Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA UM RETRATO DA REALIDADE DE NOSSAS GESTANTES Até meados do século XIX, o evento do nascer se dava no domicilio, sendo a parturiente assistida por parteiras. A institucionalização do parto, no século XX, fez com que este evento requeresse o uso de tecnologias durante a assistência, diante de situações classificadas como de alto risco à mãe e ao bebê. A expressão violência obstétrica define-se como qualquer conduta, ato ou omissão realizado por profissionais de saúde. Utilizado para identificação de qualquer ato de violência direcionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera ou ao seu bebê. Violência física. Violência institucional. Violência moral. Violência sexual. Violência psicológica e verbal. A violência obstétrica (VO) é caracterizada por algumas intervenções praticadas durante a assistência profissional como: Uma das maiores causas das dificuldades de se reconhecer e lidar com a VO, é a sua naturalização. Como os atos violentos são corriqueiros, acabaram se enraizando no consciente coletivo, dificulta-se, então, que as mulheres reconheçam a violência ou recusem procedimentos, pois pensam ser algo inerente ao processo. Durante o parto, a violência pode ser tanto física como psicológica, o abuso físico se caracteriza como o excesso de intervenções, com procedimentos sem justificativa, como toques vaginais dolorosos e repetitivos, tricotomia e episiotomias desnecessárias, muitas vezes sem anestesia “[A episiotomia] me causou durante uns bons meses desconforto físico, ela inflamou, infeccionou...e [desconforto] psicológico...eu me sentia estranha, eu não gostava marido encostasse naquela região." “Eu dizia: ‘Pra que bisturi? Eu não quero episiotomia. Eu já sei que isso não é necessário. Eu sei que não precisa, é uma escolha’. E ele, ‘não, não podemos discutir isso agora’, e já foi fazendo a incisão na minha vagina." A adoção de puxões também é muito comum na prática médica durante o parto, como a manobra de Kristeller , que de acordo com o MS consiste na compressão do fundo uterino durante o segundo período do trabalho de parto objetivando a sua abreviação. Fratura de clavícula, úmero e costelas; Trauma encefálico; Hipóxia; Lesões de órgãos internos; Aumento da pressão intracraniana. Dentre as consequências que essa manobra pode trazer para o bebê encontram-se: [...] o médico falava que eu não sabia fazer a força correta [...]. Gritava que desse jeito não era possível. Ele forçou na barriga e lá embaixo. Colocou mais remédio no soro e nada. Mandou a estagiária empurrar a minha barriga e nada. O enema é também um procedimento realizado de forma rotineira, pois acredita-se que esse procedimento pode trazer benefícios como aceleração do trabalho de parto e a diminuição da contaminação do períneo A comunicação desrespeitosa subestima e ridiculariza sua dor, as desmoralizações do seu pedido de ajuda, além de humilhações de caráter sexual, causam na mulher um sentimento de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, instabilidade emocional, medo, acuação e insegurança. Movidas por informações incompletas e distorcidas, muitas mulheres são coagidas a realizações de cesáreas eletivas e desconhecem os malefícios do procedimento cirúrgico. "A cirurgia cesariana quando necessária ela salva vidas, tanto da mãe quanto do bebê. No entanto, é preciso realiza-la apenas quando for necessária". Apesar de já existirem políticas específicas que garantem um cuidado humanizado durante o processo de parturização , revela‐se que os abusos de poder por parte das instituições e de seus profissionais sobre a saúde da mulher estão cada vez mais presentes. Machismo Desrespeito Opressão Imposição Para o MS o processo de humanização do nascimento, envolve necessariamente uma mudança de atitudes humanas e nos procedimentos adotados. Através de programas como: Rede Cegonha; Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN). A atuação do enfermeiro no parto pode diminuir os números de abuso contra a mulher, evitando as intervenções desnecessárias na incorporação de práticas como : Contato pele a pele da mãe. Presença de familiar durante o trabalho de parto; Parto em posição não supina; Presença de partograma; Uso de ocitócicos no pós-parto; Contudo, a equipe de enfermagem deve contribuir para que toda gestante tenha direito ao atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério. Estimulação da respiração e relaxamento, Uso de massagens e óleos, Posicionamento vertical, Uso de chuveiros e banhos, Uso de bola de nascimento. Alguns cuidados que podem ser desenvolvidos: Apoio emocional, Manejo do controle da dor, Direito a integralidade, Contato mãe e bebê nas primeiras horas, Respeito, paciência Participação nas decisões. Humanizar o parto não significa fazer ou não o parto normal, realizar ou não procedimentos intervencionistas, mas sim tornar a mulher protagonista desse evento e não mera espectadora, dando-lhe liberdade de escolha nos processos decisórios. Referencias ALMEIDA, Mayron Morais et al. Violência obstétrica institucional no parto: percepção de profissionais da saúde. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 11, n. 9, p. 3346-3353, 2017. BRANDT, G. P. et al. Violência obstétrica: a verdadeira dor do parto. Revista Gestão & Saúde, v. 19, n. 1, p. 19-37, 2018. CARVALHO, I. S.; BRITO, R. S. Formas de violência obstétrica vivenciadas por puérperas que tiveram parto normal. Enfermería Global, v. 16, n. 3, 2017. COELHO, J. A. Violência obstétrica: a agressão silenciosa nas salas de parto. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 5, n. 9, p. 719-740, 2020. DE MEDEIROS MOURA, Rafaela Costa et al. Cuidados de enfermagem na prevenção da violência obstétrica. Enfermagem em Foco, v. 9, n. 4, 2018. LANSKY, Sônia et al. Violência obstétrica: influência da Exposição Sentidos do Nascer na vivência das gestantes. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 2811-2824, 2019. LEAL, Sarah Yasmin Pinto et al. Percepção da enfermeira obstetra acerca da violência obstétrica. Cogitare Enfermagem, v. 23, n. 1, 2018. NERY, Vanilde Pereira. Principais tipos de violências obstétricas sofridas pelas parturientes. 2019. ZANARDO, Gabriela Lemos de Pinho et al. Violência obstétrica no Brasil: uma revisão narrativa. Psicologia & sociedade, v. 29, 2017. GUIMARÃES, Liana Barcelar Evangelista; JONAS, Eline; AMARAL, Leila Rute Oliveira Gurgel do. Violência obstétrica em maternidades públicas do estado do Tocantins. Revista Estudos Feministas, v. 26, 2018. RODRIGUES, Francisca Alice Cunha et al. Violência obstétrica no processo de parturição em maternidades vinculadas à Rede Cegonha. Reprodução & climatério, v. 32, n. 2, p. 78-84, 2017. PULHEZ, Mariana Marques. A violência obstétrica e as disputas em torno dos direitos sexuais e reprodutivos. Anais do 10o Seminário Internacional Fazendo Gênero, 2013. Obrigado !!!
Compartilhar