem, conforme a autora: “A virtude teria nossas almas como 
sujeito, sendo sua distinção o vício. Além do que, as virtudes são algo mediante o qual vivemos 
retamente. Assim, em relação a esta noção de virtude, Tomás seguiu Aristóteles, 
considerando-a também como um habitus e como uma capacidade. Para ele, a ideia geral de 
virtude corresponde ser de uma disposição sólida e firme da parte racional do homem. Porém, 
quanto à distinção, Tomás estabelece uma diferenciação fundamental entre virtudes adquiridas 
e virtudes infusas. Quanto àquelas, como o próprio nome diz, significa virtudes que não estão 
imanentes em nós, sendo desta forma objetos de aprendizagem (como é o caso das virtudes 
cardeais). Já as virtudes infusas são aquelas conferidas por Deus à alma não sendo, portanto, 
adquiridas (como é o caso das virtudes teologais: fé, esperança e caridade). (BAZUCHI, 2011, 
p. 50) 
 
 
31 
 
ensinamentos e de bons modos que todos os outros. (LÚLIO, 2010, 
p. 13) 
A dicotomia entre os vícios e virtudes, disputados internamente em cada 
cavaleiro, é evidenciado em uma batalha ética no íntimo de cada um, segundo 
Messias e Zierer: 
Os vícios são constantemente presentes e praticados pelos 
cavaleiros, reinando principalmente durante os torneios, atividade 
favorita dos guerreiros e encontro dos pecados mundanos, em que 
verificamos o desempenho da inveja de seu próximo, por ser melhor 
nas armas e mais forte; a ira em que eles ferem e matam sem 
piedade; a avareza ao realizarem as guerras privadas, visando o 
lucro e aprisionando o adversário, esperando a recompensa do 
resgate; a gula ao participarem de muitas festas que oferecem muito 
comer e beber; a soberba exibindo a sua vaidade; o orgulho em que 
louvam as suas glórias e conquistas; a luxúria ostentando a sua 
posição social de ser nobre e agradando as damas. (MESSIAS & 
ZIERER, 2013, p. 147-148) 
É com esse tema que a cavalaria medieval é edificada na concepção de 
Lúlio, na tentativa de imprimir aos bellatores um manual de ética da cavalaria 
naquele período, Segundo Costa: 
Com sua obra, Llull pretendia iluminar com valores morais e éticos os 
novos pretendentes à cavalaria, registrando por escrito os códigos 
cavaleirescos, a sacralização do rito de passagem (adoubament), a 
simbologia das armas do cavaleiro e principalmente as virtudes que o 
cavaleiro deveria conhecer e os vícios que deveria evitar para honrar 
a ordem de cavalaria e se tornar um cavaleiro de “bons costumes e 
bons ensinamentos”. (COSTA, 2001, p. 13) 
 A preocupação de Lúlio na formação dos novos cavaleiros desde 
o juramento à Ordem até a prática cavaleiresca são constituídas pela essência 
das virtudes descritas por São Paulo e incorporadas no discurso do Catalão, e 
a imagem invertida no espelho, os vícios são um alerta à cavalaria numa 
mensagem que deveria chegar até o rei para que o mesmo fosse vigilante 
consigo e com seus cavaleiros. 
Dentre os costumes do bom cavaleiro, Lúlio apresentou um sistema 
lógico de “conveniências” que estabelecem primariamente o bom cavaleiro e o 
que lhe convém fazer. Em seu oposto, o que não lhe convém, habita o vício 
materializado no pensamento dos sete pecados capitais. 
Na análise de Costa, “(...) Llull ainda opõe diretamente as virtudes aos 
vícios, alterando um pouco a relação acima e criando uma série de binômios 
 
 
32 
 
contrários.” (COSTA, 2009, p. 67), a relação apresentada no capítulo anterior é 
alterada quando Lúlio trata dos vícios. Nas virtudes a fé é a principal delas, pois 
é dela que surgem as demais. Nas palavras do autor: “Cavaleiro sem fé não 
pode ser bem acostumado porque, pela fé vê o homem espiritualmente a Deus 
e suas obras, crendo nas coisas invisíveis. E pela fé o homem tem esperança, 
caridade, lealdade e é servidor da verdade.” (LÚLIO, 2010, p. 89). 
Entretanto quando se trata de vícios é a fortaleza a principal força que 
mantém o bom cavaleiro dentro das conveniências, segundo Costa: 
De todas as virtudes, a fortaleza seria a mais necessária ao cavaleiro, 
pois ela combateria a luxúria, a avareza, a preguiça, a soberba e a 
inveja, pecados mortais que provavelmente assolavam a cavalaria da 
época. Na descrição de todos os vícios, Ramon dá exemplos de 
como os cavaleiros eram tentados. (COSTA, 2009, p. 67) 
Então, para Lúlio, um cavaleiro deveria resistir às tentações que seu 
posto iria impor para si, a fortaleza e a humildade protegem o cavaleiro da 
soberba, pois 
Cavalaria não pode ser mantida sem o arnês que pertence ao 
cavaleiro, nem sem os honrados feitos e as grandes despesas que 
convêm ao ofício de Cavalaria. E por isso, escudeiro sem armas e 
que não possua tanta riqueza que possa manter Cavalaria não deve 
ser cavaleiro, porque por falta de riqueza falha o arnês, e por 
enfraquecimento do arnês e despesas, malvado cavaleiro torna-se 
roubador, traidor, ladrão, mentiroso, falso e de outros vícios que são 
contrários à Ordem de Cavalaria. (LÚLIO, 2010, p. 61) 
Na avareza como no excerto acima que trata do cavaleiro sem riqueza 
não tem condições de tomar armas, pois pode se entregar aos vícios, por 
almejar a riqueza dos outros deixando o sentido do ofício ao qual foi designado. 
Ao orgulho, ou acídia, cabia também a fortaleza resistir, pois segundo o autor, 
“se o escudeiro tem vanglória do que faz, não parece que seja bom cavaleiro, 
porque vanglória é vício que destrói os méritos e as recompensas dos bons 
feitos que são dados pela Cavalaria” (LÚLIO, 2010, p. 63). 
Para combater a luxúria o cavaleiro deve se pautar na fortaleza, que “(...) 
seguir-se-ia que Cavalaria fosse mais conveniente à natureza do corpo do que 
da alma e isso não é verdade, uma vez que a nobreza de coragem que convém 
à Cavalaria, convém melhor com alma do que com o corpo.” (LÚLIO, 2010, p. 
59). É na fortaleza que se combate também a inveja. Nas palavras de Lúlio: 
 
 
33 
 
Fortaleza é virtude que se encontra no coração nobre contra os sete 
pecados mortais, que são carreiras pelas quais vai-se aos infernais 
tormentos que não tem fim: glutonia, luxúria, avareza, preguiça, 
acídia, ira. (LÚLIO, 2010, p. 95) 
A fortaleza é simbolizada, no ritual de adubamento, na entrega das 
armas como a armadura,citada anteriormente. No quadro abaixo adaptado de 
Costa, vemos o contraponto de cada um desses vícios que deveriam ser 
combatidos pelo cavaleiro ou pelo escudeiro que aspira o ofício de cavalaria: 
 
Pecados Conveniências ao bom Cavaleiro 
Glutonia Abstinência 
Luxúria Fortaleza 
Avareza Fortaleza 
Acídia Fortaleza 
Soberba Fortaleza e Humildade 
Inveja Fortaleza 
Ira 
Coragem, Caridade, Abstinência e 
Paciência 
 Adaptado de: COSTA, Ricardo da. Ensaios de História Medieval. p. 67. 
Rio de Janeiro: Ed. Sétimo Selo, 2009. 
 
Na análise do quadro vemos a formação de um conjunto binário que, 
segundo Costa, “através de séries de binômios contrários, submetidos a uma 
lei de formação, o sistema luliano de virtudes e vícios formava um todo unitário. 
Seu objetivo era reproduzir no ser humano a imagem da Divindade, traduzindo 
as dignidades divinas em virtudes humanas.” (COSTA, 2009, p. 67). Para cada 
pecado havia uma virtude a ser ressaltada, que serviria de base para o 
caminho do bom cavaleiro, pautada no conceito de “conveniências” de Lúlio 
que direcionavam o ideal de um bom cavaleiro. 
Lúlio compôs um ideal de cavaleiro forjado no combate contínuo dos 
vícios, entretanto, segundo Costa, 
A proposta utópica do Livro da Ordem de Cavalaria nunca pôde 
realizar-se. O século XIV, com o fortalecimento das monarquias 
européias, a Guerra dos Cem Anos e a Grande Peste, viu o fim de 
todos os projetos cavaleirescos e dos sonhos de harmonia do sistema 
feudal baseado no conhecimento das virtudes e vícios criados pelos 
clérigos – e leigos como Ramon Llull. Terminava a Idade Média 
(COSTA, 2009, p. 68) 
 
 
34 
 
O texto de Lúlio carrega seus anseios como um homem de seu próprio 
tempo, objetivando educar e estabelecer a paz cristã, dentro de um “Projeto 
Civilizador Cristão” (COSTA, 2009, p. 68), ainda que frustrado pelos adventos 
históricos vindouros seu texto é importante para entender que Lúlio só se 
propõem a denunciar os vícios da cavalaria porque estavam inseridos naquela 
sociedade. 
 
 
 
 
35 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Raimundo Lúlio como filósofo e homem da Corte detinha um 
posicionamento político bem característico, ainda que cavaleiro e fiel ao rei seu 
posicionamento político fica marcado no prólogo do “Livro da Ordem da 
Cavalaria” onde podemos perceber a intencionalidade do autor quanto ao 
posicionamento do Rei Pedro III de Aragão (1239-1285) no que tange a 
administração de Maiorca e sua predileção em favor a Jaime II, na passagem 
do “eremita e o escudeiro”. 
O filósofo catalão cria um manual com pretensão de estabelecer um 
sistema de formação destinado aos cavaleiros. Levar o texto ao rei que 
promove os adubamentos é uma missão na tentativa de imprimir um ideal de 
cavaleiro no século XIII, segundo os princípios da Cristandade e os valores da 
Corte da época que representam a necessidade de moldar o grupo dos 
bellatores. 
 Percebemos com o texto do filósofo catalão que, segundo Zierer, “O 
propósito do autor era a valorização da importância do grupo social do qual ele 
mesmo, um ex-cavaleiro era proveniente, a nobreza, bem como contribuir para 
a salvação da sociedade como um todo.” (2009, p. 11). As disputas internas na 
Europa através das guerras privadas que Urbano II advertiu serviram de 
inspiração a Lúlio para direcionar os esforços dos cavaleiros aos inimigos da 
Cristandade e parar com as disputas internas. 
Além disso, Segundo Zierer e Messias, “O filósofo maiorquino também 
procurava impedir com o seu manual que pessoas enriquecidas, mas sem 
origens nobiliárquicas, ingressassem na cavalaria.” (2013, p. 150). O modelo 
de sociedade trifuncional proposto pelo Bispo Aldebarón de Laon influenciaram 
os ideais expostos pelo autor. 
Sobre o manual de conduta exposto por Lúlio, no sentido de formar o 
cavaleiro segundo os preceitos da Cristandade e impor valores ao mesmo, 
ative-me a tratar dos vícios com a intenção de produzir com esta monografia 
um contraponto às virtudes que são normalmente ressaltadas. 
O sistema luliano filosófico de conveniências faz uma abordagem 
diferenciada na formação do cavaleiro. Render-se aos vícios era pecar não 
somente contra si, mas contra a Ordem da Cavalaria e contra a Cristandade. 
 
 
36 
 
Legitimando sua filosofia através da carta de Paulo aos Efésios, Lúlio tenta 
ressaltar em seu texto o que convém ao cavaleiro que pretende seguir a Ordem 
no sentido de preparação para o mundano e para o espiritual. 
 
 
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