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1 LÍNGUA ESPANHOLA E A IMPORTÂNCIA DE SEU ENSINO: UMA REFLEXÃO CALCADA NOS PCNs E NA LEI 11.161 Salete Marli Carvalho da Cruz1 Resumo Este trabalho tem como objetivo refletir acerca da necessidade e relevância do ensino do idioma espanhol no sistema educativo brasileiro, e refletir ainda em que medida os documentos que regem a educação brasileira, mais especificamente, os que tangem o ensino de línguas estrangeiras (LE) como os PCNs e a lei 11.161, que torna obrigatória a oferta da Língua Espanhola no ensino regular, contribuem para a aquisição desse conhecimento que não se restringe às regras gramaticais e ortográficas, mas que contribuem para a formação individual, cultural e profissional dos sujeitos. Para isso, será apresentado breve recorte histórico do idioma espanhol como maneira de auxiliar na compreensão de como se tornou um dos idiomas mais influentes mundialmente, perpassando pelas leis que inicialmente determinavam o ensino de línguas estrangeiras no ensino nacional para, por fim, apresentar as conclusões e as reflexões acerca da análise dos PCNs e da lei 11.161. Palavras chaves: Língua Espanhola; Ensino; Língua estrangeira; 1-INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo refletir acerca da necessidade e relevância do ensino do idioma espanhol no sistema educativo brasileiro, e refletir ainda em que medida os documentos que regem a educação brasileira, mais especificamente, os que tangem o ensino de línguas estrangeiras (LE) como os PCN e a Lei 11.161, que torna obrigatória a oferta da Língua Espanhola no ensino regular, contribuem para a aquisição desse conhecimento que não se restringe às regras gramaticais e ortográficas, mas que contribuem para a formação individual, cultural e profissional dos sujeitos. Para isso, será realizada análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN 1996, 2001) enquanto determinantes para o ensino de uma ou mais línguas estrangeiras (LE) nas instituições regulares de ensino bem como da lei 11.161. Ao considerar que vivemos a era das inovações tecnológicas que exige que as pessoas estejam atualizadas para acompanharem as transformações econômicas, sociais e comportamentais decorrentes de se viver em um mundo globalizado, conhecer outros idiomas e outras culturas possibilita o entendimento, o diálogo e a comunicação entre diferentes nações, além de contribuir 1 Graduada em Letras Português Espanhol – Licenciatura pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Cerro Largo RS. Pós-Graduanda em Metodologias da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica pela Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR). Polo São Luiz Gonzaga RS. 2 para o desenvolvimento pessoal, intelectual e profissional. Sendo assim, conhecer outros idiomas deixou de ser opção para se tornar uma necessidade atualmente. Em virtude disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 2001) determinam que as instituições de ensino ofereçam pelo menos uma língua estrangeira moderna aos alunos matriculados. “Pelo seu caráter de sistema simbólico, como qualquer linguagem, elas funcionam como meios para se ter acesso ao conhecimento e, portanto, às diferentes formas de pensar, de criar, de sentir, de agir e de se conceber a realidade, o que propicia ao indivíduo uma formação mais abrangente e ao mesmo tempo mais sólida” (BRASIL, 2001. p. 25). Nesse sentido, o conhecimento de outro idioma contribui para o desenvolvimento do cidadão e para a inserção social, ficando a critério das instituições de ensino a escolha pelo idioma que melhor convém oferecer. E, com o objetivo de favorecer e contribuir para o fortalecimento dos laços comerciais entre os países membros do Bloco MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), e estreitar ainda mais as relações interpessoais decorrentes de se viver em um país que faz fronteira geográfica com sete países hispanofalantes, foi homologado a lei 11.161em 05 de agosto de 2005 pelo então presidente Luis Inácio Lula da Silva, instituindo a obrigatoriedade da oferta e ensino da Língua Espanhola em todas as instituições regulares de ensino. A referida lei busca facilitar o entendimento e a comunicação entre brasileiros e falantes da língua espanhola, considerando que é o idioma oficial da Espanha e de outros 20 países, sendo o terceiro idioma mais falado no mundo, ficando atrás apenas do Mandarim e do Inglês. Daquele devido a população chinesa ser a mais numerosa do mundo e deste por ser reconhecidamente o idioma universal. De acordo com dados do IBGE há aproximadamente 500 milhões de falantes da língua espanhola, com cerca de 390 milhões de falantes nativos e de 110 milhões de falantes que têm o idioma como segunda língua, estando presentes na América do Sul, América Central, América do Norte e África. Como o objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão acerca da necessidade e importância do ensino da Língua Espanhola, é interessante fazer um breve resgate histórico do surgimento do idioma assim como breve recorte da história do ensino de línguas estrangeiras no Brasil, perpassando pelos PCNs e pela lei 11.161. Fatores importantes para a compreensão de como o idioma espanhol tornou-se um dos idiomas mais difundidos e falados no mundo atualmente, e, consequentemente, se pensar na relevância de seu ensino e aprendizagem. 3 2 - LÍNGUA ESPANHOLA E SUA ORIGEM O Latim, língua que provém das línguas indo-europeias, era falada pelo povo romano que vivia no centro da Península Itálica, chamada Lácio. Os romanos dão início a um vasto histórico desbravador com a ampliação das fronteiras do antigo Lácio a partir da penetração na parte meridional da Península Itálica, concluída em 272 a.C, com a anexação de Toronto e com a guerra contra os semnitas, iniciada em 326 a.C, com término depois da batalha de Sentino em 295 a.C. Com esses episódios inicia-se um longo período de conquistas que vão desde a anexação de territórios da Sicília (241 a.C.), da Sardenha e da Córsega (238 a.C), da Ilíria (229 a.C), da costa leste e sul da Península Ibérica (218-219 a.C e da Récia (15 a.C.), entre outros, (CUNHA, 1976). Como é possível perceber, essa língua, com o decorrer do tempo, foi se transformando no idioma da conquista porque a partir do momento em que os soldados romanos partiam para novas descobertas, para ampliação das regiões conquistadas foi sendo difundida entre esses povos. Mas foi só no século III a.C. que surge o latim escrito chamado latim literário com a finalidade artística atingindo sua diferenciação do latim vulgar no século I a. C. O latim literário é mais ‘apurado’ utilizado pelos literatos e pela elite, já o latim vulgar é falado pelas camadas mais humildes da população e pelos soldados. Conforme Ismael de Lima Coutinho (2011): A princípio, o que existia era simplesmente o latim. Depois, o idioma dos romanos se estiliza, transformando-se num instrumento literário. Passa então a apresentar dois aspectos que, com o correr do tempo, se tornam cada vez mais distintos: o clássico e o vulgar. Não eram duas línguas diferentes, mas dois aspectos da mesma língua. Um surgiu do outro, como a árvore da semente. Essas duas modalidades do latim, a literária e a popular, receberam dos romanos a denominação respectivamente de sermo urbanus e sermo vulgaris (COUTINHO, 2011, p.). Desse modo, o latim vulgar esteve em contato com diversas nações, seja por meio das anexações ou pelas invasões sofridas. Mesmo aquelas nações que têm um histórico desbravador e de conquistas, podem, muitas vezes, serem conquistadas ou pelo menos sofrerem uma tentativa de conquista como ocorreu com o território romano, que foi alvo da invasão árabe no Séc. VIII, assim como fizeram os visigodos no mesmo século. À medida que há o contato entre conquistadores e povos conquistados, há trocas e a incorporação tanto da cultura como do idioma e o modo devida dos povos oponentes, como ocorreu a partir do avanço da Reconquista do território romano nos Séc. X ao XV. Já que houve o enriquecimento do vocabulário espanhol com a incorporação de palavras árabes como: tambor, aljibe, jará, arrabal, almohada, alfombra, entre outros benefícios como a 4 implantação dos meios de produção, das técnicas de irrigação, do cultivo de plantas e cereais e das técnicas artesanais herdadas desse povo. Fatores importantes para ampliação do comércio e, consequentemente, desenvolvimento da península. Também houve a incorporação de palavras como: guerra, ropa, bando, rico, etc, herdadas a partir da invasão dos visigodos. Ocorre também a exteriorização de costumes, da cultura e da língua latina a partir do advento da Reconquista, que faz com que o latim se torne mais conhecido e falado não só em domínios romanos, mas também nas terras dos invasores e, isso propicia também o surgimento de novos dialetos que podem tornar-se línguas independentes e autônomas como ocorreu com o castelhano (CUNHA, 1976). O dialeto castelhano provém de Castilla (que se constituiu ao sul de Cantabria e do país Basco e entre Rioja e norte de Burgos) que se consolida já no século XI, quando membros da Escola de Tradutores de Toledo passam a traduzir textos para o castelhano produzidos em árabe sobre astronomia, filosofia e medicina. Dialeto que no Séc. XV devido ao início do processo de unificação da Espanha manteve a hegemonia sobre as demais regiões adquirindo proporções de língua independente. De acordo com Zamora (2009) ficou a denominação castelhano para o dialeto que enriquecido por inúmeros elementos dos outros dialetos hispânicos transformou-se na língua oficial da Espanha em 1492 com a criação da primeira gramática em língua espanhola por Elio Antonio de Nebrija, culminando com a criação em 1495 do primeiro dicionário dessa língua. A história do idioma espanhol pode ser dividida em três momentos: em castelhano antigo, entre os séculos X e XV; espanhol moderno do século XVII ao XVIII e o espanhol contemporâneo a partir da fundação da Real Academia Espanhola até a atualidade. Com o imperador Carlos I, em 1536, o dialeto de Castela, passa a ser a Língua Oficial da Espanha e a denominar-se Espanhol, denominação que provém do latim medieval, Hispaniolus. Denominação que se junta à denominação ‘castelhano’, já que de acordo com o dicionário da Real Academia Espanhola ambos são sinônimos. Os primeiros textos em castelhano datam do Séc. X, que foram chamadas de Glosas Emilianenses e Silenses, uma relação com os monastérios onde foram achados, mas o desenvolvimento cultural e literário desta língua começa no Séc. XII, com a aparição dos cantares de gesta cujo único legado completo é o poema “El cantar de mio Cid”, de autor desconhecido. Surgem também as primeiras peças de teatro no Séc. XII, como o “Auto de los reyes magos”. Em relação a isso Antonio Alatorre (1979) afirma: “Os primeiros documentos que mostram palavras escritas em nossa língua não tem data, mas os estudiosos dizem que foram escritos na segunda metade do século X, ou seja, entre o ano 950 e o ano 1000”. Desse modo, podemos considerar que os primeiros registros em língua espanhola possuem mil e poucos anos. 5 É importante salientar que o latim deu origem a outros idiomas além do espanhol. Conforme Rodolfo Ilari (p.219) “hoje no mundo românico, cabe reconhecer o status de línguas nacionais a seis idiomas: o espanhol, o português, o francês, o italiano, o catalão e o romeno”. Idiomas importantes para a comunicação em nível mundial, tendo representações em todos os continentes, como ocorreu com a língua espanhola que foi levado e difundido em todos os continentes por meio das expedições exploratórias lideradas por Cristóvão Colombo e também pelos processos de colonização. Como mencionado, a Língua Espanhola está presente em todos os continentes, prevalecendo como idioma oficial de países da América Central e do Sul, e segundo Martín (1997, p. 201) mesmo que dentro da própria Espanha hajam outros idiomas falados fluentemente, ou seja, haja regiões bi Língues reconhecidas pela constituição como o país Vasco, que tem como idioma próprio o (Euskera), Catalunha que também tem idioma próprio o (Catalán), Galía onde se fala (Gallego) e Valencia, onde se fala (Valenciano), ainda assim a língua oficial continua sendo o Espanhol, por determinação da Constituição Espanhola de 1978. Conforme aponta Martín (1997, p.207) a expansão do espanhol para a América do Sul ocorreu a partir do Séc. XVI com o descobrimento e colonização que se deu a seguir. E, para favorecer o processo de colonização espanhola, os colonizadores contaram com a ajuda dos “missioneiros” para que o espanhol fosse ensinado para os povos autóctones que habitavam a região. Mas os missionários encontraram dificuldades para a realização dessa tarefa, resolvendo então a aprender as línguas autóctones para facilitar a compreensão entre eles e facilitar o ensino do espanhol para os indígenas. Contudo, no Séc. XVIII os espanhóis proibiram que os indígenas fizessem uso de sua língua de origem para que houvesse uma melhor assimilação da língua espanhola. A qual foi beneficiada com empréstimos linguísticos autóctones, já que inúmeras palavras que fazem parte do vocabulário espanhol tiveram origens nessas línguas, como por exemplo: jícara, tomate, maíz, batata, cacique, etc, não permanecendo apenas em território sul americano, mas também sendo levadas para outras regiões. Como exposto, a Língua Espanhola sofreu um longo processo de evolução, chegando a ser o segundo idioma mais falado mundialmente ao considerarmos a quantidade de falantes do idioma pelo mundo e se desprezarmos o número de falantes nativos do idioma Mandarim, o qual destina ao espanhol o terceiro lugar enquanto idioma mais falado atualmente. 6 3 – A HISTÓRIA DO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS BRASILERAS Convém fazer um breve resgate histórico do ensino de línguas estrangeiras no sistema educativo brasileiro, perpassando pelos PCNs e enfocando as determinações da lei 11.161 para refletir em que medida a obrigatoriedade do ensino da língua espanhola pode estimular e despertar o interesse dos educandos, contribuindo assim para que a aprendizagem do idioma seja de fato consolidada, e que ultrapasse as paredes das salas de aulas enquanto disciplina da grade curricular e faça parte da vida do aprendiz. O Brasil se constituiu a partir da união de várias etnias, portanto, não há como atribuir à constituição do país uma única etnia, já que desde o início do processo de colonização parte do território nacional foi alvo de disputas entre a coroa portuguesa e a espanhola. Mencionando ainda entre outras tentativas de invasão, a francesa e a holandesa, e também as levas de migrantes da Espanha, Itália, Alemanha, Japão entre outras nações que ajudaram na constituição do país. Sendo assim, o país que chamamos Brasil constituiu-se a partir da união de inúmeras etnias, idiomas e culturas. Com isso, podemos afirmar que as línguas estrangeiras sempre estiveram presentes em nosso território e que de certa forma o país é ‘plurilingual’, já que ainda hoje muitas regiões do país conservam e utilizam dialetos autóctones e de migração, atribuindo-lhes, portanto, características de regiões bilíngues. A preocupação em ensinar uma ou mais língua(s) estrangeira(s) no sistema educacional brasileiro surgiu a partir do interesse em comunicar-se nos idiomas influentes da época, ocorrendo assim a oficialização do ensino de língua estrangeira no Brasil em 22 de junho de 1809: E sendo, outrossim, tão geral e notoriamente conhecida a necessidade de utilizar-se das línguas francesa e inglesa, como aquelas que entre as vivas têm mais distinto lugar, e é de muita utilidade ao Estado, para aumento e prosperidade de instrução publica,que se crie na Corte uma cadeira de língua francesa e outra inglesa (MOACYR, 1936, p. 61) Como exposto acima, a língua francesa e a inglesa passaram a integrar o ensino na Corte, introduzindo assim o ensino de outras línguas modernas na educação nacional, como ocorreu a partir das mudanças implantadas no ensino secundário em1855 pelo então Ministro Couto, tornando obrigatório o ensino do francês, do inglês e do alemão e facultativo o ensino do italiano. Em relação às línguas clássicas, há a obrigatoriedade do ensino do latim e do grego. Em relação a isso Chagas (1979, p.105) traz: “as línguas modernas ocuparam então, e pela primeira vez, uma posição análoga 7 a dos idiomas clássicos, se bem que ainda fosse muito clara a preferência que se destina ao Latim”. E com o passar do tempo o ensino das línguas modernas suplantou o ensino das línguas clássicas que foram retiradas da grade curricular escolar. Com a Reforma de Capanema em 1942 o ensino secundário passa a ser estruturado em curso ginasial de quatro anos e curso colegial de três anos, sendo dividido entre científico e clássico. Chagas (1979) aponta que o ministro Gustavo Capanema afirmava que a inclusão do ensino da língua espanhola no currículo escolar contribui com a aquisição do conhecimento e para a aproximação entre as nações coirmãs: [ ] ensino secundário das nações cultas dá em regra o conhecimento de uma ou duas’ delas, elevando-se tal número para três nos ‘países cuja língua nacional não constitui um instrumento de grandes recursos culturais. A reforma adotou esta última solução’, escolhendo o francês e o inglês, ‘dada a importância desses dois idiomas na cultura universal e pelos vínculos de toda a sorte que a eles nos prendem’; e o espanhol por ‘ser uma língua de antiga e vigorosa cultura e de riqueza bibliográfica’, cuja adoção, por outro lado, ‘é um passo a mais que damos para nossa maior e mais íntima vinculação espiritual com as nações irmãs do Continente’ (CHAGAS, 1979, p.116). O ensino da Língua Espanhola foi introduzido tanto no ensino clássico como no científico, como consta no Capítulo II, Art. 12 do Decreto-Lei n° 4.244 de 09 de abril de 1942. Contudo, continuava sendo obrigatório o ensino da língua materna. Desse modo, é a partir da Reforma Capanema que se inicia o Ensino de Língua Espanhola no Brasil, para em 20 de dezembro de 1961 ser promulgada pelo presidente João Goulart a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n°. 4024, que estabelecia os parâmetros para todos os níveis de ensino, subdividindo o currículo em três partes, são elas: a nacional com as disciplinas obrigatórias determinadas pelo Conselho; a Federal de Educação; e a regional também obrigatórias, porém estabelecidas pelo Conselho de Educação Estadual; e a parte diversificada, disciplinas estabelecidas pela própria instituição escolar, a partir de lista prévia estabelecida pelo Conselho de Educação. A nova versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei 5692/71 de 1971, determina o ensino de língua estrangeira no 1° e n o 2° graus (atual Ensino Fundamental e Médio), sendo obrigatório no Ensino Médio devido à exigência nas seletivas para o Ensino Superior. Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 20 de dezembro de 1996 (Lei 9.394), a língua estrangeira passa a ser incluída no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Neste em caráter obrigatório: 8 Art. 26 – Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser completada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. § 5° - Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. Art. 36 – O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste capítulo e as seguintes diretrizes: (...) III – Será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. Como maneira de complementar a LDB, foram criados os PCN (1998) que trazem que “a aprendizagem de uma língua estrangeira juntamente com a língua materna, é direito de todo cidadão” (p.19). Segundo o documento, foram criados critérios para a inserção da língua estrangeira na comunidade escolar, que devem estar calcados nos fatores históricos; nos fatores relativos às comunidades locais e nos fatores relativos à tradição. Objetivando a representatividade que uma língua tenha no desenvolvimento específico da história da humanidade, já que o fator histórico torna-se imprescindível na aprendizagem de um idioma. A relevância é frequentemente determinada pelo papel hegemônico dessa língua nas trocas internacionais, gerando implicações para as trocas internacionais nos campos da cultura, da educação, da ciência, do trabalho, etc. (PCN, 1998, p.23). O referido documento traz como exemplos de línguas relevantes o Inglês, pela crescente e notória influência econômica norte-americana pós II Guerra Mundial e a língua espanhola pelas trocas comerciais e econômicas com os países integrantes do MERCOSUL. Em relação aos fatores relativos às comunidades locais, sugere a inclusão tanto de línguas indígenas como de línguas de imigrantes, devido a laços culturais, afetivos e ou de parentesco. Quanto às comunidades onde o português não é língua materna, justifica-se seu ensino como segunda língua. E em relação aos fatores relativos à tradição, considera-se a relação cultural desenvolvida entre dois países, citando o caso do francês pelas trocas culturais entre Brasil e França. O documento aborda a importância de se conhecer a língua espanhola devido às trocas comerciais e também à proximidade geográfica entre o Brasil e os países hispanofalantes: Deve-se considerar também o papel do espanhol, cuja importância cresce em função do aumento das trocas econômicas entre as nações que integram o Mercado das Nações do 9 Cone Sul (Mercosul). Esse é um fenômeno típico da história recente do Brasil, que, apesar da proximidade geográfica com países de fala espanhola, se mantinha impermeável à penetração do espanhol (BRASIL, 1998, p. 23). Os documentos que determinam o ensino de uma língua estrangeira e sugerem, neste caso, o ensino da língua espanhola, sustentam seus argumentos nos laços mercantis que envolvem os países membros do MERCOSUL e sua proximidade geográfica com países de língua espanhola. Mas, é indispensável dar atenção à questão de que não há apenas a proximidade geográfica entre Brasil e alguns países de língua espanhola, indo, além disso, já que o nosso país faz fronteira geográfica com sete desses países. Desse modo, as trocas perpassam as simples trocas comerciais, havendo trocas artísticas - culturais, de costumes, de hábitos e modos de vida. Lembrando ainda que há a exigência do conhecimento de uma língua estrangeira como critério de seleção em cursos de pós- graduação e que muitos candidatos optam pelos conhecimentos em língua espanhola e também há exigência do conhecimento básico do espanhol para ingresso em vários cursos de especialização no exterior, além de ser opção de língua estrangeira nas provas do ENEM e de vestibulares em todo o território nacional. Isso contribui para o interesse em aprender o idioma. E, para contribuir e facilitar a imersão dos brasileiros no idioma e cultura hispânica foi promulgado a lei 11.161 em 05 de agosto de 2005, que determina a inserção da Língua Espanhola no currículo das Instituições regulares de ensino brasileiras para o Ensino Médio e sendo facultativa no currículo do Ensino Fundamental - ciclo II. Lei quede alguma maneira vem para complementar e fechar uma lacuna deixada pelos PCN quando apontam a relevância de se conhecer a Língua Espanhola, mas sem que sua oferta fosse obrigatória. Conforme a Lei 11.161(2005): Art. 1o O ensino da língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do ensino médio. § 1o O processo de implantação deverá estar concluído no prazo de cinco anos, a partir da implantação desta Lei.§ 2o É facultada a inclusão da língua espanhola nos currículos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a séries. Art. 2o A oferta da língua espanhola pelas redes públicas de ensino deverá ser feita no horário regular de aula dos alunos. Art. 3o Os sistemas públicos de ensino implantarão Centros de Ensino de Língua Estrangeira, cuja programação incluirá, necessariamente, a oferta de língua espanhola. Art. 4o A rede privada poderá tornar disponível esta oferta por meio de diferentes estratégias que incluam desde aulas convencionais no horário normal dos alunos até a matrícula em cursos e Centros de Estudos de Língua Moderna. 10 Art. 5o Os Conselhos Estaduais de Educação e do Distrito Federal emitirão as normas necessárias à execução desta Lei, de acordo com as condições e peculiaridades de cada unidade federada. Art. 6o A União, no âmbito da política nacional de educação, estimulará e apoiará os sistemas estaduais e do Distrito Federal na execução desta Lei. Art. 7o Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação. O que se vislumbrou com as determinações dos PCN sobre o ensino de língua estrangeira e da lei 11.161, é que os brasileiros estejam aptos a comunicar-se nessa língua, considerando que há o contato real por meio de diferentes manifestações de uso da língua seja pela música, pelo cinema, pela política e/ou por fatores econômicos. E, para que as determinações desses documentos realmente saiam do papel, sabemos que é necessário ter instituições de ensino empenhadas e profissionais capacitados a desempenhar a função de intermediador de um conhecimento que não se restringe unicamente a questões linguísticas, às regras gramaticais e ortográficas, mas que é amplo ao se considerar as questões históricas e culturais que estão imbricadas em qualquer idioma. Em relação a isso os PCN (2001) mencionam: “O domínio de uma Língua Estrangeira se constitui em mais uma possibilidade de ampliação do universo cultural do aluno, possibilitando-lhe o acesso e a apropriação de conhecimentos de outras culturas”. O que certamente contribui para a formação intelectual e pessoal dos sujeitos. 4- CONCLUSÕES E REFLEXÕES Como vimos, a LDB define que será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, já para o Ensino Médio será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória e uma segunda em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. Já a lei 11.161 torna obrigatória a oferta da língua espanhola no Ensino Médio e de matrícula facultativa para o aluno, e facultada à inclusão nos currículos plenos do Ensino Fundamental. As referidas leis objetivam que os estudantes brasileiros tenham a possibilidade de conhecerem outros idiomas e outras culturas. É importante mencionar que o Brasil, único país da América do Sul que tem o a língua Portuguesa como idioma oficial, faz fronteira geográfica com: Uruguai, Argentina, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Peru e Colômbia. Isso já é argumento suficiente para o ensino do espanhol nas escolas brasileiras. Em contrapartida, a oferta e ensino da Língua Portuguesa na Argentina vem 11 sendo implantado ao se cumprir as determinações da lei 26.468 que determina a oferta da Língua Portuguesa em território argentino. A promulgação da referida Lei em 16/01/2009 torna obrigatória a oferta da Língua Portuguesa em todas as escolas de Ensino Médio do país e, no caso das escolas de fronteira, também no Ensino Fundamental. Esforço para que haja a interação e comunicação entre os argentinos e os brasileiros. Quanto ao ensino da Língua Espanhola no Brasil, podemos afirmar que se tornou uma necessidade ao pensarmos que esse idioma faz parte da vida de muitos brasileiros, mesmo que intencionalmente, já que não é necessário sair exatamente do país e ir até um país vizinho para estar em contato com falantes do idioma, pois o território brasileiro é destino certo para muitos hispanofalantes que visitam as praias brasileiras em temporadas de férias e/ou pelo interesse em conhecerem os Sete Povos das Missões, considerando que vivemos na região missioneira. Temos conhecimento também do crescente interesse de estudantes brasileiros por cursos de Ensino Superior em países como Uruguai, Argentina, entre outros. Sendo assim, não tem como desprezar o fato de que o processo – ensino e aprendizagem da Língua Espanhola é uma necessidade e que deve ser conduzida pelos profissionais do ensino de maneira a despertar verdadeiramente o interesse dos estudantes brasileiros pelo idioma. Interesse que ultrapasse as paredes das salas de aulas para que não se restrinja unicamente à aprendizagem de uma ‘disciplina escolar’, mas que tenha sua real importância reconhecida. Com isso, os PCN e a lei 11.161 desempenham função importante no sentido de outorgar às instituições de ensino a responsabilidade de instigar à tomada de consciência de que conhecer outro(s) idioma(s) contribuirá para o crescimento individual, intelectual e profissional do aprendiz. Por isso, cabe à escola trabalhar de modo que o aluno perceba a relevância de aprender outro idioma, e que isso fará toda a diferença em sua vida. . 5-.REFERÊNCIAS ALATORRE, Antonio, LOS 1,001 AÑOS DE LA LENGUA ESPAÑOLA, Terezontle, México, 1979. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. 12 COUTINHO, Ismael de Lima, GRAMÁTICA HISTÓRICA, I M Imperial Novo Milênio, Rio de Janeiro, 2011. CHAGAS, V. Didática especial das línguas modernas. São Paulo, Nacional, 1979, 3 ed. FERREIRA, Celso da Cunha: Gramática da Língua Portuguesa, 3ª edição, Ministério da Educação e Cultura – FENAME, 1976. ILARI, Rodolfo, Linguística Românica, séries Fundamentos, 3ª edição, editora ática ABDR, 2008. Lei no. 11.161/05, de 05 de agosto de 2005. Dispõe sobre o ensino da Língua Espanhola. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11161.htm>, acesso: 17 nov. 2013. MARTÍN, Eugenio Cascón: Doctor em Filología Hispánica: LENGUA ESPAÑOLA Y COMENTÁRIO DE TEXTO, Madrid, 1997. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf> Acesso em 16/03/2016 às 14h00. MOACYR, Primitivo. A instrução e o império: subsídios para a história da educação no Brasil. São Paulo: Nacional. 1936. 3v.
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