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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI DANILO REIS DE MATOS OLIVEIRA DE UMA ILHA PARA O MUNDO: ORIGEM E EVOLUÇÃO DA LÍNGUA INGLESA E O SEU ENSINO COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL. ITABERABA /RUY BARBOSA-BA 2022 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI DANILO REIS DE MATOS OLIVEIRA DE UMA ILHA PARA O MUNDO: ORIGEM E EVOLUÇÃO DA LÍNGUA INGLESA E O SEU ENSINO COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL. ITABERABA /RUY BARBOSA-BA 2022 Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em LETRAS: PORTUGUÊS/INGLÊS. DE UMA ILHA PARA O MUNDO: ORIGEM E EVOLUÇÃO DA LÍNGUA INGLESA E O SEU ENSINO COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL. Autor: Danilo Reis de Matos Oliveira1 Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). RESUMO: O presente trabalho consiste em uma análise bibliográfica acerca da origem da língua inglesa e sua expansão pelo planeta, chegando a sua implantação como componente curricular de ensino no Brasil. Quanto a metodologia utilizada, o trabalho se classificação como revisão de bibliografia, tendo por objetivo principal conhecer o processo histórico de surgimento da língua inglesa e como ela ganha o status de língua global a ponto de ser ensinada no Brasil, país de colonização portuguesa. O trabalho foi dividido em três capítulos, sendo que o primeiro versa sobre as origens da língua inglesa de maneira geral, o segundo versa sobre a língua inglesa e o seu caráter global e, o terceiro, uma breve análise da trajetória da língua no Brasil. Em suma, concluiu-se que, contextualizar a origens e caminhos percorridos pela língua inglesa é primordial para que se perceba a sua importância em uma sociedade cada vez mais globalizada. PALAVRAS-CHAVE: Origem da língua inglesa. Inglês como língua global. Expansão da língua inglesa. 1 Professor das redes Municipais de Ensino das cidades de Itaberaba e Ruy Barbosa – Bahia. Licenciado em Pedagogia e Bacharel em Direito pela Universidade do Estado da Bahia. Especialista em História da Cultura Afro-Brasileira pela Universidade Cândido Mendes. Licenciando em Letras com habilitação Português/Inglês pela Centro Universitário FAVENI. E-mail: mulundeuanda@gmail.com. 1. INTRODUÇÃO: Na contemporaneidade a língua inglesa goza do status de língua mais falada no mundo, somando milhões de falantes em todo o planeta. Países como os Estados Unidos da América, Austrália e tantos outros, ex-colônias inglesas, são alguns dos responsáveis por dar a língua tal status. Contudo, em alguns desses países não é oficial, ou seja, reconhecido por lei, como no já citado Estados Unidos, ou é segunda língua, como no Canadá, sem contar os falantes que habitam em países nunca foram colônias inglesas e que aprendem a nova língua para fins diversos, como estudos e mercado de trabalho, por exemplo. No Brasil, assim como em tantos outros países, o inglês é ensinado nas escolas públicas e particulares, fazendo parte do rol das disciplinas da base curricular comum, gozando assim do caráter obrigatório de ensino. Mas, como uma língua surgida dos discrepantes dialetos falados numa ilha se expandiu a ponto alcançar o patamar atual? Entender a gênese da língua inglesa é fundamental para que se compreenda a importância do seu ensino como língua franca. Diante disso, surge a necessidade de conhecer o processo histórico de surgimento da língua inglesa e como ela ganha o status de língua global a ponto de ser ensinada no Brasil, país de colonização portuguesa. Inicialmente, as invasões de outros povos, como latinos (romanos), germânicos, normandos, contribuíram para a formação dos chamados Inglês Antigo e Médio e, como toda língua está em constante transformação, o contato com outras culturas a partir do processo de colonialismo fez com que o Inglês Moderno influenciasse e fosse influenciado pelas culturas e línguas das suas colônias. Assim, objetivando-se compreender o processo de formação e mudanças sofridas desde o seu surgimento até a contemporaneidade, buscou-se por meio de objetivos secundários, perceber através de dados históricos, como uma língua falada por um pequeno povo em uma ilha se desenvolveu e se consolidou a ponto de se tornar a língua com maior número de falantes e a mais estudada no mundo, inclusive como língua estrangeira de ensino obrigatório nas escolas do Brasil. Estudar uma língua não é apenas conhecer a sua gramática ou oralidade, mas, entende-la em sua gênese, buscar as suas origens, compreendendo o seu processo de surgimento e evolução no tempo e espaço. Assim, a relevância deste trabalho está na necessidade de conhecer além dos signos linguísticos da língua inglesa, o seu processo de formação e expansão. Para tanto, faz-se necessário um levantamento bibliográfico, que dá a este trabalho a classificação metodológica de revisão de bibliografia, ou seja, a partir de trabalhos já publicados, buscou-se compreender esse processo de expansão da língua dos seus primórdios até hoje. O trabalho está dividido em três capítulos, que buscam de forma suscinta traçar uma linha do tempo entre o surgimento da língua e o seu status de língua franca ensinada no Brasil. O primeiro capítulo, intitulado “Origens da língua inglesa” apresenta dados históricos que mostram como a língua foi se moldando a partir das interações entre culturas e línguas antigas. No segundo capítulo, intitulado “O inglês como uma língua global”, apresenta o processo de expansão marítima e as colonizações como difusoras da língua pelo planisfério e como esse processo contribuiu para que o inglês galgasse o patamar de língua global. Assim, o terceiro capítulo, intitulado “O ensino da língua inglesa no Brasil”, buscou trazer a síntese do porque a língua goza do status de língua franca, ou seja, língua estrangeira ensinada nas escolas do país, mostrando que, o contato do brasileiro com a língua data de mais de dois séculos de história. 2. ORIGENS DA LÍNGUA INGLESA A necessidade de comunicação clara e organizada entre os indivíduos da mesma espécie fez com que o ser humano desenvolvesse ao logo dos anos um código linguístico organizado que foi se tornando cada vez mais diverso e complexo, dando origem as discrepantes línguas que se conhece na contemporaneidade. Como todo processo de transformação é paulatino, estima-se que o surgimento da linguagem falada date de cerca de 150 mil anos, enquanto a linguagem escrita tenha cerca de 6 mil anos de emergência. A mudança é normal no idioma. Cada idioma está constantemente se transformando em algo diferente e, quando ouvimos uma nova palavra ou uma nova pronúncia ou o uso de uma palavra antiga, podemos estar alcançando os estágios iniciais de uma mudança. A mudança é natural porque um sistema de linguagem é culturalmente transmitido. Como outros assuntos convencionais - como moda em roupas, penteados, culinária, entretenimento e governo - a linguagem está sendo constantemente revisada. A linguagem evolui mais lentamente do que algumas outras atividades culturais, mas sua mudança é contínua e inevitável(ALGEO, 2010, p. 10). O inglês, atualmente a língua com maior número de falantes no mundo, tem sua gênese na região da Grã-Bretanha, sendo resultado da miscigenação étnica e consequentemente linguística entre os povos que habitaram àquela região. Para entender o patamar em que a língua inglesa está no mundo atual é de fundamental importância o conhecimento da formação histórica e cultura pela qual a língua passou ao longo dos séculos, observando que uma língua não nasce isolada, mas está constantemente influenciada por outras, considerando “os processos colonizatórios e as invasões e conquistas que ocorreram ao longo do tempo”, percebendo que a língua, tal qual a humanidade, é dinâmica e se molda ao longo do tempo e conforme o espeço (SOUSA, 2019). Como era bastante comum nas sociedades antigas, invasões e dominações forçavam o intercâmbio entre os povos de culturas distintas e, consequentemente a fusão e surgimento de novas culturas. A região originalmente habitada pelos povos celtas recebe a partir do século V povos anglo-saxões, estes de origem germânica e com o apogeu do império romano, a ilha foi fortemente influenciada pelo povo latino. Segundo Sousa (2019, p.12), há registros ainda de povos mais antigos que os celtas a habitar a ilha. Mesmo com a ocupação anglo-saxã e romana, por volta do século V, os antigos habitantes continuaram a falar a sua língua, porem “houve um processo o qual levou muitos falantes a assumir as características linguísticas dos invasores”. Porém, a sobrevivência do povo celta encontrar-se-ia ameaçada com a investida dos pescadores saxões, após a saída dos romanos na região, e também dos escoceses. A primeira invasão romana aconteceu por volta do ano 54 a.C. Depois de muitas invasões, esse grande império da Idade Antiga tomou a região sob seu domínio e outras influências começam a acontecer, na economia, na política, na sociedade de maneira geral e, claro, na língua. (...) Povos vindos do extremo norte europeu, como os saxões, se estabeleceram por lá, em invasões violentas e sangrentas que massacraram parte da população local da época. Essa destruição saxã acabou por dar fim à cultura celta, sobrepondo-se a ela e fazendo surgir o dialeto germânico que deu origem à língua inglesa. (FAVENI, p. 44). No Século XI, a região da Grã-Bretanha é invadida pelo povo normando, povo que se desenvolveu ao norte da França, levando assim a influência de dialetos franceses que, se fundem ao chamado inglês antigo. Segundo, registros entre 1066 e 1200 franceses e ingleses produziram o crioulo, que conhecemos como inglês médio (a B&M refere-se ao inglês antigo como “anglo-saxão” para enfatizar que ele e eu somos, em sua opinião, dois idiomas diferentes. também sugeriu que os escritos do século XII em inglês possam ser “anglo-saxões” e não inglês médio (THOMASON & KAUFFMAN 1992, p. 310). Segundo Sousa (2019) houve conflitos entre os normandos habitantes das ilhas britânicas e os que habitavam o continente, criando assim um clima de separatismo, ao mesmo tempo que crescia o clima de pertencimento a uma identidade distinta e nacionalismo daqueles que habitavam a ilha, evento esse que levaria ao surgimento de um exército de língua inglesa e ao surgimento de uma literatura própria por volta do século XV e, consequentemente, a autonomia daquele povo em relação ao continente. Com a expansão marítima iniciada por volta do século XVI, o intercâmbio cultural entre ingleses e outros povos vai ampliando cada vez mais a língua, se moldando a necessidade dos seus falantes. Assim, pode-se dizer que: A história de nossa língua é tradicionalmente dividida em três períodos: inglês antigo, desde os primeiros registros (ou do assentamento anglo-saxão da Inglaterra por volta de 450 d.C.) até cerca de 1100; Inglês médio, aproximadamente 1100 a 1500; e inglês moderno, desde cerca de 1500. As linhas que dividem os três períodos baseiam-se em mudanças significativas no idioma daqueles tempos, mas grandes mudanças culturais por volta de 1100 e 1500 também contribuem para nosso senso de novos começos (ALGEO, 2010, p. 10). O inglês antigo, forma primitiva do inglês moderno, começou a se formar entre os séculos V e XI e, não era um idioma único e estruturado. Constituía-se numa série de dialetos falados pelos povos que habitavam a região, contudo, o dialeto predominante era o anglo-saxão. O chamado Old English seria incompreensível para um falante do inglês atual devido as mudanças pela qual este idioma passou ao longo dos séculos. À medida que a ilha ia sendo dominada por outros povos, o intercâmbio linguístico com outros povos, principalmente os franceses, deu origem ao Middle English, ou inglês médio, que se desenvolveu entre os séculos XI e XVI, sendo caracterizado pelas transformações gramaticais, sobretudo no campo analítico e sintático da língua. Por fim, a partir do século XVI, sobretudo no contexto de expansão marítima, onde o idioma começa a se expandir devido a colonização, surge a necessidade de padronização do idioma no território britânico. Surge o chamado Modern English, ou inglês moderno, concomitante ao sentimento de pertencimento a uma nação única, o que colaborou para a institucionalização de uma língua padronizada. Neste contexto, o campo da literatura contribui para a consolidação da língua através da obra de Shakespeare (SOUSA, 2019). 3. O INGLÊS COMO UMA LÍNGUA GLOBAL A partir do processo de expansão marítima e colonização iniciado no século XVI, os países europeus iniciam uma corrida pela conquista de novos territórios para além-mar. Embora os ingleses não tenham sido os pioneiros, conquistaram muitos territórios na América, África e Oceania, levando para os povos conquistados além da cultura a sua língua. A imposição da língua ao colonizado se constituía em um elemento de dominação cultural, ou seja, tal como os romanos, os ingleses perceberam que “a língua era um forte recurso para se dominar uma cultura ou um povo” (MAGALHÃES, 2016, p. 47). Desde a antiguidade os povos em expansão territorial usavam línguas que tinham como objetivo facilitar a comunicação entre grupos distintos. A chamada Língua Franca, seria “uma língua que é usada para a comunicação entre diferentes grupos de pessoas, cada grupo falando uma língua diferente (PHILLIPSON,1992, p.42). Em outras palavras, a língua franca é aquela que, em meio as línguas e dialetos nativos é eleita como a língua da comunicação, da interação social, comercial, educacional, entre outros aspectos. Sendo assim, a partir do momento que o ser humano começa a sua interação com culturas discrepantes surge a necessidade de uma língua que fosse comum e permitisse a povos distintos a mútua compreensão. Engana-se quem pensa que a primeira língua considerada franca tenha sido o inglês. O próprio povo britânico antigo, quando da dominação de outros povos sobre aquela região eram obrigados a se comunicar usando a língua do povo que o dominou, a exemplo dos romanos e normandos que impuseram o latim e um dialeto francês aos dominados, fato este que colaborou para a modificação do inglês antigo. O latim, por exemplo, já gozou do status de língua franca, inclusive, como língua oficial da própria Inglaterra por conta da dominação romana e posteriormente, pela hegemonia da igreja católica. Além, do latim, o grego em épocas antigas também gozou do status de língua franca (MAGALHÃES, 2016). A língua é em si um fator de poder e “se torna mundial por uma razão apenas: o poder das pessoas que a falam” (CRYSTAL 2005, p. 23). Conforme Crystal (2012, p. 360) “o inglês é usado como língua oficial ou semioficial em mais de 60 países e tem um lugar de destaque em outros 20. É dominante ou bem estabelecido em todos os seis continentes” Segundo Lacoste (2005): (...) em nossos dias, aquiloque podemos chamar de neo-imperialismo não tem mais necessidade de conquistar territórios para exercer sua dominação econômica e cultural. Isso vale sobretudo para aquela que se tornou a hiperpotência, a América (ou mais exatamente os Estados Unidos da América). Ocorre que, por ser antiga herança colonial, sua língua é o inglês, a língua que também é oficial em vários dos países que foram colonizados pelos britânicos. Em acréscimo, de algumas décadas para cá, o inglês também se propaga no plano mundial como a língua da globalização, bem como a língua da União Européia, que engloba cerca de trinta Estados de línguas diferentes e que tem necessidade de uma língua comum, ao menos em meio às categorias sociais mais “globalizadas” de sua população (p.78). Nesta perspectiva, na contemporaneidade se fala no inglês não apenas como língua franca, mas, como língua Global. Olhando por este viés, “o uso da língua estrangeira moderna inglesa ao se expandir como língua de globalização gera efeito de verdade sua importância e as estratégias utilizadas para mantê-la no seu status” (LINGNAU, 2019). Contudo, há que se enfatizar que, “antes da supremacia da língua inglesa, o latim e o francês já reinaram, mas nunca houve uma necessidade tão extrema de ter uma língua comum como agora, o que é entendido com uma das consequências da globalização”, característica esta que os estudiosos da linguística chamam de imperialismo linguístico (ARAÚJO, 2019, p. 1) É nítido que a expansão do inglês tomou enormes proporções e alcançou grandes marcos. Não há registros históricos de outras línguas que conseguiram atingir tal feito. Entre as muitas línguas coloniais, apenas a língua inglesa teve a força econômica e militar para se tornar internacional. Nesse contexto, atualmente, o referido idioma alcançou o status de língua global como é sugerido por Crystal (2012). Todavia, a difusão massiva desse idioma tem despertado atenção dos professores e estudiosos da área para as implicações sociais, políticas, culturais e, sobretudo, educacionais de tal realidade para sua prática de ensino, uma vez que a expansão da língua inglesa não é somente expansão da língua, mas também a disseminação de discursos que promovem o idioma e a cultura anglo-americana como superiores (PENNYCOOK, 1994), corroborando assim a existência de imperialismo linguístico (ARAÚJO, 2019, p. 2). Para, Magalhães (2016) apud Le Breton (2005, p. 13), a preponderância da língua inglesa em detrimento de outras línguas europeias se deu porque: “ (...) é uma língua compósita, que reúne contribuições celtas, latinas, francesas, germânicas, para falar exclusivamente das principais [...] A língua inglesa, que era uma língua nacional nos séculos XVI e XVII, tornou-se a língua imperial nos séculos XVIII e XIX e, por fim, língua mundial durante a segunda metade do século XIX. A escolha do inglês como língua franca, ou em termo mais contemporâneo, global, tem sua motivação notoriamente política, desse modo, pode-se dizer que: O avanço da língua inglesa não ocorreu simplesmente porque o mundo globalizado precisava de uma língua qualquer para facilitar a comunicação de ideias entre os mais diferentes povos do planeta. A língua inglesa está na situação em que se encontra hoje porque os países anglófonos, notadamente os Estados Unidos, passaram a gozar do poder hegemônico no mundo pós Segunda Grande Guerra (RAJAGOPALAN, 2005, p. 146). Assim, percebe-se que, o caráter global da língua inglesa encontra raízes históricas no colonialismo que se iniciara no século XV e também no neocolonialismo, porém, o seu apogeu se dá sobretudo em função do processo de industrialização e informatização mundial, que fez com que a língua alcançasse a marca de língua mais falada em todo o planeta. 4. O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NO BRASIL Embora o apogeu da língua inglesa enquanto língua global se confunda principalmente com a era da informatização, a sua institucionalização como língua franca no Brasil se dá com a vinda da família real portuguesa no século XIX, principalmente devido aos negócios entre a coroa portuguesa e o império inglês. O ensino de língua inglesa como disciplina obrigatória no currículo escolar brasileiro teve início em 1809. Dom João VI decretara a implantação do ensino de duas línguas estrangeiras, a inglesa e a francesa, escolhidas estrategicamente, visando às relações comerciais que Portugal mantinha com a Inglaterra e a França. Assim sendo, a função do ensino era, como bem concluem Santos e Oliveira apud Lima (2009), “capacitar os estudantes a se comunicarem oralmente e por escrito.” Para tanto os professores aplicavam o Método Clássico ou Gramática-tradução, que era o único método de ensino de línguas estrangeiras de que se conhecia na época (SOUZA E SANTOS, 2011, p. 1). As relações comerciais entre Brasil e Inglaterra já era algo comum quando da vinda da família real portuguesa para o Brasil, inclusive, essa relação foi o estopim para que o evento, uma vez que o Reino Unido, do qual a Inglaterra faz parte, estava em guerra com a França (Império de Napoleão), que estabelecera o bloqueio continental a ilha britânica. Portugal que por sua vez tinha negócios com o Reino Unido optou por apoiar seu parceiro comercial e foi invadido pelas tropas francesas, restando a corte portuguesa o refúgio para a colônia (COSTA, 2016). De certa forma, este evento trouxe benefícios para o desenvolvimento do Brasil, que antes era apenas uma colônia de exploração e, teve seus portos abertos as nações amigas, ou seja, Reino Unido, além de outros avanços na área cultural, educacional e comercial. Uma vez que o comércio da agora extensão do reino português acontecia de maneira direta, sem o intermédio da metrópole, fez-se necessário o estabelecimento do ensino da língua inglesa no Brasil. D. João VI decidiu fugir para o Brasil, o que foi fortemente apoiado pela Inglaterra. Com esta mudança da corte portuguesa para o Brasil, os Ingleses tiveram a permissão de estabelecer casas comerciais, dando início ao poder econômico e à grande influência da Inglaterra na vida de nosso país, causando mudanças significativas como o desenvolvimento da imprensa Régia, do telégrafo, do trem de ferro e da iluminação a gás. As companhias inglesas abriram ofertas de empregos para os brasileiros como engenheiros, funcionários e técnicos. Mas havia um grande obstáculo: nascia então a necessidade de falar a língua inglesa para receber treinamentos e entender as instruções (LIMA, 20xx, p.2). Certamente, conforme afirma Chaves (2004), as evidencias levam a crer que, neste momento da história do Brasil, tenham surgido os primeiros professores de inglês, para satisfazer as necessidades comunicativas entre brasileiros e ingleses. Da implantação do ensino língua inglesa como disciplina na educação brasileira até a contemporaneidade, o tratamento dado a língua inglesa variou conforme a época, ora sendo enfatizada a sua importância, ora negligenciada, obedecendo principalmente aos interesses do mercado (BOCCA, 2019). No âmbito da LDB e do Parecer do CNE, as línguas estrangeiras modernas recuperaram, de alguma forma, a importância que durante muito tempo lhes foi negada. Consideradas, muitas vezes e de forma injustificada, como pouco relevantes, elas adquirem, agora, a configuração de disciplina importante como qualquer outra, do ponto de vista da formação do aluno (Brasil, 1998). Mas, fato é que, num mundo cada vez mais conectado e globalizado a língua inglesa e o seu ensino vêm ocupando cada vez mais um lugar de destaque na educação brasileira, conforme preconiza a Base Nacional Curricular Comum – BNCC: Aprender a língua inglesa propicia a criação de novas formas de engajamento e participação dos alunos em um mundo social cadavez mais globalizado e plural, em que as fronteiras entre países e interesses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais estão cada vez mais difusas e contraditórias. Assim, o estudo da língua inglesa pode possibilitar a todos o acesso aos saberes linguísticos necessários para engajamento e participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de interação e mobilidade, abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de continuidade nos estudos. É esse caráter formativo que inscreve a aprendizagem de inglês em uma perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas (BNCC, p. 241). Assim, apesar de parecer algo recente na história do currículo brasileiro, o ensino da língua inglesa se confunde com a própria história do país, ima vez que esta é utilizada em relações comerciais desde o século XIX. É preciso entender que num mundo cada vez mais globalizado e em que as interações de culturas estão encurtadas, é de suma importância o estudo da língua inglesa no currículo escolar e que sua aprendizagem é tão importante quanto a da língua materna. 5. CONCLUSÃO: Na contemporaneidade o professor de língua inglesa possui o grande desafio de romper os rótulos que circundam a aprendizagem de uma língua distinta do idioma materno. Embora não seja algo novo no Brasil, o ensino da língua inglesa, enfrenta uma série de resistências por parte dos alunos que por vezes não veem a importância da aprendizagem de uma nova língua. Desde o seu surgimento até alcançar o status de língua global, o idioma no que concerne ao currículo escolar passou por altos e baixos, ora tido como de suma relevância, ora tido como de pouca importância. Em partes, tal sentimento encontra reforço no fato de boa parte dos professores que ensinam o idioma não terem formação na área e, não haver uma contextualização histórica, levando o discente a percepção de que a língua inglesa possui uma intima relação com a língua brasileira, uma vez que ambas foram fortemente influenciadas pelo latim, além da sua relação histórica com o Brasil, desde a chegada de D. João VI e sua corte. Trabalhar a língua inglesa a partir do seu processo histórico de formação e expansão é uma forma eficaz de despertar no estudante a percepção de que, num mundo cada vez mais globalizado e em que as interações de culturas está cada vez mais próximo, é de suma importância o estudo da língua inglesa no currículo escolar e que sua aprendizagem é tão importante quanto a da língua materna, uma vez que, para se aprender um novo idioma o primeiro passo é dominar o seu. REFERENCIAS: ALGEO, John. The origins and development of the Engish language. 6ª edição. 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