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1 Marcela Oliveira – Medicina 2020 – ENTENDER O CICLO DE VIDA DAS INFECÇÕES PARASITÁRIAS COM CICLO PULMONAR (ÁSCARIS, NECATOR AMERICANO, ANCILOSTOMÍASE, ESTRONGILOIDÍASE). A ascaridíase é uma parasitose intestinal causada pelo Ascaris lumbricoides e vulgarmente conhecida como lombriga. O clima, o solo e as condições sociais no Brasil permitem todas as condições favoráveis para a transmissão do áscaris. Por isso é uma das parasitoses mais frequentes, predominando em algumas regiões como: Maranhão, Amazonas e Pernambuco. Os fatores que interferem na sua prevalência esta relacionado com o baixo nível socioeconômico, precárias condições de saneamento básico, má educação sanitária, grande produção de ovos pela fêmea do parasita e viabilidade dos ovos durantes meses ou anos quando em condições favoráveis de temperatura e umidade. Quanto à sua morfologia, o Ascaris é um verme cilíndrico de cor amarelo-rosada, sendo o macho menor do que a fêmea. CICLO DE VIDA O ciclo do A.lumbricoides é o protótipo dos vermes que fazem o ciclo pulmonar de Loss, portanto estão presente na Síndrome eosinofílica pulmonar de Loeffer. O áscaris vive solto na luz do intestino delgado (jejuno e íleo), e o homem é parasitado em geral por 4 a 10 helmintos, porem existe casos de pacientes com até 800 vermes. As femeas fecundadas são capazes de eliminar cerca de 200 mil ovos por dia que são expulsos com as fezes para o meio exterior, ainda não embrionados. Os ovos férteis, encontrando condições ótimas de temperatura (25 a 30), umidade (mínima de 70%) e oxigenação, após 15 dias, formam em seu interior, uma larva infectante (L3). Estes ovos são ingeridos pelo homem através de agua ou alimentos contaminados, e ao passar pelo estomago tem sua casca amolecida passa para o duodeno, onde sofrem ação dos sucos digestivos, libertando suas larvas. As larvas atravessam a parede intestinal no nível do ceco, alcançam as veias e os vasos linfáticos, invadem o fígado e através da veia cava inferior chegam ao coração direito e dai vai ao pulmão atraído pelo O2, onde vai ocorrer mais uma maturação (L4) (após 4 a 5 dias de infecção). Nos pulmões, eles vão romper os capilares, caem nos alvéolos pulmonares ondem se maturam (L5), sobem pelos bronquíolos, brônquios e traqueia ate a faringe, quando são raramente expelidas ou deglutidas. Finalmente atingem o intestino delgado onde se transforma em adulto imaturo (20 a 30 dias após a infecção). Todo o ciclo dura de 60 a 75 dias, desde a ingestão do ovo infestante ate a realização de novas posturas pela fêmea. A longevidade dos áscaris adultos é estimada em 1 a 2 anos. E elas se alimentam de produtos digeridos no intestino do hospedeiro e mantem-se no lúmen do intestino delgado por meio de constantes movimentos para não serem arrastados pelo peristaltismo. 2 Marcela Oliveira – Medicina 2020 O áscaris não se multiplica no organismo humano, pois seus ovos precisam encontrar condições favoráveis no solo para se maturar. Portanto, o numero de vermes depende exclusivamente de quantas vezes o paciente ingeriu ovos infectantes deste verme. QUADRO CLÍNICO A fase de invasão larvária costuma ser assintomática, exceto quando há grande quantidade de larvas envolvidas no processo. Nessa situação, a hepatomegalia e a icterícia podem ocorrer mais raramente. A passagem das larvas pelos pulmões pode ser traduzida clinicamente por quadro respiratório de intensidade variável, em que aparece tosse, dispneia, sibilância e dor retroesternal. Indivíduos hipersensíveis podem desenvolver reações alérgicas como asma e urticária. A maturação das larvas e a presença de vermes adultos no tubo digestivo ocasionam sintomas inespecíficos e variados, como anorexia, dor abdominal, distensão abdominal, cólicas, náuseas, vômitos e diarreia. Em algumas situações, pode haver algum grau de má absorção de proteínas, vitaminas que pode ocasionar sinais de desnutrição principalmente em crianças. Exemplares de adultos da áscaris podem causar oclusão intestinal, quando presentes em grande número, formando o “bolo de áscaris”. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2020 DIAGNÓSTICO O exame parasitológico de fezes constitui a melhor maneira de se estabelecer o diagnóstico. Pode ser feita pelo método de sedimentação de Lutz ou de Hoffman (para ovos inférteis) ou métodos de suspensão, como o de Faust (para ovos férteis). Os exames radiológicos podem revelar imagens com “falha de enchimento” condição que é conhecida como “bolo de áscaris” sendo essa falha patognomonico de ascaridíase. TRATAMENTO O tratamento visa matar os vermes adultos. Entretanto, diante de complicações como o “bolo de áscaris”, as drogas do grupo dos benzimidazólicos devem ser evitadas, por terem um efeito inicial de irritar o verme, provocando a sua migração. Em casos de obstrução biliar ou pancreática, procede-se à retirada endoscópica dos vermes. Se houver falha, recorre-se a cirurgia. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dia. É uma nematodiose causada pelo Ancylostoma duodenale e Necator americanos, que são vermes que vivem no intestino delgado, principalmente no duodeno. É popularmente conhecida como amarelão. O Ancylostoma duodenale é mais predominante no mediterrâneo, Índia, China, norte da África, Japão. Enquanto que o Necator americanuos é mais predominante nas regiões tropicais das Américas, do sudeste da China, na África central e do Sul e no Brasil. No Brasil, os fatores climáticos, o tipo de solo e o grau de pobreza da população são fatores intimamente relacionados com ocorrência da ancilostomose. Além disso, o habito de andar descalço na zona rural, nas favelas e na periferia de grandes núcleos contribui para a perpetuação do ciclo biológico desse parasita. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2020 CICLO DE VIDA As fêmeas põem seus ovos no lúmen intestinal, sendo então lançados ao meio exterior com as fezes. Em condições ótimas de umidade e temperatura, o embrião eclode do ovo ao final de 24-48h, dando origem ao ciclo larval. A larva que emerge do ovo é chamada de larva rabditoide (L1). Após a eclosão, a larva se movimenta, alimentando-se ativamente no solo, e no fim do 3º dia, ocorre à primeira muda para o segundo estagio (L2) ainda rabditoide. Continuando com o processo de maturação, a larva rabditoide sofre a segunda muda, transformando-se na larva filarioide (L3). Esta é a larva infectante, capaz de se locomover com movimentos serpentiformes e penetrar na pele do hospedeiro humano. A penetração se dá através dos pés descalços, pelos espaços interdigitais ou folículos pilosos. Ao penetrarem na pele humana, as larvas filarioides atingem as vênulas e os linfáticos, sendo levada pela corrente circulatória ao coração direito, alcançando os vasos pulmonares, onde rompem os capilares, atraídas pelo O2 dos alvéolos. Nesse momento as larvas sofrem mais uma muda (L4) e migram pela arvore traqueobrônquica no sentindo ascendente, sendo deglutida após chegar à glote. Resistindo a passagem gástrica, as larvas encontram o seu lugar definitivo no duodeno-jejuno, aonde irão se maturar a vermes adultos, que se fixam a mucosa intestinal. Após 6-7 semanas, a femea já começa a produzir os seus ovos, completando o ciclo. QUADRO CLÍNICO A penetração das larvas na pele provoca prurido e sensação de queimação local com presença de lesões eritemato- maculopapulosas e edema. A passagem das larvas pela arvore pulmonar é usualmente assintomática. Porem, quando relacionada com uma grande carga parasitária, o paciente apresenta sinais e sintomas definidos:tosse seca, dispneia, rouquidão, broncoespasmo, febre baixa ou 5 Marcela Oliveira – Medicina 2020 moderada e pneumonite intersticial eosinofílica (Sindrome de Loeffler). Os ancilostomídeos possuem uma peça bucal representada por placas (N.americanus) ou dentes cortantes (A.duodenale). Essas peças vão permitir que esses vermes ancorem na mucosa duodenal, formando lesões inflamatórias, levando a uma enterite catarral. A mudança continua dos parasitas contribui para romperem os capilares da mucosa, produzindo pequenas hemorragias, com uma media de 5ml de sangue por dia, quantidade suficiente para induzir um balanço negativo de ferro e provocar anemia ferropriva em certos pacientes. Um quadro gastrointestinal agudo (gastroenterite), marcado por náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e flatulência, bem como um quadro crônico expoliativo, identificado por anemia ferropriva (microcítica hipocrômica), hipoalbuminemia, desnutrição proteica, anasarca (inchaço generalizado) e eventual síndrome disabsortiva. DIAGNÓSTICO O diagnostico laboratorial é realizado pelo achado de ovos no exame parasitológico de fezes, através dos métodos de Lutz, Wilis ou Faust. Quando as fezes não são frescas, pode haver liberação pelos ovos das larvas rabditoide, que são semelhantes aos da Strongyloides, devendo ser diferenciadas. TRATAMENTO O tratamento é indicado para todas as pessoas infectadas da família ou para todos os membros do grupo comunitário para interromper o ciclo de transmissão. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dia após o tratamento, através de exames parasitológicos de fezes. A Estrongiloidíase é uma verminose causada por Strongyloides stercoralis e é predominante nas regiões de baixas condições socioeconômicas, com higiene precária e o habito de andar descalço. Possui um ciclo de vida direto caracterizado pela forma parasitaria adulta, que é uma fêmea partenogenética (ou seja, gera descendentes sem ser fecundada) que vive na mucosa duodenal e jejunal do ser humano. E existe um ciclo indireto ou sexuado, no qual os vermes apresentam na forma de vida livre (no solo) com machos e fêmeas distintos morfologicamente. Além disso, possui a capacidade de autoinfecção. Por apresentar duas formas – uma parasitária e outra de vida livre – este verme é dito dimorfobiótico. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2020 CICLO DE VIDA 1. CICLO DIRETO A forma parasitaria do intestino humano é uma fêmea partenogênica, no qual elimina seus ovos embrionados na intimidade da mucosa, se originando posteriormente em larvas rabditoides (L1) que são lançadas no meio externo com as fezes. Essas larvas logo se transformam nas larvas filarioides (L2), sobrevivendo no solo por alguns dias e capazes de penetrar a pele do humano. Atravessando a pele, atingem a corrente sanguínea e linfática, alcançando os pulmões, os capilares pulmonares, em seguida sendo então conduzidos via ascendente pela arvore respiratória ate serem deglutidas. Ao passarem intactas pelo estomago, chegam ao duodeno-jejuno (local definitivo) para amadurecerem na fêmea adulta, completando o ciclo. 2. CICLO INDIRETO Nesse ciclo, as larvas rabditoides (L1) eliminadas nas fezes, em vez de se converterem em larvas filarióides, amadurecem a vermes adultos de vida livre, machos e fêmeas. Esses adultos aparecem nas fezes após 15- 24h, em condições de temperatura e umidade ótimas. O macho fecunda a fêmea que põe seus ovos embrionados no solo. Deles eclodem larvas rabditoides que depois se transformam em larvas filarióides (L2) infectantes. Estas larvas são capazes de penetrar na pele do ser humano e seguir o ciclo que volta a ser novamente igual o direto. 3. AUTOINFESTAÇÃO Na autoinfestação interna, as larvas rabditoides se transformam em filarióides ainda dentro do intestino, penetrando na mucosa (geralmente do cólon) e completando o ciclo pulmonar. Este 7 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Hiperinfecção: Em algumas situações, como na imunodepressão e com o uso de corticosteroides, o ciclo de autoinfestação interna pode acelerar-se levando a uma rápida elevação no numero de larvas circulantes e nos órgãos normalmente envolvidos no ciclo biológico. A acentuação do processo evolui para a estrongiloidíase disseminada, na qual as larvas filarioides se espalham por todo o organismo, invadindo inclusive órgãos que normalmente não fazem parte do ciclo de vida dos parasitos. As larvas podem levar consigo bactérias e fungos (na sua superfície ou no seu tubo digestivo), causando graves infecções secundárias, como pneumonia, meningite, endocardite, sepse, geralmente por gram-negativos entéricos. fenômeno explica como o parasitismo pode durar anos, mesmo na ausência de uma reinfestação. Na autoinfestação externa, as larvas filarioides resultantes da evolução das larvas rabditoides presente na região anal e perianal, penetram ativamente na pele e completam o ciclo. Desse modo, elas completam o ciclo sem passar pelo solo. QUADRO CLÍNICO Na maioria das vezes, a infecção por estrogiloides é assintomática. Nos casos sintomáticos, o mais comum é a dor epigástrica, surda ou em queimação, que piora com a ingestão de alimentos, simulando uma ulcera péptica duodenal. A diarreia é um sintoma frequente. Alguns pacientes referem ainda desconforto abdominal, mal-estar, pirose, sonolência, náuseas e eventualmente vômitos. Esses sintomas tendem a ser intermitentes. A eosinofilia é um achado frequente. Uma síndrome disabsortiva com esteatorreia, hipoalbuminemia e anasarca pode ocorrer pela intensa duodenojejunite e atrofia das vilosidades. Na endoscopia digestiva, o duodeno encontra-se edemaciado, com eventuais erosões e espessamente ou ate apagamento das pregas. Como a Estrongiloidíase faz parte das verminoses que podem causar a Síndrome de Loeffler, marcada por um quadro brando de tosse seca, sibilância e infiltrados pulmonares migratórios. Manifestações dermatológicas podem surgir em 90% dos pacientes, devido a irritação e hipersensibilidade cutânea a passagem da larva filarioide. Uma lesão característica, extremamente pruriginosa é denominada Larva Currens. Esta lesão tem o aspecto linear e serpentiforme, devido à migração intermitente da filarioide na derme. Geralmente é uma lesão única, que predomina nas nadegas, períneo, virilhas, tronco e coxa proximal. ESTRONGILOIDÍASE DISSEMINADA Ocorre devido a hiperinfecção, quando múltiplas larvas alcançam a corrente sanguínea e linfática, se disseminando por vários órgãos. Um fator agravante é a condução de bactérias entéricas que acabam sendo carregadas para estes órgãos, determiando graves infecções secundarias e sepse. O quadro clinico pode começar de forma insidiosa, com febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos e diarreia, pelo crescente número de larvas que atravessam e inflamam a parede intestinal. 8 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Em seguida, o paciente evolui com piora da febre, leucocitose neutrofílica com desvio para esquerda, sinais de peritonite, meningite e sintomas respiratórios associados a infiltrados alveolares broncopneumônicos. Algumas vezes, podem ser visualizadas lesões pulmonares cavitadas e raramente um padrão de SDRA (Síndrome de angústia respiratória do adulto). DIAGNÓSTICO O diagnostico laboratorial é realizado pelo achado de larvas rabditoides no exame parasitológico de fezes, pelo método de Baermann-Moraes. O estudo radiológico baritado do duodeno e jejuno proximal, bem como a endoscopia digestiva alta podem auxiliar no diagnostico. Na estrongiloidíase disseminada podem-se identificar larvas de estrongiloides em qualquer tecido ou fluidoorgânico. Testes sorológicos podem ser utilizados tanto na forma complicada quanto nas não complicadas, apresentando alta sensibilidade. São indicados quando existe suspeita de infecção por esse verme ou quando há necessidade de exclui-la como nos pacientes que iniciaram tratamento com corticoides. TRATAMENTO O tratamento é indicado para todas as pessoas infectadas da família ou para todos os membros de grupos comunitários para interromper o ciclo de transmissão. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dia após o tratamento, através de exames parasitológicos de fezes. ENTENDER AS FORMAS DE PREVENÇÃO DE PARASITOSES. Cada tipo de parasitose tem a sua própria maneira de contaminação. A maioria delas pode ser evitada por medidas simples de higiene e limpeza, saneamento básico e uso de calçados. CONTAMINAÇÃO FECAL-ORAL É a maneira mais simples e mais comum de infestação. Os ovos dos vermes são eliminados do organismo através das fezes. Quando os ovos são ingeridos com a água ou a alimentação, os parasitas ativos encontram condições propícias para o seu desenvolvimento e a infestação do novo organismo hospedeiro. Para evitar-se este tipo de parasitose, são importantes: 1. O tratamento adequado das fezes. O saneamento básico é fundamental. A utilização do vaso sanitário conectado à rede de esgoto tratado é a grande arma para o controle das parasitoses. Na ausência da rede de esgoto, a utilização de fossa 9 Marcela Oliveira – Medicina 2020 cavada a boa distância da fonte de água potável, fechada e isolada, é solução satisfatória para quem reside em chácara ou no meio rural. Jamais evacuar no solo e, muito menos, utilizar as fezes para adubar plantações de alimentos. 2. O tratamento adequado da água. Deve-se filtrar a agua para torna-la potável. Se a água não for clorada na rede, você deve fervê-la ou adicionar cloro (que é fornecido gratuitamente na rede pública), depois, filtrá-la. Purificadores de água também são boa opção para substituir o processo de filtragem. 3. O tratamento adequado dos alimentos. Todos os vegetais como frutas, verduras, tubérculos e legumes, devem ser cuidadosamente lavados em água corrente e clorados, para eliminarem-se eventuais ovos de parasitas presentes no solo. 4. Os hábitos de higiene. Hábitos de higiene são fundamentais para evitar a contaminação e a infestação parasitária pelo mecanismo fecal-oral. Ensinar, habituar e insistir para que a criança lave as mãos após ir ao banheiro e antes das refeições é a melhor maneira de evitar que os minúsculos ovos de parasitas alojados nas mãos e unhas sejam ingeridos, fechando o ciclo vicioso ou disseminando a doença para outras pessoas. Manter as unhas sempre bem aparadas evita o acúmulo de sujeira e a contaminação subsequente. CONTAMINAÇÃO PELA PELE 1. Penetração de larvas presentes no solo. Alguns parasitas conseguem adentrar o organismo humano através da pele desprotegida. É o caso dos vermes que causam o amarelão (ancilostomose) e os comuns bichinhos de areia (larva migrans cutânea), cujas larvas, presentes no solo ou na areia contaminada por fezes humanas ou de animais, penetram ativamente na pele descoberta. Para evitar a contaminação, é importante a eliminação das fezes humanas e o uso de calçados ao andar na terra e na areia. 2. Penetração de larvas presentes na água. É o caso de graves parasitoses, como a esquistossomose mansônica (barriga- d'água), cuja contaminação acontece em lagos ou pequenos cursos d'água infectados através de caramujos, que servem como hospedeiros intermediários. Para evitá-las, basta não nadar em águas de rios e lagos onde não se tenha absoluta certeza da inexistência dos caramujos transmissores. COMPREENDER O MECANISMO DE AÇÃO DOS CORTICOESTEROIDES E SEUS EFEITOS ADVERSOS. (HÁ RELAÇÃO DOS CORTICOESTEROIDES COM AS PARASITOSES?). É importante lembrar que nós não produzimos corticoides, mas os produtos da secreção do córtex adrenal humano são hormônios esteroides chamados “corticosteroides” e incluem: Cortisol (hidrocortisona): possui ação de glicocorticoide, e aumenta os níveis plasmáticos de glicose, proteínas e ácidos graxos. Aldosterona: possui ação de mineralocorticoide e promove a retenção de sódio e líquidos e eliminação de potássio. Androgênios: possui ação virilizante e promove o desenvolvimento e manutenção dos caracteres sexuais. Além das funções fisiológicas, tem ação anti- inflamatória, antialérgica e imunossupressora. Ou seja, nós utilizamos os glicocorticoides farmacologicamente por conta dessas ações. 10 Marcela Oliveira – Medicina 2020 REGULAÇÃO DO CORTISOL O hipotálamo vai liberar CRH (hormônio liberador de corticotrofina) que ira estimular a hipófise a liberar o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). O ACTH estimula o córtex adrenal a produzir cortisol. O cortisol aumentado vai fazer um feedback negativo tanto sobre a hipófise quanto no hipotálamo na liberação do CRH. Esse mecanismo vai regular o nível de corticoide que nos temos fisiologicamente. Quando se faz uso do corticoide venoso ou oral, ocorre uma elevação do cortisol que promove uma inibição na síntese endógena dos corticoides. Enquanto mantiver o uso do medicamento, este eixo estará inibido e as ações farmacológicas vão ser ativadas, além dos efeitos adversos. Quando ocorre a parada do medicamento, este vai ser metabolizado e vai retirar a inibição do eixo. Deve-se atentar para uma retirada gradual, pois a retirada abrupta gera um efeito rebote de aumento da produção endógena de cortisol e manutenção dos efeitos indesejados. FARMACOCINÉTICA Essas substâncias possui uma boa absorção oral e também a cutânea. No entanto, devem-se ter cuidados com os efeitos sistêmicos em vias de administração locais, como a cutânea. Além disso, as preparações musculares possuem efeitos prolongados. Quanto à distribuição, eles se ligam a globulina de ligação ao cortisol (CBG) ou chamada de transportina. Quando a biotransformação, alguns fármacos são administrados na forma de pró-fármaco, como a Predinisona e a Cortisona que vai ser convertido no fígado em Prednisolona e Cortisol. Importância de avaliar a função hepática do paciente antes de indicar esses fármacos. FARMACODINÂMICA Ele atravessa a membrana da célula do tecido-alvo com facilidade, devido a sua natureza lipofílica. Liga-se a receptores existentes dentro do núcleo da célula, transcreve genes levando a uma alteração da síntese proteica. 11 Marcela Oliveira – Medicina 2020 EFEITOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E IMUNOSSUPRESSORES Os glicocorticoides reduzem radicalmente as manifestações da inflamação. Essa propriedade resulta dos seus efeitos na função dos leucócitos periféricos, bem como dos seus efeitos supressores nas citosinas e quimiocinas inflamatórias e outros mediadores de inflamação. Após a administração de uma dose única de glicocorticoide de ação curta, a concentração de neutrófilos na circulação aumenta, enquanto ocorre redução dos linfócitos (células T e B), monócitos, eosinófilos e basófilos. As alterações tornam- se máxima em 6 horas e dissipam-se em 24 horas. O aumento na contagem de neutrófilos é devido a seu maior influxo para o sangue a partir da medula óssea e sua migração diminuída dos vasos sanguíneos com consequente diminuição do numero de células no local da inflamação. Os glicocorticoides também inibem as funções dos macrófagos teciduais e de outras células apresentadoras de antígenos. Tanto os macrófagos quanto os linfócitos vão produzir menos IL-12 e interferom-gama que são indutores importantes da atividade das células Th1 e da imunidade celular. Além dos efeitos na função leucocitária, osglicocorticoides influenciam a reposta inflamatória ao reduzir a síntese de prostaglandinas, leucotrienos e fator ativador de plaquetas, que resulta da ativação da fosfolipase A2. Por fim, os glicocorticoides diminuem a expressão da COX2 com consequente diminuição da quantidade de enzima disponível para a produção de prostaglandinas. EFEITOS ADVERSOS Quando os glicocorticoides são usados por um curto período (<2 semanas) não é comum observar a ocorrência de efeitos colaterais graves, mesmo com a administração de doses moderadamente grandes. No entanto, naqueles pacientes que utilizam corticoides por mais de duas semanas, sofrem uma series de alterações denominadas de Síndrome de Cushing iatrogênica. Observa-se a presença de um rosto arredondado, ocorrência de tumefação. A gordura costuma ser redistribuída para o tronco e nuca. Pode-se verificar o aparecimento da acne pontilhada induzida por esteroides, além da ocorrência de insônia e aumento do apetite. A degradação continua de proteínas e o desvio os aminoácidos para a produção de glicose aumenta as necessidades de insulina e com o passar do tempo, resulta em ganho de peso, miopatia, diabetes. Outros efeitos colaterais incluem ulceras pépticas e suas consequências. CORTICOIDE x ESTRONGILOIDÍASE Os corticoides possuem um amplo efeito inibitório na resposta imune mediada por linfócitos T e B, bem como um potente efeito supressor das funções efetoras dos monócitos e neutrófilos. 12 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Por isso, pacientes com estrongiloidíase que faz uso concomitante com corticoide tem risco elevado de hiperinfecção e disseminação devido a essas alterações da resposta imune. Dois principais mecanismos estão envolvidos para que ocorra essa transformação: o primeiro está relacionado ao aumento da apoptose de células Th2, o que reduz o número de eosinófilos e inibe a resposta dos mastócitos, levando ao agravamento da infecção; e o segundo é a elevação da concentração de derivados de glicocorticoides, que, por sua similaridade com a ecdisona, hormônio que regula a fecundidade das fêmeas partenogenéticas e a transformação das larvas rabditoides em filarioides infectantes, leva a quadros de SHS. O mesmo mecanismo é observado em pacientes etilistas, provavelmente devido ao efeito do álcool no eixo hipotálamo- pituitária-adrenal, que eleva os níveis de corticosteroides endógenos. Além disso, o álcool também altera a morfologia das vilosidades intestinais e pode interferir na permeabilidade e na motilidade intestinal, favorecendo a transformação das larvas rabditoides em filarioides, elevando o risco de autoinfecção. AVALIAR O PAPEL DOS EOSINÓFILOS, DO HEMOGRAMA E CORRELACIONAR ESTES ACHADOS COM A INFECÇÃO POR PARASITAS. RESPOSTA IMUNE AOS HELMINTOS Vamos ter a predominância da resposta imune adaptativa contra os helmintos. Isso acontece, porque as infecções por helmintos geralmente são crônicas. Inicialmente, as células apresentadoras de antígenos vão reconhecer os helmintos, e através do MHC II vai apresentar esse antígeno a uma célula TCD4. Com a ativação da TCD4 ela vai se diferenciar em uma célula THelper 2 por ação da interleucina 4 liberada principalmente pelos mastócitos ou pela própria TH2. O TH2 vai determinar a produção do IgG4 e do IgE. A IgG vai realizar a neutralização dos patógenos, além de ativar o complemento e realizar a opsonização. No entanto, a atuação do IgE se torna mais importante, pois ela vai se ligar aos eosinófilos e mastócitos ativando essas células. Os eosinófilos a partir do momento que são ativadas vai produzir a proteína básica principal que tem uma ação citotóxica que lesa as células dos helmintos. Já os mastócitos ativados vão produzir histamina, que aumenta a secreção de muco no intestino, facilitando a neutralização do helminto, pois o muco é uma barreira física. Além disso, aumenta o peristaltismo no intestino, facilitando a saída dos helmintos no organismo. Além disso, a Th2 vai produzir algumas citocinas, como a IL-4 e a IL-13 que vão aumentar a secreção de muco. E a IL-5 que vai atuar ativando eosinófilos. EOSINÓLICOS E PARASITAS Eosinófilos são granulócitos derivados das mesmas células progenitoras de monócitos- macrófagos, neutrófilos e basófilos. É um componente do sistema imunitário inato. E tem como função a defesa contra infecções parasitárias, contra bactérias intracelulares e podem modular as reações de hipersensibilidade imediata por degradação ou desativação de mediadores liberados por mastócitos, como histamina e heparina. O numero de eosinófilos no organismo é estreitamente regulado. O numero no sangue mantém-se baixo, e a presença nos tecidos restringe-se à mucosa intestinal. No leucograma, a contagem de eosinófilos e o nível sérico de IgE podem estar elevados em varias afecções, sendo a parasitose intestinal uma das mais importantes. Os eosinófilos são leucócitos granulócitos presente no sangue em pequena quantidade. É uma célula binucleada e seu 13 Marcela Oliveira – Medicina 2020 citoplasma possui grânulos específicos, que são lisossomas ricas em fosfatases acidas. A vida media é de aproximadamente 18 horas no sangue, mas após sinais envolvendo citosinas e moléculas de adesão, estas migram para os tecidos nos quais podem durar semanas. Considera-se eosinofilia a contagem sérica de eosinófilos acima de 500 células/mm. Pode ser classificada em: Leve – 500 a 1500 células/mm3; Moderada – 1501 a 5000 células/mm3; Intensa – acima de 5000 células/mm3 A eosinofilia ocorre em grande numero de doenças como leucemia, hipersensibilidade a drogas, gastroenterite eosinofílica e parasitoses intestinais. A principal função do eosinófilo não é a fagocitose, mas sim a exocitose da Proteína Básica Maior, que é toxica para parasitas, causando a sua morte. Existem graus diferentes de eosinofilia, dependendo do agente etiológico, do nível de infestação e da fase em que se encontra a patologia. De uma forma geral, na fase aguda há o desenvolvimento de uma resposta especifica ao parasito que é caracterizada por marcada eosinofilia e altos níveis de IgE especifica. Nesta ocasião, síndromes alérgicas podem estar presentes como reações urticariformes ou quadros de broncoespasmo causada por migração larvária em tecido pulmonar. A eosinofilia presente nesta fase não é só sanguínea, mas também tecidual, na tentativa de imobilizar ou mesmo aniquilar o parasito, assim como os altos níveis de IgE especifica agem como fator importante no recrutamento de eosinófilos para o local da agressão. A IgE sérica, do tipo policlonal só elevaria e muito, em uma fase mais remota, após diversos períodos de agressão ao hospedeiro, onde há uma acomodação da relação entre hospedeiro e parasita, onde não deixa de existir a infestação parasitária, mas a migração larvária é mínima. Nessa fase parece haver também uma redução do numero de eosinófilos sanguíneos.
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