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Prévia do material em texto

História da Palestina 
Século I
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Edgar Silva Gomes
Prof. Ms. André Valva
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo: Religião e 
Poder na Sociedade Romana
• Introdução
• O Contexto Político-Religioso de Paulo
• A Confrontação com o Império
• A Sociedade Alternativa ao Poder do Império Romano
 · Aprender um pouco mais sobre um importante tema: De Saulo a 
Paulo: Religião e Poder na Sociedade Romana. Então, procure ler, 
com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. 
Não se esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar 
suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao 
professor-tutor.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
História da Palestina: Século I – De Saulo a 
Paulo: Religião e Poder na Sociedade Romana
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
Contextualização
Saiba que esta Disciplina tem como propósito apresentar um panorama histórico 
do contexto da atuação de Jesus com as discussões mais recentes dessa área; além 
de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre 
os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com sua formação continuada e 
trajetória profissional.
Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal será a 
História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo: Religião e Poder na Sociedade 
Romana, ou seja, que dê conta de conhecer, definir, classificar e conceituar Jesus e 
seu tempo como campo de pesquisas, estudos e formação acadêmica e profissional, 
é o que você encontrará nas próximas unidades.
Ademais, perceba que a Disciplina em ensino a distância pode ser realizada em 
qualquer lugar que você tenha acesso à Internet e em qualquer horário. Dessa forma, 
normalmente com a correria do dia a dia não nos organizamos e deixamos para 
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará no não aprofundamento 
do material trabalhado, ou ainda, na perda dos prazos para o lançamento das 
atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, 
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário 
todos ou alguns dias e determinar como o “momento do estudo”.
No material de cada unidade há videoaulas e leituras indicadas, assim como 
sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em 
fóruns de discussão, assim como realize as atividades de sistematização, estas que 
lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu do conteúdo: são questões objetivas que 
lhe pedirão resoluções coerentes ao apresentado no material da respectiva Unidade 
para, então, prepará-lo(a) à realização das respectivas avaliações. Tratando-se de 
atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a correta resposta, volte a consultar 
as videoaulas e leituras indicadas para sanar tais incertezas.
8
9
Introdução
Desde a década de 60 a.C. o destino da Palestina estava vinculado ao destino do 
império romano, “[...] sob os últimos asmoneus, sumos sacerdotes e etnarcas dos 
judeus, e sob Herodes o Grande, amigo e aliado do povo romano (37 a.C.), e o neto 
deste, Herodes Agripa (41-44 d.C.), a Palestina foi um Estado vassalo” (SIMON; 
BENOIT, 1987, p. 119). Um procurador romano governou todos os territórios dos 
judeus, a Judeia, a partir de 6 d.C., que era o território que atualmente chamamos 
de Palestina. A maior autoridade local permanecia sendo o sumo sacerdote, que a 
partir do sinédrio julgava os casos relacionados à Lei mosaica, esta que regia a vida 
individual e coletiva do povo judeu e de seus conversos. 
Toda essa aliança de interesses entre as elites romanas e judaicas se deteriorou 
com a insurreição de 66-70, “[...] que tendo visado à independência, resultou na 
devastação de Jerusalém e do Templo pelas legiões de Tito, bem como na extinção 
simultânea do sacerdócio, a Palestina foi colocada sob regime de administração 
direta, com o procurador substituído [...]”, após este fato e sendo administrada por 
um Legado, não houve mais nenhuma autoridade local com reconhecimento oficial 
por parte do império romano (SIMON; BENOIT, 1987, p. 119). 
O contexto político-religioso de Paulo, tratando-se de um judeu religioso, como 
era o caso do apóstolo em questão, confunde-se e isto justifica a perseguição às seitas 
e ao cristianismo nascente, fatores que desfrutavam do mesmo ambiente religioso, 
o Templo, local sagrado e ritualístico para o povo judeu, “[...] sob o aspecto ritual, 
esse serviço divino atingia o ponto culminante nas solenes liturgias do Templo de 
Jerusalém, santuário único e sem imagens do Deus único e invisível [...]”, de modo 
que os pagãos não podiam conviver com judeus no Templo, e a população judaica 
era dividida em classes sociais, onde se alternavam para fazer assistência no culto, 
porém, a casta sacerdotal, descendentes de Aarão, era quem verdadeiramente 
conduzia as cerimonias (SIMON; BENOIT, 1987, p. 56). 
Jesus tentou quebrar essa rigidez do sistema judaico de seu tempo, “[...] hoje não 
podemos chegar à compreensão satisfatória do pensamento e do ensinamento de 
Jesus, sem entendermos o que Ele e seus contemporâneos sentiam a respeito do 
tempo [...]”, esse seria um tempo novo, sem as divisões de classes, preconceitos e 
hierarquias; o Reino de Deus com certeza não era aquele que estava reinando nos 
tempos de Jesus (NOLAN, 1987, p. 109). Essa fora a missão de Paulo, depois de 
converso ao cristianismo, e será nosso desafio nestas páginas: entender o contexto 
em que esse apóstolo missionou para transmitir aos seus contemporâneos a palavra 
de Deus e anunciar o Seu Reino.
9
UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons
O Contexto Político-Religioso de Paulo
Afinal, quem era Paulo? Qual sua origem? Segundo Murphy-O’Connor, no livro 
Paulo: biografia crítica, o apóstolodeixa esta nossa dúvida sem solução; porém, 
há algumas pistas sobre a sua origem. Em Romanos indica-se que sua origem é 
israelita: “Pergunto, então: não teria Deus, porventura, repudiado seu povo? De 
modo algum! Pois eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo 
de Benjamin” (Rm, 11, 1). Paulo insiste em dar suas credenciais judaicas em suas 
epistolas, e isto é um ato político vivido por judeus das diásporas, e que fora vivida 
mais uma vez pela maioria dos israelitas expulsos, mais uma vez em sua história, de 
sua terra natal, nas décadas de 60 e 70 d.C., pelo império romano: “Aquilo que os 
outros ousam apresentar – falo como insensato – ouso-o também eu. São hebreus? 
Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também 
eu” (Cor, 11, 22).
O judaísmo a partir da década de 60 d.C. não se limitava mais ao território da 
Palestina, onde originalmente se instalaram ao deixar o Egito rumo à Canaã, a terra 
prometida por Deus ao seu povo, ou seja, a região da Palestina, dos tempos da 
dominação do império romano. Para se entender os deslocamentos dos judeus e o 
sentimento de pertencimento desse povo ao universo político-cultural do judaísmo 
e, em consequência, à afirmação de Paulo de que era realmente um judeu, é 
preciso entender que “[...] de maneira quase que ininterrupta, a partir do exílio, um 
vasto movimento de emigração, ora forçado, ora espontâneo, levara à constituição 
de importantíssimas colônias judaicas em toda a bacia do mediterrâneo [...]”; é 
importante também lembrar que “[...] os judeus possuíam um estatuto oficial [...] 
que lhes garantia, tanto na diáspora, quanto na Palestina, liberdade de proteção 
do Estado romano para exercer seu próprio culto [...]”, e não era só em relação 
ao culto, mas também em matéria de obediência civil ao império, tudo que ferisse 
10
11
a sua religiosidade; com isso, “[...] além de dispensá-lo de tudo o que, em matéria 
de deveres cívicos, fosse incompatível com as exigências de sua fé [...]”, com isso, 
os judeus estavam dispensados de prestar culto ao imperador (SIMON; BENOIT, 
1987, p. 71).
Pelos relatos das cartas paulinas, já sabemos, então, que Paulo era um judeu 
praticante, temente a Deus e fiel à Lei, tão fiel que foi um dos grandes perseguidores 
dos cristãos, ou seja, dos primeiros judeus seguidores de Jesus, que na diáspora 
frequentavam o mesmo espaço do culto a Deus, nas sinagogas. Podemos também 
dizer que, segundo as Escrituras Sagradas, Paulo era um judeu da diáspora. Segundo 
Murphy-O’Connor (2000), as cartas paulinas dão uma pequena pista de onde veio 
o apóstolo, ou seja, de sua terra natal, a Cilícia: “A capital Antioquia tinha muitos 
aspectos semelhantes a Damasco que ele foi forçado a deixar [...]. Certamente, 
oferecia muitas oportunidades para o ministério. Porque então ele foi à Cilícia? 
A resposta mais simples é a existência de uma ligação pessoal” (MURPHY-
O’CONNOR, 2000, p. 47). 
“Eu sou judeu. Nasci em Tarso, da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, educado aos 
pés de Gamaliel, na observância exata da Lei de nossos pais, cheio de zelo por Deus, 
como vós todos no dia de hoje” (Lc, 22, 3). 
Para Murphy-O’Connor (2000) essa informação foi confirmada por Lucas, 
quando disse que Paulo veio de Tarso, ou seja, a capital da Cilícia: “O Senhor lhe 
disse em visão: Ananias! Ele respondeu: Estou aqui Senhor! E o Senhor prosseguiu: 
Levanta-te, vai pela rua chamada Direita e procura, na casa de Judá, por alguém de 
nome Saulo de Tarso” (At, 9, 11). Lucas ainda confirma essa informação em outras 
passagens dos Atos e, desta vez, “reproduz” as palavras do apóstolo: “Respondeu-
lhe Paulo: eu sou judeu, de Tarso, da Cicia, cidadão de uma cidade insigne. Agora, 
porém, peço-te: permite-me falar ao povo” (At, 21, 39). Segundo Murphy-O’Connor 
(2000), o discípulo Lucas não teria qualquer interesse em inventar uma origem para 
Paulo: “Lucas não teria interesses em inventar para Paulo uma origem na diáspora 
[...] com certeza, teria preferido que Paulo fosse de Jerusalém [...]”; mas bem que 
Lucas tentou ligar Paulo à Jerusalém ao sugerir que ele foi educado naquela cidade: 
“De fato, ele tenta fazer Paulo ser de Jerusalém por adoção, afirmando que, embora 
nascido em Tarso, Paulo não só foi educado, mas também formado em Jerusalém” 
(MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 47). Porém, Tarso foi uma importante cidade do 
império romano, anexada por Pompeu no ano de 64 a.C., situada na Ásia Menor, 
região da atual Turquia. 
Vosso lar está em uma grande cidade e ocupais uma terra fértil, porque 
encontrais as necessidades da vida supridas na maior abundância e profusão, 
pois tendes este rio que corre pelo coração da vossa cidade; além disso, 
Tarso é a capital de todo o povo da Cilícia (XENOFONTE, Discursos, 33, 
17; cf. 34, 7 apud MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 48). 
11
UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
Sob o domínio do império romano desde 66 a.C., a cidade de Tarso, na região 
da Cilícia, foi uma cidade leal à Roma e sua população recebeu grande contingente 
de judeus até o final do século I d.C.; como visto, os judeus gozavam de um 
estatuto especial para exercer sua religião e, em alguns casos, sua administração, 
mesmo depois da revolta da década de 60 d.C., “[...] no âmbito municipal [...] as 
comunidades judaicas por vezes gozavam dos mesmo direitos que a população 
pagã, sem por isso ficarem sujeitas às mesmas obrigações, na medida em que estas 
fossem de caráter religioso, possuíam uma administração particular [...]” (SIMON; 
BENOIT, 1987, p. 72). Apesar de não se dar da mesma forma em todas as regiões, 
e de em algumas ocasiões causar conflitos com os pagãos, por causa da liberdade 
de crença e administrativa que gozavam, fosse um desrespeito aos outros cidadãos 
do império. 
Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons
Os judeus viveram em seu mundo particular, mesmo na(s) diáspora(s), ou seja, 
aplicando suas leis aos seus cidadãos, os israelitas, que estavam sob a égide da 
Lei mosaica. Dessa forma é que se justifica a perseguição de Paulo aos cristãos, 
que naquele contexto eram considerados “desertores” do judaísmo, chamados de 
nazarenos ou cristãos; era um novo grupo que estava se formando no seio do 
judaísmo, que coexistia com os outros quatro grupos: saduceus, fariseus, zelotes 
e essênios. Os seguidores de Jesus continuavam a frequentar o Templo, até sua 
destruição, e depois passaram a frequentar as sinagogas na diáspora. Para o 
judaísmo o significado de seita não tem a mesma conotação dada à palavra na 
contemporaneidade; naquele contexto, as seitas judaicas eram, principalmente, os 
saduceus, os fariseus, os essênios e os zelotes, como dito. 
12
13
“Aliás, eu poderia, até, confi ar na carne. Se algum outro pensa que pode confi ar 
na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de 
Benjamin, hebreu fi lho de hebreus; quanto a Lei fariseu; quanto ao zelo perseguidor 
da igreja; quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível” (FL, 3, 4-5). Em Lucas, Paulo 
confi rma a perseguição aos cristãos: “Persegui de morte este caminho, prendendo e 
lançando à prisão homens e mulheres, como podem testemunhar o sumo sacerdote 
e todos os anciãos. Deles cheguei a receber cartas de recomendação para os irmãos 
em Damasco e para lá me dirigi, a fi m de trazer algemados para Jerusalém os que lá 
estivessem, para serem aqui punidos” (Lc, 22, 4-5).
A palavra haíresis deu origem ao termo heresia, porém, todos os quatro grupos 
citados são denominados pelo termo haíresis, “[...] mas que a princípio não apre-
sentava conotação pejorativa e significava apenas escolha, opção, escola filosófica 
ou religiosa. Foi exatamente esse termo que o latim traduziu por secta (SIMON; 
BENOIT, 1987, p. 60). Saduceus e zelotes eram representantes do judaísmo oficial, 
ao passo que essênios e zelotes eram grupos de judeus marginalizados pela oficiali-
dade do Templo, ou seja, estavam mais próximos do que entendemos porseita hoje, 
porém não os são, haja vista que para os judeus a palavra seita, originada do termo 
haíresis, queria dizer simplesmente escolha, apesar dos dois últimos grupos estarem 
em situação de discriminação, como dissemos, não foram perseguidos de forma sis-
temática – como foram os cristãos no contexto paulino. 
Paulo, um fariseu, como se autodenominou, pertencia à ala predominante do 
judaísmo naquele contexto. Em seu favor também estava o fato de sua cidade de 
origem gozar de grande prestígio diante do império romano, já no final do século I 
a.C., este fato pode ser constatado, segundo Murphy-O’Connor (2000), por estar 
“[...] absorvida no sistema romano em 66 a.C., quando Pompeu organizou a Ásia 
Menor, Tarso opôs-se a Cássio, assassino de seu protetor Júlio César. Em 42 a.C., 
Marco Antônio recompensou a lealdade concedendo-lhe liberdade e imunidade [...]”, 
esta concessão era fato raro para uma cidade que não era colônia, e o privilégio 
foi sendo confirmado pelos dominadores, Augusto em 31 a.C., após a batalha de 
Ácio, “[...] lhe outorgou terra, leis, honra, controle do rio e do mar em vossa parte 
do mundo e é por isso que vossa cidade cresceu tão depressa [...]” (MURPHY-
O’CONNOR, 2000, p. 48).
Todo esse prestígio galgado ao longo do tempo pela cidade de Tarso diante do 
império romano nos é particularmente importante, pois os habitantes da região da 
Cilícia garantiram para si a cidadania romana, e Paulo fora, portanto, um cidadão 
romano, fazendo uso dessa condição para se defender da perseguição que passou 
a sofrer após sua conversão ao cristianismo. 
13
UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
Importante!
“Depois de o amarrarem com as correias, Paulo observou ao centurião presente: ‘ser-
vos-á lícito açoitar um cidadão romano, ainda mais sem ter sido condenado?’ A estas 
palavras, o centurião foi ter com o tribuno para preveni-lo: ‘Que vais fazer? Este homem 
é cidadão romano’”. Vindo, então, o tribuno, perguntou a Paulo: ‘Dize-me: tu és cidadão 
romano?’ ‘Sim’, respondeu ele. O tribuno retomou: ‘Precisei de um vultuoso capital para 
adquirir a esta cidadania’. ‘Pois eu, disse Paulo, a tenho de nascença’. Imediatamente se 
afastaram dele os que iam torturá-lo. O próprio tribuno teve receio, ao reconhecer que 
era um cidadão romano, e que mesmo assim o havia acorrentado (At, 22, 25-29). 
Importante!
Paulo viveu em um contexto político-religioso bastante conturbado, que culminou 
com a revolta de 60-70 d.C., onde o Templo de Jerusalém foi destruído; nem mesmo 
os judeus estavam seguros para praticar sua religião no contexto da diáspora; o 
cristianismo estava se tornando uma seita independente da religião dos judeus e, 
com isso, passou a ser perseguido pelos defensores da Lei mosaica, nas regiões 
onde gozava de liberdade, e pelo paganismo do império romano. Paulo passou de 
perseguidor a perseguido e ao se converter teve de enfrentar a ira dos judeus do 
sinédrio e dos governantes romanos.
A Confrontação com o Império
Todo o mundo habitado lhe prestava honras normalmente conferidas 
aos deuses do Olimpo. Essas honras são tão bem atestadas por templos, 
corredores, vestíbulos e colunas, que toda cidade que contém obras 
magnificas novas e antigas é superada em magnificência pela beleza e 
magnitude das dedicadas a César (FILO, Legatio ad gaium, p. 149-150, 
adaptação de LOEB apud HORSLEY, 2004, p. 19).
Na Antiguidade Clássica, na qual grande parte foi dominada pelo império roma-
no, ao falarmos de religião, devemos ter em mente que não se trata de religião como 
entendemos no mundo hodierno, pois naquele contexto a religião era indissociável à 
política. Essa cultura também se aplicaria ao judaísmo, permeado pelo binômio inse-
parável à época: religião e política. A cultura judaica não separava em seu cotidiano 
a política da religião. 
O culto romano ao imperador, para além do sentido religioso, foi fortemente mar-
cado pelo aspecto político da dominação; adorar o imperador era adorar o Estado e 
tudo o que implicava à época esse conceito. Portanto, “[...] se pensarmos a religião 
primordialmente em termos da fé do indivíduo em um Deus ou em sua relação pesso-
al com um Deus, podemos não perceber a importância de expressões religiosas bem 
mais importantes nas sociedades tradicionais” (HORSLEY, 2004, p. 21). 
14
15
Os romanos expandiram seu império através da força das armas; dessa forma, 
controlaram grande parte do mundo conhecido na Antiguidade; usaram do medo 
para impor seu poder e controlar as regiões que foram conquistando, “[...] os líderes 
militares romanos usavam a crucificação para aterrorizar os povos subjugados a fim 
de submetê-los ao regime imperial” (HORSLEY, 2004, p. 19). 
Em alguns casos, após dominarem um povo ou região, foram sendo realizadas 
importantes alianças com as elites subjugadas pelo império, a fim de manter o 
domínio sobre a população como aconteceu, por exemplo, com a elite judaica, 
que se aliou ao império e ajudou a oprimir seu próprio povo. Mas, não foi somente 
com a elite judaica que os romanos fizeram alianças, dando liberdades controladas; 
muito antes, outras regiões foram anexadas ao império romano e se mantiveram 
pacificadas não pela força inicial, mas passaram a ser integradas ao império através 
de alianças. 
Porém, após a nova forma implantada por Augusto para administrar seu impé-
rio, o uso da força militar e da ostensiva lei fiscal, como predominava na Palestina, 
cedeu espaço para uma nova forma de exercício de poder, que seguia “[...] apa-
rentemente mais um padrão de relações sociais, articulado com maior visibilidade 
em formas religiosas, ou talvez devêssemos dizer político-religiosas” (HORSLEY, 
2004, p. 21); ou seja, os povos dominados há mais tempo foram assimilando a cul-
tura político-religiosa do império romano, onde a importância do culto religioso se 
concentrava “[...] nas sociedade tradicionais, como os rituais sacrificiais, os festivais 
comunitários, e a estruturação e decoração do espaço público [...]” (HORSLEY, 
2004, p. 21); a religião instrumentalizada pelo Estado imperial não cedia muito 
espaço para as relações de fé entre homens e deuses sobrenaturais. Outra questão 
importante que não podemos perder de vista, sobre tal contexto, é a de que:
Quase três gerações antes da época da missão de Paulo em Filipos, 
Tessalônica, Corinto e Éfeso, essas áreas foram completamente pacificadas. 
Na verdade, a ordem imperial em áreas como as províncias de Acaia, da 
Macedônia e da Ásia sequer exigia uma burocracia administrativa e muito 
menos a presença militar. Uma das mudanças realmente notáveis sob o 
império de Augusto foi a consolidação do imperium romanum numa 
entidade bem mais unificada do que a mera reunião de províncias [...] 
o poder imperial já não funcionava de acordo com aquilo que se pensa 
comumente como interações políticas [...] as relações de poder imperiais 
passaram a se constituir nas imagens, santuários, templos e festivais do 
culto ao imperador [...] a elite provincial, que se tornara cliente imperial, 
era também o principal patrocinador do culto imperial, as instituições 
político-religiosas em que as relações de poder se constituíam eram 
virtualmente inseparáveis das redes socioeconômicas locais da sociedade 
imperial (HORSLEY, 2004, p. 20-21). 
Paulo de Tarso entrou em rota de colisão com o modo de vida que havia se 
espalhado pelo império romano para além do território Palestino. O neoapóstolo 
era judeu e defendeu a aplicação do rigor da Lei mosaica para os judeus que se 
desviavam da fé/cultura judaica, ou seja, Paulo lutou para preservar a fé de seus 
15
UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
antepassados, portanto, seria comum dizer que também foi contra a religião de 
Estado romano, apesar de ser um cidadão romano, era um judeu da diáspora, e 
como todo judeu, que mais uma vez viveu o dilema do exílio forçado e de conviver 
com outracultura, o apóstolo Paulo era um judeu praticante. 
Como vimos, a Palestina esteve durante quase um século sob a antiga forma de 
dominação romana, apesar da aliança da elite judaica, capitaneada pelo sinédrio, 
onde havia liberdade administrativa e de culto para os judeus, grande parte da 
população, em especial os camponeses, vivia sob pesadas obrigações da política 
fiscal do império e, com isso, perderam suas terras e pagaram sobretaxas sobre 
suas mercadorias em diversas ocasiões, inclusive ao frequentar o Templo. A revolta 
das décadas 60 e 70 d.C. desnudou uma situação insustentável e o império agiu 
com toda brutalidade que lhe foi bastante peculiar contra os insurgentes. 
Como era a situação dos cristãos no período compreendido entre a morte de Jesus 
e a atuação de Paulo, após a sua conversão, estava mais tensa a situação política 
entre a população da Palestina e o império romano. Em relação aos judeu-cristãos 
de língua hebraica ou aramaica, o curto espaço de tempo, entre a morte de Jesus 
e a queda do Templo de Jerusalém, esse grupo passou da tolerância ao desprezo 
e perseguição, dentro de sua própria nação. A relação entre os judeus (ortodoxos) 
e os cristãos (judeus) sofrera um desgaste gradual, pois ambos frequentavam o 
templo, segundo Pierini (1998, p. 52), “[...] a língua e a cultura constituem, desde 
o início, o primeiro elemento de distinção no interior da comunidade dos novos 
crentes, mesmo sem levar a uma distinção propriamente dita [...] os judeus cristãos 
são tolerados pelas autoridades de Jerusalém”.
Os ânimos estavam tão acirrados na Palestina que em pouco tempo os apóstolos 
passaram a sofrer seguidas prisões; Pedro e João tiveram de enfrentar acusações 
e prisões: “Estavam, eles falando ao povo, quando sobrevieram os sacerdotes, o 
oficial do Templo e os saduceus, contrariados por vê-los ensinar ao povo e anunciar, 
em Jesus, a ressurreição dos mortos. Lançaram as mãos sobre eles e os recolheram 
ao cárcere” (At. 4, 1-3). Em nome de Cristo, os apóstolos, no ano de 44 sofreram 
perseguição das autoridades civis, “[...] desencadeada por Herodes Agripa II, com 
a prisão e decapitação de Tiago de Zebedeu, irmão de João, e com a prisão de 
Pedro. Depois que Pedro foi libertado e afastado de Jerusalém, a comunidade 
judeu-cristã é confiada a Tiago, irmão do Senhor” (PIERINI, 1998, p. 53).
Nesse contexto a mensagem cristã começou a se expandir e atingiu a Judeia, a 
Galileia e a Samaria, isso em meados do final da década de 30, chegando, inclusive, 
à Roma, capital do império. Esse é um tipo de judeu-cristianismo ortodoxo. A 
comunidade judaica da capital vivia em estreita relação com a Palestina, a pregação 
da “Boa Nova” na década de 40 chegou a tal ponto que “[...] a propagação pela 
capital deve ter-se verificado durante os anos 40, dado que o imperador Cláudio, 
por volta de 49, toma medidas contra os judeus romanos, que estavam em briga 
por causa de certo ‘Cresto’ (Cristo?)” (PIERINI, 1998, p. 53).
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O contexto da conversão de Paulo, um judeu ortodoxo fiel à Lei mosaica, 
que segundo alguns textos historiográficos, perseguia os cristão-helenistas, e não 
apenas estes, pois “[...] ele assiste, aprovando-a, a morte de Estevão e colabora 
com a perseguição aos heleno-cristãos. Perto de Damasco, porém, no ano de 
37, converte-se ao cristianismo, após uma visão repentina” (PIERINI, 1998, p. 
55). O mesmo Pierini nos informa a respeito do batismo de Paulo, realizado por 
Ananias em Damasco, e de sua saída da cidade por causa da hostilidade sofrida 
pelo apóstolo quando anunciava a messianidade de Jesus aos judeus. 
Paulo saiu de Damasco e foi para o território dos nabateus, antes de ir à Jerusalém 
se juntar à comunidade cristã, porém, entre os judeu-cristãos, Paulo também foi 
repudiado, “[...] junta-se à comunidade cristã mediante os bons ofícios de Barnabé 
e começa forte polêmica com os judeus especialmente com os da diáspora, e 
por isso deve novamente fugir, refugiando-se primeiro na Cesareia e, depois em 
Tarso” (PIERINI, 1998, p. 55). Esta peregrinação de Paulo se deu em torno de 39 
ou 40, mas fora a rotina do apóstolo que fez em sua vida quatro grandes viagens 
missionárias, “Por volta de 43-44, de novo por iniciativa de Barnabé, Saulo é 
levado de Tarso a Antioquia, e aí desenvolve os temas do próprio ‘Evangelho’ e da 
sua experiência cristã. Do ano de 44 ao 46, Saulo se transfere pela segunda vez a 
Jerusalém, junto com Barnabé” (PIERINI, 1998, p. 55). 
As viagens missionárias de Paulo: https://goo.gl/XnScFq
Ex
pl
or
O apóstolo Paulo, ao se converter ao cristianismo, após trocar de lado, pois em 
boa parte de sua vida, Paulo esteve ao lado dos opressores, viu-se impelido a reparar 
seus erros e a espalhar a “Boa Nova” entre os povos. Paulo levou o nome de Cristo 
para além das “fronteiras” do judaísmo e atingiu o mundo gentio com a palavra de 
Jesus. E a palavra de Jesus, ou como a chamamos, “Boa Nova”, estava subverten-
do a lógica político-religiosa do império romano e do mundo conquistado por esse 
império. Porém, como o apóstolo transformou um símbolo que era utilizado pelos 
romanos para aterrorizar em símbolo de salvação para os povos oprimidos? 
Primordialmente por meio da missão de Paulo, o Cristo Crucificado tornou-
se o símbolo central do movimento popular que veio a ser o cristianismo. 
Uma vez que o crucifixo ficou cercado e coberto por várias associações 
com sacrifício e expiação dos pecados, era fácil perder de vista o terror que 
a cruz originalmente evocava como instrumento de tortura para escravos 
e povos resistentes ao domínio romano [...]. A violência militar romana 
estabeleceu as condições materiais, políticas e culturais em que se originou 
o movimento cristão (HORSLEY, 2004, p. 19).
Paulo combateu a religião de seu tempo, ou seja, a religião de Estado do império 
romano e outras formas culturais que estivessem contra a nova moral, ou seja, 
tudo aquilo que incidia contra a “Boa Nova”; Paulo enfrentou os poderosos de 
seu tempo para fazer o anúncio, “[...] rei Agripa, não me mostrei rebelde à visão 
celeste. Ao contrário, primeiro os habitantes de Damasco, aos de Jerusalém e toda 
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UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
a região da Judeia, e depois aos gentios anunciei o arrependimento e a conversão 
a Deus com a prática de obras dignas” (At, 26, 19-20); e falou a todos os povos 
em Roma: “Paulo ficou dois anos inteiros na moradia que havia alugado. Recebia 
todos aqueles que vinham visitá-lo, proclamando o reino de Deus e ensinando o 
que se refere ao Senhor Jesus Cristo com toda a intrepidez e sem impedimento” 
(At, 28, 30-31). 
Paulo viveu o bastante para testemunhar a primeira grande perseguição aos 
cristãos realizada pelo imperador Nero e, nesse contexto, não foram só os cristãos 
oriundos do paganismo de língua “grega” helenizados que foram perseguidos, os 
judeu-cristãos, apesar do apego à Lei e ao Templo, nesse contexto, passaram a ser 
hostilizados pelos judeus ortodoxos e “[...] são objeto de uma grave perseguição por 
parte dos judeus: no ano 62, Tiago, ‘o justo’, chefe da comunidade, sofre o martírio 
por obra do sumo sacerdote Anano [...]”, segundo Pierini (1998), essa perseguição 
foi instigada pelos judeus, “[...] bem situados na corte, desaba sobre os cristão a 
primeira perseguição imperial, a de Nero, ocorrida nos anos 64-65, após o incêndio 
de Roma, que perdurou do dia 19 ao dia 25 de julho de 64. Acusados de serem os 
incendiários [...]” (PIERINI, 1998, p. 57). 
Os cristãos foram acusados e perseguidos pelo incêndio em Roma, porém, a viagem 
pela Espanha e pelo Mar Egeu livrou Paulo de presenciar a tragédia que assolou a 
cidade e os habitantes cristãos; segundo Murphy-O’Connor (2000), o incêndio durou 
nove dias, de 19 a 28 de julho de 64, o que difere em três dias das fontes de Pierini 
(1998), porém, o que importa é que Paulo não esteve presente na cidade nessa ocasião, 
dado que foi justamente em seu retorno que começaramseus dias de martírio, numa 
cidade arrasada que teve dez dos seus quatorze bairros destruídos. 
O imperador romano se apressou em reconstruir a cidade e dar abrigo aos 
flagelados pelo incêndio, “[...] a fim de assegurar que a tragédia não se repetisse 
e sua propiciação de todos os deuses que pudessem ter se sentido desrespeitados, 
espalhou-se a notícia de que o imperador recorrera a um tipo de renovação um 
tanto drástica [...]” (MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 371). A suspeita era de um 
incêndio provocado, e esta suspeita recaiu sobre os cristãos, afinal, Nero precisava 
de um bode expiatório, e o bode expiatório foi um grupo em ascensão, os cristãos. 
Segundo os Anais de Tácito, citados por Murphy-O’Connor (2000, p. 371): “Nero 
inventou bodes expiatórios e puniu com todo requinte os notórios e depravados 
cristãos, como eram popularmente chamados, suas mortes foram ridicularizadas, 
vestidos de animais selvagens foram estraçalhados por cães, ou crucificados [...]” 
(TÁCITO, Anais, 15, 44). Temos notícias historiográficas mais popularmente 
divulgadas, de que os cristãos foram transformados em tochas humanas para iluminar 
Roma à noite, essa informação também consta nos Anais de Tácito.
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Figura 2 - O incêndio de Roma, 18 de julho de 64, óleo de Hubert Robert,
no Museu de Arte Moderna André Malraux, em Le Havre.
Fonte: Wikimedia Commons
A notícia do incêndio de Roma se espalhou e não tardou a chegar às comunidades 
paulinas da Ásia e da Grécia, e com ela havia um grande dilema para o apóstolo: 
“[...] os fiéis ficaram consternados ao saber da morte horrível que seus irmãos de 
fé haviam sofrido. Vendo o impacto de tal pavor em seus convertidos, Paulo não 
teve dificuldade em imaginar as consequências para os poucos cristãos de Roma 
[...]” (MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 371). Paulo precisava enfrentar a situação 
e retornar à capital do império – e foi o que ele teve de fazer. 
O risco era grande demais, porém, era preciso correr em auxílio dos cristãos 
que por ventura tivessem sobrevivido, “[...] para a igreja romana sobreviver, outras 
comunidades teriam de vir em seu auxílio. Aqui temos um motivo que explica de 
maneira adequada a volta de Paulo à Roma e a decisão de Erastes de permanecer em 
Corinto. Este último achou o risco grande demais” (MURPHY-O’CONNOR, 2000, 
p. 372). O fato de Erastes ter permanecido em Corinto também é atestado pela 
segunda carta de Timóteo: “Saúda a Prisca e a família de Onesíforo. Erasto ficou em 
Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto. Procura vir antes do inverno. Enviam-te 
saudações: Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos” (2TM, 4, 19-21). 
O risco corrido por Paulo foi imenso, segundo Murphy-O’Connor (2000, p. 
372), “[...] é improvável que entrasse secretamente na Cidade depois se esgueirasse 
com cautela de um esconderijo a outro. A discrição era o primeiro passo em 
direção à apostasia. A restauração da comunidade exigia uma presença bastante 
representativa”. Nesse caso, o risco iminente era o menor problema, pois para Paulo 
manter a sua posição de liderança, era preciso demonstrar coragem e segurança, 
“[...] o testemunho tinha de ser público [...]” (MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 
372). Porém, os cristãos eram perseguidos e Paulo sofreu as consequências: “Está 
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UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
registrado que, no reinado de Nero, Paulo foi decapitado em Roma mesmo, que 
Pedro foi igualmente crucificado e o registro se confirma pelo fato de que ali os 
cemitérios ainda são chamados pelos nomes de Pedro e Paulo [...]” (MURPHY-
O’CONNOR, 2000, p. 372).
Paulo enfrentou o império romano para defender a fé que havia abraçado, 
e dela deu testemunho até o último dia de sua vida: “Entendemos que a forma 
da morte de Paulo, decapitação, significa que ele foi condenado por um tribunal 
regularmente constituído. Não sabemos onde se realizou a execução, nem onde foi 
enterrado” (MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 372). 
A Sociedade Alternativa ao Poder 
do Império Romano
Para os historiadores da igreja, Marcel Simon e André Benoit (1987, p. 119), 
“[...] tanto quanto uma fé, o cristianismo nascente era uma esperança. [...] Ante um 
mundo dominado pelas potências do mal e condenado a curto prazo, sua primeira 
atitude só poderia ter sido de completa negação e hostilidade”. Com o fim da Era 
Apostólica, ou seja, com o desaparecimento da geração que conviveu com Jesus 
e seus discípulos mais próximos de seu tempo, e os primeiros apóstolos, como 
Paulo, por exemplo, o cristianismo começou a se espalhar pelo mundo antigo. 
Eram homens e mulheres que foram se convertendo ao cristianismo, exortados que 
foram pelas palavras e testemunhos de outros homens e mulheres que conviveram 
muito próximos aos primeiros seguidores de Jesus Cristo. 
Os eventos que envolveram a vida e a morte de Jesus começavam a ser 
interpretados por seus seguidores “[...] para a jovem cristandade, o drama palestino 
foi interpretado, por um momento, como uma das catástrofes que deveriam 
anunciar a parusia; mas, na medida em que esta tardava a realizar-se, passou a 
interpretá-lo em definitivo [como] sinal de castigo” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 
109). Esse evento que a jovem cristandade presenciou foi a destruição do Templo 
de Jerusalém, no contexto da revolta da década de 70. 
Esse castigo contra Israel era interpretado como uma recusa da palavra de 
Jesus ao seu povo, que não havia reconhecido o Messias. Os judeu-cristãos não 
estavam renegando o judaísmo e seu povo, mas para os não judeus ficava cada 
vez mais difícil entender os acontecimentos que flagelaram a Palestina, após a 
revolta da década de 70, “[...] para eles se tornava difícil encontrar uma explicação 
verdadeiramente satisfatória para um acontecimento que, aos olhos de um cristão 
não judeu, assumia o valor de uma confirmação celeste à mensagem de Estevão e 
Paulo” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 109).
20
21
A igreja aguardava o iminente regresso do Cristo justiceiro. Tal atitude expressou-
se claramente nas imprecações do Apocalipse contra a Besta e Babilônia, a grande 
meretriz, símbolos transparentes de Roma (SIMON; BENOIT, 1987, p. 119).
Essa “confirmação celeste” à mensagem de Paulo aos gentios só fez crescer 
o número de adeptos ao cristianismo para além das fronteiras do judaísmo, os 
gentios foram aos poucos se tornando maioria dentro da igreja nascente. Apesar do 
comprometimento gentio à nova fé, “[...] a influência das concepções judaicas far-se-
ia sentir por muito tempo ainda, antes de mais nada porque a Igreja nunca deixou 
de considerar a Bíblia como Escritura inspirada, que passou a designar como Antigo 
Testamento [...]” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 110). Paulo impulsionou a missão entre 
os gentios, e até mesmo entre os doze apóstolos, segundo Simon e Benoit (1987), 
alguns deles passaram a pregar entre os gentios, “[...] não obedeceram, porém, a um 
plano missionário de conjunto, pois é lendária a tradição segundo a qual dividiram o 
mundo com vistas à evangelização [...]” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 110). 
A igreja crescia em número de adeptos e se expandia “pelos quatro cantos do 
mundo”, foi até à Antioquia e Síria, e estas são as duas comunidades mais bem 
documentadas pelo livro dos Atos dos Apóstolos, como em Antioquia, “[...] onde 
surgiu a denominação de cristão e onde pela primeira vez se enfrentou o problema 
concreto das relações entre os cristãos não judeus e o judaísmo. Desde a época 
apostólica existiram comunidades cristãs em outras cidades da Síria e da Fenícia” 
(SIMON; BENOIT, 1987, p. 112). Surgiu nessa região, que englobava cidades 
importantes como, por exemplo, Damasco, Tiro e Sídon, um pequeno livro, a 
Didakké, atribuído aos ensinamentos dos doze apóstolos, portanto, com forte 
influência do judaísmo. A Didakké é um pequeno livreto que contém ensinamentos 
catequéticos e litúrgicos. 
A expansão chegou à Ásia Menor, instalando-se em Éfeso, Magnésia, Trales, 
Filadélfia e Esmirna, cidade do bispo Policarpo,“[...] o cristianismo achava-se 
solidamente enraizado na região, onde missionários chegados da Palestina, a maior 
parte em decorrência dos acontecimentos do ano 70, haviam dado continuidade 
à obra de Paulo [...]” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 112-113). O Oriente semita e 
o Ocidente latino também recebiam a “Boa Nova” como, por exemplo, a Gália, 
Cartago e a Costa Setentrional da África, isso até o final do século I; na África do 
Norte podem ser atestadas comunidades cristãs de língua latina, enquanto que a 
Gália e a Costa Setentrional, ao que tudo indica, foram cristianizadas na língua grega. 
Outra região que figura entre as prováveis comunidades cristãs primitivas, além das 
comunidades que floresciam no Mediterrâneo, cujo esforço se deveu às igrejas locais, 
que emigraram da Palestina, “[...] mais a Leste, em Osroena e Adiabena, o cristianismo 
enraizava-se de modo a sugerir a implantação muito antiga. No que diz respeito aos 
grandes centros, em particular Edessa e Arbela [...]” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 
110). É bastante sugestiva a ideia de que essas regiões tenham sido cristianizadas pelo 
apóstolo Tomé, tal tradição é indicada em alguns escritos apócrifos.
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UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
A cristianização dessa região no Oriente, pelo que tudo indica, foi evangelizada 
na língua aramaica, no final do primeiro século, segundo consta, o missionário 
vindo da Palestina para essa região foi um tal Adai e, em comparação com o 
mundo greco-latino, as características mais acentuadas são de tradição de origem 
judaica palestina, porém, “[...] embora não se possa qualificá-lo, em função disso, 
como judeu-cristão na estrita e precisa acepção do termo [...], aparenta não ter 
recebido a influência de Paulo, e suas categorias de pensamento iriam permanecer 
muito mais semitas que gregas” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 114).
O cristianismo se expandiu rapidamente e, ao contrário do senso comum, a nova 
religião não era uma profissão de fé apenas dos estratos sociais mais pobres das 
sociedades onde se infiltrara, “[...] o cristianismo não se definiu unicamente como 
religião dos pobres. Seria errôneo encará-lo como expressão da consciência coletiva 
do proletariado antigo [...]” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 116); o cristianismo, 
realmente, veio para todos aqueles que estivessem/estão abertos à “Boa Nova”. 
Na realidade, houve dificuldade de penetração da propaganda cristã, no Ocidente, 
entre os camponeses, ao contrário disso, “[...] nas cidades, em contrapartida, a 
propaganda cristã rapidamente ultrapassou os bairros populares [...], com certeza já 
na época de Domiciano, despertava simpatias e conseguia adeptos na aristocracia 
romana” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 116).
Apesar de a aristocracia romana ser considerada o último pilar para o paganismo, 
em declínio – diga-se de passagem. Em cidades como Éfeso, a elite local também 
pôde ser contada entre os convertidos ao cristianismo como, por exemplo, Áquila 
e Priscila, “[...] os padres apologistas e os padres alexandrinos eram representantes 
de uma burguesia culta (Tertuliano e Plínio), ambos assinalaram a existência de 
gente de toda condição social nas fileiras dos cristãos” (SIMON; BENOIT, 1987, p. 
116). O cristianismo se tornou a religião de todos os povos e de todas as classes. 
Jesus não fundou uma instituição; seu movimento inspirou homens e mulheres: 
“Havia os doze, as mulheres, sua família (Maria, Tiago e Judas), muitos dos pobres 
e oprimidos que tinham sido reerguidos por Ele; havia discípulos na Galileia e 
discípulos em Jericó, em Jerusalém” (NOLAN, 1987, p. 194). Esses homens e 
mulheres só fizeram aumentar ao longo dos séculos, dos milênios, de modo que o 
movimento inspirado por Jesus é uma sociedade alternativa ao império romano e 
aos impérios que se sucederam na história após a vinda de Jesus. 
 Cada qual se lembrava de Jesus de seu jeito, ou tinha ficado impressionado 
por um determinado aspecto daquilo que tinha ouvido a respeito dele. No 
começo não havia doutrinas nem dogmas, e nem um modo universalmente 
aceito de seguir Jesus, ou de acreditar nele. Jesus não teve sucessor. Ele não 
tinha inspirado o tipo de movimento que, para continuar, simplesmente 
nomeia sucessores para líder original. Os zelotas, como os Macabeus 
antes deles, tinham sucessão dinástica ou hereditária. Mas a característica 
extraordinária do movimento inspirado por Jesus era que ele próprio 
continuou a ser o líder e a inspiração de seus seguidores, mesmo após a sua 
morte. Sentia-se, obviamente, que Jesus era insubstituível. Se ele morresse, 
o movimento morreria, Mas se o movimento continuasse a viver, isso só 
poderia ser, então, porque de um modo ou de outro Jesus continuava a 
22
23
viver [...]. Os primeiros cristãos foram aqueles que continuaram a vivenciar, 
ou começaram a vivenciar, de um modo ou de outro, o poder da presença 
de Jesus entre eles após a Sua morte. Todos sentiam que, apesar de Sua 
morte, Jesus ainda os estava dirigindo, guiando e inspirando (NOLAN, 
1987, p. 194-195). 
Importante!
“[...] não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai fi xou com Sua 
própria autoridade. Mas recebereis uma força, a do Espírito Santo que descera sobre 
vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até 
os confi ns da Terra. Dito isto, foi elevado à vista deles, a uma nuvem o ocultou a seus 
olhos” (At. 1, 6-9).
Importante!
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UNIDADE História da Palestina: Século I – De Saulo a Paulo:
Religião e Poder na Sociedade Romana
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
A figura de Jesus Cristo no livro Jesus de Nazaré de Joseph Ratzinger
BRITO, Joel Gomes de. A figura de Jesus Cristo no livro Jesus de Nazaré de Joseph 
Ratzinger. 2014. Dissertação (Mestrado em Teologia) - Universidade Católica Portuguesa, 2014.
O Evangelho de Mateus e o Judaísmo Formativo
OVERMAN, J. Andrew. O Evangelho de Mateus e o judaísmo formativo. São Paulo: 
Loyola, 1997.
Movimentos messiânicos no tempo de Jesus: Jesus e outros messias
SCARDELAI, Donizete. Movimentos messiânicos no tempo de Jesus: Jesus e outros 
messias. São Paulo: Paulus, 1998.
Um judeu chamado Jesus: uma leitura do Evangelho à luz da Torá
VIDAL, Marie. Um judeu chamado Jesus: uma leitura do Evangelho à luz da Torá. Petrópolis: 
Vozes, 2000.
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25
Referências
HANSON, John S.; HORSLEY, Richard A. Bandidos, profetas e messias: 
movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.
HORSLEY, Richard A. Paulo e o império: religião e poder na sociedade imperial 
romana. São Paulo: Paulus, 2004. 
SAULNIER, Christiane; ROLLAND, Bernard. A Palestina no tempo de Jesus. 
São Paulo: Paulus, 1983. 
NOLAN, Albert. Jesus antes do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1988. 
A BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 1995. 
MURPHY-O’CONNOR, Jerome. Paulo: biografia crítica. São Paulo: Loyola, 2000.
PIERINI, Franco. A Idade Antiga. São Paulo: Paulus, 1998.
SIMON, Marcel; BENOIT, André. Judaísmo e cristianismo antigo: de Antíoco 
Epifânio a Constantino. São Paulo: Edusp, 1987.
25

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