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Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. APG 22 – “MEDO DE SER O PRÓXIMO” Abertura: 23/04/2021 Devolutiva: 27/04/2021. Objetivos: 1. ELUCIDAR A EPIDEMIOLOGIA DA TUBERCULOSE. -Características gerais; -Agente etiológico; -Transmissão -Epidemiologia (mundo e Brasil) ~Incidência e Mortalidade. 2. COMPREENDER OS FATORES DE RISCO DA TUBERCULOSE. -Fatores de risco em geral; -Grupos de risco ~Pessoas privadas de liberdade (FOCO PRINCIPAL); situação de rua, indígenas, HIV. 3. ELUCIDAR A FISIOPATOLOGIA E AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA TUBERCULOSE. -Fisiopatologia (patogenia e imunidade); -Manifestações clínicas (sintomas respiratórios e Sintomas gerais). 4. DELINEAR O TRATAMENTO DA TUBERCULOSE. -Bases bacteriológica; -Bases farmacológica; Esquema básico de tratamento. EPIDEMIOLOGIA : A tuberculose (TB) ainda é um sério e desafiador problema de saúde pública global. No mundo, EM 2018, CERCA DE DEZ MILHÕES DE PESSOAS ADOECERAM POR TUBERCULOSE E 1,5 MILHÃO DE PESSOAS MORRERAM EM DECORRÊNCIA DELA, SENDO A TB A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE POR UM ÚNICO AGENTE INFECCIOSO. A doença afeta desproporcionalmente pessoas do sexo masculino, adultos jovens e países de baixa renda, apontando para a associação entre a ocorrência de TB e fatores socioeconômicos. Nesse cenário, o Brasil vem desenvolvendo diversas ações que visam reduzir a morbimortalidade por TB. Dentre elas, com o objetivo de intensificar as ações de prevenção e reduzir o adoecimento por TB, destaca-se a manutenção das altas coberturas vacinais por BCG e a ampliação da vigilância e das recomendações de investigação e tratamento da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis. Investimentos na incorporação de novas tecnologias para o enfrentamento da TB no Sistema Único de Saúde (SUS) têm favorecido a obtenção da qualidade e eficácia do diagnóstico e tratamento da doença. Quanto ao alcance de desfechos favoráveis, há recomendações para implementação de estratégias assistenciais que favoreçam o estabelecimento do vínculo e a adesão visando o alcance de um diagnóstico precoce e tratamento oportuno, e consequentemente, prevenção da TB drogarresistente(TB DR). Ainda, o país tem reforçado as recomendações voltadas à oferta de proteção social à pessoa acometida pela doença. PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO E OPERACIONAL DA TUBERCULOSE: NO BRASIL, EM 2019, FORAM DIAGNOSTICADOS 73.864 CASOS NOVOS DE TB, O QUE CORRESPONDEU A UM COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA DE 35,0 CASOS/100 MIL HABITANTES. Embora tenha sido observada uma constante tendência de queda entre os anos de 2010 e 2016, o coeficiente de incidência da TB no país aumentou nos anos de 2017 e 2018 em relação ao período anterior. Nesses dois anos, houve uma tendência de queda na incidência entre os maiores de 65 anos, e de aumento na incidência nos menores de 10 anos e nos de 10 a 64 anos. Na estratificação por UF, evidencia-se uma importante heterogeneidade no país, com os maiores coeficientes de incidência acima de 51 casos/100 hab. nos estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Pará, Roraima e Acre. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. CARACTERÍSTICAS GERAIS : A tuberculose (TB), antiga enfermidade descrita como tísica, foi conhecida, no século XIX, como peste branca, ao dizimar centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. A partir da metade do século XX, houve acentuada redução da incidência e da mortalidade relacionadas à TB, já observada àquela ocasião em países desenvolvidos, sobretudo pela melhoria das condições de vida das populações. No início da década de 1980, houve recrudescimento global da TB: nos países de alta renda, esse recrudescimento se deveu principalmente à emergência da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e, nos países de baixa renda, devido à ampliação da miséria e do processo de urbanização descontrolada, além de desestruturação dos serviços de saúde e dos programas de controle da tuberculose. A TB é uma doença que pode ser prevenida e curada, mas ainda prevalece em condições de pobreza e contribui para perpetuação da desigualdade social. AGENTE ETIOLÓGICO: A TB pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium tuberculosis: 1. M. TUBERCULOSIS, 2. M. BOVIS, 3. M. AFRICANUM, 4. M. CANETTI, 5. M. MICROTI, 6. M. PINNIPEDI E 7. M. CAPRAE. Em saúde pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, conhecida também como bacilo de Koch (BK). ➔ O M. TUBERCULOSIS É FINO, LIGEIRAMENTE CURVO E MEDE DE 0,5 A 3 ΜM. É um BACILO ÁLCOOL-ÁCIDO RESISTENTE (BAAR), aeróbio, com parede celular rica em lipídios (ácidos micólicos e arabinogalactano), o que lhe confere baixa permeabilidade, reduz a efetividade da maioria dos antibióticos e facilita sua sobrevida nos macrófagos. Em alguns locais, o M. bovis pode ter especial relevância como agente etiológico da TB e apresenta-se de forma idêntica ao M. tuberculosis, com maior frequência da forma ganglionar e outras extrapulmonares. A ocorrência é mais comum em locais que consomem leite e derivados não pasteurizados ou não fervidos de rebanho bovino infectado; em pessoas que residem em áreas rurais e em profissionais do campo (veterinários, ordenhadores, funcionários de matadouros, entre outros). Nessas situações, os serviços de vigilância sanitária devem ser informados para atuar na identificação precoce das fontes de infecção e no controle da doença, prevenindo assim a ocorrência de novos casos. Outro grupo de micobactérias, as micobactérias não tuberculosas (MNT), compreendem diversas espécies como M. avium, M. kansasii, M. intracellulare e M. abscessos com relevância epidemiológica no Brasil restrita a determinadas populações ou regiões. transmissão: O M. tuberculosis é transmitido por via aérea, de uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente (caso fonte), a outra pessoa, por exalação de aerossóis oriundos da tosse, fala ou espirro. O termo “bacilífero” refere- se a pessoas com TB pulmonar ou laríngea que tem baciloscopia positiva no escarro. Esses casos têm maior capacidade de transmissão, entretanto pessoas com outros exames bacteriológicos como cultura e/ou TESTE RÁPIDO MOLECULAR DA TUBERCULOSE (TRM-TB) positivos também podem transmitir. A TB acomete, prioritariamente, o pulmão que também é a porta de entrada da maioria dos casos. 1. A transmissão se faz por via respiratória, pela inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea. 2. As gotículas exaladas (gotículas de Pflüger) rapidamente se tornam secas e transformam-se em partículas menores (<5-10 μm de diâmetro). 3. Essas partículas menores (núcleos de Wells), contendo um a dois bacilos, podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos, onde podem se multiplicar e provocar a chamada primo-infecção. 4. Outras vias de transmissão (pele e placenta) são raras e desprovidas de importância epidemiológica. 5. Os bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não têm papel na transmissão da doença. A probabilidade de uma pessoa ser infectada depende de fatores exógenos. Entre eles, pode- -se citar a infectividade do caso-fonte, a duração do contato e o tipo de ambiente partilhado. ➔ Os pacientes com exame bacteriológico de escarro positivo sustentam a cadeia de transmissão da doença. Estima-se que uma pessoa com baciloscopiapositiva infecte de 10 a 15 pessoas em média, em uma comunidade, durante um ano. Entre pessoas que têm contatos duradouros com pacientes com TB pulmonar, aqueles com BAAR positivo no escarro são os que mais transmitem a doença. Em geral, eles têm a forma TB pulmonar cavitária ou, mais raramente, a TB laríngea. Aqueles com baciloscopia de escarro negativa, mesmo com TRM-TB ou cultura positivos no escarro, têm infectividade menor. Pessoas com cultura de escarro negativa e as com TB extrapulmonar exclusivamente são desprovidas de infectividade. PACIENTES COM TB PULMONAR E INFECÇÃO PELO HIV, NA DEPENDÊNCIA DE MAIOR COMPROMETIMENTO DA IMUNIDADE, PODEM TER MENOS FREQUENTEMENTE Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ACOMETIMENTO PULMONAR E APRESENTAÇÃO CAVITÁRIA DA DOENÇA E, ASSIM, TAMBÉM MENOR INFECTIVIDADE. O risco de transmissão da TB perdura enquanto o paciente eliminar bacilos no escarro. Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias, ela encontra-se muito reduzida. A importância de realizar baciloscopia de escarro de controle reside não somente na confirmação da eficácia do esquema terapêutico, mas também na avaliação de risco para os contatos. As medidas de controle da infecção pelo M. tuberculosis devem ser mantidas até que seja confirmada a negativação ou bacilos não viáveis à baciloscopia do caso fonte. Crianças com TB pulmonar, em geral, têm baciloscopia negativa e, por isso, pouca importância na cadeia de transmissão da doença. O bacilo é sensível à luz solar, e a circulação de ar possibilita a dispersão de partículas infectantes. Com isso, ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem o risco de transmissão. RISCO DE ADOECIMENTO: O RISCO DE ADOECIMENTO, ISTO É, A PROGRESSÃO PARA A TB ATIVA APÓS INFECÇÃO, DEPENDE DE FATORES ENDÓGENOS, EM ESPECIAL DA INTEGRIDADE DO SISTEMA IMUNE. Em saúde pública, a importância de um fator de risco reside na sua associação com a ocorrência da doença e na prevalência desse fator na população avaliada. ➔ O maior risco de adoecimento para a TB descrito é a infecção pelo HIV. Dentre outros fatores conhecidos, destacam-se o tempo decorrido da infecção ao desenvolvimento de TB ativa (maior risco de adoecimento nos primeiros dois anos após exposição), a idade menor que dois anos ou maior que 60 anos e a presença de determinadas condições clínicas (doenças e/ou tratamentos imunossupressores). No Brasil, assim como em outros países que possuem condições de vida semelhantes, alguns grupos populacionais têm maior vulnerabilidade para a TB. Estima-se que 10% das pessoas que foram infectadas pelo M. tuberculosis adoeçam: 5% nos dois primeiros anos que sucedem a infecção e 5% ao longo da vida, caso não recebam o tratamento preventivo preconizado. O risco de adoecimento por TB pode persistir por toda a vida. A TB primária, aquela que ocorre logo após a infecção, é comum em crianças e nos pacientes com condições imunossupressoras. Habitualmente, é uma forma grave, porém com baixo poder de transmissibilidade. Em outras circunstâncias, o sistema imune é capaz de contê-la, pelo menos temporariamente. ➔ Os bacilos podem permanecer como latentes (infecção latente pelo M. tuberculosis – ILTB) por muitos anos até que ocorra a reativação, produzindo a chamada TB pós-primária (ou secundária). Em 80% dos casos acomete o pulmão, e é frequente a presença de cavidade. A reinfecção pode ocorrer se a pessoa tiver uma nova exposição, sendo mais comum em áreas onde a prevalência da doença é alta. A INFECÇÃO PRÉVIA PELO M. TUBERCULOSIS NÃO EVITA O ADOECIMENTO, OU SEJA, O ADOECIMENTO NÃO CONFERE IMUNIDADE E RECIDIVAS PODEM OCORRER. INCIDÊNCIA E MORTALIDADE NO BRASIL: Em 2018, foram registrados 4.490 óbitos em decorrência da doença, o que equivale a um coeficiente de mortalidade de 2,2 óbitos/100 mil hab. Desde 2010, o número de óbitos por TB no Brasil variou de 4.400 a 4.600, e o coeficiente de mortalidade, de 2,2 a 2,3 óbitos por 100 mil hab. na série histórica. Em 2018, nove UF apresentaram coeficiente de mortalidade por TB próximo ou superior ao coeficiente do país: 1. Amazonas, 2. Rio de Janeiro, 3. Pernambuco, 4. Rio Grande do Sul, 5. Pará, Maranhão, 6. Rio Grande do Norte, 7. Ceará e 8. Acre. As capitais desses estados também apresentaram os maiores coeficientes de mortalidade quando comparadas às demais capitais do país. No Brasil, em 2019, 487 casos de TB foram notificados após o óbito. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ➔ Cerca de metade desses casos (230 casos) foram notificados em apenas duas UF: Pernambuco, com 126 notificações, e São Paulo, com 104. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. 2º OBJETIVO: COMPREENDER OS FATORES DE RISCO DA TUBERCULOSE. -Fatores de risco em geral; -Grupos de risco ~Pessoas privadas de liberdade (FOCO PRINCIPAL); situação de rua, indígenas, HIV. A infecção pelo M. tuberculosis pode ou não evoluir para doença propriamente dita. A PREDISPOSIÇÃO DO INDIVÍDUO EM DESENVOLVER A DOENÇA DEPENDE DA INTERAÇÃO DE DIVERSOS FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS. Os fatores associados ao adoecimento por TB estão relacionados ao bacilo e ao hospedeiro, além de fatores sociais e ambientais também implicados. Em relação ao bacilo, a virulência da cepa e a carga infectante são os principais fatores relacionados ao adoecimento por TB. A CARGA INFECTANTE É UM IMPORTANTE FATOR, POIS, QUANTO MAIOR A CARGA BACILAR MAIOR O RISCO DE ADOECIMENTO. O adoecimento por TB também está intrinsecamente relacionado à resposta imune do hospedeiro contra o bacilo. Vários fatores podem influenciar a resposta imune contra o bacilo. Estes fatores agem conjuntamente levando a um amplo espectro de resposta que resulta em manifestações clínicas diversas, desde infecção latente assintomática, até formas mais graves com sintomatologia exuberante e alta carga bacilar. DIVERSOS FATORES PODEM COMPROMETER A RESPOSTA IMUNE E FACILITAR O ADOECIMENTO, SENDO OS MAIS CONHECIDOS: EXTREMOS DE IDADE (NEONATOS E IDOSOS), DESNUTRIÇÃO, DIABETES, INFECÇÃO PELO HIV, NEOPLASIAS, IMUNODEPRESSÃO POR USO DE MEDICAÇÕES (USO CRÔNICO DE CORTICÓIDES, IMUNODEPRESSORES), TABAGISMO E ETILISMO. Os fatores sociais merecem destaque, pois são determinantes para o adoecimento por TB. Locais onde a população vive em graus extremos de pobreza e má nutrição apresentam incidências elevadas de TB. UM ESTUDO REALIZADO PELA OMS ANALISANDO A TB EM DIVERSOS PAÍSES ENTRE 1997 E 2006 OBSERVOU QUE A INCIDÊNCIA DE TB VEM DECLINANDO MAIS RAPIDAMENTE EM PAÍSES COM MAIORES ÍNDICES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH), MENOR MORTALIDADE INFANTIL E MELHORA NO ACESSO AO SANEAMENTO BÁSICO. A TB é também mais comum em áreas urbanas. Locais com rápida urbanização apresentam taxas mais elevadas da doença. A poluição do ar, locais mal ventilados e com concentração de pessoas, situação comum nas cidades, aumentam o risco de adoecer por TB. Algumas populações especiais apresentam também um risco aumentado de adoecer por TB. 1. Os moradores de rua, 2. presidiários, 3. portadores do vírus do HIV e4. indígenas fazem parte deste grupo de populações mais vulneráveis a doença no Brasil. IDADE: Existem grandes diferenças na incidência da TB relacionadas à idade. Teoricamente, estas disparidades podem ser atribuídas a diferenças no risco de infecção e no risco de desenvolver doença após a da infecção. A tendência, normalmente observada, de aumento da incidência da doença com o avanço na idade pode ser parcialmente explicada pelo aumento cumulativo da prevalência da infecção tuberculosa. Os adolescentes e adultos jovens parecem estar especialmente propensos à progressão da infecção latente para doença clínica, semelhante as crianças com cerca de 10 anos de idade. Já as variações relacionadas com o estágio de maturidade não explicam o aumento constante da incidência de TB em adultos até aos 60 anos de idade. Há diferença na distribuição etária da TB em diferentes partes do mundo. ➔ EM PAÍSES DESENVOLVIDOS A TB OCORRE PREDOMINANTE NOS INDIVÍDUOS IDOSOS RELACIONADA A UMA REATIVAÇÃO DA DOENÇA LATENTE FRENTE À IMUNOSSUPRESSÃO CAUSADA PELA IDADE. ➔ Em países menos desenvolvidos a população mais acometida é de adultos jovens, refletindo uma transmissão recente (WHO, 2009). Em pacientes idosos a mortalidade é maior, associada principalmente às dificuldades no diagnóstico precoce da doença e à presença de outras comorbidades. O Brasil passa por uma transição demográfica, cuja consequência tem sido o aumento do segmento da população de idosos, apresentando características que os diferenciam do resto da população. Concomitante ao aumento desta população vulnerável vem-se observando o aumento do número de casos de TB nessa faixa etária correspondente. SEXO: De acordo com dados da OMS, a prevalência de TB é maior nos pacientes adultos do sexo masculino. Em recente revisão, avaliaram as possibilidades desta preferência da doença em relação ao sexo. DENTRO DESTE CONTEXTO, NÃO SE PODE IGNORAR OUTROS PROVÁVEIS FATORES MAIS RELACIONADOS AO SEXO MASCULINO, E QUE TAMBÉM INTERAGEM NA INFECÇÃO PELO M. TUBERCULOSIS COMO O ABUSO DE ÁLCOOL E TABACO, USO DE DROGAS E EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A AGRESSORES INALANTES. Em alguns estudos, o sexo masculino permaneceu como fator de risco independente para a doença no adulto, mesmo quando Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ajustado para estas demais variáveis citadas, sugerindo a existência de outros fatores específicos. Uma provável explicação para esta maior prevalência pode estar relacionada às variações hormonais entre os sexos. Primeiramente pela preferência da TB ao sexo masculino ser evidenciada predominantemente nos adultos em idade reprodutiva. ➔ E após, pela demonstração da interferência do sistema imune em resposta aos hormônios sexuais, sendo o estrogênio conhecidamente um indutor de produção de interferon gama, ativação macrofágica e maior produção de células “natural killer”. Outro fator relacionado, ainda em fase de investigação, é a diferença sexo-específica da arquitetura genética. Alguns estudos acharam provável correlação entre polimorfismos de genes específicos e susceptibilidade à TB, incluindo um estudo brasileiro. Todavia, não foi possível evidenciar um loco genético predominante de susceptibilidade, além de desprezarem a grande variabilidade genética entre as diferentes regiões. Há ainda a variabilidade nutricional e constitucional entre os sexos. A DEFICIÊNCIA DE FERRO PODE SER UM FATOR PROTETOR NA TB, UMA VEZ QUE ELE É UM NUTRIENTE PRIMORDIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA MICOBACTÉRIA. A extrusão do ferro do vacúolo microbiano é relacionada como um mecanismo da resposta imune inata. Em modelos animais o uso excessivo de ferro aumenta a suscetibilidade de infecção pela micobactéria. Uma vez que mulheres em idade fértil de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento têm maior prevalência de deficiência de ferro em relação ao sexo masculino, este seria um provável fator protetor. Além disso, a vitamina D tem relação já demonstrada como cofator imunitário antibacteriano, e é conhecido seu efeito sinérgico com o estradiol. Por fim, a variabilidade constitucional entre os sexos, ainda em fase de especulação, são as alterações anatômicas das vias aéreas superiores do sexo feminino, incluindo alterações funcionais e histológicas que sofrem ação dos hormônios e da idade. CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS: As condições socioeconômicas da população exposta têm sido associadas à incidência da TB. Apesar destas análises se basearem em estudos ecológicos, tendo como base de análise os censos populacionais ou os códigos postais, as diferenças encontradas têm forte associação e torna provável uma relação causal. As condições de baixo nível socioeconômico tendem a originar situações habitacionais sobrelotadas, o que, por sua vez, com a ocorrência de um caso, propicia um aumento na transmissão do bacilo, resultando numa maior prevalência da infecção tuberculosa, com o respectivo aumento da incidência da doença. A pobreza pode também reduzir o acesso aos serviços de saúde, prolongando o período de transmissibilidade e aumentando o risco de infecção entre os seus contatos. Essa realidade é perceptível quando se avalia a diferença de incidência e óbitos relacionados à TB entre países desenvolvidos e os em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. ➔ Segundo dados da OMS, a Ásia é responsável por 55% e a África por 33% de todos os casos mundiais; ➔ As Américas, Europa e regiões do leste mediterrâneo contribuem pelas menores frações destes valores. Na taxa de incidência, entre os 15 países com as mais elevadas taxas, 13 estão na África, fato este muito associado ao elevado número de pacientes vivendo com o vírus do HIV. ➔ O Brasil ocupa a 19ª posição entre os 22 países com maior número de notificações de casos de TB no mundo. Entre as diferentes regiões brasileiras o Sudeste lidera o número de notificações, sendo o estado do Rio de Janeiro com maior número de casos e óbitos relacionados à doença, sendo as favelas e o sistema penitenciário os principais contribuidores para este índice. Apesar de vários estudos reforçarem a associação entre TB e baixo nível socioeconômico, em alguns tal associação não foi encontrada. Na África do Sul, analisaram escolaridade, emprego e condições gerais de habitação, não encontrando associação com TB. Na África do Sul, não encontraram associação entre aglomeração e TB. RAÇA: Nos Estados Unidos, têm sido estudadas com especial cuidado as diferenças de risco existentes entre as minorias étnicas. Com a disponibilidade desta informação, verificou-se que estas comunidades apresentam uma incidência de TB maior do que a população de raça branca não hispânica. A literatura tem mostrado resultados contraditórios quanto à associação entre cor não branca e TB. Stead e Lofgren (1983) encontraram um risco duas vezes maior para TB em adultos da raça negra do que em adultos da raça branca. ➔ NO BRASIL, ALÉM DE NÚMERO MAIOR DE NEGROS, HÁ TAMBÉM MAIOR PREVALÊNCIA DA DOENÇA EM INDÍGENAS. Estudando crianças escolares, não encontraram risco mais elevado para TB em crianças de raça negra. Isto leva a pensar que o efeito da cor não branca sobre a TB não se deve totalmente às condições socioeconômicas adversas. Parece haver um componente genético na cor não branca, além do componente social, que acarreta um maior risco entre essas pessoas para TB. Uma das possíveis explicações para o risco genético da cor é o fato de que, historicamente, essas pessoas entraram em contato com a doença TB posteriormente aos da cor branca e, portanto, não teriam adquirido a mesma resistência. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna– Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ESTADO NUTRICIONAL: Existem relatos de que o déficit nutricional afeta o sistema imunológico, e juntamente com a deficiência de vitaminas e minerais elevam o risco do desenvolvimento da TB. Em países europeus a mortalidade por TB aumentou rapidamente durante a Primeira Guerra Mundial, e esta relação foi justificada pela queda acentuada de ingestão calórica. Pessoas com baixo peso (índice de massa corpórea < 18,5 Kg/m²) têm um risco maior para TB comprovado em diversos estudos. Recente artigo de revisão associou a obesidade ao maior risco de desenvolvimento de infecções, principalmente virais e bacterianas. ➔ A regulação do sistema imunológico depende de um estado nutricional adequado e a obesidade pode acarretar em maior risco de desenvolvimento de doenças, entre elas, a tuberculose. Estudos com cobaias obesas demonstraram redução resposta imunológica de células T, macrófagos e linfócitos B com maior suscetibilidade a infecções. ➔ Outro estudo, no entanto, aponta a obesidade como um fator protetor para TB em idosos. A dieta vegetariana foi reconhecida como um fator de risco para a TB em um estudo de caso-controle, no qual se identificou uma tendência aumentada no risco concomitante com a diminuição do consumo de carne ou peixe. A maior probabilidade de risco foi encontrada nos lactovegetarianos. Neste contexto, foi recomendado que suplementos de vitamina D poderiam ser particularmente importantes em indivíduos com TB e pouco expostos a luz solar. ➔ O metabólito ativo da vitamina D, a 1,25- hidroxivitamina D3, estimula a maturação e ativação dos monócitos e macrófagos humanos. Também já foi demonstrada a sua atividade inibidora da multiplicação de bacilos virulentos nos macrófagos. Foi levantada a hipótese de algumas das características dos casos de TB entre imigrantes no Reino Unido (particularmente a frequência dos casos de TB extrapulmonar) estarem relacionadas, parcialmente, com o déficit em vitamina D. Outro fator importante relacionado ao estado nutricional e o desenvolvimento da TB, é o relato recente da influência do nível de leptina para as manifestações da TB pulmonar. ➔ Leptina, também conhecida como proteína OB, é um hormônio produzido principalmente por adipócitos, mas também expresso no hipotálamo, ovário e placenta que regula a ingestão de alimentos e o gasto energético. Nos seres humanos, os níveis circulantes de leptina são elevados na obesidade e são regulados pelo jejum, alimentação e as mudanças de peso. Além de exercer um papel na regulação do balanço energético, a leptina também regula funções endócrinas e imunes. ➔ A relação entre TB pulmonar e leptina não é completamente compreendido, entretanto, estudos têm mostrado que os níveis de leptina são suprimidos em pacientes tuberculosos e que provavelmente, os baixos níveis de leptina podem contribuir para o aumento da susceptibilidade à infecção e recuperação de lesões em pacientes com sequelas da TB. HÁBITOS DE VIDA: TABAGISMO: A relação entre tabagismo e TB é discutida há muito tempo, porém ainda controversa. Dois estudos caso-controle realizados na Inglaterra avaliaram a relação entre o tabagismo e o risco de TB e evidenciaram que a probabilidade de se adoecer com TB eleva com o aumento no número de cigarros fumados. Em Xangai outro estudo mostrou que a incidência de TB era maior em fumantes do que em não fumantes, mesmo após ajuste para a idade, sexo, tipo de trabalho, história de contato e zona de residência. Apesar desses vários relatos da associação entre TB e tabagismo, é difícil avaliar se esta relação é aleatória ou tem um efeito causal. ➔ Em recente meta-análise os autores encontraram forte evidência entre TB e tabagismo; moderada evidência para TB e exposição secundária ao tabagismo (tabagismo passivo) e tabagismo e retratamento de TB; e baixa evidência entre tabagismo e TB-infecção e mortalidade associada à doença. Não há dados suficientes para afirmar que o tabagismo leve a um atraso no diagnóstico ou possa alterar a positividade da baciloscopia ou ainda, ocasionar maior severidade e resistência das cepas nos casos da doença. ETILISMO: O abuso do álcool vem sendo considerado importante fator de risco para TB, uma vez que alguns estudos mostraram uma forte associação entre uso abusivo de álcool (ou desordem relacionada ao uso do álcool) e o desenvolvimento da TB. Em alguns estudos o alcoolismo foi considerado o fator mais importante na transmissão recente da doença. ➔ Recente artigo de revisão que avaliou a associação do consumo do álcool com TB, evidenciou forte associação entre uso abusivo de álcool e TB com risco relativo estimado de 2,94. É conhecido o impacto do abuso de álcool sobre o sistema imune, o que pode, em parte, justificar a maior incidência da doença nessa população. ➔ Além disso, há fatores sociais e nutricionais envolvidos nessa correlação, o que altera não somente o risco para infecção, mas também a resposta à terapêutica. ➔ Foi evidenciado que nessa população é maior o número de abandono, multidroga resistência e toxicidade aos medicamentos. Baseado nesta revisão, em torno de 10% dos casos de TB mundialmente são atribuídos ao uso de álcool. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. USO DE DROGAS ILÍCITAS: Uso de drogas ilícitas é fator importante na epidemiologia da TB em países desenvolvidos e em desenvolvimento. ➔ Embora a incidência de TB em países industrializados tenha diminuído ao longo da última década, a incidência da doença vem aumentando em populações urbanas, incluindo usuários de drogas. O uso de drogas tem sido associado com uma maior prevalência de infecção latente e incidência de TB ativa, principalmente com o uso de drogas injetáveis e derivados opióides. Estudos in vitro mostram o efeito deletério do uso de drogas ao sistema imune. Embora as implicações clínicas desses estudos permaneçam obscuras, o uso de drogas é frequentemente associado a uma série de fatores epidemiológicos, incluindo o tabagismo, falta de moradia, uso abusivo de álcool e encarceramento, que confere risco adicional de desenvolvimento da doença. Juntos, esses fatores podem contribuir para a maior propensão dos usuários de drogas ao desenvolvimento da TB. A alta prevalência de TB latente e períodos mais longos de infectividade neste grupo podem ainda contribuir para o aumento das taxas de transmissão da TB entre usuários de drogas. Estudos envolvendo epidemiologia molecular da TB e busca de contatos demonstram isolados que compartilham padrões idênticos, refletindo transmissão recente. ➔ Os efeitos fisiológicos do uso de drogas, juntamente com o meio ambiente e comportamentos de risco dos usuários de drogas, podem contribuir para a alta prevalência de TB entre usuários de drogas. ➔ Além do maior risco para aquisição da infecção, usuários de drogas também respondem menos ao tratamento, com duração maior de positividade no escarro e maior mortalidade associada à doença. FATORES RELACIONADOS À IMUNIDADE DO HOSPEDEIRO: HIV/AIDS: A infecção pelo HIV é um dos principais fatores de risco para desenvolvimento da TB descrito nas últimas décadas. ➔ A epidemia de AIDS facilitou o ressurgimento da TB, a partir da década de 80, quando o início da epidemia de HIV/AIDS coincide com o aumento no número de notificações dos casos de TB nos Estados Unidos e Europa, e a interação M. tuberculosis – HIV foi considerada a principal causa. ➔ Na África existe uma sobreposição importante das duas doenças. Em alguns países o número de novos casos de TB e AIDS é muito superior a outras partes do mundo. Como foi demonstradoem um estudo europeu, o risco de TB em portadores do HIV com reação tuberculínica igual ou superior a 5 mm, correlaciona-se com o número de linfócitos CD4. ➔ No decurso da infecção pelo HIV, a TB pulmonar é uma forma frequente, com o agravamento da imunossupressão e, passam a ser mais frequentes as formas ganglionares e serosas (pleural, peritoneal e pericárdica), seguidas pela TB meníngea. Com uma contagem muito baixa de CD4, é frequente a TB disseminada. No Brasil o risco anual de desenvolvimento de TB em pacientes soropositivos é de cerca de 10%. ➔ Após a introdução das drogas antirretrovirais e melhor controle da doença estes indicadores estabilizaram, porém continua sendo o HIV/AIDS o principal fator de risco associado ao desenvolvimento da doença, e a TB a principal doença oportunista nos pacientes com HIV/AIDS. SECUNDÁRIA A USO DE MEDICAÇÕES: O uso de corticóides (dose equivalente a 15mg/dia ou mais de prednisona por 1 mês), e antagonistas de fator de necrose tumoral (anti-TNF) é acompanhado por um aumento no risco de TB ativa (LIOTÉ, 2008; LONG; GARDAM, 2003). A administração de corticóides em pacientes com TB latente exige observação e profilaxia, dada a possibilidade de ocorrer reativação da doença (LIOTÉ, 2008; LONG, GARDAM, 2003). Pacientes transplantados em uso de imunossupressores têm maior risco de evoluir com TB e outras infecções por micobactérias. O efeito principal é o bloqueio a resposta imune e celular efetiva ao controle da doença (GÓMEZ-REINO et al., 2007). DOENÇAS SISTÊMICAS: DIABETES MELLITUS: A associação entre diabetes mellitus e TB vem sendo relatada há algumas décadas. ➔ Em um estudo realizado nos anos 40, na Filadélfia, a incidência foi de 8,4% nos diabéticos e de 4,3% em trabalhadores industriais não diabéticos. ➔ Na Suécia, diagnosticaram TB pulmonar em 3,4% dos seus diabéticos, e 0,88% num grupo de controle da população geral. Depois de ajustado para a idade e o sexo, o risco relativo estimado foi de 3,6. Encontraram uma incidência da doença, entre os diabéticos, três vezes superior à da população geral. A DIABETES SE CORRELACIONA POSITIVAMENTE COM O AUMENTO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, ENQUANTO QUE O RISCO DE TB SE CORRELACIONA NEGATIVAMENTE, CONDUZINDO A UMA POTENCIAL SUBVALORIZAÇÃO DO RISCO DE TB NOS DIABÉTICOS, SE NÃO FOR FEITO O DEVIDO AJUSTE EM RELAÇÃO AO PESO CORPORAL. Recente estudo caso-controle realizado na Indonésia revelou forte associação entre diabetes e TB, especialmente na população jovem e não obesa moradora da área urbana. Outro autor evidenciou que em pacientes diabéticos há maior proporção de formas atípicas da doença, porém com Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. mortalidade semelhante à população geral. SUGERE-SE QUE A DIABETES MELLITUS DEPRIMA A RESPOSTA IMUNOLÓGICA, QUE POR SUA VEZ, FACILITA A INFECÇÃO COM M. TUBERCULOSIS OU PROGRESSÃO PARA DOENÇA SINTOMÁTICA. SILICONE: Já foi reconhecido que a TB é frequente nos mineiros e nas pessoas com silicose. Em uma pesquisa, mostraram que existe 30 vezes mais chance do desenvolvimento de TB entre pessoas com silicose quando comparados a um grupo controle. Num longo estudo de seguimento dos mineiros de ouro na África do Sul, o risco relativo para a TB foi de 2,8 para homens com silicose, comparado com o de homens sem silicose. Cerca de 45% dos pacientes com doença mais grave foram afetados pela TB, em 7 anos de seguimento, o que corresponde a um risco anual de infecção de 6,3%. Desconhece-se o mecanismo exato que leva a predisposição, entretanto a possibilidade da inativação macrofágica pela fagocitose dos cristais de sílica, bem como as alteraçõe s funcionais e estruturais das vias aéreas, pode explicar tal associação. DOENÇA RENAL CRÔNICA: Já foi demonstrado na literatura que pacientes com insuficiência renal crônica ou em hemodiálise têm um risco aumentado de TB. ➔ Neste grupo de doentes estima-se que a incidência seja de 10 a 15 vezes superior à da população em geral. ➔ A provável causa é a imunossupressão causada pela uremia, bem como os déficits nutricionais como deficiência de vitamina D e hiperparatireoidismo. CIRURGIA GÁSTRICA: A gastrectomia tem sido associada a uma morbidade elevada de TB. Os primeiros relatos da associação de TB e cirurgia gástrica prévia surgiram nos pacientes pós-ressecção gástrica por úlcera péptica. Este é um procedimento pouco utilizado atualmente, porém as cirurgias bariátricas podem levar a risco semelhante. Poucos estudos avaliaram as causas para este aumento do risco, sem dados concretos até o momento, entretanto acredita-se que esta associação esteja vinculada ao déficit nutricional a que ficam expostos os pacientes submetidos aos procedimentos. TUBERCULOSE EM POPULAÇÕES ESPECIAIS: PRIVADA DE LIBERDADE: A TB nas prisões constitui um importante problema de saúde, especialmente nos países de alta e média endemicidade. Há um reconhecimento crescente do alto risco de TB nesses ambientes para aqueles presos e para a sociedade em geral. A mobilidade dos presos dentro do sistema aumenta este risco, uma vez que presos circulam entre diferentes prisões, entre diferentes instituições do sistema judiciário, centros de saúde e comunidade geral, após cumprirem suas sentenças. A frequência de formas resistentes e multirresistentes é também particularmente elevada nas prisões e está relacionada ao tratamento irregular e a detecção tardia de casos de resistência. ➔ NO BRASIL A MAGNITUDE DO PROBLEMA É POUCO CONHECIDA. A INTRODUÇÃO, EM 2007, DA INFORMAÇÃO SOBRE A ORIGEM PRISIONAL DO CASO NA FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE TB PERMITIU UMA PRIMEIRA AVALIAÇÃO NACIONAL. ➔ ASSIM, A POPULAÇÃO PRISIONAL, QUE REPRESENTA APENAS 0,2% DA POPULAÇÃO DO PAÍS, CONTRIBUIU COM 5% DOS CASOS NOTIFICADOS EM 2008. ➔ A prevalência de TB foi avaliada por meio de inquérito radiológico em prisões do estado do Rio de Janeiro que mostraram prevalências entre 4,6% e 8,6% na população já encarcerada e 2,7% no momento do ingresso no Sistema Penitenciário. Fatores individuais e condições de vida antes do encarceramento contribuem para a alta endemicidade da TB na população privada de liberdade, como população jovem, predominantemente masculina, de baixa escolaridade, oriunda de comunidades desfavorecidas com maior ocorrência de TB. ➔ Além do uso de drogas, maior prevalência de infecção pelo HIV, maior frequência de tratamento anterior para TB, antecedentes de encarceramento, dificuldade de acesso aos serviços de saúde e menor oportunidade de diagnóstico e tratamento da TB. ➔ Inseridos neste contexto também estão os fatores relacionados ao encarceramento, como celas superpopulosas, mal ventiladas e com pouca iluminação solar e exposição frequente ao M.tuberculosis em ambiente confinado. Em resposta às necessidades de lidar com esse problema em países com alta prevalência de TB, a OMS propôs diretrizes para o controle da TB em prisões e instituições similares. A triagem de presos na entrada da prisão pode ter um papel importante na detecção precoce de casos. As características específicas das prisões e prisioneiros exigem abordagens direcionadas para a implementação desta estratégia. ➔ ESTUDOS MOSTRAM A NECESSIDADE DE UM PROGRAMA DE TB EFICAZ, PRINCIPALMENTE COMO GARANTIA DE UM TRATAMENTO COMPLETO PARA AQUELES PRESOS COM TB, EVITANDO-SE DESSA FORMA QUE AS PRISÕES SEJAM FONTES DE TRANSMISSÃO DE TB PARA AS PRÓPRIAS INSTITUIÇÕES E PARA A COMUNIDADE EM GERAL. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. 3- ELUCIDAR A FISIOPATOLOGIAE AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA TUBERCULOSE. -Fisiopatologia (patogenia e imunidade); -Manifestações clínicas (sintomas respiratórios e Sintomas gerais). A TUBERCULOSE (TB), QUE É CAUSADA POR BACTÉRIAS DO COMPLEXO MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS, É UMA DAS MAIS ANTIGAS DOENÇAS CONHECIDAS QUE ACOMETE OS SERES HUMANOS E É UMA CAUSA DE MORTE IMPORTANTE EM TODO O MUNDO. Estudos genômicos populacionais recentes sugerem que o M. tuberculosis pode ter surgido há aproximadamente 70 mil anos na África e subsequentemente disseminado junto com os seres humanos anatomicamente modernos, expandindo-se globalmente durante a Era Neolítica à medida que a densidade humana começou a aumentar. Os progenitores do M. tuberculosis provavelmente afetaram os pré-hominídeos. Essa doença acomete mais frequentemente os pulmões, embora outros órgãos sejam acometidos em até um terço dos casos. Se adequadamente tratada, a TB causada por cepas suscetíveis aos fármacos é curável na grande maioria dos casos. Se não for tratada, a doença pode ser fatal em 5 anos em 50 a 65% dos casos. A transmissão ocorre geralmente por disseminação aérea de aerossóis produzidos pelos pacientes com TB pulmonar infecciosa. AGENTE ETIOLÓGICO: As micobactérias pertencem à família Mycobacteriaceae e à ordem Actinomycetales. Das espécies patogênicas pertencentes ao complexo do M. tuberculosis, que abrangem oito subgrupos distintos, o agente mais comum e importante da doença humana é o M. tuberculosis. O complexo engloba o Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. • M. bovis (o bacilo da TB bovina – resistente à pirazinamida; antigamente uma causa importante de TB transmitida pelo leite não pasteurizado e, hoje, a causa de uma pequena porcentagem de casos humanos no mundo inteiro), • M. caprae (relacionado com o M. bovis), • M. africanum (isolado de casos na África Ocidental, Central e Oriental), • M. microti (o bacilo do “rato-calunga”, um microrganismo menos virulento e raramente encontrado), • M. pinnipedii (um bacilo que infecta focas e leões- marinhos no hemisfério sul e recentemente isolado de seres humanos), • M. mungi (isolado de fuinhas no sul da África), • M. orygis (descrito recentemente em órix e outros bovídeos na África e Ásia e uma causa potencial de infecção em seres humanos) e • M. canettii (um isolado raro de casos da África Oriental que produz colônias lisas incomuns em meios sólidos, sendo considerado estreitamente relacionado com um suposto tipo progenitor). O M. tuberculosis é uma bactéria aeróbia delgada, em forma de bastonete, não formadora de esporos, que mede 0,5 µm por 3 µm. As micobactérias, incluindo o M. tuberculosis, são frequentemente neutras na coloração de Gram. Entretanto, uma vez corados, os bacilos não podem ser descorados pelo álcool-ácido, característica que justifica sua classificação como bacilos álcool-ácido-resistentes (BAAR;. A resistência ao álcool-ácido deve-se, principalmente, ao elevado teor de ácidos micólicos, ácidos graxos de cadeia longa e ligação cruzada, bem como de outros lipídeos da parede celular do microrganismo. Outros microrganismos além das micobactérias que exibem alguma resistência ao álcool-ácido incluem espécies de Nocardia e Rhodococcus, Legionella micdadei, assim como os protozoários Isospora e Cryptosporidium. Na parede celular das micobactérias, os lipídeos (p. ex., ácidos micólicos) estão ligados a arabinolactanos e peptidoglicanos subjacentes. Essa estrutura resulta em uma permeabilidade muito baixa à parede celular, reduzindo, assim, a eficiência da maioria dos antibióticos. Outra molécula na parede celular das micobactérias, a lipoarabinomanana, está envolvida na interação do patógeno com o hospedeiro e facilita a sobrevida do M. tuberculosis no interior dos macrófagos. ➔ A sequência completa do genoma do M. tuberculosis compreende 4.043 genes que codificam 3.993 proteínas e 50 genes que codificam RNA; ➔ seu alto conteúdo de guanina mais citosina (65,6%) indica um “estilo de vida” aeróbio. Uma grande proporção dos genes está dedicada à produção de enzimas envolvidas no metabolismo da parede celular. DA EXPOSIÇÃO À INFECÇÃO: O M. tuberculosis é mais comumente transmitido de uma pessoa com TB pulmonar infecciosa por núcleos de gotículas, que são aerossolizados por tosse, espirro ou fala. As minúsculas gotículas secam rapidamente; as menores (< 5- 10 µm de diâmetro) podem permanecer suspensas no ar durante várias horas e alcançar as vias respiratórias terminais quando inaladas. ➔ Pode haver até 3 mil núcleos infecciosos por episódio de tosse. Outras vias de transmissão do bacilo da TB (p. ex., por meio da pele ou placenta) são incomuns, carecendo de importância epidemiológica. A probabilidade de contato com uma pessoa que apresenta a forma infecciosa de TB, a intimidade e a duração desse contato, o grau de infectividade do caso e o ambiente compartilhado no contato constituem importantes determinantes da probabilidade de transmissão. DIVERSOS ESTUDOS SOBRE SITUAÇÕES DE CONTATOS PRÓXIMOS DEMONSTRARAM CLARAMENTE QUE OS PACIENTES COM TB CUJO ESCARRO CONTÉM BAAR VISÍVEIS À MICROSCOPIA (CASOS DE ESFREGAÇO DE ESCARRO POSITIVO) TÊM MAIOR TENDÊNCIA A TRANSMITIR A INFECÇÃO. ➔ Os pacientes mais infectantes apresentam doença pulmonar cavitária ou, menos comumente, TB laríngea e produzem escarro que contém até 105-107 BAAR/mL. ➔ Os pacientes que apresentam TB com esfregaço de amostra de escarro negativo/cultura positiva são menos infectantes, embora tenham sido responsáveis por até 20% da transmissão em alguns estudos nos Estados Unidos. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ➔ Aqueles com TB pulmonar de cultura negativa e TB extrapulmonar são essencialmente não infecciosos. ➔ Como os indivíduos com infecção pelo HIV e TB têm menos tendência a apresentar cavitações, podem ser menos infectantes do que os sem coinfecção pelo HIV. ➔ A aglomeração em salas pouco ventiladas constitui um dos fatores mais importantes na transmissão de bacilos da TB, visto que aumenta a intensidade de contato com um caso. O risco de aquisição da infecção pelo M. tuberculosis é determinado principalmente por fatores exógenos. Devido à demora na procura de atendimento médico e no estabelecimento de um diagnóstico, geralmente estima-se que, em condições de alta prevalência, até 20 contatos podem ser infectados para cada caso BAAR-positivo antes do diagnóstico de TB no caso índice. DA INFECÇÃO À DOENÇA: Diferente do risco de aquisição da infecção pelo M. tuberculosis, o risco de desenvolver a doença após ter sido infectado depende, em grande parte, de fatores endógenos, como as defesas imunológicas inatas e não imunológicas do indivíduo, bem como o nível em que a IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULA (IMC) isoladamente está funcionando. A doença clínica que ocorre diretamente após a infecção é classificada como TB primária, sendo a sua ocorrência comum entre crianças nos primeiros anos de vida e entre indivíduos imunocomprometidos. Embora a TB primária possa ser grave e disseminada, geralmente não está associada a um alto nível de transmissibilidade. Quando a infecção é adquirida mais tarde durante a vida, a probabilidade de que o sistema imune maduro possa contê-la pelo menos temporariamente é maior. Entretanto, os bacilos latentes podem persistir durante anos antes de serem reativados, produzindo TB secundária (ou pós- primária), que, devido à frequente ocorrência de cavitação, é mais comumente infectante do que a doença primária. ➔ De modogeral, estima-se que até 10% dos indivíduos infectados acabarão desenvolvendo TB ativa durante a sua vida – metade deles durante os primeiros 18 meses após a infecção. ➔ O risco é muito maior entre indivíduos infectados pelo HIV. ➔ A reinfecção de um indivíduo previamente infectado, comum em áreas com altas taxas de transmissão de TB, também pode favorecer o desenvolvimento da doença. No auge do ressurgimento da TB nos Estados Unidos, no início da década de 1990, a tipagem molecular e a comparação de cepas de M. tuberculosis sugeriram que até um terço dos casos de TB ativa em algumas comunidades do interior foram decorrentes de uma transmissão recente mais do que de reativação de infecção latente antiga. Em termos absolutos, o fator de risco mais potente para a TB entre indivíduos infectados é claramente a coinfecção pelo HIV, que suprime a imunidade celular. O risco de a ILTB evoluir para a doença ativa está diretamente relacionado com o grau de imunossupressão do paciente. Em um estudo de indivíduos infectados pelo HIV, com resultado positivo do teste cutâneo com tuberculina (TCT), esse risco variou de 2,6- 13,3 casos por 100 pessoas-ano e aumentou com o declínio da contagem de células T CD4+. PATOGÊNESE E IMUNIDADE: infecção e invasão de macrófagos: A interação do M. tuberculosis com o hospedeiro humano começa quando núcleos de gotículas que contêm microrganismos viáveis propagados no ar por pacientes infectantes são inalados por um observador próximo. Embora os bacilos inalados sejam, em sua maioria, retidos nas vias respiratórias superiores e expelidos pelas células mucosas ciliadas, uma fração (normalmente < 10%) alcança os alvéolos, um ambiente imunorregulador exclusivo. ➔ Nesse local, macrófagos alveolares que ainda não foram ativados (macrófagos prototípicos alternativamente ativados) fagocitam os bacilos. ➔ A aderência de micobactérias aos macrófagos resulta, em grande parte, da ligação da parede celular bacteriana a uma variedade de moléculas de superfície celular do macrófago, como receptores do complemento, receptor de manose, receptor GFcγ de imunoglobulina e receptores de varredura do tipo A. ➔ A fagocitose é aumentada por ativação do complemento que leva à opsonização de bacilos com ativação de derivados de C3 como C3b e C3bi. (Os Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. bacilos são resistentes à lise mediada pelo complemento.) ➔ A ligação de determinados receptores, como o receptor de manose, regula os eventos pós- fagocíticos, como a fusão fagossomo-lisossomo e a produção de citocina inflamatória. ➔ Após a formação de um fagossomo, a sobrevida do M. tuberculosis no seu interior parece depender em parte de uma redução da acidificação devido à falta de montagem de próton-adenosina trifosfatase vesicular completa. ➔ O lipoglicano da parede celular bacteriana, a lipoarabinomanana (ManLAM), desencadeia uma complexa série de eventos. ➔ Essa ManLAM inibe o aumento intracelular de Ca2+. Em consequência, ocorre comprometimento da via Ca2+/calmodulina (que leva à fusão do fagossomo- lisossomo), e os bacilos podem sobreviver no interior dos fagossomos. Descobriu-se que o fagossomo do M. tuberculosis inibe a produção de fosfatidilinositol 3-fosfato (PI3P). ➔ Normalmente, PI3P induz os fagossomos à ordenação e maturação da membrana, incluindo a formação de fagolisossomo, que destruiria as bactérias. ➔ Também se descobriu que os fatores bacterianos bloqueiam a defesa de autofagia do hospedeiro, na qual a célula sequestra o fagossomo em uma vesícula de membrana dupla (autofagossomo) que se destina a fundir com os lisossomos. ➔ SE OS BACILOS TIVEREM SUCESSO NA INTERRUPÇÃO DA MATURAÇÃO DO FAGOSSOMO, A REPLICAÇÃO COMEÇA E O MACRÓFAGO ACABA SOFRENDO RUPTURA, LIBERANDO SEU CONTEÚDO BACILAR. ➔ Outras células fagocíticas não infectadas são então recrutadas para continuar o ciclo da infecção por meio da ingestão dos macrófagos que estão morrendo e de seu conteúdo bacilar, tornando-se, assim, elas próprias infectadas e expandindo a infecção. Virulência de bacilos da tuberculose: O M. tuberculosis deve ser visualizado como um complexo formado por uma grande variedade de cepas que diferem em virulência e são capazes de produzir diversas manifestações da doença. Desde a elucidação do genoma do M. tuberculosis em 1998, grandes coleções mutantes foram geradas e muitos genes de bactérias que contribuem para a virulência por M. tuberculosis foram encontrados. Padrões diferentes de defeitos de virulência foram definidos em vários modelos animais, predominantemente camundongos, mas também porquinhos-da-índia, coelhos e primatas não humanos. ➔ O gene katG codifica uma enzima catalase/peroxidase que protege contra o estresse oxidativo e é necessário para ativação da isoniazida e subsequente atividade bactericida. ➔ A região de diferença 1 (RD1) é um locus de 9,5 kb que codifica dois antígenos proteicos pequenos essenciais – antígeno ESAT-6 (early secretory antígeno 6) e proteína-10 do filtrado de cultura (CFP-10) –, assim como suposto aparelho de secreção que pode facilitar seu egresso; a ausência desse locus da vacina na cepa de vacina do bacilo Calmette-Guérin (BCG) de M. bovis mostrou ser uma mutação atenuante importante. ➔ A validade de uma observação recente no Mycobacterium marinum, precisa ser confirmada no M. tuberculosis; no M. marinum uma mutação no locus de virulência de RD1 que codifica o sistema de secreção ESX1 prejudica a capacidade de macrófagos apoptóticos de recrutar células não infectadas para outros ciclos de infecção. ➔ Os resultados são menos replicação e menos granulomas novos. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ➔ Os mutantes que não possuem enzimas essenciais de biossíntese bacteriana tornam-se auxotróficos para o substrato faltante e frequentemente são totalmente incapazes de proliferar em animais; esses incluem os mutantes leuCD e panCD, que requerem leucina e ácido pantotênico, respectivamente. ➔ O gene de isocitrato liase icl1 codifica uma etapa essencial no shunt de glioxilato que facilita o crescimento bacteriano nos substratos de ácido graxo; esse gene é necessário para persistência de longo prazo da infecção por M. tuberculosis em camundongos com TB crônica. ➔ Os mutantes de M. tuberculosis nos genes reguladores como fator C sigma e fator H sigma (sigC e sigH) estão associados a crescimento bacteriano normal em camundongos, mas falham em evocar patologia tecidual completa. ➔ Finalmente, a proteína micobacteriana CarD (expressa pelo gene carD) parece essencial para o controle de transcrição de rRNA que é necessário para replicação e persistência na célula hospedeira. ➔ Sua perda expõe micobactérias a estresse oxidativo, inanição, lesão do DNA e, finalmente, sensibilidade para serem mortas por uma variedade de mutagênicos e mecanismos de defesa do hospedeiro. RESISTÊNCIA INATA À INFECÇÃO: Diversas observações sugerem que os fatores genéticos desempenham um papel fundamental na resistência inata não imunológica à infecção pelo M. tuberculosis e no desenvolvimento de doença. A existência dessa resistência, que é de natureza poligênica, é sugerida pelos diferentes graus de sensibilidade à TB em diferentes populações. Em camundongos, um gene denominado Nramp1 (proteína de macrófago 1 associada à resistência natural) desempenha um papel regulador na resistência/sensibilidade às micobactérias. O homólogo humano NRAMP1, mapeado no cromossomo 2q, pode desempenharpapel na determinação da suscetibilidade à TB, conforme sugerido por um estudo realizado com africanos ocidentais. Estudos de genética murina identificaram um novo gene de resistência do hospedeiro, ipr1, que é codificado dentro do locus sst1; ipr1 codifica uma proteína nuclear induzível por interferon (IFN) que interage com outras proteínas nucleares nos macrófagos estimulados por IFN ou infectados por M. tuberculosis. Além disso, os polimorfismos em múltiplos genes, como os que codificam vários alelos complexos de histocompatibilidade principal (MHC), IFN-γ, fator de crescimento de células T β, interleucina (IL) 10, proteína de ligação da manose, receptor de IFN-γ, receptor semelhante ao Toll 2, receptor de vitamina D e IL-1, foram associados à suscetibilidade à TB. A RESPOSTA DO HOSPEDEIRO, FORMAÇÃO DE GRANULOMA E LATÊNCIA: A perturbação da função de MMP9 resulta em redução do crescimento bacteriano. Outro estudo mostrou que o monofosfato de adenosina (AMP) cíclico derivado de M. tuberculosis é secretado pelos fagossomos para os macrófagos hospedeiros, subvertendo as vias de transdução do sinal da célula e estimulando uma elevação na secreção do fator de necrose tumoral α (TNF-α) e recrutamento celular pró- inflamatório adicional. Finalmente, as quimiocinas e os produtos bacterianos liberados durante as rodadas repetidas de lise celular e infecção de macrófagos de chegada recente possibilitam às células dendríticas ter acesso aos bacilos; essas células migram para linfonodos de drenagem e apresentam antígenos micobacterianos aos linfócitos T. Nesse ponto, o desenvolvimento de IMC e de imunidade humoral inicia-se. Esses estágios iniciais da infecção são geralmente assintomáticos. Cerca de 2 a 4 semanas após a infecção, surgem duas respostas do hospedeiro ao M. tuberculosis: 1- uma resposta da IMC de ativação dos macrófagos e A resposta de ativação dos macrófagos é um fenômeno mediado por células T que leva à ativação de macrófagos capazes de matar e digerir os bacilos da TB. 2- Resposta de lesão tecidual. A resposta de lesão tecidual resulta de uma reação de hipersensibilidade do tipo tardio (DTH) a vários antígenos bacilares; destrói os macrófagos inativados que contêm bacilos em multiplicação, mas também provoca necrose caseosa dos tecidos acometidos. Embora ambas as respostas possam inibir o crescimento das micobactérias, é o equilíbrio entre as duas que determina as formas de TB que irão surgir subsequentemente. Com o desenvolvimento da imunidade específica e o acúmulo de grandes números de macrófagos ativados no local da lesão primária, formam-se lesões granulomatosas (tubérculos). ➔ Essas lesões consistem em acúmulos de linfócitos e macrófagos ativados que evoluem para morfologias de células epitelioides e células gigantes. ➔ A princípio, a resposta de lesão tecidual pode limitar o crescimento das micobactérias no interior dos macrófagos. Conforme assinalado anteriormente, essa resposta, mediada por diversos produtos bacterianos, não apenas destrói os macrófagos como também provoca necrose sólida precoce no centro do tubérculo. Embora o M. tuberculosis possa sobreviver, seu crescimento é inibido dentro desse ambiente necrótico pela baixa tensão de oxigênio e pelo pH baixo. Nesse estágio, algumas lesões podem cicatrizar por fibrose, com calcificação subsequente, enquanto ocorrem inflamação e necrose em outras lesões. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Algumas observações desafiaram a visão tradicional de que qualquer encontro entre micobactérias e macrófagos resulta em infecção crônica. É possível que uma resposta imune capaz de erradicar a infecção inicial possa, algumas vezes, desenvolver-se como consequência, por exemplo, de mutações incapacitantes em genomas micobacterianos tornando sua replicação ineficaz. Granulomas isolados que são formados durante essa fase da infecção podem variar em tamanho e composição celular; alguns podem conter a disseminação de micobactérias, enquanto outros, não. A ILTB começa como resultado desse equilíbrio dinâmico entre o microrganismo e o hospedeiro. De acordo com avanços recentes, a latência pode não ser o termo preciso, porque os bacilos podem permanecer ativos durante esse estágio “latente”, formando biofilmes em áreas necróticas dentro das quais eles se escondem temporariamente. Assim, o termo persistidor provavelmente seja mais preciso para indicar o comportamento dos bacilos nessa fase. É importante reconhecer que a infecção latente e a doença representam não um estado binário, mas sim um contínuo ao longo do qual a infecção em seguida irá mover-se em direção à contenção completa ou à doença. A capacidade para prever, utilizando biomarcadores sistêmicos, quais indivíduos irão evoluir para doença seria de valor imenso na definição das intervenções profiláticas. A RESPOSTA DE ATIVAÇÃO DO MACRÓFAGO: A IMC é fundamental nesse estágio inicial. Na maioria dos indivíduos infectados, os macrófagos locais são ativados quando antígenos bacilares processados pelos macrófagos estimulam os linfócitos T a liberarem uma variedade de linfocinas. Esses macrófagos ativados agregam-se ao redor do centro da lesão e neutralizam efetivamente os bacilos da TB, sem causar destruição tecidual adicional. Na parte central da lesão, o material necrótico assemelha-se a queijo mole (necrose caseosa) – um fenômeno que também pode ser observado em outras afecções, como neoplasias. Mesmo quando ocorre cicatrização, bacilos viáveis podem permanecer dormentes no interior dos macrófagos ou no material necrótico durante muitos anos. Essas lesões “cicatrizadas” no parênquima pulmonar e nos linfonodos hilares podem, subsequentemente, sofrer calcificação. HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO TARDIA: Em uma minoria de casos, a resposta de ativação dos macrófagos é fraca, e o crescimento das micobactérias só pode ser inibido por respostas de DTH intensificadas, as quais levam à destruição do tecido pulmonar. A lesão tende a aumentar ainda mais, e o tecido circundante apresenta lesão progressiva. No centro da lesão, o material caseoso se liquefaz. As paredes brônquicas e os vasos sanguíneos são invadidos e destruídos com formação de cavidades. O material caseoso liquefeito, que contém grande número de bacilos, é drenado por meio dos brônquios. No interior da cavidade, os bacilos da TB multiplicam-se, espalham-se pelas vias respiratórias e são eliminados no ambiente por meio de manobras expiratórias, como tosse e o ato de falar. Nos estágios iniciais da infecção, os bacilos são geralmente transportados por macrófagos até os linfonodos regionais, a partir dos quais têm acesso ao retorno venoso central; de lá, eles são implantados novamente nos pulmões e também podem se disseminar além da vasculatura pulmonar amplamente pelo corpo, por meio da circulação cardíaca. As lesões extrapulmonares resultantes podem exibir a mesma evolução que as dos pulmões, embora a maioria tenha tendência a cicatrizar. Em crianças pequenas com imunidade natural precária, a disseminação hematogênica pode resultar em TB miliar altamente fatal ou meningite tuberculosa. PAPEL DOS MACRÓFAGOS E MONÓCITOS: Enquanto a IMC confere proteção parcial contra o M. tuberculosis, a imunidade humoral desempenha um papel bem menos definido na proteção (embora haja crescentes evidências da existência de anticorpos para lipoarabinomanana, que podem impedir a disseminação da infecção em crianças). No caso da IMC, dois tipos de células são essenciais: os macrófagos, que fagocitam diretamente os bacilos da TB, e as células T (principalmente linfócitos T CD4+), que induzem proteção por meio da produção de citocinas, especialmente IFN-γ. Após infecçãopelo M. tuberculosis, os macrófagos alveolares secretam diversas citocinas responsáveis por vários eventos (p. ex., formação de granulomas), bem como por efeitos sistêmicos (febre e perda de peso). No entanto, macrófagos alveolares alternativamente ativados podem ser particularmente suscetíveis ao crescimento de M. tuberculosis logo no início, dada sua atividade pró-inflamatória e bactericida limitada, que está relacionada, em parte, com ser banhada em surfactante. Novos monócitos e macrófagos atraídos para o local constituem os componentes-chave da resposta imune. Seu principal mecanismo está provavelmente relacionado com a produção de oxidantes (como intermediários de oxigênio reativo ou óxido nítrico), que possuem atividade antimicobacteriana e aumentam a síntese de citocinas, como TNF-α e IL-1, as quais regulam a liberação de intermediários de oxigênio reativo e intermediários reativos de nitrogênio. Além disso, os macrófagos podem sofrer apoptose – um mecanismo de defesa para evitar a liberação de citocinas e bacilos por meio de seu sequestro na célula apoptótica. Um trabalho recente também descreve o envolvimento de neutrófilos na resposta do hospedeiro, embora o momento oportuno de seu surgimento e sua eficácia permaneçam incertos. PAPEL DOS LINFÓCITOS T: Os macrófagos alveolares, os monócitos e as células dendríticas também são fundamentais no processamento e apresentação de antígenos aos linfócitos T, principalmente as células T CD4+ e CD8+; o resultado consiste na ativação e Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. proliferação de linfócitos T CD4+, cruciais na defesa do hospedeiro contra o M. tuberculosis. Defeitos qualitativos e quantitativos nas células T CD4+ explicam a incapacidade dos indivíduos infectados pelo HIV de conter a proliferação de micobactérias. Os linfócitos T CD4+ ativados podem sofrer diferenciação em células TH1 ou TH2 produtoras de citocinas. • As células TH1 produzem IFN-γ – um ativador dos macrófagos e monócitos – e IL-2. As células TH2 produzem IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13, podendo também promover a imunidade humoral. • A inter-relação dessas várias citocinas e a sua regulação cruzada determinam a resposta do hospedeiro. Entretanto, o papel das citocinas na promoção da destruição intracelular de micobactérias ainda não foi totalmente elucidado. O IFN-γ pode induzir a geração de intermediários reativos de nitrogênio e regular genes envolvidos nos efeitos bactericidas. O TNF-α também parece ser importante. • As observações feitas originalmente em camundongos knockout transgênicos e, mais recentemente, em seres humanos sugerem que outros subgrupos de células T, especialmente as células T CD8+, podem desempenhar um papel importante. • As células T CD8+ foram associadas a atividades protetoras em função de respostas citotóxicas e lise das células infectadas, bem como à produção de IFN-γ e TNF-α. • Por fim, as células natural killer atuam como correguladoras das atividades líticas das células T CD8+, e acredita-se, cada vez mais, que as células T γδ estejam envolvidas em respostas protetoras nos seres humanos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A TB é classificada em pulmonar, extrapulmonar ou ambas. Dependendo de vários fatores ligados a diferentes populações e a cepas bacterianas, a TB extrapulmonar pode ocorrer em 10 a 40% dos pacientes. Além disso, até 66% dos pacientes infectados pelo HIV que apresentam TB podem ter TB tanto pulmonar quanto extrapulmonar ou apenas TB extrapulmonar. TUBERCULOSE PULMONAR: A TB pulmonar pode ser convencionalmente classificada em primária ou pós-primária (do tipo adulto, secundária). Essa distinção foi desafiada por evidências moleculares decorrentes de áreas endêmicas para TB indicando que uma grande porcentagem de casos de TB pulmonar no adulto resulta de infecção recente (seja infecção primária ou reinfecção), e não de reativação. ✓ DOENÇA PRIMÁRIA: A TB pulmonar primária ocorre pouco depois da infecção inicial pelo bacilo da TB. Ela pode ser assintomática ou pode estar presente com febre e, ocasionalmente, dor torácica pleurítica. Em áreas de alta transmissão da TB, essa forma de doença é frequentemente observada em crianças. Como a maior parte do ar inspirado se distribui nas regiões média e inferior dos pulmões, essas áreas geralmente estão mais acometidas na TB primária. A lesão que se forma após a infecção inicial (nódulo de Ghon) é geralmente periférica e acompanhada de linfadenopatia hilar ou paratraqueal transitória, que pode ou não ser visível na radiografia de tórax padrão. Alguns pacientes desenvolvem eritema nodoso nas pernas ou conjuntivite flictenular. Na maioria dos casos, a lesão cicatriza espontaneamente e torna-se evidente apenas na forma de um pequeno nódulo calcificado. A reação pleural sobrejacente a foco subpleural também é comum. O nódulo de Ghon, com ou sem reação pleural, espessamento e linfadenopatia regional subjacentes, é chamado de complexo de Ghon. Em crianças em tenra idade com IMC imaturo e nos indivíduos com comprometimento da imunidade (p. ex., aqueles com desnutrição ou infecção pelo HIV), a TB primária pode evoluir rapidamente para doença clínica. A lesão inicial aumenta de tamanho, podendo evoluir de diferentes maneiras. • O derrame pleural, observado em até dois terços dos casos, resulta da penetração de bacilos no espaço pleural a partir de um foco subpleural adjacente. • Nos casos graves, o local primário aumenta rapidamente, sua parte central sofre necrose, e verifica- Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. se o desenvolvimento de cavitação (TB primária progressiva). • A TB em crianças pequenas é quase sempre acompanhada de linfadenopatia hilar ou paratraqueal devido à disseminação de bacilos do parênquima pulmonar através dos vasos linfáticos. • OS LINFONODOS AUMENTADOS PODEM COMPRIMIR OS BRÔNQUIOS, CAUSANDO OBSTRUÇÃO TOTAL COM COLAPSO DISTAL, OBSTRUÇÃO PARCIAL COM SIBILO DE GRANDE VIA RESPIRATÓRIA OU EFEITO DE MOVIMENTO DE VÁLVULA (BALLVALVE EFFECT) COM HIPERINSUFLAÇÃO SEGMENTAR/LOBAR. • Os linfonodos também podem romper-se na via respiratória com desenvolvimento de pneumonia, frequentemente incluindo áreas de necrose e cavitação, distal à obstrução. Bronquiectasia pode se desenvolver em qualquer segmento/lobo lesionado por pneumonia caseosa progressiva. A disseminação hematogênica oculta geralmente acompanha infecção primária. No entanto, na ausência de uma resposta imune adquirida suficiente, que em geral contém a infecção, pode ocorrer doença disseminada ou miliar. Há desenvolvimento de lesões granulomatosas em múltiplos órgãos e elas podem causar doença localmente progressiva ou resultar em meningite tuberculosa; essa é uma preocupação especial em crianças em tenra idade e em indivíduos imunocomprometidos (p. ex., pacientes com infecção pelo HIV). ✓ DOENÇA PÓS-PRIMÁRIA (TIPO ADULTO): Também denominada TB de reativação ou secundária, a TB pós-primária provavelmente é mais precisamente chamada de TB do tipo adulto, pois pode resultar da reativação endógena de ILTB distante ou infecção recente (infecção primária ou reinfecção). • Localiza-se, geralmente, nos segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores, onde a tensão de oxigênio média consideravelmente mais alta (em comparação com a das regiões inferiores) favorece o crescimento das micobactérias. • Os segmentos superiores dos lobos inferiores também ficam frequentemente acometidos. • A extensão do comprometimento do parênquima pulmonar varia acentuadamente,desde infiltrados pequenos até doença cavitária extensa. • Com a formação de cavidades, o conteúdo necrótico liquefeito é, em última análise, liberado nas vias respiratórias e pode sofrer disseminação broncogênica, resultando em lesões-satélite dentro dos pulmões, que, por sua vez, podem sofrer cavitação. O comprometimento maciço de segmentos ou lobos pulmonares, com coalescência das lesões, provoca pneumonia caseosa. Enquanto até um terço dos pacientes sem tratamento sucumbem à TB pulmonar grave em poucas semanas ou meses após o início da doença (a “consunção de galope” clássica do passado), outros podem sofrer um processo de remissão espontânea ou seguem um curso crônico, progressivamente debilitante (“consunção” ou tísica). ✓ Nessas circunstâncias, algumas lesões pulmonares tornam-se fibróticas e, posteriormente, podem sofrer calcificação; entretanto as cavidades persistem em outras partes dos pulmões. Os indivíduos com essa doença crônica continuam eliminando bacilos da TB no meio ambiente. A maioria dos pacientes responde ao tratamento com defervescência, diminuição da tosse, ganho ponderal e melhora geral do bem-estar em várias semanas. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ NO INÍCIO DA EVOLUÇÃO DA DOENÇA, OS SINAIS E SINTOMAS SÃO FREQUENTEMENTE INESPECÍFICOS E INSIDIOSOS, CONSISTINDO PRINCIPALMENTE EM FEBRE DIURNA E SUDORESE NOTURNA CAUSADA POR DEFERVESCÊNCIA, PERDA DE PESO, ANOREXIA, MAL- ESTAR GERAL E FRAQUEZA. ✓ Todavia, em até 90% dos casos, surge finalmente a tosse – com frequência, inicialmente improdutiva e limitada à manhã e, mais tarde, acompanhada da produção de secreção brônquica purulenta, algumas vezes com estrias de sangue. ✓ Há desenvolvimento de hemoptise em 20-30% dos casos e pode ocorrer hemoptise maciça em consequência da erosão de vaso sanguíneo na parede de uma cavidade. Todavia, a hemoptise também pode resultar da ruptura de um vaso dilatado dentro de uma cavidade (aneurisma de Rasmussen) ou da formação de aspergiloma em uma cavidade antiga. ✓ Algumas vezes, surge dor torácica pleurítica em pacientes com lesões parenquimatosas subpleurais ou doença pleural. ✓ A doença extensa pode produzir dispneia e, em casos raros, síndrome da angústia respiratória aguda. ✓ Os achados físicos são de valor limitado na TB pulmonar. Muitos pacientes não apresentam anormalidades detectáveis ao exame de tórax, enquanto outros exibem estertores nas áreas acometidas durante a inspiração, particularmente após a tosse. ✓ Em determinadas ocasiões, podem-se auscultar roncos devido à obstrução brônquica parcial, bem como os sopros anfóricos clássicos em áreas com grandes cavidades. ✓ As manifestações sistêmicas incluem febre (frequentemente baixa e intermitente) em até 80% dos casos e emagrecimento. Entretanto, a ausência de febre não exclui a TB. ✓ Em alguns casos, aparecem palidez e baqueteamento dos dedos. ✓ Os achados hematológicos mais comuns consistem em anemia discreta, leucocitose e trombocitose com velocidade de hemossedimentação e/ou nível de proteína C-reativa ligeiramente elevada. ✓ Nenhum desses achados é compatível ou suficientemente preciso para propósitos diagnósticos. Foi também relatada a ocorrência de hiponatremia devido à síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR Por ordem de frequência, os locais extrapulmonares mais acometidos na TB são linfonodos, pleura, trato geniturinário, ossos e articulações, meninges, peritônio e pericárdio. Entretanto, praticamente todos os sistemas orgânicos podem ser acometidos. Em consequência da disseminação hematogênica em indivíduos infectados pelo HIV, a TB extrapulmonar é mais observada hoje do que no passado em cenários de alta prevalência de HIV. DELINEAR O TRATAMENTO DA TUBERCULOSE. -Bases bacteriológica; -Bases farmacológica; Esquema básico de tratamento. Os dois alvos do tratamento da TB são (1) evitar morbidade e morte ao curar a TB enquanto evita o surgimento de resistência ao fármaco e (2) interromper a transmissão, tornando os pacientes não infecciosos. A quimioterapia da TB tornou-se possível com a descoberta da estreptomicina em 1943. Estudos clínicos randomizados indicaram claramente que a administração de estreptomicina a pacientes com TB crônica reduzia as taxas de mortalidade e levava à cura na maioria dos casos. Entretanto, a monoterapia com estreptomicina foi subsequentemente associada ao desenvolvimento de resistência a esse fármaco e à consequente falha do tratamento. Com a introdução, na prática clínica, do ácido para-aminossalicílico (PAS) e da isoniazida, tornou-se um axioma no início da década de 1950 que a cura da TB exigia a administração concomitante de pelo menos dois fármacos aos quais o microrganismo fosse sensível. ➔ Além disso, estudos clínicos preliminares demonstraram que era necessário um longo período de tratamento – isto é, 12 a 24 meses – para evitar a ocorrência de recidiva. ➔ A introdução da RIFAMPICINA no início da década de 1970 anunciou a era da quimioterapia efetiva de ciclo curto, com duração de tratamento < 12 meses. ➔ A descoberta de que a pirazinamida, utilizada pela primeira vez na década de 1950, aumentava a potência dos esquemas de isoniazida/rifampicina, levou ao uso de um ciclo de seis meses desse esquema tríplice como padrão de tratamento. FÁRMACOS: Quatro fármacos principais são considerados agentes de primeira linha no tratamento da TB: 1. ISONIAZIDA, 2. RIFAMPICINA, 3. PIRAZINAMIDA E 4. ETAMBUTOL. Esses fármacos são bem absorvidos após administração oral, com níveis séricos máximos em 2-4 horas e eliminação quase completa em 24 horas, sendo recomendados com base na sua atividade bactericida (i.e., capacidade de reduzir rapidamente o número de microrganismos viáveis e tornar os pacientes não infectantes), sua atividade de esterilização (i.e., capacidade de matar todos os bacilos e, portanto, esterilizar os tecidos acometidos, medida em termos da capacidade de evitar Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. recidivas) e sua baixa taxa de indução de resistência a fármacos por seleção de bacilos mutantes. Duas rifamicinas adicionais, rifapentina e rifabutina, também estão disponíveis nos Estados Unidos; no entanto o nível de resistência cruzada com rifampicina é alto. Para uma discussão mais detalhada dos fármacos utilizados no tratamento da TB. Em razão de um menor grau de eficácia bem como de um maior grau de intolerabilidade e toxicidade, seis classes de fármacos de segunda linha costumam ser apenas utilizados no tratamento de pacientes com TB resistente aos fármacos de primeira linha. (1) OS ANTIBIÓTICOS FLUOROQUINOLONAS; (2) OS AMINOGLICOSÍDEOS INJETÁVEIS CANAMICINA, AMICACINA E ESTREPTOMICINA; (3) O POLIPEPTÍDEO INJETÁVEL CAPREOMICINA; OS AGENTES ORAIS (4) ETIONAMIDA E PROTIONAMIDA, (5) CICLOSERINA E TERIZIDONA (TERIZIDONA) E (6) PAS. A estreptomicina, anteriormente um agente de primeira linha, hoje raramente é utilizada para TB resistente a fármaco porque os níveis de resistência em todo o mundo são altos e também é mais tóxica do que outros fármacos da mesma classe; no entanto o nível de resistência cruzada com outros injetáveis é baixo. DAS QUINOLONAS, OS AGENTES DE ÚLTIMAS GERAÇÕES, COMO LEVOFLOXACINO
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