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3. Globaliazação

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Geografia 
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 01 
 
Globalização 
Globalização é o conjunto de transformações na ordem 
política e econômica mundial que vem acontecendo nas 
últimas décadas. O ponto central da mudança é a 
integração dos mercados numa "aldeia-global", explorada 
pelas grandes corporações internacionais. Os Estados 
abandonam gradativamente as barreiras tarifárias para 
proteger sua produção da concorrência dos produtos 
estrangeiros e abrem-se ao comércio e ao capital 
internacional. Esse processo tem sido acompanhado de 
uma intensa revolução nas tecnologias de informação - 
telefones, computadores e televisão. 
As fontes de informação também se uniformizam devido ao alcance mundial e à crescente 
popularização dos canais de televisão por assinatura e da Internet. Isso faz com que os desdobramentos 
da globalização ultrapassem os limites da economia e comecem a provocar certa homogeneização 
cultural entre os países. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O século XX chega ao seu final marcado por grandes transformações mundiais. Essas transformações 
podem ser encontradas em praticamente todas as dimensões da humanidade: o surgimento, a expansão 
e a crise do socialismo; as duas grandes guerras mundiais; a corrida espacial e a chegada do homem à 
Lua; o desenvolvimento da eletrônica e das comunicações e muitos outros. O mundo contemporâneo 
rompeu as distâncias, aproximando os povos; uniu e separou nações; fez emergir e fez sucumbir 
potências mundiais; disseminou guerras e colocou o planeta à beira do holocausto nuclear; a capacidade 
de destruição do homem alcançou níveis inimagináveis para qualquer ser humano. Mas colocou também, 
para toda a humanidade, mais do que nunca, o imperativo da solidariedade entre os homens. 
O desenvolvimento e as transformações que o modo capitalista de produção introduziu na sociedade 
contemporânea é o cimento com o qual uma nova ordem está sendo edificada. Mas o Mundo atual não 
pode ser compreendido sem o contraponto histórico do surgimento, da expansão e das crises do 
socialismo; sem entendimento da guerra fria e da geopolítica da bipolaridade travada entre EUA e URSS; 
e sem as profundas transformações que o capitalismo realizou. A formação dos grandes monopólios 
capitalistas denominados multinacionais é a expressão moderna da etapa monopolista do capitalismo 
mundial. A historia de sua formação reside nas crises de 1874 e de 1929. As duas guerras mundiais 
legaram novas organizações econômicas e políticas, e os Estados nacionais conheceram novas 
ordenações territoriais. A lógica que dominou o mundo do século XX foi àquela ditada por dois processos: 
a expansão geográfica do socialismo e a formação dos monopólios capitalistas. Com a crise que se 
abateu sobre os países socialistas no final da década de 80, a principal característica do mundo no fim do 
século XX passou a ser a mundialização do capitalismo. 
Expansão - O início da integração mundial remonta aos séculos XV e XVI, quando a expansão 
ultramarina dos Estados europeus possibilita a conquista de novos mercados. Outro salto na difusão do 
comércio e dos investimentos é dado pelas duas Revoluções Industriais, nos séculos XVIII e XIX. A 
interdependência econômica cresce até a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e é retomada no 
bloco capitalista após a II Guerra Mundial. Estimuladas pela queda de barreiras - decorrente, em grande 
parte, das políticas liberalizantes postas em prática pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt) e, 
atualmente, pela Organização Mundial do Comércio (OMC) -, as trocas mundiais aumentam de forma 
expressiva a partir dessa época. Em 1950 totalizam 61 bilhões de dólares, ao passo que em 1998 
atingem 5,2 trilhões de dólares. O fim da Guerra Fria, nos anos 80, inaugura um novo estágio da 
globalização: as trocas mundiais incrementam-se ainda mais por causa da transição das nações 
comunistas para a economia de mercado, e a expansão do comércio supera a do aumento da produção 
mundial. 
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Globalização financeira, nova ordem 
econômica mundial que modificou o papel do Estado na 
medida em que alterou radicalmente a ênfase da ação 
governamental, que agora é dirigida quase 
exclusivamente para tornar possível às economias 
nacionais desenvolverem e sustentarem condições 
estruturais de competitividade em escala global. Seus 
efeitos são de certa forma controversa. Por um lado, a 
mobilidade dos fluxos financeiros através das fronteiras 
nacionais pode ser vista como uma forma eficiente de 
destinar recursos internacionais e de canalizá-los para 
países emergentes. Por outro, a possibilidade de usar 
os capitais de curto prazo para ataques especulativos 
contra moedas são considerados como uma nova forma 
de ameaça à estabilidade econômica dos países. 
 
 
 
O ponto de partida da Globalização é o processo de internacionalização da economia, ininterrupta 
desde a Segunda Guerra Mundial. Por internacionalização da economia mundial entende-se um 
crescimento do comércio e do investimento internacional mais rápido do que o da produção conjunta dos 
países, ampliando as bases internacionais do capitalismo (incorporação de mais áreas e nações) e unindo 
progressivamente o conjunto do mundo num circuito único de reprodução das condições humanas de 
existência. 
A pré-história da globalização situa-se na década de 60, quando as áreas periféricas da economia 
mundial começaram a ser sacudidas pela expansão da empresa transnacional, pela “nova divisão 
internacional do trabalho” os empréstimos bancários "baratos" do mercado do eurodólar e o boom 
petroleiro mundial. Na década de 80, após a grande crise de meados dos 70/80, inicia-se uma nova 
história: o mundo industrial é sacudido por uma profunda reestruturação capitalista, sustentada 
tecnicamente na revolução informática e das comunicações, tornando possível a descentralização espacial 
dos processos produtivos. A nova tecnologia influi em todos os campos da vida econômica e revoluciona 
o sistema financeiro, pela conexão eletrônica dos distintos mercados. 
Esse processo é complementado pelas privatizações, desregulamentação e “flexibilização” dos 
mercados, agudizarão da concorrência internacional entre capitais privados e capitalismos nacionais, 
compondo-se um quadro que modifica o funcionamento do mercado mundial, acelerando a 
internacionalização e gerando um conjunto de fenômenos novos, dentre os quais destacam-se: 
(1) a crescente unificação dos mercados financeiros internacionais e nacionais num circuito único de 
mobilidade de capital; 
(2) a acelerada regionalização do espaço econômico mundial; 
(3) a generalização de associações entre as corporações transnacionais de diferente base nacional; 
(4) e necessidade de coordenação das principais políticas econômicas nacionais, traduzida na criação 
do G-7. 
O resultado foi uma nova configuração espacial da economia mundial, que passou a nomear-se 
globalização. 
Na segunda metade dos 80 e começos dos 90, dois fenômenos completarão as premissas espaciais da 
extensão da globalização ao conjunto do mundo: 
(1) a derrubada do socialismo de Estado na ex-URSS e no Leste europeu; 
(2) o desmoronamento dos nacionalismos corporativos do Terceiro Mundo, a partir dos processos 
conjugados de liberalização comercial e financeira, saída negociada da crise da dívida, estabilização 
financeira e monetária, e privatização massiva de empresas estatais. 
Entre as principais transformações históricas geradas na configuração do espaço mundial, destacam-se: 
(1) a suplantação do espaço parcelado dos três mundos anteriores por outro unificado em tomo domercado mundial capitalista; 
(2) o surgimento do fenômeno complementar de macrorregionalização do mundo, ao redor de três 
principais áreas: América do Norte, Europa Ocidental e Ásia Oriental, e outras secundárias; 
(3) a destruição dos anteriores Segundo e Terceiro Mundos, dando lugar a uma nova polarização 
internacional entre países semi-industriais (de crescente peso na economia mundial) e países pré-
industriais marginalizados (Dabat, 1994). 
 
 
A – Países Desenvolvidos (Centrais) 
B - Países Subdesenvolvidos (Periféricos) 
 
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 03 
Globalização no Brasil 
 
Desde a sua origem, o capitalismo integrou o mundo numa única economia, com as grandes 
navegações, a descoberta de novas rotas e terras e o colonialismo. No entanto, utiliza-se o conceito de 
globalização para indicar o processo relativamente recente da internacionalização das relações 
econômicas capitalistas, apoiado em novas tecnologias de transporte e telecomunicações e na ampliação 
da capacidade produtiva. 
Após a Segunda Guerra Mundial, essas tecnologias revolucionaram e eliminaram os obstáculos 
técnicos para uma maior integração da economia: o avanço das telecomunicações com uso da tecnologia 
de satélites, a popularização da informática, a maior eficiência dos meios de transportes internacionais e 
a expansão sem precedentes das empresas multinacionais conectaram o mundo todo. 
A Internet, por sua vez, possibilitou a formação não só de redes de comunicação instantânea, em 
tempo real, como redes de produção, de serviços (comércio e entretenimento) e de investimentos com a 
possibilidade de realização de atividades simultâneas entre os pontos mais distantes do planeta. 
Mas, somente há pouco mais de uma década o processo de globalização teve maior impacto no Brasil. 
No início dos anos de 1990, o país passou a adotar políticas econômicas neoliberais, abrindo seu mercado 
interno, reduzindo barreiras protecionistas, criando maiores facilidades para a entrada de mercadorias e 
de investimentos externos, como aplicações financeiras e investimentos produtivos. A ideia era contar 
com o capital estrangeiro para retomar o crescimento econômico. 
 
O neoliberalismo 
A concepção neoliberal foi formulada pela primeira vez em 1947 por Friedrich August Von Hayek. Ela 
partia do princípio de que o mercado deveria servir como base para organização da sociedade. Mas, a 
política econômica neoliberal foi aplicada inicialmente pelos governos de Margareth Thatcher (Reino 
Unido) e Ronald Reagan (Estados Unidos), a partir dos anos 1980. Tinha como finalidade o combate ao 
poder dos sindicatos e a redução do papel do Estado na economia (Estado Mínimo). Neste sentido, o 
Estado restringe a sua responsabilidade social e relega ao mercado e às empresas privadas parte dos 
seus encargos. 
O neoliberalismo propõe uma desregulamentação da economia (controles públicos menos rígidos das 
atividades econômicas), a privatização das empresas estatais como as usinas de energia, as indústrias de 
base, a construção e administração de estradas, a administração de portos e até parte de setores de 
fundamental interesse público como saúde e educação. Segundo o neoliberalismo, ao enxugar os gastos 
com políticas sociais e obras públicas, o governo tende a diminuir os impostos e estimular as atividades 
produtivas. Portanto, o livre funcionamento do mercado, sem controles inibidores do Estado, é o caminho 
para a elevação da produção e, consequentemente, geração de emprego e de renda, acarretando efeitos 
sociais positivos. 
 
A abertura econômica no Brasil 
No governo Collor, no início da década de 1990, os produtos importados passaram a invadir o 
mercado brasileiro, com a redução dos impostos de importação. A oferta de produtos cresceu e os preços 
de algumas mercadorias caíram ou se estabilizaram. Os efeitos iniciais destas medidas indicavam que o 
governo estava no caminho certo, ao debelar uma inflação, que havia atingido patamares elevados no 
final da década de 1980 e início da década de 1990, mas isso durou pouco tempo. 
Convém lembrar que Collor tomou também outras medidas, das quais a mais radical foi o sequestro 
da popança e dos depósitos bancários para diminuir a oferta de moeda em circulação, como instrumento 
de diminuir o consumo e baixar os preços dos produtos. 
Ao mesmo tempo, o governo passou a incentivar os investimentos externos no Brasil mediante 
incentivos fiscais e privatização das empresas estatais. No entanto, estes investimentos chegaram um 
pouco mais tarde, dado o receio dos investidores frente à instabilidade econômica do país naquele 
momento. 
O processo acelerado de abertura econômica, mais intenso no governo Fernando Henrique Cardoso, 
fez com que muitas empresas não conseguissem se adaptar às novas regras de mercado, levando-as à 
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falência ou a vender seu patrimônio. Muitas multinacionais compraram essas empresas nacionais ou 
associaram-se a elas. Em apenas uma década as multinacionais mais que dobraram sua participação na 
economia brasileira. 
O governo atual, embora não tenha dado sequência ao processo de privatização, não mudou a 
orientação da política econômica do governo que o antecedeu: deu sequência a ela de maneira mais 
radical, incentivando os investimentos estrangeiros com a manutenção de juros elevados e dedicando 
boa parte da arrecadação para cumprir rigorosamente os compromissos de pagamento de juros da dívida 
externa. 
 
O processo de privatização 
Nem todos os países incorporaram plenamente as ideias neoliberais. A China e a Índia, por exemplo, 
países que têm obtido grande sucesso econômico nas últimas décadas, adotaram uma abertura restrita e 
gradual. Nesses países, os investimentos produtivos das multinacionais foram realizados em associações 
com empresas nacionais. Mas não foi este o caminho seguido pelo Brasil. 
Aqui, a concessão para exploração do sistema de transportes, o fim da proibição da participação 
estrangeira nos setores de comunicação e o fim do monopólio da Petrobrás para a exploração de petróleo 
e a privatização de setores estratégicos ligados à energia e à mineração, foram medidas adotadas pelo 
país em curto espaço de tempo. 
Argumentava-se, que as estatais eram improdutivas, davam prejuízo, estavam endividadas, eram 
cabides de emprego, um canal propício à corrupção e sobreviviam somente devido aos subsídios 
governamentais. Mas as principais empresas privatizadas, como são os casos da Companhia Vale do Rio 
Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional, eram empresas lucrativas e competitivas, em condições de 
honrar seus compromissos financeiros e de ampliar as suas participações no mercado nacional e 
internacional. 
Não são poucas as críticas sobre a venda do patrimônio público. Uma delas aponta ao fato de que o 
dinheiro arrecadado pelo Estado brasileiro, através da privatização, foi emprestado pelo BNDES (Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Isto é, o governo financiou a juros baixos as 
empresas que ele próprio vendeu. 
Os recursos captados com o processo de privatização deveriam servir para diminuir a dívida pública 
(toda as dívidas do setor público, incluindo governo (federal, estadual e municipal) e empresas estatais, 
com empréstimos e emissões de títulos de dívida negociados a prazo e juros definidos). Mas seu objetivo 
foi inviabilizado em pouco tempo. A política de juros altos para conter a inflação e atrair investimentos 
externos, levou a uma elevação da dívida em valores superiores aos conseguidos com a venda das 
empresas estatais. 
Enfim, nesse processo de privatização, uma fatia expressiva dos negóciosfoi realizada por grandes 
corporações multinacionais, o que contribuiu ainda mais para a desnacionalização da economia brasileira. 
 
Economia Brasileira Contemporânea 
O final do período militar foi marcado pela 
eleição indireta, em 15 de janeiro de 1985, de 
Tancredo Neves, que não chegou a ser empossado 
porque estava doente. Seu vice, José Sarney, 
assumiria o cargo de presidente em 15 de março 
daquele ano. Nessa eleição, sem votação popular, 
os eleitores foram os parlamentares - deputados 
federais e senadores e alguns representantes dos 
partidos políticos que formavam o Colégio 
Eleitoral. Por conta do passado de apoio aos 
militares e por ter chegado indiretamente à 
presidência, Sarney teve dificuldades para 
governar e se preocupou em implementar 
reformas econômicas, em busca de apoio popular. 
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Embora tenha implantado posteriormente outros três pacotes testando estabilizar a moeda, seu 
governo ficou marcado pelo primeiro deles, o Plano Cruzado. Em 28 de fevereiro de 1986 ocorreu a 
troca da moeda nacional (mil cruzeiros passaram a valer um cruzado) e houve congelamento de preços e 
salários. Os salários foram definidos com base no poder de compra médio dos últimos seis meses e 
acrescidos de um abono de 8% (com exceção do salário mínimo, subiu 16%). Essas medidas, associadas 
à manutenção das datas de reajuste das categorias profissionais, aumento dos prazos de financiamento 
nos crediários para a compra de bens de consumo e controle da taxa de câmbio, promoveram rápido 
aumento no poder de compra dos assalariados. Esse quadro ajudou Sarney a reverter sua 
impopularidade. 
O plano contou com grande apoio da população e da parcela expressiva de economistas dos partidos 
de oposição. Ficaram famosos os fiscais do Sarney, pessoas denunciavam os estabelecimentos 
comerciais, principalmente os supermercados, que tentavam fraudar o plano e aumentar os preços de 
suas mercadorias. As taxas inflação tiveram uma queda vertiginosa, mantendo-se baixas até outubro de 
1986, e levaram o PMDB, partido presidente, a eleger os governadores de 22 dos 23 estados brasileiros 
então existentes (atualmente são 26). 
Nesse ano, por causa do aumento do poder aquisitivo e da dilatação dos prazos de financiamento, 
muitas famílias passaram a consumir mais produtos de vários gêneros, apesar dos juros elevados. 
Com o aumento da demanda, rapidamente começaram a sumir produtos das prateleiras, e a escassez 
- que em alguns casos era real, mas em outros era provocada por fabricantes e comerciantes que se 
recusavam a vender seus produtos pelo preço congelado - levou à cobrança de ágio na comercialização. 
Nessa época, como o Brasil possuía uma das economias mais fechadas do mundo ocidental (nossa 
abertura comercial se iniciou em 1990), não havia possibilidade de o governo liberar a importação de 
bens de consumo para combater o aumento dos preços. No caso da carne, os pecuaristas se recusavam a 
abater o gado e a escassez do produto criou um verdadeiro mercado paralelo, com a carne sendo 
vendida a preços muito superiores aos definidos pelo congelamento. 
A cobrança de ágio na comercialização de produtos e a falta da concorrência dos produtos importados 
somados à continua elevação nas cotações do dólar em relação à moeda nacional - que provocava a 
elevação de preços em todos os produtos importados, como petróleo, trigo e máquinas - e à manutenção 
do déficit público provocaram o rápido retorno dos reajustes de preços e, consequentemente, da inflação. 
Logo após as eleições de outubro de 1986 (para a escolha de novos governadores, senadores, 
deputados federais e estaduais), foi lançado o Plano Cruzado II, com grandes reajustes nas tarifas 
públicas e forte aumento nos impostos indiretos, reduzindo o poder de compra da população. Em 27 de 
fevereiro de 1987 foi abolido o controle oficial de preços e a correção monetária voltou ser mensal, para 
acompanhar o descontrole inflacionário, cuja consequência é a diminuição dos salários reais, o que 
provoca queda nas vendas e na produção, compromete o crescimento econômico, aumenta o 
desemprego e deteriora a qualidade de vida de expressivas parcelas da população. Nessa mesma data, 
foi decretada a moratória do pagamento da dívida externa, o que bloqueou imediatamente o ingresso de 
capital estrangeiro no país e criou grandes dificuldades de negociação no mercado internacional. 
Nos anos seguintes, o governo José Sarney se caracterizou por perda de legitimidade e o lançamento 
de outros três planos econômicos (Plano Bresser, “Política do feijão com arroz”; Maílson da Nóbrega e 
Plano Verão), todos com sérios problemas em sua realização. Apesar das sucessivas tentativas de 
controle, a principal herança desse governo foi uma altíssima inflação: 53% em dezembro de 1989, 
atingindo 85,12% em março de 1990, quando seu mandato se encerrou. 
Ao longo da década de 1980, a ciranda financeira e as altas taxas de inflação foram responsáveis por 
um período de estagnação na produção industrial. A necessidade de controlar a inflação e ajustar as 
contas externas - fortemente comprometidas com o aumento do preço do petróleo e das taxas de juros 
no mercado internacional - levou os governos de Figueiredo, o último da ditadura militar, e de Sarney a 
se preocuparem com ajustes de curto prazo na política econômica. Essa prioridade significou uma década 
inteira sem planejamento econômico de longo prazo, com exceção de alguns setores (política de reserva 
de mercado para informática e incentivo à exportação de celulose, por exemplo). Houve, nesse período, 
uma queda de 5% na participação da produção industrial no PIB brasileiro. 
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É preciso ressaltar ainda que, no campo da política econômica e do papel do Estado, o governo Sarney 
iniciou, timidamente, um processo de privatização de empresas estatais, começando a retirar o Estado do 
setor produtivo e concentrando sua ação na fiscalização e na regulamentação. Foram vendidas 17 
empresas, das quais as mais importantes foram a, Aracruz celulose, a Caraíba Metais e a 
Eletrossiderúrgica Brasileira (Sibra). 
 
Privatização e abertura econômica nos anos 1990 
Fernando Collor foi o primeiro presidente 
(1990-1992) eleito pelo voto popular após o fim 
da ditadura militar. Um dia depois da posse, o 
novo governo lançou um plano de estabilização 
econômica que ficou conhecido como Plano 
Collor, baseado no confisco, por 18 meses, dos 
depósitos bancários em dinheiro superiores a 50 
mil cruzeiros (cerca US$ 1,0 mil, em valores de 
janeiro de 2004) em todo o país. A falta de 
dinheiro em circulação reduziu a inflação, de 
85% março para 14% em abril de 1990. 
A liberação antecipada dos recursos retidos 
poderia ser feita pelo Ministério da Fazenda, que 
estudava os pedidos caso a caso. Podiam ser 
liberados depósitos de empresas para pagamento de salários e dinheiro de pessoas doentes que 
necessitavam de tratamento médico, entre outros casos. As demais empresas e trabalhadores receberam 
seu dinheiro de volta em 18 parcelas, que começaram a ser pagas após 18 meses de confisco. Segundo 
cálculos divulgados na época, o poder de compra do dinheiro devolvido havia se reduzido em 
aproximadamente 40%, uma vez que os índices de reajuste utilizados foram menores que os da inflação. 
Em outras palavras, mais do que um confisco, houve apropriação indébita. 
Essa liberação antecipada dos recursos confiscados se tornou grande fonte de corrupção no país. 
Como havia exceções que permitiam a liberação dos recursos bloqueados, as pressões exercidas por 
políticos e lobistas - profissionais especializadosem pressionar os poderes executivo e legislativo na 
busca de interesses pessoais ou empresariais -, as práticas de corrupção amplamente divulgadas pela 
imprensa e comandadas pelo tesoureiro da campanha eleitoral e a permissão para elevação de preços de 
alguns serviços privados e tarifas públicas levaram ao retorno da espiral inflacionária já no início de 1991, 
antes que o plano completasse seu primeiro ano. 
É importante esclarecer que os índices da inflação ocorrida após o Plano Collor foram menores que os 
da inflação anterior porque havia falta de dinheiro em circulação no mercado. A consequente recessão, 
porém, levou a um grande aumento do desemprego e da economia informal, uma vez que o plano não 
promoveu crescimento econômico, distribuição de renda, nem combate ao déficit público. 
 
 
 Os casos de corrupção envolvendo seu 
tesoureiro (Paulo César Farias, o PC), e sua 
esposa (Rosane Collor), que no comando da 
Legião Brasileira de Assistência (LBA), e 
vários outros setores do governo levaram à 
instala um processo de impeachment 
(impedimento) no Congresso Nacional. Em 
dezembro de 1992, antes que seu processo 
de cassação fosse votado em plenário, Collor 
renunciou e deixou como herança ao país 
uma inflação de 25 % ao mês. 
 
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Além do confisco monetário, o Plano Collor apoiava-se em três pontos: 
• diminuição da participação do Estado no setor produtivo por intermédio da privatização de empresas 
estatais e concessão de exploração de infraestrutura (como rodovias, portos, ferrovias e hidrelétricas) à 
iniciativa privada; 
• eliminação dos monopólios do Estado em telecomunicações e petróleo e fim da discriminação ao 
capital estrangeiro que, entre outros investimentos, poderia participar dos leilões de privatização; 
• abertura da economia ao ingresso de produtos e serviços importados por intermédio da redução 
e/ou eliminação dos impostos de importação, reservas de mercado e cotas de importação. 
Essas medidas tiveram continuidade ao longo da década de 1990 e primeiros anos do século XXI, 
durante os governos de Itamar Franco (que completou o governo Collor) e Henrique Cardoso. 
A abertura do mercado brasileiro aos bens de consumo e de produção, facilitada pela redução dos 
impostos de importação, merece uma análise à parte. A entrada de máquinas e equipamentos industriais 
de última geração provocou modernização do parque industrial e aumento da produtividade, portanto da 
capacidade de competição no mercado internacional; entretanto essas máquinas e equipamentos 
causaram grande elevação nos índices de desemprego estrutural. 
No setor de bens de consumo, a entrada de produtos importados de países que aplicavam elevados 
subsídios às exportações e pagavam baixíssimos salários (com destaque para a China, setores de 
calçados, têxteis e brinquedos) provocou a falência de indústrias nacionais, com a consequente elevação 
do desemprego. A concorrência com mercadorias importadas, no entanto, fez com que a qualidade de 
alguns produtos melhorasse e provocou significativa redução dos preços, beneficiando os consumidores. 
Na indústria automobilística, embora tenha havido grande redução no número de trabalhadores por 
unidade fabril, verificou-se significativo aumento do número de instalações industriais, com a entrada de 
novas fábricas que não produziam no Brasil (Honda, Toyota, Peugeot e outras) e novos investimentos de 
outras empresas que já estavam instaladas antes da abertura às importações, como a construção de uma 
nova fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia. 
Até o início da década de 1990 existiam indústrias automobilísticas somente em São Paulo e Minas 
Gerais. Com a abertura econômica houve ampliação no número de fábricas, dispersão espacial e 
diversificação de marcas nesse setor. 
Tanto a privatização de empresas estatais quanto a concessão de exploração dos serviços de 
transporte, energia e telecomunicações a empresas privadas apresentaram aspectos positivos e 
negativos, dependendo da forma como foram realizadas as transferências e dos problemas relacionados à 
administração e fiscalização. 
A maioria das empresas privatizadas dependia de recursos do governo e não pagava diversos tipos de 
impostos. Ao privatizá-las, os governos federal, estaduais e municipais trocaram uma fonte de prejuízos 
por uma maior arrecadação de impostos. Por exemplo, no setor siderúrgico a única estatal lucrativa era a 
Usiminas, que, estrategicamente, foi a primeira a ir a leilão, para que os investidores acreditassem na 
disposição de reforma estrutural do Estado brasileiro. Todas demais - Companhia Siderúrgica Nacional 
(CSN), Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), entre outras 
- eram deficitárias. Atualmente são lucrativas, aumentaram o volume de exportação do país e pagam 
impostos ao governo em suas três esferas. 
Nos setores de transportes e telecomunicações, além de as empresas serem deficitárias, os sistemas 
estavam completamente falidos e o Estado não possuía capacidade de investimento para recuperá-los. As 
rodovias estavam em péssimo estado de conservação, e uma linha telefônica chegava a custar R$ 
5.000,00 (praticamente 5.000 dólares) no mercado paralelo em 1995, três anos antes da privatização do 
sistema Telebrás. Além disso, as tarifas estavam completamente defasadas. Seu valor era estabelecido 
segundo conveniências políticas e manipulado para que não pressionassem as taxas de inflação, o que 
elevava o déficit público e acabava por alimentar a própria inflação. Com a privatização e a concessão de 
exploração dos serviços públicos, esses setores receberam grandes investimentos privados expandiram e 
passaram a operar em condições muito melhores que anteriormente, à custa de aumento nas tarifas. 
Entretanto, o Estado era acusado de vender seu patrimônio e abandonar a infraestrutura nas mãos da 
iniciativa privada, com claro prejuízo para a população. Até o início de 2004 o Estado continua legalmente 
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comandando todos os setores concedidos e privatizados por intermédio das agências reguladoras: 
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Agencia Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agencia 
Nacional do Petróleo (ANP), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), entre outras. 
Por meio dessas agências, o Estado brasileiro regula e fiscaliza os serviços e controla o valor das 
tarifas exercidas em cada um desses setores. Só há aumento no preço do pedágio, do pulso telefônico ou 
da energia elétrica se as condições estiverem estabelecidas no contrato. Para aumentar os preços, as 
empresas concessionárias devem cumprir metas de investimento, comprovar aumento de custos ou 
registrar em contrato que o reajuste estará atrelado a algum índice de inflação. Em alguns casos, até o 
percentual de lucro que as empresas podem obter está estabelecido em contrato, como no caso da 
Ecovias, concessionária das rodovias Anchieta e Imigrantes (SP), cuja margem de lucro não pode 
ultrapassar 11% ao ano sobre o capital investido. 
Entre os casos de má gestão, tanto por parte do governo quanto das empresas concessionárias, 
destaca-se o da energia elétrica. Em 2001, o racionamento imposto à população foi objeto de grande 
atenção. Esse fato se aplica por falta de planejamento estratégico, de fiscalização e de investimento no 
setor. 
A indexação de algumas tarifas públicas, não é suficiente, porém, para evitar problemas à população. 
Como não são indexados (os reajustes são negociados por setores e sindicatos), os salários não 
acompanham os reajustes dessas tarifas, que ano a ano aumentamseu peso nos orçamentos familiares. 
Uma grande crítica ao processo de privatização e concessão refere-se ao destino dado ao dinheiro 
arrecadado pelo Estado nos leilões - direcionado ao pagamento de juros da dívida interna, sem 
amortização do montante principal - e à desnacionalização provocada por esse processo. 
Com as privatizações e a abertura da economia brasileira, houve forte ingresso de capital estrangeiro 
em setores produtivos anteriormente dominados pelo Estado e por empresas de capital privado nacional. 
O ingresso de capital estrangeiro no setor produtivo reduz a dependência da economia brasileira ao 
capital especulativo, o que a torna mais sólida e mais bem estruturada, mas aumenta a saída de dólares 
como remessa de lucros e pagamento de royalties às matrizes das empresas que se instalaram no país. A 
desnacionalização da economia brasileira tende a aumentar a necessidade de crescimento nas 
exportações de produtos e serviços, substituição de importações, incentivo ao aumento no ingresso de 
turistas estrangeiros e outras medidas que ajudem a manter o equilíbrio do balanço de pagamentos do 
país. 
Apesar do exposto, o Brasil ainda tem uma economia muito fechada quando comparada à de outros 
países, tanto os desenvolvidos quanto alguns emergentes. Sua participação mundial é de apenas 0,9% 
nas exportações e 0,7% nas importações, enquanto a participação dos Estados Unidos, por exemplo, é 
de 10,7% e 18,0%, e a do México de 2,5% e 2,6%, respectivamente. 
Dessa forma, podemos concluir que a partir de 1990, ano em que se iniciou a abertura econômica e a 
retirada do Estado do setor produtivo, por meio da privatização de empresas estatais e concessão de 
exploração da infraestrutura, os sucessivos déficits públicos se transformaram em superávits à custa de 
maior desnacionalização da economia, o que aumenta o fluxo de royalties e remessas de lucros. Em 
contrapartida, a acelerada modernização de todos os setores da economia fez aumentar a 
competitividade da nossa produção agrícola e industrial no mercado internacional. 
 
O Plano Real 
Com a renúncia de Collor, seu vice-
presidente, Itamar Franco, assumiu o comando 
do governo brasileiro por pouco mais de dois 
anos - de outubro de 1992 até o final de 1994. 
Nos, primeiros sete meses de seu mandato três 
ministros passaram pela pasta da Fazenda, e as 
taxas de inflação se mantiveram muito altas. 
Em maio de 1993, o presidente transferiu 
seu ministro das Relações Exteriores, Fernando 
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Henrique Cardoso, para o Ministério da Fazenda. A intenção era a de colocar no cargo um político com 
livre trânsito entre os vários partidos políticos que compunham o Congresso Nacional na época. O 
governo tentaria iniciar o processo de estabilização econômica por intermédio de uma negociação 
política, conduzida diretamente pelo ministro da Fazenda. A primeira medida adotada foi a de cortar três 
zeros da moeda corrente e passar a chamá-la de cruzeiro real – ato ineficiente, e de fundo meramente 
psicológico, que não reduziu a inflação. 
O Plano Real, que permitiu controlar a inflação depois de sete pacotes anteriores, foi lançado em 
março de 1994 e se baseava na paridade entre a nova moeda (o real) e o dólar, com cotação de R$ 1,00 
= US$ 1,00. Para conseguir controlar o câmbio, o governo elevou as taxas de juros, com a intenção de 
atrair capitais especulativos no mercado externo e aumentar as reservas de dólares no Banco Central. Na 
lógica desse plano, à medida que se consolidasse a estabilização da moeda e o Congresso Nacional 
aprovassem as reformas estruturais necessárias ao controle do déficit público (principalmente a reforma 
da previdência, a tributária e a trabalhista), haveria capitais produtivos e o Banco Central poderia reduzir 
as taxas de juros sem comprometer o desenvolvimento econômico. 
Antes da substituição do cruzeiro real pelo real, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), cuja a 
cotação diária acompanharia a cotação da moeda norte-americana. A partir de 1ª de março de 1994 a 
URV passou a valer um dólar e a população deveria acompanhar a variação de preços nas cotações das 
duas moedas: O cruzeiro real, que perdia valor diariamente, e a URV, cujo valor deveria variar pouco. Na 
prática, a inflação em cruzeiro real era a inflação brasileira, mas a população não deveria aceitar 
aumentos de preços em URVs, porque isso significaria inflação em dólar, que nos Estados Unidos era 
inferior a 5% ao ano. 
Depois de três meses, quando considerou aceitáveis os índices de inflação em URV, o governo 
substituiu o cruzeiro real pelo real e garantiu a conversão inicial da nova moeda pela cotação R$ 1,00 = 
US$ 1,00. 
Nos três primeiros anos de sua vigência, o Plano Real proporcionou grandes avanços ao país, o que 
garantiu a vitória de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 1994 e de 1998. De 
imediato, houve aumento de mais de 25% no poder aquisitivo da população de baixa renda, como 
resultado do controle da inflação, que nunca era repassada integralmente aos salários nas épocas de 
reajuste. Esse aumento no poder de compra incluiu no mercado de consumo muitas famílias que estavam 
abaixo da linha de pobreza, promovendo crescimento na produção industrial. 
Entretanto a falta de empenho do governo e a conduta da oposição, sempre contrária aos projetos de 
reforma enviados ao Congresso, associadas ao déficit comercial resultante da manutenção de uma taxa 
de câmbio irreal e à ocorrência de crises externas que reduziram o fluxo de dólares na economia 
brasileira, obrigaram o Banco Central a manter os juros elevados. A manutenção de juros altos inibe o 
desenvolvimento das atividades produtivas, ou seja, limita o crescimento do PIB. 
Nesse contexto, a partir de 1997, os ganhos de renda da população de menor poder aquisitivo foram 
anulados pelo aumento dos índices de desemprego e de inflação não repassada aos salários. Mesmo em 
índices considerados aceitáveis, a inflação acumulada ano a ano reduziu poder aquisitivo dos 
assalariados, concentrando ainda mais a renda. 
Ao longo da campanha eleitoral de 1998, o Brasil sofreu um forte ataque especulativo, o que levou o 
governo a abandonar o compromisso de manutenção das taxas de câmbio da época, aproximadamente 
R$ 1,30 por dólar, e em janeiro de 1999 houve uma maxidesvalorização do real, que subiu de cerca de 
R$ 1,60 para R$ 2,20. Essa nova cotação deu início a um aumento nas exportações e redução no volume 
de bens importados. 
Num primeiro momento, essa desvalorização cambial provocou aumento nos índices de inflação, uma 
vez que vários insumos e bens de produção importados (como trigo, petróleo e equipamentos de 
comunicação e informática) ficaram mais caros e a população em geral, novamente, teve perda em seu 
poder aquisitivo. Depois que esse aumento foi repassado ao preço dos produtos, entretanto, a 
desvalorização cambial permitiu que vários setores industriais aumentassem sua produção, porque 
muitos bens de consumo e de produção, anteriormente importados, ficaram mais caros no mercado 
interno. Embora involuntária esta foi uma prática de protecionismo. A redução no volume das 
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importações, associada ao aumento nas exportações, reduziu - mas não eliminou a vulnerabilidade da 
economia brasileira e sua dependência ao ingresso de capital estrangeiro. 
Ao longo do governo Fernando Henrique os índices de crescimento econômico foram muito baixos e o 
desemprego continuou em índices muito elevados. Esses fatores, associados à consequente perda de 
poder aquisitivo dos assalariados a partir de 1997, levaram à derrotade José Serra (PSDB), candidato 
que sempre discordou das políticas monetária e cambial do governo de Fernando Henrique, contra Luiz 
Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições de 2002. Durante a campanha eleitoral de 2002 e durante o 
período de transição entre o governo de Fernando Henrique e o de Lula, a moeda norte-americana 
novamente sofreu forte valorização especulativa, chegando e ser cotada a R$ 4,00. 
Com o início do novo governo, sem mudanças bruscas quanto à política econômica vigente (aumento 
do superávit primário, chegando a 4,25% do PIB, elevação nas taxas de juros do Banco Central, 
atingindo 26,5% em abril de 2003, garantia de cumprimento dos contratos e encaminhamento das 
reformas previdenciária e tributária), a cotação do dólar recuou, em dezembro de 2003, para cerca de R$ 
2,90 e as taxas de juros caíram para 16,5% ao ano, o que poderia possibilitar a retomada do tão 
almejado crescimento econômico associado a uma política eficaz de distribuição de renda, com resgate 
da enorme dívida social em nosso país. Ao dar continuidade à política econômica do governo Fernando 
Henrique e agravar a recessão, Lula melhorou a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil - o 
risco-país reduziu de cerca de 2.000 para aproximadamente 500 pontos, aumentou a cotação dos títulos 
da dívida pública emitidos pelo governo brasileiro -, e com isso houve uma retomada da captação de 
empréstimos no exterior, feitos por empresas brasileiras. (Esse fluxo estava estagnado desde a 
campanha eleitoral). O aumento da oferta de dólares na economia também foi decisivo para a queda da 
cotação da moeda norte-americana em relação ao real ao longo de 2003. 
Em resumo, entre 1994 e 1999 foi 
possível controlar a inflação 
intervinda no câmbio, o que gerou 
sobrevalorização da nossa moeda e 
grande déficit na balança comercial. 
Para financiar esse déficit, o país 
passou a depender da entrada de 
capitais especulativos, atraídos por 
uma política de juros internos 
elevados. Em contrapartida, a 
manutenção dos juros altos por 
vários anos resultou no aumento do 
déficit público, aumento da dívida 
interna e baixos índices de 
crescimento econômico (de 1995 a 
1999, a produção industrial brasileira 
cresceu média apenas 1,2% ao ano). 
Com a desvalorização cambial de 
janeiro de 1999, o comércio exterior 
brasileiro passou a apresentar superávits em 2001, mas somente a partir de outubro de 2003 foi possível 
reduzir os juros. Caso essa redução se mantenha, a tendência é a de o setor produtivo, seja em 
atividades industriais e agrícolas, seja em serviços, receber aplicações financeiras e outros recursos 
especulativos, gerando crescimento econômico e novos empregos.

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