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Princípios de Microscopia e Aplicações A verdadeira complexidade do ambiente que nos circunda não foi estimada até a observação dos primeiros microrganismos através das lentes de um microscópio. Sem dúvida, o uso da microscopia ajudou a definir as relações entre uma diversidade de organismos, variando desde os menores vírus constituídos de algumas poucas proteínas e informação genética mínima até parasitas de quase 10 metros de comprimento. Em geral, a microscopia é utilizada na microbiologia com dois propósitos básicos: a detecção inicial de micróbios e sua identificação preliminar ou definitiva. O exame microscópico das amostras clínicas é utilizado para detectar células bacterianas, fungos, parasitas (ovos, larvas ou formas adultas) e corpúsculos de inclusões virais presentes nas células infectadas. Propriedades morfológicas características podem ser utilizadas na identificação preliminar da maioria das bactérias sendo utilizadas para a identificação definitiva de muitos fungos e parasitas. A detecção microscópica de organismos corados com anticorpos marcados com corantes fluorescentes ou outros marcadores provou ser muito útil para a identificação específica de muitos organismos. Em geral cinco métodos microscópicos são utilizados: Microscopia de campo-claro (luz) Microscopia de campo escuro Microscopia de contraste de fase Microscopia fluorescente Microscopia eletrônica Microscopia de Campo Claro (Luz) Os componentes básicos dos microscópios ópticos consistem de uma fonte de luz utilizada para iluminar a amostra colocada em uma base, um condensador utilizado para focalizar a luz na amostra e dois sistemas de lentes (lentes objetivas e lentes oculares) utilizadas para aumentar a imagem da amostra. A imagem é ampliada primeiro pelas lentes objetivas, e então pelas lentes oculares. O aumento total da imagem é o produto do aumento da lente objetiva pelo aumento da lente ocular. Três lentes objetivas diferentes são utilizadas comumente: de baixo aumento (10 ×), que pode ser utilizada para escanear uma amostra; de grande aumento (40 ×), que é usada para examinar micróbios maiores como parasitas e fungos filamentosos; e a de imersão em óleo (100 ×), utilizada para observar bactérias, leveduras (estágio unicelular dos fungos), e detalhes morfológicos de organismos maiores e células. As lentes oculares podem aumentar ainda mais a imagem (geralmente 10 a 15×). A limitação do microscópio de campo claro é a resolução da imagem (isto é, a habilidade de distinguir dois objetos individualizados). O poder de resolução de um microscópio é determinado pelo comprimento da onda de luz utilizada para iluminar a amostra e o ângulo de penetração desta luz nas lentes objetivas (conhecido como abertura numérica). O poder de resolução aumenta quando se coloca óleo entre a lente objetiva (tipicamente a lente de 100 vezes) e a amostra, devido à redução da dispersão da luz pelo óleo. Os melhores microscópios de campo claro têm poder de resolução de aproximadamente 0,2μm, permitindo a visualização da maioria das bactérias, mas não dos vírus. Embora a maioria dos organismos maiores e das bactérias possa ser vista com microscopia de campo claro, os índices de refração dos organismos e do fundo são similares. Dessa forma, organismos devem ser corados com um corante para que possam ser observados ou deve-se utilizar um método microscópico alternativo. Microscopia de Campo Escuro As mesmas lentes objetiva e ocular utilizadas nos microscópios de campo claro são utilizadas no microscópio de campo escuro; entretanto, um condensador especial é utilizado para impedir que a luz transmitida ilumine diretamente a amostra. Somente a luz oblíqua e dispersa atinge a amostra passando pelo sistema de lentes fazendo com que a amostra se torne iluminada brilhantemente contra um fundo escuro. A vantagem desse método é que o poder de resolução da microscopia de campo escuro é significativamente superior quando comparada com a microscopia de campo claro (i.e., 0,02μm versus 0,2μm), tornando possível a detecção de bactérias extremamente finas, como o Treponema pallidum (agente etiológico da sífilis) e a Leptospira spp. (leptospirose). A desvantagem desse método é que a luz passa ao redor, e não através do organismo, e sua estrutura interna não pode ser estudada. Microscopia de Contraste de Fase A microscopia de contraste de fase permite o exame dos detalhes internos dos micróbios. Nesta forma de microscopia, quando feixes de luz passam através de objetos de diferentes densidades, o comprimento de onda de um feixe se move fora de “fase” em relação ao outro feixe de luz (i.e., o feixe que passa através do material mais denso é mais atrasado que o outro feixe). Através do uso de anéis anulares no condensador e na lente objetiva, as diferenças na fase são ampliadas, de modo que a luz em fase aparece mais brilhante que a luz fora de fase. Isto cria uma imagem tridimensional do organismo ou amostra, permitindo uma análise mais detalhada das estruturas internas. Microscopia de Fluorescência Alguns compostos denominados fluorocromos podem absorver comprimentos de onda curtos da luz ultravioleta ou ultra-azul e emitir energia no comprimento de onda maior visível. Embora alguns microrganismos apresentem fluorescência natural (autofluorescência) a microscopia de fluorescência envolve tipicamente a coloração de organismos com corantes fluorescentes e exames com um microscópio fluorescente especialmente projetado. O microscópio utiliza uma lâmpada de mercúrio, de halogênio ou de vapor de xenônio de alta pressão que emite um comprimento de onda mais curto daquele emitido pelo microscópio de campo claro tradicional. Vários filtros são utilizados para bloquear o calor gerado pelas lâmpadas, eliminar a luz infravermelha, e selecionar o comprimento de onda apropriado para excitar o fluorocromo. A luz emitida a partir do fluorocromo é amplificada através das lentes objetiva e ocular tradicionais. Amostras e organismos corados com os fluorocromos aparecem iluminados brilhantemente contra um fundo escuro, embora as cores variem dependendo do fluorocromo utilizado. O contraste entre o organismo e o fundo é grande o bastante para que a amostra possa ser rapidamente visualizada em baixo aumento, e o material possa ser examinado em grande aumento uma vez que a fluorescência foi detectada. Microscopia Eletrônica Diferentemente de outras formas de microscopia, nos microscópios eletrônicos são utilizados espirais magnéticas (no lugar das lentes) para direcionar um feixe de elétrons de um filamento de tungstênio através da amostra em direção à tela. Como um comprimento de luz muito mais curto é utilizado, o aumento e a resolução são notavelmente aumentados. Partículas virais individuais (contrastando com os corpúsculos de inclusão virais) só podem ser observadas com a microscopia eletrônica. Normalmente, as amostras são coradas e cobertas com íons metálicos para criar o contraste. Existem dois tipos de microscopia eletrônica: o microscópio eletrônico de transmissão, em que os elétrons semelhantes à luz passam diretamente através da amostra, e o microscópio eletrônico de varredura, que os elétrons encobrem a superfície da amostra em ângulo e uma imagem tridimensional é produzida.
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