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1 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof.ª Maria Clara – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 Pneumonia Brônquio: epitélio pseudoestratificado colunar ciliado Traqueia → brotos pulmonares → subdivisões em brônquios lobares (lado direito são três, enquanto o esquerdo são dois → bronquíolos (não possuem cartilagem) → ramificam em ácino pulmonar (alvéolo, ducto alveolar, e dos bronquíolos respiratórios). O ácino pulmonar é a unidade morfofuncional do pulmão. Alvéolo em sua estrutura O alvéolo são os saquinhos onde ocorre a troca gasosa. O revestimento do alvéolo é formado pelo epitélio pulmonar formado por pneumócitos tipo I e do tipo II. Inferiormente, tem-se o tecido conjuntivo de sustentação com as células intersticiais. Abaixo do TCPD temos o endotélio que tem função vascular. Os macrófagos alveolares são células soltas, células de vigilância, que estão em constante movimento para caso haja um agente infeccioso no pulmão eles cheguem no tecido o mais rápido para proteger a integridade do tecido. Os alvéolos tem pequenos furinhos que são espaços entre alvéolos adjacentes, chamado de poros de Kohn. Esses poros comunicam um alvéolo com outro, permite a passagem de células imunes, nutrientes, ar e, infelizmente, agentes invasores caso o pulmão seja infectado. Então, o poro de Kohn pode contribuir para uma infecção se alastrar. O ácino pulmonar é formado pelo saco alveolar, ducto alveolar e do bronquíolo respiratório. Figura 1: Histologia do ácino pulmonar. O ducto alveolar e o bronquíolo são importantes para transportar o ar para o saco alveolar. Pneumonia é o quadro de infecção do parênquima pulmonar que tenha expressão clínica, ou seja, que dá sinal e dá sintoma. Nas pneumonias os bronquíolos respiratórios e os alvéolos são preenchidos por exsudato inflamatório. A pneumonia intersticial é causada por vírus, e não aparece consolidação. Agentes: fungos, vírus, bactérias (na maioria dos casos pneumococo) e parasitas. A pneumonia pode ocorrer por microrganismos com duas características diferentes: Microrganismo altamente virulento, indivíduo saudável sem nenhuma doença prévia, e de repente ele tem pneumonia. Geralmente, essa pneumonia é causada por um microrganismo de alta virulência (chega e se implanta facilmente no pulmão), destrói o epitélio e causa doença. Ex.: Neisseria meningitidis, Streptococcus hemolyticus e o Streptococcus pneumoniae. Microrganismos com diferentes graus de virulência em indivíduos com baixa defesa pulmonar. A maioria dos vírus não consegue causar pneumonia, a não ser que o paciente apresente lesão prévia. Qual são os mecanismos de defesa do pulmão que podem ser comprometidos? Perda ou supressão dos reflexos de tosse – função de expelir muco, secreções e poluentes. Lesão do aparelho mucociliar – os cílios batem para levar as impurezas e os microrganismos para a via respiratória superior. Enquanto, o muco aprisiona os microrganismos. Acúmulo de secreções (exemplo: fibrose cística). Na fibrose cística os pacientes acabam produzindo muita secreção pulmonar e facilita a fixação do microrganismo. Congestão e edema pulmonar – causado por um problema cardíaco, por exemplo, devido a alteração do lado direito do coração, que vai levar a uma congestão pulmonar. Há o extravasamento de líquido no espaço aéreo, esse líquido é plasma rico em nutrientes, o que facilita o desenvolvimento da colônia bacteriana. Alterações da função dos macrófagos alveolares – se os macrófagos alveolares não funcionam a primeira linha de defesa pulmonar é perdida, permitindo que os microrganismos passem com uma facilidade muito maior. Gravidade da pneumonia depende de três componentes: Patogenicidade do agente – ou seja, ele é um dos agentes altamente virulentos? Se sim, mais chance de a pneumonia ser mais grave. Mecanismo de defesa – as defesas do pulmão estão integras? Tem cílio batendo, tem muco e tem reflexo de tosse? Se sim, abranda a infecção, se não a gravidade será maior. Capacidade de resposta do hospedeiro – sem presença de comorbidades, doenças crônicas ou imunodeficiências a gravidade será menor. 2 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof.ª Maria Clara – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 Combinando cada um desses três componentes se terá um caso mais brando ou mais grave de pneumonia. As pneumonias vão ser classificadas de acordo com quatro diferentes parâmetros: 1. Origem: podem ser hospitalares ou comunitárias. Hospitalar que são adquiridas durante uma internação ou que são adquiridas até 2 semanas depois de uma internação. Comunitária adquiriu no ambiente. 2. Etiologia: podem ser virais, bacterianas, fúngicas ou protozoários. 3. Lesões morfológicas: específicas (lesão patognomônica ou identificáveis) ou inespecíficas (a grande maioria das pneumonias estão nesse grupo) 4. Distribuição anatômica: pode ser dividida ainda em três grupos. a. Lobar: mais relacionada a bactérias b. Lobular ou broncopneumonia: mais relacionada a bactérias c. Intersticial: mais viral ou Mycoplasma sp. COVID-19 entra nesse grupo. A pneumonia bacteriana apresenta dois padrões de distribuição anatômica: broncopneumonia lobular e pneumonia lobar. A consolidação irregular do pulmão é uma característica dominante da broncopneumonia, enquanto a consolidação fibrinossupurativa de uma grande porção de um lobo ou de um lobo inteiro define a pneumonia lobar. Mais importante do ponto de vista clínico é a identificação do agente causador e a determinação da extensão da doença. Pneumonia lobar O lobo atingido consolida-se de forma homogênea, ou seja, processo inflamatório que se dissemina de forma uniforme por todo o lobo pulmonar acometido. Ocorre substituição do ar por exsudato inflamatório (consolidação). As vias aéreas maiores são poupadas (não ocorre na parte mais alta da arvore respiratória). Esse tipo de pneumonia está principalmente relacionado ao pneumococo. A pneumonia lobar tem 4 fases morfológicas distintas: congestão, hepatização vermelha, hepatização cinzenta e resolução. Essas fases acontecem uma após a outra na pneumonia lobar. A primeira fase é a congestão. O individuo se infecta por pneumococo. O agente etiológico acomete a árvore respiratória, se instala e se multiplica. O macrófago alveolar fagocita um pneumococo e vai apresentá-lo no linfonodo para iniciar a resposta inflamatória aguda. Ocorre extravasamento de liquido com o aumento da permeabilidade vascular e migração de neutrófilos. No inicio ainda não chegou neutrófilo, mas o vaso já dilatou e começa a chegar liquido no espaço alveolar, ocorre hiperemia edema com poucos neutrófilos no local e muitas bactérias, observado na micromorfologia. Figura 2: Pneumonia lobar. Na macromorfologia vê-se um pulmão pesado, mais denso e vermelho. É caracterizado por um ingurgitamento vascular, líquido intra-alveolar com alguns neutrófilos e muitas vezes a presença de numerosas bactérias. Na segunda fase ocorre a hepatização vermelha. O aumento da permeabilidade não deixou passar apenas líquido/ plasma, mas também permitiu a passagem de fibrina (molécula filamentosa que vai acometer o espaço alveolar e gerar fibrose). Quando a fibrina chega no espaço alveolar ela altera a consistência do pulmão. O pulmão saudável tem a consistência de esponja, elástico. Só que quando a fibrina passa para o interstício o pulmão fica com o aspecto mais duro, ele vai endurecer e lembrar a consistência hepática. Como o pulmão estava cheio de fluido com vaso dilatado, edema, vaso congestão, bactéria, neutrófilos tem-se hepatização vermelha. Na macroscopia o lobo fica firme, vermelho e desprovido de ar. Essa fase é a fase mais ativa da pneumonia, em que ocorre a maior destruição de microrganismos. Figura 3: Pneumonia lobar - hepatização vermelha. A terceira fase correspondea hepatização cinza. Nesse momento, praticamente já ocorreu a destruição de todas as bactérias. Mas, o tecido ainda está rico em células inflamatórias e fibrina. Ocorre a diminuição da hiperemia, pulmão deixa de ter aspecto avermelhado. Ocorre a desintegração progressiva dos eritrócitos e persistência de um exsudato fibrinossupurativo, fornecendo o aspecto macroscópico de uma superfície seca, castanho- acinzentada. A vasodilatação começa a regredir porque a 3 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof.ª Maria Clara – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 inflamação está acabando. Ocorre a degradação de fibras elásticas, lise de fibrina e o parênquima fica friável. Figura 4: Pneumonia lobar - hepatização cinzenta. Na micromorfologia se vê poucas bactérias, muitas células inflamatórias e muita fibrina. Além de pouco edema. A macromorfologia corresponde a um pulmão firme e pálido. No fim da degradação das fibras o parênquima se encontra mais friável. A quarta etapa, o estágio final, corresponde a resolução. Nesse período ocorre a digestão enzimática (lise) de fibrina por PTA (fator ativador do plasminogênio), os neutrófilos vão fazer apoptose, vão morrer e sumir do local. Ocorre a redução do exsudato. Assim, o pulmão reestabelece sua integridade, com ar nos alvéolos. Não gera sequelas, não há formação de fibrose, o septo alveolar não é comprometido, fica preservado. Assim, a capacidade ventilatória não é comprometida ao fim da resolução. A capacidade ventilatória só é comprometida durante a fase de congestão e de hepatização vermelha. Figura 5: Microscopia da pneumonia lobar. Pneumonia lobular ou broncopneumonia A pneumonia lobular tem como característica a presença de múltiplos focos inflamatórios supurativos agudos disseminados pelos lóbulos pulmonares. Também é uma lesão que acomete as vias aéreas distais. O exemplo de microrganismos que causa ela é o Staphylococcus aureus. Diferente da pneumonia lobar os microrganismos da pneumonia lobular promovem lesão no septo alveolar, gerando sequela e fibrose, sendo mais grave. Esse tipo de pneumonia acomete principalmente crianças e idosos, que tem a imunidade mais acometida. Na maioria das vezes, é multilobar e frequentemente bilateral e basal em razão da tendência de as secreções se acumularem nos lobos inferiores em decorrência do efeito da gravidade. Figura 6: Diferenças entre a apresentação da pneumonia lobar e lobular. Na mácula se vê focos inflamatórios com pus, ricos em neutrófilos, bactérias em geral que causam morte celular, necrose, uma vez que causam destruição dos septos alveolares. O material supurativo preenche brônquios, bronquíolos e espaços alveolares adjacentes. As vezes tem tantos focos inflamatórios purulentos que os focos confluem, formando abcessos. Em geral, essas lesões são elevadas, ressecadas, cinza- avermelhadas e amareladas e pouco delimitadas nas margens. Figura 7: Pneumonia lobular. No raio X os múltiplos focos de infecção irão se apresentar mais densos. Na microscopia da pneumonia lobular ocorre tudo ao mesmo tempo! Tem vasodilatação, com permeabilidade aumentada, tem edema, neutrófilos, bactérias e espaço alveolar sendo obstruído. 4 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof.ª Maria Clara – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 Figura 8: Pulmão com espaços aéreos repletos de edema, fibrina e filtrado inflamatório, com septo alveolar sendo destruído. Figura 9: Pneumonia lobular com os espaços aéreos preenchidos. A pneumonia lobular irá gerar sequela, redução da capacidade respiratória, uma vez que os septos são destruídos e vai ocorrer no processo resolutivo fibrose. Curso clínico das pneumonias por etiologia bacteriana: Febre alta de início abrupto, calafrios com tremores e tosse produtiva de escarro purulento; pacientes ocasionais podem apresentar hemoptise. Exame de imagem Todo o lobo é radiopaco na pneumonia lobar, enquanto existem opacidades focais na broncopneumonia. Pneumonia intersticial Pneumonia intersticial é a pneumonia mais relacionada com vírus ou com o Mycoplasma sp. E, ela recebe esse nome porque ocorre uma lesão no interstício, espaço entre as células. Pode ser uma lesão difusa ou zonal. A inflamação no interstício ocorre devido ao microrganismo se acomodar entre as células colunares, ou inclusive dentro da célula (quando a etiologia for viral). Na macromorfologia observa-se o aspecto de vidro fosco que indica a inflamação do interstício, desenhando o septo alveolar. Figura 10: Aspecto de vidro fosco mais próxima da pleura. A macroscopia da pneumonia intersticial é pouco especifica, observa-se em geral uma hiperemia inespecífica apenas, e lesões irregulares ou lobares Figura 11: Pulmão bem brilhoso porque está hiperemiado e congesto. Os pontos pretos são antracoses. É na micromorfologia que podemos observar a pneumonia intersticial com ela é. A inflamação ocorre no septo, assim há alargamento dos septos alveolares, ficam edemaciado. Ocorre a formação de infiltrado mononuclear, uma vez que vírus é combatido por linfócito, macrófagos, e, ocasionalmente, plasmócitos (normalmente, não há presença de neutrófilo, apenas em casos agudos). A célula imune que predomina é o linfócito. As vezes ocorre a formação de membrana hialina, fluido repleto de fibrinas e linfócitos que se forma na parede do septo (atapetamento), reduzindo a capacidade respiratória, podendo gerar o shunt alveolar. Pode ocorrer focos de necrose alveolar e bronquiolar. Figura 12: Espaço aéreo vazio. Edema na parede do septo repleta de células inflamatórias mononucleares e vasos congestos. O tratamento dessas doenças se dá na tentativa de impedir a destruição dos septos alveolares. A erradicação da infecção é seguida pela constituição da arquitetura normal do pulmão, quando não há maiores complicações. 5 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof.ª Maria Clara – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 A pneumonia intersticial pode assumir proporções epidêmicas, com severidade intensificada e maior mortalidade, como foi documentado pelas pandemias de gripe devastadoras de 1915 e 1918 e nas muitas epidemias menores desde então. A infecção bacteriana secundária por estafilococos ou estreptococos é comum nessas circunstâncias. No protocolo de COVID-19 são usados os anti retro virais, uma vez que são usados para outras pneumonias virais, uma vez que a etiologia é semelhante. Resumo da pneumonia intersticial: infiltrado, edema, a vaso congestão no interior do septo alveolar, levando ao seu alargamento. Tem focos de necrose e formação de membranas hialinas. Curso clínico das pneumonias intersticiais: Tosse pode estar ausente, e as principais manifestações podem consistir apenas em febre, dor de cabeça, dores musculares e dores nas pernas. O edema e a exsudação estão estrategicamente localizados, causando desequilíbrio da relação entre ventilação e fluxo sanguíneo e, consequentemente, produzindo sintomas desproporcionais em relação aos achados físicos escassos. Complicações Disseminação da pleura – a pneumonia intersticial ocorre muito próxima da pleura, quando há acometimento da pleura gera uma pleurite que pode resultar em derrame pleural. A disseminação da infecção para a cavidade pleural forma o empiema. A pleurite fibrinosa é reconhecida através da ausculta, barulho de cabelo arrastando, lixa de unha. Disseminação bactéria para coração, rins, baço ou articulações. Formação de fibrose e perda de função respiratória. Sintomas de pneumonia grave Febre alta de início abrupto Tosse produtiva e purulenta Dor pleurítica e atrito pleural (caso o paciente apresente pleurite) Outra complicação importante é o abcesso pulmonar – ocorre nas pneumonias onde o microrganismo é muito virulento pode ocorrer a formação de cavidadescom coleção de pus no interior, repletos de microrganismos e células inflamatórias (abcessos). Os abcessos tem o processo resolutivo com a formação de fibrose, o que indica gravidade, uma vez que se perde a capacidade respiratória do local. Na cavidade do abcesso observa-se o nível hidroaéreo. É particularmente comum a formação de abcesso em infecções por pneumococos tipo 3 ou Klebsiella. O abcesso pulmonar não vem só da pneumonia complicada, pode vir da broncoaspiração de material contaminado, infecções secundárias (principalmente, no paciente internado), êmbolo séptico originado de vegetação, e lesões torácicas perfurantes (instrumentos contaminados). A microscopia do abcesso contém restos celulares, células inflamatórias e microrganismos. Figura 13: Abcesso se apresenta com as mesmas características em qualquer órgão. Figura 14: Caverna do abcesso indicada pela mãozinha. Figura 15: Coleção de restos celulares e pus no parênquima, corresponde ao abcesso. 6 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof.ª Maria Clara – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1