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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Fisiopatologia ............................................................. 4 3. Quadro clínico .............................................................. 5 4. Classificação ................................................................ 7 5. Diagnóstico .................................................................. 9 6. Tratamento .................................................................11 7. Decisão terapêutica ................................................22 Referências bibliográficas .........................................26 3HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) 1. INTRODUÇÃO Você deve conhecer alguém com essa condição. Isso acontece porque a HAS, ou pressão alta (como é po- pularmente conhecida), é uma das doenças mais comuns no mundo: ela acomete em torno de 1 bilhão de pessoas em todo o planeta, sendo que no Brasil, mais especificamente, ela afeta cerca de 30% da popula- ção adulta e até 60% dos idosos. A primeira coisa que a gente precisa entender é o que representa a medida da Pressão Arterial (PA). Bem... con- ceitualmente, a PA consiste na força exercida pelo sangue sobre a parede do vaso. No entanto, como o ciclo car- díaco é dividido em duas fases (sísto- le e diástole), para podermos avaliar bem essa pressão, nós precisamos saber o seu valor em cada uma de- las. É justamente daí que surgem as Pressões Arteriais Sistólica (PAs) e Diastólica (PAd). Quais são os fatores que a regulam? Os principais são 2: a) débito cardíaco, que corresponde ao volume de san- gue ejetado pelos ventrículos em um determinado intervalo de tempo; e b) resistência vascular periférica, que é a força exercida pelo vaso em oposição à passagem do sangue. Ambos esses fatores estabelecem uma relação dire- tamente proporcional com o valor da PA. Se houver um aumento do débito cardíaco, mais volume estará sendo ejetado e, consequentemente, mais sangue irá se chocar com as paredes vasculares, levando a um aumento da PA. Por outro lado, se os vasos co- meçarem a oferecer mais resistência à passagem do sangue, mais contato haverá entre esse e suas paredes, o que também aumenta a PA. A partir de tudo isso que acabamos de ver, nós temos que a Hipertensão Arterial Sistêmica é definida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia como sendo uma: CONCEITO! Condição clínica multifato- rial caracterizada por elevação sustenta- da dos níveis pressóricos Desse conceito é importante a gen- te destacar o termo “sustentada”. O que acontece é que, durante o dia, a nossa pressão arterial varia diversas vezes a depender da atividade que estejamos exercendo. Por exemplo, quando estamos praticando algum exercício físico, nosso metabolismo aumenta e o corpo precisa de um maior aporte sanguíneo, o que leva a um aumento do débito cardíaco e, consequentemente, da PA. Por outro lado, quando dormimos é justamente o oposto, então nosso débito cardíaco diminui e a PA também. Em cima dis- so, para podermos definir que se trata de uma HAS, o paciente deve apre- sentar valores de PA sempre eleva- dos, independente da atividade que esteja realizando – é justamente isso 4HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) que explica a forma de diagnóstico que vamos ver mais lá pra frente. 2. FISIOPATOLOGIA Cerca de 95-97% dos casos de HAS são enquadrados como primários ou essenciais, que são aqueles idiopáti- cos em que não se consegue identi- ficar uma causa específica para o au- mento dos níveis pressóricos. Assim, acredita-se que esses casos são de- correntes da interação de vários fato- res de risco que, de acordo com uma série de estudos, estão relacionados ao aumento da PA. São eles: FATORES DE RISCO Idade Sexo feminino Sedentarismo Sobrepeso/Obesidade Pele negra Fatores genéticos Excesso de sal Excesso de álccol Já os outros 3-5% dos pacientes apresentam o que conhecemos como HAS secundária, que é quando existe uma doença de base responsável por elevar os níveis pressóricos. Entre es- sas, as principais são: CAUSAS DE HAS SECUNDÁRIA Síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) Obstruções recorrentes das vias aéreas superiores durante o sono, produzindo episódios de apneia ou hipopneia que levam à hipóxia e aumentam os riscos de desenvolver HAS Alteração estrutural/funcional dos rins que diminui a taxa de filtração glomerular, aumentando a produção de renina e ativação prolongada do sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRAA), elevando a PA Estenose parcial ou total, uni ou bilateral da artéria renal ou de seus ramos, reduzindo a pressão de filtração glomerular e consequente ativação do SRAA Produção exacerbada de aldosterona, que eleva a um aumento da PA Tumor que acomete as células cromafins das glândulas suprarrenais, que aumenta a produção de catecolaminas e consequentemente a uma crise adrenérgica caracterizada pela tríade: cefalia, palpitação e sudorese Doença renal crônica Hipertensão renovascular Hiperaldosteronismo Feocromocitoma 5HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) Tá. Mas independente de qual seja a sua causa, qual é o real problema por trás de um quadro de hipertensão ar- terial? Essa é uma das principais per- guntas para que a gente possa en- tender porque a HAS é uma doença tão importante na prática médica. O que acontece é o seguinte: lem- brando da definição que a pressão arterial é a força que o sangue exerce sobre as paredes do vaso, quando a pessoa apresenta uma hipertensão, o choque entre o sangue e a parede é mais intenso e mais constante, o que acaba favorecendo a ocorrência de le- sões por todo o sistema cardiovascu- lar e também lesões em órgãos-alvo (LOA). É justamente isso que justifi- ca a comum associação da HAS com processos patológicos como: Figura 1. SE LIGA! No Brasil, a HAS está direta ou indiretamente relacionada com cerca de 50% das mortes por doenças car- diovasculares, sendo que essas, por sua vez, correspondem à principal causa de morte entre brasileiros (30%). 3. QUADRO CLÍNICO Apesar do que muitos acreditam, na grande maioria dos casos, a HAS se apresenta de forma completamente assintomática e é por isso que muitas vezes o seu diagnóstico acaba sendo feito em consultas com qualquer outro objetivo. Assim, quando nos depara- mos com um paciente que apresente alterações nos níveis pressóricos, é imprescindível que ele seja questio- nado acerca de um possível diagnós- tico prévio de HAS, bem como sobre a evolução da doença e o tratamento que ele segue para controlá-la. Além disso, outros tópicos impor- tantes que devem fazer parte da sua anamnese são o histórico familiar, a presença de fatores de risco específi- cos para doenças cardiovasculares, os aspectos socioeconômicos do pacien- te e também os seus hábitos de vida. Já no que tange ao exame físico, aqui devem ser obtidos informações gerais como os dados antropométricos do paciente e também o seu exame car- diovascular completo, mas um ponto de grande destaque nesses casos é a própria aferição da pressão arterial. Segundos as diretrizes mais recentes (como no caso da Sociedade Brasileira 6HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) de Cardiologia, SBC), o ideal é que adultos com PA ≤ 120x80mmHg rea- lizem a aferição da pressão ao menos uma vez a cada 2 anos, enquanto que aqueles com PA acima desse valor devem realizar a medição anualmente. A respeito da mensuração da PA, de- vemos ter atenção: a aferição precisa ser um pouco mais complexa do que estamos acostumados por aí. Isso por quê o indicado é que na primeira con- sulta ela seja medida em cada um dos membros superiores e com o paciente deitado, sentado e em pé. A impor- tância disso tudo é que quando ava- liamos os dois membros, consegui- mos perceber se existe uma diferença significativa entre eles (diferença de 20mmHg entre a PAs e até 10mmHg no caso da PAd), o que fala a favor de doenças arteriais. Por outrolado, gran- des alterações de acordo com o posi- cionamento do paciente (novamente: diferença de 20mmHg entre a PAs e 10mmHg entre a PAd) nos indicam a presença de uma hipotensão postural. A partir da segunda consulta, no entan- to, basta que a PA seja medida no mem- bro superior com maiores valores. Já com relação ao posicionamento do paciente, a medição só precisará ser feita nas 3 posições em pacientes diabéticos, ido- sos, alcoolistas ou em uso de medicação anti-hipertensiva, caso contrário, basta aferir uma vez com ele sentado. MAPA AVALIAÇÃO PRESSÃO ARTERIAL EM CONSULTA Em idosos, diabéticos, alcoolistas ou em uso de anti-hipertensivos Membro superior esquerdo PRIMEIRA CONSULTA CONSULTA DE RETORNO Membro superior direito Deitado Sentado Em pé Superior com maior PA prévia Deitado Sentado e em pé 7HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) 4. CLASSIFICAÇÃO Uma vez tendo avaliado a PA do paciente, nós poderemos classificá- -la em 3 categorias: normotensão, pré-hipertensão e hipertensão (que pode ser dividida em 3), seguindo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC): PAS (MMHG) PAD(MMHG) Normotensão ≤ 120 ≤ 80 Pré-hipertensão 121-139 81-89 Hipertensão I 140-159 90-99 II 160-179 100-109 III ≥ 180 ≥ 110 SE LIGA! Se a PAs e a PAd se situarem em categorias diferentes, a maior delas deve ser utilizada para classificação da PA. Quando a gente olha todos esses nú- meros, é importante não perder de vista que isso varia muito de país para país. Como dissemos, esses são os valores de referência para a SBC, no entanto, a American Heart Associa- tion (AHA), por exemplo, define que a pré-hipertensão se apresenta com PAs entre 120-129mmHg e a PAd ≤ _80mmHg, de modo que já podemos considerar hipertensos os pacientes com PA acima de 130x80mmHg. Já no caso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, em inglês), a gran- de diferença está na fase pré-hiper- tensiva, que para eles se dá quando o paciente tem uma PAs de 130- 139mmHg e PAd de 85-89mmHg. AHA PAS (MMHG) PAD(MMHG) Normal < 120 < 80 Elevada 120-139 < 80 HAS I 130-39 80-89 HAS II ≥ 140 ≥ 90 HAS III ≥ 180 ≥ 120 ESC PAS (MMHG) PAD(MMHG) Normal 120-129 120-129 Elevada 130-139 130-139 HAS I 140-159 140-159 HAS II 160-179 160-179 HAS III ≥ 180 ≥ 180 Normotensão Os indivíduos normotensos dispen- sam explicação! São justamente aquelas pessoas que possuem uma PA dentro dos valores de referência ou então que são hi- pertensas, mas com ouso correto da terapia anti-hipertensiva conseguem manter sua pressão arterial em níveis pressóricos normais (hipertensão controlada). Pré-hipertensão Os pré-hipertensos, por sua vez, são aquelas pessoas que estão no meio termo entre o que é considerado nor- mal (≤ 120x80mmHg) e o que é hi- pertensão (≥ 140x90mmHg). Assim, 8HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) elas possuem grande probabilidade de se tornarem hipertensas e tam- bém um maior risco de desenvol- verem alguma complicação cardio- vascular e é justamente por isso que precisam ser acompanhadas com mais regularidade. Hipertensão Por fim, os hipertensos são aque- les pacientes que, comprovada- mente, mantêm níveis pressóricos ≥ 140x90mmHg, sendo que eles ainda podem ser estratificados em 3 es- tágios de acordo com o valor da sua PA. Além disso, também entram nes- se grupo aqueles indivíduos cujo tra- tamento anti-hipertensivo não está tendo efeito, que é o caso da hiper- tensão não controlada. Até aqui está tudo ótimo. O problema é que exis- tem 3 situações que podem nos atra- palhar na hora de classificar um pa- ciente quanto ao valor de sua PA. São elas: efeito do avental branco, hiper- tensão do avental branco e hiperten- são mascarada. EFEITO DO JALECO BRANCO NÃO MUDA DIAGNÓSTICO, NO MÁXIMO O ESTÁGIO DO HAS Hipertensão do jaleco branco PA do consultório elevada com a em casa normal Hipertensão mascarada PA do consultório normal, com a em casa elevada Efeito do Avental Branco O efeito do avental branco se dá quando o valor da PA no consultório é diferente de quando o paciente está fora dele, desde que essa diferença seja ≥ 20mmHg no caso da PAs e/ ou ≥ 10mmHg na PAd. Contudo, tal diferença não muda o diagnóstico, ou seja, mesmo com essa variação, um indivíduo normotenso continuará sendo classificado como normoten- so e um hipertenso continuará sendo classificado como hipertenso. No entanto, esse efeito pode alterar o estágio da hipertensão e, com isso, influenciar na escolha da terapêutica para o paciente. Hipertensão do Avental Branco Já a hipertensão do avental branco, por sua vez, se dá quando no con- sultório o indivíduo apresenta níveis pressóricos anormais, mas fora dele sua PA fica normotensa. Ou seja, nessa outra situação a variação na PA mudaria o diagnóstico e, consequen- temente, nossa conduta. Hipertensão Mascarada Por fim, a chamada hipertensão mas- carada é praticamente o oposto da hipertensão do avental branco: ela se caracteriza por no consultório o paciente apresentar uma PA normal, mas fora dele seus níveis pressóricos 9HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) serem aumentados. Ou seja, nova- mente uma condição que alteraria nosso diagnóstico. No final das contas, então, o que é que a gente tira disso tudo? Que para conseguir definir com certeza um quadro de hipertensão, nós vamos precisar aferir a PA do paciente tam- bém fora do consultório e é justamen- te com essa ideia em mente que po- demos falar agora sobre como é que se diagnostica a HAS. 5. DIAGNÓSTICO Então vamos lá. Imagine que você estava atendendo um pacien- te e, durante o exame físico, você percebeu que a PA dele estava acima de 140x90mmHg. Pronto. Esse é o sinal para a gente começar a inves- tigar uma possível HAS. A partir daí, nós poderemos seguir por dois cami- nhos a depender do valor da PA: • PA ≥ 180x110mmHg diagnostica a HAS • PA ≥ 140x90mmHg e < 180x110mmHg precisa investigar o risco de doenças cardiovascula- res ou renais Para calcularmos o risco no paciente com suspeita de hipertensão, nós po- demos nos basear na seguinte tabela da diretriz brasileira: FATORES DE RISCO PAS: 130-139 OU PAD: 85-89 PAS: 140-159 OU PAD: 90-99 PAS: 160-179 OU PAD: 100-109 PAS: ≥ 180 OU PAD: ≥ 100 0 Sem risco Baixo Moderado Alto 1-2 Baixo Moderado Alto Alto ≥3 Moderado Alto Alto Alto LOA DM DCV DRV Alto Alto Alto Alto Beleza, mas para que a gente avalia isso daí? Porque é justamente esse risco que nos ajuda a definir o próximo passo da avaliação do paciente. A ideia é: PA ≥ 140x90mmHg com risco alto já fecha o diagnóstico de HAS. Por outro lado, uma PA elevada com risco baixo ou moderado requer uma avaliação um pouco mais profunda para que a gente possa concluir que realmente se trata de um quadro de hipertensão. Percebeu? Até esse momento da con- sulta a gente só estava tentando defi- nir quem de fato tem HAS e quem ain- da está na suspeita da condição. Feito isso, então, nós deveremos solicitar para todos os pacientes uma série de exames laboratoriais – que são úteis para checar se há lesão de órgãos-al- vo – e só para aqueles com suspeita é que nós poderemos solicitar exames complementares de medição da PA, que são a MAPA e a MRPA. 10HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO PA ≥ 140x90 com risco alto ou PA ≥ 180x110 PRIMEIRA CONSULTA Emergência/Urgência Hipertensiva PA ≥ 140x90 com risco baixo ou moerado Dianóstico de HAS Encaminhar ao serviço de urgência CONSULTA DE RETORNO < 140 x 90 PAs ≥ 140 ou PAd ≥90 PA vigília < 130x85 PAs 24h > 130 ou PAd 24h > 80 < 135x85 PAs ≥ 135 ou PAd ≥ 85 Normotenso (mascarada?) Hipertensão (Jaleco branco?) Hipertensão do Jaleco Branco Diagnóstico de HAS Hipertensão do Jaleco Branco Diagnóstico de HAS Pressão de consultório Considerar MAPA Considerar MRPA ou ou EXAMES LABORATORIAIS Análise de Urina Potássio plasmático Ácido úrico plasmático Creatinina plasmática ECG Convencional Perfil lipídicoRitmo de filtração glomerular estimado Glicemia em Jejum e HbA1c Obs. esses exames laboratoriais são importantes principalmente porque através deles a gente consegue investigar se há lesão de órgão alvo (LOA). Mas além disso, eles podem ser fundamentais para ajudar a determinar o risco cardiovascular do paciente e até para levantar a suspeita de HAS secundária. Obs. o perfil lipídico consiste em colesterol total, triglicérides, HDL e LDL - mas a gente pode não precisar pedir o LDL pois o seu valor é calculável quando a dosagem de triglicérides é < 400mg/dL. MRPA (Medida Residencial da Pressão Arterial) Lembra daquelas três situações que a gente comentou lá em cima, nas quais a PA se apresenta com alguma alteração quando medida no consultório? Pois bem, o grande objetivo da MRPA e da MAPA é driblar esse problema, obtendo medidas da PA de forma sistematizada enquanto o paciente estiver fora do consultório. Com base nisso, a MRPA (Medida Residencial da Pressão Arterial) realiza a aferição da PA do paciente 3 vezes no período da manhã, 11HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) antes do desjejum e da tomada da medicação, e 3 vezes à noite, antes do jantar. E isso se repete durante 5 dias. Ou- tra opção é fazer apenas 4 medições, 2 de manhã, antes do desjejum e do medicamento, e 2 de noite, antes do jantar, mas aí isso deve ser repetido ao longo de 7 dias. No final das contas, os valores considerados anormais são o de PA ≥ _135x85mmHg. Mas atenção: a MRPA não consiste em auto medidas da pressão! Ela é feita por um equipamento específico e programado de acordo com o protocolo. MAPA (Medida Ambulatorial da Pressão Arterial) Já a MAPA (Medida Ambulatorial da Pressão Arterial), por sua vez, é um exame que dura 24h, no qual o equipamento é programado para aferir a pressão a cada cerca de 20min. Isso permite que esse exame avalie as alterações de PA tanto durante a fase de vigília quanto na fase de sono, de modo que ele aca- ba sendo o padrão-ouro para diagnóstico da PA. E com rela- ção aos seus valores de referência, considera-se anormais a PA vigília ≥ 135x85mmHg, a PA sono ≥ 120x70mmHg e a média da PA nas 24h ≥ _130x80mmHg. INDICAÇÕES ESPECÍFICAS PARA MAPA Grande diferença entre PA em casa e no consultório Avaliação do descenso durante o sono Avaliação da variabilidade da PA Ausência de queda da PA no sono (em pacien- tes com SAHOS, DM ou DRC) 6. TRATAMENTO Uma vez tendo diagnosticado a HAS, só nos resta agora tratá-la. Bem... o tratamento da hipertensão não tem o objetivo de curá-la, mas sim de con- trolar a PA e para isso ele envolve a adoção de medidas medicamentosas e não medicamentosas, então vamos entender em que consiste cada uma dessas terapias. Tratamento Não Farmacológico O tratamento não farmacológico con- siste em realizar uma série de mu- danças no estilo de vida do paciente e dentre elas estão: MAPA MENTAL TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Alimentação saudávelReduz a PA em 5-8mmHg Cessar tabagismo Diminuir estresse Reduzir consumo de sal de cozinha Reduzir consumo de álcool Exercício físico Reduzir peso Reduz a PA em 5mmHg Reduz a PA em 5-6mmHg Reduz risco cardiovascular Adjuvante de todas as outras medidas Reduz a PA em 5-6mmHg Reduz a PA em 11mmHg MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS 12HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) Tratamento farmacológico Já o tratamento farmacológico, por sua vez, se baseia principalmente em 4 classes de medicamentos, que são as capazes de reduzir a mortalidade: • Diuréticos • Antagonistas do Cálcio • Inibidores de Enzima Conversora de Angiotensina (iECA) • Bloqueador do Receptor AT1 (BRA) • Bloqueadores Adrenérgicos Diuréticos (DIU) Os medicamentos diuréticos são aqueles que atuam nos néfrons favo- recendo a liberação de sódio através da urina. A partir disso, por conta da sua osmolaridade, mais água também acaba sendo excretada, o que implica dizer que o uso dessa medicação leva a uma redução do volume plasmático do paciente. Em uma primeira fase, essa redu- ção do volume já consegue reduzir a PA, mas com o tempo o corpo vai se adaptando e é justamente aí que os diuréticos promovem a sua principal alteração que é a diminuição da resis- tência vascular periférica. Lembra que a lá no início a gente falou que os dois fatores que influenciavam o valor da PA eram o débito cardíaco e a resistência vascular? Pois bem... o que acontece é que pela própria fisiopatologia da HAS – que consiste na lesão vascular – o fator mais afetado é justamente essa resis- tência e não o débito cardíaco. Dessa forma, então, se o medicamento con- segue corrigir essa questão, ele acaba sendo eficaz no tratamento da HAS. Beleza. Então até aqui a gente já en- tendeu o geral da atuação dos diu- réticos, agora só nos resta conhecer os 3 tipos dessa droga que podemos usar, bem como conhecer os seus mecanismos de ação. Mas para isso é preciso relembrar rapidamente a fi- siologia renal. Fisiologia renal Bem… como a gente sabe, a unidade funcional dos rins é o néfron e esse, por sua vez, pode ser dividido em 4 partes: • Túbulo Contorcido Proximal • Alça de Henle ◊ Porção Descendente ◊ Porção Ascendente • Túbulo Contorcido Distal • Ducto Coletor Disso aqui, o importante para a gente é saber que cada uma dessas partes atua de forma diferente no transporte de substâncias entre a urina e o san- gue e é justamente sobre esses tipos 13HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) de transportes que os diuréticos vão atuar e por isso nós precisamos co- nhecê-los. Beleza, então vamos com calma. Túbulo Contorcido Proximal Pensa que o túbulo contorcido proxi- mal é uma área nobre do néfron, na qual irá acontecer grande parte da absorção de substâncias como gli- cose, aminoácidos, metabólitos, etc. Inclusive, cerca de 60-70% do sódio (Na+) será reabsorvido aqui, sendo que, para isso, ele será trocado na membrana luminal com íons H+ e de- pois na basolateral com íons K+ atra- vés da famosa bomba de Na+/K+. E com toda essa absorção de solutos, o túbulo contorcido proximal também acaba absorvendo bastante água. Mas além disso, uma outra questão muito importante com relação à atu- ação do túbulo proximal é que é nele que atua o Sistema Secretor, que se encarrega por jogar na corrente san- guínea os ácidos e bases orgânicos (como é o caso do ácido úrico, por exemplo). Mas porque isso é impor- tante para a gente? Porque é através dele que muitos diuréticos são libera- dos na urina e aí, como esse sistema é saturável, acaba que as drogas pre- cisam competir com o ácido úrico e é justamente isso que explica a ocor- rência de hiperuricemia em alguns pacientes. 14HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) Porção Descendente da Alça de Henle Passado o túbulo proximal, o filtrado que chega na porção descendente da alça de Henle se encontra isotônico, afinal de contas, ocorreu tanto a ab- sorção de soluto quanto de solvente. No entanto, na porção descendente da alça de Henle, o interstício é hi- pertônico (e a gente já vai entender porque), de modo que, por osmose, essa porção acaba absorvendo uma grande quantidade de água e tornan- do o filtrado hipertônico para a porção ascendente da alça. Porção Ascendente da Alça de Henle Essa porção ascendente, por sua vez, é relativamente impermeável a água e sua atuação consiste em absorver Na+, K+ e Cl- através de um simpor- te e depois lançá-los no interstício, criando aquele estado de hipertonici- dade que possibilita a ação osmótica da porção descente da alça. Ou seja: essas duas porções trabalham jun- tas para absorver o máximo de água possível. Túbulo Contorcido Distal A partir da alça de Henle, as próximas alterações passam a ser menos in- tensas, de modo que no túbulo distal vai haver uma pequena reabsorção de Na+, Cl- e também de água. Mas além disso, aqui ocorre a reab- sorção de cálcio (Ca+2), que ocorre por conta da ação do paratormônio e do calcitriol. Ducto Coletor Por fim, no ducto coletor ainda ocorre umapequena absorção de Na+ atra- vés da troca desse íon pelo de K+ - estimulado pelo hormônio aldostero- na. Por outro lado, a absorção de água aqui é regulada pela ação do ADH. Uma vez tendo relembrado tudo isso, aí sim poderemos falar mais especifi- camente sobre os 3 tipos de diuréti- cos que podem ser usados no trata- mento da HAS, que são: • Tiazídicos • Diuréticos de Alça • Poupadores de Potássio DIU Tiazídicos Os diuréticos tiazídicos mais conhe- cidos são a hidrocloritizida, indapa- mida e a clortalidona e esses atuam no túbulo distal dos néfrons inibindo o transporte de íons Na+ e Cl- para dentro da célula. No entanto, como a gente viu, a ação do túbulo distal so- bre o filtrado não é muito intensa, de modo que os tiazídicos acabam sen- do diuréticos mais suaves, com capa- cidade de aumentar em apenas 5% a excreção de sódio. 15HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) Figura 2. Mesmo com tudo isso, os DIU tiazí- dicos são os mais utilizados no trata- mento da HAS, sendo que a sua ad- ministração deve ser por via oral e aí, a partir disso, ele leva cerca de 1 a 3 semanas para conseguir normalizar os níveis pressóricos do paciente. Efeitos Adversos • Hipocalemia ◊ Como o filtrado vai chegar no ducto coletor com uma maior concentração de íons Na+, ha- verá mais troca pelos K+ • Hiperuricemia ◊ Todos os tiazídicos são libe- rados por meio do Sistema Secretor, de modo que com- petem com o ácido úrico • Hipercalcemia ◊ Inibem a secreção de Ca+2, pois essa se dá por meio de uma bomba Na+/Ca+2 • Hiperglicemia ◊ Em altas doses, são capa- zes de aumentar a resistência insulínica • Hiperlipidemia ◊ Aumentam em 5-15% a con- centração sérica de colesterol, mas isso pode ser resolvido a longo prazo 16HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) DIU de Alça Dentre os diuréticos de alça mais uti- lizados, estão a furosemida e a bu- metanida, que atuam na porção as- cendente da alça de Henle, inibindo a bomba que joga Na+, K+ e Cl- para dentro da célula. Dessa forma, o meio intersticial deixa de ser hipertônico e isso atrapalha a absorção de água por osmose na porção descendente da alça. Ou seja, esses diuréticos são os mais potentes, sendo capazes de aumentar a eliminação de sódio em até 35-45%. Figura 3. Diante disso, esse medicamento só está indicado para pacientes que possuem uma condição edemigênica que necessite de uma perda hídrica acentuada - como é o caso dos pa- cientes com insuficiência cardíaca/ renal - ou quando o paciente possui um clearance < 30-60. Nesses casos, a sua administração pode ser por via oral ou parenteral e o seu efeito cos- tuma ser mais rápido (cerca de 2-4h). Efeitos Adversos • Hipocalemia e Hiperuricemia ◊ Mesmos mecanismos dos tiazídicos 17HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) • Hipovolemia Aguda - Levam a uma perda rápida e intensa de água, por isso a indicação é restrita • Hipocalcemia ◊ Como a ação deles é na alça de Henle, o filtrado que chegar no túbulo contorcido estará muito rico em Na+ e isso esti- mula a bomba Na+/Ca+2 ◊ Com a maior excreção de cál- cio pela urina, aumenta-se os riscos de litíase • Hipomagnesemia • Ototoxicidade ◊ Pode haver perda auditiva, es- pecialmente se associado a al- guns antibióticos DIU Poupadores de Potássio Para finalizar, temos que os principais diuréticos poupadores de potássio são a espironolactona, a amilorida e o triantereno e apesar de todos atu- arem no ducto coletor, o mecanismo de ação deles diferem um pouco. Ba- sicamente, a espironolactona atua inibindo o receptor intracelular da al- dosterona e aí, sem o estímulo dessa substância, a bomba de Na+/K+ não funciona. Com mais sódio sendo libe- rado, o paciente também acaba tendo uma perda hídrica, mas bem menos significante do que nos outros tipos de diuréticos, de modo que o diferen- cial aqui é justamente a redução na excreção de potássio. Por conta disso, a espironolactona não deve ser usada isoladamente e sim associado a um tiazídico ou a um DIU de alça quando o paciente apre- senta um quadro de hipocalemia. Mas além disso, o seu uso também é indicado para pacientes com HAS se- cundária a hiperaldosteronismo e tam- bém para aqueles com cirrose hepática. Efeitos Adversos • Distúrbios gástricos • Mimetismo de esteroides ◊ Por ser quimicamente seme- lhante aos hormônios este- roidais, o uso prolongado de espironolactona pode levar à ginecomastia nos homens e a irregularidades menstruais nas mulheres. Já no caso da amilorida e do triante- reno, o mecanismo é bem diferente. Aqui as drogas vão bloquear direta- mente a bomba de Na+/ K+, o que implica dizer que eles conseguem o mesmo efeito, mas sendo indepen- dentes da ação da aldosterona - por isso que eles têm efeito mesmo em pacientes com doença de Addison. No entanto, vale frisar que por atuar no mesmo local da espironolactona, essas 2 drogas também têm um efei- to diurético muito pequeno, de modo que só devem ser administrados em associação com outro DIU. 18HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) Bloqueador dos Canais de Cálcio (BCC) Assim como os diuréticos, os me- dicamentos antagonistas do cálcio também atuam reduzindo a resistên- cia vascular, no entanto, o mecanis- mo aqui é bem diferente. O que essas drogas fazem é bloquear os canais de cálcio de células musculares lisas do tipo L, presentes em vasos san- guíneos, e/ou de células musculares cardíacas. Dessa forma, como o cálcio é um fator indispensável para a contração mus- cular, essa função fica comprometida. A partir disso, temos que existem 3 grupos principais desse fármaco: • Fenilalquilaminas • Benzodiazepinas • Di-idropiridínicos Fenilalquilaminas O principal representante desse gru- po é o verapamil e esse se caracte- riza por cardiosseletiva, ou seja, que atua sobre os nós sinoatrial e atrio- ventricular lentificando o processo de condução elétrica - por isso é consi- derado uma droga bradicardizante. E porque a gente precisa saber disso? Pois caso o paciente já tenha algum acometimento cardíaco - como a in- suficiência cardíaca ou algum proble- ma de condução - a gente não vai prescrever esse fármaco. Figura 4. 19HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) Efeitos Adversos Constipação • Inibe canais de cálcio na muscula- tura lisa intestinal Di-idropiridínicos Já no grupo dos di-idropiridínicos, nós temos o nifedipino como droga de 1ª geração e outras 5 como drogas de 2ª: anlodipino, felodipino, isradipino, nicardipino e nisoldipino. E qual a diferença desses para o ve- rapamil? É esses fármacos possuem uma ação maior sobre os vasos (va- sosseletivos) – especificamente as arteríolas -, diminuindo a entrada de cálcio nas células musculares lisas e, com isso, provocando vasodilatação. Efeitos Adversos Cefaleia, Rubor e Edema • Todos por conta da vasodilatação Benzodiazepinas E por fim, temos as benzodiazepinas que são representadas pelo diltiazem. E basicamente, o diferencial dessa droga é que ela representa o meio termo entre as duas que já vimos: ela tem efeito tanto sobre o coração, quanto sobre os vasos do paciente. iECA e BRA Já esses dois medicamentos atuam sobre aquele Sistema Renina-An- giotensina-Aldosterona (SRAA) que falamos tanto lá em cima. Então ago- ra vamos entender um pouco mais a fundo esse sistema para daí falar- mos mais especificamente sobre os medicamentos. Bem, a primeira coisa que precisamos ter em mente é que a grande função do SRAA é promover um aumento da PA. E como é que ele faz isso? É o seguinte: na parede das arteríolas aferentes situadas imediatamente antes dos glomérulos existem células especializadas chamadas de justa- glomerulares. São essas células que são capazes de identificar quedas na PA e é justamente isso que serve de estímulo para que ela libere uma en- zima conhecida como renina. Essa renina produzida nos rins, então, atua catalisando a quebra de uma proteína hepática chamada angiotensinogênio em um peptídeo que recebe o nome de angiotensina I e esse,por sua vez, através dos pulmões, é convertido em angiotensina II pela chamada enzima conversora de angiotensina (ECA). É justamente a angiotensina II que atua fortemente sobre a regulação da PA e ela faz isso por meio de 2 me- canismos: a) vasoconstrição perifé- rica; e b) estímulo para que as glân- dulas adrenais liberem o hormônio aldosterona, que promove uma maior 20HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) retenção de sódio e, consequente- mente, de água, aumentando assim o volume plasmático. Quando a gente entende toda essa fisiopatologia do SRAA, nós pode- mos concluir que se o nosso objetivo nos pacientes hipertensos é reduzir a PA, então nós vamos precisar INIBIR esse sistema e é justamente isso que fazem a iECA e a BRA. Os iECAs (Benazepril, Captopril, Ci- lazapril, Enalapril...), como o nome já deixa bem explícito, bloqueiam o SRAA ao inibir a ação da ECA no pro- cesso de conversão de angiotensina I para a II. No entanto, é importante a gente se atentar para uma coisa: depois de um tempo, por vias colate- rais, o corpo consegue dar um jeito de normalizar os níveis de angiotensina II, mas isso não faz o paciente apre- sentar uma HAS descompensada. Como isso é possível? É que a ECA também é responsável por degradar uma substância chamada bradicinina, que tem ação vasodilatadora! Ou seja, se essa substância não está sendo degradada, mesmo tendo angioten- sina II normais, o paciente ainda vai estar fazendo vasodilatação. Obs. essa bradicinina atua na árvore respiratória fazendo broncoconstrição e é isso que explica 2 coisas: a) o princi- pal efeito adverso da iECA ser a tosse; e b) esse medicamento não ser indicado para pacientes asmáticos. Já os BRA (Losartana, Valsartana...) fecham os receptores da angiotensi- na II, impedindo a sua ação e, dessa forma, bloqueando o ciclo do SRAA. No entanto, é válido ressaltar que as evidências indicam que o iECA e o BRA têm menos efeito hipotensor do que os diuréticos e os BCCs (espe- cialmente em negros). Devemos ter cuidado com 2 coisas: a) esses dois medicamentos não devem ser utilizados concomitantemente; b) pela própria atuação deles, o iECA e o BRA acabam sendo medicamen- tos muito bons para prevenir a ocor- rência de lesão renal, no entanto, se a lesão já estiver instalada, eles são prejudiciais e precisam ser suspen- sos. Como é, então, que nós vamos identificar esses casos? Avaliando se o paciente apresenta pelo menos um dos seguintes critérios: AUMENTO DA CREATININA > 30% DIMINUIÇÃO DA TFG Creatinina > 3 Potássio > 5,5 Só para a gente entender melhor a relação desses fármacos com a le- são renal, o que acontece é o se- guinte: o efeito que elas provocam é a vasodilatação das arteríolas glomerulares eferentes e isso serve de proteção aos rins por diminuir a pressão dentro do glomérulo. É por isso que todo paciente com alteração renal e que não apresente os critérios 21HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) acima deve ter iECA ou BRA com- pondo o seu tratamento. Contudo, quando a lesão se estabe- lece, a TFG cai e aí a forma que o cor- po tem de mantê-la normal é fazendo vasoconstrição justamente nas arte- ríolas eferentes. Ou seja, se já tiver lesão, essas drogas vão impedir um mecanismo compensatório do corpo e por isso não devem ser indicadas para o paciente. Betabloqueadores (BB) Por fim, a última classe de medica- mentos que vamos ver é a dos be- tabloqueadores (BB), que, como o nome já deixa claro, atua bloqueando os receptores beta-adrenérgicos do corpo. Na prática, ainda se questiona bastante a eficiência dos BBs no tra- tamento da HAS, pois alguns estudos demonstraram que seus efeitos seus inferiores aos das outras classes que vistas anteriormente. Contudo, já foi provada a sua eficácia na redução da morbimortalidade de pacientes com HAS associada à coronariopatia ou à insuficiência cardíaca – e aí, nesses casos, os BBs entram como drogas de 1ª linha! Mas enfim… uma ques- tão importante com relação aos BBs é que eles podem ter ação seletiva (atuam apenas sobre os receptores beta-1 presentes no coração) ou não (também atuam sobre os beta-2 que estão nos vasos). Dentre os não seletivos, os princi- pais são o propanolol e o nasolol, mas é importante ter sempre em mente que ele estará mais relacionado com efeitos adversos como, por exemplo, claudicação e disfunção erétil. Já entre os seletivos estão drogas como me- toprolol e atenolol, as quais têm ação mais restrita ao coração, inicialmente reduzindo o débito cardíaco e, depois, promovendo a redução da secreção de renina, a readaptação dos barorre- ceptores e a diminuição das catecola- minas nas sinapses nervosas. Obs. carvedilol e nebivolol são outros exemplos de BB seletivos, mas que se destacam por apresentarem uma ação secundária. O carvedilol ainda é capaz de bloquear alfa-1 e promover vasodila- tação, de modo que é bastante utilizado em pacientes com ICC. Já o nebivolol é capaz de liberar óxido nítrico e por isso é benéfico no tratamento de pacientes que também possuem disfunção erétil. Outros bloqueadores adrenérgicos Além dos BBs, ainda existem outras drogas capazes de inibir os outros receptores adrenérgicos do corpo, como o alfa-1 e o alfa-2. No entanto, essas drogas não reduzem o risco de mortalidade e por isso não entram na primeira linha de escolha, sendo, por- tanto, drogas para atingir meta, em outras palavras: se depois de asso- ciar todas as outras opções, o pacien- te ainda continuar fora da sua meta pressórica, aí a gente apela para es- ses outros medicamentos. 22HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) No entanto, é legal a gente saber que desses, apenas os bloqueadores de alfa-2 possuem ação central, enquan- to que os de alfa-1 atuam fazendo vasodilatação periférica e ainda estão associados a uma dilatação da mus- culatura uretral, o que é benéfico para pacientes que tenham prostatismo. 7. DECISÃO TERAPÊUTICA A gente já aprendeu um monte de coisa acerca dos tratamentos que podem ser empregados para contro- lar a HAS, mas no final das contas, quando é que vamos escolher cada um desses? Bem, o tratamento não medicamentoso está indicado para todo e qualquer paciente com HAS ou com pré-hipertensão, o que nós temos que aprender, então, é quando adicionar os medicamentos no trata- mento e é justamente isso que nós vamos ver agora. Pacientes pré-hipertensos devem iniciar de forma imediata o tratamen- to não medicamentoso. No entanto, devemos ficar atentos e considerar o uso de medicamentos naqueles com doença cardiovascu- lar ou com risco alto. Já os pacientes com HAS estágio 1 com risco baixo ou moderado devem ser indicados para o tratamento não medicamento- so isolado por um período de 6 e 3 meses, respectivamente. Contudo, caso não apresentem ne- nhuma melhora após esse intervalo, é indicado que se inicie com eles uma monoterapia, em que escolheremos apenas uma das classes. SE LIGA! Caso esse paciente com HAS I e risco baixo/moderado tenha dificulda- de em retornar à assistência médica, po- de-se optar por iniciar o tratamento me- dicamentoso logo após o diagnóstico. Se mesmo com o uso desse medica- mento, o paciente ainda não apresen- tar uma melhora do quadro ou então o apresente, mas com efeitos colate- rais, aí teremos 3 opções: a) aumen- tar a dose; b) trocar a medicação; ou c) associar com uma segunda classe de medicamento. E se ainda assim não houver uma melhora do quadro, a conduta será ir adicionando outras classes de medicamento na terapia. Por outro lado, quando o paciente possui uma HAS estágio 2 ou 3, ou mesmo um estágio 1 com risco alto, o tratamento medicamentoso tem in- dicação para ser iniciado de imediato e aqui nossa conduta será um pouco diferente. O ideal é que para esses pa- cientes seja associado a terapia não medicamentosa com uma combina- ção de 2 drogas de classes diferentes (inicialmente com dose baixa). A par- tir daí nós vamos ver como o paciente reage e, novamente, se não houver melhorado quadro ou ele apresentar efeitos colaterais, cairemos naquelas 23HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) mesmas opções: a) aumentar a dose; b) adicionar uma 3ª classe de medi- camento; ou c) trocar a combinação. Se ainda assim não houver melhora do quadro, também deveremos seguir adicionando novas classes de anti-hi- pertensivos. Obs. uma vez tendo sido decidido que o paciente vai precisar de um tratamento farmacológico é importante levar em consideração a sua cor de pele, isso porque nos pa- cientes negros é indicado que as 2 primeiras drogas testadas sejam BCC e DIU (mesmo na monoterapia). FLUXOGRAMA DECISÃO TERAPÊUTICA Não farmacológico + Monoterapia - DIU, iECA, BRA, BCC ou BB (casos específicos) Estágio 1 + Risco baixo/moderado Estágio 1 + Risco alto Estágios 2 ou 3 Não farmacológico + Combinação - 2 classes diferentes em doses baixas Sem melhora / Efeitos colaterais Aumentar dose OU Associar 2ª droga OU trocar medicação Aumentar dose OU Associar 3ª droga OU trocar combinação Sem melhora Acrescentar outros anti-hipertensivos Mas e se for uma HAS Sistólica Isolada? Bem... aí a nossa conduta varia a de- pender da idade do paciente. Caso estejamos falando de um idoso (≥ 60 anos), o indicado é iniciar tratamento medicamento a partir de uma PAs ≥ 140mmHg. No entanto, nos idosos com ≥ 80 anos, podemos optar pelo uso de medica- mentos apenas quando a PAs for ≥ 24HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) 160mmHg. E se for um jovem (< 30 anos)? Bem... aí devemos iniciar o tra- tamento não medicamentoso e só partir para o uso de medicamentos se ele tiver um risco alto. Metas Pressóricas A partir da decisão terapêutica, nosso objetivo é atingir as metas pressóricas preconizadas para cada grupo. As- sim, a SBC define que em se tratando de indivíduos com HAS I e II com risco alto a PA deve ficar < 130x80mmHg. Já os pacientes com HAS III ou HAS I e II com risco baixo ou intermediário, o ideal é tentar manter a pressão < 140x90mmHg. SBC Meta pressórica HAS I E II + Risco Alto < 130 x 80 mmHg HAS I e II + Rico Baixo ou intermediário < 140 x 90 mmHg HAS III Por outro lado, o VIII Joint defende metas um pouco diferentes. Aqui, pa- cientes com mais de 60 anos devem buscar PA < 150x90mmHg, enquan- to aqueles com menos de 60 anos ou com mais de 18 e que tenham diabe- tes ou doença renal crônica devem ter uma PA < 140x90mmHg. SBC Meta pressórica > 60 anos < 150 x 90 mmHg < 60 anos < 140 x 90 mmHg > 18 anos + DM ou DRC No final das contas, todo pacien- te hipertenso e que esteja fora da meta deve ser avaliado mensalmen- te até que a PA se esteja nos valores desejados. 25HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) MAPA RESUMO IECA Tratamento Fisiopatologia Quadro clínico DiagnósticoConceito BCC BRA Tiazídicos B-Bloquador Outros MAPA MRPA Pressão de consultório Exames laboratoriais LOA Oligossintomática Níveis pressóricos Nefropatia hipertensiva ICC AVC Retinopatia hipertensiva IAM Disfunção sexual Pré-hipertensão Grau I Grau II Grau III PAS 121-139/PAD 81-89 PAS 140-159/PAD 90-99 PAS 160-179/PAD 100-109 PAS ≥ 180/PAD ≥ 110 3-5% secundária 95-97% essencial Síndrome da apneia/Hiponeia obstrutiva do sono Doença renal crônia Hipertensão renovascular Hiperaldosteronismo primário Feocromocitoma Outras Sedentarismo Pele negra Excesso de sal Excesso de álcool Fatores genéticos Sobrepeso/Obesidade Idade avançada Sexo feminino Elevação sustentada da PA DC X RVP Varia durante o dia e esforço Multifatorial ↑ durante exercício ↓ durante a noite HAS 26HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American College of Cardiology. 2017 Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults. J. Am. Coll. Cardiol. Setembro, 2017. BRANT, Luisa C. C.; et al. Variações e diferenciais da mortalidade por doenças cardiovascu- lares no Brasil e em seus estados, em 1990 e 2015: Estimativa do Estudo Carga Global de Doença. Rev. Bras. Epidemiologia. Maio, 2017. 20 Suppl 1: 116-128. CLARK, Michelle; et al. Farmacologia Ilustrada. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina. 25ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. HALL, John E,; et al. Tratado de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. JAMES, Paul A.; et al. 2014 Evidence-Based Guideline for the Management of High Blood Pressure in Adults: Report From the Panel Members Appointed to the Eighth Joint National Committee (JNC 8). JAMA, dez/2013. KUMAR, Vinay; et al. Robbins e Contran: Patologia, Bases Patológicas das Doenças. 8ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. MARTINS, Milton A.; et al. Clínica Médica. 2ª ed. Vol. 1. Barueri – SP: Manole, 2016. RANG, H.P.; DALE, M.M.; et al. 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