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2 SUMÁRIO 1 O QUE É EDUCAÇÃO EM SAÚDE ...................................................................................3 2 PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE ..........................................................................8 3 PROJETO PEDAGÓGICO DA ENFERMAGEM ............................................................. 14 4 PROMOÇÃO DA SAÚDE ................................................................................................ 16 5 METODOLOGIA .............................................................................................................. 18 6 DIRETRIZES ................................................................................................................... 19 7 PROGRAMA SAÚDE NAS ESCOLAS ............................................................................ 22 8 PROJETO MUNICIPAL ................................................................................................... 25 9 AGENDA DE EDUCAÇÃO E SAÚDE ............................................................................. 27 10 A ESCOLA COMO ESPAÇO DA AFETIVIDADE E DO CUIDADO COM A SAÚDE. ..... 37 11 PERFIL DO TÉCNICO DA ÁREA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE .................................... 39 12 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E GESTÃO COLEGIADA ....................................................... 40 13 PRINCIPAIS ENTIDADES E ATORES DO PROCESSO ............................................... 41 14 SAÚDE E EDUCAÇÃO: INTERFACES POSSÍVEIS ...................................................... 43 15 OS PRINCÍPIOS ÉTICO-POLÍTICOS DO SUS SÃO: ..................................................... 44 16 OS PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS DO SUS SÃO: ...................................................... 48 17 PROMOÇÃO DA SAÚDE ................................................................................................ 52 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 53 3 1 O QUE É EDUCAÇÃO EM SAÚDE Fonte: aves.edu.pt A educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção de doenças e promoção da saúde (Costa & López, 1996). Trata-se de um recurso por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, intermediado pelos profissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pes- soas, uma vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde. Uma das concepções mais generalizadas sobre educação e saúde é aquela cujas atividades se desenvolvem mediante situações formais de ensino-aprendiza- gem, funcionando como agregadas aos espaços das práticas de saúde. Os traços mais evidentes das relações que se estabelecem em situações desse tipo são o dida- tismo e a assimetria expressa na ação que parte do profissional de saúde na condição de “educador” em direção ao usuário dos serviços de saúde na condição de “edu- cando”. O didatismo ocorre na medida em que essas atividades tendem a ser desen- volvidas sem considerar as situações de risco de cada comunidade e sem levar em conta o conjunto das ações de saúde desencadeadas nesse sentido, ou seja, desen- volvem-se aparentemente como um fim em si mesmas. A eficácia da educação em saúde estruturada nestes termos estaria assentada apenas naqueles aspectos relati- vos a conteúdos e tecnologias de ensino, sem questionar os seus resultados em ter- mos individuais e coletivos e até mesmo, sem estabelecer a vinculação dos problemas de saúde de grupos sociais específicos com as suas condições reais de vida. http://aves.edu.pt/educacaosaude/?cat=5 4 Protagonizado por múltiplos atores da sociedade civil: movimentos sociais, pro- fissionais que atuam nos serviços de saúde, professores e pesquisadores de univer- sidades, educadores populares e agentes populares de saúde, o processo de cons- trução tem como base a reflexão sobre o estado da arte das práticas de educação em saúde nos serviços e a formulação de proposições com possibilidades de transformar tais práticas. Fonte: www.google.com.br Critica-se a concepção positivista, na qual a educação em saúde é vista de forma reducionista, cujas práticas são consideradas impositivas, prescritivas de com- portamentos ideais desvinculados da realidade e distantes dos sujeitos sociais, torna- dos objetos passivos das intervenções, na maioria das vezes, preconceituosas, coer- citivas e punitivas. E afirma-se a educação em saúde como prática na qual existe a participação ativa da comunidade, que proporciona informação, educação sanitária e aperfeiçoa as atitudes indispensáveis para a vida. A essência humana é a resultante das relações que homens e mulheres têm estabelecido historicamente (Misik.2006). Isto equivale a afirmar que é no processo de trabalho em que homens e mulheres, em interação com o outro e com o meio, constroem-se diante dos outros; constroem-se reciprocamente; acrescentam à natu- reza tudo aquilo a que denominamos cultura. Por isso considera-se que o trabalho é uma prática social. Em outras palavras, nos constituímos como sujeitos, nos educa- mos, aprendemos a ser, tomamos consciência de nós e do outro no processo de re- lações que produz e reproduz a sociedade da qual participamos. 5 O trabalho em saúde, por sua vez, demarca um espaço parcial desse processo mais geral e permanente de construção da sociedade. Por isso também é visto como uma prática social, porque também se desenrola tendo por finalidade a produção e reprodução da sociedade e só por isso constitui, também, uma prática educativa. Nesse sentido, o espaço da saúde materializa-se com base em distintos proje- tos, que visam à transformação de uma situação de saúde em uma nova situação, orientados por diferentes concepções de mundo e de homem. Logo, nesses projetos estão postas distintas direções e intencionalidades, que se expressam nos seus respectivos projetos político-pedagógicos, que como já foi afirmado estão na base das relações que caracterizam o Sistema Único de Saúde, hoje. Em termos práticos, isto significa que as formas dominantes como as práticas de saúde são realizadas expressam um projeto específico para a sociedade brasileira, o que supõe que outros projetos são possíveis de co- existir, coerentes com propostas alternativas de sociedade que apontem, por exemplo, para a extinção das iniquidades e das injustiças sociais. Isto implica por sua vez que, além da transformação da situação de saúde da sociedade brasileira, impõe-se ao trabalhador da saúde a necessidade de uma per- manente transformação da consciência sanitária dos brasileiros, de modo a torná-la consentânea com o projeto de uma nova sociedade. Em síntese, o agir em saúde não é um que fazer neutro. O trabalho em saúde como prática social, contém uma dimensão política e ideológica, sempre referidas a um projeto de sociedade, o que implica um comprometimento ético por parte de todos os sujeitos em relação neste campo, sejam eles os grupos sociais usuários da rede de atenção à saúde, os profissionais das equipes de saúde, os gestores (Mehry et alli. 2003). 6 Fonte: www.google.com.br Vista como uma prática política, o trabalho em saúde evidencia o componente do poder em termos técnicos, políticos e administrativos, que expressam o projeto dominante no campo da saúde; os conflitos existentes nesta área; as opções em ter- mos tecnológicos e organizacionais; as formas como se encaminham as relações en- tre os grupos sociais e as autoridades da saúde; o modo como a atenção em saúde assume os seus contornos em termos estruturais, físicos, de atos e procedimentos. Dessa forma, se é verdade que nos educamos e nos constituímos como su- jeitos mediante as relações sociais que estabelecemos, no campo da saúdea cons- trução da nossa individualidade; a emergência da nossa consciência sanitária; o sen- timento de pertinência a um grupo social específico dependerá da qualidade das prá- ticas de atenção à saúde expressas nas suas estruturas físicas, nos seus processos, e nas relações usuários/equipes/gestores. Nestes termos, a prática educativa em saúde amplia-se, visto que ultrapassa uma mera relação de ensino/aprendizagem didatizada e assimétrica; extrapola o cul- tivo de hábitos e Diretrizes de Educação em Saúde Documento base 11 comporta- mentos saudáveis; incorpora a concepção de direção e intencionalidade, visando à um projeto de sociedade; será sempre construída tendo por referência situações de saúde de um grupo social ou de uma classe específica; supõe uma relação dialógica pautada na horizontalidade entre os seus sujeitos; recoloca-se como atribuição de todo o trabalhador de saúde. Isto porque não são as atividades formais de ensino que 7 educam, mas sim, as relações mediante as quais, num processo de trabalho, trans- formamos a nossa consciência em uma nova consciência. O modelo tradicional, historicamente hegemônico, focalizando a doença e a intervenção curativa e fundamentado no referencial biologicista do processo saúde- doença, preconiza que a prevenção das doenças prima pela mudança de atitudes e comportamentos individuais (Smeke & Oliveira, 2001; Chiesa & Veríssimo, 2003). As estratégias desta prática educativa em saúde incluem informações verticalizadas que ditam comportamentos a serem adotados para a manutenção da saúde. Os usuários são tomados como indivíduos carentes de informação em saúde (Briceño-Léon, 1996). Desta maneira, a relação estabelecida entre profissionais e usu- ários é essencialmente assimétrica, uma vez que um detém um saber técnico-cientí- fico, com status de verdade, enquanto o outro precisa ser devidamente informado. Desta maneira, a comunicação profissional-usuário caracteriza-se pelo caráter infor- mativo, na qual o primeiro, assumindo uma atitude paternalista, explicita ao segundo hábitos e comportamentos saudáveis, o que fazer e como fazer para a manutenção da saúde. Pressupõe-se, ainda, que a partir da informação recebida os usuários serão capazes de tomar decisões para a prevenção de doenças e agravos, bem como po- derão assumir novos hábitos e condutas. Fonte: mixdetemas.com.br Quanto à disseminação de informação em saúde, particularmente por meio de campanhas e veiculadas pelos meios de comunicação de massa, Rice & Candeias (1989) falam do efeito temporário desta estratégia em relação a mudanças de hábitos e condutas. As autoras afirmam que a população não muda de comportamento em 8 definitivo, mas apenas reage a um estímulo temporário. Com a supressão do estímulo, o comportamento tende à extinção. A principal crítica a este modelo de educação, entretanto, tem sido referente a não consideração dos determinantes psicossociais e culturais dos comportamentos de saúde. Ao tomar os usuários como objeto das práticas educativas e carentes de um saber sobre a saúde, perde-se de vista que os comportamentos são orientados por crenças, valores, representações sobre o processo saúde-doença – todos estes representantes de formas outras de saber. Neste sentido, tem-se discutido sobre a consideração dos determinantes psicossociais e culturais nas práticas de educação em saúde (Gogna, 1998; Chor, 1999; Filgueiras & Deslandes, 1999). Propõe-se que estas sejam sensíveis às necessidades subjetivas e culturais dos usuários. Para tanto, reconhece-se a necessidade de abandonar estratégias comunicacionais informativas e a adoção de uma comunicação dialógica. 2 PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE Fonte: www.google.com.br A despeito da emergência de um novo discurso no campo da educação em saúde, prevalecem as práticas educativas hegemônicas. Da convivência entre as prá- http://Fonte:%20www.google.com.br/search?q=educação+em+saude+pdf&espv=2&biw=1366&bih=667&source 9 ticas emergentes e hegemônicas é possível delinear dois modelos de práticas de edu- cação em saúde, que podem ser referidos como modelo tradicional e modelo dialó- gico. Estes se encontram em polos extremos, sendo possível reconhecer modelos intermediários. O modelo tradicional, historicamente hegemônico, focalizando a doença e a intervenção curativa e fundamentado no referencial biologicista do processo saúde- doença, preconiza que a prevenção das doenças prima pela mudança de atitudes e comportamentos individuais (Smeke & Oliveira, 2001; Chiesa & Veríssimo, 2003). As estratégias desta prática educativa em saúde incluem informações verticalizadas que ditam comportamentos a serem adotados para a manutenção da saúde. Os usuários são tomados como indivíduos carentes de informação em saúde (Briceño-Léon, 1996). Desta maneira, a relação estabelecida entre profissionais e usu- ários é essencialmente assimétrica, uma vez que um detém um saber técnico-cientí- fico, com status de verdade, enquanto o outro precisa ser devidamente informado. Desta maneira, a comunicação profissional-usuário caracteriza-se pelo caráter infor- mativo, na qual o primeiro, assumindo uma atitude paternalista, explicita ao segundo hábitos e comportamentos saudáveis, o que fazer e como fazer para a manutenção da saúde. Pressupõe-se, ainda, que a partir da informação recebida os usuários serão capazes de tomar decisões para a prevenção de doenças e agravos, bem como po- derão assumir novos hábitos e condutas. Dito isto, aos trabalhadores da saúde impõe-se a necessidade de um compro- metimento ético, diante do qual cada um deles revela-se como detentor da função de sistematizador da situação de saúde em favor de grupos sociais específicos, supondo- se nessa relação o estabelecimento de vínculos de identidade, pertinência ou de soli- dariedade, por exemplo (Gramscci.1982). Seria este o fundamento do caráter educativo das práticas de saúde; seria esta a essência do papel de educador do qual todo e qualquer trabalhador do campo da saúde está investido. Isto posto, quais seriam então, as possibilidades de ser dos servidores da Fu- nasa que atuam na área de educação em saúde? Primeiramente, torna-se evidente que, uma vez que as práticas de saúde são constituintes da sociedade brasileira, o trabalhador em saúde, assim, como qualquer 10 outro trabalhador, está eticamente vinculado a um projeto para a sociedade brasileira, esteja ele consciente ou não deste fato. Esse compromisso se expressará na maneira como o seu agir estiver estrutu- rado, o qual redundará em um tipo de estrutura; um padrão de processo de trabalho; uma qualidade de relação entre os sujeitos; uma forma específica de vinculação Fun- dação Nacional de Saúde 12 dos sujeitos fundamentais nesse campo, diga-se: os grupos sociais usuários da rede de serviços; os trabalhadores do setor; os gestores do setor. Fonte: fortebens.com.br Na medida em que o agir de todo o trabalhador em saúde é um agir educativo; ele se transforma em um que fazer que assume uma direção e uma intencionalidade que desemboca em um dado projeto de sociedade. Este projeto pode estar condicio- nado a sua reprodução ou manutenção nos termos em que ela já existe ou estar em- penhado em uma transformação radical das bases da sua estrutura e do seu funcio- namento. A principal crítica a este modelo de educação, entretanto, tem sido referente a não consideração dos determinantes psicossociais e culturais dos comportamentos de saúde. Ao tomar os usuários como objeto das práticas educativas e carentes de um saber sobre a saúde, perde-se de vista que os comportamentos são orientados por crenças, valores, representações sobre o processo saúde-doença – todos estes representantes de formas outras de saber. Neste sentido, tem-se discutido sobre a consideração dosdeterminantes psicossociais e culturais nas práticas de educação 11 em saúde (Gogna, 1998; Chor, 1999; Filgueiras & Deslandes, 1999). Propõe-se que estas sejam sensíveis às necessidades subjetivas e culturais dos usuários. Para tanto, reconhece-se a necessidade de abandonar estratégias comunicacionais informativas e a adoção de uma comunicação dialógica. A proposição de práticas educativas sensíveis às necessidades dos usuários insere-se no discurso emergente de educação em saúde – o modelo dialógico. Em oposição ao modelo tradicional, trabalha-se com a perspectiva de sujeitos das práticas de saúde (Ayres, 2001). Neste sentido, Briceño-Léon 4 8 ALVES, V. S. Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.16, p.39-52, set.2004/fev.2005 (1996) apresenta dois princípios básicos na orientação das ações de saúde. Primeiramente, é necessário conhecer os indivíduos para os quais se destinam as ações de saúde, incluindo suas crenças, hábitos e papéis, e as condições objetivas em que vivem. O segundo princí- pio parte da premissa de que é preciso envolver os indivíduos nas ações, o que se contrapõe a sua imposição. O autor pondera que apenas com a participação comuni- tária é possível assegurar sustentabilidade e efetividade das ações de saúde. Educação Popular – busca promover a participação dos sujeitos sociais, in- centivando a reflexão, o diálogo e a expressão da afetividade, potencializando sua criatividade e sua autonomia. Fonte: bvsalud.org Educação popular em saúde – volta-se para a promoção da participação so- cial no processo de formulação e gestão da política de saúde, direcionando-se para o 12 cumprimento efetivo dos princípios ético-políticos do SUS: universalidade, integrali- dade, equidade, descentralização, participação e controle social. Considerando que a Educação Popular em Saúde representa o conjunto de conceitos polissêmicos, que ganham expressão concreta nas ações sociais orienta- das pela construção de correspondência entre as necessidades sociais e a configura- ção de políticas públicas, proporcionando lutas coletivas em torno de projetos que levem à autonomia, solidariedade, justiça e equidade. As ações de Educação Popular em Saúde impulsionam movimentos voltados para a promoção da participação social no processo de formulação e gestão das po- líticas públicas de saúde direcionando-as para o cumprimento efetivo das diretrizes e dos princípios do SUS: universalidade, integralidade, equidade, descentralização, par- ticipação e controle social. Ao trabalhar com atores sociais, a Educação Popular contribui para a constru- ção de cenários nos quais os movimentos populares possam se fazer presentes, apre- sentando novas temáticas, experiências e desejos. Educação permanente – estratégia de reestruturação dos serviços, a partir da análise dos determinantes sociais e econômicos, mas sobretudo de valores e concei- tos dos profissionais. Propõe transformar o profissional em sujeito, colocando-o no centro do processo ensino-aprendizagem (Mota) ” A ‘educação permanente em saúde’ precisa ser entendida, ao mesmo tempo, como uma ‘prática de ensino-aprendizagem’ e como uma ‘política de educação na saúde’. Ela se parece com muitas vertentes brasileiras da educação popular em saúde e compartilha muitos de seus conceitos, mas enquanto a educação popular tem em vista a cidadania, a educação permanente tem em vista o trabalho. Como ‘prática de ensino-aprendizagem’ significa a produção de conhecimentos no cotidiano das instituições de saúde, a partir da realidade vivida pelos atores envol- vidos, tendo os problemas enfrentados no dia-a-dia do trabalho e as experiências des- ses atores como base de interrogação e mudança. A ‘educação permanente em sa- úde’ se apoia no conceito de ‘ensino problematizador’ (inserido de maneira crítica na realidade e sem superioridade do educador em relação ao educando) e de ‘aprendi- zagem significativa’ (interessada nas experiências anteriores e nas vivências pessoais dos alunos, desafiante do desejar aprender mais), ou seja, ensino-aprendizagem em- basado na produção de conhecimentos que respondam a perguntas que pertencem 13 ao universo de experiências e vivências de quem aprende e que gerem novas per- guntas sobre o ser e o atuar no mundo. É contrária ao ensino-aprendizagem mecâ- nico, quando os conhecimentos são considerados em si, sem a necessária conexão com o cotidiano, e os alunos se tornam meros escutadores e absorvedores do conhe- cimento do outro. Portanto, apesar de parecer, em uma compreensão mais apressada, apenas um nome diferente ou uma designação da moda para justificar a formação contínua e o desenvolvimento continuado dos trabalhadores, é um conceito forte e desafiante para pensar as ligações entre a educação e o trabalho em saúde, para colocar em questão a relevância social do ensino e as articulações da formação com a mudança no conhecimento e no exercício profissional, trazendo, junto dos saberes técnicos e científicos, as dimensões éticas da vida, do trabalho, do homem, da saúde, da educa- ção e das relações. Mobilização social – “a mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade, uma sociedade decide e age com objetivo comum, buscando, quotidia- namente, os resultados desejados por todos. Por isso se diz que Mobilização Social: é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpre- tação e um sentido também compartilhado (José Bernardo Toro, 1996) ”. Processos educativos com ênfase na participação popular têm sido, segundo Bógus (2007), cada vez mais valorizados na área da saúde coletiva, e seu encami- nhamento tem ocorrido inclusive fora dos espaços institucionais mais tradicionais, pois têm se mostrado capazes de melhor atender a diversidade e a heterogeneidade dos grupos sociais envolvidos, garantindo a troca de saberes, a interlocução e aproxima- ção necessária entre os diversos atores. Ressalta ainda a autora outra característica importante da educação popular, que é considerar o contexto grupal e local, ou seja, os conhecimentos e as experiências prévias de cada participante, para melhor com- preensão dos determinantes das situações-problema e a elaboração de propostas de soluções e ações. Agir educativo – Segundo documentos do Ministério da Saúde, é ação social que se alimenta do processo de construção de um substrato teórico metodológico de sustentação, de projetos políticos que suscitem a participação da sociedade e de ações capazes de produzirem novos sentidos nas relações entre necessidades de saúde da população e organização do cuidado da saúde. 14 Na medida em que o agir de todo o trabalhador em saúde é um agir educativo; ele se transforma em um que fazer que assume uma direção e uma intencionalidade que desemboca em um dado projeto de sociedade. Este projeto pode estar condicio- nado a sua reprodução ou manutenção nos termos em que ela já existe ou estar em- penhado em uma transformação radical das bases da sua estrutura e do seu funcio- namento. 3 PROJETO PEDAGÓGICO DA ENFERMAGEM O processo pedagógico da enfermagem, com ênfase na educação em saúde, en- contra-se em evidência, já que atualmente é reconhecido como uma estratégia pro- missora no enfrentamento dos múltiplos problemas de saúde que afetam as popula- ções e seus contextos sociais. O enfermeiro tem destaque, já que é o principal atuante no processo de cuidar por meio da educação em saúde. A educação em saúde se insere no contexto da atuação da enfermagem como meio para o estabelecimento de uma relação dialógico-reflexiva entre enfermeiro e cliente, em que este busque conscientizar-se sobre sua situação de saúde-doença e perceba-se como sujeito de transformação de sua própria vida. A educação em saúde constitui instrumento para a promoção da qualidade de vida de indivíduos,famílias e comunidades por meio da articulação de saberes técnicos e populares, de recursos institucionais e comunitários, de iniciativas públicas e privadas, superando a conceituação biomédica de assistência à saúde e abrangendo multide- terminantes do processo saúde enfermidade-cuidado. Atualmente, uma nova abordagem de educação em saúde vem se destacando por valorizar o desenvolvimento da consciência crítica das pessoas, favorecendo o despertar, inclusive, da necessidade da luta por direitos à saúde e à qualidade de vida. Compreende-se, portanto, que a educação em saúde atingiu dimensões além do bio- lógico, considerando, também, a necessidade de mobilizar fatores políticos, ambien- tais, culturais, entre outros. Todo o processo evolutivo da educação em saúde no Brasil ocorreu com base em eventos políticos e econômicos que suscitaram reflexão sobre a necessidade de trans- formações sobre a forma de interação entre profissional de saúde-cliente em busca 15 da promoção da saúde. A enfermagem presenciou todo esse processo de transforma- ção e sofreu influências sobre suas práticas. O resgate das práticas de educação em saúde da enfermagem realizadas no Bra- sil desde o início das intervenções na saúde pública até os dias atuais é importante para que se compreendam avanços e perspectivas do processo, como também para que se possa refletir acerca das influências de determinantes além das áreas da sa- úde propriamente dita sobre as práticas e políticas de saúde. A promoção da saúde exige uma visão ampliada do processo saúde-doença, no qual as práticas dos enfermeiros substituam a noção de cura das doenças do modelo clínico por outra que amplie a capacidade de autonomia dos indivíduos e grupos para o alcance dos seus objetivos pessoais (de ser saudável) e sociais (de agir no grupo para transformação social). A educação em saúde, como pluralidade de ações para a promoção da saúde, necessita utilizar estratégias didáticas que transformem indivíduos socialmente inse- ridos no mundo, ampliando sua capacidade de compreensão da complexidade dos determinantes de ser saudável. A educação em saúde visa a adoção de um novo paradigma educacional centrado na promoção de escolhas saudáveis, livres e racionais, descartando a visão de mu- dança de comportamento como uma das metas da promoção da saúde que acabava complicando a superação de um modelo da educação em saúde arcaico, baseado na mudança de estilos de vida individuais. A educação em saúde, realizada de forma precipitada e arcaica, culpava a vítima pelo seu próprio infortúnio, considerando isso como uma falha moral da pessoa, e utilizava a persuasão dos indivíduos, para que esses adotassem modos de vida sau- dáveis ou comportamentos considerados pelos profissionais do campo da biomedicina como compatíveis com a saúde. A educação em saúde deve superar essa conceituação biomédica de saúde e abranger objetivos mais amplos, descartando as ações de caráter individual e coerci- tivo. A educação, nesse sentido, deve deixar de ser um simples instrumento de trans- missão de informações, no qual o educando é visto como um passivo recipiente do conhecimento que será fornecido pelo professor que tudo sabe. A promoção da saúde exige o rompimento desses paradigmas, já que o tradicional modelo clínico centrado na doença torna-se adverso à saúde pública. 16 O enfermeiro como educador em saúde deve contribuir para a conscientização individual e coletiva, questionando as responsabilidades e os direitos à saúde, estimu- lando ações que atendam aos princípios do SUS, principalmente acessibilidade, equi- dade, universalidade e participação popular. Entendendo, então, que o principal obje- tivo da educação em saúde é promover a saúde para que indivíduos vivam a vida com qualidade, formar-se-ão indivíduos conscientes capazes de se responsabilizar pela sua própria saúde e intervir no ambiente que gere manutenção da sua saúde. Para isso, o processo educacional utilizado deve contemplar uma relação igualitária entre educando e educador. Há, assim, a necessidade de incorporar o empoderamento de indivíduos e comunidades, tornando-os mais autônomos para fazer escolhas informa- das. 4 PROMOÇÃO DA SAÚDE É um paradigma que ganhou visibilidade com a Carta de Ottawa, ao definir que a melhoria da qualidade de vida é “resultante de um conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais, comportamentais e, também, biológicos.” Este conceito foi fortalecido nas demais conferências mundiais de saúde, como: Adelaide; Sundsvall; Bogotá; Jacarta; V Conferência Global sobre Promoção da Sa- úde, realizada em junho de 2000, na Cidade do México e, mais recentemente, na VI Conferência Global de Promoção da Saúde, realizada em Bangkok, na Tailândia, em 17 2005. Esta Conferência teve saldo positivo por promover uma ampla discussão do contexto atual e suas repercussões para a saúde e qualidade de vida da população. A promoção da saúde, portanto, tem interface com diversos setores para que possa ser consolidada. Na Funasa, esta é uma prática adotada “mediante ações integradas de educa- ção em saneamento ambiental para a prevenção e controle de doenças e outros agra- vos, bem como em atendimento integral à saúde dos povos indígenas, com vistas à melhoria da qualidade de vida da população. Da promoção da saúde decorrem importantes estratégias, dentre as quais “a necessidade de uma ação ordenada entre governo, setores da saúde e setores econô- micos, organizações voluntárias e não-governamentais, autoridades locais, indústria e mídia”, respeitando diferenças sociais, culturais e econômicas. Outra estratégia decorrente da promoção da saúde é reforçar a ação comuni- tária, objetivando a formulação local de políticas saudáveis e permitindo uma maior influência da sociedade na definição de prioridades. Neste sentido, o processo de descentralização e as experiências exitosas de diversos sistemas municipais de sa- úde e comunitários no país são fatores favoráveis à adoção do paradigma da promo- ção da saúde no Brasil. As estratégias que podem ser utilizadas num processo contínuo e permanente de educação e promoção à saúde para impactar ou melhorar determinada situação devem ser construídas levando-se em consideração os direitos de cidadania. 18 5 METODOLOGIA Fonte: www.google.com.br A Educação em Saúde utiliza métodos e processos participativos e problema- tizadores, preconizados e consolidados, buscando práticas inovadoras a partir da re- alidade num processo dialógico e horizontalizado de construção e reconstrução com- partilhada do conhecimento e na ação coletiva para a transformação social. Os profis- sionais dos serviços, os parceiros e a população são sujeitos (atores), que debruçados sobre a realidade procuram conhecê-la, compreendê-la, desvendá-la e atuar sobre ela para transformá-la. E à medida que vão transformando-a, os sujeitos se transformam dentro deste processo, num respeito mútuo de saberes (científico e popular) que não sobrepõe um ao outro mas, se reconstroem. Esta metodologia valoriza as experiências e conheci- mentos vividos, bem como os valores étnico-culturais em consonância com os atores, princípios e diretrizes do SUS “num processo de diálogo, envolvendo as pessoas: a) na reflexão sobre aspectos de sua realidade (problemas de saúde, habita- ção, produção, renda, educação, saneamento, meio ambiente entre outros); b) na busca das causas dessa realidade; c) no desenvolvimento de um plano de ação para solucionar os problemas iden- tificados pelos grupos d) na organização de um grupo permanente para execução e avaliação das ações de continuidade. 19 6 DIRETRIZES Fonte: www.google.com.br As ações de Educação em Saúde são na Funasa são integradas às ações de saneamentona prevenção e controle de doenças e outros agravos à saúde, e à aten- ção integral à saúde dos povos indígenas. Afirma-se a necessidade da inserção da Instituição na lógica da ação horizontal e Inter setorial. Portanto, ao incorporar a influência das dimensões sociais, econômicas, políti- cas e culturais na saúde, a Instituição supera o conceito de “educação sanitária” e passa a buscar a mudança de práticas de vida nos indivíduos e na população. Fonte: www.google.com.br 20 O Ministério da Saúde outorgou à Funasa a responsabilidade de gerir o Sub- sistema de atenção à Saúde Indígena, articulado com o Sistema Único de Saúde (SUS), instituindo, a partir de agosto de 1999, a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, preconizada na Constituição e na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990). Em sua nova missão, em estudo no processo de realinhamento institucional, a Funasa propõe “realizar ações de saneamento ambiental em todos municípios brasi- leiros e de atenção integral à saúde indígena, promovendo a saúde pública e inclusão social, com excelência de gestão, em consonância com o SUS e com as metas de desenvolvimento do milênio” Esta missão demanda à Funasa um papel de normalização e assessoramento técnico que permita o fortalecimento de estados e municípios, de modo que cada um deles possa desenvolver suas próprias ações seguindo as diretrizes estabelecidas pela Funasa, adaptadas às peculiaridades regionais. As diretrizes da Política de Educação em Saúde da Funasa, visando à promo- ção da saúde e melhoria da condição de vida da população, devem estar estruturadas nos seguintes pilares: • Os fundamentos teóricos da educação; • Os princípios do Sistema Único de Saúde e o Controle Social; • Financiamento; • convênios; • Estudos e pesquisas. Fonte: blog.uniasselvi.com.br 21 O conceito de educação em saúde se sobrepõe o conceito de promoção da saúde, como uma definição mais ampla de um processo que abrange a participação de toda a população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer. Essa noção está baseada em um conceito de saúde ampliado, con- siderado como um estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, que integra os aspectos físico e mental (ausência de doença), ambiental (ajustamento ao ambiente), pessoal/emocional (auto- realização pessoal e afetiva) e sócio- ecológico (comprome- timento com a igualdade social e com a preservação da natureza). Entretanto, a par dessa noção ampliada de saúde, observando-se a prática, verifica- se que atualmente persistem diversos modelos ou diferentes paradigmas de educação em saúde, os quais condicionam diferentes práticas, muitas das quais reducionistas, o que requer questionamentos e o alcance de perspectivas mais integradas e participativas. Uma educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes apropri- ados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e cu- rativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o de- senvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essên- cia está na melhoria da qualidade de vida e na ‘promoção do homem’. Nas últimas décadas, observa-se uma grande ebulição de programas e pesqui- sas nessa área, o que motivou a iniciativa de se organizar este número temático, o qual não tem intenção nem espaço para retratar a vasta diversidade das ações e pro- duções em desenvolvimento, sobretudo no Brasil. Por meio de convites a pesquisa- dores e educadores nacionais e internacionais, o que se buscou foi apresentar um pouco dessa multiplicidade, incluindo aspectos históricos, análises de pro g ramas de formação de pessoal desde o nível elementar até a pós-graduação, avaliação de me- todologias, estratégias e materiais educativos, assim como algumas considerações teóricas sobre as tendências da atualidade. Esperamos que o conteúdo deste número seja um estímulo ao debate, à reflexão, a propostas e ações para além dos processos de prevenção a doenças e promoção da saúde, ampliando-se na direção da formação de pessoas comprometidas com a luta contra as desigualdades sociais e em busca de encontros humanos mais solidários. 22 “ A nosso entender, é necessário pensar a Educação e a Saúde não mais como uma educação sanitarizada (educação sanitária) ou localizada no interior da saúde (edu- cação em saúde) ou ainda educação para a saúde (como se a saúde pudesse ser um estado que se atingisse depois de educado!). É preciso recuperar a dimensão da Edu- cação e da Saúde/doença e estabelecer as articulações entre esses dois campos e os movimentos (organizados) sociais. E mais – como práticas sociais articuladas com as necessidades e possibilidades das classes populares na formulação de políticas sociais e das formas de organização social que lhes interessam. (Joaquim A. C. Me l o, 1987). ” 7 PROGRAMA SAÚDE NAS ESCOLAS Fonte: ijui.educacaoadventista.org.br O Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articulação perma- nente da educação e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Como consolidar essa atitude dentro das escolas? Essa é a http://sistemas.aids.gov.br/saudenaescola2010/index.php?q=node/67 23 questão que nos guiou para elaboração da metodologia das Agendas de Educação e Saúde, a serem executadas como projetos didáticos nas Escolas. O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfren- tamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino. O público beneficiário do PSE são os estudantes da Educação Básica, gestores e profissionais de educação e saúde, comunidade escolar e, de forma mais amplifi- cada, estudantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e da Edu- cação de Jovens e Adultos (EJA). As atividades de educação e saúde do PSE ocorrerão nos Territórios definidos segundo a área de abrangência da Estratégia Saúde da Família (Ministério da Saúde), tornando possível o exercício de criação de núcleos e ligações entre os equipamentos públicos da saúde e da educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer como praças e ginásios esportivos, etc). Fonte: www.odontomagazine.com.br No PSE a criação dos Territórios locais é elaborada a partir das estratégias firmadas entre a escola, a partir de seu projeto político-pedagógico e a unidade básica de saúde. O planejamento destas ações do PSE considera: o contexto escolar e so- cial, o diagnóstico local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do escolar. http://www.odontomagazine.com.br/ 24 A Escola é a área institucional privilegiada deste encontro da educação e da saúde: espaço para a convivência social e para o estabelecimento de relações favo- ráveis à promoção da saúde pelo viés de uma Educação Integral.Para o alcance dos objetivos e sucesso do PSE é de fundamental importância compreender a Educação Integral como um conceito que compreende a proteção, a atenção e o pleno desen- volvimento da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes de Saúde da Família, incluem prevenção, promoção, recuperação e manutenção da sa- úde dos indivíduos e coletivos humanos. Fonte: embudasartes.sp.gov.br Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco componentes: a) Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescentes e jovens que estão na escola pública; b) Promoção da Saúde e de atividades de Prevenção; c) Educação Permanente e Capacitação dos Profissionais da Educação e da Saúde e de Jovens; d) Monitoramento e Avaliação da Saúdedos Estudantes; e) Monitoramento e Avaliação do Programa. 25 Mais do que uma estratégia de integração das políticas setoriais, o PSE se propõe a ser um novo desenho da política de educação e saúde já que: 1- trata a saúde e educação integrais como parte de uma formação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos humanos; 2- permite a progressiva ampliação das ações executadas pelos sistemas de saúde e educação com vistas à atenção integral à saúde de crianças e adolescentes; e 3- promove a articulação de saberes, a participação de estudantes, pais, comu- nidade escolar e sociedade em geral na construção e controle social da política pú- blica. 8 PROJETO MUNICIPAL Fonte: www.jcregional.com.br 26 O Projeto Municipal é um dos requisitos do processo de adesão, como “leitura técnica” da situação municipal, elaborada para iniciar o processo de construção cole- tiva para a ação, visando a implementação do PSE. Documento desenvolvido a partir da articulação de informações de diversas fontes, acessíveis nas bases de dados dos órgãos federais, estaduais e municipais. O Projeto identifica as prioridades e aspectos que precisam ser redimensionados e/ou qualificados no âmbito das ações de educa- ção e saúde no território municipal. Em uma espécie de “recorte” da área de atuação, o Projeto Municipal delimita os territórios de responsabilidade, definidos segundo a área de abrangência das equi- pes da Estratégia Saúde da Família (ESF) e define o conjunto de escolas integrantes de cada território, apresentando informações sobre: • O diagnóstico situacional com as questões referentes a determinantes sociais, ce- nário epidemiológico e modalidades de ensino das escolas vinculadas às equipes da ESF e que atuarão no PSE; • O mapeamento da Rede SUS de AB/SF e das Redes de Ensino - estadual e muni- cipal, criando espaços comuns, os territórios de responsabilidade; Fonte: www.patos1.com.br 27 • As atribuições das equipes da ESF e das escolas em cada um dos territórios de responsabilidade, quantificando o número de escolas, de estudantes de cada estabe- lecimento e as questões prioritárias do perfil desses alunos. Definição dos responsá- veis das áreas da saúde e da educação pelo projeto dentro de cada território; • A identificação das instituições de ensino atendidas pelo Programa Saúde na Escola. Definição do professor responsável pela articulação das ações de prevenção e pro- moção da saúde na escola. 9 AGENDA DE EDUCAÇÃO E SAÚDE Fonte: www.saudeativa.net A Agenda de Educação e Saúde é uma estratégia fundamental de implemen- tação das ações compartilhadas nos territórios municipais. São escolhidos “recortes” do território integrando escolas e unidades de saúde, a fim de gerar uma articulação das práticas. A Agenda definirá as propostas comunitárias para estes microterritórios 28 onde as escolas estão inseridas, refletindo as expectativas comunitárias em relação à interface educação e saúde. No âmbito da escola as atividades de planejamento e gestão do coletivo, for- mulação dos inventários detalhados e da condução de processos participativos inte- grados aos estudos e ao Projeto Político Pedagógico representam uma oportunidade ímpar para os exercícios de cidadania. Por meio do diálogo entre comunidade escolar e equipe da Estratégia Saúde da Família, a Agenda de Educação e Saúde envolve interlocuções entre diferentes setores da sociedade e dos programas/políticas já em desenvolvimento na escola e com parceiros locais. Fonte: www.treslagoas.ms.gov.br Nas sociedades ocidentais, tem predominado a compreensão da educação como um ato normativo, no qual a prescrição e a instrumentalização são as práticas dominantes. Essa forma de conceber a educação, baseada numa pretensa objetivi- dade e neutralidade do conhecimento, produzido pela razão cientificamente fundada, guarda correspondência com uma compreensão da saúde como fenômeno objetivo e produto de relações causais imediatamente apreensíveis pela ciência hegemônica no campo, a biologia. A busca por uma objetivação das ações humanas, fruto de um racionalismo de ímpeto controlador, tanto na educação quanto na saúde, acaba contribuindo para um processo de objetivação dos próprios sujeitos destas ações. Assim, o professor pode 29 reduzir-se a um transmissor das informações, e o aluno, um seu correspondente, um mero receptor passivo das informações educativas. Por sua vez, o profissional de sa- úde pode tornar-se um operador de protocolos e condutas, e o ‘doente’, um corpo onde se dá a doença e, consequentemente, o ato médico. Em geral, homens desem- penhando um papel pré- definido e apassivado nas relações professor-aluno e profis- sional de saúde-doente. Outros resultados não menos importantes desse processo são, no caso da edu- cação, a adaptação dos educandos à realidade social apresentada como a ordem natural das coisas, como única forma de existência possível e racional; assim como, no caso do processo saúde-doença, a compreensão deste como o percurso natural do desenvolvimento da doença, seja esta compreendida como um fenômeno uni cau- sal ou multicausal. Poderíamos situar o final do séc. XIX e o início do século XX como um momento histórico importante na construção de concepções e práticas de educação e saúde que tiveram em sua base a Higiene, enquanto um campo de conhecimentos que se articulam, produzindo uma forma de conceber, explicar e intervir sobre os problemas de saúde. Nesse momento histórico, a Higiene está fortemente associada à ideologia liberal, encontrando neste pensamento os seus fundamentos políticos. Destarte, a Hi- giene centrava-se nas responsabilidades individuais na produção da saúde e cons- truía formas de intervenção caracterizadas como a prescrição de normas, voltadas para os mais diferentes âmbitos da vida social (casa, escola, família, trabalho), que deveriam ser incorporadas pelos indivíduos como meio de conservar a saúde. Arouca (2003), ressalta que a Higiene acaba por reduzir à aplicação de medidas higiênicas a solução dos problemas de saúde, que se constituem a partir das condições de exis- tência. 30 Fonte: www.docepreco.com.br É nesse período que a filosofia da educação de John Dewey, formulada em estreito diálogo com a psicologia experimental e com o evolucionismo biológico, sofre grande apropriação pelo pensamento e pelas práticas de educação para a saúde. Muitos elementos merecem ser destacados do pensamento filosófico de Dewey, mas é a ênfase que este pensador atribui à primazia das características dos indivíduos para o desenvolvimento do processo educativo e o fato de tomar a construção de hábitos como um norte para a educação que são claramente identificáveis no que denominamos como educação sanitária. O desenvolvimento da educação sanitária, a partir dos EUA, deu-se de forma associada à saúde pública, tendo sido instrumento das ações de prevenção das do- enças, caracterizando-se pela transmissão de conhecimento. Mesmo que realizada de forma massiva, como no caso das campanhas sanitárias no Brasil, a perspectiva não contemplava a dimensão histórico-social do processo saúde-doença. Fonte: www.lookfordiagnosis.com http://Fonte:%20www.lookfordiagnosis.com 31 Cardoso de Melo (1976), no bojo do movimento pela Reforma Sanitária no Bra- sil, fez uma crítica severa aos efeitos do distanciamento da saúde pública em relação ao social, afirmando que “como o social não é considerado na prática da saúde pú- blica, senão em perspectiva restrita, a educação passa a ser uma atividade paralela, tendo como finalidade auxiliar a efetivação dos objetivos eminentemente técnicos dos programas de saúde pública” (p. 13). Entretanto, numaperspectiva crítica, a educação parte da análise das realida- des sociais, buscando revelar as suas características e as relações que as condicio- nam e determinam. Essa perspectiva pode ater-se à explicação das finalidades repro- dutivistas dos processos educativos ou trabalhar no âmbito das suas contradições, buscando transformar estas finalidades, estabelecendo como meta a construção de sujeitos e de projetos societários transformadores. Da mesma forma, no campo da saúde, a compreensão do processo saúde- doença como expressão das condições objetivas de vida, isto é, como resultante das condições de “habitação, alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (Brasil, 1986, p. 04) descortina a saúde e a doença como produções sociais, passíveis de ação e transformação, e aponta também para um plano coletivo e, não somente individual de intervenção. Essa forma de conceber a saúde tem sido caracterizada como um ‘conceito ampliado’, pois não reduz a saúde à ausência de doença, promovendo a ideia de que uma situação de vida saudável não se resolve somente com a garantia do acesso aos serviços de saúde – o que também é fundamental –, mas depende, sobretudo, da garantia de condições de vida dignas que, em conjunto, podem proporcionar a situa- ção de saúde. Nesse sentido, são indissociáveis o conceito de saúde e a noção de direito social. 32 Fonte: www.google.com.br Na interface da educação e da saúde, constituída com base no pensamento crítico sobre a realidade, torna-se possível pensar educação em saúde como formas do homem reunir e dispor recursos para intervir e transformar as condições objetivas, visando a alcançar a saúde como um direito socialmente conquistado, a partir da atu- ação individual e coletiva de sujeitos político-sociais. Quanto ao trabalho em saúde, a forma histórica hegemônica por ele assumida estruturou-se a partir da biomedicina, organizando o processo de trabalho de forma médico-centrada, caracterizando-se pela hierarquização, reproduzindo a divisão inte- lectual e social do trabalho e do saber em saúde. Dessa forma, a educação em saúde, produzida no âmbito dos serviços de saúde, esteve muito subordinada a esse modelo, assim como, as práticas de educação sanitária, dirigidas à sociedade em geral e suas instituições, reproduziram em larga escala o poder biomédico, tendo funcionado, mui- tas vezes, como braços do controle estatal sobre os indivíduos e as relações sociais. http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edusau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/trasau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/protrasau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edusau.html 33 Fonte: www.dicadesaude.com Atualmente, considerando a importância adquirida pelo projeto de promoção da saúde, que busca capilarizar- se em várias dimensões da vida social (família, escola, comunidade) e individual (cuidados com o corpo, desenvolvimento de hábitos saudá- veis), a discussão sobre as dimensões individuais e coletivas da saúde/doença torna- se oportuna e particularmente importante. No movimento constante em defesa do Sistema Único de Saúde(SUS) como projeto de um sistema universal, público, equânime, integral e democrático, encontra- se a necessidade de se buscar uma concepção da relação educação e saúde que se configura como resultado da ação política de indivíduos e da coletividade, com base no entendimento da saúde e da educação em suas múltiplas dimensões: social, ética, política, cultural e científica. A categoria práxis tem centralidade nessa perspectiva, uma vez que estabe- lece uma relação de continuidade e complementaridade entre a teoria e a prática, compreendendo o conhecimento e as técnicas como uma produção social, historica- mente constituídos e implicados entre si, não-neutros, isto é, orientados por um projeto societário transformador. Nesse sentido, os sujeitos da ação-reflexão não são redutí- veis a objeto e não são considerados senão nas suas várias dimensões, como sujeitos históricos, políticos, sociais. http://Fonte:%20www.dicadesaude.com http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/sisunisau.html 34 Fonte: www.mundodastribos.com O potencial da educação como processo emancipatório, na interface com os movimentos sociais, tem na categoria de práxis social, criadora/transformadora da re- alidade, um aspecto central que está presente nas teses que permeiam o pensamento de Paulo Freire. Esse pensador exerceu forte influência no Movimento da Educação Popular em Saúde, na América Latina e, particularmente, no Brasil. São marcas da pedagogia freireana a concepção de processo ensino-aprendi- zagem como uma troca, como um processo dialógico entre educador e educando, que se dá numa realidade vivida. O conhecimento advém da reflexão crítica sobre essa realidade, construindo-se, ao mesmo tempo em que o homem vai se constituindo e se posicionando como um ser histórico. Nesse sentido, não cabem relações verticais en- tre educador e educando, ou a transferência de conhecimentos e a normatização de hábitos, que marcaram o pensamento hegemônico da educação sanitária no século passado e que ainda hoje estão presentes nas práticas educativas em saúde. Como campo de disputas, a educação em saúde é permeada por essas várias concepções que se enfrentam, ainda hoje, nas práticas dos diversos trabalhadores da saúde que realizam o SUS. Em certa medida, cumpre reforçar que não são somente perspectivas ou correntes educacionais ou sanitárias que se defrontam, mas formas http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edusau.html 35 de conceber os homens, a relação entre estes, as formas de organizar a sociedade e partilhar os bens por ela produzidos. A educação em saúde pode ser entendida como uma forma de abordagem que, enquanto um processo amplo na educação, proporciona construir um espaço muito importante na veiculação de novos conhecimentos e práticas relacionadas. Existem diversidades nos modelos de educação em saúde, sendo que todas evidenciam um objetivo em comum, que é a mudança de hábitos, atitudes, e compor- tamentos individuais, em grupos e no coletivo. Tal mudança de comportamento está atrelada a aquisição de novos conhecimentos e adoção de atitudes favoráveis à sa- úde. Diante disso é possível verificar que o termo educação em saúde está condici- onado às ações que são transmitidas aos indivíduos com intuito de elevar a sua qua- lidade de vida e consequentemente de saúde. Neste processo os profissionais de sa- úde possuem papel primordial, uma vez que, são eles próprios os responsáveis pela disseminação de conhecimentos concretos para o alcance dos objetivos de melhorar a saúde das pessoas. Fonte: ergoconsultoria.com.br Contudo, devemos nos atentar que esta transmissão de conhecimento consti- tui-se também em um modelo de educação, sendo necessário primeiramente que o ser educador (neste exemplo, o profissional de saúde) seja capacitado para tal tarefa (realização da educação em saúde). Ao contrário, os resultados serão insatisfatórios. Visualiza-se que nas instituições de saúde onde o profissional participa de pro- gramas de educação, o mesmo possui maiores embasamentos e interesse por ensi- nar, é possível então identificar que ocorre um ciclo de informações, onde aquele que 36 conhece o processo, o compreende e assimila de alguma maneira, entende melhor a importância da questão educativa para o cliente/paciente. O processo de educação na área da saúde pode ser representado pelas mais diferentes atividades, as quais estão interligadas a partir de ações de educação cor- respondentes aos estímulos na buscapor atrair o indivíduo a participar do processo de educação, seguido de formas práticas de aquisição e formação de hábitos em prol da assimilação, construção e reconstrução de experiências. Os mecanismos de ori- entação, didática e terapêutica também fazem parte de um enfoque entre os métodos de transmissão e veiculação de conhecimentos. Fonte: www.mundodastribos.com Segundo a OMS a educação em saúde é entendida como sendo uma combi- nação de ações e experiências de aprendizado planejado com o intuito de habilitar as pessoas a obterem controle sobre fatores determinantes e comportamentos de saúde. Na busca da saúde de forma integral, a educação tem tido um significado muito importante por colaborar na orientação de ações práticas, trazendo com isso resulta- dos e melhorias na qualidade de vida e no fortalecimento do sujeito como um todo. 37 10 A ESCOLA COMO ESPAÇO DA AFETIVIDADE E DO CUIDADO COM A SA- ÚDE. Fonte:www.oestemania.net Para reforçar a importância das perguntas como base para a reflexão e a busca de parceria na compreensão do contexto escolar, apresentamos algumas ideias, a fim de estimular um movimento de pesquisa e curiosidade em relação às questões de saúde e educação: • Uma escola é saudável quando estimula as crianças a fazerem perguntas e buscarem respostas de modo coletivo e compartilhado. • Uma escola é saudável quando seu ambiente é prazeroso, alegre, solidário e cooperativo. • Uma escola é saudável quando nela há espaço para todos, sem limitações ao acesso físico ou cultural. • Uma escola é saudável quando o conhecimento se constrói de modo compar- tilhado e solidário, sem incentivar a competição entre alunos e entre turmas. • Uma escola é saudável quando o agente de ensino (o professor) é também agente da aprendizagem, do conhecimento, da pesquisa em vários momentos da prá- tica escolar. • Uma escola é saudável quando abre espaços de diálogos para seus diferentes atores e se relaciona com seus diferentes contextos. 38 • Uma escola é saudável quando abriga a diversidade e quando o centro da escola é a singularidade de cada um. • Uma escola é saudável quando professores e diretores se compreendem como uma equipe de trabalho em parceria com alunos, familiares e comunidade e supera normas e regras, reconstruindo-as na prática educativa promotora de saúde. • Uma escola é saudável quando a comunidade escolar reconhece a importân- cia da prevenção e da aquisição de hábitos de vida saudáveis que transformem as relações com o próprio corpo e com o ambiente. • Uma escola é saudável quando promove o cuidado de modo solidário e atento. • Uma escola é saudável quando a sua prática está baseada na promoção da saúde e na participação social. • Uma escola é saudável quando estabelece relações a partir do afeto e da inclusão. Para desenvolver as ideias e conhecer as experiências sobre a participação da comunidade dentro da escola, haverá o destaque ao protagonismo de crianças, ado- lescentes e jovens nos processos de educação e saúde da comunidade. Todos os processos que passam pela escola, contribuindo para o seu desen- volvimento, dependem do apoio e envolvimento concreto de cada pessoa inserida nesse contexto, por isso a apropriação das ações é muito importante para o seu su- cesso. As ações devem estar fortemente integradas aos projetos político-pedagógicos das escolas, passando a ser parte destas. A escola deve deixar de agregar conteúdo em saúde e passar a exercitá-los, a construir uma prática saudável de atuação. A comunidade em que está inserida a escola deve se constituir em sua primeira ponte entre o conhecimento e o seu ator, entre a sociedade e os diferentes sujeitos que dela fazem parte. Produzir uma escola mais saudável, em que o diálogo prevaleça como principal e mais potente instrumento para construção do conhecimento, é um caminho simples e possível de ser construído, muito mais simples do que perpetuar os sentimentos de medo e de opressão vivenciados inúmeras vezes por professores/as e alunos/as em nossas escolas. O diálogo e a abertura de “pontes” reais entre a comunidade e a escola e entre alunos/as e professores/as podem ser caminhos mais curtos para uma escola promotora de saúde e solidariedade. 39 11 PERFIL DO TÉCNICO DA ÁREA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE Fonte: www.iscal.com.br • Ter formação na área de pedagogia com especialização em educação em saúde ou saúde pública ou saúde coletiva; ou ter formação na área de ciências humanas, ou ciências sociais ou de saúde, com especialização em educação em saúde ou saúde pública ou saúde coletiva; • Identidade e compromisso com a área de Educação em Saúde; • Identidade e compromisso social; • Visão crítica e abrangente dos determinantes sociais; • Experiência na área de Educação em Saúde; • Experiência de trabalho em equipe; • Disponibilidade para deslocamentos. 40 12 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E GESTÃO COLEGIADA Fonte: www.echsvr.uff.br A gestão das práticas de Educação em Saúde deve ser colegiada considerando o atual modelo de gestão que enfatiza o compromisso com a mudança. Este compro- misso se expressa em: • suprimir a imagem da pirâmide e a noção de níveis de gerenciamento; • desenvolver capacidade de valorizar o potencial de mobilização e de ruptura das estruturas tradicionais ultrapassadas; • articular interinstitucionalmente a gestão colegiada, com a quebra da regra da verticalidade do comando e hierarquia rígida nos fluxos, de forma a superar racionali- dade gerencial hegemônica. http://Fonte:%20www.echsvr.uff.br 41 13 PRINCIPAIS ENTIDADES E ATORES DO PROCESSO Fonte: www.meirafernandes.com.br • Ministério da Saúde/Funasa; • secretarias estaduais e municipais como instâncias gestoras do SUS; • instituições públicas e privadas nas diversas instâncias que atuam com Educação em Saúde, saneamento ambiental, meio ambiente, recursos hídricos e com população indígena; • movimentos populares e de educação popular; • instâncias de controle social; • Conass, Conasems; • universidades; • associações e organizações da comunidade; • organizações não-governamentais e outras da sociedade civil organizadas; • trabalhadores de saúde, educação e de saneamento; • a comunidade. http://Fonte:%20www.meirafernandes.com.br 42 Fonte: www.google.com.br Os dados da pesquisa apontam que a Educação em Saúde tem se tornado uma importante ferramenta para o trabalho das equipes na Estratégia Saúde da Fa- mília o que denota a necessidade de ampliarem os estudos e pesquisas sobre o tema. Considerando a grande expansão da ESF no Brasil observa-se que os estudos ainda são muito tímidos, pois atingem somente uma pequena parcela dos programas implantados. Os estudos sobre Educação em Saúde referidos à enfermagem sugerem que embora as concepções de Educação em Saúde fundamentada num modelo dialógico e emancipatório estejam presentes como norte nos estudos sobre as práticas educa- tivas do enfermeiro inserido no contexto da ESF, as discussões apontam que na prá- tica cotidiana os profissionais ainda desenvolvem suas ações, na sua maioria, to- mando como base o modelo tradicional. A análise dos estudos permite concluir que o principal entrave para o desenvol- vimento do modelo dialógico/problematizador é a falta de formação dos profissionais da equipe de enfermagem voltada para uma mudança de paradigma profissional para a prática da Educação em Saúde. Assim, ao se realizar este estudo espera-se contribuir para a discussão sobre a inserção da Educação em Saúde com base em um modelo dialógico e emancipató- rio nas práticas cotidianas do profissional enfermeiro no contexto da ESF. 43 14 SAÚDE E EDUCAÇÃO: INTERFACES POSSÍVEISFonte:horoscopovirtual.uol.com.br A discussão em torno da produção social da saúde e o papel da escola nesta construção é retomada veementemente em um contexto de fomento à repolitização da luta pelo direito à saúde. Em face das comemorações dos 20 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), a discussão é refletida no despertar dos gestores da saúde para atuar e intervir sobre o que determina e condiciona socialmente a saúde dos sujeitos e comunidades. O direito à saúde foi reconhecido internacionalmente em 1948 (Declaração Uni- versal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas - ONU). No Brasil, a assistência à saúde dos trabalhadores esteve relacionada ao vínculo formal de tra- balho, contemplando somente a parcela da população que contribuía para a previdên- cia social. A saúde não era tratada como um direito e sim como um benefício da pre- vidência social para seus contribuintes. Uma considerável parte da população estava, então, excluída da assistência à saúde ofertada pelo Governo e as entidades filantró- picas atendiam aos que não podiam arcar com despesas no crescente sistema de saúde privado. A luta social pela Reforma Sanitária se iniciou na década de 60 pela sociedade civil, frente às iniquidades do setor, e o ponto nevrálgico do movimento da Reforma foi a realização da 8.ª Conferência Nacional de Saúde em 1986, com o tema “Saúde como direito de todos e dever do Estado”. No texto da Constituição Federal de 1988, 44 a saúde passou a integrar o Sistema da Seguridade Social, com a previdência e a assistência social. O SUS foi, então, instituído como um sistema universal de atenção e cuidados, com base na integralidade das ações, abrangendo ações de vigilância e promoção da saúde e recuperação de doenças e agravos. Os princípios do SUS, definidos na Constituição Federal, são detalhados na Lei n.º 8.080 (de 19 de setembro de 1990) e Lei n.º 8.142 (de 28 de dezembro de 1990), conhecidas como Leis Orgânicas da Saúde. Fonte: maisituverava.com.br 15 OS PRINCÍPIOS ÉTICO-POLÍTICOS DO SUS SÃO: • a universalidade do acesso, compreendida como a garantia de acesso aos serviços de saúde para toda a população, em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; A universalidade é um princípio finalístico, ou seja, é um ideal a ser alcançado, indicando, portanto, uma das características do sistema que se pretende construir e um caminho para sua construção. Para que o SUS venha a ser universal é preciso se http://maisituverava.com.br/dilma-sanciona-lei-sobre-plastica-no-sus-para-mulher-vitima-de-violencia 45 desencadear um processo de universalização, isto é, um processo de extensão de cobertura dos serviços, de modo que venham, paulatinamente, a se tornar acessíveis a toda a população. Para isso, é preciso eliminar barreiras jurídicas, econômicas, cul- turais e sociais que se interpõem entre a população e os serviços. A primeira delas, a barreira jurídica, foi eliminada com a Constituição Federal de 88, na medida em que universalizou o direito à saúde, e com isso, eliminou a ne- cessidade do usuário do sistema público colocar-se como trabalhador ou como “indi- gente”, situações que condicionavam o acesso aos serviços públicos antes do SUS. O pleno exercício desse direito, entretanto, exige a superação das barreiras econômicas, sociais e culturais que ainda se interpõem entre os usuários e o sistema de serviços de saúde. Do ponto de vista econômico, ainda que a população não pre- cise pagar diretamente pelos serviços (o financiamento é assegurado pelo Estado, mediante a utilização de fundos públicos), não se pode negar que a enorme parcela 3 da população pobre, que vive em pequenos municípios com baixo grau de desenvol- vimento econômico ou habitam a periferia das grandes cidades, não dispõem de con- dições mínimas de acesso aos serviços, às vezes até porque não tem como pagar o transporte necessário para chegar a uma unidade de saúde. Por outro lado, o Estado precisa dispor de um volume de recursos financeiros capaz de ser investido na ampli- ação da infraestrutura do sistema, isto é, na construção e reforma de unidades de saúde, na compra de equipamentos e insumos, na contratação e pagamento de pes- soal qualificado a trabalhar na produção de ações e serviços de saúde de distintas naturezas e graus de complexidade. Enfim, para garantir a universalização do acesso, a construção do SUS tem demandado um esforço enorme para a garantia do Finan- ciamento do sistema, bem como para o Gerenciamento dos recursos financeiros de modo a que sejam utilizados na expansão e qualificação dos serviços públicos de saúde em todo o país. Do ponto de vista sociocultural também existem barreiras, sendo a principal delas, sem dúvida, a barreira da linguagem, da comunicação entre os prestadores de serviços e os usuários. Ainda quando chega aos serviços, grande parte da população não dispõe de condições educacionais e culturais que facilitem o diálogo com os pro- fissionais e trabalhadores de saúde, o que se reflete, muitas vezes, na dificuldade de entendimento e de aprendizado acerca do comportamento que deve adotar para se 46 tornar coadjuvante do processo de prevenção de riscos e de recuperação da sua sa- úde. Uma simples receita médica pode ser um texto ininteligível para grande parte da população que não sabe ler. • a integralidade da atenção, como um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, em todos os níveis de complexidade do sistema; A noção de integralidade diz respeito ao leque de ações possíveis para a pro- moção da saúde, prevenção de riscos e agravos e assistência a doentes, implicando a sistematização do conjunto de práticas que vem sendo desenvolvidas para o enfren- tamento dos problemas e o atendimento das necessidades de saúde. A integralidade é (ou não), um atributo do modelo de atenção, entendendo-se que um “modelo de atenção integral à saúde” contempla o conjunto de ações de promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos, assistência e recuperação. Um modelo “integral”, por- tanto, é aquele que dispõe de estabelecimentos, unidades de prestação de serviços, pessoal capacitado e recursos necessários, à produção de ações de saúde que vão desde as ações inespecíficas de promoção da saúde em grupos populacionais defini- dos, às ações específicas de vigilância ambiental, sanitária e epidemiológica dirigidas ao controle de riscos e danos, até ações de assistência e recuperação de indivíduos enfermos, sejam ações para a detecção precoce de doenças, sejam ações de diag- nóstico, tratamento e reabilitação. • a equidade, que embasa a promoção da igualdade com base no reconheci- mento das desigualdades que atingem grupos e indivíduos e na implementação de ações estratégicas voltadas para sua superação. A noção de equidade diz respeito à necessidade de se “tratar desigualmente os desiguais” de modo a se alcançar a igualdade de oportunidades de sobrevivência, de desenvolvimento pessoal e social entre os membros de uma dada sociedade. O ponto de partida da noção de equidade é o reconhecimento da desigualdade entre as pessoas e os grupos sociais e o reconhecimento de que muitas dessas desigualdades são injustas e devem ser superadas. Em saúde, especificamente, as desigualdades sociais se apresentam como desigualdades diante do adoecer e do morrer, reconhe- cendo-se a possibilidade de redução dessas desigualdades, de modo a garantir con- dições de vida e saúde mais iguais para todos. 47 A contribuição que um sistema de serviços de saúde pode dar à superação das desigualdades sociais em saúde implica redistribuição da oferta de ações e serviços, e na redefinição do perfil dessa oferta, de modo a priorizar a atenção em grupos soci- ais cujas condições devida e saúde sejam mais precárias, bem como enfatizar ações específicas para determinados grupos e pessoas que apresentem riscos diferenciados de adoecer e morrer por determinados problemas. Nesse sentido, cabe destacar os esforços que vem sendo feitos para a formu- lação e implementação de Políticas específicas voltadas ao atendimento de necessi- dades de segmentos da população que estão expostos a riscos diferenciados de ado- ecer e morrer, em função de características genético-hereditárias, econômico sociais ou histórica-política e culturais, como é o caso da população indígena, da população negra, da população GLBTT, e outras. Nos últimos anos, particularmente, os movi- mentos sociais organizados em torno das reivindicações e demandas políticas destes grupos tem gerado a adoção de propostas que se desdobram em programas e proje- tos específicos no âmbito das secretarias estaduais e municipais de saúde. • a participação social, que estabelece o direito da população de participar das instâncias de gestão do SUS, por meio da gestão participativa, e dos conselhos de saúde, que são as instâncias de controle social. Essa participação social significa a corresponsabilidade entre Estado e sociedade civil na produção da saúde, ou seja, na formulação, na execução, no monitoramento e na avaliação das políticas e progra- mas de saúde. Ao estabelecer como princípio organizativo do Sistema Único de Saúde (SUS) a participação comunitária, a Constituição Federal de 1988 apontou para a relevância da inserção da população brasileira na formulação de políticas públicas em defesa do direito à saúde. Além disso, atribuiu importância a instâncias populares na fiscalização e controle das ações do Estado, considerando as especificidades de cada região bra- sileira. A participação social é também denominada “participação comunitária” no con- texto da saúde, sendo estabelecida e regulada pela Lei nº 8.142/90, a partir da criação de Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde, nas três esferas de governo, bem como de colegiados de gestão nos serviços de saúde. Busca-se, desta maneira, que atores sociais historicamente não incluídos nos processos decisórios do país partici- pem, com o objetivo de influenciarem a definição e a execução da política de saúde. 48 Os Conselhos de Saúde são órgãos deliberativos que atuam como espaços participativos estratégicos na reivindicação, formulação, controle e avaliação da exe- cução das políticas públicas de saúde. Já as Conferências de Saúde consistem em fóruns públicos que acontecem de quatro em quatro anos, por meio de discussões realizadas em etapas locais, estaduais e nacional, com a participação de segmentos sociais representativos do SUS (prestadores, gestores, trabalhadores e usuários), para avaliar e propor diretrizes para a formulação da política de saúde. Juntamente com a gestão destas instâncias e de outras redes de articulação em prol da garantia da participação social, o desafio que se coloca é a criação de uma eficiente rede de informação e comunicação ao cidadão sobre estes espaços de par- ticipação. E mais, do cidadão perceber-se como ator fundamental na reivindicação pelo direito à saúde. 16 OS PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS DO SUS SÃO: • a intersetorialidade, que prescreve o comprometimento dos diversos setores do Estado com a produção da saúde e o bem-estar da população – destaca-se o setor educação como um dos principais setores parceiros na produção social da saúde. A atual legislação brasileira ampliou a definição de saúde, considerando-a re- sultado de vários fatores determinantes e condicionantes, como alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer, acesso a bens e serviços essenciais. Por isso mesmo, as gestões municipais do SUS – em articulação com as de- mais esferas de governo – devem desenvolver ações conjuntas com outros setores governamentais, como meio ambiente, educação, urbanismo etc., que possam contri- buir, direta ou indiretamente, para a promoção de melhores condições de vida e da saúde para a população. • a descentralização político-administrativa, conforme a lógica de um sis- tema único, que prevê, para cada esfera de Governo, atribuições próprias e comando único; http://pensesus.fiocruz.br/node/4 49 • a hierarquização e a regionalização, que organizam a atenção à saúde segundo níveis de complexidade – básica, média e alta –, oferecidos por área de abrangência territorial e populacional, conhecidas como regiões de saúde. Municipalização: O princípio de descentralização que norteia o SUS se dá, especialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos para a esfera mu- nicipal, estimulando novas competências e capacidades político-institucionais dos gestores locais, além de meios adequados à gestão de redes assistenciais de caráter regional e macrorregional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção e a racio- nalização de recursos. Os estados e a União devem contribuir para a descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e financeira para o processo de municipali- zação. Regionalização: As ações e os serviços de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos municípios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipa- lidades que não possuem em seus territórios condições de oferecer serviços de alta e média complexidade; por outro lado, existem municípios que apresentam serviços de referência, tornando-se polos regionais que garantem o atendimento da sua popula- ção e de municípios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são frequentes os intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas de estados diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos e estratégias regionais é uma solução fundamen- tal, que permitirá ao SUS superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de atendimento e o processo de descentralização. • a transversalidade, que estabelece a necessidade de coerência, comple- mentaridade e reforço recíproco entre órgãos, políticas, programas e ações de saúde” (Brasil, MS/SGEP, 2007). No SUS, Transversalidade é um dos princípios da Política Nacional de Huma- nização (PNH), que, visa estar presente em todos os programas e políticas do SUS. Com isso, o resultado esperado é um grau de contato e comunicação entre pessoas e grupos ampliados, sem hierarquia, reforçando a produção de saúde com qualidade. Transversalizar, princípio da PNH, é colocar os saberes e práticas de saúde no mesmo plano comunicacional, provocando a desestabilização das fronteiras dos sa- beres, territórios de poder e modos instituídos nas relações de trabalho, para produção 50 de um plano comum. Não é, portanto, uma comunicação vertical que mantém e sus- tenta a separação de quem elabora daquele que executa, nem é tão-somente uma prática horizontal que se dá entre iguais. Esta última pode ser expressa, por exemplo, no distanciamento entre as categorias profissionais a ser enfrentado nas diferentes instâncias do SUS, desde a formação do profissional de saúde, a sua atuação na gestão e na atenção, até os sentidos populares atribuídos a esses profissionais. Logo, a consolidação do SUS, como um sistema de atenção e cuidados em saúde, não é suficiente para a efetivação do direito da população à saúde. São claras as evidências que apontam para os limites da atuação de um sistema de assistência. A conquista da saúde precisa estar articulada à ação sistemática e intersetorial do Estado sobre os determinantes sociais de saúde, ou seja, o conjunto dos fatores de ordem econômico-social e cultural que exercem influência direta ou indireta sobre as condições de saúde da população. Fonte: www.conass.org.br Há evidências sobre as limitações de um sistema de saúde assistencial para a melhoria da qualidade de vida da população, que deve
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