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Tatiane Lira – MED UFPE Distopia genital e incontinência urinária de esforço DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO · Etiologia, história clínica e tto. · Sustentação pélvico: · P/ entender as disfunções do assoalho pélvico é necessário entender as estruturas que o suportam. · Suporte pélvico dado por 2 estruturas principais e alterações de 1 ou das 2 leva ao prolapso de órgãos pélvicos. a) Fáscia endopélvica: · Tec. conjuntivo → forma uma rede se fixando aos arcos tendíneos (AT) que sustenta bexiga, útero e intestinos. · Pode sofrer lesões: ○ Se solta de um dos lados do arco tendíneo → prolapso p/ o lado solto. ○ Rasgo no meio → cistocele central (musculatura abaixo insuficiente p/ sustentar). · US → ligamento uterossacro: importante na sustentação → na histerectomia deve ser fixado novamente na vagina, p/ evitar seu prolapso. · UP → ligamento ureteropelvico: passa por de baixo da uretra e a sustenta (algumas cirurgias o reconstituem) → serve como anteparo contra forças verticais “que vem de cima” (tosse, espirro) → o esforço faz a uretra descer, ela é suportada pelo ligamento e se fecha, evitando o escape de urina. b) Músculos elevadores do ânus: repousam sobre a fáscia. 1. M. puborretal: circunda uretra, vagina e ânus; sua contração leva essas estruturas p/ frente → permite a continência durante esforços; contração da vagina durante o ato sexual. 2. M. pubococcígeo. 3. M. ileococcígeo. 1+2+3 → m. levantador do ânus: suporte da pelve 4. M. obturador interno (abaixo da fáscia). 5. M. isquiococcígeo. 6. M. piriforme. · Suspensão pélvica: · Músculos: ○ M. bulboesponjoso: circunda introito vaginal e se insere na sínfise púbica → auxílio do puborretal (interno) no fechamento da uretra. ○ M. esfíncter externo do ânus: auxilia o puborretal p/ contenção das fezes. ○ Corpo do períneo: estrutura onde há a fixação do bulboesponjoso, do esfíncter externo do ânus e do m. transversal superficial do períneo; área entre o óstio vaginal e o ânus; “centro tendíneo do períneo”; lesões levam a sua fragilidade. · Ligamentos: ○ Ligamento cardinal: espesso; sustenta o útero no meio evitando sua hipermobilidade. ○ Fáscias e músculos fazem sustentação; esses ligamentos fazem suspensão. · Uretra: · Musculatura intrínseca da uretra: no esforço → contração involuntária p/ evitar escape de urina (diferente da musculatura de sustentação que é + voluntária). · Musculatura lisa a envolve → se contrai p/ fechar a luz. · M. compressor da uretra → passa adiante da uretra e se insere lateralmente na pelve. · Músculo esfíncter uretro-vaginal. · Fatores de risco p/ disfunções do assoalho pélvico: · Etnia: ○ Caucasiana > negras → mulheres pretas tem fibras + fortes, maior quantidade de colágeno. ○ Não é tão relevante no BR (população miscigenada). · Idade: ○ Diminuição de estrógeno no pós menopausa → alteração do tec. conjuntivo (diminui em quantidade e qualidade). ○ Atrofia urogenital: coxim vascular da uretra auxilia fechamento da uretra quando cheio de sangue → diminuição do estrógeno leva a uma menor irrigação → diminuição do reforço vascular. + ○ Diminuição do suporte pélvico (musculatura frágil e fáscia fina). · Gestação: ○ Além de 20s → peso na pelve que pode levar dano a musculatura e nervos (como estiramento) → há recuperação no pós parto. · Trabalho de parto: ○ Parto vaginal (+ do que cesárea): passagem do bb leva a um estiramento vascular → dano que pode ser permanente → prolapso e incontinência → mas a cesárea não é indicada p/ evitar esse problema. ○ Pctes em tiveram cesárea, mas passaram de 4cm de dilatação: cabeça já dilatando a musculatura + baixa da pelve. ○ Parto instrumental (fórceps e vácuo-extrator). ○ Lacerações durante o TP. · Aumento crônico da pressão abdominal: ○ Exercícios extenuantes: s/ contração do períneo; trabalho c/ carga. ○ Tosse crônica: DPOC, asma, fumantes. ○ Constipação crônica: prolapso de parede posterior da vagina (relacionado ao reto) → impacto do bolo fecal. ○ Obesidade: aumento da gordura central (mesmo princípio da gravidez). · Alterações do tec. conjuntivo: ○ Doenças do tec. conjuntivo: Sd de Marfan, Sd de Ehlers-danlos. ○ Alterações familiares do colágeno tipo 2. ○ Pctes fumantes: diminui a circulação e enfraquece o tec. conjuntivo e musculatura. INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO (IUE) Definição e fisiopatologia: · Escape da urina em pingos. · Aumento da pressão (esforço) + fragilidade de estruturas → IUE. · Ex.: tosse → não tem contração de reflexo → escape → pcte contrai conscientemente. Pcte que não sabem, s/ consciência pélvica → cruza as pernas, contrai a coxa ou faz movimento inverso, aumentando esforço abdominal → contração paradoxal → tto fisioterapia p/ consciência pélvica (isolado ou c/ associação com cirurgia). · 2 alterações principais: 1. Deficiência esfincteriana intrínseca: ○ Alteração nas estruturas da musculatura intrínseca → uretra s/ força p/ fechar → cirurgia. ○ Pcte pode ter assoalho pélvico normal e consciência pélvica, mas se tem alteração na musculatura intrínseca da uretra vai ter incontinência e só se resolve por cirurgia. 2. Hipermobilidade uretral: ○ Alteração da fáscia endopélvica ou da musculatura → uretra fecha, mas não tem anteparo (ligamento uretropélvico). ○ Fáscia endopélvica íntegra e alteração na musculatura (diferenciação pelo EF) → pode melhorar por fisioterapia → se não melhorar, pode ser comprometimento do ligamento UP (não tem como avaliar no EF) → solução cirúrgica. ○ Laceração da fáscia endopélvica → sutura de reconstrução ou tela (se muito frágil). · Pcte pode ter as 2 entidades → fisiologia + cirurgia c/ sling. · Exames complementares: · Estudo urodinâmico: ○ Sondas na vagina/reto (mede esforços abdominais) e bexiga. ○ Observa o comportamento da bexiga durante enchimento. ○ Gráfico: contrações da bexiga + esforços de tosse + valsalva. ○ Sabe qual a pressão em que há perda de urina. ○ Gravidade da incontinência (na de urgência se observa a quantidade de urina que escapa p/ relaxamento da bexiga). INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE URGÊNCIA · Não consegue chegar até o banheiro, se molha toda → força pela contração da bexiga → só para quando elimina quantidade suficiente p/ musculatura relaxar de novo (depende do grau de perda e de tolerância). · Controle central p/ urinar: · Estrutura do córtex → medula → nervo pudendo (somático), atua na contração intrínseca da uretra; nervos somáticos sacrais, que atuam no assoalho pélvico; inervação simpática e parassimpática. · Simpático: contração da uretra (alfa 1) + relaxamento do detrusor da bexiga (Beta3). · Parassimpático: relaxamento da uretra + contração do detrusor bexiga (M3). · Bexiga vai enchendo e há estímulo p/ simpático permitir relaxamento p/ continuar armazenando; quando mulher chega no banheiro e está pronta p/ urinar-> ação cortical ativa o parassimpático. · Alteração nessas vias pode levar a impedimento do relaxamento da bexiga-> não armazena urina. · Saída da urina: ação parassimpática + relaxamento pela inervação somática. · Controle da urina: contração somática + ação do simpático. · Toxinas da E. coli → inibição de alfa-1 → incontinência urinária → deu vontade, mas só perde pingos (pcte jovem e c/ infecção urinária recente 7-10d). · Alteração nervosa leva a incontinência: neuropatia diabética; doenças medulares (neuropatia por HTLV); AVC e outros problemas neurológicos; idiopática (+ comum). PROLAPSO DE ÓRGÃOS PÉLVICOS OU DISTOPIA GENITAL · Epidemiologia do prolapso de órgãos pélvicos (POP): · 3/10 mulheres vão sofrer durante a vida → 11% vão precisar de tto cirúrgico. · + comum em mulheres + velhas. · Entre o início dos sintomas e a procura do tto médico pode levar de 5-7a → vergonha da alteração estética da vulva. · Definição: · Herniação (descida) de estruturas pélvicas pela vagina. · Desarticulação do especulo p/ avaliar as paredes da vagina isoladamente → pede p/ pcte fazer esforço e observa o prolapso. · Tipos: · Prolapso vaginal anterior ou cistocele: ○ Mucosa vaginal + bexiga + uretra → pcte c/ incontinência por hipermobilidade. · Prolapso vaginal posterior ou retocele:○ Pcte c/ retocele → impactação do bolo fecal → constipação intestinal → dificuldade de esvaziar intestino → empurrar de volta o reto p/ fezes saíram, digitação (perguntar sobre esse hábito, geralmente não referem por vergonha). ○ O acúmulo de fezes piora o prolapso. · Prolapso apical (da cúpula vaginal): ○ Apresenta o colo do útero mediante esforço (casos + graves acompanham cistocele e retocele). ○ Caso + simples → só prolapso do útero: diferenciar pelo EF prolapso de hipertrofia de útero (multiplicação mitótica do colo → alongamento). ○ Prolapso genital total: bexiga + útero + reto → pcte s/ incontinência (uretra dobrada) → incontinência urinária oculta; quando corrige na cirurgia → pcte c/ incontinência → uretra fica reta. ○ Prolapso muito grande não consegue ser reduzido: colo p/ fora por anos → lesões → pomada c/ estrógenos e cicatrizante antes da cirurgia. · Sintomas dos POP: · Urinários: ○ + comuns. ○ Perda de urina (hipermobilidade). ○ Prolapso muito grande → dobra uretra → dificuldade p/ urinar. ○ Maior exposição → maior chance de infecção urinária. · Intestinais: ○ Constipação pode ser causa e consequência. ○ Incontinência de gases e perdas fecais por esforço repetitivo → fragilização do esfíncter. · Sexuais: ○ Estética vaginal alterada, vergonha, problemas mecânicos, dor e desconforto, incontenção urinária durante relação. · Outros: ○ Sensação de incômodo e peso na vagina. ○ Dor em baixo ventre. ○ Dor lombar. · Classificação de POP-Q (Pelvic Organ Prolapse Quantification System validado pela International Continence Society): · Grau do prolapso por quantificação. · Difícil de uso na prática, + utilizado em estudos → padronização. · Avaliação de 9 pontos: ○ Linha do meio: medidas s/ esforços (s/ sinais) → usa abaixador de língua marcado em cm. gh: hiato genital → medida da uretra até fúrcula vaginal. pb: corpo perineal → entre vagina e ânus. tvl: comprimento vaginal total → coloca medidor dentro da vagina até encontrar o fundo de saco lateral esquerdo. ○ Outras linhas: ▪ Faz manobra de valsalva (esforço). ▪ C/ sinal + ou -. ▪ Carúncula himenal é o ponto 0: p/ dentro -; p/ fora +. A ▪ Meço 3cm da uretra p/ vagina e marco → vejo c/ esforço a descida da parede vaginal. ▪ Aa: parede vaginal anterior / Ap: parede vaginal posterior. ▪ Mulher s/ prolapso → Aa = -3. Ex.: Aa = -1 → era 3cm no repouso e no esforço, o ponto desceu e ficou a 1cm da carúncula himenal. ▪ Por que 3cm? é onde fica a junção uretro vesical (JUV) → local de maior mobilidade → ponto de + causas de incontinência. ▪ Se desce fala + p/ hipermobilidade uretral. ▪ Uso de 3cm de distância no Ap → por convenção, já que usa no Aa; Ap tem relação c/ prolapso do reto proximal. B ▪ Ponto de maior prolapso da vagina (o + próximo da carúncula ou o que + sai → se chega a se exteriorizar). ▪ Ba: parede vaginal anterior / Bp: parede vaginal posterior. C ▪ Ponto marcado no colo anterior: c/ esforço, medir a distância da carúncula himenal (ver se colo desce). ▪ Cérvice na pcte c/ colo e cúpula na pcte s/ colo. ▪ Eu sei o comprimento vaginal total e o ponto C → tvl - C = tamanho do colo (pcte s/ prolapso). D ▪ Fórnice posterior. ▪ Pcte c/ útero: ponto de fórnice posterior (medir no esforço) → observar fixação feita pelo ligamento US). ▪ Pcte s/ útero: só cúpula vaginal → ponto D não existe (marca um traço), diferente que 0 → mesmo nível do hímen. · Estadiamento: ○ 0: s/ prolapso. ○ I: desce um pouquinho, mas não chega perto da carúncula; meio da vagina. ○ II: ao redor da rima vulvar; entre +1 e -1. OBS.: comprimento vaginal total - 2 cm = x. ○ III: se prolapso < x. ○ IV: se prolapso > x → eversão total da vagina. CASO CLÍNICO · QPD: perdas urinárias aos esforços de tosse e “bola na vagina há 3 anos”. · T.L., 78 anos, G4P4 (4 partos vaginais, 1 fórceps com laceração anal), menopausa aos 50 anos, tabagista há 52 anos, nega cirurgias ginecológicas, sexualmente ativa, IMC=28, mãe teve prolapso uterino. · O que perguntar? · Usa absorvente para conter urina? sim. · C/ que frequência perde urina? 10x/d. · Quando sente vontade de urinar, tem que correr até o banheiro? sim. · Consegue segurar a urina até chegar ao banheiro? nem sempre. · Acorda à noite para urinar? 3x/noite. · Já fez xixi na cama? não. · Perde urina aos esforços? Quais? sim, tosse e espirro. · Perde urina durante as relações sexuais? sim. · Ao urinar, acha que esvaziou completamente a bexiga? sim. · Tem DM? não. · Tem ITU? não. · Tem constipação intestinal? não. · Perde fezes com facilidade? não. · Precisa reduzir manualmente o prolapso? sim, p/ urinar. · Seus sintomas atrapalham sua vida sexual? sim, sente vagina folgada e a “bola”, tem anorgasmia e dispareunia. · Exame ginecológico (direcionado): · Observar a marcha (alguma lesão neurológica associada...). · Inspeção vulvar → atrofia de clítoris; · Exame especular (univalvar): ○ Prolapso anterior estádio III (POP-Q). ○ Rotura perineal (fragilidade nos músculos do corpo perineal). ○ Atrofia genital moderada. ○ Perdas urinárias aos esforços de tosse e valsalva. · Hipóteses diagnósticas: · Prolapso genital de parede anterior (POP-Q III Ba). · Urgência e, também, incontinência de urgência. · Nictúria (acordar mais que duas vezes a noite para urinar). · Incontinência de esforço. · Atrofia genital. · Disfunção sexual. · Tto: · POP: ○ Reforço da musculatura c/ fisioterapia incialmente: ▪ Na prática é bem difícil ter o acesso, mas seria o ideal ter essa fisioterapia antes da cirurgia. ▪ Ajuda bastante no sentido de melhorar a força muscular, perda urinária, ativar nervos p/ melhor a incontinência de urgência. ▪ P/ o prolapso quase não ajuda mas atua como um tto coadjuvante, principalmente das incontinências. ○ Perda de peso antes da cirurgia. ○ Tratar outros pontos que estão influenciando tanto na gênese quanto na piora desses sintomas. ○ Pctes que não querem se operar ou têm comorbidades que impeçam a cirurgia → uso de pessários: ▪ Estruturas de silicone que se usa dentro da vagina. ▪ A higienização deve ser realizada toda semana. ▪ Quando for higienizar passar +/- 24h s/ o pessário p/ diminuir o risco de necrose/ferimentos. ▪ O pessário é medido de acordo c/ as características de cada pcte, pois precisa ficar bem firme. ▪ No brasil não se usa muito, mas é bem eficaz. ○ Pctes que podem e querem se operar: ▪ Utilização de telas maleáveis e c/ poros + diversas técnicas cirúrgicas: ☆ A tela é a mucosa e, c/ o tempo, se incorpora ao tecido → se forma uma camada fibrosa, faz o papel da fáscia endopélvica. ☆ Se usa p/ parede vaginal anterior, p/ parede vaginal posterior está proscrito pelo risco de formação de fistula p/ a área retal. ▪ Outra forma seria suturar a área danificada s/ usar tela, mas é possível que se rompa novamente. ○ Prolapso de parede posterior: abrir a mucosa e suturar a fáscia retovaginal. ○ Cúpula vaginal: utilizar uma tela e fixar o fundo da vagina no osso sacro (sacropexia infracoccígea) → cirugia aberta ou laparoscópica → + comum por via vaginal: abrir o fundo da vagina e fixar no ligamento sacroespinhoso. · Atrofia genital e disfunção sexual: ○ Estrógenos tópicos: ▪ Estriol. ▪ 10d de ataque e manutenção 2-3x / semana. ○ Promestrieno: ▪ Pctes c/ contraindicação ao estrógeno: esse medicamento age + especificamente na vagina. ▪ 15d seguidos e manutenção 3x / semana p/ sempre. ○ Lubrificantes a base de água durante as relações sexuais. ○ Tto c/ laser: promove espessamento da mucosa. · IUE: ○ Sling se a fisioterapia ou a cirurgia do prolapso não resolver. · Hiperatividade detrusora (urgência, nictúria e incontinência de urgência): ○ Droga anticolinérgica: ▪ + comum é a Oxibutinina. ▪ Causa ressecamento vaginal e interfere em funções cognitivas, aumentando o risco de quedas. ▪ Age + especificamente nos receptores M3, aderência é um pouco melhor, mas ainda existem alguns efeitos adversos. ○ Micção programada a cada 3h: ▪ Não deixar a urgência chegar. ▪ Esse tempo vai depender do padrão de perda da pcte. ○ Toxina botulínica (casos + graves): bloquear a musculatura.
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