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Resenha crítica - Documentário "Envelhescência"

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Resenha CríticaResenha Crítica
 O documentário intitulado “Envelhescência” lançado em junho de dois mil e quinze (2015), no Brasil, foi
realizado pela Lado B Digital Films, tendo como diretor e produtora Gabriel Martinez e Samarah Kojima,
respectivamente. Em seus oitenta e quatro (84) minutos de duração, o longa-metragem busca retratar um
novo olhar direcionado à velhice, apresentando seis (6) pessoas que reinventaram-se em um momento da
vida considerado, por muitos, tardio. Além disso, possui a participação de estudiosos da área, como o
médico e gerontólogo Alexandre Kalache, a antropóloga Mirian Goldenberg e o filósofo Mário Sérgio
Cortella.
 Ademais, em entrevista a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Estado de São Paulo (SBGG -
SP), quando questionado em relação ao título da obra cinematográfica o diretor afirmou que o termo
“envelhescência” teve seu primeiro uso no final do século XX pelo escritor Mário Prata referindo a uma
espécie de nova adolescência na velhice, mas que apesar disso, a inspiração responsável por provocar a
escolha dessa expressão para tal finalidade foi o emprego dela, pelo anteriormente mencionado, Alexandre
Kalache. Segundo Martinez, o médico utilizou-a para referir-se às vivências que podem ter início nessa fase
da vida.
 A velhice fisiologicamente pode ser definida pelas modificações nos variados sistemas que compõem o
corpo e biologicamente pelo “envelhecimento” das células, já socialmente é encarada como uma espécie de
período de afastamento do meio social e econômico, amparado, por exemplo, pela aposentadoria (que no
contexto brasileiro atual tem se tornado cada dia mais inalcançável). Nessa perspectiva, o filme tem a
iniciativa de contrapor esse pensamento preconceituoso e equivocado da sociedade, demonstrando que ser
“velho” não é seguir estereótipos, ser infeliz e inválido, mas que em contrapartida é multifacetado e
multifatorial. Importante ressaltar, inclusive, que o objetivo é alcançado com louvor.
 Dando continuidade, antes de adentrar propriamente no conteúdo retratado no documentário, é válido que
seja realizada uma explanação acerca de sua temática central. Sendo assim, em suas aparições em cena a
antropóloga Mirian Goldenberg, presente no longa-metragem, aponta que a velhice é a faixa etária da
liberdade. Mas, afinal, o que é a velhice? De acordo com Simone de Beauvoir, em seu livro “A Velhice”, essa
Alexia Menezes - Fonoaudiologia - UFS 4/8
Documentário "Envelhescência"
fase da vida não apresenta uma definição muito concreta, mas possui características biológicas e
psicológicas próprias do intervalo de idade em questão, agindo uma sobre a outra. Por outro lado, a
escritora destaca que ser velho é um status imposto pela sociedade e que as experiências oriundas desse
momento da vida irão depender do contexto social que circunda o indivíduo.
 Em adição, e retornando o foco ao que é retratado na obra cinematográfica analisada, pode-se perceber
uma concordância com a pensamento exposto acima, uma vez que ambas retratam o caráter plural e
dinâmico da velhice, sendo ela determinada por diversos fatores, como a qualidade de vida, as atividades
diárias e a condição econômica ⼀ que possui força suficiente para impactar os dois aspectos
anteriormente citados. Além disso, concordando novamente com o dito por Beauvoir acerca do que é
imposto pela coletividade, todos os personagens abordados no longa-metragem afirmaram não considerar-
se idosos, indo de encontro ao conceito que vigora no corpo social, e sendo considerados, indiretamente, por
Goldenberg como "ageless", termo originário do inglês que significa "sem idade".
 Ademais, mediante o relato dos indivíduos apresentados no filme e das pessoas que estão acostumadas a
acompanhar suas rotinas, é possível afirmar que todos eles apresentam uma vida bastante ativa, com a
presença diária de atividades físicas, por exemplo, causando espanto nos que os observam devido a idade
tida como avançada e, consequentemente, a pré-concepção da ideia de inadequação para tais práticas. Nesse
sentido, os levantamentos realizados por Kalache e Cortella corroboram os de Zimerman, em seu livro
“Velhice: Aspectos biopsicossociais''. Segundo a escritora, os jovens não comportam-se ou possuem
determinadas características por razão de sua idade, da mesma forma acontece com os idosos, sua
personalidade e hábitos não estão condicionados a sua idade cronológica, mas sim a permanência e o
aperfeiçoamento de seu estilo de vida durante toda a sua existência. (ZIMERMAN, 2007)
 De acordo com Salgado (2002), a gerofobia é o preconceito destinado aos idosos, motivado simplesmente
pela sua idade e agravado quando direcionado às mulheres ⼀ que, por sua vez, possuem maior expectativa
de vida quando comparada ao homem (STUART-HAMILTON, 2002) ⼀ devido a existência de uma sociedade
extremamente sexista. A partir disso, pode-se afirmar, ainda, o enfrentamento de um preconceito duplo por
duas participantes do documentário. A Edmea Correa e a Judith Gaggiano, essa em especial, que depois de
viúva decidiu ir em busca de sua satisfação pessoal, destruindo os estereótipos que abrangem não só os
idosos, mas também o gênero feminino ⼀ como a realização de diversas tatuagens e a participação de
motoclubes. Elas conduzem a vida da própria maneira, deixando a opinião alheia em posição lateral. 
Alexia Menezes - Fonoaudiologia - UFS 4/8
 Em continuidade, a antropóloga Goldenberg numa de suas aparições em cena versa acerca da sexualidade
da mulher idosa, afirmando que muitas tornam-se mais ativas, enquanto outras preferem abster-se da
prática sexual. Salgado (2002) também disserta sobre essa questão e afirma que o corpo social tende a
ridicularizar essa área da vida dessas mulheres, porém acontece o oposto com o sexo masculino. Partindo
desse ponto, ela reitera a influência da sociedade gerofóbica e sexista, que objetifica e reduz o corpo
feminino ao papel de correspondente dos padrões de beleza vigentes, como a eterna jovialidade da
aparência física, e provedor de plena satisfação do homem.
 Outrossim, mais uma temática importante a ser observada é a presença da alta autoestima e felicidade,
presente em todos os participantes da película. Um ponto positivo, com toda certeza, mas fora da curva,
visto que segundo a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), a depressão
encontra-se dentre as principais doenças mentais que mais atingem esse grupo populacional. Esse fato
apresentado pelos idosos exibidos na produção audiovisual analisada pode ser explicado pela inserção deles
em grupos que permitem a convivência com indivíduos que respeitam e aceitam suas peculiaridades
oriundas da idade, sem realizar comentários preconceituosos ou vexatórios. (ZIMERMAN, 2007)
 Conclui-se, portanto, que o documentário busca revelar, e realiza tal atividade com maestria, que não há
mudanças apenas na expectativa de vida e, consequentemente, na estrutura da pirâmide etária, mas também
nos costumes, na qualidade de vida e saúde, pois os idosos estão cada vez mais desfazendo os paradigmas
impostos para sua idade e buscando a felicidade, tendo como ponto de partida a vitalidade e juventude que
eles cultivam. E isso exige adaptação de todos os âmbitos da sociedade para acomodar essa parcela da
população que possui uma promessa velada, ao passo que exposta pelas ações e estatísticas, de avançar em
áreas e atividades que ainda não encontram-se ajustadas para suprir suas necessidades específicas
ocasionadas pelo desgaste biopsicossocial ao longo dos anos vividos.
Alexia Menezes - Fonoaudiologia - UFS 4/8
ENVELHESCÊNCIA. Direção: Gabriel Martinez. Produção: Samarah Kojima. São Paulo: ProacSP, 2015. 1 DVD
(84 min). Disponível em: <https://goo.gl/YN2zQO>. Acesso em: 14 julho 2021.
ZIMERMAN, Guite I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed, 2007. 229 p.
DE BEAUVOIR, Simone. A velhice. Brasil: Nova Fronteira, 2018. 600 p.
STUART-HAMILTON,Ian. A Psicologia do Envelhecimento: uma introdução. 3. ed. Brasil: Artmed, 2002.
SALGADO, Carmen Delia Sánchez. Mulher idosa: a feminização da velhice. Estudos interdisciplinares
sobre o envelhecimento, v. 4, 2002.
FIGUEIREDO, Fernanda. Diretor do filme “Envelhescência” fala sobre inspirações e personagens. Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 2015. Disponível em: <https://www.sbgg-sp.com.br/diretor-do-
filme-envelhescencia-fala-sobre-inspiracoes-e-personagens/>. Acesso em: 13 de maio de 2021.
Saiba como a depressão afeta os idosos. Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, 2016.
Disponível em: <https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2313-saiba-como-a-depressao-afeta-os-
idosos>. Acesso em: 14 de maio de 2021.
Referências:
Alexia Menezes - Fonoaudiologia - UFS 4/8
https://goo.gl/YN2zQO
https://www.sbgg-sp.com.br/diretor-do-filme-envelhescencia-fala-sobre-inspiracoes-e-personagens/
https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2313-saiba-como-a-depressao-afeta-os-idosos

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