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Rebeka Freitas - Icterícia é a cor amarelada das conjuntivas, pele e mucosas, devido ao aumento dos níveis séricos de bilirrubina quando ultrapassa 2,5mg/dl. - A icterícia resulta de distúrbios em uma ou mais etapas do metabolismo da bilirrubina. - O metabolismo da bilirrubina possui uma fase pré-hepática, intra-hepática e pós-hepática. - A bilirrubina é um pigmento gerado pela degradação das hemácias senescentes (no baço); é uma substancia tóxica que, uma vez depositada, pode causar dano às células e, por isso, precisa ser eliminada. - Sequência: heme ⇾ biliverdina ⇾ bilirrubina não conjugada (indireta). - A bilirrubina não conjugada se liga a albumina e vai para o fígado; é captada por transporte facilitado e difusão; no hepatócito, ela é conjugada ao ácido glicurônico por meio da enzima UDP-glicuroniltransferase. - A bilirrubina conjugada é transportada para o canalículo, e depois é conduzida pelos ductos biliar e cístico para ser armazenado na vesícula biliar. - Da vesícula, a bilirrubina atinge a luz do duodeno através da papila duodenal, e depois segue para o intestino grosso. - No intestino grosso, as bactérias podem desconjugar a bilirrubina (15%) e também podem transformar a bilirrubina em urobilinogênio (85%), que é convertido em estercobilinogênio, que é convertido em estercobilina ⇾ coloração característica das fezes. - Apenas 1% da bilirrubina é eliminado pela urina na forma de urobilina. HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO-CONJUGADA - Anemia hemolítica, hemólise autoimune, anemia falciforme, talassemia e doenças mieloproliferativas podem aumentar a produção de bilirrubina. - Medicamentos como rifampicina e contrastes podem causar defeito na captação da bilirrubina. - Icterícia neonatal, Síndrome de Gilbert, Síndrome de Crigler- Najjar tipos 1 e 2 e alguns medicamentos podem causar defeito na conjugação da bilirrubina. HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA - Defeito na excreção da bilirrubina⇾ hiperbilirrubinemia conjugada. - São condições que podem gerar defeito na excreção da bilirrubina: • Síndrome de Dubin-Johnson; • Síndrome de Rotor; • Doenças hepatocelulares (hepatites virais, hepatopatia alcoólica, hepatite autoimune, cirrose biliar primária, colangite esclerosante primária); • Leptospirose; • Dengue; • Tuberculose; • Linfoma; • Amiloidose; • Obstruções das vias biliares (coledocolitíase, tumores peri- ampulares, linfoma, estenoses pós-cirúrgica). COLESTASE - Consiste na diminuição ou interrupção do fluxo biliar para o duodeno, decorrente do déficit funcional no polo biliar do hepatócito ou impedimento mecânico da drenagem biliar, intra ou extra-hepática. - Sinais e sintomas: • Colúria: nas icterícias colestáticas a bilirrubina direta (BD) reflui dentro do hepatócito, cai na corrente sanguínea, é Icter cia Rebeka Freitas filtrada pelos rins, com consequente coloração mais escura da urina. • Acolia fecal: as fezes ficam claras quando há obstrução mecânica total ao fluxo biliar pois a BD não chega até o intestino. • Elevação de enzimas hepáticas (principalmente fosfatase alcalina) e bilirrubinas. •Tríade de Charcot: icterícia+ dor abdominal+ febre com calafrios. • Pêntade de Reynolds: tríade de Charcot+ hipotensão + alteração do estado mental - Nas doenças obstrutivas das vias biliares, a colestase pode evoluir com colangite. - Tratamento: antibioticoterapia + desobstrução de vias biliares. - Colestase intra-hepática pode ser causada por: • Hepatites virais • Hepatite alcoólica • Esteato-hepatite não-alcoólica • Hepatite crônica • Colangite biliar primária • Medicamentos/Chás • Doenças infiltrativas: amiloidose, linfoma, tuberculose, sarcoidose - Colestase extra-hepática pode ser causada por: • Coledocolitíase • Tumores peri-ampulares (ex. neoplasia de pâncreas) • Colangite esclerosante primária • Estenoses de vias biliares pós-procedimentos • Obstrução por parasita (áscaris) • Colangiopatia pelo HIV - Anamnese na colestase: • Idade • Sexo • Profissão • História familiar • Contatos prévios • Antecedentes de cirurgia • Tatuagens • Transfusões sanguíneas • Perda de peso • Comorbidades concomitantes • Modo de início dos sintomas • Febre? ⇾ colangites, neoplasias e infecções secundárias. • Prurido? • Dor abdominal? • Colúria? • Acolia? • Perda de peso? ⇾ a ausência de sais biliares no intestino leva a má absorção secundária de vitaminas lipossolúveis ⇾ o quadro clínico pode associar-se a hipoprotrombinemia, osteomalacia, osteoporose e desnutrição com grande perda de peso. - Exame físico: • Inspeção (postura do paciente, mucosas, cicatrizes, xantomas, xantelasmas); • Estado mental (hipertensão portal, hálito); • Alterações da pele e mucosas (petéquias, equimoses, úlceras); • Abdome (visceromegalias, circulação colateral, ascite, tumores); • Sinais periféricos de hepatopatia crônica (cirrose hepática); • Flapping Rebeka Freitas - Avaliação laboratorial da colestase: • Lesão dos hepatócitos: haverá grande aumento das aminotransferases (AST e ALT) e pouco aumento de Fosfatase Alcalina e Gama GT. • Obstrução de vias biliares: pouco ou nenhum aumento de AST e ALT e grande aumento de Fosfatase Alcalina (FA) e Gama GT (GGT). - Na colestase intra-hepática, ocorre predomínio de Bilirrubina Direta (BD), com elevação de AST e ALT e pouca elevação de FA e GGT. - Alteração de função hepática: • Tempo de protrombina e RNI: estão alterados na intra- hepática (falência hepatocelular) e na extra-hepática (deficiência de absorção de Vit K). • Albumina: está baixa por deficiência de síntese hepática (na cirrose). - Avaliação por métodos de imagem: USG (detecta cálculos na vesícula), TC, RM, CPRM (detecta cálculos no colédoco), CPRE (detecta cálculos no colédoco), USG endoscópica (detecta lesão em submucosa). SÍNDROME DE GILBERT - Redução da atividade da glicorunil-transferase gerando hiperbilirrubinemia indireta. - Níveis de bilirrubina não ultrapassam 5 mg/dL. - Mais comum em homens jovens em situações de estresse (jejum, infecções, exercício intenso, falta de sono). -Geralmente assintomático, mas pode haver astenia e desconforto abdominal inespecífico. - Tratamento geralmente não é necessário. SÍNDROME DE CRIGLER-NAJJAR TIPOS 1 E 2 - Deficiência moderada-grave da glicorunil-transferase gerando hiperbilirrubinemia indireta. - Tipo 1: deficiência quase total da enzima, bilirrubina indireta (BI) pode chegar a 45 mg/dL; não é responsiva a fenobarbital e pode causar Kernicterus. - Tipo 2: Deficiência parcial, curso mais brando, BI chega até 25 mg/dL; há melhora com uso de fenobarbital . SÍNDROME DE ROTOR - Há um defeito no armazenamento da BD gerando hiperbilirrubinemia direta. - Bilirrubina se eleva até 5 mg/dL. - Geralmente outras provas hepáticas são normais. - Não há tratamento proposto. SÍNDROME DE DUBIN-JOHNSON - Defeito na excreção de BD gerando hiperbilirrubinemia direta. - Presença de pigmento castanho escuro no citoplasma das células hepáticas. - Pode elevar transaminases. - À biópsia: fígado enegrecido. - Não há tratamento proposto. CIRROSE HEPÁTICA - Processo patológico que se caracteriza por fibrose e nódulos de regeneração. - Causas: doença alcoólica do fígado, hepatites virais B e C, hepatite autoimune, esteato-hepatite não alcoólica, colangite biliar primária, colangite esclerosante primária, doença de Wilson, hemocromatose hereditária. - Complicações: insuficiência hepatocelular; hipertensão portal; carcinoma hepatocelular (CHC). - Sinais e sintomas de insuficiência hepatocelular e hipertensão portal: • Ascite, circulação colateral; • Encefalopatia hepática; • Icterícia; • Edema de MMII; • Ginecomastia; • Teleangiectasias; • Eritema palmar; • Esplenomegalia, plaquetopenia; • Varizes esofagogástricas. Rebeka Freitas - Avaliaçãofuncional da cirrose: Classificação de Child Pugh - “BEATA”: Bilirrubina; Encefalopatia; Ascite; TP; Albumina. - TP = tempo de pro-trombina ⇾ fator de coagulação. ➳ DOENÇA ALCÓOLICA DO FÍGADO - Espectro de injúrias hepáticas que resultam do uso do álcool. - Mulheres estão mais propensas à lesão hepática. - Risco maior: > 1 drink/dia (mulheres) e > 2 drinks/dia (homens). - Pode complicar e cursar com hepatite alcoólica. - Tratamento: abstinência alcoólica, transplante hepático. ➳ HEPATITE CRÔNICA B - Vírus de DNA; transmissão viral vertical, sexual, parenteral; - Tratamento com antiviral seguindo critérios; transplante hepático. - Diagnóstico: sorologias, carga viral. - HbsAg: indica existência do vírus no organismo. - Anti-Hbc IgM: indica infecção aguda. - Anti-Hbc IgG: indica cicatriz sorológica ou cronificação da infecção. - HbeAg: indica vírus em replicação; - Anti-Hbe: indica baixa replicação; -Anti-Hbs: indica vacinação (quando aparece sozinho, com todos os outros acima negativos) ou cura (quando aparece associado ao anti-Hbc IgG). ➳ HEPATITE CRÔNICA C - Vírus de RNA; transmissão parenteral (principal), sexual, vertical; - Diagnóstico: sorologias; carga viral; Anti-HCV (marcador crônico da hepatite C). - Tratamento: novos antivirais indicados para todos os pacientes; transplante hepático. ➳ HEPATITE AUTOIMUNE - Doença inflamatória imuno mediada. - Mais comum em mulheres, com dois picos de idade (10-30 anos e 40-60 anos). - Diagnóstico: • Anormalidades histológicas: hepatite de interface, infiltrado linfoplasmocitário, rosetas hepatocitárias; • Achados clínicos e laboratoriais: aumento de transaminases, IgG; • Presença de auto-anticorpos: FAN, anti-músculo liso, anti- LKM 1, anti-SLA; - Tratamento: imunossupressão (corticoide, azatioprina), transplante hepático. ➳ ESTEATO-HEPATITE NÃO-ALCOÓLICA - Injúria hepática não associada ao álcool muito comum em pacientes com síndrome metabólica. - Geralmente os pacientes são assintomáticos. - Pode haver elevação de aminotransferases e da ferritina. - Tratamento: perda ponderal, medicamentos em situações selecionadas, transplante hepático. ➳ COLANGITE BILIAR PRIMÁRIA - Doença colestática autoimune, de curso crônico, cuja etiologia parece ser uma combinação de fatores genéticos e gatilhos ambientais. - Mais comum em mulheres de meia-idade (> 40 anos). - Quadro clínico: fadiga, prurido, desconforto em HCD, xantoma, xantelasmas, pele seca, lesão de coçadura, icterícia em fases tardias. - Diagnóstico: 2 de 3 critérios: • Elevação da fosfatase alcalina > 6 meses; • Presença do anticorpo anti-mitocôndria; Rebeka Freitas • Biópsia hepática compatível: colangite crônica não-supurativa. - Tratamento: ácido Ursodesoxicólico, controle de prurido; transplante hepático. ➳ COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA (CEP) - Doença caracterizada por estenoses inflamatórias e fibróticas multifocais dos ductos biliares. - Doença inflamatória intestinal está presente em 70% dos pacientes com CEP (risco aumentado de colangiocarcinoma e câncer colorretal). - Mais comum em homens entre 30-40 anos. - Quadro clínico: icterícia, prurido, dor abdominal, colangite, aumento de enzimas hepáticas (principalmente colestáticas). - Diagnóstico: quadro clínico + achados de imagem (CPRM é o método de escolha). - Biópsia só é necessária diante da suspeita se exames de imagem normais. - Tratamento: não existe tratamento medicamentoso que altere a sobrevida; é realizado tratamento do prurido e das estenoses (CPRE); pode ser necessário transplante hepático. ➳ DOENÇA DE WILSON - Doença autossômica recessiva que resulta do transporte hepatocelular defeituoso de cobre. - Leva ao acúmulo de cobre no fígado e outros órgãos (SNC). - Acomete homens e mulheres igualmente entre 5 e 35 anos. - Quadro clínico: • Hepático: alteração laboratorial assintomática, hepatite aguda, cirrose; • Neurológico: disartria, axatia, parkinsonismo; • Psiquiátrico: depressão, irritabilidade, psicose; • Ocular: anéis de Kayser-Fleisher (AKF). - Diagnóstico: ceruloplasmina sérica, pesquisa dos AKF, cuprúria de 24h, biópsia hepática. - Tratamento: quelantes do cobre (D-penicilamina, tridentina), transplante hepático. ➳ HEMOCROMATOSE HEREDITÁRIA - Desordem autossômica recessiva caracterizada por excessiva absorção de ferro, causando sua sobrecarga. - Quadro clínico: fadiga, artralgia, cardiopatia, hepatopatia, diabetes, hipogonadismo hipogonadotrófico, artropatia, hiperpigmentação da pele. - Diagnóstico: cinética do ferro (ferritina + saturação de transferrina), testes genéticos. - Tratamento: flebotomias quando indicado, quelantes do ferro (Deferoxamina), transplante hepático.
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