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AULA 01 - ORÇAMENTO PÚBLICO

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ORÇAMENTO E CONTABILIDADE PÚBLICA 
PARA CONCURSOS DA ÁREA DE GESTÃO E CONTROLE 
PROF. FERNANDO GAMA – PROFa. CRISTINA BATISTA 
 
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AULA 1 
 
1 – ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 
 
 A finalidade essencial do Estado é a realização do bem comum, O Estado atinge o 
bem comum por meio da satisfação das necessidades públicas, tais como segurança, 
educação, saúde, previdência, justiça, habitação. Para satisfazer essas necessidades 
públicas, de forma eficiente, o Estado precisa não somente arrecadar receitas, mas também 
gerenciar e aplicar corretamente os recursos arrecadados. 
 A atividade financeira é a ferramenta utilizada, pelo Estado, para obter receitas, 
criar o crédito público – endividamento público, gerir e planejar a aplicação dos recursos 
públicos – Orçamento Público, e aplicar os recursos nas despesas autorizadas pelo 
orçamento. 
 Para Aliomar Baleeiro: “Atividade financeira consiste em obter, criar, gerir e 
despender o dinheiro indispensável às necessidades, cuja satisfação o Estado assumiu”. 
ATENÇÃO: A atividade financeira do Estado resume-se em obter a receita pública, 
despender a despesa pública, gerir o orçamento e criar o crédito público. 
 Assim é competência do Estado, por intermédio da atividade financeira, a gerência 
dos recursos financeiros para garantir as necessidades públicas. As necessidades públicas, 
segundo Musgrave1, se dividem em necessidades sociais e necessidades meritórias. 
 As necessidades sociais são aquelas satisfeitas por meio dos serviços consumidos de 
forma geral e indivisível por todas as pessoas, independentemente de qualquer 
contribuição. Exemplo: segurança, defesa, justiça, desenvolvimento econômico social. 
 As necessidades meritórias são parcialmente atendidas pela iniciativa privada, diz-
se parcialmente porque parte da população é excluída por não possuir recursos para adquiri-
la. Devido a sua importância elas se tornam necessidades públicas e devem ser providas 
pelo Estado. Exemplo: saúde e educação. 
 Desta forma, necessidade pública é toda aquela de interesse geral, satisfeita pelo 
processo do serviço público, diretamente pelo Estado, ou por delegação a pessoas sob a 
supervisão do Estado. 
 
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 Musgrave, Richard Abel, Teoria das finanças públicas, São Paulo: Atlas, 1973. 
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 Interessante observar que a maior ou menor abrangência das necessidades públicas é 
fortemente influenciada pela teoria econômica predominante, As teorias predominantes, no 
decorrer do tempo, foram: 
Pensamento Liberal – Influência do pensamento dos economistas clássicos, destacando-se 
as idéias de Adam Smith, defende-se o Estado mínimo garantindo apenas as necessidades 
como justiça e segurança. 
 
Pensamento Socialista – Influência do pensamento dos economistas socialistas, 
destacando-se Karl Marx, defende-se o Estado máximo garantindo todas as necessidades 
coletivas, o Estado participa ativamente, inclusive, da atividade econômica. 
 
Pensamento Social - Democrata – Influência do pensamento Keynesiano, o Estado 
participa ativamente do processo produtivo, em fases de recessão ou depressão econômica, 
visando fomentar o emprego e a renda nacional. 
 
 
2 - INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA: O MOTIVO E AS FORMAS 
 
 O mercado gera diversos desequilíbrios, dentre os quais destacam-se: desemprego, a 
inflação, os déficits ou mesmo os excedentes do comércio externo. 
 Com a finalidade de evitar os desequilíbrios de mercado é necessário que o Estado 
intervenha para controlar os preços, a procura e o emprego/desemprego, evitar ou combater 
as crises inflacionárias ou de recessão econômica, procurando sempre o crescimento 
econômico. 
 Assim, a intervenção econômica é toda e qualquer ação estatal (comissiva ou 
omissiva), que pretenda alterar o comportamento econômico dos agentes privados, seja 
para prestigiar o mercado concorrencial, seja com fim estranho ao próprio mercado 
concorrencial, mas sempre vinculado ao interesse público. 
 Outra forma de atuação do Estado é no papel de interventor direto na economia, por 
intermédio da exploração de atividade econômica, que somente deve ocorrer em caráter 
excepcional. 
Ou seja, o governo intervém de várias formas na economia por meio dos seguintes 
instrumentos: política fiscal, política regulatória e política monetária. 
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Política Fiscal – entende-se a atuação do governo no que tange a arrecadação de impostos 
e aos gastos, além do cumprimento de metas e objetivos governamentais no orçamento. 
A arrecadação afeta o nível de demanda ao influir na renda disponível que os 
indivíduos poderão destinar para consumo e poupança. Quanto mais elevados os impostos, 
menor será a renda disponível e, portanto, o consumo. 
Os gastos são diretamente um elemento de demanda; dessa forma, quanto maior o 
gasto público, maior a demanda e maior o produto. 
Se a economia apresenta tendência para a queda no nível de atividade, o governo 
pode estimulá-la, cortando impostos e/ou elevando gastos. 
Caso o objetivo seja diminuir o nível de atividade. Qualquer aumento de imposto ou 
a criação de um novo, somente poderá entrar em vigor no ano seguinte à sua promulgação. 
Política Regulatória - engloba o uso de medidas legais como decretos, leis, portarias, etc., 
expedidos como alternativa para se alocar, distribuir os recursos e estabilizar a economia. 
Com o uso das normas, diversas condutas podem ser banidas, como a criação de 
monopólios, cartéis, práticas abusivas, poluição, etc. 
O Estado intervém na atividade financeira por meio de leis de combate ao abuso do 
poder econômico, proteção ao consumidor, e leis tributárias de natureza extrafiscal, 
estimulando ou desestimulando determinada atividade econômica por meio do seu poder de 
polícia. 
Política Monetária – envolve o controle da oferta de moeda, da taxa de juros e do crédito 
em geral, para efeito de estabilização da economia e influência na decisão de produtores e 
consumidores. Com a política monetária, pode-se controlar a inflação, preços, restringir a 
demanda, etc. 
Por meio de instrumentos administrativos, o Estado fomenta a atividade econômica, 
ao promover os financiamentos públicos a cargo das agências financeiras oficiais de 
fomento (BNDES, Banco do Brasil, CEF, dentre outros). 
 
3 – A RELAÇÃO DO ORÇAMENTO COM A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA 
ECONOMIA: CONEXÕES COM A ECONOMIA E COM A CONTABILIDADE 
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Muitos acreditam que as despesas e receitas governamentais têm a única finalidade 
de proporcionar o funcionamento das atividades desenvolvidas pelo Estado, como por 
exemplo: construção de escolas, manutenção das repartições públicas, saúde, etc. E 
desconhecem que o orçamento público também desempenha papel primordial como 
instrumento de intervenção econômica. 
 O orçamento é um instrumento de gestão e de intervenção por parte do Estado. 
Segundo a teoria keynesiana o orçamento é um instrumento de política econômica, na 
medida em que influencia a atividade econômica. Se, por exemplo, a economia entrar em 
recessão, decorrente da ineficácia da procura, o Estado pode compensar a diminuição das 
despesas privadas pelo aumento das despesas públicas. 
O orçamento pode ser expansionista ou recessivo. No orçamento expansionista 
temos elevados investimentos governamentais no Orçamento, o que provocará provável 
aumento do número de empregos, assim como a renda agregada melhorará. Já no recessivo 
temos um orçamento restrito em investimentos, que provocará desemprego, desaceleração 
da economia, e decréscimo no produto interno bruto. 
Utilizando os instrumentos de intervenção econômica de que dispõe,o Estado 
desenvolve as seguintes funções consubstanciadas no orçamento público: Função 
Distributiva, Alocativa e estabilizadora. 
Função Distributiva - A função distributiva tem como finalidade atenuar as injustiças e 
desigualdades sociais, através de uma distribuição mais igualitária da riqueza produzida em 
um país, já que o mercado por si só não consegue gerar a distribuição considerada justa 
pela maioria da sociedade. 
Para alcançar a igualdade considerada justa e desejada pela sociedade o governo 
utiliza-se de instrumentos como: transferências, impostos, subsídios, isenções, etc. 
A transferência de renda ocorre quando o governo tributa com alíquotas mais altas 
quem possui renda mais elevada, a exemplo das alíquotas progressivas do imposto de 
renda, e utiliza esses recursos financeiros para subsidiar os indivíduos das classes menos 
privilegiadas, oferecendo serviços público de saúde, educação, segurança, etc., de 
qualidade. 
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Outra forma de aplicar a função distributiva é a cobrança de impostos com alíquotas 
mais gravosas para produtos considerados supérfluos, que somente são consumidos pelas 
classes mais favorecidas economicamente, e a sua utilização para subsidiar os produtos de 
primeira necessidade que são, desta forma, adquiridos por preços menores pelas classes 
mais necessitadas. 
Função Alocativa - Existem certas atividades que pelo alto capital a ser aplicado, pelo 
longo tempo de retorno do capital, pelo baixo retorno ou mesmo por simples desinteresse 
da área privada, exigem a presença do Estado. 
Portanto, a função alocativa consiste na aplicação de recursos públicos, pelo Estado, 
nas atividades em que não houver interesse da área privada ou a presença do Estado se faz 
necessária, como, por exemplo: investimentos na infra-estrutura econômica: transporte, 
energia, comunicação, armazenamento; provisão bens públicos: infra-estrutura urbana, 
saneamento básico, meio ambiente; e semipúblicos ou meritórios: educação e saúde. 
Função Estabilizadora - Das três funções do Estado, esta é a mais recente e tem como 
objetivos principais: manutenção de um equilibrado nível de emprego, estabilidade dos 
níveis de preços, equilíbrio na balança de pagamentos e razoável taxas de crescimento 
econômico. 
O governo, por meio da função estabilizadora, atua sobre a economia aumentando 
ou diminuindo a demanda agregada. Se o objetivo for estimular a demanda os gastos 
públicos, com consumo e investimentos, podem ser aumentados ou os impostos reduzidos. 
No entanto se a intenção é conter a demanda, o governo diminuirá seus gastos ou 
aumentará os impostos, o que provocará a redução da renda e conseqüentemente dos níveis 
de consumo. 
Nesse sentido fica clara a importância do orçamento como instrumento de política 
fiscal estabilizadora, já que as alterações nas despesas do governo, bem como as alterações 
de alíquotas do impostos causam expressivos reflexos na demanda agregada. 
Além da utilização das políticas fiscais, a função estabilizadora também utiliza 
políticas monetárias para promover a estabilidade da economia, dentre as quais se 
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destacam: controle da quantidade de moeda no mercado, das taxas de juros e lançamentos 
de títulos públicos.

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