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TUTORIA 3 – MÓDULO 1 | MILENA BAVARESCO GONDIN EPIDEMIOLOGIA ▪ O câncer de cólon ou colorretal é o 3º mais comum nos EUA e o segundo que mais causa mortes – ficando atrás apenas do câncer de pulmão. Costuma ser uma doença que se apresenta em idosos (ao redor dos 73 anos), porém cerca de 10% dos casos ocorrem em indivíduos com 50 anos ou menos. A incidência global e mortalidade diminuíram, porém a incidência tem aumentado em jovens. ▪ É um câncer que acomete mais homens do que mulheres (surge cerca de 5 a 10 anos antes), e em afro- americanos do que em brancos (surge também em cerca de 5 a 10 anos antes). ▪ É tratável e, na maioria dos casos, curável, ao ser detectado precocemente e não tiver se espalhado para outros órgãos. A estimativa de novos casos para 2020, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), é de 40.990, sendo 20.520 homens e 20.470 mulheres. FATORES DE RISCO ▪ Em geral, são de ocorrência esporádica e não familiar. A susceptibilidade ao câncer colorretal é associada as seguintes condições de risco: o História familiar de câncer colorretal. Em parentes de 1º grau, o risco aumenta em 1,7 vezes; o Idade ≥ 50 anos; o Sociedades ocidentais/urbanizadas; o Dieta rica em carne vermelha ou processada; o Aumento da flora anaeróbia intestinal; o Diabetes melito/resistência à insulina. O risco é 30% maior em comparação com não diabéticos; o Doença inflamatória intestinal (DII): doentes que apresentam doença de Crohn ou colite ulcerativa apresentam maior incidência desse câncer. Incidência essa que está associada com à gravidade, extensão e duração destas. A colectomia total elimina o risco de câncer de cólon; o Tabagismo; o Consumo de álcool; o Ureterossigmoidostomia: é um procedimento cirúrgico no qual os ureteres, que carregam a urina dos rins, são desviados para o cólon sigmoide. É um procedimento realizado para tratamento de câncer de bexiga, quando a bexiga urinária tem de ser removida (ficando assim pelo resto da vida); • Bacteremia por Streptococcus bovis; • Irradiação pélvica anterior. Falando mais especificamente dos fatores de risco associados as síndromes hereditárias, temos 3 exemplos principais: ▪ Polipose adenomatosa familiar (PAF) – responsável por < 1% dos cânceres de cólon: é uma doença rara, caracterizada pelo surgimento de milhares de pólipos adenomatosos (pequeno grupo de células que se forma na mucosa do cólon ou do reto) por todo o intestino grosso. o A predisposição tem herança autossômica dominante; casos sem história familiar indicam que o paciente foi quem sofreu a mutação espontânea que originou a doença. Dessa forma, é causada uma mutação no gene APC (polipose colônica adenomatosa) no cromossomo 5q21. o Essa alteração resulta na ausência de genes supressores tumorais, cujos produtos inibiriam, em condições normais, o crescimento neoplásico. A presença de pólipos colônicos associados a tumores dos tecidos moles e ossos, a hipertrofia congênita do epitélio pigmentar retiniano, tumores desmoides no mesentério e cânceres ampulares, caracterizam um subconjunto das poliposes colônicas denominado síndrome de Gardner. o Caso a polipose não seja tratada cirurgicamente, quase todos os pacientes terão câncer colorretal antes dos 40 anos. ▪ Câncer de cólon sem polipose hereditária (CCSPH) – responsável por até 6% de todos os cânceres de colo: também denominado síndrome de Lynch, tem como característica a presença de 3 ou mais parentes com câncer de cólon confirmado à histopatologia, sendo um deles parente de 1º grau dos outros dois, um ou mais casos de câncer colorretal na família diagnosticados antes dos 50 anos de idade e câncer colorretal em pelo menos duas gerações. o Está associada a mutações germinativas de vários genes, sobretudo do hMSH2 no cromossomo 2 e do hMLH1 no cromossomo 3, assim ocorrem erros na replicação do DNA resultando em proliferação celular anormal e aparecimento de tumores. Também é de caráter autossômico dominante. o Está associado a uma frequência elevada de câncer no colo proximal (secções ascendente e TUTORIA 3 MÓDULO 1 OBJETIVO 1 COMPREENDER EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO (INCLUSIVE A SEQUÊNCIA ADENOMA-ADENOCARCINOMA E SÍNDROMES GENÉTICAS), RASTREAMENTO E PREVENÇÃO DO CÂNCER DE CÓLON TUTORIA 3 – MÓDULO 1 | MILENA BAVARESCO GONDIN transversal). A idade mediana de surgimento de um adenocarcinoma é antes dos 50 anos. Recomenda- se que membros dessas famílias façam colonoscopia bianual a partir dos 25 anos de idade. ▪ MYH – responsável por < 1% dos cânceres colorretais: é um gene de reparo de excisão de bases, localizado no cromossomo 1. Mutações homozigóticas neste gene foram associadas a uma síndrome que forma múltiplo pólipos colônicos e câncer colorretal. É herdado de modo autossômico recessivo. SEQUÊNCIA ADENOMA-CARCINOMA ▪ Trata-se de um modelo de desenvolvimento de carcinoma a partir de lesões adenomatosas. Para o desenvolvimento do carcinoma são necessárias múltiplas mutações. Geralmente, mutações no gene APC são o evento que desencadeia o câncer de cólon esporádico em 85% dos casos. Mutações do gene APC irão influenciar no surgimento do câncer da seguinte forma: o O APC é responsável pela degradação da b- catenina; o Quando o APC está inativo ocorre acúmulo da b- catenina; o Em grande quantidade, a b-catenina se desloca para o núcleo celular e ativa a transcrição de genes responsáveis pela proliferação celular. ▪ É valido ressaltar que durante o processo de evolução do adenoma para carcinoma também ocorrem mutações adicionais, tais como: mutação do proto- oncogene (K-ras) e a perda de genes supressores de câncer adicionais (p53 e LOH), assim ocorrerão efeitos deletérios na sinalização celular, no crescimento normal e, por fim, inibindo a morte celular, ou seja, mais fatores facilitadores da proliferação anormal. RASTREAMENTO ▪ Este tipo de câncer, em sua maioria, é causado por pólipos adenomatosos. A progressão de pequenos pólipos -> pólipos adenomatosos -> pólipos maiores -> pólipos displásicos -> até gerar o câncer propriamente dito é de pelo menos 10 anos. ▪ As principais modalidades de rastreio são: colonoscopia a cada 10 anos se a primeira for negativa; colografia por TC a cada 5 anos naqueles que não farão coloscopia ou teste de sangue oculto nas fezes anualmente. ▪ O rastreamento do câncer de cólon tem por objetivo a detecção do tumor em estágios iniciais ou a identificação de lesões pré-cancerosas em pessoas assintomáticas. Segundo a Associação Americana de Gastroenterologia, o rastreamento é iniciado para pessoas de risco médio (pessoas sem histórico familiar de alto risco de neoplasia colorretal) a partir dos 45 anos, podendo interromper a triagem quando a expectativa de vida for < 10 anos. ▪ Pacientes de risco elevado (história familiar de câncer de cólon em parentes de 1º grau, história pessoal de câncer de cólon ou pólipo > 1 cm ou múltiplos pólipo de qualquer tamanho e portadores de doença inflamatória), deverão iniciar a triagem aos 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico do câncer de cólon no parente de 1º grau. PREVENÇÃO DO CÂNCER DE CÓLON ▪ Os AINES, o cálcio, o folato e estrogênios impedem o desenvolvimento de pólipos, porém não se tem uma prevenção bem definida para o câncer. Os antioxidantes não impedem o desenvolvimento do câncer de cólon. ▪ Dietas ricas em fibras também não são capazes de prevenir, ao passo que dietas ricas em carne vermelha/processada e pobres em peixe podem aumentar o risco desse câncer. A realização de atividades físicas e a manutenção do peso corporal adequado podem ter efeito protetor. TUTORIA 3 – MÓDULO 1 | MILENA BAVARESCO GONDIN SINAIS/SINTOMAS CÂNCER DE CÓLON DIREITO E ESQUERDO ▪ Pacientes com este tipo de câncer apresentam, em sua maioria, sintomas que podem ser emergentes.▪ Os sintomas mais comuns relacionados com a doença primária são: o sangramento retal, com ou sem anemia. o dor abdominal e alteração na função intestinal. ▪ Já os pacientes com doença sistêmica podem ter anorexia, perda de peso e sintomas relacionados com disfunção hepática (icterícia e ascite). ▪ É valido ressaltar que essas manifestações sintomatológicas irão variar de acordo com o local primário, ou seja, lesões proximais/à direita (ceco, cólon ascendente e cólon transverso) são mais propicias a: o sangramento (anemia ferropriva) e sintomas associados como fadiga e palpitação; ▪ Lesões distais/à esquerda (cólon descendente e sigmoide/retal) são mais propicias a: o obstrução, perfuração, alteração no formato das fezes e hematoquezia (sangue vermelho pelo ânus). ▪ Além disso, cânceres retais podem causar tenesmo e mudança no calibre das fezes (ex.: fezes em fita). PAPEL DOS MARCADORES TUMORAIS ▪ Marcadores tumorais ou marcadores biológicos são macromoléculas presentes no tumor, no sangue ou demais líquidos biológicos. Seu aparecimento ou alterações na sua concentração se relacionam com gênese e crescimento de células neoplásicas. ▪ A partir disso, essas substâncias passam a ser indicadores da presença de câncer, sendo produzidas pelo próprio tumor ou pelo organismo como tentativa de resposta. São úteis para diagnóstico, estadiamento, avaliação da resposta terapêutica, detecção de recidivas e prognóstico. ▪ O principal marcador tumoral utilizado na identificação do câncer de cólon é o CEA (antígeno carcinoembrionário). ▪ Em neoplasias malignas, níveis elevados de CEA são encontrados em 85% dos casos de carcinoma colorretal metastático. Apesar da alta presença nos casos de câncer colorretal, não se trata de um marcador específico, isso porque também pode ser encontrado em outras neoplasias malignas, tais como: o pulmão (52% a 77%); o pâncreas (61% a 68%); o trato gastrointestinal (40% a 60%); o trato biliar (80%); o tireoide (50% a 70%); o cérvice (42% a 50%); o mama (30% a 50%). ▪ No câncer colorretal a sensibilidade do CEA é cerca de 40% a 47% e a especificidade de 90% a 95%. Os níveis de CEA também são úteis para o prognóstico pré-operatório e tratamento. Além disso, o aumento crescente de CEA após tratamento indica recidiva. ▪ Após a realização do exame carcinoembrionário é necessário levar em consideração se a pessoa é ou não fumante, pois os valores de referência são distintos. Pessoas sem qualquer alteração maligna podem estar com a concentração um pouco aumentada, entretanto quando o valor é 5x superior ao valor de referência, pode indicar câncer com possível metástase. OBJETIVO 2 DISCUTIR OS SINAIS E SINTOMAS DO CÂNCER DE CÓLON DIREITO E ESQUERDO, PAPEL DOS MARCADORES TUMORAIS, ESTADIAMENTO E VIAS DE DISSEMINAÇÃO. TUTORIA 3 – MÓDULO 1 | MILENA BAVARESCO GONDIN ESTADIAMENTO ▪ Ter um estadiamento preciso é essencial para determinação do prognóstico e melhor estratégia terapêutica. ▪ Diferente de outros tumores sólidos, o câncer de cólon não é estadiado conforme seu tamanho. Dessa forma, o sistema de estadiamento do carcinoma colorretal do American Joint Committee on Cancer é: VIAS DE DISSEMINAÇÃO ▪ Em geral, cânceres de intestino grosso se disseminam para linfonodos regionais ou para o fígado (sítio visceral de metástase mais comum) por meio da circulação venosa portal. Cerca de 33% das recidivas a distância de tumores colorretais se iniciam no fígado, soma-se a isso a morte de 66% dos pacientes com doença hepática. ▪ Disseminação para pulmões, linfonodos supraclaviculares, ossos ou cérebro antes da disseminação no fígado são raros. A exceção ocorre em tumores do reto distal, nessa situação as células tumorais podem se disseminar pelo plexo venoso paravertebral (escapando do sistema venoso portal) e atingir pulmões ou linfonodos claviculares sem que acometa o fígado. ▪ O termo estomia ou stomia significa abertura, boca ou orifício. Dessa forma, os nomes de diversos tipos de estomias são dados pela associação do nome do órgão a ser exteriorizado com o sufixo estomia ou stomia (ex.: colostomia – tipo de estomia realizada no cólon; nefrostomia – tipo de estomia realizada no rim; ileostomia – tipo de estomia realizada no íleo). ▪ As estomias intestinais podem ser: o Temporárias: quando o problema que levou à sua realização é sanado e possibilita a reconstrução do trânsito intestinal, ou quando há reversão do trato digestório cirurgicamente. o Permanentes/definitivas: quando o problema acomete o segmento distal do intestino grosso, na porção do colo ascendente e sigmoide e o reto, impedindo o restabelecimento do trânsito intestinal. ▪ A colostomia é uma estomia de eliminação do tipo intestinal (muito comum). Nesse procedimento, é feita a exteriorização no abdome de uma parte do intestino grosso, o cólon, para eliminação de fezes/gases. o Geralmente, é realizada quando o indivíduo, por algum problema – câncer colorretal, doença diverticular dos colos, doença inflamatória intestinal, incontinência anal, polipose, trauma abdominal com perfuração intestinal, mega cólon e outros – não consegue evacuar pelo ânus. o Portanto, através da estomia realizada é possível eliminar fezes e gases que então serão coletadas em equipamentos coletores. OBJETIVO 3 A CIRURGIA DE INTESTINO GROSSO PODE TER VÁRIOS NOMES CONFORME O LOCAL DO CÓLON QUE VAI SER RETIRADO. O QUE É COLOSTOMIA? TUTORIA 3 – MÓDULO 1 | MILENA BAVARESCO GONDIN Como se sabe, o cólon é extenso e dividido em partes. Sendo assim, a colostomia também é classificada conforme o seu local de realização no cólon: ▪ Colostomia ascendente: realizada com a parte ascendente do cólon (lado direito do intestino grosso). São encontradas fezes líquidas ou semilíquidas nos primeiros dias após a cirurgia e pastosas após a readaptação intestinal. ▪ Colostomia transversa: realizada na parte transversa do cólon (entre o cólon ascendente e descendente). As fezes são de semilíquidas a pastosas. ▪ Colostomia descendente: realizada na parte descendente do cólon (lado esquerdo do intestino grosso). As fezes são de pastosas a sólidas e, no início, o funcionamento do estoma é irregular podendo eliminar fezes várias vezes ao dia, em diferentes momentos. Com o tempo, o funcionamento pode se regularizar, mas será sempre involuntário. ▪ Colostomia sigmoide: realizada na parte do sigmoide. As fezes são de firmes a sólidas (semelhante às fezes eliminadas pelo ânus), também é possível adquirir regularidade. ▪ Colostomia úmida em alça: realizada para permitir a saída de urina e fezes pelo mesmo estoma. É uma alternativa para pessoas que necessitam de dupla derivação (aparelho urinário e digestório). ▪ Mesmo se tratando de um procedimento de “alívio”, as estomias intestinais podem causar complicações correlacionadas com: idade, alimentação, técnica cirúrgica inadequada, esforço físico precoce, deficiência no autocuidado, infecções, aumento de peso, localização inadequada da estomia e uso incorreto de dispositivos prescritos. Então, as complicações mais comuns da estomia intestinal são: ▪ Abcesso: pode surgir na estomia ou no orifício de exteriorização da alça intestinal e é geralmente provocado por fungos ou germes anaeróbicos. ▪ Edema: ocorre pela infiltração de líquido nos tecidos próximos ao estoma e/ou pela mobilização da alça intestinal para sua exteriorização. Sua evolução deve ser acompanhada, pois pode provocar necrose por diminuição da irrigação sanguínea. ▪ Estenose: surge geralmente no terceiro mês de pós-operatório, quando ocorre estreitamento da luz da estomia, ocorrendo dificuldade crescente para eliminar o conteúdo intestinal. A correção poderá necessitar de tratamento cirúrgico. ▪ Foliculite: causada pela remoção traumática dos pelosda região periestomia ou remoção inadequada da bolsa, provocando lesão/inflamação na epiderme ao redor do folículo piloso. ▪ Varizes periestomiais: ocorrem com a dilatação das veias cutâneas ao redor da estomia de cor roxo-azulado. ▪ Hemorragia: pode ocorrer nas primeiras horas após a confecção da estomia, geralmente em decorrência da hemostasia inadequada durante a construção da estomia. Sangramentos pequenos podem ocorrer, porém se forem contínuos e abundantes deve-se procurar um atendimento hospitalar imediatamente. ▪ Hérnia periestomia: surge quando existe um espaço entre o segmento intestinal que forma a estomia e o tecido circundante, configurando um defeito, sendo o resultado de uma saliência total ou parcial na base da estomia. Indica-se cirurgia corretiva apenas quando a hérnia está causando muitos transtornos às atividades de vida diária. ▪ Necrose: pode ocorrer por isquemia arterial (insuficiência na chegada do sangue), ou por isquemia venosa (insuficiência na drenagem venosa do segmento exteriorizado). ▪ Prolapso: exteriorização inesperada total ou parcial do segmento da alça intestinal pela estomia de forma gradativa ou súbita. Esta complicação não é letal, mas causa problema de pele e grande dificuldade no cuidado com estomia. TUTORIA 3 – MÓDULO 1 | MILENA BAVARESCO GONDIN ▪ Retração: ocorre devido à má fixação ou insuficiente exteriorização da alça intestinal levando ao deslocamento da estomia para a cavidade abdominal. ▪ Lesão da pele periestomial: pode decorrer do contato com efluente ou produtos utilizados na pele periestomial. Esses agentes causam distúrbios nos mecanismos de defesa da pele, permitindo a penetração de substâncias nocivas e desenvolvendo processo inflamatório. As causas mais comuns de dermatite por trauma mecânico incluem técnicas de limpeza ou retirada traumática do dispositivo, fricção ou pressão contínua de dispositivos mal adaptados, ou troca frequente de bolsa coletora.
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