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PROBLEMA 6 CORPOS CETÔNICOS - A mitocôndria hepática tem a capacidade de converter acetil-CoA proveniente da β-oxidação de ácidos graxos em corpos cetônicos. Os compostos classificados como corpos cetônicos são o acetoacetato, o 3-hidroxibutirato (também chamado de β-hidroxibutirato) e a acetona (produto colateral não metabolizável). - O acetoacetato e o 3-hidroxibutirato são transportados pelo sangue aos tecidos periféricos, onde podem ser novamente convertidos em acetil-CoA, que é oxidado no ciclo de Krebs. - Importância: - São solúveis em meio aquoso, ou seja, não precisam ser incorporados ou transportados por lipoproteínas ou albumina. - Produzidos no fígado, quando há alta de acetil-CoA. - São usados pelos tecidos extra-hepáticos (músculos, encéfalo, rins) em quantidade proporcional a sua concentração sanguínea, podendo permitir economia de glicose (importante no jejum prolongado). - A produção e exportação dos corpos cetônicos do fígado para tecidos extra-hepáticos permite a oxidação contínua de ácidos graxos no fígado quando acetil-CoA não está sendo oxidada no ciclo de Krebs. CETOGÊNESE - No jejum, o fígado é inundado com ácidos graxos mobilizados do tecido adiposo. Como resultado, eleva- se a produção de acetil-CoA hepática, principalmente pela degradação de ácidos graxos. - Acetil-CoA inibe a piruvato-desidrogenase e ativa a piruvato-carboxilase. O oxaloacetato produzido é usado pelo fígado na gliconeogênese, mais do que no ciclo de Krebs. Desse modo, a acetil-CoA é canalizada para a síntese de corpos cetônicos. - Ainda, a oxidação de ácidos graxos diminui a razão NAD+/NADH, e o aumento de NADH favorece a conversão de OAA em malato. Isto dirige a acetil-CoA para a cetogênese. - A primeira etapa na formação de acetoacetato, que ocorre no fígado, é a condensação enzimática de 2 moléculas de acetil-CoA, catalisada pela tiolase (inverso da última etapa da β-oxidação). - A HMG-CoA-sintase mitocondrial combina uma terceira molécula de acetil-CoA com acetoacetil-CoA para produzir HMG-CoA. (HMG-CoA-sintase citosólica é responsável pela síntese de colesterol). - A reação da HMG-CoA-sintase é a etapa limitante na síntese de corpos cetônicos e esta enzima ocorre em quantidades significantes somente no fígado. - O HMG-CoA é clivado para produzir acetoacetato e acetil-CoA. O acetoacetato pode ser reduzido para formar 3-hidroxibutirato, utilizando NADH como doador de hidrogênio. O acetoacetato pode também sofrer descarboxilação espontânea no sangue, formando acetona (não metabolizado biologicamente, que pode ser liberado na respiração). - Equilíbrio acetoacetato/3-hidroxibutirato: razão NAD+/NADH. β-oxidação → consumo de NAD+ → síntese de 3-hidroxibutirato favorecida. CETÓLISE - A síntese é muito mais significativa durante o jejum, quando os corpos cetônicos são necessários para produzir energia nos tecidos periféricos. - O 3-hidroxibutirato é oxidado a acetoacetato pela 3-hidroxibutirato-desidrogenase, produzindo NADH. - O acetoacetato é ativado ao seu éster de coenzima A pela transferência da CoA do succinil-CoA, intermediário do ciclo de Krebs, catalisada pela β-cetoacil-CoA-transferase (ou tioforase). - Essa reação é reversível, mas o produto, acetoacetil-CoA, é ativamente removido por sua conversão em duas moléculas de acetil-CoA. Assim, os tecidos extra-hepáticos oxidam eficientemente o acetoacetato e o 3-hidroxibutirato. - Assim, os corpos cetônicos são usados como combustível em todos os tecidos, exceto o fígado, que carece de tioforase. O fígado é, consequentemente, um produtor de corpos cetônicos para os outros tecidos, mas não um consumidor. - A produção e exportação dos corpos cetônicos pelo fígado permite a oxidação contínua de ácidos graxos com mínima oxidação de acetil-CoA. - Quando os intermediários do ciclo de Krebs são desviados para a síntese de glicose pela gliconeogênese, por exemplo, a oxidação dos intermediários do ciclo desacelera – bem como a oxidação de acetil-CoA. - Além disso, o fígado contém apenas uma quantidade limitada de coenzima A, e quando a maior parte está comprometida com acetil-CoA, a β-oxidação desacelera esperando por coenzima livre. A produção e a exportação de corpos cetônicos liberam a coenzima A, permitindo a contínua oxidação dos ácidos graxos. PRODUÇÃO EXCESSIVA NO DIABETES - Jejum e diabetes melito não tratado leva à superprodução de corpos cetônicos, com vários problemas médicos associados. Durante o jejum, a gliconeogênese consome os intermediários do ciclo de Krebs, desviando acetil-CoA para a produção de corpos cetônicos. - No diabetes não tratado, quando o nível de insulina é insuficiente (tipo 1), os tecidos extra- hepáticos não podem captar a glicose do sangue de maneira eficiente, para combustível ou para conservação como gordura. - Nessas condições, os níveis de malonil-CoA (início da síntese de ácidos graxos) caem, a inibição da carnitina-aciltransferase 1 é aliviada, e os ácidos graxos entram na mitocôndria para ser degradado a acetil-CoA – que não pode passar pelo ciclo do ácido cítrico, já que os intermediários do ciclo foram drenados para uso como substrato na gliconeogênese. O acúmulo resultante de acetil-CoA acelera a formação de corpos cetônicos além da capacidade de oxidação dos tecidos extra-hepáticos. - ↑ acetoacetato e 3-hidroxibutirato → ↓ pH sangue → acidose (pode levar ao coma e à morte). - Diabéticos com cetose grave: concentração sanguínea de 90mg/mL (normal é < 0,03mg/mL) e excreção urinária de 5000mg/24h (normal é 125mg/24h). ** Dietas hipocalóricas também podem causar cetoacidose. INSULINA - A insulina é um hormônio polipeptídico produzido pelas células β das ilhotas de Langerhans - grupos de células endócrinas, incrustados na porção exócrina do pâncreas. Seus efeitos metabólicos são anabólicos, favorecendo, por exemplo, a síntese de glicogênio, de TAGs e de proteínas. SÍNTESE - Envolve dois precursores inativos, a pré-pró-insulina e a pró-insulina, que são clivados sequencialmente para formar o hormônio ativo mais o peptídeo C, essencial para a organização correta da molécula de insulina, além de ser um bom indicador da produção e secreção dela. - A insulina é estocada em grânulos no citosol, que, com o estímulo apropriado, são liberados por exocitose. É degradada pela enzima insulinase, presente no fígado e, em menor quantidade, nos rins. Possui uma meia-vida plasmática de aproximadamente seis minutos, permitindo alterações rápidas nos níveis circulantes. REGULAÇÃO DA SECREÇÃO - Estímulo: As quantidades relativas de insulina e glucagon liberadas pelo pâncreas são reguladas de modo que a velocidade de produção hepática da glicose é mantida igual à velocidade de utilização da glicose pelos tecidos periféricos. - Glicose: estímulo mais importante para secreção. Favorece a expressão do gene da insulina. - ↑ glicose → GLUT2 carrega a glicose para célula β, que sofre fosforilação e entra na glicólise. - ↑ ATP → fechamento do canal de K+ controlado por ATP. - ↓ efluxo K+ → despolarização da membrana. - Despolarização → abertura do canal de Ca2+ controlado por voltagem. - ↑ Ca2+ citosólico + Ca2+ liberado pelo retículo endoplasmático → liberação de insulina por exocitose. ** Sistema n. parassimpático → estimula liberação de insulina. - Aminoácidos: Ingestão de proteínas → ↑ transitório de AAs no plasma → induzem secreção imediata de insulina. - Hormônios gastrointestinais: colecistocinina e polipeptídio inibitório gástrico aumentam a secreção em resposta à glicose oral (“incretinas”). Liberados pelo intestino delgado após a ingestão dos alimentos, causando aumento antecipatório da insulina. Assim, uma mesma quantidade de glicose desencadeia um nível de insulina circulante maior por via oral, em comparação por via intravenosa. - Inibição: Diminuição porescassez de combustíveis da dieta e também durante períodos de estresse. - Mediados principalmente pela adrenalina, que é secretada pela medula adrenal em resposta ao estresse, ao trauma ou ao exercício intenso. Causa uma mobilização rápida de combustíveis produtores de energia, incluindo a glicose hepática (produzida pela glicogenólise ou pela gliconeogênese) e os ácidos graxos provenientes do tecido adiposo. Além disso, impede a liberação normal de insulina mediada por glicose, sendo um controlador da secreção pelas células β. - Retroalimentação: ↑ insulina → ↓ glicose sanguínea → ↓ fluxo da reação da glicocinase → ↓ ATP ...... → redução ou interrupção da liberação da insulina. Essa regulação mantém a concentração da glicose sanguínea praticamente constante apesar da grande variação na captação dietética. EFEITOS METABÓLICOS - Os seus efeitos promovem o armazenamento da glicose e são mais proeminentes em 3 tecidos: fígado, músculo e tecido adiposo. - Carboidratos: Fígado e músculo -> ↑ síntese de glicogênio - Músculo e tec. adiposo -> ↑ captação de glicose (↑ do nº de transportadores GLUT4) - Fígado -> ↓ glicogenólise e gliconeogênese - Lipídios: ↓ redução na liberação de ácidos graxos - Desfosforilação da lipase sensível a hormônio (HSL) → inativação → ↓ degradação de TAGs/ ácidos graxos livres circulantes. - ↑ síntese de TAGs: ↑ glicerol-3-fosfato; ↑ lipase lipoproteica no tecido adiposo, aumentando os ácidos graxos para esterificação. Fígado: glicose → TAGs (acetil-CoA → ácidos) → VLDL → tec. adiposo - Síntese proteica: estimula a entrada de aminoácidos nas células e a síntese de proteínas (ativação de fatores necessários para a tradução). - Efeitos na membrana: No músculo e tecido adiposo (sensíveis à insulina), promove o recrutamento de GLUT4 (oriundos de vesículas intracelulares). - Regulação: Ocorre internalização do complexo hormônio-receptor. Dentro da célula, a insulina é degradada por lisossomos. Os receptores podem ser degradados, mas a maioria é ressequestrada em vesículas por endocitose. - Curso temporal das ações: Resposta mais imediata: ↑ transporte de glicose para dentro dos adipócitos e dos miócitos, após a ligação da insulina aos seus receptores de membrana. Aumenta a quantidade de enzimas (glicocinase, piruvato-cinase hepática, acetil-CoA-carboxilase, ácido-graxo sintase). ** Insensíveis à insulina: hepatócitos, eritrócitos, células do sistema nervoso, da mucosa intestinal, dos túbulos renais e da córnea. ** A insulina, liberada em resposta à alta concentração sanguínea de glicose, estimula a captação do açúcar pelos tecidos. Parte da glicose é exportada para o cérebro para suas necessidades energéticas e parte para os tecidos adiposo e muscular. ** No fígado, o excesso de glicose é oxidado a acetil-CoA, que é usada na síntese de ácidos graxos que são exportados como triacilgliceróis, em VLDL, para os tecidos adiposo e muscular. O NADPH necessário para a síntese de lipídeos é obtido pela oxidação da glicose na via das pentoses-fosfato. ** O excesso de aminoácidos é convertido em piruvato e acetil-CoA, também usados para a síntese de lipídeos. ** As gorduras da dieta se deslocam na forma de quilomicra, via sistema linfático, do intestino para o músculo e o tecido adiposo. DIABETES MELITO - Grupo heterogêneo de síndromes multifatoriais e poligênicas, caracterizadas por hiperglicemia em jejum, causada por deficiência relativa ou absoluta de insulina. - Principal causa de cegueira e amputação no adulto e uma importante causa de falha renal, dano neural, ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. - Dois grupos: tipo 1 (dependente de insulina) e tipo 2 (independente de insulina). - A incidência e a prevalência do tipo 2 está aumentando devido ao aumento na prevalência de obesidade e do estilo de vida sedentário. DIABETES TIPO 1 - Caracterizada por deficiência absoluta de insulina, causada por ataque autoimune às células β do pâncreas. No diabetes tipo 1, as ilhotas de Langerhans tornam-se infiltradas com linfócitos T ativados, levando à insulite. - Esse ataque autoimune leva à depleção gradual da população de células β, e os sintomas aparecem abruptamente quando há destruição de cerca de 80% das células. - Assim, o pâncreas não consegue responder adequadamente à ingestão de glicose, sendo necessária a insulinoterapia para restaurar o controle metabólico e prevenir a cetoacidose grave. - A destruição das células β requer um estímulo ambiental (infecção viral, por exemplo) e um determinante genético, que faz com que as células sejam reconhecidas como corpos estranhos. - Em suma, no diabetes tipo 1 praticamente não há células β e os portadores não conseguem responder aos níveis de combustíveis circulantes, nem manter uma secreção mínima de insulina. - Diagnóstico: Ocorre tipicamente durante a infância ou a puberdade, e os sintomas se desenvolvem rapidamente. - Geralmente podem ser reconhecidos pelo aparecimento abrupto de: - Poliúria: o excesso de glicose não é reabsorvido pelos rins. Como a glicose é osmoticamente ativa, sua excreção é acompanhada por um aumento da perda de água. ** desidratação - Polidipsia: devido ao aumento da perda de água. - Polifagia: a não entrada de glicose em músculo e tecido adiposo sinaliza um estado de baixa energia no organismo, fazendo com que o portador coma mais. - Esses sintomas são acompanhados por fadiga, perda de peso e fraqueza. - Glicemia em jejum maior ou igual a 126mg/dL, comumente acompanhada por cetoacidose. (Jejum = ausência de ingestão calórica por pelo menos 8 horas). ALTERAÇÕES METABÓLICAS NO TIPO 1 - A captação da glicose do sangue é mediada pela família GLUT de transportadores de glicose. Os transportadores nos hepatócitos (GLUT1, GLUT2) e nos neurônios cerebrais (GLUT3) estão sempre presentes nas membranas plasmáticas. - Por outro lado, o principal transportador de glicose nas células do músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido adiposo (GLUT4) está armazenado em pequenas vesículas intracelulares e se desloca para a membrana plasmática APENAS em resposta a um sinal de insulina. - Assim, a incapacidade de liberar insulina suficiente para desencadear a captação de glicose pelas células dos músculos esquelético e cardíaco e do tecido adiposo gera a hiperglicemia após uma refeição. - Normalmente, a insulina desencadeia a inserção de transportadores GLUT4 na membrana plasmática pela fusão de vesículas contendo GLUT4 com a membrana, permitindo a captação de glicose do sangue. Quando os níveis de insulina diminuem no sangue, GLUT4 é ressequestrado em vesículas por endocitose. No diabetes melito tipo 1 (dependente de insulina), a inserção de GLUT4 nas membranas, assim como outros processos normalmente estimulados por insulina, estão inibidos. - Hiperglicemia: Causada pela não captação periférica da glicose pelos tecidos dependentes de insulina associada a uma produção maior de glicose no fígado (gliconeogênese). - Incapazes de captar glicose, o músculo e o tecido adiposo utilizam os ácidos graxos armazenados nos triacilgliceróis como seu principal combustível. - A degradação proteica gera aminoácidos glicogênicos, que são desaminados no fígado e têm seu esqueleto de carbono remanescente incorporado aos intermediários do Ciclo de Krebs, que serão desviados para a gliconeogênese. - A mobilização aumenta de ácidos graxos do tecido adiposo combinada com sua β-oxidação acelerada no fígado gera grandes quantidades de acetil-CoA, que não entra no ciclo de Krebs devido à utilização do oxaloacetato para a gliconeogênese. Assim, o acúmulo de acetil-CoA é desviado para a síntese de corpos cetônicos. - Os compostos produzidos pela cetogênese (3-hidroxibutirato e acetoacetato) são exportados e levados a outros tecidos para serem utilizados como combustível. - Esses compostos são especialmentecríticos para o cérebro, que utiliza os corpos cetônicos como combustível alternativo quando glicose está indisponível. (Os ácidos graxos não conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e, por isso, não servem de combustível para os neurônios do cérebro). - Em pacientes com diabetes tipo 1 não tratados, a superprodução de acetoacetato e 3-hidroxibutirato leva a seu acúmulo no sangue, e a consequente redução do pH sanguíneo leva à cetoacidose, potencialmente letal. - Em casos de cetoacidose, os pacientes podem apresentar hiperventilação como forma de contrapor o baixo pH do sangue. - A cetoacidose diabética é tratada pela reposição de fluidos e eletrólitos, juntamente com a administração de doses baixas de insulina de ação rápida e de curta duração, para corrigir gradualmente a hiperglicemia sem causar hipoglicemia. - Hipertriacilglicerolemia: A mobilização maciça de ácidos graxos do tecido adiposo sobrecarrega a β- oxidação e também a cetogênese. Assim, o excesso de ácidos graxos é convertido em TAGs, que são empacotados e secretados em VLDLs. Além disso, devido a uma diminuição da síntese de lipase lipoproteica (por conta do baixo nível de insulina), ocorre aumento tanto de VLDL quanto de quilomícrons. - Glicação: o excesso de glicose é tóxico. Assim, pode ocorrer glicação de proteínas do organismo (colágeno, albumina, apoB), que afeta suas respectivas funções. - Os produtos finais da glicação avançada se ligam a seus receptores de membrana nas células endoteliais, gerando estresse oxidativo, lesando o endotélio e estimulando via pró-inflamatória. - O resultado é uma inflamação crônica de baixo grau, que vai lesar ainda mais o endotélio vascular. Assim, a formação dos produtos finais é um fator que contribui para o desenvolvimento de complicações microvasculares do diabetes. Contribui, do mesmo modo, para a aterogênese. - A hiperglicemia altera o estado redox da célula, ao aumentar a razão NADH/NAD+ e ao diminuir a razão NADPH/NADP+. Essa alteração dirige os substratos para a via do poliol, onde a glicose é reduzida a sorbitol pela aldose-redutase. - Essa enzima possui alto Km, assim, essa via é ativada durante a hiperglicemia, quando a concentração de glicose nos tecidos independentes de insulina (eritrócitos, nervo, cristalino) aumenta. - De forma similar à glicose, o sorbitol é osmoticamente ativo. Sua acumulação no tecido ocular contribui para o desenvolvimento de cataratas diabéticas. - No tecido nervoso, altas concentrações de sorbitol diminuem a captação celular de outro álcool, o mioinositol, inibindo a ATPase Na+/K+ de membrana e afetando assim a função nervosa. - A acumulação de sorbitol, a hipóxia e o fluxo sanguíneo reduzido no tecido nervoso contribuem para o desenvolvimento da neuropatia diabética. TRATAMENTO - Diabéticos do tipo 1 dependem de insulina exógena injetada subcutaneamente para controlar a hiperglicemia e a cetoacidose. Há dois procedimentos (tratamento padrão e intensivo). - Tratamento padrão: consiste tipicamente em uma ou duas injeções diárias de insulina humana recombinante. Nível de glicose esperado (225-275 mg/dL) com hemoglobina glicada de 8 a 9%. - Tratamento intensivo: monitoramento mais frequente e de subsequentes injeções de insulina - tipicamente três ou mais vezes ao dia. Nível de glicose esperado (150mg/dL) com hemoglobina glicada de 7%. Apresentam redução de 50% ou mais nas complicações microvasculares a longo prazo do diabetes - retinopatia, nefropatia e neuropatia - quando comparados com pacientes recebendo o tratamento padrão. - Hipoglicemia: a dosagem adequada de insulina é difícil de alcançar. A hipoglicemia causada pelo excesso de insulina é a complicação mais comum dessa terapia, ocorrendo em mais de 90% dos pacientes. - A frequência de episódios hipoglicêmicos, coma e convulsões é especialmente elevada nos casos de tratamento intensivo, destinados a atingir um controle rígido da glicose sanguínea. - Indivíduos normais -> secreção compensatória de adrenalina e glucagon. No tipo 1, há deficiência na secreção do glucagon. Logo, os pacientes dependem da adrenalina para prevenir hipoglicemia grave. - Avançar da doença -> neuropatia diabética autonômica -> diminuição da secreção da adrenalina em resposta à hipoglicemia -> hipoglicemia despercebida - Também causada por exercício físico intenso. DIABETES TIPO 2 - Os pacientes com diabetes tipo 2 apresentam uma combinação de resistência à insulina com disfunção das células β, mas não necessitam de insulina para manter a vida, embora a insulina possa ser necessária em algum momento para controlar a hiperglicemia. - As alterações metabólicas observadas no diabetes tipo 2 são mais brandas do que as descritas para o tipo 1, em parte, porque a secreção da insulina no diabetes tipo 2 – embora inadequada - impede a cetogênese excessiva e restringe o desenvolvimento da cetoacidose diabética. - Existem fatores genéticos que claramente predispõem para o diabetes tipo 2. Embora 80% das pessoas com diabetes tipo 2 sejam obesas, a maioria das pessoas obesas não desenvolve a doença. RESISTÊNCIA À INSULINA - Estado no qual é necessária mais insulina para realizar os mesmos efeitos biológicos produzidos no estado sadio normal por uma quantidade mais baixa do hormônio. Por exemplo, a resistência à insulina é caracterizada por produção não controlada de glicose hepática e por captação diminuída de glicose pelo músculo e pelo tecido adiposo. - Resistência e obesidade: causa mais comum de resistência à insulina; contudo, a maioria das pessoas obesas e resistentes à insulina não se torna diabética. Na ausência de um defeito na função das células β, indivíduos obesos não diabéticos podem compensar a resistência à insulina com níveis elevados (secreção 2, 3 vezes maior) desse hormônio. - Resistência e diabetes tipo 2: O diabetes tipo 2 se desenvolve em indivíduos resistentes à insulina que também apresentam diminuição na função das células β. Em geral, a resistência à insulina com o risco subsequente de desenvolvimento do diabetes tipo 2 é comumente observada em idosos e em indivíduos obesos, sedentários, ou nos 3 a 5% de mulheres grávidas que desenvolvem diabetes gestacional. - O estágio intermediário que precede o diabetes tipo 2 é, às vezes, a síndrome metabólica, caracterizada por obesidade, especialmente no abdome; hipertensão (pressão sanguínea alta); lipídeos sanguíneos anormais (altos TAG e LDL, baixa HDL); glicose sanguínea levemente elevada; e uma capacidade reduzida de remover a glicose sanguínea em um teste de tolerância à glicose. - As pessoas com síndrome metabólica apresentam, com frequência, alterações nas proteínas sanguíneas, associadas com coagulação anormal (alta concentração de fibrinogênio) ou inflamação (alta concentração de peptídeo C reativo, a qual aumenta com a resposta inflamatória). - Causas da resistência: hipótese da toxicidade lipídica. -> A ação do PPAR-gama sobre os adipócitos normalmente mantém as células preparadas para sintetizar e armazenar TAGs – os adipócitos são sensíveis à insulina e produzem leptina, o que leva à deposição intracelular contínua de TAG. -> O excesso de ingestão calórica em pessoas obesas faz os adipócitos ficarem repletos de TAG, tornando o tecido adiposo incapaz de receber uma demanda aumentada para estocar TAG. -> O tecido adiposo repleto de lipídeos libera fatores proteicos que atraem macrófagos que se infiltram no tecido. -> Os macrófagos desencadeiam a resposta inflamatória, que prejudica a deposição dos ácidos graxos nos adipócitos e favorece sua liberação para o sangue. -> Esse excesso de ácidos graxos entra nas células hepáticas e musculares, onde é convertido em TAG que se acumulam como gotículas lipídicas. -> Essa deposição ectópica (“fora de lugar”) de TAG leva à insensibilidade à insulina no fígado e no músculo, a característica do diabetes tipo 2. Alémdisso, de acordo com essa hipótese, ácidos graxos e TAG em excesso são tóxicos para o fígado e o músculo. - Células β disfuncionais: No diabetes tipo 2, a capacidade das células β do pâncreas é inicialmente mantida, resultando em níveis de insulina que variam desde acima até abaixo do normal. - Entretanto, com o decorrer do tempo, as células β tornam-se progressivamente disfuncionais, sendo incapazes de secretar insulina suficiente para corrigir a hiperglicemia preponderante. - Assim, a progressão natural da doença resulta no declínio da capacidade de controlar a hiperglicemia com secreção endógena de insulina. A deterioração da função das células β pode ser acelerada pelos efeitos tóxicos da hiperglicemia persistente e pelo aumento dos ácidos graxos livres. ALTERAÇÕES METABÓLICAS NO TIPO 2 - São o resultado da resistência à insulina, que se expressa principalmente no fígado, no músculo e no tecido adiposo. - Hiperglicemia: causada por aumento na produção de glicose hepática, combinado com diminuição na sua utilização periférica. Em geral, a cetose é mínima ou ausente em pacientes com diabetes tipo 2, pois a presença de insulina - mesmo na presença de resistência à insulina - diminui a cetogênese hepática. - Dislipidemia: No fígado, os ácidos graxos são convertidos em triacilgliceróis, que são empacotados e secretados como VLDL. Como a degradação das lipoproteínas, catalisada pela lipase lipoproteica no tecido adiposo, é baixa nos diabéticos, os níveis plasmáticos de quilomícrons e de VLDL se elevam, resultando em hipertriacilglicerolemia. TRATAMENTO - Estudos mostram que três fatores aumentam a saúde das pessoas com diabetes tipo 2: restrição alimentar, exercício regular e fármacos que aumentam a produção de insulina ou a sensibilidade ao hormônio. - A restrição alimentar (e a perda de peso que a acompanha) reduz a carga total de ácidos graxos controláveis. O exercício ativa a AMPK, como o faz a adiponectina; a AMPK altera o metabolismo no sentido da oxidação da gordura e ao mesmo tempo inibe sua síntese. - As sulfonilureias agem sobre os canais de K+ controlados por ATP em células β pancreáticas e estimulam a liberação de insulina. - Biguanidas como a metformina (Glicofage) ativam a AMPK, mimetizando os efeitos da adiponectina. - As tiazolidinedionas agem por meio de PPAR-gama, aumentando a concentração de adiponectina no plasma e estimulando a diferenciação dos adipócitos, de forma a aumentar a capacidade de armazenamento de TAG. - Os inibidores de protease IV de dipeptídeos (DPP IV) previnem a degradação proteolítica do GLP-1, hormônio peptídico produzido no intestino e que estimula a secreção pancreática de insulina. A inibição da peptidase prolonga a ação do GLP-1, aumentando efetivamente a secreção da insulina. - A combinação entre perda de peso e exercício é a forma recomendada para prevenir o desenvolvimento da síndrome metabólica e do diabetes tipo 2. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS -Doentes crônicos, de um modo geral, principalmente os portadores de diabetes, constituem-se num desafio para profissionais de saúde que com eles lidam, pois a manutenção contínua do tratamento prescrito e a obediência consciente às condutas orientadas são de difícil aceitação e, principalmente, de incorporação de novos hábitos que poderão cercear suas vidas com base no diagnóstico da doença. -A adesão do diabético ao tratamento pode ser mais complexa quando comparada com outras doenças crônicas, pois o uso da insulina requer mais habilidade do que o simples uso de medicação via oral e pela variedade de complicações decorrentes da doença, tais como as vasculopatias e neuropatias que podem acarretar o pé diabético e as amputações, além das mesmas complicações de outras doenças crônicas, como acidente vascular cerebral, doenças isquêmicas do coração e comprometimento renal. -Soma-se a isso a obrigatoriedade de realizar testes de glicemia capilar ou sérica, assim como a realização de outros exames para controle do colesterol e triglicérides, exames radiológicos e cardiológicos e avaliação com outros especialistas como ginecologista, urologista e oftalmologista. E ainda o cuidado rigoroso com os pés, no intuito de prevenir lesões que possam evoluir para amputações parciais ou totais de um ou mais membros. -O grande desafio dos profissionais que cuidam de indivíduos portadores de doenças crônicas é a manutenção contínua e a fiel obediência às condutas prescritas, sejam de que ordem for. Isto se denomina adesão ao tratamento, que não é muito diferente em países desenvolvidos ou subdesenvolvidos e não parece estar relacionada a fatores, tais como conhecimento do paciente sobre a patologia ou aquisição ou não de medicações gratuitamente. PROBLEMA 7 VITAMINAS - Compostos orgânicos não relacionados quimicamente, que não podem ser sintetizados por humanos em quantidades adequadas e, portanto, devem ser supridos pela dieta. - São classificadas de acordo com sua solubilidade e suas funções no metabolismo. - Nove vitaminas hidrossolúveis (ácido fólico, cobalamina, ácido ascórbico, piridoxina, tiamina, niacina, riboflavina, biotina e ácido pantotênico e quatro vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). - São necessárias para a execução de funções celulares específicas (ex.: precursoras de coenzimas para as enzimas do metabolismo intermediário). - As vitaminas lipossolúveis são liberadas, absorvidas e transportadas com a gordura da dieta. Elas não são facilmente excretadas na urina, e quantidades significantes são armazenadas no fígado e no tecido adiposo. O consumo excessivo pode acarretar acúmulo de quantidades tóxicas desses compostos. HIDROSSOLÚVEIS - Muitas são precursoras de coenzimas para o metabolismo energético. - Não são tóxicas (exceto piridoxina) e o organismo não possui capacidade para armazená-las (exceto B12). Assim, devem ser regularmente fornecidas pela dieta. - Qualquer excesso é facilmente excretado na urina. ÁCIDO FÓLICO - A di-hidrofolato-redutase converte folato em tetrahidrofolato, a forma biologicamente ativa. - Função: O tetrahidrofolato (folato reduzido) recebe fragmentos de um carbono de doadores (serina, glicina, histidina) e os transfere para intermediários na síntese de AAs, purinas e monofosfato de timidina (TMP), pirimidina encontrada no DNA. - O ácido fólico é encontrado no fígado, levedura e em vegetais folhosos verdes (espinafre) e frutas, incluindo citrinos. Suas fontes são também cereais e grãos enriquecidos em ácido fólico. - Anemias nutricionais: - O sangue apresenta concentração de hemoglobina abaixo do normal, o que resulta na redução da sua capacidade de transportar oxigênio. - Anemia nutricional (ingestão inadequada de um ou mais nutrientes essenciais) podem ser classificadas de acordo com o tamanho dos eritrócitos ou com o volume corpuscular médio observado (VCM): - Microcíticas (VCM < 80 μm³): Deficiência em ferro, cobre ou piridoxina. A causa pelo ferro é a forma mais comum de anemia nutricional. - Normocíticas (VCM = 80 – 100 μm³): Desnutrição calórico-proteica. - Macrocíticas (VCM > 80 μm³): Deficiência em B12 ou folato. É a segunda principal categoria de anemia nutricional. - São chamadas de megaloblásticas pois a deficiência causa o acúmulo de precursores grandes e imaturos do eritrócito (megaloblastos) na medula óssea e sangue. - A falha na síntese de metionina e ácidos nucleicos nos estados de deficiência de folato é responsável pelos sinais e sintomas da anemia megaloblástica. - Os eritrócitos macrocíticos têm membranas frágeis e tendência a hemolisarem: existe anemia macrocítica em associação a uma medula óssea megaloblástica. - Folato e anemia: níveis séricos inadequados podem ser causados por: - Aumento da demanda: Gestação e lactação. - Absorção deficiente: patologias associadas ao intestino delgado, alcoolismo ou fármacos inibidoresda di-hidrofolato-redutase, como o metotrexato (análogo do folato, atua como inibidor competitivo, ligação com a enzima com afinidade cerca de 100x maior que o folato. Usado como quimioterápico). ** antagonistas: toxicidade seletiva contra células em crescimento rápido. ** Outro antagonista do folato pode atuar como antibiótico: trimetoprima (liga-se à di- hidrofolato-redutase com eficiência cerca de 100.000 vezes maior do que se liga à enzima de mamíferos, sendo usada no tratamento de certas infecções bacterianas urinárias e do ouvido médio. - Uma dieta sem folato pode causar deficiência em poucas semanas. O principal resultado é a anemia megaloblástica (↓ síntese de purinas e TMP → incapacidade da célula, incluindo precursores de eritrócitos, de produzir DNA → problemas na divisão celular). ** As alterações hematológicas não podem ser distinguidas da deficiência de vitamina B12. As alterações neurológicas também são similares. Assim, a causa deve ser investigada antes de começar a terapia. - Folato e defeitos do tubo neural em fetos: - A suplementação de ácido fólico antes da concepção e durante o 1º trimestre (0,4mg/dia) diminui o risco de espinha bífida e anencefalia, que são os defeitos mais comuns do tubo neural. - A suplementação nos períodos iniciais da gestação é crucial, já que o desenvolvimento crítico dependente de folato ocorre nas primeiras semanas do desenvolvimento fetal - período em que muitas mulheres ainda não têm consciência da sua gravidez. - Existe uma associação entre suplementação com altas doses de ácido fólico (> 0,8 mg/dia) e o aumento no risco de câncer. Portanto, a suplementação não é recomendada para a maioria dos adultos de meia idade e idosos. COBALAMINA (B12) - Necessária em duas reações: remetilação da homocisteína em metionina (metionina sintetase) e isomerização do metilmalonil-CoA, que é produzido durante a degradação de alguns AAs (isoleucina, valina, treonina e metionina) e ácidos graxos com número ímpar de carbonos (propionil-CoA → carboxilação → D- metilmalonil-CoA → epimerase → L-metilmalonil-CoA → mutase → succinil-CoA). - Deficiência gera acúmulo de ácidos graxos incomuns nas membranas celulares, incluindo as do sistema nervoso, contribuindo para as manifestações neurológicas. - Em deficiência de B12, o propionato e o metilmalonato são excretados na urina. Ausência ou deficiência da mutase (ou menor afinidade pela coenzima) ou incapacidade de converter B12 na coenzima também resultam em acidose metabólica. - Estrutura: Tem uma estrutura complexa em anel similar à porfirina do grupo heme, mas é mais hidrogenada. O ferro localizado no centro do anel do grupo heme é substituído por um íon cobalto (Co3+), mantido por 4 ligações coordenadas com os nitrogênios dos grupos pirrol. - Em preparações comerciais da vitamina, as demais ligações coordenadas do cobalto são com o nitrogênio do 5,6-dimetilbenzimidazol e com o cianeto na forma de cianocobalamina. - As formas de coenzima da cobalamina são 5'-desoxiadenosilcobalamina, em que o cianeto é substituído pela 5'-desoxiadenosina (formando uma ligação não usual carbono-cobalto), e a metilcobalamina, em que o cianeto é substituído por um grupo metila. - Distribuição: Sintetizada apenas por microrganismos (ausente em todos os vegetais). Os animais obtêm a vitamina pré-formada pela sua flora bacteriana natural ou por alimentos derivados de animais. - Está presente em quantidades apreciáveis no fígado, no leite integral, em ovos, ostras, camarões frescos e nas carnes de porco e de galinha. - Hipótese da captura do folato: os efeitos da deficiência são mais pronunciados em células que se dividem rapidamente (tecido eritropoiético da medula óssea e as células da mucosa intestinal). - A vitamina B12 e o folato estão envolvidos na conversão da homocisteína em metionina. A ausência de vitamina B12 inibe a reação e leva ao acúmulo de N5-metiltetraidrofolato (N5MeTHF). - Os níveis das outras formas diminuem. Assim, levanta-se a hipótese de que a deficiência de cobalamina conduz à deficiência das formas de tetra-hidrofolato necessárias para a síntese de purinas e de TMP, resultando nos sintomas de anemia megaloblástica. - Indicações clínicas: Como exceção, quantidades significativas (4 a 5 mg) de B12 são armazenadas no organismo. Assim, podem ser necessários vários anos para o desenvolvimento de sintomas clínicos de deficiência de B12 nos casos de gastrectomia total ou parcial, 10-12 anos em dietas veganas, 1-4 anos em falhas do fator intrínseco, entretanto, pode ser rápido nos casos de disfunção do íleo. - Absorção: A cobalamina é liberada dos alimentos por uma protease gástrica e pelo HCl. Está ligada ao fator intrínseco secretado pelas células parietais no estômago, e é absorvida no íleo distal por endocitose mediada por receptores. A vitamina B12 é excretada na bile, e existe acentuada circulação entero-hepática. - TC II: proteína de transporte > transcobalami- na - Anemia perniciosa: A deficiência de B12 está mais relacionada com falhas na absorção da vitamina pelo intestino. A má absorção de cobalamina em idosos é frequentemente devida à reduzida secreção de ácido gástrico e menor absorção da vitamina B12 da dieta, resultando em anemia perniciosa. Na maioria dos casos, essa doença resulta da destruição autoimune das células gástricas parietais, que são responsáveis pela síntese do fator intrínseco. - A deficiência de vitamina B12 é caracterizada por anemia, fadiga, constipação, perda de peso, diarreia e sintomas neurológicos, como dormência e sensação de formigueiro, perda de equilíbrio, confusão, perturbações de humor e demência. Os efeitos sobre o SNC são irreversíveis. - Tratada pela administração oral de altas doses de B12 ou injeção intramuscular (IM) de cianocobalamina. A terapia deve continuar por toda a vida em pacientes com anemia perniciosa. ** Ácido fólico reverte as alterações hematológicas causadas pela falta de B12, mascarando a deficiência. Assim, terapia de anemia megaloblástica é feita associando as duas vitaminas até a determinação da causa. ÁCIDO ASCÓRBICO (VITAMINA C) - A forma ativa da vitamina C é o ácido ascórbico. A principal função do ascorbato é a de agente redutor em diversas reações diferentes. - Atua como coenzima nas reações de hidroxilação (ex.: hidroxilação dos resíduos prolil- e lisil- do colágeno, sendo assim necessária para a manutenção do tecido conjuntivo normal e para recompor tecidos danificados). - Melhora a absorção de ferro não heme e participa do metabolismo mineral ósseo. Sua principal função é manter cofatores metálicos em seus menores estados de valência, como, por exemplo, Fe2+ e Cu2+. - Participa da síntese de adrenalina, da esteroidogênese (síntese de hormônios esteroides), da degradação da tirosina, da formação de ácidos biliares, assim como da síntese de l-carnitina e de neurotransmissores. - A vitamina C é absorvida no intestino por transporte mediado por um carreador e dependente de sódio (ativo). É reabsorvida nos túbulos proximais renais. Progressivamente, mais vitamina C é excretada na urina à medida que sua ingestão aumenta. - A vitamina C é lábil: é facilmente destruída por oxigênio, íons metálicos, pH aumentado, calor e luz. Os citrinos, frutos de bagas, tomates e pimentões são fontes ricas em vitamina C. - Deficiência: A deficiência de vitamina C causa síntese defeituosa de colágeno. O escorbuto é caracterizado por fragilidade capilar, causando hemorragias subcutâneas e outras, fraqueza muscular, gengivas moles, inchadas e sangrentas, queda de dentes, dificuldade na cicatrização de ferimentos e anemia. - Ocorre fadiga, mal-estar e depressão. A incapacidade de manter a matriz óssea, em associação à desmineralização, resulta em osteoporose. - A vitamina C é necessária para a função leucocitária normal, e os níveis de vitamina C dos leucócitos caem abruptamente duranteo estresse causado por trauma ou infecção. - O consumo de dietas ricas nesses compostos está associado à diminuição na incidência de algumas doenças crônicas, como doença cardíaca coronariana e alguns tipos de câncer. No entanto, testes clínicos envolvendo a suplementação com antioxidantes isolados têm falhado na determinação de qualquer efeito benéfico convincente. ** Linus Pauling defendia o consumo de altas doses (ele consumia 18g, recomendação diária é de 60mg) na prevenção de resfriados e câncer. Morreu de câncer de próstata e sua mulher, de câncer de estômago. Ele alegava que o consumo de vitamina C atrasou a doença em aproximadamente 20 anos, já os médicos achavam que tanto seu câncer quanto o de sua mulher foram causados pelo consumo excessivo. PIRIDOXINA (VITAMINA B6) - Difere no grupo funcional ligado ao anel (piridoxina, piridoxal, piridoxamina, todos derivados da piridina). A piridoxina ocorre principalmente nas plantas, ao passo que o piridoxal e a piridoxamina são encontrados em alimentos de origem animal. - Todos os três compostos podem servir como precursores da coenzima biologicamente ativa, o piridoxal-fosfato (PLP). - Funciona como uma coenzima para um grande número de enzimas – catalisam reações envolvendo aminoácidos – transaminação e desaminação. - O PLP funciona como carreador intermediário de grupos amino, no sítio ativo das aminotransferases. Ele sofre transformações reversíveis entre sua forma aldeídica, o piridoxal-fosfato, que pode aceitar um grupo amino, e sua forma aminada, a piridoxamina- fosfato, que pode doar seu grupo amino para um α-cetoácido. - Geralmente, o piridoxal-fosfato encontra-se ligado covalentemente ao sítio ativo da enzima por meio de uma ligação aldimina (base de Schiff) com o grupo amino de um resíduo específico de lisina. - É absorvida no jejuno. Devido ao seu papel no metabolismo de AAs, as necessidades de vitamina B6 aumentam com o aumento da ingestão de proteínas. Está presente em uma grande variedade de alimentos, como peixe, carne bovina, fígado, aves, bem como em batatas e frutas (mas não citrinos). - Indicações clínicas: A isoniazida, um fármaco frequentemente usado para o tratamento da tuberculose, pode induzir deficiência de vitamina B6 pela formação de um derivado inativo com o piridoxal- fosfato. A suplementação de B6 na dieta é, assim, um adjuvante para o tratamento com isoniazida. - A pílula contraceptiva, por aumentar a síntese de enzimas que requerem a vitamina, pode precipitar a deficiência. - Observam-se níveis baixos no alcoolismo, obesidade e em estados de má absorção, assim como na doença renal terminal e em condições autoimunes. - Deficiência: Em sua forma mais branda, causa irritabilidade, nervosismo e depressão, progredindo para neuropatia periférica, convulsões e coma na deficiência grave. - A deficiência grave está associada também à anemia sideroblástica (anemia caracterizada pela presença de eritrócitos nucleados com grânulos de ferro). Ocorrem também dermatite, queilose e glossite. - A avaliação dos níveis de piridoxina é baseada na medição dos níveis da enzima aspartato aminotransferase (AST, TGO) eritrocitária - Toxicidade: Única vitamina hidrossolúvel com toxicidade significante. Ingestão 100x maior que a recomendação diária pode causar sintomas neurológicos. TIAMINA (VITAMINA B1) - O pirofosfato de tiamina é a forma biologicamente ativa dessa vitamina, formada pela transferência do grupo pirofosfato do trifosfato de adenosina (ATP) para a tiamina. - Na sua forma ativa, essa vitamina é essencial como coenzima para o funcionamento ótimo da piruvato-desidrogenase (piruvato -> acetil-CoA), da transcetolase (transferência de fragmento de 2 carbonos de uma cetose para uma aldose) e da α-cetoglutarato-desidrogenase (α-cetoglutarato -> succinil-CoA) em reações do metabolismo dos carboidratos pelas vias da pentose fosfato, da glicólise, do ciclo do ácido cítrico, formando NADH e ATP. - A descarboxilação de piruvato e α-cetoglutarato são especialmente importantes em tecidos do sistema nervoso. Deficiência de tiamina resulta em redução da produção de ATP, diminuindo a função celular. - Deficiência: Diagnosticada pelo aumento na atividade da transcetolase em eritrócitos, observado após a adição de pirofosfato de tiamina. - Beribéri: - Os sinais de beribéri em bebês incluem taquicardia, vômito, convulsões e, se não for tratada, morte. A síndrome da deficiência pode ter rápido início em lactentes cujas mães são deficientes em tiamina. - O beribéri em adultos é caracterizado por pele seca, irritabilidade, pensamento desordenado e paralisia progressiva. - Síndrome de Wernicke-Korsakoff: Observada em associação ao alcoolismo crônico, devida à insuficiência dietética ou à diminuição na absorção intestinal da vitamina. - Os sintomas iniciais da deficiência de tiamina são perda de apetite, obstipação e náuseas. Eles podem progredir para depressão, neuropatia periférica e tremores. A deterioração adicional resulta em confusão mental (perda da memória recente), ataxia e perda da coordenação ocular. Esta combinação, frequentemente observada em pacientes alcoólatras, é a psicose de Wernicke-Korsakoff. - As consequências neurológicas da síndrome de Wernicke são tratadas com suplementação de tiamina. NIACINA (VITAMINA B3) - Niacina é um nome genérico para ácido nicotínico ou nicotinamida, e ambos são nutrientes essenciais. - As formas biologicamente ativas da coenzima são nicotinamida-adenina-dinucleotídeo (NAD+) e seu derivado fosforilado, nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato (NADP+). - A niacina pode ser sintetizada a partir do triptofano e, portanto, não é uma vitamina no verdadeiro sentido da palavra. A conversão é, contudo, muito ineficiente e não consegue suprir quantidades suficientes de niacina. - O NAD+ e o NADP+ servem como coenzimas em reações de oxidação-redução em que a coenzima sofre redução do anel piridina, pela incorporação de um íon hidreto (átomo de hidrogênio mais um elétron), formando assim as formas reduzidas, NADH e NADPH. - Assim, são de suma importância como transportadores de elétrons para a cadeia transportadora (transferência do complexo I para ubiquitina e depois aos outros complexos) e fosforilação oxidativa (responsáveis pelo gradiente de prótons para o espaço intermembrana, necessário para a síntese de ATP). - Distribuição: encontrada em grãos enriquecidos e não refinados, em cereais, no leite e em carnes magras, especialmente fígado. - Deficiência: produz inicialmente glossite superficial, mas pode progredir para pelagra, que é caracterizada por dermatite (lesões de pele semelhantes a queimaduras solares nas áreas corporais expostas ao sol e à pressão) assim como diarreia e demência. A pelagra é fatal, se não tratada. - Tratamento de hiperlipidemia: Altas doses (1,5g/dia, 100x que a quantidade diária) inibem fortemente a lipólise. Assim, há diminuição hepática de TAGs, necessários para a produção de VLDLs. Logo, tanto VLDL quanto LDL são diminuídos no plasma. ** Também aumenta os níveis de HDL. RIBOFLAVINA (VITAMINA B2) - As duas formas biologicamente ativas são flavina mononucleotídeo (FMN) e flavina adenina dinucleotídeo (FAD), formadas pela transferência da porção monofosfato de adenosina do ATP para o FMN. - A FMN e a FAD são capazes de aceitar reversivelmente dois átomos de hidrogênio, formando FMNH2 ou FADH2. A FMN e a FAD encontram-se fortemente ligadas – algumas vezes covalentemente - a flavoenzimas que catalisam a oxidação ou a redução de um substrato. - Também é importante para a transferência de elétrons para a cadeia transportadora (a partir do complexo II). ** Complexo II não gera gradiente de prótons. - É facilmente degradada pela luz UV do sol. - A falta de riboflavina na dieta causa uma síndrome de deficiência com inflamação dos cantos da boca (estomatite angular),da língua (glossite) e dermatite de descamação. - Devido à sua sensibilidade à luz, a deficiência de riboflavina pode ocorrer em recém-nascidos com icterícia, os quais são tratados com fototerapia. - Sabe-se que o hipotireoidismo também afeta a conversão de riboflavina em FMN e FAD. - Para determinar os níveis de riboflavina, é medida a atividade da glutationa redutase eritrocitária. BIOTINA (VITAMINA B7) - A biotina é uma coenzima nas reações de carboxilação, em que serve como carreadora do dióxido de carbono ativado. - A biotina liga-se covalentemente ao grupo amino de resíduos de lisina nas enzimas dependentes de biotina. - No sítio catalítico 1, o íon bicarbonato é convertido a CO2 com gasto de ATP. Em seguida, o CO2 reage com a biotina, formando carboxibiotinil-enzima. O braço longo composto pela biotina e a cadeia lateral da Lys transporta o CO2 da carboxibiotinil-enzima para o sítio catalítico 2 na superfície da enzima, onde o CO2 é liberado, regenerando o complexo biotinil-enzima. A clivagem de um fosfato de alta energia do ATP impulsiona a formação do intermediário enzima-biotina-CO2. - A biotina é normalmente sintetizada pela flora intestinal, e isso satisfaz grande parte das necessidades do organismo. Além disso, está amplamente distribuída nos alimentos. - Os sintomas da deficiência de biotina incluem depressão, alucinações, dor muscular e dermatite. Crianças com múltiplas deficiências das enzimas descarboxilases também desenvolvem imunodeficiência. - O consumo de claras de ovos crus pode causar deficiência de biotina, uma vez que a proteína da clara do ovo, a avidina, se liga fortemente com a biotina, impedindo sua absorção pelo intestino. ÁCIDO PANTOTÊNICO (VITAMINA B5) - Componente da coenzima A (CoA) que atua na transferência de grupos acila. - A CoA contém um grupo tiol que transporta os compostos acila, como ésteres de tiol ativados. - Também um componente de um domínio proteína carreadora de acila (PCA) da sintetase dos ácidos graxos. - Os ovos, o fígado e as leveduras são as fontes mais importantes de ácido pantotênico, embora esta vitamina seja amplamente distribuída. Não há evidência de deficiência no homem, exceto em dietas experimentais. SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA - Gestantes: As gestantes têm benefício comprovado na suplementação de ácido fólico e ferro, que diminuem o risco de má formação fetal e de anemia, respectivamente. - Pessoas com mais de 60 anos: Não pela idade em si, mas pela prevalência maior de doenças e de uso de medicações que afetam a absorção vitamínica e menor exposição ao sol, pessoas nessa faixa etária podem se beneficiar de uma investigação quanto a carência de vitamina B12 e vitamina D. - Pacientes com problemas gastrointestinais e praticantes de dietas restritivas: Pessoas que sofrem de doenças intestinais, que passaram por cirurgias para tratar a obesidade ou que sofrem de problemas nutricionais devido a hábitos de vida, como o etilismo ou dietas muito restritivas merecem uma atenção especial e podem ter carência de diversos minerais e vitaminas. - Quem tem problemas no fígado: Pessoas que sofrem de hepatite gordurosa (a inflamação causada pela “gordura no fígado) podem se beneficiar da suplementação de vitamina E. - Vegetarianos: pela carência de vitamina B12 em suas dietas e pelo risco de apresentarem deficiência de riboflavina, cálcio, ferro e dos aminoácidos essenciais lisina e metionina no organismo. ROTULAGEM DE SUPLEMENTOS VITAMÍNICOS/MINERAIS 2. DESCRIÇÃO **Portaria nº 32, de 13 de janeiro de 1998 2.1. Definição Suplementos Vitamínicos e ou de Minerais para fins deste regulamento, doravante denominados simplesmente de "suplementos", são alimentos que servem para complementar com estes nutrientes a dieta diária de uma pessoa saudável, em casos onde sua ingestão, a partir da alimentação, seja insuficiente ou quando a dieta requerer suplementação. Devem conter um mínimo de 25% e no máximo até 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de vitaminas e ou minerais, na porção diária indicada pelo fabricante, não podendo substituir os alimentos, nem serem considerados como dieta exclusiva. 2.2. Classificação Classificam-se como Suplementos: - Vitaminas isoladas ou associadas entre si; - Minerais isolados ou associados entre si; - Associações de vitaminas com minerais; 4. COMPOSIÇÃO E REQUISITOS 4.1. Composição 4.1.1. Os Suplementos Vitamínicos e ou de Minerais devem conter no mínimo 25% e no máximo 100% das IDR para cada nutriente na porção diária indicada pelo fabricante. Para garantir a dosagem especificada na rotulagem, é permitida a sobredosagem de vitaminas e ou minerais , desde que justificada tecnologicamente. 4.1.2. A formulação de Suplementos para estados fisiológicos especiais (gestantes e lactantes) deve se basear nas IDR para cada caso. 4.1.3. As dosagens de vitaminas e minerais nos Suplementos devem ser calculadas com base nas IDR estabelecida pela legislação específica. 4.1.4.Nas formulações de Suplementos, o fabricante deve evitar incompatibilidades tecnológicas e ou associações de vitaminas e ou minerais em níveis que possam interferir negativamente na biodisponibilidade desses nutrientes. 7. HIGIENE Os Suplementos Vitamínicos e ou de Minerais devem ser preparados, manipulados, processados, acondicionados e conservados conforme as Boas Práticas de Fabricação (BPF), e atender aos padrões microbiológicos, microscópicos e físico-químicos estabelecidos por legislação específica. 10. ROTULAGEM 10.1. É proibida toda e qualquer expressão que se refira ao uso do Suplemento para prevenir, aliviar, tratar uma enfermidade ou alteração do estado fisiológico. 10.2. Os rótulos dos Suplementos devem observar a legislação para alimentos, no que couber, além dos ítens abaixo discriminados: 10.2.2. A advertência em destaque e em negrito: "Consumir este produto conforme a Recomendação de Ingestão Diária constante da embalagem" 10.2.3. São permitidas somente informações sobre as funções cientificamente comprovadas das vitaminas e minerais, descrevendo o papel fisiológico desses nutrientes no desenvolvimento e ou em funções do organismo. 10.2.4. A recomendação do modo de ingestão do produto (quantidade, freqüência, condições especiais) e modo de preparo, quando for o caso. 10.2.7. A orientação em destaque e em negrito: "Gestantes, nutrizes e crianças até 3 (três) anos, somente devem consumir este produto sob orientação de nutricionista ou médico". 11. REGISTRO 11.1. Os Suplementos estão sujeitos aos mesmos procedimentos administrativos exigidos para o registro de alimentos em geral. 11.2. No caso de Suplementos que não possuam padrões ou aqueles que necessitem de atualização, o interessado deve apresentar ao órgão competente do Ministério da Saúde a proposta de Padrão de Identidade e Qualidade, para fins de registro.
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