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Habilidades Clínicas – P2 – UC4 Allycia Jamylle Nogueira de Mello Exame da Boca Anatomia e Fisiologia A cavidade bucal dispõe de um conjunto de estruturas banhadas pela saliva, com flora microbiana própria de grande potencial defensivo, e desempenha importantes funções, referentes à mastigação dos alimentos e à fonação. A ingestão e a digestão dos alimentos começam pela mastigação, feita pelos dentes, com auxílio da língua e pela ação química da saliva. Para a fonação concorrem a língua, os dentes e os lábios, além de cavidades ressonadoras (nasais, paranasais e bucofaríngea). As afecções periodontais dos tecidos de suporte e proteção dos dentes como a gengivite e a periodontite, juntamente com a cárie dentária, constituem as principais causas de perda dos órgãos dentais. Na avaliação semiológica da cavidade bucal, o médico deve seguir uma sistematização que inclui as seguintes estruturas: lábios, mucosa bucal (bochechas), mucosa do sulco vestibular, cavidade bucal própria, gengiva, língua, dentes, epitélio bucal e os anexos, glândulas salivares e articulação temporomandibular. Exame Físico Para o exame da cavidade bucal, necessita-se, em primeiro lugar, de boa iluminação. O paciente deve estar correta e confortavelmente sentado para que haja bom acesso a todas as áreas da boca. O médico coloca-se de frente, do lado direito ou à esquerda do paciente, fazendo o exame dos lábios, bochechas, soalho da boca, palato duro e mole, língua, dentes e mucosa alveolar. Utilizam -se espátulas de madeira, afastador bucal e gaze para prender e tracionar a língua. A técnica de palpação varia de acordo com a região a ser examinada, podendo ser digital ou bidigital (com dedos de uma ou de ambas as mãos) ou digitopalmar. Os tecidos são suavemente pressionados entre as pontas dos dedos ou entre os dedos e a palma da mão, e, às vezes, contra os ossos subjacentes. O exame deve iniciar-se com avaliação das condições gerais da boca do paciente. Esta apreciação inclui higiene bucal, condição dos dentes, ocorrência de lesões dos tecidos moles, uso de aparelhos protéticos, falta de dentes, manifestação de tártaros (cálculos salivares) e halitose. Depois desta avaliação geral, é feito o exame de cada uma das estruturas anatômicas, a começar pelos lábios. LÁBIOS. À inspeção, procuram-se alterações da cor e do formato, fissura e ocorrência de lesões. A palpação é feita bidigitalmente para determinar a textura, flexibilidade, consistência dos tecidos superficiais e subjacentes. Os principais achados são: palidez, nas anemias; cianose, nas cardiopatias congênitas; vermelhidão, na queilite; escurecimento, na doença de Addison. Aumento de volume e espessura é visto nos casos de hipotireoidismo, acromegalia, cretinismo, angioedema, neoplasia e nos processos inflamatórios. LÍNGUA. O paciente abre a boca e deixa a língua em repouso, podendo-se, então, obter uma noção do tamanho e verificar a ponta da língua e suas bordas laterais com relação aos dentes. A seguir, para se conseguir a inspeção da maior superfície possível, pede-se ao paciente que coloque a língua para fora, e, com uma gaze entre o indicador e o polegar, o médico traciona-a delicadamente, de modo que sua superfície lateral, base e superfície dorsal possam ser visualizadas. Puxando a ponta da língua para cima, ou pedindo ao paciente que encoste a ponta da língua na porção anterior do palato duro, é possível fazer a inspeção de sua superfície ventral. A palpação bidigital da língua é feita puxando-a para fora com a mão esquerda, como se fosse uma "pinçà', enquanto a mão direita, com os dedos polegar e indicador, procura verificar a consistência e eventuais alterações. Os movimentos intrínsecos e extrínsecos, horizontais, verticais e circulares da língua são executados pelo paciente por solicitação do médico. MUCOSA BUCAL (BOCHECHAS). É necessário inspecionar a mucosa das bochechas desde a superfície anterior junto da comissura labial até o fórnix do vestl'bulo oposto à tuberosidade do maxilar. A bochecha deve ser afastada com o auxílio de uma espátula de madeira para que se possa ter uma visão de toda a sua superfície. A palpação é feita com o dedo polegar para fora da bochecha e o dedo indicador na boca. O médico deve ser cuidadoso na palpação das estruturas profundas, pois lesões podem estar presentes neste tecido Habilidades Clínicas – P2 – UC4 Allycia Jamylle Nogueira de Mello frouxo, sem que apareçam externamente ou sejam notadas pelo paciente . MUCOSA DO SULCO VESTIBULAR. O sulco vestibular representa a região entre as mucosas bucal e labial e a mucosa alveolar. Para visualizar esta área, o paciente abre a boca e, com o uso de uma espátula, afasta a bochecha, sendo possível examinar a mucosa alveolar, a gengiva inserida e livre. Observam-se a cor, a textura, os contornos das gengivas e as alterações patológicas. A palpação é feita com o dedo indicador comprimindo a mucosa contra os ossos da mandíbula e maxila. SOALHO DA BOCA. Para fazer a inspeção do soalho da boca, o paciente abre bem a boca e coloca a língua para cima e para trás. O exame da parte posterior é feito com o auxílio de uma espátula de madeira para deslocar a língua lateralmente. A palpação deve ser bimanual, com o dedo indicador de uma das mãos deslizando sobre o soalho, acompanhado externamente pelos dedos da mão oposta. O paciente deve estar com a cabeça e a mandíbula ligeiramente voltadas para baixo, a fim de se conseguir o máximo relaxamento dos músculos do soalho da boca. As estruturas que podem ser examinadas são: glândulas sublinguais e duetos, parte superior das glândulas submaxilares e duetos e freio lingual. PALATOS DURO E MOLE Em condições normais, o formato do palato é arredondado, tornando-se ogival nos pacientes que respiram pela boca. Para a inspeção da superfície palatina, o paciente deve :ficar com a cabeça ligeiramente fletida para trás. A mucosa do palato, firmemente aderida ao osso subjacente, apresenta queratinização, razão da sua coloração róseo-pálida com matiz cinza-azulado. Na linha média do palato, há uma linha estreita de cor esbranquiçada, denominada rafe palatina. Na porção anterior, situam-se as pregas palatinas transversais e a papila palatina, situada atrás dos incisivos centrais, tendo aspecto piriforme. Para apalpação dessa região, solicita-se ao paciente abrir a boca e, com a polpa digital do dedo indicador, densidade, textura e alterações são verificadas. DENTES Para a inspeção dos dentes, solicita-se ao paciente abrir bem a boca, e, com o auxílio de uma espátula de madeira, afastam-se a mucosa bucal (bochechas) e os lábios. Examina-se desde o último molar do lado direito até o último molar do lado esquerdo. Reinicia- se no último molar do lado esquerdo e termina-se no último molar do lado direito. Para visualizar a arcada dentária superior, o paciente deve inclinar a cabeça para trás. Pela inspeção, somente se consegue observar as coroas dos dentes. O exame completo de um dente apenas é possível por meio de radiografias das arcadas dentárias. No exame dos dentes, é fundamental considerar os seguintes aspectos: cor e manchas, tamanho, formato, estrutura anatômica, número, erosão, abrasão, fraturas, macrodontia e cáries dentárias. A palpação é feita com os dedos indicador e polegar "em pinça'' e serve apenas para verificar a mobilidade dental. ERITROPLASIA eritroplasia oral é empregado para descrever lesão bucal macular ou em placa, de coloração vermelha, para a qual não pode ser estabelecido um diagnóstico clínico específico1,2. Quando há associação de áreas vermelhas e brancas ou pontos granulares esbranquiçados sobrepostos à região vermelha, as lesões são designadas por eritroleucoplasia, leucoeritroplasia ou leucoplasia salpicada. LEUCOPLASIA DA MUCOSA BUCAL O termo leucoplasiasignifica áreas esbranquiçadas nas mucosas, caracterizadas pela existência de placas brancas, aderentes (não se desprendem pela raspagem), indolores e que, às vezes, fissuram (Figura 72.2A). Apresentam aspectos clínicos variados, ocorrendo desde as planas e translúcidas até as rugosas, verrucosas, papilares, nodulares e manchadas (áreas brancas e vermelhas), que potencialmente apresentam maior tendência à cancerização. A etiologia é desconhecida, mas vários fatores estão associados ao aparecimento da leucoplasia, tais como tabaco, álcool, irritação crônica da mucosa bucal, sífilis (tardia), desnutrição, hipovitaminose, alterações hormonais, exposição permanente à luz solar e galvanismo bucal. Pode situar-se em qualquer local da cavidade bucal, como língua, mucosa bucal (bochechas), lábios, soalho da boca, palato, mucosa alveolar e gengiva. O diagnóstico é feito por exame clínico e, do ponto de vista histopatológico, pode apresentar-se como um potencial para transformação maligna, que ocorre em 4 a 6% para carcinoma epidermoide, principalmente em fumantes, sem tempo previsto para tal ocorrência.
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