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FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS

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Prévia do material em texto

FUNDAMENTOS 
ANTROPOLÓGICOS 
E SOCIOLÓGICOS
Professor Me. Wanderly Alves de Sousa
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; SOUSA, Wanderly Alves de.
Fundamentos Antropológicos e Sociológicos. Wanderly Alves 
de Sousa. 
 
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 
116 p.
“Graduação - EaD”.
1. Fundamentos. 2. Antropologia. 3. Sociologia. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0994-1
CDD - 22 ed. 306
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário
João Vivaldo de Souza – CRB-9 - 1807
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Coordenador de Conteúdo
Maria Cristina Araujo de Brito Cunha
Qualidade Editorial e Textual
Daniel F. Hey, Hellyery Agda
Design Educacional
Rossana Costa Giani
Iconografia
Isabela Soares Silva
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
André Morais
Robson Yuiti Saito
Revisão Textual
Keren Pardini
Jaquelina Kutsunugi
Ilustração
André Morais
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-
mos com princípios éticos e profissionalismo, não 
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão 
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cur-
sos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais 
de 100 mil estudantes espalhados em todo o 
Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, 
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de 
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil 
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo 
MEC como uma instituição de excelência, com 
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferen-
tes áreas do conhecimento, formando profissio-
nais cidadãos que contribuam para o desenvolvi-
mento de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professor Me. Wanderly Alves de Sousa
Possui graduação em filosofia (2005) e mestrado em filosofia (2008) pela 
Universidade Federal do Paraná. Doutorando em filosofia pela UFPR (2014). 
Graduando em Análise de Sistemas pela UNOPAR (2014).
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SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) estudante, é com muito prazer que apresento a você o livro que fará parte da 
disciplina de Fundamentos Antropológicos e Sociológicos. Nele, buscaremos apre-
sentar em linhas gerais as teorias antropológicas e sociológicas que compõem o acervo 
cultural no qual estamos inseridos. Dedicar-se ao estudo da antropologia e da sociolo-
gia constitui-se em uma tarefa desafiadora e encantadora à medida que ambas vão, por 
definição, revelando a origem do homem e da formação da sociedade entre os homens. 
Por um lado, o desafio está na tarefa da qual o antropólogo e o sociólogo não podem 
abrir mão, qual seja, a de descrever fatos empíricos que devem ser apresentados de ma-
neira objetiva e livre de opiniões infundamentadas; por outro lado, o aluno não deixará 
de se espantar com a visão encantadora que se dá, não por acaso, quando o estudo do 
homem da perspectiva antropológica vincula-se ao estudo da formação da vida em so-
ciedade. A passagem das considerações antropológicas às considerações sociológicas é 
natural para quem se dedica a essas ciências. 
Aqui, convido você estudante a refletir a respeito da definição de antropologia e so-
ciologia, entre outras coisas que veremos, a refletir também a respeito do nascimento 
da antropologia e da sociologia como ciência, a perceber – ainda que em linhas gerais 
– que a sociologia nasce no período de revoluções, a exemplo da revolução industrial, 
a qual transformou para sempre a sociedade dos homens. Sem dúvidas, a revolução in-
dustrial foi o ponto de partida que conduziu grandes teóricos da época a pensarem na 
sociedade moderna e suas transformações inevitáveis no modo como o homem se vê e 
interage com o meio onde vive. De fato, quero dizer-lhe que a sociologia é um conjunto 
de conceitos, de técnicas e de métodos de investigação que foram produzidos paulati-
namente e sistematicamente para explicar a vida social. 
Nesse sentido, a sociologia é o resultado de uma tentativa de compreender situações 
sociais novas, tais como as que foram originadas pela então nascente sociedade capita-
lista. Dessa maneira, a sociologia nasce com a finalidade de expressar o pensamento do 
homem moderno, mas com a tarefa precípua de ir além do pensamento fundamental-
mente matemático dos séculos XIII – XV (até os dias atuais). As teorias de ordem social 
vieram preencher lacunas do saber social, seguindo-se após elas o surgimento de outras 
ciências naturais. A sociologia surge como resposta a problemas oriundos do desapa-
recimento lento, mas gradativo, da sociedade feudal e da consolidação da civilização 
capitalista,trata-se, portanto, da revolução industrial com seus modos de produção. 
Dada as transformações ocorridas pelo modo de produção e o surgimento de novas 
técnicas de reprodução em massa que acaba por modificar as relações de trabalho e 
consumo, exige-se que o cientista social reflita a respeito da sociedade, de suas trans-
formações, de suas crises e, especialmente, dos antagonismos de classe. Assim, se pode 
concluir que a sociologia é uma ciência fundamentalmente baseada na observação e 
no experimento, nos fatos que empiricamente podem ser provados, de modo que a 
observação e os fatos são fontes fundamentais à sociologia. Assim, o novo método da 
observação e da experimentação amplia infinitamente o poder do homem para com-
preender a sociedade em que vive. 
A você desejo bons estudos! 
APRESENTAÇÃO
FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS 
E SOCIOLÓGICOS
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
E DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIAS, SEUS IDEALIZADORES E 
PRINCIPAIS TEÓRICOS
15 Introdução 
16 Definição de Antropologia 
21 Divisão da Antropologia 
24 Definição de Sociologia 
32 Considerações Finais 
UNIDADE II
ANÁLISE ANTROPOLÓGICA
E SOCIOLÓGICA DO PROCESSO IDENTITÁRIO DO HOMEM CULTURAL E 
SOCIAL
39 Introdução 
39 Conceito de Cultura do Ponto de Vista Antropológico 
41 Homem, Ser Cultural e Social 
47 Identidade Cultural e Social 
51 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
O HOMEM E A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE
57 Introdução 
57 Fundamentos da Sociabilidade do Homem 
59 Organização Social 
61 Organização Política 
67 Considerações Finais 
UNIDADE IV
A PERSPECTIVA DA ANTROPOLOGIA E DA SOCIOLOGIA
NA CONTEMPORANEIDADE MUNDIAL E BRASILEIRA
73 Introdução 
74 Era da Globalização 
76 Globalização: Enigmas Históricos e Teóricos 
78 Realidade Social, Antropológica e seus Desafios Teóricos 
Contemporâneos 
82 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
SABERES E FAZERES ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS NAS 
DISTINTAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
89 Introdução 
90 Arte, da Perspectiva Antropológica e Social 
99 Educação, da Perspectiva Antropológica e Social 
102 Direito, da Perspectiva Antropológica e Social 
106 Considerações Finais 
109 CONCLUSÃO
111 REFERÊNCIAS
113 GABARITO
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Professor Me. Wanderly Alves de Sousa
O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
E DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIAS, 
SEUS IDEALIZADORES E PRINCIPAIS 
TEÓRICOS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Aprender como se estabeleceu o surgimento da antropologia como 
ciência. 
 ■ Refletir a respeito do surgimento da sociologia como ciência.
 ■ Conhecer os principais teóricos da sociologia.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Definição de antropologia
 ■ Divisão da antropologia
 ■ Definição de sociologia
INTRODUÇÃO
Bem-vindo(a) ao estudo dos fundamentos antropológicos e sociológicos. Tanto a 
antropologia como a sociologia proporcionam ao(à) estudante uma visão ampla 
e crítica da atividade do homem no mundo em que vive. Entender o homem com 
base em sua dimensão biológica e cultural ajuda-nos a estabelecer critérios para 
abalizar as diferenças culturais, religiosas, políticas, bem como a diferença racial 
existente no mundo. Isso é possível porque a antropologia é uma ciência que se 
mantém aberta ao diálogo com outras áreas do saber, tais como a física, a bio-
logia, a arqueologia, entre outras. Do ponto de vista da biologia, por exemplo, 
ao antropólogo será perfeitamente possível constatar que o grau de diferença da 
pigmentação da pele do indivíduo está diretamente relacionado com a região 
em que seu grupo social estabeleceu sua primeira moradia. Há, como atestam os 
pesquisadores, uma adequação genética do indivíduo ao lugar de sua habitação. 
Caro(a) aluno(a), note que a biologia por si só não dará ao antropólogo essas 
informações, o que deixa subentendido que o antropólogo lança mão também 
da arqueologia para determinar a origem de determinado grupo social e assim 
por diante. E por causa desse caráter dialogal da antropologia não será estranho 
ouvirmos falar em antropologia arqueológica, antropologia filosófica, antropolo-
gia física, antropologia forense e antropologia social entre modos antropológicos 
de investigação. Ao enveredar pelo campo da investigação antropológica, o estu-
dante tem diante de si um vasto campo de possibilidades em que pode buscar 
sua especialização. 
Devemos seguir nosso estudo apresentando o significado de antropologia, 
suas divisões possíveis e a definição de sociologia. 
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Introdução
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O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
DEFINIÇÃO DE ANTROPOLOGIA
A antropologia é a ciência que estuda o homem. Bem, é isso que a palavra antro-
pologia significa: anthropos – homem; logos – ciência; por consequência, estamos 
diante de uma ciência cujo objeto é o homem ou, se quisermos, poderíamos dizer 
que a antropologia é o discurso racional acerca da natureza humana. No entanto, 
essa afirmação não esclarece nada acerca dessa disciplina que se encontra entre 
as chamadas ciências humanas. Veja só, a psicologia, a sociologia, entre outras, 
também têm como objeto o estudo do homem, sendo assim, qual é a caracte-
rística fundamental da antropologia que a torna diferente dessas disciplinas? O 
que torna a antropologia uma disciplina especificamente voltada ao homem é a 
constante preocupação em defini-lo. Nesse sentido, a pergunta fundamental é: 
o que é o homem? 
Quem já viajou de avião ou subiu em um prédio bem alto pôde contemplar 
a beleza de uma paisagem ou de uma cidade sem se preocupar com os deta-
lhes graças ao ponto de vista panorâmico. Um sentimento semelhante pode ser 
experimentado por aqueles que olham para a história da humanidade a partir 
de um ponto de vista panorâmico. Com isso em mente, convido você a traçar 
uma linha histórica da humanidade para compreender, antes de mergulharmos 
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Definição de Antropologia
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na antropologia propriamente dita, que a história das ideias passa por períodos 
característicos ao seu tempo. 
Ao pensamos na história de uma perspectiva filosófica, podemos identifi-
car diferentes ênfases do pensamento humano em diferentes épocas da história 
da humanidade. E, nesse sentido, podemos identificar os seguintes períodos: 
Figura 1: Linha cronológica de uma perspectiva filosófica 
Fonte: o autor
COSMOLÓGICO 
A ênfase do pensamento do mundo antigo era essencialmente cosmológico. Isso 
não significa dizer que a atividade intelectual do homem tenha se limitado única e 
exclusivamente a uma abordagem cosmológica. Não! Esse foi um tema predomi-
nante de uma época específica da história humana. O pensamento grego ilustra 
bem isso. Na história da filosofia, verifica-se que a reflexão filosófica dos chamados 
pré-socráticos – filósofos antes de 
Sócrates – era predominantemente 
cosmológica. A preocupação des-
ses filósofos era a natureza como 
dado objetivo do conhecimento. 
Suas pesquisas tinham como obje-
tivo compreender a estrutura do 
universo e dos seus elementos 
constitutivos. Por causa disso, os 
pré-socráticos eram comumente 
chamados de físicos. 
Cosmológico Teocêntrico Antropológico
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O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
TEOCÊNTRICO 
Inicialmente, o pensamento grego reflete também uma ênfase teocêntrica, tal 
como se pode ver nas obras de Homero e de Hesíodo. Aqui, o mito precede a 
filosofia – ao discurso racional – e as cosmogonias de Homero e de Hesíodo 
explicam a constituição do mundo. Note, caro(a) aluno(a), que nesseperíodo, 
no período socrático e posteriormente a este, até chegar ao pensamento cris-
tão, não se fala em criação do mundo, mas sim em origem do mundo, em que a 
matéria que compõe o mundo é eterna, sempre existiu. 
Na origem do pensamento grego, a razão humana não ousa explicar causas 
e efeitos dos fenômenos observados. Nesse sentido, falamos em período mítico, 
em que os fenômenos da natureza eram explicados por um discurso mítico. 
Como sugere nossa imagem acima, sempre houve – na história da humanidade 
– o desejo do homem em ligar-se a algo que fosse superior a ele, é nesse sentido 
que se toma a palavra religião. 
ANTROPOLÓGICO
Mas no decorrer dos tempos, a ênfase do pensamento filosófico dos gregos 
começa a mudar da natureza, como objeto de estudo e da ênfase teocêntrica, 
para o homem, como sujeito e objeto de sua própria reflexão. Isso se deu gra-
ças aos, assim chamados, sofistas, que se encontram já no período denominado 
socrático; você já ouviu falar deles? Não?! Bem, os sofistas eram homens que 
tinham habilidades para ensinar a outras pessoas os mais variados assuntos. No 
período socrático, os sofistas são tidos como educadores profissionais que ensi-
navam a jovens, em especial, a retórica, que é a arte da persuasão, por pagamento. 
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Definição de Antropologia
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Com os sofistas, a preocupação maior parece ser 
com a educação do homem e sua relação com o 
âmbito social. 
A ênfase antropológica que é dada nesse perí-
odo atinge o ponto mais alto com Sócrates. Ele 
parte da famosa frase escrita no oráculo de Delfos: 
“Conhece-te a Ti mesmo”, como ponto funda-
mental de todo filosofar. Assim, quando paramos para pensar na história da 
filosofia em termos ainda que gerais, podemos identificar diferentes ênfases do 
pensamento humano em diferentes épocas: cosmológico, teológico e antropo-
lógico. Essas ênfases aparecem, desaparecem e voltam a reaparecer novamente 
com grande ímpeto em dado momento do processo histórico humano. 
De fato, no período da Idade Média, o foco da atenção foi teocêntrico, devido 
à grande desconfiança depositada única e exclusivamente na razão humana para 
explicar as causas dos fenômenos no mundo; o filosofar torna-se teologar. Já no 
período moderno, o homem volta-se para a reflexão antropológica, tornando-se 
ponto de partida da formulação e reformulação do pensamento. Assim, ainda 
que o homem reflita sobre a natureza das coisas, a despeito dos avanços na área 
tecnológica, o homem tem sido para si a sua maior preocupação. 
De fato, o surgimento da antropologia como ciência é um atestado do desejo 
insaciável que o homem tem de conhecer a si mesmo. O autoconhecimento tem 
como fim, como objetivo, definir o homem, tendo sempre a questão com a qual 
estamos às voltas: o que é o homem? 
Nesse particular, a influência de Kant – filósofo da era moderna – parece 
óbvia. Kant operou, o que ficou conhecido entre os filósofos modernos, o cha-
mado giro copernicano. Antes de Copérnico, o centro da especulação filosófica 
era o ser, de modo que a preocupação essencial da filosofia era essencialmente 
com a metafísica – por metafísica entendemos a investigação a respeito dos 
assuntos que estão para além da física. 
Com Kant, o centro da especulação filosófica passa a ser o modo como o 
homem pode conhecer. Nesse sentido, a epistemologia torna-se a preocupação 
central do filosofar. De acordo com o filósofo, os problemas filosóficos redu-
zem-se a quatro, a saber:
O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
1. O que podemos conhecer? Este seria o campo específico de uma teoria 
do conhecimento (epistemologia).
2. O que devemos fazer? Aqui, a pergunta ocupa-se com a ética.
3. O que podemos esperar? Aqui, a pergunta ocupa-se com o problema 
religioso.
4. O que é o homem? Este é o problema antropológico. 
Segundo Kant, todos os problemas filosóficos reduzem-se ao antropológico. 
Nesse sentido, o objetivo da filosofia seria o de proporcionar ao homem a pos-
sibilidade de conhecer-se adequadamente. De acordo com Kant (2006, p. 22): 
O ser humano que percebe que está sendo observado e que procuram 
examiná-lo, parecerá embaraçado (constrangido) e não pode se mos-
trar como é, ou finge e não quer ser conhecido como é. Mesmo quando 
só quer investigar a si mesmo, ele se encontra numa situação crítica, 
principalmente quando é tomado por uma afecção, estado que habi-
tualmente não admite fingimento, a saber, quando os móbiles da ação 
estão atuando, ele não se observa, e quando se observa, os móbiles es-
tão em repouso. Quando permanecem constantes, o lugar e as circuns-
tâncias temporais geram hábitos que são, como se diz, outra natureza e 
dificultam o juízo do homem acerca de si mesmo e de quem considera 
que é, porém mais ainda acerca de que conceito deve ter a respeito do 
outro com o qual mantém relação, pois quando muda a situação em 
que o ser humano é colocado por seu destino, ou em que se coloca a si 
mesmo quando se aventura, essa mudança dificulta muito a antropo-
logia a se elevar à condição de uma ciência propriamente dita. Por fim, 
não são precisamente fontes, mas meios auxiliares da antropologia: a 
história mundial, as biografias e até peças de teatro e romances. Pois 
ainda que a estes últimos não se atribua propriamente experiência e 
verdade, mas só ficção, e ainda que seja permitido exagerar os caracte-
res e as situações em que se colocam os homens, tal como aparecem em 
imagens de sonho, ainda, portanto, que aqueles nada pareçam ensinar 
para o conhecimento do ser humano, ainda assim os caracteres esboça-
dos por um Richardson ou por um Moliére devem ter sido tirados, em 
seus traços fundamentais, da observação do que os homens realmente 
fazem ou deixam de fazer, porque são de fato exagerados em grau, mas, 
quanto à qualidade, precisam estar de acordo com a natureza humana. 
Uma antropologia sistematicamente delineada e, todavia, popular (pela 
referência a exemplos que todo leitor possa por si mesmo encontrar), 
composta desde um ponto de vista pragmático, traz ao público leitor 
a vantagem de que, esgotando todas as rubricas sob as quais se pode 
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Divisão da Antropologia
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colocar esta ou aquela qualidade humana, observada na prática, lhe 
são dadas numerosas ocasiões e lhe são dirigidas numerosas exortações 
para tratar, como um tema próprio, cada qualidade particular, inse-
rindo a um item específico: com isso, na antropologia os trabalhos se 
dividem por si mesmos entre os amantes desse estudo e serão poste-
riormente reunidos num todo pela unidade do plano, promovendo-se 
e acelerando-se então o crescimento de uma ciência de utilidade geral. 
DIVISÃO DA 
ANTROPOLOGIA
A resposta à pergunta de Kant sobre o 
que é o homem, tal como falamos no 
tópico anterior, pode ser dada de dife-
rentes pontos de vistas, segundo Barrio 
(2014). Nesse sentido, podemos res-
pondê-la da perspectiva empírica. Isso 
significa que podemos chegar a conclu-
sões gerais a respeito do homem e sua 
natureza por meio da observação e, a 
partir disso, recompilar os dados reco-
lhidos e comparar as variantes físicas e 
culturais que podemos observar entre 
os diferentes grupos de homens. 
Kant foi um filósofo importante para o pensamento filosófico do século 
XVIII. Com ele, houve a nítida separação entre o que podemos pensar e aqui-
lo que podemos conhecer. Podemos conhecer todas as coisas que afetam 
nossos sentidos corporais, e sobre todas as outras, apenas podemos pensar, 
tais como: Deus, a imortalidade da alma, a origem do mundo e a liberdade 
do homem. 
Fonte: o autor 
ANTROPOLOGIA
Antropologia empírica
Antropologia física Antropologiacultural
Etnografia geral
Etnografia
Etnologia
Antropologia social
LinguísticaArqueologia
Antropologia filosófica
O SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Saiba, aluno(a), o homem pode ser estudado de diferentes perspectivas, 
nesse sentido, a antropologia contemporânea comporta várias divisões ou 
especializações. 
Figura 2: Divisão da antropologia
Fonte: adaptada de Barrio (2014, p. 22) 
Podemos falar, por exemplo, em antropologia física, que seria o estudo da espécie 
humana, suas origens, evolução e diferenciação em tipos raciais, contando com dis-
ciplinas auxiliares, como a antropometria, que estabelece critérios de classificação 
dos tipos raciais, e a paleontologia, que se ocupa do homem fóssil ou pré-histó-
rico. Indo um pouco além, a pergunta a respeito do que é o homem nos coloca 
na perspectiva da antropologia humanística e filosófica, que trata do homem a 
partir de seus costumes e diferentes modos de vida, como também de seu destino. 
Segundo Barrio (2014, p.23):
A antropologia, desde que se constituiu como saber organizado, de-
sempenhou tradicionalmente um papel unificador em muitas áreas 
da pesquisa científica, assim como em humanidades, e o pôde fazer 
porque é um conhecimento integral e integrador. As classificações es-
tritas de objetos de estudo foram muito frutíferas no desenvolvimento 
das ciências, mas, hoje em dia, cada vez há maior interesse por aquelas 
áreas nebulosas que se encontram nos limites das taxonomias clássicas 
(como o demonstra o desenvolvimento de ciências intermediárias: físi-
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co-química, bioquímica, astrofísica etc.). Do mesmo modo, o enfoque 
integral para estudar o homem exige que cada vez que se estude uma 
parte – sejamos conscientes: só é uma parte – ela seja posta em conexão 
com o resto. O conhecimento antropológico envolve o uso de técnicas 
e teorias de muitas disciplinas e, por sua vez, as técnicas e conceitos da 
antropologia possuem ramificações e consequências que se prolongam 
muito além dela.
Nesse sentido, ainda segundo Barrio (2014, p. 23), teríamos então: 
A etnolingüística, cujo tema central se apresenta como a dicotomia 
linguagem-cultura. A etnopsicologia e seu estudo das relações entre 
cultura versus personalidade (nome adotado por toda uma escola an-
tropológica). A etno-história: a mudança cultural, as aculturações su-
cessivas etc.
Do ponto de vista de uma antropologia filosófica, a antropologia reflete todas as 
preocupações do homem e de sua relação com o mundo em que vive. No entanto, 
uma antropologia filosófica é de natureza fundamentalmente especulativa, vol-
tando-se para os aspectos mais gerais da experiência do homem. Nesse sentido, 
sua justificação encontra-se na necessidade que temos em ter uma visão global 
do homem e de seus problemas. Uma visão global do homem e de seus pro-
blemas nos distancia de uma ciência cada vez mais especializada, que por sua 
natureza precisa realizar um recorte dessa visão global do homem. O que quero 
dizer, caro(a) aluno(a), é isto: quanto mais uma ciência é particularizada, tanto 
mais ela se torna abstrata em relação aos problemas do homem e da sociedade 
em que vive. Contrariamente, quanto mais uma ciência tem uma visão da totali-
dade do homem e de seus problemas, tanto mais concreto, autônomo, completo 
o homem se manifesta para essa ciência. 
Dada a possibilidade de uma antropologia filosófica, o que está em jogo aqui 
não é tanto o problema do homem em geral, mas o problema daquele homem 
concreto que vive em uma comunidade, que se encontra engajado na realidade, a 
qual fatidicamente constitui suas experiências pessoais. Pelas ciências particulares 
conhecemos e avançamos em muitas áreas, tais como: no campo tecnológico, no 
campo da medicina, entre outros. No entanto, deixamos de conhecer o homem 
em sua essência, não vemos seus feitos em sua totalidade, por isso ignoramos o 
real sentido do labor humano. 
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Nesse sentido, segundo Max Sheler (apud CASSIER, 1967, p. 40): 
Em nenhum outro período do conhecimento do humano o homem se 
tornou mais problemático para si mesmo do que em nossos dias. Dis-
pomos de uma antropologia científica, antropologia filosófica e de uma 
antropologia teológica que se ignoram entre si. Por conseguinte, já não 
possuímos nenhuma idéia clara e coerente do homem. A multiplicida-
de cada vez maior das ciências particulares, que se ocupam do estudo 
dos homens, antes confundiu e obscureceu do que elucidou nossa con-
cepção do homem. 
DEFINIÇÃO DE SOCIOLOGIA
A sociologia é a ciência que estuda a sociedade 
humana. Como ciência, nasce em função da neces-
sidade que o homem tem de compreender a si mesmo 
e o grupo no qual está inserido. Como se sabe, um 
dos percursores da sociologia foi Auguste Comte, 
filósofo positivista, que atribui o nome sociologia às 
pesquisas sobre os princípios universais do compor-
tamento social. Para ele, a sociedade só poderia ser 
convenientemente reorganizada por meio de uma 
completa reforma intelectual do homem. Para isso, 
propôs uma ciência estruturada em três pontos cen-
trais, segundo Barreto (2012, p. 27):
1) Essa ciência deve investigar as razões pelas quais o homem funda-
menta seu pensamento; a este procedimento Comte chamou de filosofia 
positiva ou pensamento positivo.
2) Fundamentar e classificar as ciências baseadas na filosofia positiva.
3) Reformar na prática as instituições, inclusive religiosas, através de 
uma determinação estrutural da Sociedade, dada pelo que ele chamou 
de Física Social e depois Sociologia. 
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Como queria Comte, o conhecimento advindo da ciência era a única forma de 
conhecimento verdadeiro. Foi com essa assertiva que ele divulgou o positivismo, 
concebido por ele como uma doutrina que buscava explicações para os fenô-
menos sociais, baseada na observação e não o idealismo, somada à ascensão da 
experiência sensível, o que para ele era o caminho para se chegar à verdadeira 
ciência. Ao longo do tempo, esse termo foi sendo apropriado por várias áreas 
do conhecimento fazendo com que servisse de premissa para muitas teorias. 
Deste modo, a sociologia, fruto da sociedade moderna, nasce para explicar 
o surgimento e as condições nas quais se tornou possível o desenvolvimento da 
sociedade industrial. Com esse intuito, Comte recorreu a conhecimentos oriun-
dos da Filosofia e da História. 
Segundo Costa (2010, p. 29): 
O desenvolvimento das bases científicas do estudo da sociedade huma-
na dependeu de fatores internos ao campo científico e de circunstân-
cias externas e históricas, tais como: a complexa relação social diante 
da industrialização, o colonialismo europeu e o contato entre diferentes 
civilizações. Devido a esses fatores, os primeiros teóricos do pensamen-
to sociológico preocuparam-se em justificar as diferenças e as desigual-
dades sociais e em estudar a ordem e o progresso da nova ordem social 
inaugurada pelo desenvolvimento industrial que levou à derrocada 
do artesanato e à submissão das atividades agrárias à manufatura. É 
verdade que alguns estudiosos admitiram uma atitude de otimismo 
diante da sociedade capitalista identificando os valores e os interesses 
da classe dominante como representativos do conjunto da sociedade, 
deixando de lado preocupações como os conflitos e as lutas de classes, 
mas também é verdade que foi nos pressupostos teóricos da Sociolo-
gia que o proletariado buscou auxílio para encampar a luta prática na 
sociedade de classes. É nesse contexto que a Sociologiavincula-se ao 
socialismo e a nova teoria crítica da sociedade passa a estar ao lado dos 
interesses das classes trabalhadoras. 
Ainda conforme Costa (2010, p. 30):
Toda uma ordem social baseada nos valores de uma cultura senhoril e 
rural entrou em declínio e foi suplantada por uma economia urbana, 
industrial e burguesa, voltada para os privilégios da classe emergente. O 
surgimento dessa nova ordem social exigiu que filósofos sociais dessem 
explicações racionais para os problemas oriundos dessa nova ordem. 
Com esse objetivo, o positivismo buscou delimitar o objeto, a estabe-
lecer conceitos, a elaborar uma metodologia de investigação e definir 
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em que deveria consistir o estudo científico da sociedade, de modo que 
foi possível instituir o lugar próprio para ciência social. No interior de 
uma discussão acerca da natureza da ciência social, quando falamos 
em “positivismo” quer-se atribuir a esse nome, originado do adjetivo 
positivo o significado de certo seguro, definitivo. Isto quer dizer então 
que essa escola filosófica aposta todas as fichas no poder dominante e 
absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob 
forma de leis, que seriam a base da regulamentação da vida do homem, 
da natureza e do próprio universo. Os teóricos sociais, devido à grande 
influência das ciências naturais, defendiam que a sociologia e a física 
só eram diferentes quanto à sua essência, nesse sentido, a sociedade 
era concebida como um organismo constituído de partes integradas e 
coesas, que funcionavam harmonicamente segundo um modelo físico 
ou mecânico. 
Ora, se Auguste Comte foi um dos percussores que atribuiu o nome sociologia 
às pesquisas sobre os princípios universais do comportamento social, será com 
Émile Durkheim, na segunda metade do século XIX, que os estudos no âmbito 
da sociologia relacionar-se-ão diretamente com os fatos, deixando para trás a 
especulação dos teóricos sociais de seu tempo. Durkheim preocupou-se constan-
temente com as questões de ordem social, por isso ele ocupou-se em estabelecer 
qual era o objeto de estudo da sociologia assim como indicar o seu método de 
investigação. Com efeito, com Durkheim, a sociologia penetrou o universo aca-
dêmico ganhando delimitações próprias de uma disciplina universitária. 
Vale dizer, caro(a) aluno(a), que a obra durkheiminiana nasce em período 
de crises econômicas cada vez mais constantes, de modo que o desemprego e a 
miséria provocaram o acirramento das lutas de classe. Operários lançavam mão 
da greve como instrumento de luta para impor-se diante das dificuldades. Não 
precisamos recuar muito no tempo para entendermos como eventos de uma 
greve são tão persuasivos a conduzir teóricos a pensarem no homem na comu-
nidade em que vivem. 
Vivendo nessa época em que as teorias socialistas ganhavam terreno, 
Durkheim não poderia ignorá-las, tanto é que em certo sentido, suas ideias 
constituíam a tentativa de fornecer uma resposta às formulações socialistas. 
Discordava, sobretudo, das teorias socialistas quanto à ênfase atribuída aos fatos 
econômicos para diagnosticar a crise das sociedades europeias. Para Durkheim 
(2014), a origem dos problemas sociais não era de natureza econômica, mas 
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originavam-se da fragilidade dos princípios morais da sociedade para orientar 
adequadamente o comportamento individual.
Com essa preocupação no horizonte de suas reflexões, Durkheim buscou 
estabelecer um objeto de estudo e um método para a sociologia. Dedicou-se, 
então, a essa questão, salientando que nenhuma ciência poderia constituir-se 
sem uma área própria de investigação. A sociologia deveria ocupar-se com os 
fatos sociais que se apresentavam aos indivíduos como exteriores e coercitivos. 
Referindo-se aos grandes sociólogos de seu tempo, Durkheim (2014, p.10) 
nos diz que: 
(...) raramente saíram das generalidades sobre a natureza das socieda-
des, sobre as relações do reino social e do reino biológico, sobre a mar-
cha geral do progresso; mesmo a volumosa sociologia de Spencer quase 
não tem outro objeto senão mostrar como a lei da evolução universal 
se aplica às sociedades. 
Durkheim compreendeu que para tratar da natureza das sociedades não são 
necessários procedimentos especiais e complexos. Pelo contrário, será suficiente 
pesar os méritos comparados da dedução e da indução e fazer uma inspeção 
sumária dos recursos mais gerais de que dispõe a investigação sociológica. O 
que ele propõe é 
tomar na observação dos fatos, a maneira como os principais proble-
mas devem ser colocados, o sentido no qual as pesquisas devem ser di-
rigidas, as práticas especiais que podem permitir chegar aos fatos, as re-
gras que devem presidir a administração das provas (...) (DURKHEIM, 
2014, p.10). 
Essa postura mais factual de Durkheim deve-se à sua formação judaica, que favo-
recia a análise dos laços comunitários e da coesão social. Motivado por conflitos 
pelos quais atravessava a Europa, Durkheim dedicou-se a um vasto repertório de 
temas que vão da emergência do indivíduo à origem da ordem social, da moral 
ao estudo da religião, da vida econômica à análise da divisão social do trabalho. 
Para isso, Émile Durkheim valeu-se da história, da etnografia (estudo descritivo 
das diversas etnias), do estudo das leis, da estatística e da filosofia. Herdeiro tam-
bém do positivismo, dedicou-se a constituir o objeto da sociologia e as regras 
para desvendá-lo. A obra mais importante nesse sentido foi As Regras do Método 
Sociológico, na qual o autor procurou instituir a fronteira entre a sociologia e as 
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demais ciências, dando-lhe autonomia e objetividade. Nesta obra, Durkheim 
definiu o que entendia por fatos sociais.
Segundo ele (2014, p.10), fatos sociais
consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao 
indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do 
qual esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam se 
confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em represen-
tações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos, os quais só têm 
existência na consciência individual e através dela. Esses fatos consti-
tuem, portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reser-
vada a qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém; pois é cla-
ro que, não tendo o indivíduo por substrato, eles não podem ter outro 
senão a sociedade, seja a sociedade política em seu conjunto, seja um 
dos grupos parciais que ela encerra: confissões religiosas, escolas polí-
ticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, é a eles 
só que ela convém; pois a palavra social só tem sentido definido com a 
condição de designar unicamente fenômenos que não se incluem em 
nenhuma das categorias de fatos já constituídos e denominados. Eles 
são, portanto, o domínio próprio da sociologia. 
Durkheim (2014, p.11) resumidamente diz que: 
É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer 
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fa-
zer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, 
possui uma existência própria, independentemente de suas manifesta-
ções individuais. 
Vejamos então as características dos fatos sociais, tal como Costa (2014, online) 
interpreta: 
a) Coerção
Para Durkheim (apud COSTA, 2014, online), os fatos sociais distinguem-se dos 
fatos orgânicos ou psicológicos por se imporem ao indivíduo como uma pode-
rosa força coercitiva à qual ele deve, obrigatoriamente, se submeter. A adoção 
de um idioma, a organização familiar e o sentimento de pertencer a uma nação 
são manifestaçõesdo comportamento humano dotadas dessa força impositiva 
sobre o indivíduo, força essa que Durkheim denominou coerção social. A força 
coercitiva dos fatos sociais se manifesta pelas “sanções legais” ou “espontâneas” 
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a que o indivíduo está sujeito quando tenta rebelar-se contra ela. “Legais” são 
as sanções prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se define a 
infração e se estabelece a penalidade correspondente. “Espontâneas” são as que 
afloram como resposta a uma conduta considerada inadequada por um determi-
nado grupo ou por uma sociedade. Multas de trânsito, por exemplo, fazem parte 
das coerções legais, pois estão previstas e organizadas pela legislação que regula 
o tráfego de veículos e pessoas pelas vias públicas. Já os olhares de reprovação 
de que somos alvo quando comparecemos a um local com a roupa inadequada 
constituem sanções espontâneas. Embora não codificados em lei, esses olhares 
têm o poder de conduzir o infrator para o comportamento esperado? Durkheim 
afirma (2014, p.10) que, nesses casos,
[...] a coerção é menos violenta; mas não deixa de existir. Se não me 
submeto às convenções mundanas; se, ao me vestir, não levo em con-
sideração os usos seguidos em meu país e na minha classe, o riso que 
provoco, o afastamento em que os outros me conservam, produzem, 
embora de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma pena 
propriamente dita.
O comportamento desviante em um grupo social pode não ter penalidade pre-
vista por lei, mas o infrator pode ser espontaneamente punido pelo grupo na 
medida em que sua ação fere determinados valores e princípios. A reação nega-
tiva da sociedade a certas atitudes ou comportamentos é, muitas vezes, mais 
intimidadora do que a lei.
A “educação” – entendida de forma geral, ou seja, a educação formal e a infor-
mal – desempenha, segundo Durkheim, uma importante tarefa nessa adequação 
dos indivíduos à sociedade em que vivem, a ponto de, após algum tempo, as 
regras estarem internalizadas nos membros do grupo e transformadas em hábi-
tos. O uso de uma determinada língua ou o gosto por determinada comida são 
internalizados no indivíduo, que passa a considerar tais hábitos como pessoais.
b) Exterioridade
A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam indepen-
dentemente da vontade ou adesão consciente dos indivíduos, sendo, assim, 
“exteriores” a eles. Ao nascer, já encontramos regras sociais, costumes e leis que 
somos coagidos a aceitar por meio de mecanismos de coerção social, como a 
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educação. Não nos é dada a possibilidade de opinar ou escolher, sendo inde-
pendentes de nós, de nossos desejos e vontades. Por isso, os fatos sociais são, ao 
mesmo tempo, coercitivos e dotados de existência exterior às consciências indivi-
duais. Podemos experimentar a exterioridade dos fatos sociais nas formas de agir 
e pensar que não adotaríamos de modo espontâneo ou como resultado apenas 
de nossa vontade, por exemplo, ao nos sentirmos pressionados a obedecer nosso 
lugar em uma fila quando nosso desejo nos impele a passar os outros para trás.
c) Generalidade
Além da coerção e da exterioridade, é possível distinguir fatos sociais porque eles 
não se apresentam como fatos isolados. Eles são dotados de generalidade, envol-
vem muitos indivíduos e grupos ao longo do tempo, repetem-se e difundem-se. 
Permitem, por isso, uma grande sondagem como a que Durkheim desenvolveu 
para estudar o suicídio, fato social dotado de grande generalidade. A assiduidade 
com que determinados fatos ocorrem na sociedade indica a sua importância e a 
necessidade de estudá-los, assim como torna a estatística uma das ferramentas 
que garante ao sociólogo a objetividade e o controle. É pela generalidade que os 
fatos sociais exibem a sua natureza coletiva, sejam eles fatos observáveis, como 
o modelo das habitações de um grupo, sejam 
fatos morais, como os valores e as crenças.
A formação e o desenvolvimento do 
conhecimento sociológico crítico e negador 
da sociedade capitalista, sem dúvida, ligam-
-se à tradição do pensamento socialista, que 
encontra em Marx e Engels a sua elaboração 
mais expressiva. Esses pensadores não esta-
vam preocupados em fundar a sociologia como 
disciplina específica. A rigor, não encontramos 
neles a intenção de estabelecer fronteiras rígi-
das entre os diferentes campos do saber, tão ao 
gosto dos “especialistas” de nossos dias. Eles, 
em suas obras, interligavam disciplinas como 
antropologia, política, economia, procurando 
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oferecer uma explicação da sociedade como um todo, colocando em evidência 
as suas dimensões globais. Seus trabalhos não foram elaborados nos bancos das 
universidades, mas frequentemente no calor das lutas políticas.
A formação teórica do socialismo marxista constitui uma complexa operação 
intelectual, na qual são assimiladas de maneira crítica as três principais correntes 
do pensamento europeu do século passado, tais como o socialismo, a dialética 
e a economia política. O socialismo antes do marxismo, também denominado 
socialismo utópico, constituía uma clara reação à nova realidade implantada 
pelo capitalismo, principalmente quanto às suas relações de exploração. Marx 
e Engels, ao tomarem contato com a literatura socialista da época, assinalaram 
as brilhantes ideias de seus antecessores sem deixarem de elaborar algumas crí-
ticas a esse socialismo, a fim de dar-lhe maior consistência teórica e efetividade 
prática. Assinalavam que as lacunas existentes nesse tipo de socialismo possu-
íam uma relação com o estágio de desenvolvimento do capitalismo da época, 
uma vez que as contradições entre burguesia e proletariado não se encontravam 
ainda plenamente amadurecidas.
Atuavam os “utópicos” como representantes dos interesses da humanidade, 
não reconhecendo em nenhuma classe social o instrumento para a concretiza-
ção de suas ideias.
A filosofia alemã da época de Marx encontra em Hegel uma de suas mais 
expressivas figuras. Como se sabe, a dialética ocupava posição de destaque em 
seu sistema filosófico. A tomarem contato com a dialética hegeliana, eles ressalta-
ram o caráter revolucionário, uma vez que o método de análise de Hegel sugeria 
que tudo o que existia, devido às suas contradições, tendia a extinguir-se. A crí-
tica que eles faziam à dialética hegeliana se dirigia ao seu caráter idealista. Assim, 
procuraram “corrigi-la”, recorrendo ao materialismo filosófico de seu tempo. A 
intenção era conferir à sociologia uma reputação científica encontrando em Max 
Weber um marco de referência. Durante toda sua vida, insistiu em estabelecer 
uma clara distinção entre o conhecimento científico, fruto de cuidadosa inves-
tigação, e os julgamentos de valor sobre a realidade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para finalizar, poderíamos supor que a busca de uma neutralidade científica 
levou Weber a estabelecer uma rigorosa fronteira entre o cientista, homem do 
saber, das análises frias e penetrantes; e o político, homem de ação e de decisão, 
comprometido com as questões práticas da vida. Essa posição de Weber, que 
tantas discussões tem provocado entre os cientistas sociais, constitui, ao isolar 
a sociologia dos movimentos revolucionários, um dos momentos decisivos da 
profissionalização dessa disciplina. A ideia de uma ciência social neutra seria um 
argumento útil e fascinante para aqueles que viviam e iriam viver da sociologia 
como profissão. A sociologia por ele desenvolvidaconsiderava o indivíduo e a 
sua ação os pontos-chave da investigação. Com isso, ele queria salientar que o 
verdadeiro ponto de partida da sociologia era a compreensão da ação dos indiví-
duos e não a análise das “instituições sociais” ou do “grupo social”, tão enfatizados 
pelo pensamento conservador.
Existe uma clara distinção entre o conhecimento científico, fruto de cuida-
dosa investigação, e os julgamentos de valor sobre a realidade?
33 
1. Qual é a característica essencial que distingue estes três períodos: cosmológico, 
teocêntrico e antropológico?
2. Qual é o significado da palavra antropologia? 
3. O que é sociologia? 
4. O que é “fato social”?
5. Comente: em que consiste a “força coercitiva dos fatos sociais”?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marx sabia que a incompatibilidade entre o pensamento político clássico e as modernas 
condições políticas repousa no fato consumado das Revoluções Francesa e Industrial, 
que, em conjunto, elevaram o trabalho, tradicionalmente a mais desprezada de todas as 
atividades humanas, ao grau máximo de produtividade, e pretenderam ser capazes de 
reafirmar o ideal de liberdade sob condições inauditas de igualdade universal. A questão 
era colocada apenas superficialmente nas asserções idealistas de igualdade do homem 
e da dignidade inata de todo ser humano, e era respondida apenas de modo superficial 
por meio da concessão do direito de voto aos operários. Não se tratava de um problema 
de justiça que pudesse ser resolvido concedendo à nova classe de trabalhadores o seu 
direito, após que a velha ordem do suum cuique fosse automaticamente restaurada e 
funcionasse como no passado. Há o fato da incompatibilidade básica entre os conceitos 
tradicionais, que fazem do trabalho o símbolo da sujeição do homem à necessidade, e a 
época moderna, que viu o trabalho elevado para expressar a liberdade positiva do ho-
mem, a liberdade da produtividade. É do impacto do trabalho, isto é, da necessidade no 
sentido tradicional, que Marx visou salvar o pensamento filosófico, destinado pela tradi-
ção a ser o núcleo de todas as atividades humanas. Entretanto, ao proclamar que “não se 
pode abolir a Filosofia sem realizá-la”, começou por sujeitar também o pensamento ao 
inexorável despotismo da necessidade à “lei férrea das forças produtivas na sociedade”.
A desvaloração dos valores de Nietzsche, como a teoria do valor-trabalho de Marx, sur-
ge da incompatibilidade entre as “ideias” tradicionais, que haviam sido utilizadas como 
unidades transcendentes para identificar e medir pensamentos e ações humanas, e a 
sociedade moderna, que dissolvera todas essas normas em relacionamentos entre seus 
membros, estabelecendo-as como “valores” funcionais. Valores são bens sociais que não 
têm significado autônomo, mas, como outras mercadorias, existem somente na sempre 
fluida relatividade das relações sociais e do comércio. Por meio dessa relativização, tanto 
as coisas que o homem produz para seu uso como os padrões conforme os quais ele 
vive sofrem uma mudança decisiva: tornam-se entidades de troca, e o portador de seu 
“valor” é a sociedade e não o homem que produz, usa e julga. O “bem” perde seu caráter 
de ideia, padrão pelo qual o bem e o mal podem ser medidos e reconhecidos; torna-se 
um valor que pode ser trocado por outros valores, tais como: eficiência ou poder. O 
detentor de valores pode recusar-se a essa troca e se tornar um “idealista” que estima o 
valor do “bem” acima do valor da eficiência; isso, porém, em nada torna o “valor” do bem 
menos relativo. 
O termo “valor” deve sua origem à tendência sociológica que, mesmo antes de Marx, es-
tava inteiramente explícita na ciência relativamente nova da Economia clássica. Marx era 
ainda cônscio do fato, esquecido desde então pelas Ciências Sociais, de que ninguém 
“visto em isolamento produz valores”, de que os produtos “tornam-se valores somente 
em seu relacionamento social”. Sua distinção entre “valor de uso” e “valor de troca” reflete 
a distinção entre coisas tais como os homens as utilizam e as produzem e seu valor na 
sociedade, e sua insistência na maior autenticidade dos valores de uso, sua frequente 
descrição do surgimento do valor de troca como uma espécie de pecado original no 
princípio da produção mercantil reflete seu reconhecimento, desamparado e como que 
35 
cego, da inevitabilidade de uma iminente “desvalorização de todos os valores”. O nas-
cimento das Ciências Sociais pode ser localizado no instante em que todas as coisas, 
tanto “ideias” como objetos materiais, equacionavam-se a valores, de tal modo que tudo 
derivasse sua existência da sociedade e fosse a ela relacionado, o bonum e o malum 
não menos que os objetos tangíveis. Na disputa sobre se a fonte de todos os valores é 
o capital ou trabalho, geralmente percebe-se que em nenhuma ocasião anterior à in-
cipiente Revolução Industrial admitiu-se serem os valores, e não as coisas, o resultado 
da capacidade produtiva do homem, ou relacionavam-se todas as coisas que existem à 
sociedade e não ao homem “visto em isolamento”. A noção de homens socializados, cuja 
emergência Marx projetou na sociedade sem classes futuras, é de fato o pressuposto 
subjacente tanto à Economia clássica como à marxista (ARENDT, 2000, p.61).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Germinal
Diretor: Claude Berri
Ano: 1993
Sinopse: A respeito do que foi a Revolução Industrial, 
assista ao fi lme “Germinal” baseado no romance de 
Émile Zola. Nele, você perceberá o contexto que 
envolve a referida revolução.
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Professor Me. Wanderly Alves de Sousa
ANÁLISE ANTROPOLÓGICA
E SOCIOLÓGICA DO PROCESSO 
IDENTITÁRIO DO HOMEM 
CULTURAL E SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar o conceito de cultura. 
 ■ Discutir a relação entre antropologia e cultura. 
 ■ Avaliar a relação entre sociologia e cultura. 
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Conceito de cultura do ponto de vista antropológico 
 ■ Homem, ser cultural e social 
 ■ Identidade cultural e social 
INTRODUÇÃO
O conceito de cultura é o mais importante conceito da antropologia, assim como 
das ciências sociais. Também é uma das noções mais complexas que encontramos 
nas ciências humanas, pois não há acordo entre os especialistas no assunto sobre 
o que seja cultura. Devido ao seu caráter polissemântico, o termo cultura recebe 
três significados e três usos principais, a saber: elitista, pedagógico e antropo-
lógico. No primeiro sentido, cultura significa uma grande quantidade de saber; 
no segundo sentido, indica educação recebida durante a vida; no terceiro, cul-
tura significa o conjunto de costumes. 
Devemos ter em mente que todo e qualquer conceito de cultura surge a partir 
de uma determinada cultura, como veremos. Assim, se temos inúmeras defini-
ções para o conceito de cultura, é porque há inúmeras culturas informando sobre 
a sua própria formulação. O conceito de cultura forma, com a noção de natureza, 
uma das grandes oposições do quadro do pensamento das ciências sociais. Mais 
do que vê-las delimitando espaços opostos mutuamente excludentes, é interes-
sante e oportuno tratá-las como complementares, ou seja, ambas são limites de 
um sistema que hierarquiza e ordena uma multiplicidade de elementos que se 
situam entre dois extremos e se articulam de maneira dinâmica. Muitos desses 
sentidos tendem a revelar algo de nossa sociedade e até de nós mesmos. Não é 
incomum pensarmos a antropologia e o outro como um grande espelho pelo 
qual podemos nos ver. É isso que buscaremos expor a seguir.
CONCEITO DE CULTURA DO PONTO DE VISTA 
ANTROPOLÓGICO
Como dissemos, no sentido elitista, cultura significa uma grande quantidade 
de saber, assim, quando falamos que certa pessoa sabe muito de antropologia, 
de filosofia, de sociologia, nesse sentido, dizemos que essa pessoa sabe muito 
a respeito de quase tudo. Caro(a) estudante, aposto que você já ouviu alguém 
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Introdução
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falar desse modo: conheço 
certa pessoa que possui vasta 
cultura científica, filosófica, 
artística, literária etc. Diante 
desse cenário, fala-se: fulano 
é “muito culto”. No sentido 
pedagógico, cultura indica a 
educação, a formação que a 
pessoa teve ao longo de sua 
vida, trata-se do cultivo do homem, isto é, do processo por meio do qual o homem 
chega à plena maturação e realização de sua personalidade. 
No sentido antropológico – e acredito que esse sentido nos interessa muito 
– cultura significa o conjunto de costumes, técnicas e valores que caracterizam 
um grupo social, uma tribo, um povo, uma nação. Colocado isso, sabemos agora 
que essa indefinição acerca da noção da palavra nos informa bastante sobre o 
próprio conceito. Ao contrário do que podemos pensar, quando articulamos a 
ideia de cultura, surgem inúmeros sentidos e significados para ela. É por isso 
que dizemos que cultura assume uma variedade de sentidos. 
Em todas as áreas do conhecimento, cada vez mais a ideia, noção ou con-
ceito de cultura tem sido vista como uma forma de pensarmos a diferença entre 
os homens ao mesmo tempo em que pensamos sua unidade. Em geral, estamos 
falando de diferenças em todos os planos do vir a ser do homem, por exemplo, 
formas de existir, fazer, pensar, ser e sentir. 
São vários os sentidos atribuídos à palavra cultura. Em alguns momentos, 
nos imaginamos sujeitos portadores de cultura, em outros, somos acusados de 
não termos cultura, como se isso significasse que não temos modos, costumes, 
Estado, educação, conhecimento, refinamento, acesso ao campo das artes, letras, 
teatro e ciência, enfim, nos dias atuais, acesso à informação. Cultura diz respeito 
a muito mais do que isso que acabamos de enumerar.
Mas é possível uma pessoa, grupo ou mesmo uma sociedade inteira ser despro-
vida de cultura? Do ponto de vista da antropologia, isso não é possível. O homem 
só se torna homem à medida que se torna membro de uma sociedade e interna-
liza códigos ou formas de agir/ser no mundo. Então, fique tranquilo(a)! Não há 
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como um membro de qualquer sociedade não ter ou estar inserido em uma rede 
de sentidos e significados que chamamos de cultura, afinal, você é sujeito dela em 
qualquer um de seus aspectos, e eles são muitos. Pode ter certeza que todos nós 
somos portadores de cultura à medida que fomos socializados nos princípios mais 
gerais que nos tornam membros de um grupamento social. Nenhuma pessoa é 
plenamente socializada em toda a cultura de sua sociedade. Isso nos informa o 
quanto somos dependentes de outros sujeitos para vivermos em uma sociedade.
Nós compartilhamos alguns códigos simbólicos, mas não todos os códigos, 
afinal, a vida social nas sociedades modernas é bastante complexa. Tais códigos 
e sua interpretação permitem-nos chegar a acordos razoáveis com outros sujei-
tos, sobre o mundo e alguns de seus sentidos. Há exemplos para isso que estamos 
falando? Sim, com certeza. Por exemplo: àquela partida de futebol que assisti-
mos pela televisão ou mesmo no estádio, não se trata de um evento irracional, 
absurdo e incompreensível para seus participantes ou para seus expectadores. 
Pelo contrário, assistir a uma partida de futebol pode nos fazer compreender um 
pouco ou muito do que pensamos ser e do que somos capazes de fazer quando 
o que está em disputa é muito mais do que uma simples vitória. 
HOMEM, SER CULTURAL E SOCIAL 
Antes do século XVIII, o problema cultural 
coincidia fundamentalmente com o peda-
gógico. Isto é, até a chegada do período que 
conhecemos como iluminismo, a cultura 
era concebida essencialmente como pai-
deia, como formação da pessoa e não como 
estrutura fundamental da sociedade. Nesse 
sentido, o problema cultural era tratado como 
exclusivamente um problema antropológico, 
como um problema da educação do homem. 
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Caro(a) aluno(a), a educação é uma exigência própria da natureza do homem, 
porque ele nasce com ilimitadas capacidades de agir, no entanto, não tem a habi-
lidade necessária para realizar qualquer ação. O homem deve, pois, aprender 
com o outro como exercer suas capacidades fundamentais, tais como: alimen-
tar, caminhar, falar, ler, escrever e trabalhar. 
Nesse sentido, poderíamos dizer que o fenômeno da educação é tipicamente 
humano. Dado que somente o homem pode e deve educar-se. Assim, comparativa-
mente com o mundo dos animais irracionais, a estes é possível apenas adestrá-los. 
O animal é um ser já especializado desde seu nascimento, um ser dotado ins-
titivamente de determinadas habilidades e somente destas. Contrariamente, o 
homem está inicialmente privado de qualquer especialização, mas possui a capa-
cidade de adquirir, por meio da educação, da aprendizagem, as especializações 
mais variadas. Dada essa capacidade em especializar-se mediante a educação, 
o homem pode individualizar-se, tornar-se um eu, adquirir uma personalidade 
exclusivamente sua que está em contínua evolução e maturação. 
Antes de prosseguir, quero destacar aqui três pontos importantes da educa-
ção do homem: o primeiro diz respeito ao pessoal, a educação deve promover 
ao educando o conhecimento de si mesmo, o conhecimento de suas habilidades 
para desenvolver-se como indivíduo; o segundo diz respeito ao social, porque 
a educação envolve eminentemente uma relação interpessoal: educador e edu-
cando; o terceiro diz respeito à cultura propriamente dita, uma vez que a educação 
deve transmitir à pessoa valores culturais elaborados pela humanidade ao logo 
de sua história no mundo. 
Do ponto de vista da Antropologia e da Sociologia, é a partir do conceito de 
cultura que podemos entender o homem como ser cultural e social, inserido em 
uma comunidade, sendo esta, por sua vez, dotada de cultura. O homem, inde-
pendentemente de sua base biológica, acaba detendo um componente cultural 
e seu comportamento é essencialmente influenciado por ele. Para entender esse 
homem, há que se entender também suas interações, seja com a natureza, com 
os outros homens, seja com o grupo a que pertence, pois é o seu grupo quem 
dita as regras de convívio social. 
Ao nascer, o homem começa o seu processo de socialização, ou seja, a inte-
riorização dos elementos socioculturais que lhe permitem adaptar-se à sociedade, 
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vencendo os obstáculos das situações novas e amadurecendo a sua maneira de 
ser e de estar no mundo. O processo de socialização, nesse sentido, sedimenta 
no novo homem ou no homem novo os modelos de comportamentos anterior-
mente definidos e aceitos.
Se por um lado temos os indivíduos que aceitam a realidade como ela é e 
aprendem a conviver, por outro, temos os indivíduos inconformados e que não 
aceitam as regras como elas são, não aceitam “a vida como ela é” e, por isso, tor-
nam-se objeto de crítica, mas, ainda assim, revelam-se a base da mudança social. 
É esse tipo de minorias que, resistindo à pressão social para o conformismo e 
obediência, consegue estabelecer condições para o progresso, na medida em que 
influencia, para um lado ou para o outro, grupos existentes em cada sociedade, 
e assim o homem torna-se um ser cultural e social.
É aprendendo e produzindo formas de viver e conviver que o ser humano 
incorpora, reelabora e reflete a língua, a culinária, a estética, a vestimenta, as 
artes, a forma de morar, a religião, dentreoutras expressões culturais. Com o pas-
sar dos anos, porém, acabamos escolhendo se aquela forma de vida é de fato a 
que queremos ou vamos viver de outra forma, podendo até encabeçar um movi-
mento reconhecido como contracultura.
O que é contracultura? Para entendermos o que é contracultura, tomemos como 
exemplo a cultura gótica. Segundo Ianni: 
Os Emos – gênero musical que se estabeleceu sob forte influência nor-
te-americana em meados de 2003 que influenciou a moda, a música e 
o comportamento dos adolescentes. Os adolescentes reconhecidos por 
cultivar a cultura da rebeldia, da irreverência e indisciplina têm nos 
Emos pessoas com comportamento eminentemente emotivo e toleran-
A palavra pedagogia é de origem grega e significa: arte de guiar a criança. 
Modernamente, nos referimos a essa palavra como sinônimo de ciência da 
educação.
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te cujo visual consiste em geral em trajes pretos ou listrados, tênis, ca-
belos coloridos e franjas caídas sobre os olhos. Por certo, movimentos 
como esses são encontrados em várias partes do mundo, e que, não 
por isso, deixam de ser julgados, deixam de ser vistos sob a ótica do 
observador, a partir dos valores do observador, como um fenômeno 
estranho, como algo que vai de encontro a sua cultura, a sua forma de 
pensar, de realizar, de se portar. A esse “estranhamento”, a esse julga-
mento, a Antropologia denomina etnocentrismo, que nada mais é do 
que o ato de analisar o outro ou sua sociedade a partir dos meus valores 
e, consequentemente, de minha sociedade.
A Antropologia e a Sociologia procuram definir as várias relações que surgem na 
sociedade, em meio às quais fica cada vez mais difícil e complicado determinar 
quem é quem e qual o seu papel dentro do todo social. Assim, buscar respostas 
para entendermos o que somos a partir da imagem refletida pelo “outro” é aten-
tar para o fato de que estamos situados na fronteira de vários mundos sociais e 
culturais, ora fazendo ligações entre eles, ora impedindo que o diferente se torne 
comum aos nossos olhos.
Pensar a relação indivíduo e sociedade em uma tribo indígena, em um país 
miserável, em um país subdesenvolvido ou mesmo em um país de primeiro 
mundo nos ajuda a alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o 
que, afinal de contas, nos torna seres singulares e humanos. Entretanto, não se 
pode negar que cada um desses recortes tem dentro de si suas particularidades, 
seus diferenciais, além do poder das circunstâncias. 
Como a sociedade é composta de indivíduos, necessário se faz centrar-se 
no indivíduo. E acredito que seria muito significativo tentar problematizar o 
papel do indivíduo, restituindo-lhe seu caráter ativo, mutável, inconstante e de 
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alteridade. Levar em conta o vínculo existente entre as maneiras de sentir, de se 
comportar, de aceitar, de negar, de ver, de ouvir, é um exercício bastante perti-
nente, principalmente se o que estiver em jogo for o entendimento da relação 
entre o indivíduo e a sociedade.
Diante da crescente industrialização e da consequente troca do homem pelas 
máquinas, diante das exigências cada vez mais rígidas de aperfeiçoamento e 
especialização, diante dos novos e disponíveis meios de comunicação, das novas 
doenças sociais, do baixo salário, da carestia, dos impostos por vezes abusivos, 
das epidemias, da liberdade sexual, do uso abusivo das drogas, enfim, diante 
de tantos problemas sociais, fica mais fácil conceber as formas de diferenciação 
social e suas implicações. Não é verdade?
A procura do entendimento entre tais diferenciações e implicações faz ruir 
a barreira entre a Antropologia e a Sociologia. Segundo Costa (2010, p. 166):
A Antropologia e a Sociologia procuram redefinir as múltiplas relações 
que emergem na sociedade, em meio às quais fica cada vez mais difícil 
definir quem sou eu e quem é o outro, o que é tradicional ou efetiva-
mente moderno, aquilo que é globalizado e o que é regional.
De qualquer maneira, perduram certas práticas de pesquisa mais próximas de 
uma ou de outra ciência. Enquanto métodos de pesquisa de massa se desenvol-
vem na investigação das diferenças regionais entre fenômenos mundiais – como 
desemprego e miséria –, as análises minuciosas da Antropologia procuram iden-
tificar nessa sociedade tecnológica e informacional os nichos de resistência e, 
como sempre, de manifestações de alteridade.
Mas como entender a análise sociológica e antropológica dos homens e da 
sociedade sem que se incorpore a história? Do mesmo modo que não podemos 
nos esquecer das relações internacionais instauradas pelo capitalismo, nem do pro-
cesso de colonização, não podemos deixar de lado, para as nossas análises, a história 
de cada povo, de cada nação, de cada região, de cada estado, de cada município.
Não podemos esquecer que qualquer aspecto da realidade social tem suas 
especificidades e estas são frutos da história e das disparidades internas de cada 
nação, que revelam, por sua vez, as diferentes formas seguidas pelas socieda-
des ao se implicarem no sistema capitalista. Sem que as conheçamos, fica quase 
impossível propor soluções eficientes, propor melhorias substanciais. 
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Para se entender e propor soluções para um problema social, é preciso 
conhecer as relações intersubjetivas ou de reciprocidade. No seu já citado livro 
“Ensaio sobre o dom”, Marcel Mauss estuda os dons e os contradons, ou a troca 
de presentes, e chega à conclusão de que nesses rituais de troca há uma natu-
reza voluntária, porém obrigatória, embasada nos princípios de dar, receber e 
retribuir. Por isso é preciso conhecer os diferentes graus de dependência entre 
indivíduos e grupos. É preciso também entender quem domina e quem é subor-
dinado, e só a história nos revela tais elementos.
O indivíduo dotado de liberdade, vontade e motivação busca romper com 
os determinismos e causalidades e é assim que ele deve ser entendido em sua 
relação com a sociedade. Mas, para isso, é preciso que se conheçam suas confi-
gurações e habitus, ou seja, o universo simbólico dos sujeitos envolvidos na ação 
social. Em outras palavras, para se entender a relação indivíduo e sociedade, é 
preciso atentar para as marcas que a sociedade imprime nos sujeitos, é preciso 
entender como determinada cultura é incorporada ou apropriada e reelaborada 
pelo indivíduo por meio das disposições para sentir, pensar e agir.
Por cultura entendemos nossa forma de pensar, agir, se expressar, o nosso 
repertório gastronômico e artístico, dentre outros elementos que se revelam no 
nosso cotidiano e que se tornam característicos de nosso tempo e do nosso espaço. 
Não fosse a cultura dos nossos antepassados, não teríamos as feições que 
temos, não seríamos como somos, pois o que somos é resultado, sobretudo, das 
formas de viver dos que nos antecedem na escala da vida. Não nos perguntamos 
a toda hora por que somos de um jeito e não de outro, não vivemos nos pergun-
tando por que nos vestimos de um modo e os indianos de outro, e, por certo, 
achamos muito estranho que os japoneses comam cachorro e não caranguejo 
ou paca ou cutia como muitos de nós, sabe por quê? Porque somos diferentes, 
fomos colonizados de modo diferente, temos climas diferentes, temos recursos 
diferentes e, consequentemente, temos culturas diferentes, e isso não é demé-
rito nenhum, muito pelo contrário, essa diversidade é o que dá identidade a um 
povo, é o que o faz singular, o que o faz detentor de um rol de ideias e de práti-
cas que conjugam os indivíduos que os compõem. 
Para o sociólogo Karl Mannheim (2012), o indivíduo tem a capacidade de 
compor sua identidade pelajunção entre o que lhe é próprio, inato e aquilo que 
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a interação social com outros indivíduos proporciona. É assim, segundo ele, que 
construímos nossa identidade. É verdade que ela pode ser individual ou cole-
tiva, mas seja qual for a identidade, é aquilo que nos caracteriza e que nos faz 
ser reconhecido.
Já deve ter se perguntado: se eu tivesse nascido em outro país ou mesmo 
em outra família, como seria? Será que teria os mesmos valores, o mesmo senso 
crítico, os mesmos gostos, as mesmas ideias, a mesma escolha de profissão? Ou 
será que somos determinados geneticamente? Tais perguntas podem não ter 
respostas certas, mas podemos, baseando-nos na experiência sensível, vislum-
brar algumas respostas que recairiam no que Mannheim (1950, p. 20) afirmou:
[...] pertencemos a um grupo, não apenas porque nascemos nele, nem 
porque professamos pertencer a ele, nem finalmente porque lhe ofere-
cemos nossa lealdade e lhe prestamos nosso preito de fidelidade, mas 
primeiramente porque vemos o mundo e certas coisas do mundo da 
mesma maneira pela qual eles os veem (isso é, em função das signifi-
cações do grupo em apreço). Cada conceito, cada significado concreto 
é resultante das experiências de um determinado grupo. Em qualquer 
definição todo conteúdo substancial, toda avaliação não mais susce-
tível de merecer um consenso sofre uma reinterpretação em termos 
funcionais.
IDENTIDADE CULTURAL E SOCIAL
A discussão a respeito do tema 
Identidade começou a ser central 
no campo de estudos das ciências 
humanas a partir dos anos de 1970. 
No campo da administração, a dis-
cussão e a problematização acerca da 
identidade, de sua construção, manu-
tenção e reprodução, assim como dos 
processos de identificação, adquirem 
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centralidade à medida que, diante do processo de globalização, passa-se a dis-
cutir cada vez mais a influência do choque entre culturas distintas no processo 
de trabalho, de produção e de controle da mão de obra no interior das organi-
zações. A identidade, seja ela social, pessoal ou cultural, é sempre uma relação 
social construída com outros, jamais algo ou alguma coisa com a qual nasce-
mos ou herdamos por meio de nossos genes. Identidade, portanto, nada tem a 
ver com os genes que herdamos; a identidade é definida historicamente e não 
biologicamente. 
Com essas primeiras palavras, queremos logo deixar claro que a noção de 
identidade implica em algum tipo de montagem social e simbólica. Nesse sen-
tido, discutimos a ideia de que o homem é sempre um ser social em construção; 
um ser social em constante devir ou vir a ser; ele é sempre uma possibilidade 
dentre muitas que coabitam nesse mundo. Na casa, na rua ou no trabalho, na 
faculdade, na família, na igreja ou no bairro, estamos sempre nos perguntando 
sobre quem somos nós ou quem sou eu? Imagino-me pertencendo a um grupo 
social ligado à minha profissão, sou morador de uma cidade que está localizada 
em um estado e que faz parte de um país, de uma nação. Ao mesmo tempo, per-
tenço a uma determinada classe social, tenho uma renda X, moro em uma parte 
da cidade diferente de outras regiões, frequento uma igreja e me incluo, assim, 
em uma religião específica, ao mesmo tempo, sou filiado a um partido político 
e a um sindicato. Enfim, são muitos os componentes de um sistema social e as 
possibilidades de vinculação do sujeito a um desses subsistemas. Parece que 
não há quem não tenha se deparado com a ideia de uma crise de identidade. A 
identidade, em linhas gerais, operaria como um mapa ou guia na estrutura de 
posições do sistema social, sem ela, não poderíamos nos localizar nem sermos 
localizados na estrutura de posições do sistema social. Ao mesmo tempo, sem 
“identidade”, não poderíamos nos diferenciar dos demais sujeitos de nossa própria 
sociedade ou de grupos sociais em seu interior, assim como aqueles localizados 
em seu exterior. Dessa maneira, identidade é fundamental para que eu me per-
ceba em contraste com aquele que é diferente de mim. 
Prezado(a) aluno(a), como já falamos nesta unidade, a identidade não é 
uma coisa: é uma relação. Não nascemos com uma identidade pronta, acabada 
e definitiva. Lenta e gradualmente, nossa identidade pessoal, social e cultural 
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vai sendo constituída pela sociedade em que nascemos. Isso não é uma tarefa 
fácil, pelo contrário. Ela implica em tensões, problemas, ambiguidades, dúvidas 
e incertezas que se inserem na vida de todos nós. A identidade é, vale repetir, 
uma relação social. Isso jamais pode ser esquecido. Ela é uma construção social 
dos sujeitos que habitam um território e que compartilham de uma cultura em 
comum, ainda que haja disputas, tensões e contradições sobre os valores comuns 
que compartilhamos. Ela somente pode ser pensada quando pessoas e sujeitos 
sociais interagem uns com os outros – às vezes contra ou a favor dos outros – a 
fim de sustentar ideias, representações, ações, gestos e memórias. 
A identidade é construída como relação social quando uma espécie de ten-
são entre a semelhança e a diferença está em jogo. Diferença e semelhança são 
fundamentais à construção da identidade. A diferença cultural é fundamental 
à construção da identidade. É somente quando me vejo diferente do outro que 
tenho consciência da alteridade e que sou identificado como sendo diferente 
dele; é assim que posso me identificar com aqueles os quais julgo como meus 
semelhantes.
Ao estarmos incluídos em um grupo, logicamente, ao mesmo tempo nos 
excluímos de outro. Assim, a inclusão só existe concomitantemente com a exclu-
são. São dois lados da mesma moeda. Somos brasileiros em oposição a argentinos, 
americanos, franceses etc., da mesma forma que argentinos se veem em oposição 
a brasileiros, ingleses e franceses, e assim por diante. Dessa forma, a identidade 
ou identificação, como preferem alguns, como processo de inclusão/exclusão, nos 
informa sobre uma relação entre minimamente dois grupos, pessoas, empresas, 
países, que se veem de forma distinta e que se reconhecem na relação como tais.
Instituições, grupos, espaços ou termos sociais aos quais nos vinculamos 
são fundamentais à constituição da pessoa social, é por meio dela que qualquer 
homem se percebe como pertencendo a algum grupo, sociedade, cultura ou 
território. Sentir-se parte do grupo, de uma comunidade, de uma sociedade e 
de uma cultura; sentir-se integrado a outros sujeitos que compartilham de uma 
mesma herança cultural, de um mesmo código simbólico, das mesmas ideias: 
eis o quanto é fundamental a identidade para qualquer pessoa. Ser brasileiro, 
mineiro, casado ou solteiro, negro ou branco, profissional liberal ou funcionário 
público, desempregado ou aposentado, hetero ou homossexual, nos informa o 
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quanto a identidade pode ser construída por meio das mais diferentes vincula-
ções. O que isso significa e o que tem a ver com identidade? Muita coisa; pode 
acreditar! Pois estamos falando de como e por meio de quais mecanismos o indi-
víduo biológico, unidade da espécie humana, é investido de um papel social e 
do status correspondente no interior de um grupo social que com outros esta-
belece oposição.
Hoje, muitas pessoas se perguntam quem são, no que estão se tornando, no 
que deixaram de ser ou no que gostariam de se tornar ou de ser. Quem nunca se 
perguntou: o que estarei fazendo daqui dez anos? – pelo menos. Muitas vezes, 
construímos nossa identidade ocultando uma determinada vinculação,

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