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1 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Infecção do trato urinário Entidade clínica que se caracteriza pela invasão e multiplicação bacteriana em qualquer segmento do trato urinário É uma situação comum a nível ambulatorial, 10% das consultas envolvem infecção urinária Responsável por 40% das infecções hospitalares Mais comum no sexo feminino 50% das mulheres terão 1 episódio de ITU em algum momento da vida 27% tem recorrência após 6 meses Ocorre em todas as faixas etárias o Epidemiologia: Crianças: 1º ano de vida: ambos os sexos, está associada a anomalias congênitas Pré-escolar: sexo feminino Mulheres jovens sexualmente ativas > 40 anos: menopausa Homens > 50 anos: hipertrofia prostática o Atinge o trato urinário por 2 mecanismos: 1. Via ascendente 95% 2. Via hematogênica: microabscessos renais (Staphylococcus aureus, Salmonela spp, fungemias) o Principais agentes etiológicos: 1. Escherichia coli 90% Sorogrupos (uropatogênicas): 1, 2, 3, 6, 7, 8, 75, 150, 18ab 2. Staphycoccus saprophyticus 10%: relacionada ao início da vida sexual 3. Klebsiella sp 2% 4. Proteus mirabilis 1% 5. Pseudomonas o Gram positivos: Sraphylococcus aureus: via hematogênica S. epidermidis, Pseudomonas: infecção hospitalar e após cateterização (manipulação das vias excretoras) Staphylococcus saprophyticus: adolescentes do sexo feminino, relação sexual Fungos: imunodeprimidos – cândida albicans Vírus: adenovírus o Fatores predisponentes: Menopausa: déficit de estrógeno Infecção ginecológica Higiene inadequada Frequência da relação sexual Número de parceiros Obesidade Obstipação crônica Baixa ingesta hídrica Retardar demasiadamente a micção Uso de diafragma e uso de espermicida Uso de duchas vaginal Distância menor entre o ânus e a vagina Micção tardia após o coito o Classificação: 1. Sintomatologia: a) Sintomática: ardência miccional, polaciúria, urgência miccional, dor suprapúbica, febre b) Assintomática: bacteriúria significativa (> 100.000 UFC/ml), mais comum em mulheres em idade adulta, associado a relaxamento pélvico, anomalia do trato urinário, cateterização crônica da bexiga 2. Localização anatômica: Baixa Alta 3. Quanto a origem: Ambulatorial Hospitalar 4. Complicação: a) Não complicada: ausência de anormalidades estruturais nem anatômicas b) Complicada: associadas a alterações estruturais e alguns fatores: Infecção hospitalar, gravidez, anormalidade anatômicas e funcionais do trato urinário (refluxo, bexiga neurogênica), imunossupressão, nefrolitíase, cateterização recente de bexiga, patógenos multirresistentes, sexo masculino, idoso, criança, divertículo de bexiga, DM descompensada 5. Duração da doença: a) Aguda: b) Crônica: ITU recorrente ≥ 2 episódios em 6 meses, 20-30% das mulheres Recidiva: 2-3 semanas após o tratamento, mesma bactéria – resistência ao antimicrobiano, hipertrofia próstata, anomalia congênita, litíase Reinfecção 80%: microrganismo diferente, após 3 semanas – a bactéria foi adequadamente erradicada, geralmente por via sexual o Mecanismos de defesa: Micção e esvaziamento periódico vesical: diurese residual Presença de inibidores de aderência bacteriana: proteínas de Tamm Hosfall 2 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Vesical: pH ácido, concentração de ureia, osmolaridade Defesa ureteral através do seu peristaltismo Secreção prostática no homem Microbiota vaginal normal constituída por lactobacilos o Virulência da Escherichia coli uropatogênica (UPEC): Flagelo ou antígeno H: mobilidade Cápsula ou antígeno K: resistência a fagocitose Produção de enzimas: hemolisinas que produzem poros na membrana celular, facilitando a aderência das bactérias Produção de endotoxina e enzimas bacteriana: uréase Fimbrias ou pili com adesinas em sua extremidade Pili tipo 1 80%: manose sensível, se liga a uroplaquinas (glicoproteína de membrana do urotélio), ligação inibida pela d-manose Pili tipo P 20%: manose resistente, se liga aos glicosídeos, presente na superfície do uroepitélio e dos eritrócitos (antígeno sanguíneo P) Mulheres não secretoras de antígeno apresentam mais afinidade de ligação UPEC: ITU recorrente o Quadro clínico: 1. RN e primeiro ano de vida: febre, inapetência, vômitos, diarreia, irritabilidade, insônia, perda de peso 2. .> 1 ano de idade: déficit pôndero-estatural, dor abdominal, desconforto ao urinar, polaciúria, disúria, inapetência, febre 3. Adultos: ITU alta e baixa o ITU baixa – cistite: Disúria, polaciúria, urgência miccional Desconforto suprapúbico Sensação de esvaziamento incompleto Incontinência urinaria, noctúria Dor pélvica, Giordano negativo o ITU alta: Febre, calafrio, náuseas, vômitos Mal estar generalizado Dor lombar, punho percussão lombar + o Diagnóstico laboratorial: • Sumário de urina: Nitrito negativo Esterase leucocutária Leucocitúria e/ou piúria Cilindros leucocitários Hematúria micriscópica • Urocultura: ≤ 10.000 UFC/ml = contaminação 10.000-100.000 UFC/ml = suspeito ≥ 100.000 UFC/ml = infecção O limite de 100.000 para diagnóstico de ITU não é necessário para pacientes com sintomas bem definidos • Punção supra-púbica: qualquer quantidade é considerado infecção o Ausência de crescimento em cultura ou baixa contagem de bactérias: Uso de antimicrobiano no período da urocultura Colheta da amostra 1h depois de uma micção Bactérias que necessitam de meios específicos para seu crescimento: chlamydia e tuberculose Urina muito diluída devido a ingesta de líquido o Diagnóstico por imagem: 1. USG do trato urinário: presença de cálculo, dilatação (hidronefrose), abscesso, cistos 2. Uretrocistografia miccional: refluxo vesicoureteral 3. Cintilografia com DTPA: avaliar a função e o controno renal 4. TC: avaliação estrutural dos rins e vias excretoras, estenose ureteral Toda criança ≤ 2 anos, após confirmação de ITU, deve obrigatoriamente realizar investigação por imagem > 2 anos deve ser investigadas em caso de infecções recorrentes Homens devem ser investigados desde o 1º episódio de ITU o Diagnóstico diferencial: ITU baixa: doenças sexualmente transmissíveis - chlamydia trachomatis, neisseria gonorroeae, herpes genital, cândida albicans, vaginites ITU alta: tuberculose renal, abscesso perirenal, liríase renal, lombalgias Tratamento: Quinolonas: pegam os gram - 1. Primeira geração: Ácido nalidixico – wintomylon Ácido oxilínico – urilin Ácido pipemídico – baturol Rosoxacíno – Eradacil 2. Segunda geração: Norfloxacino – respexil Pefloxacino – peflacin Ofoxacino – ofloxan Ciproploxacino – cipro 3 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Lomefloxacino – maxaquin 3. Terceira geração: Levofloxacino – levaquin Gatifloxacino – toquin Moxifloxacino – avalox 4. Quarta geração: Trovafloxacino Clinaflixacino Penicilinas: principalmente em gestantes Ampicilinas Amoxacilinas Cefalosporinas: 1. Primeira geração: Cefalexina – keflex Cefadroxil – cefamox Cefalotina – keflin 2. Segunda geração: Cefoxitina – metoxin Ceflacor – ceclor Cefuroxima – zennat 3. Terceira geração: Cefotaxima – claforam Ceftriaxona – rocofin Ceftazidima – fortaz Cefoperazona – cefobid Cefixima – plenax Cefetamet pivoxil – globocef Cefpodoxima proxetil - orelox Aminoglicosidios: injetáveis, casos mais graves Gentaminina – garamicina Amicacina – novamin Sulfametoxazol / trimetoprim – bactrin Nitrofurantoina – macrodantina Fosfomicina – monuril ITU não complicada: o Cistite: duração por 3 dias, homens 7 dias 1. SMT/TMT 800/160 12/12h por 3 dias 2. Nitofurantoina 100 mg 6/6h por 7 dias 3. Fosfomicina (monuril) 3g dose única 4. Amoxacilina o Quinolona – ITU repetição: 1. Norfloxacina400 mg 12/12h 2. Ciprofloxacina 500 mg 12/12h 3. Levofloxacino 750 mg 1x o Cefalosporinas de 1ª geração: 1. Cefalexina 500mg 6/6h 2. Ceflacor 500 mg 12/12h Pielonefrite aguda ou ITU complicada: 10-14 dias, EV 1. Quinolonas: Ciprofloxacino 400 12/12h Levofloxacino 750 1x 2. Cefalosporinas 3ª geração: ceftriaxona 1g 12/12h 3. Ceftazidima 4. Ampicilina 5. Aminoglicosídeo 6. Aztreonam (monobactâmicos): PNA prévia, com manipulação do trato urinário 7. Carbapenêmicos: imipenem ITU hospitalar: Considerando a variedade: isolamento da bactéria o Principais bactérias: Gram negativas: escherichia coli 50%, enterobactérias, pseudomonas, enterococo, estafilococos o Faz-se associação: 1. Criprofloxacino + cefalosporina 3ª geração 2. Aminoglicosídeos + cefalosporina 3ª geração 3. Aztreonam 4. Imipenem Bacteriúria assintomática: Incidência 2-10% da população geral Mais comum em mulheres pós menopausa e idosos o Fatores predisponentes: atividade sexual, susceptibilidade individual, baixo nível socioeconômico, idade Não tratar, exceto se gravidez ou manipulação urológica (cirurgias) Abacteriúria sintomática: Infecção por germe não habituais, não crescem nos meios habituais 1. ITU baixa: chlamydia trachomatis, neisseria gonorrhoeae, mycoplasma, cândida, herpes genital, vaginites 2. ITU alta: abscesso renal, tuberculose do trato urinário Quimioprofilaxia: Utilizado com a finalidade de inibir a multiplicação de bactérias uropatogênicas, diminuindo a predisposição do hospedeiro a novos surtos de ITU o Indicado: 1. Patologias urinárias cirúrgicas até a correção 2. ITU de repetição não complicadas até 3-4x ao ano: recaídas ou reinfecção Duração média de 6-12 meses 4 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Deve ser orientado pelo antibiograma A dose deve ser dada a noite após esvaziamento da bexiga 1. SMT/TMT 40/200mg 2. Nitrofurantoina 100mg 1cp 3. Ceflacor 250mg 4. Cefalexina 250mg 5. Norfloxacino 200mg 6. Ciprofloxacino 250mg 7. Fosfomicina 3g 10/10 dias OBS: a resistência é infrequente, reduz a ITUR em 90% dos casos, caso ocorra recidivas estender por 2 anos Medidas comportamentais: Aumento da ingesta de líquido Micções frequentes e completas Regularização dos hábitos intestinais Evitar banho de espuma – banheira Esvaziamento vesical antes de ir para o leito e após o ato sexual Perda de peso Tratamentos alternativos: Profilaxia com cranberry (vaccinium macrocarpon): não há evidência científica que demonstre efeitos benéficos Acidificação da urina – ácido ascórbico: ineficaz Profilaxia com probiótico (lactobacilos): eficácia limitada e inconclusivas, alguns estudos sugerem que a aplicação intravaginal de lactobacilos pode prevenir ITU recorrente Imunoprofilaxia – uro-vaxon: sua eficácia para profilaxia antibacteriana precisa ser estabelecida Situações especiais: ITU em pacientes cateterizados: O risco de ITU é menos quando a sondagem é intermitente Cateterização prolongada leva a bacteriúria assintomática em 90% dos casos e não se recomenda seu tratamento O mais importante é prevenir infecção: troca periódica do cateter (15 dias), remoção do cateter o mais rápido possível, uso de sistema fechado Tratar só quando houver sinais de infecção ITU na gravidez: o Alterações anatômica e fisiológicas: Dilatação do sistema coletor Hipertrofia da musculatura do 1/3 inferior do ureter Redução da atividade peristáltica Aumento do débito urinário Relaxamento do músculo liso Hiperestrogenismo gestacional contribui para adesão de escherichia coli o Risco: quadro prévio de bacteriúria assintomática, presente em 2-10% das gestantes, que pode evoluir para ITU (30% das gestantes) o Complicações perinatais associadas a ITU: Parto prematuro RN de baixo peso Ruptura de membrana amnióticas Restrição do crescimento intrauterino Paralisia cerebral/retardo mental Óbito perinatal Aumento da morbimortalidade fetal e materna o Tratamento: Cistite: durante 7 dias Pielonefrite aguda: internar, durante 14 dias Bacteriúria assintomática: 3 dias Antibióticos seguros: cistite 1. Ampicilina/amoxacilina 500mg 8/8h 2. Cefalexina 500mg 8/8h 3. Nitrofurantoina 100mg 12/12h 4. Cefuroxima 250mg 8/8h Grave – internar: 1. Cefuroxina 750mg 8/8h 2. Ceftriaxona 1g 12/12h 3. Aminiglicosídeos 3-5 mg/kg Evitar: quinolonas, tetraciclinas, trimetoprim Complicações: Abscesso renal e perinefrético: é uma complicação rara da PNA 1. Staphylococcus aureus: atinge o rim por via hematogênica – abscesso cortical 2. Escherichia coli: abscesso corticomedular: uropatia obstrutiva O exame de urina pode ser normal ou pouco alterado na maioria dos casos Falta de resposta ao tto da PNA é um sinal de alerta o Sintomas: febre, calafrios, dor no flanco unilateral, disúria e dor a palpação e percussão o Diagnóstico: USG e/ou TC o Tratamento: antibioticoterapia e drenagem cirúrgica 5 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Pielonefrite xantogranulomatosa: Há destruição do parênquima renal que se apresenta infiltrado por granulomas e nódulos amarelados, abscessos e macrófagos carregados de lipídios (xantoma) Mulheres de meia idade e diabéticas o Sintomas: dor lombar crônica, sinal de Giordano bem evidente, massa palpável, febre e arrepios e mal estar o Diagnóstico: TC o Diagnóstico diferencial: abscesso, carcinoma renal o Tratamento: nefrectomia e antibiótico em altas doses Aumento do rim, atrofia da pelve renal, dilatação pielocalicial com afilamento do parênquima e substituição por material fibropurulento (sinal da “pata de urso”) Pielonefrite enfisematosa: Causada por bactérias formadoras de gases: escherichia coli, klebsiella, pseudomonas Ocorre em diabéticos 90% e obstruídos o Quadro clínico: paciente grave, com desidratação, cetoacidose, sepse, evolução rápida e potencialmente fatal o Diagnóstico: presença de gases no parênquima renal evidenciados no Raio X simples de abdome, USG e/ou TC (mais sensível) o Tratamento: antibiótico em altas doses e nefrectomia de urgência
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