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Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 INTRODUÇÃO Na família Ascarididae, subfamília Ascaridinae, são encontradas espécies de grande importância médica, representada principalmente pelo Ascaris lumbricoides; O Ascaris lumbricoides (A. lumbricoides) parasita o intestino delgado dos seres humanos e é o causador da Ascaridíase; Este helminto é encontrado em quase todos os países do mundo e ocorre com frequência variada por conta das condições climáticas, ambientais e, principalmente, do grau socioeconômico da população. EPIDEMIOLOGIA O A. lumbricoides é o helminto mais frequente em regiões pobres, estando distribuído por mais de 150 países e territórios, atingindo cerca de 70% a 90% das crianças na faixa etária de 1 a 10 anos; OBS: As crianças são as mais suscetíveis porque é comum que suas brincadeiras envolvam o contato direto com o solo e com a ação de levar a mão contaminada à boca. A ascaridíase é uma doença cosmopolita e a maior parte das infecções ocorre na Ásia, África e América Latina; As condições climáticas tem um papel importante nas taxas de infecção; De modo geral, a prevalência é baixa em regiões áridas e relativamente alta em locais de clima úmido e quente (que são condições ideais para a sobrevivência e embrionamento dos ovos de A. lumbricoides), como em regiões tropicais. Além disso, áreas desprovidas de saneamento básico e com alta densidade demográfica contribuem significativamente para o aumento do número da ascaridíase. MORFOLOGIA De acordo com as fases evolutivas do seu ciclo biológico, o A. lumbricoides possui 3 formas morfológicas, que são: Verme macho, Verme fêmea e Ovo; As formas adultas são longas, robustas, cilíndricas e apresentam as extremidades afiladas; O tamanho dos exemplares de A. lumbricoides depende: a) Do número de parasitos encontrados no intestino delgado do hospedeiro; b) Do estado nutricional do hospedeiro. VERMES MACHOS Os vermes adultos possuem cor leitosa e medem aproximadamente entre 20 a 30 cm de comprimento, com 2 a 4 mm de largura; A boca (ou Vestíbulo bucal) se localiza na extremidade anterior e é contornada por três fortes lábios com serrilha de dentículos e sem interlábios; Segue-se, após a boca, o esôfago musculoso e, logo após, o intestino retilíneo. O reto se localiza próximo à extremidade posterior; Possui um aparelho reprodutor composto por um Testículo filiforme e enovelado, que se diferencia em Canal Deferente, continua pelo Canal Ejaculador, abrindo-se na Cloaca (localizada próximo à extremidade posterior); Ascaridíase Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 Possui dois Espículos iguais que funcionam como órgãos acessórios do processo de copulação; A sua extremidade posterior é fortemente encurvada para a face ventral, sendo este o caráter sexual externo que o diferencia da fêmea; Além disso, percebe-se, ainda na cauda, Papilas pré-cloacais e Papilas cloacais. VERMES FÊMEAS Medem aproximadamente entre 30 a 40 cm de comprimento, com 3 a 6 mm de largura na fase adulta, sendo, portanto, mais robustas que os machos; A cor, boca e o aparelho digestivo são semelhantes aos do macho; Possui um aparelho reprodutor composto por dois Ovários filiformes e enovelados, que continuam como Ovidutos, diferenciando-se em Úteros que vão se unir em uma única Vagina, que se exterioriza pela Vulva (localizada no terço anterior do parasito); A extremidade posterior da fêmea é retilínea, representando seu caráter sexual externo. Figura 1 – Vermes adultos de A. lumbricoides OVOS Originalmente são brancos, mas adquirem uma coloração castanha devido ao contato com as fezes do hospedeiro; São grandes, ovais e com cápsula espessa, por conta da membrana externa mamilonada, secretada pela parede uterina e formada por mucopolissacarídeos; Essa membrana mamilonada facilita a aderência dos ovos a superfícies, propiciando sua disseminação. Figura 2 – Ovo fértil de Ascaris lumbricoides Após a membrana mamilonada, seguem- se uma membrana média de composição proteica e outra mais interna, delgada e impermeável à água, constituída de 25% de proteínas e 75% de lipídeolipídeos; Esta última camada, a membrana interna, confere ao ovo grande resistência às condições adversas do ambiente. Internamente, os ovos possuem uma massa de células germinativas. OBS1: Frequentemente é possível encontrar nas fezes Ovos inférteis, que são ovos mais alongados, com uma membrana mamilonada mais delgada e o citoplasma granuloso. Membrana mamilonada Massa de células germinativas Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 OBS2: É possível, também, encontrar nas fezes ovos férteis sem a membrana mamilonada. Figura 3 – Ovo infértil de Ascaris lumbricoides BIOLOGIA HÁBITAT Os vermes adultos, em infecções moderadas, são encontrados no intestino delgado, principalmente no jejuno e no íleo; Já em infecções intensas, ocupam toda a extensão do intestino delgado; Esses vermes adultos podem ficar presos à mucosa, por meio dos lábios, ou migrarem pelo lúmen do intestino. CICLO BIOLÓGICO Seu ciclo biológico é do tipo monoxênico, pois possui um único hospedeiro; 1. Cada verme fêmea fecundada é capaz de colocar, por dia, aproximadamente 200.000 ovos não embrionados, que chegam ao ambiente juntamente com as fezes; Os ovos férteis em ambientes com temperatura entre 25º a 30º C, umidade mínima de 70% e oxigênio em abundância tornam-se embrionados em 15 dias. 2. A primeira larva (L1) formada dentro do ovo é do tipo Rabditoide após uma semana, ainda dentro do ovo, essa larva sofre mudanças e se transforma em L2 e, em seguida, sofre outra nova mudança, se transformando em L3 rabditoide infectante com esôfago filariode (esôfago retilíneo). OBS: A larva L1, do tipo rabditoide, possui um esôfago com duas dilatações, uma em cada extremidade, e uma constrição no meio. OBS2: As formas L3 infectantes permanecem dentro do ovo, no solo, por vários meses, podendo ser ingerida pelo hospedeiro. 3. Após a ingestão, os ovos contendo L3 atravessam todo o trato digestório e as larvas eclodem no intestino delgado; Essa eclosão ocorre graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro, como: a) Presença de agentes redutores; b) pH; c) Temperatura; d) Sais; e) Concentração de CO2, cuja ausência inviabiliza a eclosão. 4. As larvas, quando liberadas, atravessam a parede do intestino na altura do ceco, caem nos vasos linfáticos e na veia mesentérica superior, atingindo o fígado entre 18 a 24 horas após a infecção; 5. Em 2 a 3 dias chegam ao átrio direito pela veia cava inferior e 4 a 5 dias após são encontradas nos pulmões (Ciclo de Loss); 6. Com aproximadamente 8 dias da infecção, as larvas sofrem mudanças e se transformam em L4, rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde mudam para L5; 7. Após se transformarem em L5, sobem pela árvore brônquica e traqueia, chegando até a faringe, podendo, então, serem expelidas pela expectoração (tosse) ou serem deglutidas, atravessando ilesas pelo estômago e se fixando no intestino delgado; Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 8. Transformam-se em vermes adultos entre 20 a 30 dias após a infecção; 9. Em 60 dias tornam-se maduros sexualmente, fazem a cópula e a ovipostura, quando são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro. OBS: Os vermes adultos tem uma vida de 1 a 2 anos dentro do hospedeiro. Figura 4 – Ciclo biológico de Ascaris lumbricoides TRANSMISSÃO Ocorre por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com os ovos contendo a larva L3 infectante; Água de córregos que são utilizados na irrigação de hortas, levando a contaminaçãode verduras com ovos viáveis; Poeira, aves e insetos (como baratas e moscas) podem veicular os ovos; Um fator importante na transmissão é a forte capacidade de aderência do ovo a superfícies. CONTROLE Em geral, 4 principais medidas são utilizadas no controle das infecções por Ascaris lumbricoides, são elas: A) Repetidos tratamentos em massa com drogas ovicidas nos habitantes de áreas endêmicas; B) Saneamento básico; C) Educação para saúde; D) Tratamento das fezes humanas que, eventualmente, possam ser utilizadas como fertilizantes. OBS: Sabendo-se que o ovo é bastante resistente aos desinfetantes usuais, e o peridomicílio funciona como foco de infecção, a profilaxia da ascaridíase tem como base a melhora das condições sanitárias, educacionais e culturais da população. PATOGENIA A intensidade das alterações provocadas pelas larvas ou vermes adultos está diretamente relacionada com o número de formas presentes no hospedeiro. LARVAS Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração; Já em infecções maciças podem ocorrer lesões hepáticas e pulmonares; No fígado podem ser encontrados pequenos focos hemorrágicos e de necrose, que futuramente irão se tornar fibrosados. Nos pulmões ocorrem pontos hemorrágicos, devido à passagem das larvas para os alvéolos, há edemaciação dos alvéolos com infiltrado inflamatório e, dependendo do número de larvas, pode surgir um quadro pneumônico. Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 OBS: Nessa fase da infecção a resposta imunológica é normalmente caracterizada por aumento de eosinófilos sanguíneos e teciduais, assim como anticorpos IgE específicos, responsáveis pelas reações de hipersensibilidade. VERMES ADULTOS Em infecções com 3 a 4 vermes, normalmente não há alterações clínicas significativas, e os sintomas, quando presentes, são inespecíficos; Já em infecções médias, com 30 a 40 vermes, ou infecções maciças, com 100 ou mais vermes, podem ocorrer: A) Ação Espoliadora: os vermes consomem uma grande quantidade de nutriente, o que acaba levando o paciente, principalmente crianças, à subnutrição e enfraquecimento físico e mental. B) Ação Tóxica: ocorre a formação de edema, urticária e convulsões no hospedeiro devido à relação entre os antígenos parasitários e os anticorpos alergizantes do hospedeiro. C) Ação Mecânica: os vermes causam irritação na parede intestinal e podem se enovelar na luz do intestino, causando a obstrução intestinal (é a complicação aguda mais comum da ascaridíase). D) Localização Ectópica: nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou em que o verme sofra algum tipo de ação irritativa (como o uso impróprio de medicamentos), o A. lumbricoides se desloca do seu hábitat normal e atinge locais não habituais; Aos vermes que realizam esta migração, dá-se o nome de “Áscaris errático”. Algumas situações ectópicas podem levar o paciente a desenvolver quadros graves, como: a) Apêndice cecal causando apendicite aguda; b) Obstrução do ducto colédoco; c) Ducto pancreático causando pancreatite aguda; d) Eliminação do verme pela boca e pelas narinas. É muito comum em crianças o surgimento de uma alteração cutânea, que consiste em manchas circulares disseminadas no rosto, tronco e braços. DIAGNÓSTICO CLÍNICO A ascaridíase nos humanos geralmente é pouco sintomática e, por isso, é difícil de ser diagnosticada apenas por exames clínicos; A gravidade da doença é determinada pelo número de vermes que infectam cada pessoa; É importante ressaltar que, como o parasito não se multiplica dentro do hospedeiro, a exposição contínua a ovos infectados é a única fonte responsável pelo acúmulo de vermes adultos no intestino do hospedeiro. LABORATORIAL O diagnóstico da ascaridíase é feito pela identificação de ovos nas fezes; Em fases precoces da infecção, quando as larvas estão passando pelo pulmão, o exame de fezes é negativo; O procedimento recomendado é o método de Kato-Katz, pois esta técnica permite a quantificação dos ovos e, por consequência, estima o grau de parasitismo do hospedeiro. OBS: É fundamental salientar que em infecções exclusivamente com vermes fêmeas, todos os ovos expelidos serão inférteis. Já em infecções somente com vermes machos, o exame de fezes será (-). Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 TRATAMENTO Recomenda-se o uso de Albendazol, Mebendazol e Ivermectina; Tais medicamentos são eficientes apenas contra os vermes adultos, não havendo efeito contra as larvas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. REFERÊNCIAS DAS IMAGENS Figura 1: NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. Figura 2: https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/i nfo/conteudo/fotografias/ovos-alumbricoides/ Figura 3: https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/i nfo/conteudo/fotografias/ovos-alumbricoides/ Figura 4: https://www.infoescola.com/doencas/ascaridi ase-lombriga/ https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/ovos-alumbricoides/ https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/ovos-alumbricoides/ https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/ovos-alumbricoides/ https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/ovos-alumbricoides/ https://www.infoescola.com/doencas/ascaridiase-lombriga/ https://www.infoescola.com/doencas/ascaridiase-lombriga/
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