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estudados, foram identificados comportamentos não esperados em relação às suas definições. Nessa perspectiva, pode-se supor que, possivelmente a situação do trânsito e as tensões provocadas por este possam produzir comportamentos inesperados, que não associam-se a características mais estáveis dos sujeitos (tal como é sugerido no estudo da personalidade na teoria dos traços e dos cinco grandes fatores), mas caracterizam um estado, uma situação momentânea, restando o questionamento sobre até que ponto os exames psicotécnicos de avaliação da personalidade poderiam ser empregados na predição de tais condutas de risco no trânsito, suposição que é admitida ao se incluir esse tipo de exame entre as provas para se obter a licença para dirigir (Sànchez Bernardos & Dolores Ávia, 1995; Eysenck, 1971; Hutz, et al., 1998; McCrae & John, 1992). Há que se considerar ainda a adequação da lista de adjetivos (instrumento utilizado na estimação dos fatores do Big Five) para a população em questão. Valeria a pena que mais estudos fossem feitos com candidatos à carteira de motorista, estabelecendo mais evidências de validade e precisão com esses sujeitos, habilitando-o para o uso para seleção de candidatos à Carteira de Habilitação em clínicas. Tais trabalhos poderiam basear-se em critérios externos que possibilitariam separar os aptos ou não para essa concessão, como esses comportamentos de risco, estudados nessa pesquisa; ou mesmo a incidência de acidentes e ocorrência de infrações após a concessão, acompanhado esses sujeitos à longo prazo e caracterizando um delineamento de pesquisa longitudinal. Nesses termos, os dados ora fornecidos podem ser considerados evidências de validade por relações com outras variáveis para a lista de adjetivos descritores da personalidade. Na concepção de Anastasi e Urbina (2000) poder-se-ia enquadrar esse tipo de validade como validade de critério concorrente, já que se possui uma medida de avaliação da personalidade e uma avaliação de critério que indica a incidência de ocorrência de infrações de trânsito que são tomadas concomitantemente. Ademais dos resultados encontrados e já discutidos, resta destacar que este estudo não pretende estabelecer relações de causa e efeito entre esses comportamentos e os traços em questão, mas sim iniciar uma discussão acerca das condutas no trânsito que caracterizem indivíduos em cada traço em particular. Desse modo, deve-se atentar ao fato de que talvez uma avaliação das características mais marcantes da personalidade da pessoa não seja suficiente para atestar uma pessoa como apta a suportar as pressões e intercorrências possíveis no trânsito. Talvez uma avaliação mais psicodinâmica possa ser favorável nesse sentido, possibilitando um maior esclarecimento não apenas sobre aspectos estáveis da personalidade, como também de outras formas de conduta de caráter momentâneo. Todavia, deve-se assegurar que as evidências de validade e dados sobre precisão destes instrumentos apresentem-se favoráveis na predição dos comportamentos desejados. Essa é uma questão muito discutida na atualidade na área de avaliação psicológica pelos Conselhos Regionais e Federal de Psicologia e que merece mais atenção dos profissionais envolvidos com avaliação psicológica no trânsito (Conselho Federal de Psicologia, 2001). REFERÊNCIAS Alchieri, J. C., & Stroeher, F. (2002). Avaliação psicológica no trânsito: O estado da arte ses- senta anos depois. In R. M. Cruz, J. C. Alchieri, & J. J. Sarda. (Org.). Avaliação e medidas em psicologia: Produção do co- nhecimento e da intervenção profissional. (pp.155-170). São Paulo: Casa do Psicólogo. Allport, G. W. 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