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Anemia ferropriva

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Anemia ferropriva 
Referência: Tratado de Pediatria Nelson 20°ed; Medcel 2020; Tratado de 
Pediatria SBP 4°ed. 
Um recém-nascido a termo contém cerca de 0,5 g de ferro, em comparação com 
5 g de ferro em adultos. Essa variação na quantidade de ferro desde o nascimento até a 
maioridade significa que uma média de 0,8 mg de ferro deve ser absorvida a cada dia 
durante os primeiros 15 anos de vida. Uma pequena quantidade adicional é necessária 
para equilibrar as perdas normais de ferro pela renovação das células. Portanto, é 
necessário absorver cerca de 1 mg por dia para manter o balanço positivo de ferro na 
infância. Como geralmente menos de 10% do ferro da dieta é absorvido, uma ingestão 
alimentar de 8-10 mg de ferro por dia é necessária para manter os níveis de ferro. A 
criança amamentada com leite materno absorve o leite 2-3x mais do que a que é 
amamentada com leite de vaca. 
Etiologia: 
 ‐na ‐ 
 
 (alto volume sang 
 . A concentração relativamente elevada de hemoglobina 
do recém-nascido cai durante os primeiros 2-3 meses de vida, por isso uma quantidade 
considerável de ferro é reciclada. Essas reservas de ferro são normalmente suficientes 
para a formação do sangue nos primeiros 6-9 meses de vida de crianças nascidas a 
termo. As reservas são esgotadas mais cedo em bebês com baixo peso ao nascer ou 
lactentes com perda de sangue perinatal porque seus estoques de ferro são menores. 
O tratado de pediatria da SBP detalha que existe uma anemia ferropriva meio 
que fisiológica no RN entre 6-12 seman 
 ‐ 
 
 
 
maior do que aquela que a Hb circulante possa fornecer. Assi 
 
 - 
 ‐nascidos a termo, de peso 
 
 
vida. 
O clampeamento retardado (em 1-3 minutos) do cordão umbilical pode melhorar 
os níveis de ferro e reduzir o risco de deficiência de ferro, enquanto o clampeamento 
precoce (em menos de 30 segundos) coloca a criança em risco de deficiência de ferro. 
As fontes dietéticas de ferro são especialmente importantes nessas crianças. Em bebês 
nascidos a termo, a anemia causada exclusivamente pela quantidade de ferro 
inadequado na dieta geralmente ocorre aos 9-24 meses de idade e é relativamente 
incomum depois disso. 
Entre todas as faixas etárias, a mais afetada pela anemia ferropriva está entre 9-
24 meses. Na adolescência, a anemia carencial está relacionada à fase de estirão, quando 
há maior consumo de ferro para crescimento muscular. Está muito associado também a 
menorragia e a adolescentes grávidas. 
Outra questão associada com a anemia, principalmente a crônica, é a perda de 
sangue nas fezes. Isso pode acontecer devido a problemas no trato gastrointestinal 
(como pólipo, divertículo, úlcera) ou pelo leite de vaca (independente de a pessoa 
possuir intolerância ou alergia, o leite de vaca causa micro-hemorragias intestinais). 
Sendo assim, é positivo para a criança que seja amamentada por bastante tempo e que se 
atrase a introdução do leite de vaca na dieta. Parasitoses também pode gerar sangue 
oculto e por consequência anemia crônica. 
Quadro clínico: 
A maioria das crianças com anemia ferropriva é assintomática e são 
identificadas por triagem laboratorial recomendada aos 12 meses de idade. Existem 
contudo, alguns sintomas que podem acontecer, como palidez, irritabilidade, letargia, 
anorexia e insuficiência cardíaca de alto débito. Existe uma associação entre anemia 
ferropriva e atrasos neurocognitivos. 
OBS: a palidez é o principal sinal de anemia grave 
Outras consequências não hematológicas da deficiência de ferro incluem pica 
(do latim pega) ou alotriofagia, o desejo de ingerir substâncias não nutritivas, e 
pagofagia, o desejo de ingerir gelo. A pica pode resultar na ingestão de substâncias 
contendo chumbo e resultar concomitantemente no saturnismo (intoxicação por 
chumbo). 
Achados laboratoriais: 
Inicialmente, as reservas de ferro ficam esgotadas. Observa-se, então, a 
diminuição de ferritina, que é a proteína de armazenamento do ferro. Depois, temos que 
a capacidade de ligação do ferro no soro aumenta, e isso é indicado pela redução da 
saturação da transferritina. À medida que diminuem os estoques de ferro, o ferro se 
torna indisponível para o complexo com a protoporfirina para formar heme. 
Protoporfirinas eritrocitárias livres se acumulam, e a síntese de hemoglobina é 
prejudicada. Neste ponto, a deficiência de ferro evolui para anemia ferropriva (começa a 
cair a quantidade de hemoglobina). Como tem menos hemoglobina, as hemácias ficam 
se tornam irregulares, adquirem tamanhos diferentes entre si. Nota-se no exame 
laboratorial redução do volume corpuscular médio e da hemoglobina corpuscular média. 
Obs: perceba que começa a considerar anemia ferropriva quando cai o índice de 
hemoglobina. 
A dosagem de hemoglobina identifica apenas o último estágio da depleção de 
ferro no organismo, o processo de redução das reservas de ferro começou bem antes de 
o exame laboratorial apontar a queda de hemoglobina. 
A quantidade de hemácias também diminui, e os reticulócitos podem estar 
normais ou aumentados. O esfregaço de sangue revela hemácias microcíticas (VCM 
BAIXO) e hipocrômicas (HCM, CHCM) e com elevado índice de anisocitose (RDW 
ELEVADO). Hemácias elípticas (eliptocitose) ou em forma de charuto são 
frequentemente observadas. 
 
 
Para ajudar no diagnóstico é fundamental pensar nos grupos de risco e nos 
fatores de risco envolvidos na anemia: 
Grupos de risco: lactentes e adolescentes (por conta do crescimento acelerado), 
prematuros/baixo peso (já nascem com pouca reserva, as reservas de ferro são feitas no 
terceiro trimestre de gestação), gestantes (deficiência de ferro na gestação aumenta risco 
de morte materna – 40% dos óbitos maternos se relacionam com anemia – e os filhos de 
mães anêmicas precisam de mais ferro do que o leite materno pode oferecer). 
Fatores de risco: condição inadequada de gestação e parto,desmame precoce, 
infecções, condições socioeconômicas e estado nutricional. 
Prevenção: 
A amamentação deve ser incentivada, e o leite de vaca bebido com moderação, 
uma vez que causa entreopatia. A Sociedade Brasileira de Pediatria estabeleça que, 
independente do regime de aleitamento, toda criança deve ser suplementada com ferro 
dos 3 meses de vida até pelo menos o 2° ano de vida. Precisa fazer triagem aos 12 
meses de idade, ou até antes conforme fatores de risco para anemia ferropriva. 
 
RN termo AIG em aleitamento materno/ 
RN termo ou pré-termo AIG ou peso 
maior que 2500g 
1 mg/kg/dia, a partir do 3° mês de vida até 
o 24° mês 
Prematuros e RN a termo com peso entre 
1500-2500g 
2mg/kg/dia a partir do 30° dia de vida até 
finalizar 1 ano de idade; após esse período 
1 mg/kg/dia até completar 2 anos 
Prematuros com o peso entre 1500g-
1000g 
3mg/kg/dia a partir do 30° dia de vida até 
completar 1 ano de idade; após esse 
período 1 mg/kg/dia até 2 anos 
Prematuros com peso menor que 1000g 4mg/kg/dia a partir do 30° dia de vida atécompletar 1 ano de idade; após esse 
período 1mg/kg/dia até 2 anos 
 
 
Tratamento: 
O tratamento medicamentoso é com uso de sulfato ferroso. Quando os níveis do 
hemograma melhoram com o uso de ferro confirma-se de que realmente se tratava de 
anemia ferropriva. O tratamento proposto pela Sociedade Brasileira de Pediatria é 3-
5mg/kg/dia com dose máxima de 200mg/dia. A duração é de do mínimo 8 semanas. O 
tratamento padrão dura em média 3-4 meses e deve-se manter o ferro por 2-3 meses 
para reposição de estoque. Deve-se checar se houve a elevação de, no mínimo, 1g/dl de 
hemoglobina no 1° mês de tratamento, caso contrário devem-se reavaliar a terapêutica e 
o diagnóstico. 
É necessário aconselhamento dietético: estimular oferta de carnes vermelhas 
(claro em maiores de 6 meses, quando estiver fora do aleitamento exclusivo); estimular 
aleitamento materno (o ferro do leite materno é melhor absorvido do que o ferro do leite 
de vaca); não oferecer leite de vaca após as refeições (reduz a absorção do ferro, 
provoca micro-hemorragias; leite de vaca é ideal apenas após 1 ano); não oferecer chá 
preto, mate ou café próximo as refeições (reduz absorção de ferro); aumentar oferta de 
alimentos que aumentem a absorção de ferro, como frutas cítricas, hortaliças, abóbora e 
tomate. 
 Em adolescentes com anemia secundária à menorragia é importante também 
fazer o controle menstrual com contraceptivo. 
obs: ácido cítrico melhora a absorção de ferro (por isso indica-se beber suco de 
laranja ou limão antes ou depois das refeições), porém cálcio, caseína, fitatos ( cereais 
integrais, fibras e feijões) e ácidos fenólicos (chás preto, mate, café, refrigerantes, 
chocolate, vinho tinto) prejudicam a absorção do ferro. 
 
Manual AIDIPI (Ministério da Saúde):

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