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2020 POLITICA PUBLICA DE SOCIOEDUCAÇÃO

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Prévia do material em texto

Política Pública de
socioeducaçãosocioeducação
conquistas e retrocessos
Organizadores: 
Alexandre Almeida Rocha
Cleide Lavoratti
Silmara Carneiro e Silva
série referência
Conselho Editorial
Dra. Anelize Manuela Bahniuk Rumbelsperger (UFPR)
Dr. Antonio José dos Santos (IST/SOCIESC)
Esp. Carlos Mendes Fontes Neto (UEPG)
Dr. Cezar Augusto Carneiro Benevides (UFMS)
Dr. Edson Armando Silva (UEPG)
Dr. Erivan Cassiano Karvat (UEPG)
Dra. Jussara Ayres Bourguignon (UEPG)
Dra. Lucia Helena Barros do Valle (UEPG)
Dra. Luísa Cristina dos Santos Fontes (UEPG)
Dr. Marcelo Chemin (UFPR)
Dr. Marcelo Engel Bronosky (UEPG)
Dra. Marcia Regina Carletto (UTFPR)
Dra. Maria Antonia de Souza (UTP/UEPG)
Dra. Marilisa do Rocio Oliveira (UEPG)
Ms. Rodrigo Labiak (UNICAMP)
EDITORA ESTÚDIO TEXTO
Editora-chefe 
Ana Caroline Machado
Diretora
Josiane Blonski
Política Pública de
socioeducaçãosocioeducação
conquistas e retrocessos
Organizadores: 
Alexandre Almeida Rocha
Cleide Lavoratti
Silmara Carneiro e Silva
série referência
Depósito Legal na Biblioteca Nacional.
O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade dos autores.
© 2020 Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti, Silmara Carneiro e Silva e autores
Coordenação editorial
Editora Estúdio Texto
Capa, projeto gráfico e diagramação
Ana Caroline Machado
Supervisão
Josiane Blonski
Assistente administrativo
Érika Blonski
Ficha Catalográfica elaborada por Maria Luzia Fernandes Bertholino dos Santos – CRB9/986
P769 Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos [livro 
 eletrônico]/ Alexandre Almeida Rocha; Cleide Lavoratti; Silmara 
 Carneiro e Silva (Org.) Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2021. 
 (Série Referência)
 213p., il.
 
 ISBN: 978-65-87261-10-2
 1. Medida socioeducativa. 2. Adolescente. 3. ECA. 4. Sistema 
 socioeducativo. 5. Atendimento socioeducativo. I. Rocha, Alexandre 
 Almeida (Org.). II. Lavoratti, Cleide (Org.). III. Silva, Silmara Carneiro 
 e (Org.). IV. T.
 
 
 CDD: 364.36
Rua XV de Setembro, 931 - Uvaranas - Ponta Grossa – Paraná – 84020-050
Tel. +55 (42) 3027-3021 | +55 (42) 98416-9795 
www.editoraestudiotexto.com.br
®
A presente obra marca um tempo de avanços e retrocessos no 
âmbito da política pública de socioeducação no Brasil. Fortalecidos 
pelos avanços que a atenção à criança e ao adolescente obteve no 
país desde o final do século XX e atentos ao conjunto de retrocessos 
que temos presenciado no campo dos direitos e das políticas públi-
cas, não poderíamos deixar de demarcar nossa posição ético-polí-
tica e teórica em favor da manutenção de uma direção progressiva 
e radicalmente comprometida com o desenvolvimento humano de 
crianças e adolescentes e esta posição está delineada na respectiva 
obra que organizamos e ora apresentamos. 
Considerados em condição peculiar de desenvolvimento as 
crianças e adolescentes brasileiros são sujeitos de direitos à luz da 
Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adoles-
cente - ECA. Portanto, gozam de toda a proteção que lhe é devida 
pela família, pela sociedade e pelo Estado, tal como preconiza a le-
gislação nacional. Encontram-se amparados ainda pela Convenção 
Universal dos Direitos da Criança e pelos demais tratados e con-
venções recepcionados pelo Direito brasileiro. No que se refere 
especialmente ao público de adolescentes em conflito com a lei a 
legislação nacional avançou para além do ECA. Doze anos depois, 
o país sancionou a lei 12.594/2012 a qual instituiu o Sistema Nacio-
nal de Atendimento Socioeducativo - SINASE. Podemos dizer que 
esta lei representou um marco importante no conjunto de avanços 
da referida área, somado a outros elementos de natureza programá-
tica que apontaram para uma direção progressiva do ponto de vista 
político-administrativo para a implementação da socioeducação en-
quanto política pública no Brasil. Esses foram avanços importantes, 
que apesar de serem de natureza jurídica, contornam os dispositivos 
legais que configuram os parâmetros de atuação do Estado e da so-
APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO
ciedade brasileira mediante as demandas de atendimento do público 
infanto-juvenil e, portanto, são balizadores das ações. 
Por outro lado, é também sabido que há uma distância entre o 
universo jurídico e a realidade material e concreta, que por vezes 
mais parece um abismo. Sem desconsiderar os avanços jurídico-po-
líticos alcançados na área da infância e juventude no Brasil, essa 
distância se intensifica, quando tratamos do atendimento prestado 
pelo Estado aos adolescentes em conflito com a lei. Conjuntamente 
aos esforços progressivos obtidos na área, setores contrários à demo-
cratização dos direitos à infância e à adolescência que interpretam a 
realidade social brasileira, pautados na criminalização da pobreza 
e no entendimento de que as classes pobres brasileiras são ‘classes 
perigosas’ têm somado esforços para a regressão do campo dos direi-
tos, para o recrudescimento da legislação de proteção à infância e à 
adolescente no Brasil. Na área da socioeducação esse movimento se 
manifesta pelo conjunto de projetos de lei que tramitam no Congres-
so Nacional que têm no bojo de suas pautas a redução maioridade 
penal, o aumento do tempo de internação, entre outras mudanças 
regressivas no ECA e no SINASE, o que impõe um profundo retro-
cesso no amparo aos adolescentes vulneráveis no Brasil, viola os 
direitos constitucionais, ferindo cabalmente o princípio da vedação 
do retrocesso. Tem-se conhecimento de que no país a vulnerabilida-
de social gera vulnerabilidade penal, pois a questão social sempre 
foi e ainda é tratada em muitos casos, como ‘caso de polícia’. Apre-
sentados esses avanços e retrocessos, os capítulos que inauguram o 
presente livro, que compõem a sua primeira unidade, caracterizam 
jurídico e politicamente seu escopo. 
O primeiro deles, de autoria de seus organizadores, trata das me-
didas socioeducativas no Brasil, traçando inicialmente um apanhado 
histórico do atendimento voltado ao adolescente em conflito com 
a lei e, na sequência, de seus dispositivos jurídicos e contradições. 
Imergindo teoricamente sobre a temática, o segundo capítulo apre-
senta os contornos sociojurídicos do controle penal juvenil no Brasil 
à luz dos conceitos gramscianos de Estado Ampliado e de Subal-
ternidade. O referido capítulo é de Silmara Carneiro e Silva; Pedro 
Henrique Galeto; Emanuelle Minella Rodrigues; Heloisa Ribeiro 
Garcia e de Kimberly Juliana dos Santos. Ainda de cunho teórico, 
o capítulo 3 aborda o sistema socioeducativo à luz da contribuição 
de Bourdieu. O referido capítulo é de autoria de Eugênia Aparecida 
Cesconeto e de Vera Maria Ribeiro Nogueira. O capítulo seguinte, 
de autoria de Paulo Fernando Pinheiro e Elisa Stroberg Schultz que 
aborda a Doutrina da Proteção Integral e o adolescente em conflito 
com a lei, apresentando a equivocada exclusão da rede de proteção 
deste campo de trabalho. Com esta discussão encerramos o bloco 
de capítulos que se voltam para a questão de cunho teórico e sobre 
o ordenamento jurídico-político em torno dos avanços e retrocessos 
que contornam a socioeducação no país.
O último bloco de capítulos que consolida o livro versa sobre a 
materialização do ECA, os desafios da inclusão social dos adolescen-
tes autores de atos infracionais, apresenta análises de experiências de 
atendimento a nível estadual e municipal e por fim retrata os desafios 
do contexto da pandemia para o sistema socioeducativo. O primeiro 
capítulo desta segunda unidade, tratando-se do capítulo 5, aborda os 
desafios à inclusão social de adolescentes autores de atos infracio-
nais no Brasil, de autoria de Ivana Aparecida Weissbach Moreira. Na 
sequência o capítulo 6 retrata a materialização do ECA no sistema 
socioeducativo no Ceará, indicando desafios e contradições, de auto-
riade Julianne Stéfane Duarte Dias, Ingrid Lorena da Silva Leite. Na 
sequência, de autoria de Alana Águida Berti e de Ana Luiza Ruchell 
Nunes, o capítulo 7 retrata os adolescentes infratores do regime de 
semiliberdade da Casa Sebastião Osório Martins da Cidade de Ponta 
Grossa (PR), no qual as autoras retratam a sua interrelação com o 
mundo das artes visuais. Para finalizar a segunda unidade, sendo o 
último capítulo da obra, de autoria de Linccon Fricks Hernandes e de 
Carla de Souza Matos, o capítulo trata do atendimento socioeducati-
vo no contexto da pandemia, inflexionando a discussão para pensar 
tempos de tecer velhos e novos desafios.
Imbuídos, coletivamente, na direção da tessitura de velhos e 
novos desafios, conforme aludem Linccon Fricks Hernandes e Car-
la de Souza Matos e fortalecidos pela posição crítica e propositiva 
dos diferentes autores que compõem a presente obra, desejamos que 
ela seja um instrumento de luta que, em articulação ao conjunto de 
outros instrumentos, possa colaborar com a direção progressiva e 
radicalmente democrática da política pública de socioeducação no 
Brasil.
 Desejamos uma boa leitura a todos(as)!
Alexandre Almeida Rocha
Cleide Lavoratti
Silmara Carneiro e Silva
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: HISTÓRICO 
DO ATENDIMENTO, DISPOSITIVOS JURÍDICOS E 
CONTRADIÇÕES NO BRASIL ...................................................11
 Alexandre Almeida Rocha. Cleide Lavoratti. Silmara Carneiro e Silva
CONTORNOS SOCIOJURÍDICOS DO CONTROLE 
PENAL JUVENIL NO BRASIL À LUZ DOS CONCEITOS 
GRAMSCIANOS DE ESTADO AMPLIADO E DE 
SUBALTERNIDADE ....................................................................33
 Silmara Carneiro e Silva. Pedro Henrique Galeto. Emanuelle Minella 
Rodrigues. Heloysa Ribeiro Garcia. Kimberly Juliana dos Santos
 
BOURDIEU E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O 
ENTENDIMENTO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO ...........59
 Eugênia Aparecida Cesconeto. Vera Maria R. Nogueira
DESAFIOS À INCLUSÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES 
AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS NO BRASIL .................85
 Ivana Aparecida Weissbach Moreira
A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E 
ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: A 
EQUIVOCADA EXCLUSÃO DA REDE DE PROTEÇÃO ...... 111
 Paulo Fernando Pinheiro. Elisa Stroberg Schultz
SUMÁRIOSUMÁRIO
A MATERIALIZAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA 
E DO ADOLESCENTE NA POLÍTICA DO SISTEMA 
SOCIOEDUCATIVO DO CEARÁ: DESAFIOS E 
CONTRADIÇÕES .......................................................................135
 Julianne Stéfane Duarte Dias. Ingrid Lorena da Silva Leite 
ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA 
SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE DA CASA 
SEBASTIÃO OSÓRIO MARTINS DA CIDADE DE PONTA 
GROSSA (PR): INTERRELAÇÃO COM O MUNDO DAS 
ARTES VISUAIS ........................................................................157
 Alana Águida Berti. Ana Luiza Ruchell Nunes
ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO NO CONTEXTO 
DA PANDEMIA DE COVID-19: TEMPOS DE TECER 
VELHOS E NOVOS DESAFIOS ...............................................183
 Linccon Fricks Hernandes. Carla de Souza Matos
SOBRE OS AUTORES ...............................................................207
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 11
 Alexandre Almeida Rocha. Cleide Lavoratti. Silmara Carneiro e Silva
INTRODUÇÃO
O presente texto versa sobre as medidas socioeducativas previs-
tas no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA como também 
no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE, le-
gislação específica que trata da política de socioeducação no Brasil. 
Aborda, também, alguns aspectos históricos que configuram a forma 
de atuação do Estado diante do público de adolescentes que come-
tem atos infracionais.
Estamos cientes de que, apesar dos avanços trazidos pela Cons-
tituição Federal de 1988 para o população infanto-juvenil, detalha-
dos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, não são os atos nor-
mativos que irão mudar a realidade da criança e do adolescente no 
Brasil, mas é a partir deles que as ações devem ser realizadas, não 
se esquecendo que a manutenção do que já temos, assim como a sua 
ampliação, dependerá não de teorias, doutrinas, ou de discursos, mas 
da atuação política de cada cidadão e, em especial, de cada um dos 
envolvidos diretamente com as questões atinentes aos problemas das 
crianças e dos adolescentes.
A partir desse pressuposto cabe questionarmos “30 anos de 
Constituição para quem?”1, esta é a pergunta estampada na capa de 
1ANJOS, Alexsandro dos; ALTHAUS, Bruno Margraf; COSTA, Igor Sporch da. 
30 anos de Constituição para quem? Reflexos do I Congresso de Direito Pú-
blico UEPG. Porto Alegre: Editora Fi, 2019.
HISTÓRICO DO ATENDIMENTO, DISPOSITIVOS JURÍDICOS HISTÓRICO DO ATENDIMENTO, DISPOSITIVOS JURÍDICOS 
E CONTRADIÇÕES NO BRASILE CONTRADIÇÕES NO BRASIL
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: 
12 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
uma coletânea de artigos que realizaram um balanço da Constituição 
Federal de 1988. Atualizamos, com a licença devida, para “32 anos 
de Constituição para quem?” e complementamos, “30 anos de Esta-
tuto da Criança e do Adolescente para quem?”. A pergunta suscita 
muitas discussões, de caráter teórico e prático, contudo não esconde 
a realidade que nos é subjacente: crianças e adolescentes à margem 
do processo civilizatório e vigiados pelo “olho do poder”.2
As garantias e os direitos não se concretizam sozinhos.
A frase, embora retrate uma obviedade, tem plena aplicabilidade 
quando se analisam os principais atos normativos que se referem à 
proteção das crianças e dos adolescentes. Primeiro aspecto é cons-
tatar que existem diversos atos normativos, de caráter internacio-
nal, constitucional e infraconstitucional -, que estruturam um quadro 
normativo, tanto no que diz respeito ao reconhecimento de direitos, 
quanto ao estabelecimento de políticas públicas. Não temos proble-
ma com isto.
O problema surge exatamente quando buscamos as respostas 
que possam justificar a não concretização do que está plasmado nor-
mativa e abstratamente nestes textos jurídicos. Inevitavelmente, en-
contra-se como ator e responsável principal pela não concretização 
destes direitos e garantias o Estado. Há um dever de proteção do Es-
tado que está sendo negligenciado, infelizmente, desde o surgimento 
da Constituição Federal e do ECA.
A iniciativa de escrever esse artigo sobre as medidas socioedu-
cativas, soma-se a tantas outras ações intentadas por aqueles que 
compreenderam e internalizaram os valores e princípios plasmados 
normativamente e têm, de forma incansável, empreendidos esforços 
para a concretização dos direitos das crianças e dos adolescentes, 
não obstante a postura, muitas vezes, de descaso e de não compro-
misso do Estado que implica no descumprimento do seu dever de 
proteção.
Iniciaremos as reflexões desse trabalho, identificando a forma 
como o Estado brasileiro interviu historicamente na área da infân-
2 Alusão ao título da obra de SALIBA, Maurício Gonçalves. O olho do poder: 
análise crítica da proposta educativa do Estatuto da Criança e do Adolescen-
te. São Paulo: Editora UNESP, 2007.
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 13
cia e da juventude, para podermos avaliar os avanços conquistados 
legalmente e os desafios que ainda se colocam para a efetivação dos 
direitos da população infanto-juvenil, especialmente para as políti-
cas de socioeducação. 
BREVE HISTÓRICO DO ATENDIMENTO AOS 
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A 
LEI NO BRASIL
Embora regido por legislação específica, o atendimento às crian-
ças e adolescentes no Brasil carrega a herança das práticas repres-
soras e de controle social que historicamente marcaram as políticas 
voltadas à população empobrecida no país. 
As práticas de proteção social mais sistemáticas na fase colonial/
imperial brasileira, a par das estratégias de sobrevivência das 
camadas populares, foram empreendidas pelos padres jesuítas e 
pelos demaissetores da Igreja. A Companhia de Jesus chegara 
a esta nova terra em 1549, ainda pretendendo, segundo estudos, 
definir o melhor encaminhamento para suas ações. [...] quando 
os jesuítas se definiram sua prioridade pela educação das crian-
ças, principalmente nativas e mestiças, filhos dos colonizadores 
portugueses e órfãos portugueses e brasileiros, com exclusão das 
crianças negras, introduziram as punições corporais como forma 
educativa. (BARROS, 2005, p. 104).
A intervenção inicial do Estado na vida das famílias brasilei-
ras, e especialmente de crianças e adolescentes, pode ser entendida 
como uma estratégia para o avanço do capitalismo no país que, além 
de redimensionar constantemente o papel do Estado para atender os 
interesses das elites econômicas, também teve por objetivo controlar 
os inúmeros aspectos da vida familiar, como garantia à preservação 
da ordem vigente e da reprodução social da população.
O Estado brasileiro formulou as primeiras leis e programas des-
tinados às crianças e adolescentes com um alto grau de autoritarismo 
e repressão. “Não é a toa que o que mais específica que se referia à 
infância e adolescência no final do século XIX, figurava em forma de 
14 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
leis penais e de regulação da força de trabalho.” (PEREIRA JÚNIOR 
et al, 1991, p. 17).
No Código Criminal de 1830 e no Código Penal de 1890 deman-
dava-se a aplicação das mesmas penas dos adultos infratores a me-
nores de idade, com o objetivo de conter a “vadiagem” e corrigir a 
“delinquência” apresentadas nesse período como decorrentes da não 
absorção do total de mão de obra livre. (RIZZINI, 1997). Estas leis 
deixavam claro que o alvo de sua intervenção não eram “crianças”, 
mas “menores”, provenientes de uma classe cujo nível sócio-econô-
mico era baixo e, estando em situação irregular, tornavam-se uma 
“ameaça para a sociedade”. 
“Tais representações não por acaso estavam associadas a deter-
minados extratos sociais, sendo a periculosidade atrelada à infância 
das classes populares.” (RIZZINI, 1997, p. 34).
A lei penal aparece então como um instrumento de classe, pro-
duzido por uma determinada classe social para aplicação às classes 
inferiores, e a justiça penal como mecanismo de dominação, carac-
terizada pela gestão diferenciada das ilegalidades cometidas pelas 
elites de poder econômico e político (que são imunizadas da crimi-
nalidade) e pelas classes subalternas (que têm suas práticas ilegais 
fortemente criminalizadas, reprimidas e punidas). 
A função do sistema penal seria a de moralizar a classe operária, 
fazendo com que esta aprenda a respeitar as regras da propriedade 
privada, tenha um comportamento de docilidade no trabalho, entre 
outros comportamentos que visam garantir a ordem na sociedade.
Em 1891 regularizam-se as relações trabalhistas das crianças e 
dos adolescentes absorvidas pelas fábricas brasileiras, evitando-se 
assim que se tornassem “delinquentes”, ao mesmo tempo em que 
exploram sua mão de obra. “Na década de 1890, os menores repre-
sentavam 15% do total de mão de obra empregada sendo no setor 
têxtil cerca de 25% do total de mão de obra.” (PEREIRA JÚNIOR 
et al, 1991 p. 112).
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 15
A diferenciação entre Criança e Menor3 construída historicamen-
te cria estereótipos que mascaram as desigualdades sociais e lançam 
bases para ações assistencialistas e de caráter repressivo que marcam 
o trajeto das políticas destinadas a esta área, desde sua origem. 
Surge em 1927 o Primeiro Código de Menores, separando me-
didas de atendimento de crianças e adultos infratores com vistas à 
“ressocialização” das primeiras à sociedade. Este código relaciona 
a figura do Juiz de Menores ao Estado, ao qual caberia a “tutela e 
assistência” dos menores “vadios” e do “trabalhador”.
Vistos numa escala crescente de periculosidade, do abandono à 
delinquência, os menores deveriam ser alvos de uma ação mais 
incisiva do Estado, caracterizada pela intervenção mesmo direta 
e até implantação de ações de isolamento em instituições totais, 
intermediadas pelo Juizado de Menores. (PEREIRA JÚNIOR et 
al, 1991, p. 18).
Em 1940, o novo Código Penal amplia o limite de irresponsa-
bilidade penal para 18 anos. Ainda na década de 40 foram criados o 
Departamento Nacional da Criança (DNC), subordinado ao Ministé-
rio da Educação, a LBA, Legião Brasileira de Assistência e o SAM - 
Serviço de Assistência aos Menores, órgão do Ministério da Justiça.
A criação de tantos órgãos voltados para o problema específico 
da infância e da juventude pode parecer um avanço para esta área, 
no entanto, as entidades desenvolviam um trabalho isolado entre si, 
seguindo a mesma lógica do sistema penitenciário adulto.
A preocupação com a preservação da ordem social aparen-
temente ameaçada e o interesse de assegurar a modernização 
capitalista brasileira determinavam os critérios de eleição do es-
quema de proteção da criança, marcada pelo restabelecimento 
da autoridade e a confiança nas instituições de atendimento à 
criança que eram importadas dos ‘Estados Unidos e da Europa’. 
(PEREIRA JÚNIOR et al, 1991, p. 143).
3 Para aprofundar a discussão sobre os estereótipos criados em torno das categorias 
“criança” e “menor” ver: PEREIRA JUNIOR, A. et al. Os impasses da cidada-
nia: infância e adolescência no Brasil. Rio de Janeiro: Ibase, 1991; e RIZZINI, 
I. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para a infância no 
Brasil. Rio de Janeiro: Petrobrás, 1997.
16 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
A partir da década de 60, o SAM, sendo alvo de constantes de-
núncias e inquéritos, é denunciado por suas instalações inadequadas, 
despreparo dos técnicos e dirigentes para o trabalho com as crianças 
e adolescentes e é substituído pela Fundação Nacional do Bem Estar 
do Menor - FUNABEM, que partindo de uma nova visão, busca a 
superação das práticas repressivas, concebendo o “menor” como um 
problema decorrente da pobreza e “desestruturação” de suas famí-
lias devendo ser objeto de prática assistencialista e em último caso 
a internação seria aplicada como medida de assistência, visando a 
“ressocialização”.
“A visão do menor como ameaça social cede lugar à da criança 
carente e abandonada. As práticas assistencialistas passam a ter prio-
ridade maior que as práticas punitivas”. (PEREIRA JÚNIOR et al, 
1991, p. 20).
Em 1979 é criado o Segundo Código de Menores, que delimita 
sua ação na assistência, proteção e vigilância a menores de 18 anos, 
que se encontrem em “situação irregular”.
A Doutrina da Situação Irregular, ao firmar suas ações, se 
concretiza numa intervenção estatal não só ao “menor” delin-
quente, mas também ao “menor” pobre em situação de carência 
social. Mas, esta intervenção estatal, sendo de cunho de defesa 
social, para controle da desordem, pouco atendia aos interesses 
das necessidades sociais dos “menores”. (SOUZA, 1984, p. 27).
(grifos nossos).
O paradigma de “situação irregular” é mais uma forma de cris-
talização de estereótipos da pobreza, que visa justificar as medidas 
autoritárias e repressivas delegadas a esta parcela da população, que 
aparece despojada de seus atributos e características infantis, para se 
tornar caso de polícia e ressocialização.
A lei 6.697 de 1979 sintetiza a dicotomia pão e palmatória, e es-
tabelece legalmente a critério que define a pessoa de até 18 anos 
ou como criança e adolescente, ou ainda como “menores”. Pela 
nova lei o menor é definido em situação irregular quando priva-
do de condições essenciais e sua subsistência, saúde e instrução 
obrigatória. (PEREIRA JÚNIOR, 1991, p. 21).
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 17
Ao citar tais privações, a lei omite a figura do Estado e do modo 
de produção que as criaram, atribuindo aos pais e/ou responsáveis a 
“causa” por estas irregularidades. A figura do Juiz de menores conti-
nua aexercer a função de tutelador e fiscalizador das ações dos “me-
nores”, defendendo a sociedade das ameaças que eles representam.
A partir da abertura democrática no país nos anos 80, o atendi-
mento às crianças e adolescentes é revisto, mesmo porque os movi-
mentos populares reivindicatórios4 exigiam do governo uma nova 
posição frente às questões sociais que vinham se agravando (aumen-
to de crianças em situação de rua, assassinatos de meninos e meni-
nas de famílias pobres, trabalho infantil, aumento do acolhimento de 
crianças em instituições, etc.).
Sendo assim, em 1988 é promulgada a Constituição Federal, que 
incorporando os princípios básicos da Declaração Universal dos Di-
reitos da Criança (1959), expressa em seu artigo 2775 que:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança 
e ao adolescente, com absoluta prioridade o direito à vida, a 
saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, à profissionalização, 
à cultura, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de discriminação, ex-
ploração crueldade e opressão6. (grifos nossos).
A Constituição de 1988 rompe, ao menos teoricamente, com 
modelos autoritários e repressivos, delegados ao trato da infância e 
juventude empobrecida do Brasil e passa a conceber todas as crian-
ças e os adolescentes como sujeitos de direitos. Exigindo uma série 
de modificações nos programas que até então eram responsáveis por 
essa área.
4 Destaca-se o papel do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua 
(MNMMR) criado em 1985, que deu visibilidade ao problema das crianças que 
viviam nas ruas das grandes cidades e denunciou os frequentes assassinatos desta 
população. 
5 O artigo 227 resultou da junção de duas emendas populares “Criança e Consti-
tuinte” e “Criança Prioridade Absoluta”. 
6 A lei coloca como sendo responsáveis pelo bem-estar da criança /adolescente 
primeiro a família, depois a sociedade e por último o Estado, deixando claro ainda 
os vestígios liberais na construção da legislação social.
18 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
O início da década de 90 é marcado pela extinção da FUNA-
BEM e criação do FCBIA (Fundação Centro Brasileiro da Infância 
e de Adolescência), dos programas CIAC (Centro Integrados de As-
sistência à Criança) e pela aprovação do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA).
O ECA regulamenta e detalha o artigo 227 da Constituição Fe-
deral de 1988 e incorpora as conquistas da Convenção Internacional 
dos Direitos da Criança (1989), traz um novo paradigma jurídico de 
atenção à população infanto-juvenil: o da Proteção Integral, defi-
nindo no seu artigo 3º que: 
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos funda-
mentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção 
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou 
por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de 
lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual 
e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 
Presidência da República, 1990). (grifos nossos).
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi resultado de um gran-
de movimento social que reuniu setores da sociedade brasileira (Mi-
nistério Público, Judiciário, pastorais religiosas, movimentos sociais 
e profissionais de entidades governamentais e não governamentais) 
em torno da luta pelos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Tanto o ECA como a Constituição Federal trazem um novo en-
tendimento de políticas públicas a partir do momento em que pro-
põem a participação da sociedade civil na sua elaboração, monito-
ramento e avaliação, através da criação de conselhos municipais, 
estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, que 
são órgãos deliberativos e controladores das políticas públicas, com 
composição paritária de representantes do governo e da sociedade 
civil organizada7.
7 Outros espaços de participação da sociedade civil organizada criados a partir da 
Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente são as Conferên-
cias realizadas a cada dois anos em todo o território nacional com a finalidade do 
controle da política pública por parte dos cidadãos, os Fóruns de entidades não-go-
vernamentais, as audiências públicas, dentre outros mecanismos que contribuem 
para uma maior presença da população nos espaços deliberativos e consultivos das 
políticas de atenção à população infanto-juvenil.
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 19
A Política de atendimento às crianças e adolescentes no Brasil, 
segundo o Estatuto, deve ser operacionalizada através de um con-
junto articulado de ações governamentais e não governamentais nas 
três esferas de Governo (União, Estados e Municípios) que tenham 
por objetivo a Proteção Integral deste segmento.
A concepção de um Sistema de Garantias de Direitos de Crian-
ças e Adolescentes (SGD) desenvolvido a partir da Doutrina Jurídica 
da Proteção Integral contida no ECA, enfatiza a necessidade de arti-
culação das políticas públicas e dos diferentes órgãos de atendimen-
to à população infanto-juvenil.8 
Diferente de outros sistemas operacionais de políticas públicas 
(SUS9, SUAS10) o Sistema de Garantias dos Direitos Humanos de 
crianças e adolescentes é entendido “[...] mais como um “sistema 
estratégico”, do que propriamente como um “sistema de atendimen-
to direto”. Essa natureza “estratégica” é próprio aliás do sistema de 
promoção e proteção dos direitos humanos, em geral, do qual ele é 
parte” (NOGUEIRA NETO, 2011, p. 15).
8 “Art. 5º Os órgãos públicos e as organizações da sociedade civil, que integram 
esse Sistema, deverão exercer suas funções, em rede (...)” (BRASIL. Presidên-
cia da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Conselho Nacional 
dos Direitos da Criança e do Adolescente, 2006, p. 4). (grifos nossos).
9 O Sistema Único de Saúde / SUS criado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 
8.080, de 19 de setembro de 1990) é fundado no direito universal e equitativo à 
saúde previsto na Constituição de 1988 é organizado de forma participativa, re-
gionalizada e hierarquizada, onde os serviços devem seguir um comando único da 
Política Nacional de Saúde.
10 O Sistema Único de Assistência Social/ SUAS criadas em 2004 pela Política 
Nacional de Assistência Social é um sistema descentralizado político-administra-
tivamente para os Estados, e os Municípios e possui comando único das ações 
em cada esfera de governo. Tem centralidade na família e seus serviços seguem a 
lógica de níveis de complexidade de proteção social. O SUAS se organiza em dois 
níveis de Proteção Social: o da Proteção Social Básica destinadas às famílias e 
indivíduos em condição de vulnerabilidades sociais devido a pobreza, privações e 
fragilização de vínculos familiares e comunitários, e o da Proteção Social Especial 
destinadas às famílias e indivíduos com direitos violados e vínculos fragilizados 
e/ou rompidos. A Proteção Social Básica é executada pelos Centros de Referência 
de Assistência Social (CRAS) e a Proteção Social Especial pelos Centros de Refe-
rência Especializados de Assistência Social (CREAS).
20 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
Segundo o Conselho Nacional dos Direitos de Crianças e Ado-
lescentes – CONANDA: 
Art. 1º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Ado-
lescente constitui-se na articulação e integração das instâncias 
públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de 
instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos 
de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos hu-
manos da criança e do adolescente, nos níveis Federal, Estadual, 
Distrital e Municipal. 
§ 1º Esse Sistema articular-se-á com todos os sistemas nacio-
nais de operacionalização de políticas públicas, especialmen-
te nas áreas da saúde, educação, assistência social, trabalho, 
segurança pública, planejamento, orçamentária, relações exte-
riorese promoção da igualdade e valorização da diversidade. 
(BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos 
Direitos Humanos. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e 
do Adolescente, 2006, p.1). (grifos nossos).
O SGD é estruturado a partir de três grandes eixos: Promoção 
dos direitos humanos, Defesa dos direitos humanos, e Controle da 
efetivação dos direitos humanos, os quais articulam organicamente 
instituições que possuem atribuições específicas na garantia dos di-
reitos à população infanto-juvenil, mas interdependentes, para pro-
porcionar a Proteção Integral às crianças e adolescentes.
No que se refere especificamente ao adolescente em conflito 
com a lei, além das garantias legais trazidas pela Constituição Fe-
deral, e pelo ECA materializado na atuação do SGD, um avanço no 
atendimento desse público foi a aprovação em 2012 do Sistema de 
Atendimento Socioeducativo (SINASE), que será abordado na se-
quência.
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 21
 O SINASE E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
O SINASE é uma forma de regulamentação do ECA, no que 
se refere ao público de adolescentes que cometem atos infracionais. 
Portanto, deve efetivar os princípios do ECA e assegurar o respeito 
à Doutrina da Proteção Integral, como orientadora das ações que 
contornam as medidas socioeducativas em âmbito nacional, às quais 
o SINASE está voltado. Neste sentido, o desafio do SINASE é o de 
garantir que o Estado rompa com a característica repressora, cerce-
adora dos direitos, tal como ele intervinha antes do ECA, e que res-
peite tal como deve fazer no âmbito das medidas protetivas, também 
no campo das medidas socioeducativas. 
O SINASE está disposto na lei de nº 12.594 de 18 de janeiro de 
2012, tratando-se de um conjunto de regras e princípios que regula-
mentam a execução das medidas socioeducativas voltadas aos ado-
lescentes em conflito com a lei em âmbito nacional; ou seja, voltada 
ao público de adolescentes que cometem atos infracionais. Confor-
me seu artigo 1º, o SINASE é:
[...] o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que 
envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se 
nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, 
bem como todos os planos, políticas e programas específicos 
de atendimento a adolescente em conflito com a lei. (BRASIL 
2012).
Ao regulamentar a matéria das medidas socioeducativas, define, 
além da sua execução, a forma de aferição e julgamento do ato infra-
cional. Podemos verificar que esta legislação foi conquistada depois 
de 12 anos do ECA e essa morosidade na regulamentação da matéria 
não se dá à toa. A afirmação e efetividade das garantias constitucio-
nais (materiais e processuais) dos adolescentes em conflito com a lei, 
ainda são desafios inerente à área. A sociedade e os representantes 
do próprio Estado não dispõem de meios objetivos e/ou subjetivos 
eficazes para a devida constatação das condições de vida dos ado-
lescentes. O que implica em desconsiderar, que em muitos casos, os 
adolescentes que cometem atos infracionais, antes de infringirem a 
lei, tiveram suas vidas violadas, devido a não garantia e efetivida-
22 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
de de seus direitos fundamentais; que antes de serem adolescentes 
autores de atos infracionais foram vítimas de violência por parte da 
família, da sociedade e ou do próprio Estado. Ao infracionar, esses 
adolescentes não deixam a situação de sujeitos violados. Abramovay 
(2002, p. 59), tratando do cenário de violência em relação à juventu-
de em países latino-americanos, afirma que estudos recentes
[...] comprovam que adolescentes vítimas de violência na infân-
cia apresentam maior possibilidade de se tornarem agentes de 
violência no futuro. Por isso é necessário alertar para a impor-
tância fundamental de políticas públicas (universais e específi-
cas), contemplando os jovens.
Nestes casos, a condição de cidadão dos adolescentes não passa 
de letra morta na lei, diante da aspereza e insegurança que determi-
nam as suas condições de vida, o que indica a ausência e/ou a precá-
ria cobertura de políticas públicas para a adolescência e juventude. 
Viver na rua, evadido da escola; sob o risco de não sobreviver me-
diante os usos de abusos de sua condição de adolescente em face dos 
interesses do mercado, do tráfico de drogas, do trabalho precário e 
ou de sua vulnerabilidade diante do mundo das drogas, da violência 
urbana e da criminalidade, são exemplos corriqueiros de aspectos 
históricos da trajetória de vida de um adolescente em conflito com a 
lei. De acordo com Oliveira (2018) a vulnerabilidade social é fator 
de vulnerabilidade penal no Brasil. 
Muitos deles acometidos por problemas de saúde mental, sem 
expectativas de desenvolvimento dissociadas dos vínculos nefastos 
contraídos ao longo de sua vida. Então, antes do julgamento moral, 
mediante a prática do ato infracional, é importante questionar quem 
são esses adolescentes? Antes de serem autores de atos infracionais 
eles são adolescentes, têm uma história cujas marcas mantêm rela-
ções com diferentes formas de exploração e opressão. Considerar 
a história de vida dos adolescentes pode não ser suficiente. Buscar 
compreendê-la em suas múltiplas determinações é fundamental para 
uma justa interpretação das suas condições de vida. Esta é uma pre-
missa para formar um entendimento justo para a aplicação e para a 
execução da medida socioeducativa e chegar àquela que seja perti-
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 23
nente ao seu caso concreto. Esse desafio está posto pela Constituição 
Federal de 1988, pelo ECA e pelo SINASE a sociedade brasileira. 
A atuação da sociedade e do Estado deve ser condizente com a con-
dição peculiar de desenvolvimento dos adolescentes. Considerá-lo 
sujeito de direitos é ato que assegura a sua dignidade e cidadania.
De acordo com o SINASE, os objetivos das medidas socioe-
ducativas são três: o primeiro deles é a responsabilização do ado-
lescente pelo ato infracional cometido; o segundo é o objetivo da 
integração social; e o terceiro objetivo é a reprovação da conduta 
do adolescente. (BRASIL, 2012). Para a efetivação da integração 
social, tal como posto na legislação, é necessário um conjunto de 
ações de proteção. É o Estado que deve, com primazia, desenvolver 
esse conjunto de ações junto do adolescente e de sua família, sem 
perder de vista a relação destes com a comunidade e a sociedade, 
da qual ambos fazem parte. É impossível pensar a inserção de um 
adolescente na sociedade, o seu retorno a uma convivência humana 
em condições saudáveis, sem a realização de tais ações. Tais ações 
que devem ser mediadas pelas diferentes áreas das políticas públicas 
em vista da proteção para o desenvolvimento humano do sujeito. E 
deve-se dar prioridade à articulação com os serviços da rede socioas-
sistencial, o que segundo a literatura recente sobre o tema indica não 
ser a realidade no Brasil. (MORAIS; FERREIRA, 2019, SANTOS; 
AMARAL, 2019).
Considerando o objetivo educativo das medidas socioeducati-
vas, é importante destacar que se torna muito difícil que um ado-
lescente tenha consciência que sua conduta deva ser reprovada pela 
sociedade e pelo Estado quando a própria sociedade e o próprio Es-
tado, também não oferecem o que lhe é devido, por direito. O ca-
ráter educativo da medida fica extremamente limitado, mediante a 
afirmação de um Estado negligente. Punir não é educar. Educação 
envolve inicialmente, proteção, orientação e direção, ainda que lhe 
seja também imputada a tarefa de responsabilização, como uma das 
suas dimensões, esta não se resume a ela.
Diante de um cenário de não proteção de adolescentes cabe os 
seguintes questionamentos: Como julgar, sem justiça? Como res-
ponsabilizar o outro quando também se tem responsabilidade sobre a 
questão? Num Estado que não protege, a responsabilização de quem 
24 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavorattie Silmara Carneiro e Silva (Org.)
comete infrações se torna pífia; a integração social se torna ineficien-
te e a reprovação da conduta não atinge caráter pedagógico. Dito de 
outra forma, o ECA e o SINASE não são efetivados socialmente.
Em vista da apreensão dos elementos necessários para a con-
quista de um patamar de ação no qual a aplicação e a execução das 
medidas socioeducativas se tornem minimamente eficazes, faz-se 
necessário partir do respeito efetivo de seus princípios. Na sequên-
cia destacamos alguns deles. O princípio da mínima intervenção; o 
princípio da brevidade e o princípio da excepcionalidade que são 
princípios que fundamentam as medidas socioeducativas.
Outro princípio muito importante para a forma de aplicação e 
execução das medidas socioeducativas é o princípio da autocom-
posição e da priorização de práticas restaurativas no âmbito da sua 
aplicação e execução. Este princípio inova na forma e no conteúdo 
das medidas socioeducativas, quando imprime uma nova lógica de 
responsabilização, uma responsabilização baseada na reflexão sobre 
as necessidades humanas e na empatia. Ainda que as práticas restau-
rativas não assegurem, por si só, as mudanças necessárias do ponto 
de vista da proteção dos adolescentes, ao que se apresenta é um an-
coradouro para práticas menos aflitivas, o que em si é um alento, em 
meio a tantas contradições entre a forma e o conteúdo, neste campo 
de ação.
O conjunto de princípios, ora vigentes, fazem frente às formas 
históricas de responsabilização inspiradas em modelos retributivos 
e punitivistas e que ainda hoje é a realidade de muitas instituições 
prisionais, em face da intensificação do Estado Penal no mundo e 
no Brasil. (COSTA; GUEDES, 2017). Então, ao se examinar os 
princípios das medidas socioeducativas, tal como estão dispostos 
no SINASE, chega-se à compreensão de que são princípios que 
contribuem para que as medidas socioeducativas tenham, de um 
lado, a efetivação da dimensão sancionatória, ou seja, para cor-
responder ao objetivo da responsabilização, mas também garan-
tam, por outro lado, sobretudo, a sua dimensão sociopedagógica. O 
que nos alerta para a necessidade de afirmação imperiosa e urgente 
desta última dimensão, considerando a realidade das instituições. 
(COSTA; GUEDES, 2017).
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 25
Diante do exposto, destacamos que de nada adianta, uma lei 
perfeita se ela não for efetivada na realidade. Eficácia jurídica não 
é suficiente quando se trata do campo dos direitos programáticos 
(SARLET, 2012). O campo das medidas socioeducativas requer a 
eficiência da ordem programática dos direitos sociais, a fim de asse-
gurar proteção social aos adolescentes, assim como eficácia jurídica 
de seus direitos fundamentais e liberdade individuais, antes, durante 
e depois do processo socioeducativo. Caso tais garantias não se efe-
tivem, tudo não passará de uma panaceia jurídica e social, que se 
desenvolve à revelia do Estado Democrático de Direito. 
É preciso pensar, do ponto de vista substancial, na efetivação da 
cidadania dos adolescentes. Não se aplica medida socioeducativa à 
toa, a esmo; não se aplica medida socioeducativa sob o disfarce da 
proteção. Ao contrário, deve-se proteger para se evitar a aplicação de 
medidas socioeducativas. Estas devem ser a última ratio, tal como 
nos indica a doutrina jurídica, ao retratar a razão de ser do direito pe-
nal em um Estado Democrático de Direito. (BITENCOURT, 2015). 
Para a aplicação e execução de medidas socioeducativas, minima-
mente referenciadas na defesa da cidadania e da dignidade humana, 
deve-se com urgência parar para pensar e rever os mecanismos de 
integração social a que as medidas estão sujeitadas na realidade so-
cial, a disposição das políticas públicas e do Estado. Seriam eles me-
canismos fortalecidos na atual fase da sociabilidade do capital? Sob 
quais condições materiais, educativas e culturais estão submetidas, 
por exemplo, as famílias dos adolescentes que cometem atos infra-
cionais, sendo seus núcleos primários de integração social? Quem 
são os adolescentes acometidos pelo Estado Penal brasileiro? Qual a 
realidade das comunidades dos adolescentes sob o alcance do siste-
ma socioeducativo? Para quê e para quem se põem, no cotidiano prá-
tico-político da aplicação e execução, as medidas socioeducativas 
no Brasil? Como vivem os adolescentes autores de atos infracionais, 
quais são as suas fragilidades pessoais? Estas são algumas questões 
que o Estado Brasileiro ainda não respondeu. Não se tem dados sis-
tematizados, por municípios, Estados e a nível federal com robustez 
para o planejamento e efetivação de uma política de socioeducação 
condizente com as necessidades humanas dos adolescentes brasilei-
ros, que tem na sua trajetória de vida o rompimento com o pacto 
26 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
de cidadania, mediante a prática de atos infracionais? De quem é a 
responsabilidade nesse caso? Seria o Estado Democrático de Direi-
to Brasileiro jovem demais para empreender esforços responsáveis 
para responder a esta realidade? Qual seria a medida socioeducativa 
mais apropriada a ser aplicada às autoridades públicas, neste caso? 
Seria, de outra forma, o próprio sinal de falência das funções pú-
blicas do Estado, no trato da questão? Ou seria indício de crime de 
responsabilidade? Como pensar a responsabilização e a reeducação 
neste caso? Seria a reprovação da conduta suficiente? Estas e outras 
perguntas não podem deixar de ser feitas, enquanto a Constituição 
Federal, o ECA e o SINASE estiverem vigentes no país e enquanto 
as medidas socioeducativas se mantiverem submetidas aos seus pre-
ceitos. Trata-se de um conjunto de medidas, as quais iremos descre-
ver, uma a uma, na sequência. 
A primeira das medidas socioeducativas é a de advertência. Esta 
medida é aplicada de forma pontual e executada imediatamente pelo 
juiz. É uma medida que visa advertir o adolescente da reprovação de 
sua conduta e orientá-lo para que não reitere na mesma conduta afli-
tiva, lesiva dos direitos das outras pessoas. Então esta é uma medida 
que se aplica e se executa, imediatamente, pela autoridade judicial. 
A outra medida é a de reparação de dano. Esta é aplicada para o 
adolescente que comete o ato infracional de natureza patrimonial. 
Esta medida que pode ser aplicada para aquele adolescente que te-
nha condições financeiras, que sua família possa prover a reparação 
do dano por ele causado, ou que ele mesmo possa reparar o dano se 
a lesão que ele provocou é, por exemplo, diante de um patrimônio 
físico que pode ser recuperado, reparado pela sua própria ação. En-
tão, neste caso, o adolescente terá cumprido a medida socioeduca-
tiva quando reparar, finalmente, o dano. A outra medida é a medida 
de prestação de serviço à comunidade. Nesta medida, o adolescente 
deverá realizar uma atividade laborativa para uma instituição de na-
tureza social, uma instituição de natureza educativa, demais institui-
ções que prestem serviços públicos que ele possa desenvolver uma 
ação laboral em comunhão com a sua vocação para o trabalho. Esta 
medida deve considerar a condição escolar do adolescente, o horário 
que ele frequenta a escola e se for um adolescente trabalhador tam-
bém deve-se considerar também seu horário de trabalho para que a 
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 27
medida não o prejudique. A medida de prestação de serviço à comu-
nidade junto com a liberdade assistida que é a próxima medida que 
descreveremos são medidas chamadas de medidas de meio aberto. 
Cabe destacar que a prestação de serviço à comunidade é aplicada e 
executada com o adolescente vivendo em liberdade, estando ele no 
contexto da sua família e da comunidade. A liberdade assistida, uma 
outra medida socioeducativa, também é uma medida em meio aber-
to. Esta medida não prevê especificamente uma ação a ser realizada 
pelo adolescente como é o caso da medidade prestação de serviços 
à comunidade, mas ela pode ser aplicada de forma acumulada ou 
isoladamente. A medida de liberdade assistida prevê uma orienta-
ção por parte de um profissional responsável que empreenderá ações 
de integração social do adolescente: a matrícula e frequência esco-
lar; orientação e encaminhamento para cursos profissionalizantes; o 
acompanhamento socioassistencial dele e de seus familiares, enfim, 
um conjunto de ações que contribuam para que este adolescente se 
insira socialmente e que possa, então, desenvolver suas atividades 
de vida básicas como qualquer sujeito que viva em liberdade e que 
tenha assegurados seus direitos.
Além das medidas em meio aberto, o ECA e o SINASE preveem 
as medidas denominadas restritivas e privativas da liberdade. São 
as medidas chamadas de meio fechado – semiliberdade e interna-
ção. Na semiliberdade, o adolescente é retirado do contexto fami-
liar e colocado no âmbito de uma instituição. Esta instituição deve 
garantir prioritariamente para este adolescente a escolarização e a 
profissionalização em articulação com os serviços da comunidade, 
uma vez que a liberdade do adolescente é restrita, porém se mantém 
enquanto um direito a ser usufruído, ainda que de forma limitada, 
durante o cumprimento da respectiva medida. Estas duas atividades 
devem ser desenvolvidas fora da instituição e devem ser realizadas 
pelo adolescente não necessariamente sob o acompanhamento direto 
de um profissional da instituição. Mas ele pode protagonizar a sua 
ação, ir à escola, fazer seu curso profissionalizante na comunidade e 
retornar a qualquer momento, de acordo com as regras institucionais 
para o local de cumprimento da medida. Este adolescente se mantém 
sob a tutela do Estado, porém pode realizar visitas a sua família e 
durante o percurso da execução da medida, ainda que se mantenha 
28 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
sob a tutela do Estado. As atividades externas podem ser realizadas 
sem prévio aviso a autoridade judicial. A medida de semiliberdade 
não comporta prazo determinado. Ela deve ser avaliada de seis em 
seis meses e não pode ultrapassar o tempo de três anos da mesma 
maneira que é a medida de internação, sendo esta a próxima e última 
medida descrita.
A medida socioeducativa de internação é aquela que atinge, in-
tegralmente, a liberdade do adolescente. A medida de internação é, 
portanto, privativa de liberdade; também não comporta prazo míni-
mo, mas deve ser avaliada regularmente considerando o prazo de seis 
em seis meses e não pode ultrapassar o período de três anos. Aquele 
adolescente que completa 21 anos durante o cumprimento da medida 
socioeducativa de internação deve ser compulsoriamente liberado da 
instituição. (BRASIL, 2012). Este é um critério da legislação. Du-
rante o tempo em que o adolescente cumpre a medida de internação 
ele poderá também fazer atividades externas, desde que não tenha 
prévia determinação em contrário na sentença, que é o documento 
no qual o juiz aplica a medida socioeducativa ao adolescente. Du-
rante o período de internação este adolescente é colocado em uma 
instituição. As instituições de internação no Brasil, na sua maioria, 
seguem os modelos de presídios e suas práticas são arraigadas a este 
modelo, ainda que a forma de atuação, as atividades desenvolvidas e 
o foco do trabalho deva ser diferenciado, segundo a legislação, con-
siderando a condição peculiar de desenvolvimento dos adolescentes. 
(BRASIL, 1990; BRASIL, 2012). Portanto, cabe ressaltar que no 
país algumas instituições (isto não é algo extraordinário) ainda tem 
resquícios do período da doutrina da situação irregular. Muitas delas, 
ainda tem estruturas físicas muito arcaicas da época ainda do período 
anterior da promulgação do ECA e reproduzem práticas de violên-
cia. (COSTA; GUEDES, 2017). 
Por outro lado, existem algumas instituições de privação de 
liberdade de adolescentes, como é o caso de algumas unidades de 
privação do Estado do Paraná, por exemplo, que possuem uma ar-
quitetura própria considerando os parâmetros legais assegurados 
pela legislação, apontam avanços em termos estruturais, conquanto 
ainda seguem os modelos de instituições prisionais, o que impõe 
limites para uma mais ampla abertura e aperfeiçoamento de práticas 
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 29
educativas no trato do trabalho cotidiano com os adolescentes. Tais 
instituições tem uma estrutura mínima de espaços para realização 
de atividades de escolarização, atividades esportivas de recreação e 
as equipes adotam as estratégias possíveis em vista de uma metodo-
logia que assegure minimamente a dimensão sócio pedagógica, em 
detrimento da jurídico-sancionatória. Esta que deve ser entendida 
apenas no sentido da restrição do direito de ir e vir, e até mesmo 
esta restrição pode ser atenuada, a depender das condições objeti-
vas e subjetivas do adolescente. Ademais, o trabalho das instituições 
deve ser de cunho eminentemente educativo garantindo a proteção 
integral dos adolescentes, mediante ações de integração humana e 
social, seja no âmbito interno da instituição seja através de ativida-
des externas em articulação com a família e com a comunidade. O 
adolescente em cumprimento da medida socioeducativa de interna-
ção não está privado desse e de outros direitos, conforme previsão 
no ECA. (BRASIL 1990).
Consideramos, para tanto, que a formação dos profissionais da 
socioeducação é muito importante para que a dimensão sociopeda-
gógica se sobreponha à dimensão jurídico-sancionatória; ou seja, 
que as ações socioeducativas enfrentem os resquícios da história e 
que promovam a dignidade humana e a cidadania dos adolescentes. 
Esta é uma pauta que deve se manter em cena, considerando que a 
política de capacitação dos profissionais da socioeducação e da rede 
socioassistencial em relação à execução das medidas socioeducati-
vas, a nível de Brasil, ainda é precária. (FAERMANN; NOGUEIRA, 
2017).
Estas então, são as medidas socioeducativas previstas pelo ECA 
e pelo SINASE e estas foram algumas reflexões para pensarmos as 
medidas socioeducativas no Brasil, em suas proposições e contra-
dições. Para finalizarmos esta reflexão é necessário pensarmos na 
urgência de uma formação crítica dos sujeitos envolvidos com esta 
realidade, profissional e politicamente, para que a vida dos adoles-
centes em conflito com a lei no Brasil não se desperdice, em meio às 
desigualdades e exclusões, preconceitos e discriminações, explora-
ções e opressões sofridas por eles no seu cotidiano. Na sua maioria, 
se referem à adolescentes advindos de populações vulneráveis, de 
adolescentes que não tiveram na sua história a garantia de proteção 
30 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
por parte da sociedade, da família e do Estado. Reforçamos a ideia 
de que é necessário pensar que estes adolescentes necessitam de me-
didas protetivas para que efetivamente se integrem na sociedade. E 
é necessário estarmos atentos aos grupos, aos políticos que tem lan-
çado mão de projetos de lei que visam enrijecer as medidas socioe-
ducativas sob um discurso falacioso de que o ECA e o SINASE não 
garantem a responsabilização. Ao contrário, a legislação garante a 
responsabilização. A dificuldade está nos processos de materializa-
ção integral dos dispositivos da lei.
Finalmente, é importante dizer a todos e todas que fiquem aten-
tos e acompanhem, na conjuntura atual, o estado dos vários proje-
tos que visam enrijecer as medidas socioeducativas e, notem à luz 
dos que apresentamos neste texto, o quão vazias de sentido elas são, 
quando confrontadas com o ECA e o SINASE. Então é importante 
pensarmos que neste momento do auge dos trinta anos do ECA e no 
ano que o SINASE completa seus oito anos, é necessário pensarmos 
e problematizarmos possibilidades de efetivação de ações concre-
tas que afirmem novas mediações em face das garantias jurídicas 
já conquistadasno país; que trabalhemos para a formação de uma 
consciência crítica diante desta problemática no Brasil. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história das políticas de atendimento a criança e do adolescen-
te no Brasil até a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi 
da afirmação de políticas fundamentadas na denominada Doutrina 
da Situação Irregular. 
Com o Estatuto da Criança e do Adolescente a Doutrina da Pro-
teção Integral foi adotada como fundamento para o atendimento de 
crianças e adolescentes no país. O ECA é fruto de uma luta conjun-
ta de diversos sujeitos da sociedade e do Estado que defenderam 
arduamente a conquista da garantia e regulamentação dos direitos 
fundamentais desta parcela da população no Brasil. Estes sujeitos 
históricos, tiveram o compromisso de construir bases sólidas, jurí-
dica e politicamente fundamentadas, para a proteção das crianças e 
adolescentes no âmbito do Estado Democrático de Direito, com base 
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 31
nos princípios constitucionais da Carta de 1988, e têm na cidadania 
e na dignidade humana do público infanto-juvenil, os fundamentos 
centrais do seu trabalho, inspirados pelo texto constitucional e pelas 
bandeiras dos movimentos sociais que foram os grandes protagonis-
tas desta história, pautando a matéria para o Estado, o que repercutiu 
no ECA e posteriormente no SINASE. 
Portanto, necessário é ficarmos atentos às contradições entre a 
forma e a realidade das medidas socioeducativas no Brasil, a consi-
derar as contradições que medeiam estas dimensões. Eficácia jurí-
dica não pressupõe a priori eficácia social e no campo das medidas 
socioeducativas esta mediação ainda está por ser construída em vista 
da sua consolidação e isso só se faz na prática cotidiana das lutas 
sociais para que novas e melhores formas de execução e de aplica-
ção das medidas, com o aprofundamento do estudo e do diálogo e 
intenções políticas em torno da efetividade dos direitos das crianças 
e adolescentes no Brasil.
Então, nós esperamos, com este texto, ter contribuído com todos 
e todas para que, de alguma forma, aqueles que não conhecem as 
medidas, que tenham encontrado noções básicas das medidas socio-
educativas durante o texto e que tenham parado para pensar nas suas 
proposições e contradições, em face das condições a que estão ex-
postos os adolescentes no Brasil. Aqueles (as) que já eram próximos 
do campo das medidas socioeducativas tenham tido a oportunidade 
de dialogar de alguma maneira com os autores e que tenhamos, nes-
se percurso dialógico, apresentado alguns elementos para a inflexão 
deste debate no país.
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Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 33
 Silmara Carneiro e Silva. Pedro Henrique Galeto. Emanuelle Minella 
Rodrigues. Heloysa Ribeiro Garcia. Kimberly Juliana dos Santos
INTRODUÇÃO 
O controle penal é o principal meio de punição no sistema capi-
talista, fundamental para concretizar a força estatal, sendo uma das 
maneiras pela qual o Estado burguês realiza sua intervenção, obje-
tivando reproduzir e manter a força de trabalho. Podemos perceber 
a ideologia burguesa nesse meio de punição e repressão, baseado 
na seletividade e na discriminação de classe, visando manter o seu 
domínio e resguardar a propriedade. Partindo do pressuposto que 
a sociedade é violenta na sua estrutura e que a violência é uma op-
ção para que as bases do poder sejam mantidas, a criminalização 
de determinadas classes, vulneráveis socialmente, vai ao encontro à 
concepção da manutenção do controle e administração do exército 
industrial de reserva, encoberto na ideia de combater o crime. 
A discussão acerca dos adolescentes em conflito com a lei é atu-
al e de relevância social, tanto no âmbito da política como profis-
sional, visto que engloba diversos aspectos estruturais, conjunturais, 
jurídicos e sociais. Quando o adolescente comete um ato infracional 
recebe uma resposta estatal que está prevista em lei e se aos adultos 
o controle penal é muito questionado, a situação se exacerba quando 
a pauta é a responsabilização dos adolescentes, violência juvenil e 
CONTORNOS SOCIOJURÍDICOS CONTORNOS SOCIOJURÍDICOS 
DO CONTROLE PENAL JUVENIL DO CONTROLE PENAL JUVENIL 
NO BRASIL À LUZ DOS CONCEITOS NO BRASIL À LUZ DOS CONCEITOS 
GRAMSCIANOS DE ESTADO GRAMSCIANOS DE ESTADO 
AMPLIADO E DE SUBALTERNIDADEAMPLIADO E DE SUBALTERNIDADE
34 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
redução da maioridade penal. Portanto, o objetivo deste trabalho é 
analisar a previsão do controle penal juvenil nas legislações federais 
que dispõe sobre adolescentes autores de atos infracionais no Brasil. 
Através de revisão de literatura, o controle penal será abordado à 
luz do conceito de Estado Burguês, em articulação com os conceitos 
gramscianos de Estado Ampliado e subalternidade, ancorados por 
uma análise documental da Constituição Federal de 1988, Estatuto 
da Criança e do Adolescente e do Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo articulando com a análise da vulnerabilidade social 
vivenciado pelos adolescentes na sociedade brasileira.
Trata-se de uma pesquisa exploratória, de cunho descritivo e 
analítico através da técnica de análise hermenêutica, autocomposi-
tiva e sociológica. O artigo estrutura-se da seguinte forma: no pri-
meiro item é apresentado o conceito gramsciano de Estado Amplia-
do e o controle penal constituído a partir da trama entre sociedade 
política e sociedade civil comoinstrumento legítimo da sociedade 
política para a repressão das forças sociais opositoras de um regime. 
O segundo expõe o Controle Penal como face coercitiva do Estado 
burguês. O terceiro discute o conceito de subalternidade em Gramsci 
e a criminalização das classes subalternas unida ao desenvolvimento 
histórico e expansivo do capitalismo em uma relação de dominação 
e exploração. O quarto analisa as expressões da face coercitiva do 
Estado nas legislações federais e os contornos jurídicos do controle 
penal juvenil no brasil, retratando o paradoxo da socioeducação que 
possui um caráter jurídico-sancionatório e pedagógico corroboran-
do com as duas faces do Estado para Gramsci, violência/coerção e 
consenso/educação. E o quinto e último, analisa dados sociológicos 
e estatísticos apontando a seletividade no controle penal e como o 
sistema socioeducativo administra as classes subalternas.
Os resultados apontam que há, de forma sistemática, a configu-
ração formal do exercício do controle penal juvenil nas legislações 
federais do Brasil, diante de adolescentes em vulnerabilidade social 
enquanto expressão da condição subalterna, frente a sociedade civil 
e política na sociedade brasileira, sob a atual fase do capitalismo 
contemporâneo.
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 35
O CONTROLE PENAL À LUZ DO CONCEITO 
GRAMSCIANO DE ESTADO AMPLIADO
A socialização da política promoveu a ampliação do Estado no 
capitalismo contemporâneo. Dotado de novas funções, esse Estado, 
tido como Estado Integral ou Ampliado, se forma na conjunção da 
sociedade política com a sociedade civil. Essa foi a concepção de 
Estado que o teórico italiano Antonio Gramsci (1891-1937) adotou 
para fazer a leitura dessa nova expressão estatal na sociedade oci-
dental, do século XX. Estudiosos do seu pensamento apontam que as 
questões principais que nortearam sua investigação se deram a partir 
das peculiaridades decorrentes do capitalismo, o domínio fascista 
no Estado Nacional italiano, entre outros. De acordo com Liguori 
(2006, p. 178) o pensador italiano “[...] é o maior estudioso marxista 
das superestruturas. ” Para que possamos utilizar sua concepção de 
Estado para a análise do controle penal de adolescentes autores de 
atos infracionais no Brasil é necessário compreender com maior pro-
fundidade essa concepção gramsciana. 
Ao longo do desenvolvimento histórico as concepções e defini-
ções sobre Estado e sociedade civil se deram de diferentes maneiras, 
desde Maquiavel perpassando pelos jusnaturalistas (Hobbes, Locke 
e Rousseau) até chegarmos aos pensadores da linha marxista, sendo 
a partir de Karl Marx que o Estado deixa de ser superior aos homens 
e passa a ser visto como instrumento jurídico a serviço da classe 
dominante em uma sociedade. Mas, é em Gramsci que há o desen-
volvimento de uma concepção de Estado, que deriva de uma noção 
de sociedade civil mais complexa e elaborada, o que é reflexo da 
complexificação das relações sociais na fase do capitalismo mono-
polista, na qual a socialização da política passou a ser uma estratégia 
das classes que ocupavam o Estado; ou seja, da classe dominante, na 
sua relação com as classes dominadas. 
Para Gramsci, o Estado é conjunção de sociedade civil que é 
composto por um conjunto de instituições ou organizações respon-
sáveis por elaborar e difundir ideologias e sociedade política que é 
a esfera composta por aparelhos policial-militar e burocráticos res-
ponsáveis pela coerção e repressão. (DURIGUETTO, 2007). É atra-
vés desta última esfera que o Controle Penal é exercido pelo Estado, 
36 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
em face da sociedade. Enquanto instrumento a serviço das classes 
dominantes, ou seja, daquelas que ocupam o Estado como governo, 
o controle penal é, em última instância, a ação violenta das classes 
dominantes em relação às classes dominadas, legitimado socialmen-
te e institucionalizado pelo Estado. Ou seja, trata-se do uso consen-
sual da coerção de um grupo sobre aqueles que são identificados 
como opositores ao consenso social, político e cultural hegemônico.
Em Gramsci, o Estado é força, utilizando de um complexo de 
atividades teórico-práticas pelas quais a classe dirigente justifica e 
mantém o seu domínio. Entretanto, essa dominação não se mantém 
apenas através da coerção legal, necessita de legitimação através do 
consentimento dos seus governados, assim, Estado também é con-
senso (GRAMSCI, 2004). Por isso, Estado para Gramsci é consenso 
e coerção ou hegemonia encouraçada de coerção. Nessa trama entre 
Sociedade política e sociedade civil é que se constitui o controle 
penal enquanto atividade legítima da sociedade política para tolher, 
castrar e reprimir as forças sociais opositoras de um regime. Sob a 
égide de Estados Democráticos de Direito o poder de punir do Esta-
do possui distintos travos jurídicos que asseguram o uso comedido 
da força diante dos civis. A chancela dos direitos humanos garante 
que o Estado não possa ultrapassar um limiar de ação tal que os indi-
víduos não sejam, por essa via, usurpados de sua vida, de seus bens 
e de sua propriedade. Ao contrário, o ius puniendi fora concebido 
historicamente, exatamente, para a salvaguarda dos direitos naturais 
do homem em face de suas relações com a sociedade civil. Afora, a 
salvaguarda do direito liberal burguês à vida, aos bens e à proprieda-
de, o direito de punir no Estado Capitalista assume uma função ma-
terial, a do controle e administração do exército industrial de reserva. 
A prisão, tal como as guerras de Estado servem a esse papel. Nesta 
toada, o controle penal, visto à luz do materialismo histórico dialé-
tico, ou da filosofia da práxis, para se utilizar da definição gramscia-
na de marxismo, é uma ‘sentinela’ em formação permanente, com 
uma arma engatilhada para a testa das classes subalternas. Ou seja, 
aquelas classes que só sobrevivem de forma dependente e resignada 
à ordem do capital. Portanto, a mercê de todas as suas vicissitudes, 
inclusive das diferentes formas de controle da força produtiva, das 
quais o controle penal é uma delas. Pode-se dizer: uma das mais 
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 37
eficientes, porque das mais perversas na ordem do capital, uma vez 
que se trata, materialmente, do escárnio dos subalternos legitimado 
pelos ‘bons cidadãos’. Entretanto, é a função ideológica do controle 
penal que o mantém sob o manto imaculado da ordem. Fazer durar a 
barbárie como realidade histórica de determinados grupos, é a tarefa 
de um Direito que se propõe a garantia da segurança pública, daque-
les que são tomados como parte legítima do tecido social e político 
de um determinado bloco histórico, de uma determinada formação 
jurídica e ideológica. A ideologia, nos termos marxianos, enquanto 
imaginário social que inverte a realidade, possui três dimensões: a 
da alienação, a da mistificação e a da reificação. (CHATELET apud 
SCHLESCENER, 2017). O controle penal enquanto ideologia, alie-
na, mistifica e reifica a relações humanas e sociais. A sociedade se 
aliena de si mesma, na medida em que separa a humanidade entre o 
‘eu’ cidadão burguês e o ‘outro’ eliminável da estrutura. As relações 
humanas se mistificam na medida em que o ‘outro’, existe somen-
te na medida em que está para a superestrutura na exata proporção 
de sua ineficácia estrutural, enquanto cidadão estrito de um Estado 
Penal, porque despossuído das qualidades necessárias para o gozo 
de sua personalidade jurídica civil. Ou seja, porque subalterno na 
ordem do capital. Com isso, o sujeito é reificado e se vê estranho de 
si mesmo na ordem penal. 
Diante do exposto, necessário se faz analisar as características 
do Controle Penal como parte da face coercitiva do Estado burguês. 
E, de como esta face do Estado se expressa na relação jurídica esta-
belecida pelo Estado com o conjunto de adolescentes autores de atos 
infracionais. E, ainda como esta relaçãose materializa na ação con-
creta da sociedade política na relação com a sociedade civil, ao se 
defrontar especificamente com uma população juvenil que, no caso 
do Brasil, é na sua maioria vulnerável socialmente, por consequên-
cia de uma determinação estrutural do capitalismo contemporâneo e 
de sua repercussão no contexto nacional.
38 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
O ESTADO BURGUÊS E O CONTROLE PENAL
O Estado não é um poder que surgiu de fora para dentro da so-
ciedade, pelo contrário, ele é um produto da própria sociedade, é 
a resposta de que a sociedade se “ [...] enredou numa irremediável 
contradição com ela própria e está dividida por antagonismos irre-
conciliáveis [...]” (ENGELS, 2014, p. 208), e para que diante desses 
antagonismos as classes conflitantes não se sucumbam em uma luta 
que não trará nenhum resultado faz-se necessário um poder para co-
locar ordem nesse conflito. Dessa forma, o Estado surge do antago-
nismo e da luta de classes, um órgão de dominação de uma classe 
e submissão de outra. Assim não há neutralidade nessa instituição, 
nascida e desenvolvida sob a égide das concepções da classe domi-
nante (LENIN, 2010). É necessário ressaltar que o Estado é “[...] da 
classe mais poderosa, da classe economicamente dominante, classe 
que, por intermédio dele [...] adquire novos meios para a repressão 
e exploração da classe oprimida” (ENGELS, 2014, p. 92). Portanto, 
o Estado é para a classe dominante um instrumento para manter a 
exploração e a opressão, ordenado a partir do modo de produção 
existente.
O Estado, na concepção marxista, é uma comissão que faz a 
gerência dos negócios referentes a burguesia. No capitalismo o Es-
tado é submisso à burguesia sendo um instrumento de exploração do 
trabalho na ordem do capital, uma máquina repressiva que permite a 
classe burguesa garantir sua dominação. Nessa perspectiva o Estado 
é a representação da burguesia, ou seja, Estado burguês.
No processo de dominação, um dos componentes desse Estado 
é a instituição da força pública, formada não só por “[...] homens 
armados, como, ainda, de acessórios materiais, os cárceres e as insti-
tuições coercitivas de todo o gênero [...]” (ENGELS, 2014, p. 209), 
assim sendo, o Controle Penal está na composição da força do Es-
tado. O Controle Penal como face coercitiva exercido pelo Estado 
burguês é uma manifestação orgânica originada a partir das relações 
de produção capitalistas, sendo implementado desde a denomina-
da “acumulação primitiva” descrita por Marx (1985) em O Capital, 
com o objetivo de contenção e punição daqueles considerados peri-
gosos ou que atentavam contra a lógica burguesa. 
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 39
Durante o curso da história a acumulação capitalista se desen-
volveu e expandiu-se, de tal forma que, para o Estado se tornou algo 
ineliminável na manutenção das formas exploratórias e dominantes 
da burguesia sobre o proletariado, estes que – na acumulação primi-
tiva do capital “[...] foram repentinamente arrancados de seu modo 
de vida costumeiro tampouco conseguiam se ajustar à disciplina [...] 
(MARX, 2013, p. 806) – tornaram-se, na sua maioria por forças con-
textuais, marginalizados e desiguais, a escória da sociedade. Em de-
corrência disso, surge uma legislação perversa voltada para estes que 
se tornaram o escorralho social. 
O atual cenário nacional se baseia no modo capitalista de produ-
ção, sendo percebida na sua essência a nítida divisão de classes na 
composição da estratificação social, indicando cada vez mais uma 
parcela reduzida da sociedade que concentram o grande poderio ca-
pitalista, e do outro lado, uma grande parcela da população vivendo 
em condições de extrema escassez de recursos, na sua maioria classe 
trabalhadora subordinada a receber ínfimos retornos, buscando nada 
mais do que a sua subsistência e o restante, mas também expressiva 
na sua quantidade que, busca maneiras destoantes dos padrões, da 
ordem e das normas estabelecidas socialmente. Como diria Marx 
(2013, p. 293), “[...] cada capitalista mata muitos outros [...] os quais 
usurpam e monopolizam todas as vantagens”, assim aumentando a 
extensão da miserabilidade, da servidão, degeneração, opressão e 
punição. 
O Controle Penal é fundamental para a força estatal, sendo o 
principal meio de punição no sistema capitalista, configurando-se 
como um dos meios pelo qual o Estado burguês intervém na repro-
dução e manutenção da força de trabalho, pois era necessário aos 
olhos preocupados da burguesia instaurar um dispositivo de punição 
visando combater os atos delituosos contra a propriedade.
A ideologia burguesa penetra de forma específica o controle 
penal, sendo que suas medidas de repressão visam manter o status 
quo e o resguardo da propriedade, assim garantindo e perpetuando 
o seu domínio. Dessa forma, o controle penal está enraizado pelos 
pressupostos burgueses, com base na seletividade e discriminação de 
classe. Se o capitalismo promove as desigualdades sociais o controle 
penal tem a função de forçar os desiguais para a criminalização.
40 | Alexandre Almeida Rocha, Cleide Lavoratti e Silmara Carneiro e Silva (Org.)
A CRIMINALIZAÇÃO DAS CLASSES SUBALTERNAS
É a partir das formas de dominação, opressão e repressão, ou 
seja, nas relações de poder na qual os sujeitos estão inseridos que 
se pode compreender o conceito de subalternidade no pensamento 
gramsciano. Este conceito é utilizado na contemporaneidade “[...] 
para descrever as condições de vida de grupos e camadas de classe 
em situações de exploração ou destituídos dos meios suficientes para 
uma vida digna. ” (SIMIONATTO, 2009, p. 42). 
A partir do surgimento do Estado burguês se estabelece uma uni-
dade no plano jurídico-formal e na ideologia propagada para toda a 
sociedade. Essa unidade compreende-se como resultante da orga-
nicidade relacional entre sociedade política e sociedade civil. Para 
Gramsci nos Estados modernos as classes dominantes não possuem 
o poder somente porque controlam os aparelhos de coerção do go-
verno, mas porque possuem “ [...] um formidável aparelho composto 
de dispositivos institucionais e culturais que lhe permitem difundir 
de forma direta e indireta sua concepção do mundo” (LIGUORI; 
VOZA, 2017, p. 1412). As classes subalternas possuem um laço his-
tórico com a sociedade civil, mas para que se unifiquem ambas de-
vem se tornar Estado (SIMIONATTO, 2009). 
Somente através da autonomia, de uma vitória permanente, é 
que a classe subalterna romperia a subordinação provocada pela 
classe dominante, porém na historicidade da classe subalterna perce-
be-se que mesmo em uma aparente vitória permanente permanecem 
em um estado de alerta e posição de defesa (GRAMSCI, 2002 apud 
SIMIONATTO, 2009). Essa vitória permanente de conquista da au-
tonomia só poderá ocorrer por meio de um longo processo e luta 
complexa, mas para que essa luta contra as estruturas de poder tenha 
êxito é necessário visitar o passado e compreender a característica 
flexível e duradoura da condição de subalternidade (BUTTIGIEG in 
LIGUORI; VOZA, 2017).
Os interesses dos grupos dominantes e os interesses dos grupos 
que estão em subordinação se interligam, implicando-se frente a or-
ganicidade econômica-política presente no Estado, pois a forma de 
vida estatal é concebida de maneira dinâmica e processual, onde a 
Política pública de socioeducação: conquistas e retrocessos | 41
formação e superação dos equilíbrios instáveis se dá a partir desses 
interesses (SIMIONATTO, 2009). 
Na concepção gramsciana, a subalternidade é uma categoria re-
lacional, que define determinados sujeitos a uma relação de poder e 
submissão, seja cultural, econômica, político-ideológica e jurídico-
-formal, que subordina, domina, oprime e pune. Como mencionado 
nos parágrafos anteriores, é na relação de poder que podemos com-
preender o conceito de subalternidade em Gramsci, sendo a partir 
dessa relação de poder que se produz a escassez

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