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Resumo do Evangelho de Mateus

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Evangelho de Mateus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Silvio Dutra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEZ/2015 
 
 
2 
 
 
Sumário 
 
Mateus 1 3 
Mateus 2 6 
Mateus 3 10 
Mateus 4 14 
Mateus 5 18 
Mateus 6 165 
Mateus 7 333 
Mateus 8 395 
Mateus 9 406 
Mateus 10 419 
Mateus 11 429 
Mateus 12 438 
Mateus 13 448 
Mateus 14 463 
Mateus 15 472 
Mateus 16 485 
Mateus 17 498 
Mateus 18 509 
Mateus 19 539 
Mateus 20 555 
Mateus 21 563 
Mateus 22 577 
Mateus 23 589 
Mateus 24 598 
Mateus 25 610 
Mateus 26 628 
Mateus 27 648 
Mateus 28 661 
 
 
 
 
 
 
3 
Mateus 1 
 
Mateus conta a genealogia de Jesus a partir de Abraão, porque foi a 
Abraão que Deus fez a promessa de abençoar todas as nações da terra por 
meio dAquele que descenderia dele no futuro, a saber Jesus Cristo (Gál 
3.14,19). 
O evangelista dividiu as quarenta e duas gerações de Abraão até José, em 
três grupos de quatorze, como se vê no verso 17. 
De Abraão até Davi, a quem foi feita também a promessa da Nova Aliança, 
pelas fiéis misericórdias prometidas por Deus à casa de Davi. 
De Davi até a deportação dos judeus para Babilônia, onde foram 
purificados da idolatria para serem restaurados posteriormente em sua 
própria terra, para reedificarem o templo e para poderem recepcionar a 
Jesus. 
E da deportação para Babilônia, até o nascimento de Jesus. 
Estas 42 gerações da genealogia do Senhor somam cerca de 2.000 anos de 
antepassados. 
Nenhum outro personagem da história teve um registro tão antigo e 
extenso de seus ancestrais, como Jesus Cristo, porque aprouve a Deus 
marcar, para nos deixar o testemunho da descendência do nosso Senhor 
e Salvador, pela certeza de que somente nEle e em nenhum outro, temos 
o cumprimento das fiéis promessas feitas a Abraão e a Davi, quanto 
Àquele que descenderia deles e que seria o Rei de um reino eterno, e o 
único por meio de quem somos livrados da maldição da lei, para 
recebermos uma salvação, herança e bênção eternas. 
Como estava designado por Deus, desde antes da fundação do mundo, 
que Jesus deveria proceder, segundo a carne, da tribo de Judá, então são 
nomeados os filhos de Judá, Perez e Zerá, mas não foi em Zerá, mas em 
Perez, conforme o conselho do Senhor, que foi chamada a genealogia de 
Jesus. 
Quatro mulheres são nomeadas na genealogia do Senhor. Duas eram 
estranhas à comunidade de Israel: Raabe, um cananita, e Rute, uma 
moabita, revelando em figura que o Senhor não viria somente para a 
nação de Israel, mas também para todos os povos gentios. 
E as outras duas, apesar de serem de Israel, haviam adulterado, a saber: 
Tamar, nora de Judá, e Bete-Seba esposa de Urias, que concebeu a 
Salomão de Davi. 
4 
Nisto, se antecipou que Jesus viria para conduzir pecadores ao 
arrependimento, para serem incluídos em Sua família celestial e divina. 
Como a genealogia de Jesus foi contada na descendência de Davi, e 
particularmente em todos aqueles seus descendentes, que foram reis em 
Judá, até Zedequias, quando houve a deportação para Babilônia, então 
foram contados tanto reis ímpios quanto piedosos na descendência do 
Senhor. Isto não significa que estes reis ímpios também fazem parte da 
família de Deus, mas que Deus cumpre os Seus propósitos e tem Seus 
escolhidos até mesmo na descendência dos maus. 
Mateus destacou nos versos 1, 16, 17 e 18 o título de Cristo, palavra grega 
para Ungido, correspondente à palavra hebraica Messias. 
Jesus é portanto, o Messias, o Cristo, o Ungido, citado em Daniel 9.25; 
Salmo 2.2 e Isaías 61.1, para que ficasse registrado que Ele realizaria toda 
a Sua obra na terra, completamente debaixo da unção e poder do Espírito 
Santo. 
A partir do verso 18, Mateus começou a registrar algumas das 
circunstâncias que envolveram a concepção e o nascimento do Senhor. 
Foi anunciado pelo anjo Gabriel a José, que Maria não havia concebido de 
homem algum, quando se achou grávida do Senhor Jesus, mas que tal 
concepção fora obra direta do Espírito Santo no ventre de Maria, uma vez 
que a mesma permanecia virgem, e assim deveria permanecer até o 
nascimento do Senhor. 
Esta revelação foi feita a José para que ele não deixasse Maria, 
secretamente, como havia intentado fazer, para não infamá-la pensando 
que ela tivesse cometido adultério. 
Esta forma sobrenatural da formação do corpo de Jesus havia sido 
profetizada por Isaías cerca de 700 anos do seu nascimento. 
E a José foi declarado pelo arcanjo Gabriel, que Aquele que Maria trazia 
em seu ventre era o Salvador do mundo, porque salvaria as pessoas do 
seu povo, dos seus pecados, a saber, não todas as pessoas do povo de 
José, mas as pessoas que fazem parte do povo de Jesus, ou seja, aqueles 
que são salvos por Ele, motivo porque deveria ser colocado nEle, ao 
nascer, o nome de Jesus, que significa no hebraico, o Salvador. 
 
Mateus 1.1 Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de 
Abraão. 
Mateus 1.2 A Abraão nasceu Isaque; a Isaque nasceu Jacó; a Jacó 
nasceram Judá e seus irmãos; 
5 
Mateus 1.3 a Judá nasceram, de Tamar, Farés e Zará; a Farés nasceu 
Esrom; a Esrom nasceu Arão; 
Mateus 1.4 a Arão nasceu Aminadabe; a Aminadabe nasceu Nasom; a 
Nasom nasceu Salmom; 
Mateus 1.5 a Salmom nasceu, de Raabe, Booz; a Booz nasceu, de Rute, 
Obede; a Obede nasceu Jessé; 
Mateus 1.6 e a Jessé nasceu o rei Davi. A Davi nasceu Salomão da que fora 
mulher de Urias; 
Mateus 1.7 a Salomão nasceu Roboão; a Roboão nasceu Abias; a Abias 
nasceu Asafe; 
Mateus 1.8 a Asafe nasceu Josafá; a Josafá nasceu Jorão; a Jorão nasceu 
Ozias; 
Mateus 1.9 a Ozias nasceu Joatão; a Joatão nasceu Acaz; a Acaz nasceu 
Ezequias; 
Mateus 1.10 a Ezequias nasceu Manassés; a Manassés nasceu Amom; a 
Amom nasceu Josias; 
Mateus 1.11 a Josias nasceram Jeconias e seus irmãos, no tempo da 
deportação para Babilônia. 
Mateus 1.12 Depois da deportação para Babilônia nasceu a Jeconias, 
Salatiel; a Salatiel nasceu Zorobabel; 
Mateus 1.13 a Zorobabel nasceu Abiúde; a Abiúde nasceu Eliaquim; a 
Eliaquim nasceu Azor; 
Mateus 1.14 a Azor nasceu Sadoque; a Sadoque nasceu Aquim; a Aquim 
nasceu Eliúde; 
Mateus 1.15 a Eliúde nasceu Eleazar; a Eleazar nasceu Matã; a Matã 
nasceu Jacó; 
Mateus 1.16 e a Jacó nasceu José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, 
que se chama Cristo. 
Mateus 1.17 De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são 
catorze gerações; e desde Davi até a deportação para Babilônia, catorze 
gerações; e desde a deportação para Babilônia até o Cristo, catorze 
gerações. 
Mateus 1.18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, 
sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, ela se achou ter 
concebido do Espírito Santo. 
Mateus 1.19 E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, 
intentou deixá-la secretamente. 
6 
Mateus 1.20 E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um 
anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, 
tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo; 
Mateus 1.21 ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele 
salvará o seu povo dos seus pecados. 
Mateus 1.22 Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora 
dito da parte do Senhor pelo profeta: 
Mateus 1.23 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será 
chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco. 
Mateus 1.24 E José, tendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor 
lhe ordenara, e recebeu sua mulher; 
Mateus 1.25 e não a conheceu enquanto ela não deu à luz um filho; e pôs-
lhe o nome de JESUS. 
 
 
 
Mateus 2 
 
O modo de Jesus manifestar a Sua majestade divina, continua sendo o 
mesmo, desde o Seu nascimento, a saber, numa manjedoura de Belém, 
porque não é com pompa e notoriedade que Ele se manifesta aos Seus 
súditos, mas sempre em humilde obscuridade. 
Homens sábios do Oriente vieram dar-Lhe honra, quando ainda era um 
recém-nascido, porque lhes foi revelado por Deus onde encontrá-lO. 
A genuína presença e majestade do Senhor Jesus continua se 
manifestando a muitos humildes de coração, em muitas manjedouras 
deste mundo, enquanto osgrandes e entendidos não chegam a conhecê-
Lo, porque aprouve ao Pai revelá-lo aos pequeninos e contritos de 
coração. 
Deus é poderoso para esconder a revelação de Cristo de ímpios arrogantes 
que lhe resistem, como fizera em relação a Herodes, mas pode também 
fazer com que reis piedosos se dobrem aos pés do Senhor, e O adorem, 
em localidades pobres, que não costumam ser frequentadas por aqueles 
que são considerados grandes segundo o mundo. 
Assim, a visita dos magos foi um prenúncio do modo e do método de Deus 
para revelar Cristo aos homens. 
Se estes magos eram dados a artes mágicas condenadas por Deus, a visita 
deles a Jesus em Belém, revelou a vitória de Cristo sobre os poderes das 
7 
trevas, convertendo para a Sua luz, aqueles que se encontravam debaixo 
do domínio do diabo. 
Além disso, enquanto muitos em Israel se endureceriam, quanto à 
recepção do Messias, os gentios representados nestes magos, estavam se 
curvando para adorar o Senhor, mesmo quando era ainda um menino. 
A visita dos magos para dar honra a Cristo precipitou a perseguição e 
matança realizadas pelo rei Herodes. 
O diabo tentou impedir o surgimento do Libertador de Israel, tal como 
havia feito nos dias do nascimento de Moisés, pelo cruel estratagema de 
matar todos meninos do sexo masculino de dois anos para baixo, que 
habitavam na localidade e arredores, onde fora anunciado o nascimento 
tanto de Moisés, quanto de Jesus. 
A história se repete, porque toda vez que Deus suscita um instrumento 
poderoso de libertação dos que se encontram escravizados pelo diabo, 
este se levanta com grande fúria, para tentar impedir tal obra de 
libertação. 
Todavia, os propósitos de Deus não podem ser frustrados, e a libertação 
será operada em meio a todos os danos que possam ser causados pelo 
Inimigo. 
Está determinado que Jesus reine para todo o sempre em glória na Nova 
Jerusalém, mas em sua encarnação, havia sido designado e predito que 
deveria nascer na humilde Belém de Judá. 
Isto se deveu a muitas razões, mas especialmente à de que tudo o que se 
refere ao reino do Messias, começa pequeno como o grão de mostarda e 
termina em grandeza e em glória. 
A fidelidade no pouco será exigida antes de que se veja a colocação em 
grandeza e glória. 
Os que desejarem uma coroa terão que carregar voluntariamente uma 
cruz. 
Os que aspirarem pelo consolo eterno terão que suportar sofrimentos 
com paciência perseverante. 
O galardão será tanto maior nem tanto pelas graças recebidas, mas pelas 
perseguições e tribulações sofridas por amor a Cristo. 
A humilhação e a humildade da manjedoura, da cidade natal de Belém, 
das perseguições de Herodes, da fuga para o Egito, têm o propósito de nos 
ensinar e fazer recordar estas verdades anteriormente referidas. 
A riqueza de Cristo representada pelo ouro; o bom perfume de Cristo 
representado pela mirra, e a oração intercessória poderosa de Cristo 
8 
como nosso Sumo Sacerdote, representada pelo incenso, que foram 
oferecidos pelos magos, serão sempre achados onde houver verdadeira 
adoração na Sua santa presença. 
Sempre haverá uma estrela para guiar a todos aqueles que pretendam 
honrar verdadeiramente ao Senhor Jesus, que será providenciada pelo 
Pai, que é quem atrai a todo a quem é dado ter a revelação da pessoa de 
Cristo. 
Esta estrela é o Espírito Santo trabalhando em nossas mentes e corações, 
para que não erremos o caminho da verdadeira adoração, que é feita aos 
pés do Senhor. 
Assim como Jesus teve que ser escondido de seus perseguidores, no Egito, 
por seus pais, de igual modo, deve continuar sendo escondido daqueles 
que O rejeitam voluntariamente, porque aqueles que rejeitam aqueles 
que são enviados por Ele, também são rejeitados, e o modo visível desta 
rejeição é por nos retirarmos do meio deles. 
Jesus é tão precioso que não deve ser exposto voluntária e 
deliberadamente ao desprezo de homens ímpios. 
Aqueles que não se julgam dignos de receberem a paz do Senhor, devem 
viver sem a referida paz, em sinal de juízo contra a impiedade deles, do 
mesmo modo como Herodes ficou privado da abençoadora e graciosa 
presença do Senhor, até o dia da sua morte, em grande ruína. 
Os que não desejam ser promotores da paz, ou seja, pacificadores, 
excluem-se automaticamente da bem-aventurança, nesta vida e na do 
porvir, porque Jesus afirma que somente os pacificadores são bem-
aventurados. 
Deste modo, até hoje, os seguidores de Jesus, quando forem perseguidos 
numa cidade devem fugir para outra. Quando não são bem recebidos num 
determinado lugar, devem procurar outro. 
Isto não é covardia e nem vergonha, mas simplesmente, não permitir que 
o grande nome do Senhor, que deve ser sempre santificado, venha a ser 
exposto à ignomínia e desonra. 
Pelas perseguições e tribulações que sofremos podemos aprender o 
quanto somos dependentes de Deus para tudo, de maneira que esta lição 
nunca seja esquecida por toda a eternidade. 
A fuga de José e Maria com Jesus para o Egito, já se encontrava nos 
desígnios de Deus, e por isso profetizou esta fuga muitos séculos antes 
pela boca do profeta Oseias (Os 11.1). 
9 
Isto nos ensina que a obra do evangelho deve ser feita em meio a 
perseguições, conforme o conselho predeterminado por Deus antes 
mesmo da fundação do mundo (At 4.27,28), para que o Seu grande Nome 
seja glorificado pelas sucessivas vitórias da fé, da graça e do evangelho, 
nas batalhas que são empreendidas contra os principados e potestades 
das trevas, para a libertação daqueles que eles têm trazido em cativeiro. 
 
Mateus 2.1 Tendo, pois, nascido Jesus em Belém da Judeia, no tempo do 
rei Herodes, eis que vieram do oriente a Jerusalém uns magos que 
perguntavam: 
Mateus 2.2 Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? pois do oriente 
vimos a sua estrela e viemos adorá-lo. 
Mateus 2.3 O rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e com ele toda a 
Jerusalém; 
Mateus 2.4 e, reunindo todos os principais sacerdotes e os escribas do 
povo, perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo. 
Mateus 2.5 Responderam-lhe eles: Em Belém da Judeia; pois assim está 
escrito pelo profeta: 
Mateus 2.6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre 
as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de 
apascentar o meu povo de Israel. 
Mateus 2.7 Então Herodes chamou secretamente os magos, e deles 
inquiriu com precisão acerca do tempo em que a estrela aparecera; 
Mateus 2.8 e enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide, e perguntai 
diligentemente pelo menino; e, quando o achardes, participai-mo, para 
que também eu vá e o adore. 
Mateus 2.9 Tendo eles, pois, ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela que 
tinham visto quando no oriente ia adiante deles, até que, chegando, se 
deteve sobre o lugar onde estava o menino. 
Mateus 2.10 Ao verem eles a estrela, regozijaram-se com grande alegria. 
Mateus 2.11 E entrando na casa, viram o menino com Maria sua mãe e, 
prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe 
dádivas: ouro incenso e mirra. 
Mateus 2.12 Ora, sendo por divina revelação avisados em sonhos para não 
voltarem a Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho. 
Mateus 2.13 E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor 
apareceu a José em sonho, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua 
10 
mãe, foge para o Egito, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de 
procurar o menino para o matar. 
Mateus 2.14 Levantou-se, pois, tomou de noite o menino e sua mãe, e 
partiu para o Egito. 
Mateus 2.15 e lá ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o 
que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Do Egito chamei o meu 
Filho. 
Mateus 2.16 Então Herodes, vendo que fora iludido pelos magos, irou-se 
grandemente e mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo 
que havia em Belém, e em todos os seus arredores, segundo o tempo que 
com precisão inquirira dos magos. 
Mateus 2.17 Cumpriu-se então o que fora dito pelo profeta Jeremias: 
Mateus 2.18 Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação e grande pranto: 
Raquel chorandoos seus filhos, e não querendo ser consolada, porque 
eles já não existem. 
Mateus 2.19 Mas tendo morrido Herodes, eis que um anjo do Senhor 
apareceu em sonho a José no Egito, 
Mateus 2.20 dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a 
terra de Israel; porque já morreram os que procuravam a morte do 
menino. 
Mateus 2.21 Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe e foi para 
a terra de Israel. 
Mateus 2.22 Ouvindo, porém, que Arquelau reinava na Judeia em lugar 
de seu pai Herodes, temeu ir para lá; mas avisado em sonho por divina 
revelação, retirou-se para as regiões da Galileia, 
Mateus 2.23 e foi habitar numa cidade chamada Nazaré; para que se 
cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado nazareno. 
 
 
 
Mateus 3 
 
 
No final do capítulo precedente, Mateus registrou que Jesus foi habitar na 
Galileia, na cidade de Nazaré, depois de ter retornado com seus pais, José 
e Maria, do Egito. 
É dito então no início deste terceiro capitulo, que “Naqueles dias...”, ou 
seja, quando Jesus habitava em Nazaré, já tendo decorrido cerca de 30 
11 
anos, que João, o Batista apareceu pregando no deserto da Judeia 
dizendo: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.”. 
João falou da necessidade de arrependimento para entrar no reino dos 
céus. 
Falou do juízo vindouro sobre aqueles que rejeitassem a salvação que 
estava sendo oferecida gratuitamente pelo Cordeiro de Deus que tira o 
pecado do mundo. 
João falou do batismo de fogo do Espírito Santo, e do corte de toda árvore 
(pessoa) que não desse bom fruto. 
Em suma, João pregou o evangelho, antes mesmo do próprio Jesus 
começar a pregá-lo. 
Isto foi designado por Deus para servir de sinal que a doutrina pregada 
por Jesus provinha da mesma fonte, a saber do céu, do Espírito Santo, 
conforme foi permitido a João pregá-la ainda na dispensação do Antigo 
Testamento, no apagar das luzes daquela antiga dispensação, próximo da 
inauguração da nova dispensação da graça, com a instituição de uma Nova 
Aliança, no sangue de Jesus. 
Jesus começou o Seu ministério terreno somente depois de ter sido 
batizado no Espírito Santo, quando este veio sobre Ele na forma de uma 
pomba, quando era batizado nas águas por João. 
Aquele era o marco inicial do Seu ministério. 
Por isso os dados relativos tanto à infância de João, quanto à de Jesus, são 
omitidos por Mateus, porque o evangelho foi escrito para contar a história 
da nossa redenção pelo Senhor, e esta se encontra configurada 
especialmente no período do Seu ministério de três anos. 
João é citado na história da redenção, porque fora vinculado ao ministério 
do Senhor, pelo desígnio de Deus, para demonstrar principalmente, o Seu 
poder e fiel cumprimento de todas as profecias relativas à vida e obra de 
Seu Filho Unigênito, em favor dos pecadores. 
João não foi achado pregando nos castelos, mas no deserto da Judeia. 
Aqueles que quisessem indagar acerca das coisas relativas à salvação 
teriam que descer das alturas em que se encontravam, vindo ao deserto 
da humilhação, para ouvirem a pregação de João, e se arrependerem de 
seus pecados. 
Este seria o mesmo caráter da pregação de Cristo, porque o evangelho 
chama, antes de tudo, ao arrependimento. À contrição de coração, à 
pobreza de espírito, para que se possa receber a coroa de glória e o óleo 
12 
de alegria prometidos por Deus aos que viessem a se converter de seus 
pecados, pela fé no Messias. 
A principal função de João havia sido profetizada por Isaías, cerca de 
setecentos anos antes: 
“3 Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho do Senhor; 
endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus. 
4 Todo vale será levantado, e será abatido todo monte e todo outeiro; e o 
terreno acidentado será nivelado, e o que é escabroso, aplanado.” (Is 
40.3,4) 
A função de preparar o caminho do Senhor no deserto, e endireitar no 
ermo uma estrada para o nosso Deus, não poderia ser realizada tentando 
ser agradável a todas as pessoas, mas manifestando o genuíno amor de 
Deus, pela pregação da verdade. 
Este é o único modo pelo qual Deus pode operar levantando os abatidos 
e oprimidos (vale levantado); trazer ao arrependimento e humildade os 
que andam na soberba (outeiro e monte abatidos); e reparar os danos 
produzidos pelo pecado (terrenos acidentados e escabrosos, nivelados e 
aplanados). 
Não foi de topografia, de geografia que Deus falou através do profeta 
Isaías, mas acerca da condição do coração humano. 
Por isso importava que Jesus fosse batizado por João, para cumprimento 
de toda a justiça, porque estava determinado nos conselhos divinos que 
Ele deveria ser achado na forma de servo, identificado plenamente com a 
humanidade que veio salvar, exceto em relação ao pecado, porque não 
tinha pecado. 
E aquele batismo nas águas foi o momento determinado para que Ele 
fosse também e principalmente batizado no Espírito Santo, que veio sobre 
Ele na forma de uma pomba, para que desse início ao Seu ministério 
terreno, até que completasse a obra que Lhe fora designada para ser feita 
em nosso favor. 
Por causa dessa perfeita obediência e submissão à vontade do Pai, João 
ouviu a voz do Pai relativa a Jesus, dizendo: “Este é o meu Filho amado, 
em quem me comprazo.” 
 
Mateus 3.1 Naqueles dias apareceu João, o Batista, pregando no deserto 
da Judeia, 
Mateus 3.2 dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. 
13 
Mateus 3.3 Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que diz: Voz do 
que clama no deserto; Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas 
veredas. 
Mateus 3.4 Ora, João usava uma veste de pelos de camelo, e um cinto de 
couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e mel 
silvestre. 
Mateus 3.5 Então iam ter com ele os de Jerusalém, de toda a Judeia, e de 
toda a circunvizinhança do Jordão, 
Mateus 3.6 e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus 
pecados. 
Mateus 3.7 Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que 
vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a 
fugir da ira vindoura? 
Mateus 3.8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, 
Mateus 3.9 e não queirais dizer dentro de vós mesmos: Temos por pai a 
Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar 
filhos a Abraão. 
Mateus 3.10 E já está posto o machado á raiz das árvores; toda árvore, 
pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. 
Mateus 3.11 Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do 
arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que 
eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito 
Santo, e em fogo. 
Mateus 3.12 A sua pá ele tem na mão, e limpará bem a sua eira; recolherá 
o seu trigo ao celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível. 
Mateus 3.13 Então veio Jesus da Galileia ter com João, junto do Jordão, 
para ser batizado por ele. 
Mateus 3.14 Mas João o impedia, dizendo: Eu é que preciso ser batizado 
por ti, e tu vens a mim? 
Mateus 3.15 Jesus, porém, lhe respondeu: Consente agora; porque assim 
nos convém cumprir toda a justiça. Então ele consentiu. 
Mateus 3.16 Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe 
abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma 
pomba e vindo sobre ele; 
Mateus 3.17 e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, 
em quem me comprazo. 
 
 
14 
Mateus 4 
 
João foi decapitado a mando de Herodes quando contava apenas cerca de 
30 anos de idade, porque foi morto logo no início do ministério de Jesus, 
quando contava com a mesma idade com a qual João havia sido morto. 
Assim, se deu cumprimento à Palavra de João que importava que a sua luz 
brilhasse apenas por um pouco, porque convinha que ele diminuísse e que 
Jesus crescesse. 
De igual modo, todos os ministérios que estão vinculados a Cristo, têm a 
mesma função que teve João, a saber, surgir, anunciar a Cristo e 
desaparecer de cena, de maneira que apenas o nome de Cristo seja 
perpetuado por todas as gerações. 
No entanto, é importantedestacar, que em relação ao tempo de 
permanência do Senhor, na carne, neste mundo, na realização do Seu 
próprio ministério, que Ele também deixou este mundo para ir para junto 
do Pai, quando contava apenas 33 anos de idade. 
Nisto há um grande ensinamento para todos nós, que vivemos neste 
mundo, que não é a extensão do tempo de vida que temos aqui, que pode 
ser considerado como prova da bênção de Deus, porque nascido de 
mulher não havia maior que João, o Batista, e sem qualquer sombra de 
dúvida, Cristo é sobre todos e nem o somatório de todos os seres da terra 
e do céu, podem sequer serem comparados à Sua grandeza e glória. 
Portanto, tudo que Jesus sofreu neste mundo em relação à humilhação a 
que foi submetido, inclusive a de ser tentado pelo diabo, foi em razão de 
ter carregado sobre Si o nosso próprio opróbrio, porque não havia 
nenhum motivo para carregar qualquer opróbrio, por sua própria causa, 
porque, afinal, não tinha qualquer pecado. 
Tudo o que Ele sofreu foi por nós e por nossa causa. 
Ele suportou aflições e triunfou sobre todas as coisas, inclusive sobre a 
própria morte, para servir de exemplo para nós, e para ser o autor e 
consumador da nossa salvação. 
 Deste modo, não foi pela vontade e desígnio do próprio diabo que Ele foi 
conduzido ao deserto para ser tentado, mas pelo Espírito Santo. 
E importava que fosse tentado estando em extrema fraqueza, decorrente 
do jejum completo que fizera de quarenta dias e noites, para nos mostrar 
quão suficiente é o poder da graça do Espírito Santo que estava nEle, 
porque havia sido batizado no Espírito quando foi batizado nas águas por 
15 
João, o Batista, pouco tempo antes de ser conduzido pelo Espírito ao 
deserto, para ser tentado. 
Ele venceu a tentação de suportar a fome, não atendendo à insinuação do 
diabo que mostrasse o Seu poder transformando pedras em pães. 
Necessitamos aprender esta lição, para que não venhamos a tentar a Deus 
nos momentos em que estivermos passando por necessidades. Por 
sabermos que Deus é poderoso para nos sustentar com a palavra que 
procede da Sua boca, nestas horas difíceis. 
De igual modo, não devemos tentar a Deus, por nos lançarmos ao 
encontro de dificuldades e perigos por sugestão do diabo, para 
demonstrarmos que temos o poder do Senhor sobre as nossas vidas. 
Quanto a isto Jesus nos deixou o exemplo de não atender a Satanás, 
quando este lhe pediu para que se lançasse do pináculo do templo abaixo, 
porque segundo ele, Deus teria que cumprir o que está registrado nas 
Escrituras, que daria ordens a Seus anjos a respeito de Jesus, para que lhe 
sustentassem em suas mãos, para nunca tropeçar em alguma pedra. 
Também, devemos rejeitar completamente o oferecimento por parte do 
diabo, da glória vã das coisas deste mundo que passa, desde que nos 
submetamos a ele. 
Deus é digno de ser adorado, e somente Ele deve ser adorado e buscado. 
Nosso coração não deve estar preso a nenhuma coisa deste mundo. 
Somente o Senhor é digno de ser servido, e todo nosso serviço aos 
homens, deve ser, na verdade, por amor a Ele, e para trazer honra e glória 
ao Seu santo nome. 
Fomos criados por Deus para isto, e é portanto, deste modo, que devemos 
viver, a saber, conforme o propósito da nossa vocação. 
Entretanto, é de pasmar, que haja tão grande desinteresse por parte da 
maior parte da humanidade, em ter um conhecimento pessoal e íntimo 
da pessoa de Jesus, que tão maravilhosamente se manifestou ao mundo 
por amor de nós. 
Fora dEle, a vida não tem nenhum verdadeiro significado, propósito e 
sentido. 
Por isso, mesmo antes de ter encarnado há cerca de dois mil anos atrás, 
Deus não nos deixou sem o testemunho da Sua pessoa e vontade, pela 
revelação que fez aos antigos, e especialmente nas Escrituras do Antigo 
Testamento através dos profetas. 
16 
Todavia, como dissemos anteriormente, não são poucos os que vivem 
como se nada tivesse sido profetizado acerca de Cristo, e que vivem como 
se Ele não tivesse se manifestado pessoalmente ao mundo. 
Caminham sem Cristo, sem Deus, sem o mínimo interesse em investigar 
as coisas que foram reveladas de uma vez para sempre, para o 
conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. 
Vivem como se estivessem ainda nos dias do Antigo Testamento, quando 
a revelação da glória do Senhor era feita com por um espelho, como uma 
figura, das realidades que já se cumpriram conforme havia sido 
profetizado acerca dEle, como por exemplo, o fato de ter-se mudado de 
Nazaré para a cidade de Cafarnaum, da Galileia, dando-se cumprimento à 
profecia de Isaías. 
“1 Mas para a que estava aflita não haverá escuridão. Nos primeiros 
tempos, ele envileceu a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos 
últimos tempos fará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, a Galileia 
dos gentios. 
2 O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que 
habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz.” (Is 9.1,2) 
Antes mesmo que houvesse Galileia, Deus profetizou acerca dela, porque 
para o povo desprezado que vivia naquela região resplandeceria a 
esperança da luz da glória do evangelho, por meio de Jesus Cristo. 
Aquele era apenas um sinal da luz que seria derramada em todas as 
nações, para aqueles que desejassem sair das trevas do pecado, da 
ignorância e da obscuridade, pela união espiritual com Cristo. 
A luz está disponível ainda em nossos dias, e estará disponível enquanto 
durar a dispensação da graça, mas é necessário vir para a luz de Jesus, se 
desejarmos de fato sair da condição de morte, para a condição de vida, a 
vida eterna e abundante que somente o Senhor pode nos dar. 
E o ministério que Jesus começou nos dias em que viveu na carne neste 
mundo, Ele tem continuado através da Igreja, que é o Seu corpo, 
realizando obras ainda maiores do que as que Ele havia realizado em Seu 
ministério terreno, a saber: 
“23 E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando 
o evangelho do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o 
povo. 
24 Assim a sua fama correu por toda a Síria; e trouxeram-lhe todos os que 
padeciam, acometidos de várias doenças e tormentos, os 
endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos; e ele os curou. 
17 
25 De sorte que o seguiam grandes multidões da Galileia, de Decápolis, de 
Jerusalém, da Judeia, e dalém do Jordão.” 
Aqueles que Ele tem chamado, tal como os primeiros apóstolos e 
discípulos, e que tudo têm deixado para segui-lO, são aqueles que têm 
dado continuidade à Sua obra de salvação e libertação na terra. 
E o modo de alcançar esta bênção continua sendo o mesmo desde o 
princípio, a saber, pelo atendimento da convocação ao arrependimento, 
ou seja, à transformação da vida, pelo retorno a Deus, por meio da fé em 
Jesus Cristo, para viver a vida celestial, espiritual e divina, conforme Deus 
planejou para o homem, desde antes da fundação do mundo. 
 
Mateus 4.1 Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser 
tentado pelo Diabo. 
Mateus 4.2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve 
fome. 
Mateus 4.3 Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus 
manda que estas pedras se tornem em pães. 
Mateus 4.4 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá 
o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. 
Mateus 4.5 Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o 
pináculo do templo, 
Mateus 4.6 e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; 
porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e: eles te 
susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. 
Mateus 4.7 Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o 
Senhor teu Deus. 
Mateus 4.8 Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e 
mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; 
Mateus 4.9 e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. 
Mateus 4.10 Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está 
escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. 
Mateus 4.11 Então o Diabo o deixou;e eis que vieram os anjos e o 
serviram. 
Mateus 4.12 Ora, ouvindo Jesus que João fora entregue, retirou-se para a 
Galileia; 
Mateus 4.13 e, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade 
marítima, nos confins de Zabulom e Naftali; 
Mateus 4.14 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: 
18 
Mateus 4.15 A terra de Zabulom e a terra de Naftali, o caminho do mar, 
além do Jordão, a Galileia dos gentios, 
Mateus 4.16 o povo que estava sentado em trevas viu uma grande luz; 
sim, aos que estavam sentados na região da sombra da morte, a estes a 
luz raiou. 
Mateus 4.17 Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei- 
vos, porque é chegado o reino dos céus. 
Mateus 4.18 E Jesus, andando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos 
- Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, os quais lançavam a rede ao 
mar, porque eram pescadores. 
Mateus 4.19 Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de 
homens. 
Mateus 4.20 Eles, pois, deixando imediatamente as redes, o seguiram. 
Mateus 4.21 E, passando mais adiante, viu outros dois irmãos - Tiago, filho 
de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, 
consertando as redes; e os chamou. 
Mateus 4.22 Estes, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram- 
no. 
Mateus 4.23 E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, 
pregando o evangelho do reino, e curando todas as doenças e 
enfermidades entre o povo. 
Mateus 4.24 Assim a sua fama correu por toda a Síria; e trouxeram-lhe 
todos os que padeciam, acometidos de várias doenças e tormentos, os 
endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos; e ele os curou. 
Mateus 4.25 De sorte que o seguiam grandes multidões da Galileia, de 
Decápolis, de Jerusalém, da Judeia, e dalém do Jordão. 
 
 
 
Mateus 5 
 
“1 Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, 
aproximaram-se os seus discípulos, 
2 e ele se pôs a ensiná-los, dizendo: 
3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos 
céus. 
4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. 
5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. 
19 
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão 
fartos. 
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão 
misericórdia. 
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. 
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos 
de Deus. 
10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque 
deles é o reino dos céus. 
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, 
mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. 
12 Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; 
porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós. 
13 Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há 
de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado 
fora, e ser pisado pelos homens. 
14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada 
sobre um monte; 
15 nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas 
no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa. 
16 Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as 
vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. 
17 Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas 
cumprir. 
18 Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de 
modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja 
cumprido. 
19 Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que 
seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos 
céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no 
reino dos céus. 
20 Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e 
fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. 
21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu 
de juízo. 
22 Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu 
irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante 
do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno. 
20 
23 Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te 
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 
24 deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu 
irmão, e depois vem apresentar a tua oferta. 
25 Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho 
com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, 
e sejas lançado na prisão. 
26 Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não 
pagares o último ceitil. 
27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. 
28 Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para 
a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. 
29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é 
melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo 
lançado no inferno. 
30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é 
melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo 
para o inferno. 
31 Também foi dito: Quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 
32 Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a não ser 
por causa de infidelidade, a faz adúltera; e quem casar com a repudiada, 
comete adultério. 
33 Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas 
cumprirás para com o Senhor os teus juramentos. 
34 Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, 
porque é o trono de Deus; 
35 nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, 
porque é a cidade do grande Rei; 
36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um só cabelo 
branco ou preto. 
37 Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, 
vem do Maligno. 
38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. 
39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer 
que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; 
40 e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também 
a capa; 
41 e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. 
21 
42 Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe 
emprestes. 
43 Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. 
44 Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos 
perseguem; 
45 para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele 
faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. 
46 Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem 
os publicanos também o mesmo? 
47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não 
fazem os gentios também o mesmo? 
48 Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.” 
 
 Para o comentário deste capítulo e dos dois seguintes (6 e 7) nós 
usaremos basicamente adaptações de textos escritos por Thomas Watson 
e por David Martin Lloyd Jones. 
Como o sermão é introduzido pelas bem-aventuranças, apresentaremos 
primeiro o comentário de Thomas Watson relativo às mesmas. 
 
AS BEM-AVENTURANÇAS 
 
Por Thomas Watson (traduzido e adaptado por Silvio Dutra) 
 
 “1 Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, 
aproximaram-se os seus discípulos, 
2 e ele se pôs a ensiná-los, dizendo: 
3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. 
4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. 
5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. 
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão 
fartos. 
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão 
misericórdia. 
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. 
9 Bem-aventurados os pacificadores, porqueeles serão chamados filhos 
de Deus. 
10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque 
deles é o reino dos céus.”. (Mt 5.1-10). 
22 
 
As palavras deste sermão pregado por nosso Senhor Jesus Cristo devem 
ser fixadas permanentemente pelos seus ministros nas memórias dos seus 
ouvintes, porque há muitos que têm uma memória ruim conforme se diz 
em Tiago 1.25, e as suas recordações escoam facilmente tal como a água 
que sai de um recipiente. 
Aqueles que têm o encargo de conduzirem os espíritos dos homens no 
caminho do céu devem lembrar que assim como não se pode ter um 
sangue enriquecido sem um intestino que funcione bem, de igual modo 
se uma verdade não ficar retida na memória, ela nunca poderá, como diz 
o apóstolo Paulo em I Tim 4.6, nos nutrir com as palavras da fé. 
E com que frequência o diabo, a ave do ar, apanha a boa semente que é 
semeada! 
Quantos sermões o diabo tem roubado! 
E é uma triste verdade que as pessoas não se permitam serem furtadas 
tão facilmente de seus bens materiais, mas dão pouca ou nenhuma 
atenção ao fato de o diabo lhes furtar continuamente o alimento 
espiritual, através do qual elas podem ser fortalecidas na fé. 
Por isso os ministros de Cristo devem sempre brilhar não como velas ou 
lâmpadas, nem mesmo como planetas, mas como estrelas no firmamento 
de glória, porque eles são estas estrelas que devem brilhar nas mãos do 
Senhor, como se vê em Apo 1.20; para que possam iluminar o caminho 
que conduz os pecadores à salvação. 
A honra de converter almas não foi dada por Deus aos anjos, mas aos 
ministros do evangelho. 
Deus confiou aos Seus ministros a maioria das Suas joias preciosas, as Suas 
verdades e as almas das pessoas que pertencem a Ele. 
Por isso o púlpito é mais elevado do que o trono de qualquer rei terreno, 
porque o ministro verdadeiramente constituído representa ninguém 
menos do que o próprio Deus. 
E agora, quanto ao rebanho do Senhor: se os ministros têm que aproveitar 
todas as oportunidades para pregarem, o rebanho por sua vez, tem que 
aproveitar todas as oportunidades para ouvir e colocar em prática as 
coisas que ouve. 
Quando a Palavra de Deus é pregada, o pão da vida é repartido a todos, e 
este pão é mais precioso do que ouro e prata com se diz no Sl 119.72. 
Na Palavra pregada, céu e salvação são oferecidos a você. 
23 
Jesus começou o Seu sermão no Monte com bem-aventuranças que 
contêm promessas e bênçãos. 
O povo de Deus se encontra com muitas dificuldades e desânimos, e a 
marcha dos crentes não é somente perigosa e cansativa, como o próprio 
coração deles está sempre pronto a desfalecer. 
Não é portanto de se estranhar que Jesus tenha colocado diante dos 
crentes a coroa da bem-aventurança para animar a sua coragem e 
inflamar o seu zelo. 
A bem-aventurança é o alvo que deve ser atingido, é o centro do qual 
devem partir todas as linhas da vida; é a flor da alegria dos crentes. 
É aquela condição abençoada na qual devem ser achados os servos de 
Jesus, conforme ele cita em Mt 24.46: 
“Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar 
assim fazendo.”. 
A bem-aventurança está portanto ligada a uma condição de alma, a um 
estado de espírito, a uma atitude de estrita obediência à Palavra de Deus, 
em todos os deveres ordenados nela. 
Assim a bem-aventurança não consiste na aquisição de coisas mundanas, 
na aquisição de bens naturais e terrenos. 
Cristo não diz: “Bem-aventurados são os ricos”, ou “Bem-aventurados são 
os nobres”, contudo muitos idolatram estas coisas. 
Os filósofos pagãos ensinam que bem-aventurança é ter suficiência de 
subsistência e prosperar no mundo. 
Mas não há muitos crentes que parecem ser desta mesma opinião 
filosófica? 
Poucos chegam a entender que a árvore da bem-aventurança não cresce 
num paraíso terrestre. 
Deus não amaldiçoou a terra por causa do pecado? Como vemos em Gên 
3.17? 
 Contudo, muitos estão cavando para acharem a sua felicidade aqui, como 
se eles pudessem achar uma bênção numa maldição. 
Nestas profundidades terrenas Salomão cavou mais do que qualquer 
outro homem e chegou à conclusão que tudo deste mundo é vaidade, 
enfado e canseira, dando um firme testemunho de que é somente em 
Deus que se pode satisfazer verdadeiramente o espírito, e alcançar a 
condição da bem-aventurança. 
As coisas terrenas não podem satisfazer aos anelos do espírito e assim 
nunca tornarem uma pessoa bem-aventurada, porque estas coisas são 
24 
transitórias, passageiras, e por isso Paulo diz que elas não são uma 
realidade permanente, senão uma aparência passageira, como lemos suas 
palavras em I Cor 7.31: 
“e os que usam deste mundo, como se dele não usassem em absoluto, 
porque a aparência deste mundo passa.”. 
O dom da vida que reside no espírito é muito mais do que o sustento do 
corpo físico. 
É por isso que Jesus diz o que lemos em seu ensino sobre esta verdade em 
Mt 6.25: 
“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que 
haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso 
corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o 
corpo mais do que o vestuário?”. 
A bem-aventurança não se encontra de fato nas coisas terrenas porque 
elas não podem aquietar o coração atribulado. Elas não podem trazer 
alívio e livramento ao coração que está sendo batido pelas batalhas 
espirituais. 
 A bem-aventurança não se encontra nas coisas terrenas porque é 
exatamente nelas que encontramos a maior fonte de tentação para nos 
afastar da comunhão com Deus, conforme vemos no dizer do apóstolo 
João em I Jo 2.15 a 17: 
“15 Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o 
mundo, o amor do Pai não está nele. 
16 Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a 
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do 
mundo. 
17 Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a 
vontade de Deus, permanece para sempre.”. 
A bem-aventurança que Deus tem para os seus filhos não é fugaz como 
todas as riquezas deste mundo; e não fere os nossos corações como tais 
riquezas, porque não há o temor de perdê-las. 
Se nós não tivermos estas coisas terrenas, não seremos amaldiçoados, 
nem sequer podemos ser mais santificados por causa delas. 
E devemos saber que é grande a tentação para entesourar riquezas para 
o próprio dano daquele que o fizer, como se diz em Eclesiastes 5.13: “Há 
um grave mal que vi debaixo do sol: riquezas foram guardadas por seu 
dono para o seu próprio dano;”. 
25 
Definitivamente não é no acúmulo de bens terrenos que devemos colocar 
todo o nosso empenho e esperança de encontrar a bem-aventurança. 
É com todas estas coisas em vista que Paulo afirma o que lemos em I Tim 
6.9,10: 
“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em 
muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens 
na ruína e na perdição. 
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça 
alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas 
dores.”. 
 
Muito bem. Tendo mostrado em que a bem-aventurança não consiste, eu 
mostrarei agora em que ela consiste: 
Em primeiro lugar, consiste em alegria, em regozijo e gozo pela certeza 
das coisas que o espírito possui. 
Um homem pode possuir uma propriedade e contudo não desfrutá-la. Ele 
pode ter o domínio da coisa mas não o seu conforto. Mas a verdadeira 
bem-aventurança sempre produz prazer na alma. 
Em segundo lugar, a bem-aventurança melhora a alma, e a enobrece, 
tornando-a mais preciosa para Deus e para o seu próprio possuidor. 
A bem-aventurança traz deleite verdadeiro e duradouro. 
Na verdadeira bem-aventurança há variedade. E somente em Jesus há a 
plenitude de todas as coisas das quais necessita o nosso espírito, como se 
vê em Col 1.19. 
A verdadeira bem-aventurança tem a eternidade estampada nela, e deve 
ser inabalável, algo que não admita nenhuma mudança ou alteração. 
O crente já se encontra abençoado em certo sentido. Somente o fato de 
ter escapadoda condenação eterna por estar em Cristo já é uma grande 
bênção. Mas há muitas bênçãos ocultas em Cristo que o crente é 
convocado a buscar através de uma vida devotada a Deus. 
Simei amaldiçoou Davi mas ele não se importou, ainda que em grande 
angústia e tribulação, porque tinha a convicção que ele era um abençoado 
de Deus. 
Os santos são coparticipantes da natureza divina como se afirma em II Pe 
1.4. Eles foram abençoados por Deus com todas as bênçãos espirituais nas 
regiões celestes em Cristo como se vê em Ef 1.3. 
Os crentes têm a semente de Deus neles (I Jo 3.9), e esta semente é a 
semente da bem-aventurança. 
26 
A flor da glória nasce da semente da graça. 
A graça e a glória não diferem em tipo mas em grau. 
A graça é a raiz e a glória o fruto. 
A graça é a gloria no amanhecer, e a glória é a graça no entardecer. 
A graça é o primeiro elo da corrente da bem-aventurança. 
Mas todo aquele que tem o primeiro elo da corrente na sua mão, tem a 
posse da corrente inteira com todos os seus demais elos. 
Os santos já são bem-aventurados porque os seus pecados não lhes serão 
mais imputados para juízo condenatório. Toda a dívida dos seus pecados 
foi paga por Cristo na cruz. 
Os santos já são bem-aventurados porque têm o selo do Espírito Santo. 
Eles têm todas as coisas desta vida cooperando para o seu bem. Tanto a 
prosperidade quanto a adversidade pode torná-los melhores, quer em 
gratidão, quer em devoção, santificação e adoração. 
Os santos já são bem-aventurados porque eles podem ser achados 
debaixo da cruz, mas não mais da maldição. 
 
Falemos agora sobre a primeira bem-aventurança. 
 
O Senhor Jesus diz em Mateus 5.3: “Bem-aventurados os pobres de 
espírito, porque deles é o reino dos céus.”. 
 
Nós podemos observar o toque e aroma da divindade neste sermão do 
Senhor, o qual vai além de toda a filosofia humana. 
Na verdade ele vai no sentido contrário da filosofia humana, porque aqui 
se diz que a pobreza produz riquezas, e não somente isto, que aquele que 
é enriquecido pela pobreza aqui referida, possui um reino. 
De igual modo, nós veremos na bem-aventurança que se segue a esta 
primeira, que o choro, a tristeza, produz conforto. 
Diz-se que a água das lágrimas acenderá a chama da verdadeira alegria. 
E mais ainda, que a perseguição trará felicidade, pois se diz que felizes são 
os perseguidos por causa da justiça. 
Observe como diferem a doutrina de Cristo e a opinião dos homens 
carnais. Eles pensam que bem-aventurados são os ricos, mas Cristo diz que 
bem-aventurado é o pobre de espírito. 
O mundo pensa que bem-aventurados são aqueles que se encontram no 
pináculo da glória mundana, mas Cristo diz que bem-aventurados são os 
que estão no vale. 
27 
Aqueles que usariam as joias de Cristo, mas que recusam a Sua cruz, são 
estranhos ao verdadeiro cristianismo. 
Observe a conexão entre a graça e a sua recompensa. 
Aqueles que são pobres de espírito terão o reino de Deus. 
Nosso Salvador encoraja os homens à santidade associando 
mandamentos com promessas. 
Ele amarra dever e recompensa juntamente. 
Uma parte destes versículos das bem-aventuranças consiste no dever e a 
outra parte consiste na recompensa. 
Nós observamos também nas bem-aventuranças que elas estão 
encadeadas e uma conduz a outra. 
Aquele que tem pobreza de espírito é quebrantado. 
Aquele que é quebrantado é submisso. 
Aquele que é submisso é misericordioso e assim por diante. 
Nisto consiste a diferença entre um verdadeiro filho de Deus, e um 
hipócrita. 
O hipócrita se gaba de possuir alguma graça pretensiosa, no entanto ele 
não possui todas as graças, como verdadeiramente as possui aquele que 
é nascido do Espírito. 
O hipócrita não tem pobreza de espírito, nem pureza de coração. 
Mas um filho de Deus tem todas as graças no seu coração, ainda que seja 
em semente, e necessite ainda crescer em graus. 
Ser pobre de espírito não é o mesmo que ser pobre de bens terrenos, 
porque é possível ser pobre de bens e não ser pobre de espírito. 
E há também distinção em ser espiritualmente pobre, e ser pobre de 
espírito, porque aquele que não tem a graça de Jesus, é espiritualmente 
pobre, e não é pobre de espírito, e não conhece até mesmo a sua pobreza 
espiritual, como se vê em Apo 3.1. 
Bem, então, o que devemos entender por pobre de espírito? 
A palavra grega para pobre é ptocoi, e esta significa estar reduzido à 
mendicância, ser destituído de riqueza, influência, posição, honra, e estar 
destituído de virtudes cristãs e riquezas eternas, ser desamparado, e 
impotente para realizar um objetivo, enfim, ser necessitado em todos os 
sentidos. 
Pobre de espírito significa então aqueles que são trazidos ao senso da sua 
própria miséria, em razão dos seus pecados, e que não veem nenhuma 
bondade em si mesmos, e em seu desespero se entregam completamente 
à misericórdia de Deus em Cristo. 
28 
Pobreza de espírito é um tipo de auto negação. 
A pessoa se vê como o publicano da parábola de Lc 18.13, e fala 
juntamente com Paulo que não há nenhuma justiça nela própria que lhe 
possa recomendar a Deus, como se vê em Fp 3.9. 
Por que Jesus teria começado o sermão do Monte com pobreza de 
espírito? 
Certamente o Senhor a colocou na frente das demais bem-aventuranças, 
citando-a antes das demais, porque a pobreza de espírito é o fundamento 
no qual todas as outras graças são colocadas. 
Tal como o fruto não pode ser produzido numa árvore sem raiz, de igual 
modo as demais graças não podem existir sem pobreza de espírito. 
Quando uma pessoa vê os seus próprios defeitos e se vê imperfeita por 
causa dos seus pecados, então chorará na presença de Cristo. 
E esta pobreza de espírito fará com que tenha fome e sede de justiça, 
porque desejará estar conformado àquilo que Deus é em Sua própria 
natureza, a saber: santo. 
Assim, a pobreza de espírito é a causa da humildade, porque quando um 
homem vê a sua necessidade de Cristo, e como depende das suas graças, 
isto o leva a se humilhar. 
E até que sejamos pobres de espírito, não somos habilitados a receber a 
graça. 
Aquele que está inchado com uma opinião de autoexcelência e 
autosuficiência, não está ajustado para receber a Cristo. 
Ele já está cheio de si mesmo. 
Se a mão está cheia de pedras, ela não pode receber ouro. 
O copo deve ser esvaziado primeiro, antes que possa ser enchido com a 
água viva do Espírito. 
Assim, Deus esvazia primeiro o homem de si mesmo, antes de enchê-lo 
com a Sua preciosa graça. 
Somente o pobre de espírito pode ser alcançado pela missão de Cristo, 
porque se diz que ele veio para os que estão quebrados quanto ao senso 
da sua indignidade: 
Nós lemos no texto de Isaías 61.1: 
“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu 
para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos 
de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos 
presos;”. 
Até que sejamos pobres de espírito, Cristo não é precioso para nós. 
29 
Antes de vermos nossas próprias necessidades, nunca veremos o valor 
que Cristo tem para nós. 
Os que são ricos em pobreza de espírito são aqueles que são 
verdadeiramente ricos da graça de Deus, porque Ele a derrama 
abundantemente sobre os humildes. 
Deste modo, as riquezas de um crente consistem na sua pobreza de 
espírito. 
Esta pobreza o habilita a um reino celestial. 
Logo, quão pobres são aqueles que pensam serem ricos, e quão ricos são 
aqueles que se veem pobres e necessitados da graça de Deus! 
Se bem-aventurado é o pobre de espírito, então pelo sentido oposto 
podemos entender que o amaldiçoado é o orgulhoso de espírito, como 
vemos em Pv 16.5, que diz: 
“Todo homem arrogante é abominação ao Senhor; certamente não ficará 
impune.” 
Aqueles que se julgam muito bons para irem para o céu jamais o 
alcançarão. 
Tal como o fariseu de Lc 18.11 não serão justificados por Deus porque o 
orgulho deles não lhes permite enxergarem o quanto necessitam de 
arrependimento. 
Não admira que Cristo chame tais homens de cegos porque eles estão nus, 
mas se recusam a receber o vestidobranco de justiça de Jesus para 
cobrirem a sua nudez, porque pensam que são ricos e que não necessitam 
de nada da parte do Senhor. 
Eles estão cegos e não poderão ver que estão nus caso não apliquem o 
colírio de Cristo aos seus olhos espirituais para que possam ver. 
O pobre de espírito é verdadeiramente rico para com Deus porque entre 
os muitos benefícios que lhe advêm de tal pobreza podemos destacar os 
seguintes: 
O pobre de espírito é desmamado de sua própria alma. O seu ego deixa 
de ser o centro de seus objetivos e atenções, e Cristo passa a ocupar este 
lugar central em sua vida. 
Ele não confia em si mesmo e não busca apoio na sua própria alma para 
estar firme, mas nAquele que o fortalece em tudo. 
Assim, o pobre de espírito é um adorador e admirador de Cristo. 
Ele tem os pensamentos mais elevados acerca de Jesus. 
Ele se vê nu e corre para Cristo para se cobrir com a Sua veste de justiça, 
de modo a poder obter a Sua bênção. 
30 
O pobre de espírito nunca está satisfeito com a pobreza da sua alma 
quanto aos dons e graças de Deus, e se empenha diligentemente em 
buscá-los nEle, para enriquecer o seu espírito. 
Ele lamenta sempre por não ter mais graça para poder glorificar ainda 
mais o nome do Seu Deus. 
E esta é a diferença principal entre o hipócrita e um verdadeiro filho de 
Deus. 
O hipócrita se gaba daquilo que pensa possuir, e o filho de Deus lamenta 
o que lhe falta e reconhece que sem a graça do Senhor nada é e nada tem. 
Assim, aquele que é pobre de espírito é também humilde de coração. 
Homens ricos costumam ser orgulhosos e arrogantes, mas o pobre de 
espírito é manso e submisso. 
E quanto mais graça ele tem, mais humilde ele se torna, pois entende o 
quanto é devedor a Deus. 
Quando executa bem qualquer dever reconhece que o fez muito mais pela 
força de Cristo do que pela sua própria força; porque ele reconhece que o 
seu trabalho na obra de Deus foi realizado pela graça do Senhor, sendo 
portanto imitador do apóstolo Paulo, conforme podemos ver em I Cor 
15.10. 
O pobre de espírito ora muito porque reconhece o quanto depende da 
oração porque vê o quão longe está do padrão da santidade divina, então 
implora mais graça e mais fé ao Senhor, para poder estar em 
conformidade com Ele. 
O pobre de espírito é muito grato porque sabe o quanto tem sido alvo da 
misericórdia de Deus. 
A pobreza de espírito é o fundamento no qual Deus constrói o edifício da 
glória. 
Deste modo, é possível que alguém tenha as riquezas do mundo e ainda 
ser pobre, porque a verdadeira riqueza de alguém não consiste na 
quantidade de bens mundanos que ele possui, mas na grandeza da sua 
pobreza de espírito. 
Quanto mais pobre de espírito uma pessoa for, mais rica ela será da graça 
de Jesus, porque terá sempre mãos vazias para serem enchidas por Deus 
com as bênçãos espirituais que destinou aos crentes em Cristo Jesus. 
E assim se cumpre a verdade citada em Ef 1.3: 
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos 
abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em 
Cristo;”. 
31 
Esta pobreza é a nobreza do crente. 
Deus olha para o pobre de espírito como uma pessoa honrada. 
Aquele que é vil aos seus próprios olhos é precioso aos olhos de Deus, 
porque se apresenta verdadeiro diante dEle por se reconhecer ser um vil 
pecador. 
A pobreza de espírito aquieta a alma, pois leva a pessoa a descansar em 
Cristo. 
Ele se vê pobre, mas pode dizer juntamente com Paulo em Fp 4.19: “o meu 
Deus proverá todas as minhas necessidades”. 
Os que desejam ser ricos segundo o mundo buscam construir um reino 
temporal aqui, mas o pobre de espírito almeja por um reino celestial. 
E os santos reinarão com Cristo numa maneira gloriosa, porque lhes é 
prometido não um reino terreno, mas o reino dos céus. 
Depois da morte os santos são coroados como vemos em Apo 2.10. 
Eles não são apenas perdoados por Cristo, mas são também coroados. 
A coroa é um símbolo de honra e autoridade. 
A coroa que os santos receberão é mais excelente do que todas as demais. 
E não haverá o risco de se perder esta coroa, conforme o temor que 
sentem os reis terrenos quanto à possibilidade de perderem as suas. 
Esta coroa não instigará inveja porque um santo não invejará outro, 
porque todos serão coroados. 
Esta coroa é imarcescível, porque não pode murchar, tal como 
murchavam as coroas de louro que os atletas vitoriosos recebiam no 
passado. E esta coroa dos crentes é também eterna, e jamais perderá o 
seu brilho, conforme se vê em I Pe 5.4. 
No terceiro céu, a saber, no paraíso, que é citado em II Cor 12.2, neste 
lugar sublime e glorioso será erguido o trono dos santos, e este trono é 
seguro e inabalável, conforme a promessa que Jesus fez aos crentes 
vencedores em Apo 3.21:. 
“Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono.”. 
 Um preço foi pago para isto. Jesus derramou o seu sangue na cruz para 
que o santos conquistassem o reino através do Seu sangue. 
Jesus foi pregado na cruz para nos trazer à coroa. 
Ele diz que bem-aventurados são os pobres de espírito porque eles têm 
um reino, a saber, o reino do céu. 
E aqueles que têm um reino têm também uma coroa. 
A recompensa da pobreza de espírito é portanto muito alta e não pode 
ser comparada a nenhum bem terreno passageiro. 
32 
Nós entendemos então porque são tão fortes as exigências de Deus para 
que os Seus filhos se santifiquem em tudo, empenhando-se em todo o 
esforço para mortificarem o pecado e a carne, pois afinal, a recompensa 
que lhes é feita é a de um reino eterno celestial glorioso. 
Nós podemos pensar que é um grande sacrifício nos empenharmos para 
mortificar definitivamente o pecado em nossas vidas, mas Deus não acha 
nenhum sacrifício em nos dar graciosamente um reino tão maravilhoso; o 
contrário, foi do Seu inteiro agrado concedê-lo a nós, conforme se vê 
em Lc 12.32. 
Os crentes são herdeiros do reino, e qual destes herdeiros não deseja ser 
coroado? 
Tiago nos diz em Tg 2.5: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus 
os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros 
do reino que prometeu aos que o amam?”. 
Enquanto neste mundo, parece que os santos fiéis e piedosos são 
massacrados pelas suas próprias fraquezas, e pelas investidas furiosas dos 
principados das trevas sobre eles, mas eles são chamados pelo Senhor a 
exultarem em tudo isto porque a fidelidade deles será recompensada com 
um reino onde serão consolados definitivamente de todos os seus 
sofrimentos. 
Para que tivéssemos a firme certeza desta esperança Deus colocou o reino 
dentro de nós. 
O reino de Deus está dentro do crente como se vê em Lc 17.21. 
Este reino significa o reino da graça no coração. 
E a graça pode ser comparada a um reino porque ordena a lei de Deus no 
espírito e executa tudo o que é necessário para a nossa transformação de 
glória em glória à própria imagem e semelhança do Senhor. 
A graça rege sobre os nossos pecados destruindo-os e colocando-os com 
sua autoridade, em cadeias. E governa assim sobre o orgulho, sobre a 
paixão e a incredulidade. 
Se há evidências seguras deste reino da graça trabalhando no nosso 
coração, então podemos estar certos de que entraremos no reino dos céus 
depois da nossa morte, e de que seguramente seremos coroados por 
Cristo para reinarmos juntamente com Ele. 
Lembremos que assim como há graus de tormento para aqueles que 
forem para o inferno, de igual modo há graus de glória para os herdeiros 
do reino de Deus, e assim quanto mais serviço alguém fizer para o Senhor, 
33 
maior será a sua glória no reino futuro que lhe está prometido e garantido 
por Deus. 
Deus recompensará os homens segundo as suas obras, e assim, quanto for 
maior o serviço, maior será a recompensa. 
Deus tem planejado isto para nos incentivar a buscarmos uma santidade, 
devoção e serviço cada vez maiores. 
Quanto for maior a glória que Deus receber através de nossas obras, maior 
será a nossa própria glória quando estivermos reinando juntamente com 
Cristo. 
Isto seráuma grande honra para nós pelo modo como o Senhor nos 
distinguirá como forma do Seu agrado pela nossa fidelidade a Ele. 
Basílio disse que a esperança de um reino deveria levar o crente a ter 
coragem e alegria em todas as suas aflições. 
 
Nós encerraremos nosso comentário sobre a primeira bem-aventurança, 
com esta citação de Basílio, e estaremos comentando em seguida a 
segunda bem-aventurança citada por Jesus em Mateus 5.4, a de que os 
que choram são bem-aventurados porque serão consolados. 
 
Há oito degraus na escada da bem-aventurança. Eles podem ser 
comparados à escada de Jacó que alcançava o topo do céu. Nós já 
analisamos o primeiro e agora falaremos sobre o segundo degrau, que é 
o da consolação que nos vem pelo fato de chorarmos. 
Nós temos que passar pelo vale das lágrimas para podermos chegar ao 
paraíso. 
Choro é um assunto triste e desagradável para se tratar, mas não é nisto 
em que consiste a bem-aventurança, senão no consolo que vem depois do 
choro. 
O choro é colocado aqui no lugar do arrependimento. E o que o texto quer 
afirmar é que os quebrantados são bem-aventurados, porque embora as 
lágrimas dos santos sejam lágrimas amargas, contudo elas são lágrimas 
abençoadas. 
Há uma tristeza mundana que consiste geralmente no lamento pela perda 
de coisas terrenas, e há uma tristeza diabólica que é o lamento por não se 
poder satisfazer aos desejos pecaminosos, e à soberba da vida. 
Há dois objetos da tristeza espiritual referida por Jesus nesta bem-
aventurança: primeiro, tristeza pelo nosso próprio pecado, e segundo, 
tristeza pelo pecado de outros. 
34 
Enquanto nós tivermos o fogo do pecado queimando em nossas vidas, 
nós, temos que ter a água das lágrimas para extingui-lo (Ez 7.16). 
João Crisóstomo dizia que bem-aventurados não eram necessariamente 
aqueles que choram pelos mortos, mas os que choram por causa do 
pecado. 
 A Caim aborreceu mais o castigo que Deus proferiu sobre ele, do que o 
seu próprio pecado. Ele disse que o seu castigo era mais do que o que ele 
poderia suportar. Em vez de chorar e se arrepender ele se endureceu no 
seu pecado. 
Assim, a declaração de Caim é uma rebelião e não uma demonstração de 
arrependimento. 
Tal como ele há muitos que rasgam as suas vestes diante de Deus, mas 
não os seus corações. 
Um arrependimento sincero é espontâneo e voluntário. 
Um arrependimento verdadeiro é espiritual, pois nos faz lamentar muito 
mais pelo pecado do que pelo sofrimento ao qual o nosso pecado deu 
causa. 
Faraó estava triste pela pestilência que o Egito estava sofrendo, mas não 
pela pestilência que havia em seu próprio coração endurecido, que estava 
dando causa a todos aqueles juízos que Deus despejou sobre o Egito nos 
dias de Moisés. 
Um pecador pode assim lamentar os juízos que acompanham os seus 
pecados, e não lamentar propriamente pelo pecado. 
A palavra hebraica para pecado é hatat, e significa rebelião. 
Esta palavra define bem o que é o pecado, porque um pecador luta contra 
Deus. 
Então bem-aventurados são todos os que conhecem o que significa o 
pecado e que se entristecem pela sua condição de pecadores, com o 
desejo de serem santificados por Deus, e serem libertos dos seus 
pecados. 
Nós temos que chorar pelo pecado como sendo a forma de ingratidão 
mais alta. 
Nós pecamos contra o sangue de Cristo e contra a graça do Espírito Santo 
e não choraremos? 
Nós reclamamos da descortesia que sofremos da parte de outras pessoas 
e não choraremos pela nossa própria descortesia para com Deus? 
35 
Mas não são apenas estes os motivos pelos quais devemos chorar por 
causa do pecado. Nós devemos chorar também o fato de o pecado nos 
impor uma privação, pois nos impede de ter comunhão com Deus. 
Por isso, as lágrimas do evangelho devem cair do olho da fé. Se estas 
lágrimas espirituais de tristeza pelo pecado não fluírem de nós, de 
maneira alguma poderemos receber as consolações do Espírito Santo, 
traduzidas no derramar das suas graças em nossos corações. 
As águas de um verdadeiro arrependimento são águas que limpam. Elas 
levam para longe, como numa inundação, toda a sujeira dos nossos 
pecados. 
Tal como o apóstolo Paulo diz em II Cor 7.10: 
“Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, 
o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo opera a morte.” . 
Este tipo de tristeza pelo pecado que é segundo Deus, traz indignação 
contra o pecado, luta contra o pecado, defesa da justiça de Deus: 
Diz-se que bem-aventurados são os que choram, porque lágrimas 
procedem dos olhos, e a palavra hebraica para olho, é ain, que é a mesma 
palavra usada para fonte, manancial. 
Isto indica que nossas lágrimas por causa do pecado têm que jorrar 
continuamente de nossos olhos espirituais, assim como a água que jorra 
de uma fonte. 
As águas do arrependimento não devem transbordar somente pela 
manhã, mas durante todos os períodos do dia. 
Como Paulo disse: eu morro diariamente'”” (I Cor 15:31), assim um crente 
também deveria dizer: “eu lamento diariamente”. 
Esta tristeza pelo pecado é o melhor antídoto contra a apostasia, a saber, 
para não se voltar as costas para Deus e abandonar a comunhão dos 
santos na Igreja. 
Até mesmo os próprios filhos de Deus têm que chorar pelo pecado, 
pedindo perdão a Deus, para perdoar pecados passados, presentes e 
futuros, porque assim como o arrependimento é renovado, o perdão 
também é renovado. 
Caso os pecados pudessem ser perdoados antes de serem cometidos, isto 
tornaria nulo o ofício de Cristo de nosso Mediador e Sumo-Sacerdote, 
porque não haveria necessidade da Sua intercessão em nosso favor junto 
do Pai. 
É importante saber que embora o pecado seja perdoado, ele ainda tentará 
se rebelar, embora seja coberto, no entanto não está curado (Rom 7.23). 
36 
Assim como a água penetra no casco de um barco furado, e deve ser 
escoada continuamente para que o barco não afunde, de igual modo 
navegamos nas águas do pecado, que devem ser continuamente escoadas 
de nossas vidas através do arrependimento. 
Assim como nós choramos pelos nossos próprios pecados, devemos 
também chorar pelos pecados de outros. Chore pelos erros e blasfêmias 
da nação. Chore pelo quanto a vontade de Deus é transgredida no mundo, 
pelo quanto a Sua Palavra é desonrada e quanto o Seu santo nome é 
blasfemado. 
Nossas lágrimas podem ajudar a extinguir a ira de Deus, que está pronta 
a ser despejada sobre o mundo pecador. 
Por isso a Palavra nos ordena a interceder em favor de todos os homens, 
e a maior parte desta intercessão consiste no pedido de misericórdia a 
Deus pelos seus pecados, como podemos ver em I Tim 2.1,2. 
Quando há sinais de que a ira de Deus está pronta para irromper sobre a 
nação, sobre os nossos lares, igrejas, não há momento mais oportuno para 
intensificarmos a nossa tristeza em arrependimento pelo pecado, porque 
quando Deus tira a Sua espada da bainha para pelejar contra o mundo de 
pecado, quando parece que Ele está de pé no limiar do templo, pronto 
para levar de nós o Seu evangelho e nos abandonar, nossas lágrimas 
possivelmente podem fazer com que cesse a Sua ira e Ele volte a ser 
favorável a nós. E este procedimento é ordenado na própria Bíblia, como 
podemos ver os profetas Isaías, Oseias, Joel, Sofonias, entre outros. 
A Ceia do Senhor é também outro momento oportuno para nos 
entristecermos pelos nossos pecados e confessá-los a Deus. 
Se ela foi instituída por Jesus para ser um memorial da Sua morte, então 
certamente Ele deseja que façamos uma justa avaliação dos nossos 
pecados, pois foi exatamente por causa deles que Ele morreu na cruz. 
E se é pela morte do Senhor que alcançamos misericórdia da parte de 
Deus, não podemos esquecer que sem uma tristeza amarga pelo pecado 
não podemos receber tal misericórdia, porque a ausência de tristeza pelo 
pecado indica o nosso desprezo pelo Seu sacrifício, e a falta de 
reconhecimento da necessidade que temos da Sua misericórdia para 
sermos perdoados. 
Quando há ausência de sensibilidade pelo pecado, o coração permanece 
endurecido como pedra.E uma pedra não é sensível a qualquer coisa. Um 
coração de pedra é conhecido por sua inflexibilidade. Uma pedra não se 
37 
dobra e não se rende ao toque. Por isso um coração endurecido não se 
inclinará diante do cetro de Cristo. 
Há muitos murmuradores, mas poucos quebrantados de coração. A 
maioria está como o chão rochoso no qual há falta de umidade, como se 
vê na parábola do semeador. 
Nós ouvimos muitos lamentos em tempos difíceis, mas os que lamentam 
não estão conscientes de terem um coração endurecido. 
Quando Deus chama os homens ao arrependimento em vez de 
lamentarem por seus pecados, eles endurecem seus corações e se alegram 
em suas luxúrias em vez de se entristecerem, eles se colocam na situação 
de juízo extremamente perigosa, citada em Is 22.12-14. 
É exatamente para evitar este terrível endurecimento de coração que o 
apóstolo Tiago nos ordena a transformar o nosso riso em pranto, quando 
há pecados em nós ou em outros para serem lamentados, em vez de 
vivermos nos alegrando desconsiderando tais pecados numa clara 
demonstração de desprezo aos juízos de Deus. 
“Senti as vossas misérias, lamentai e chorai; torne-se o vosso riso em 
pranto, e a vossa alegria em tristeza.” (Tg 4.9). 
É melhor chorar pelo pecado e ser alegrado por Deus, do que se alegrar 
agora no pecado, e depois chorar eternamente num juízo eterno. 
É neste sentido que entendemos as palavras proferidas por Cristo em Lc 
6.24,25. 
“24 Mas ai de vós que sois ricos! porque já recebestes a vossa consolação. 
25 Ai de vós, os que agora estais fartos! porque tereis fome. Ai de vós, os 
que agora rides! porque vos lamentareis e chorareis.” (Lc 6.24,25). 
É somente quando o pecado cessar que as lágrimas também cessarão (Apo 
7.17). 
Por isso, enquanto estivermos neste mundo, devemos evitar a todo custo 
a maldição de um engano terrível que é muito comum de se ver, pois não 
são poucos os que afirmam a misericórdia de Deus como pretexto para 
continuarem em seus pecados. 
Assim, alguém afirma que Deus é misericordioso e então se entrega à 
prática deliberada do pecado. 
Mas afinal para quem é a misericórdia? 
Para o pecador que não se arrepende, ou para o pecador entristecido? 
Não há misericórdia para aquele que não pretende abandonar o pecado. 
38 
Deus faz uma proclamação de misericórdia ao quebrantado, e como pode 
então aquele que vive abertamente em rebelião contra Ele reivindicar o 
benefício do Seu perdão? 
Outro grande perigo para o endurecimento do coração é o fato de se 
pensar que há pecados pequenos que não são considerados por Deus. 
“Não é um pequeno pecado?”. 
Eles dizem. 
E assim ficam endurecidos e insensíveis e incapazes de lamentar por suas 
misérias. 
E quem buscaria a Deus com um coração penitente em busca de 
misericórdia, enquanto continuar pensando que o pecado é apenas uma 
coisa leve? 
Nenhum pecado pode ser pequeno porque é contra a Majestade do céu. 
Não há nenhuma traição pequena, porque todas elas são contra a pessoa 
do Rei Jesus. 
Não permita portanto, que Satanás lance uma nuvem diante de seus olhos 
para que você não veja a real dimensão do pecado. 
E ninguém se iluda com a infinita paciência e longanimidade de Deus que 
faz com que Ele não execute imediatamente a Sua sentença sobre o 
pecado. 
Deus não é um credor precipitado que requer o pagamento imediato da 
dívida e que não dá nenhum tempo para o seu pagamento. 
A longanimidade de Deus não deve ser portanto um motivo para 
abusarmos da Sua bondade e graça, e assim nenhum crente verdadeiro 
deveria permitir que o canal da tristeza que conduz ao arrependimento 
seja obstruído pela corrupção do pecado. 
O juízo do Senhor é como uma pedra que cai, cujo peso de impacto é maior 
quanto maior for o tempo da sua queda. 
Pecados contra a paciência de Deus são pecados terríveis porque nem 
mesmo os anjos caídos cometeram este tipo de pecado que é contra a 
misericórdia e longanimidade de Deus. 
 Então é preciso que o Espírito Santo produza em nós quebrantamento de 
coração e inspire nossas tristezas pelo pecado para que possamos 
expressá-las diante de Deus. 
O consolo prometido no texto da bem-aventurança é produzido 
pelo Espírito. 
39 
Observe que Deus reserva a melhor safra do seu vinho para o final. 
Primeiro ele prescreve tristeza pelo pecado e então serve por último o 
vinho da consolação. 
O diabo faz exatamente o contrário. Ele serve o melhor primeiro e reserva 
a pior safra para o final. 
Satanás oferece os seus pratos delicados diante dos homens. Ele lhes 
apresenta o pecado de uma forma colorida, atraente, com beleza, 
adocicado com prazer, com lucro, e então, no fim, a triste conta é 
apresentada para ser paga. 
Esta é a razão por que o pecado tem tantos seguidores, porque mostra o 
melhor primeiro. 
Mas Deus mostra o pior primeiro. Primeiro ele prescreve um remédio 
amargo, o do arrependimento, e é isto o que nos leva a chorar, mas então 
Deus nos dá uma recompensa, a de sermos consolados conforme a 
promessa da bem-aventurança. 
Por isso as lágrimas do evangelho não são perdidas porque são sementes 
de consolo divino. 
Depois da corrente de lágrimas o Espírito Santo faz fluir no nosso interior 
uma corrente de alegria. 
Daí, se dizer que aqueles que semeiam em meio a lágrimas ceifarão com 
alegria, conforme se lê no Sl 126.5. 
O coração quebrantado é esvaziado do orgulho e então Deus o enche com 
a Sua bênção. 
O vale de lágrimas traz ao espírito um paraíso de alegria. 
A alegria de um pecador impenitente produzirá tristeza, porque é sempre 
este o salário que é pago pelo pecado. 
Mas a tristeza do quebrantado produz alegria. “Sua tristeza será 
transformada em alegria” (João 16:20). 
As consolações que Deus dá aos quebrantados excedem todos os demais 
consolos e a raiz na qual estes confortos crescem é o Espírito Santo. 
Ele é chamado ”o Consolador” em João 14.26. 
E o Espírito consola aplicando as promessas a nós mesmos e nos ajudando 
a tirar águas desses mananciais da salvação. 
O Espírito derrama o amor de Deus no coração do crente e sussurra 
secretamente a ele o perdão que recebeu para os seus pecados, e esta 
visão do perdão dilata o coração com alegria. 
Estes confortos são reais e verdadeiros, porque o Espírito de Deus não 
pode testemunhar aquilo que é falso. 
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Há muitos nesta época que fingem confortar, mas os confortos deles são 
meras imposturas. 
Mas os confortos dos santos são verdadeiros porque eles têm o selo do 
Espírito Santo fixado neles. 
Quando um homem é trazido aos mandamentos de Cristo, para crer e 
obedecer, então ele fica preparado para receber a misericórdia. 
É por isso que antes de consolar o Espírito primeiro convence do pecado. 
E quando o coração é arado pelo convencimento do pecado, Deus semeia 
nele a semente do conforto. 
Assim, aqueles que se vangloriam de conforto, mas que nunca foram 
convencidos ainda de seus pecados, nem quebrantados por causa dos 
seus pecados, devem ter motivo para suspeitar que o conforto deles não 
passa de uma ilusão de Satanás. 
O Espírito de Deus é um Espírito santificante, antes de ser um Espírito 
consolador. 
Alguns falam do Espírito confortante mas nunca tiveram o Espírito 
santificante. 
Assim, suas alegrias são falsas, e estes falsos confortos deixarão os 
homens na morte. 
Eles terminarão em horror e desespero. 
Então os efeitos da verdadeira consolação do Espírito Santo são 
completamente diferentes dos confortos de Satanás, que muitos alegam 
ser de Deus. 
O diabo é capaz, não somente de se transfigurar em anjo de luz, como se 
lê em II Cor 11.14, como também em se disfarçar em consolador. 
Mas os consolos de Deus nos conduzem à humilhação porque não 
permitem que sejamos inchados com orgulho, apesar destes consolos do 
Espírito Santo elevarem o nosso coração em gratidão. 
E os confortos que Deus dá aos quebrantados não são misturados. Eles 
não trazem pesar conforme se afirma em II Cor 7.10. 
Mas os confortos mundanos são como água misturada com sujeira, 
porque em meio aos sorrisos o coração está triste. 
O pecador pode ter um

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