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Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 45 O planejamento estratégico situacional no contexto da gestão pública Agostinho Fernando ADAMI1 Jair Alves MARTINS2 Resumo: Os desafios do gestor público são crescentes e carecem de estudos e ferramentas que possam propiciar soluções aos mais diversos problemas, cujas variáveis prescindem de estratégias que possam responder positivamente ao controle e equilíbrio das demandas por soluções sociais e políticas da gestão pública em geral. O presente trabalho visa destacar os aspectos relevantes do Planejamento Estratégico Situacional (PES), os quais podem propiciar a interatividade e a flexibilidade entre os atos praticados pelos gestores e atores sociais, no âmbito de um cenário cujo foco é a concretização de metas e objetivos da Gestão Pública. Está implícito, nesse contexto, o empenho que os atores sociais3 devem exercer frente à realidade e à complexidade do cenário da gestão pública, cuja dinâmica provoca alterações constantes nas demandas e nos ambientes organizacionais, mudanças essas que devem ser prontamente identificadas e analisadas, assegurando estabilidade e controle da gestão frente ao novo cenário. Palavras-chave: Modernidade. Gestor Público. Novas Ferramentas. Flexibilidade. Concretização de Metas. Objetivos Previstos. 1 Agostinho Fernando Adami. Mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Especialista em Agronegócios pela Universidade Federal de Lavras (UFL). Bacharel em Administração Geral. Docente e coordenador de cursos no Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <agostinho.claretiano@gmail.com>. 2 Jair Alves Martins. Especialista em Gestão Pública pelo Claretiano – Centro Universitário; Bacharel em Planejamento Administrativo e Programação Econômica pela mesma instituição. E-mail: <jamartinsx@gmail.com>. 3 De acordo com Rocha (2009), a partir dos anos de 1990, destaca-se no Brasil a gestão pública participativa, em várias cidades, com apoio popular e sucesso de gestão, o que evidencia a importância e a vitalidade da participação da sociedade no processo de construção da cidadania e, consequentemente, no processo de gestão. Dessa forma, em um cenário de mudanças constantes, emerge uma nova cultura política, que, segundo Rocha (2009), está “vinculada à dimensão dos direitos sociais inscritos na Constituição Federal de 1988 e à pluralidade de atores sociais com presença na cena pública brasileira nas três esferas de governo”. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 46 The situational strategic planning in the context of public management Agostinho Fernando ADAMI Jair Alves MARTINS Abstract: The challenges of the public manager are increasing and need studies and tools that can provide solutions to the most diverse problems, whose variables do not have strategies that can respond positively to the control and balance of demands for social and political solutions of public management in general. This paper aims to highlight the relevant aspects of Situational Strategic Planning (PES), which can foster interactivity and flexibility among the acts practiced by managers and social actors, within the framework of a scenario whose focus is the achievement of goals and objectives of the Public administration. Implicit in this context is the commitment of social actors to face the reality and complexity of the public management scenario, whose dynamics cause constant changes in demands and organizational environments, changes that must be promptly identified and analyzed, ensuring stability and Control of the new scenario. Keywords: Modernity. Public Manager. New Tools. Flexibility. Achievement of Goals. Expected Objectives. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 47 1. INTRODUÇÃO Na modernidade, os desafios do gestor público são crescentes e carecem de novas ferramentas que possam propiciar soluções aos mais diversos problemas, cujas variáveis4 (variáveis não controladas) prescindem de estratégias que possam responder positivamente ao controle e equilíbrio das demandas sociais e políticas da gestão pública em geral. A busca incessante pela obtenção de respostas às carências governamentais conduziu os trabalhos do economista Carlos Matus Romo, que prosseguiu ininterrupto mesmo após seu afastamento, em 1973, da função de Ministro da Economia do governo chileno para se dedicar integralmente ao trabalho de pesquisas e aprimoramento das técnicas de planejamento organizacional, objetivando a melhoria dessa ferramenta como um sistema de impacto positivo nas decisões de governo. Como resultado dos esforços dispendidos, Romo logrou grande êxito com seus estudos sobre planejamento estratégico: com foco no estudo dos problemas inerentes às questões de melhoria da governabilidade, tornou-se protagonista de renome mundial, com destaque nas Américas do Sul e Central. Graças a sua dedicação exaustiva e ininterrupta, e à aplicação sistemática dos conhecimentos adquiridos a partir de seus estudos, Romo de- senvolve o sistema de planejamento denominado de Planejamento Estratégico Situacional (PES). O presente artigo objetiva trazer a lume os aspectos relevantes do PES no contexto da gestão pú- blica, com base nos estudos de Carlos Matus Romo. Para a construção do trabalho, utilizou-se a meto- dologia de revisão bibliográfica, das mais variadas fontes literárias, como, por exemplo, livros, revistas cientificas, textos científicos, sites da internet, entre outros. 2. DESENVOLVIMENTO Ao prefaciar a obra de sua própria autoria, denominada de Política, Planejamento e Governo, Matus (1993), entre inúmeras considerações e informações, comenta que o Brasil se encontra entre os muitos países das Américas que acolheram na década de 80 o PES. Desde a introdução do método PES no Brasil, segundo Matus (1993), toda a América Latina passa a utilizar esse tipo de planejamento. Além do protagonismo brasileiro, outra razão para a utilização desse método é a de que ele se difere do planejamento estratégico tradicional, apresentando-se como ferra- menta estratégica de governo, cujo foco está no controle da execução de políticas públicas, em especial, como um antídoto, a fim de evitar a prática de políticas de improvisação, o que é uma característica do governismo5, em prol de resultados positivos na gestão e de controle das políticas públicas na esfera governamental. Utilizando-se de diversas indagações, Matus (1993) questiona as incertezas que norteiam os atos e as práticas políticas e propõe, em face da realidade, que as pessoas, ou seja, cidadãos e governo, op- tem por controlarem e não por serem controlados pelas variáveis dos ambientes, as quais influenciam constantemente as ações dos gestores. Assim, sob esse ponto de vista, Matus (1993) ressalta que a responsabilidade pelo controle organizacional depende da análise e condução situacional do cenário es- tabelecido, mediante a imposição de um método de controle em tempo real. Kast e Rosenzweig (1970) relatam que uma organização sofre influências constantes dos ambientes que a permeiam por serem con- sideradas um sistema aberto. Dessa forma, quando se analisa a inter-relação dos setores dentro de uma organização e desconsideram-se os fatores exógenos, analisa-se a organização apenas como um sistema fechado, o que não favorece uma análise completa do cenário, além de ser também uma ação típica do governismo; por exemplo, no governismo, indicam-se para cargos técnicos pessoas sem a qualificação adequada, porém com algum atributo político. O acima posto resta evidenciado de maneira pragmática, quando Matus (1993) afirma: 4 Variáveis: As organizações possuem dois ambientes, que são classificados como interno e externo. No ambiente externo, as variáveis são incontroláveis pela organização, tendo ela que se prover de estratégias para enfrentar as variações desse ambiente. 5 Entende-se no texto o governismo como sendo um governo autoritário,com traços de abuso de poder, exercendo a gestão como forma de manutenção de poder. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 48 Se o homem, um governo ou uma instituição renuncia a conduzir e deixa-se conduzir, desiste de do- minar e é arrastado pelos fatos, abdica então da principal liberdade humana, que é tentar decidir por nós e para nós aonde queremos chegar e como lutar para alcançar nossos objetivos. O planejamento é assim uma ferramenta das lutas permanentes que o homem trava desde o início da humanidade para conquistar graus crescentes de liberdade. Quando o homem não conhecia o fogo, não dispunha da liberdade de escolher entre o frio e o calor; quando o descobre, pode optar. Em termos de planejamento situacional, poderíamos dizer que é capaz de converter uma variante em uma opção. Pode optar por não passar frio. Antes que o homem ganhasse essa liberdade, ele não podia converter essa disjuntiva numa opção; estava determinado por uma variante. Usamos o termo variante quando o planejador se encontra ante uma alternativa na qual não tem poder de decidir e a realidade decide por ele. Sob o aspecto contextual (decisório) do controle da realidade na gestão das políticas públicas, Ma- tus (1993) considera que o planejamento situacional é a estratégia indicada para a tomada de decisões, conforme exemplificado na Tabela 1 (a seguir): Tabela 1. Questões problemáticas. QUESTÕES PROBLEMÁTICAS POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS INDICADAS Uso repetitivo de controle (gestão centralizada) apresenta conflito Optar por controle interativo do “cenário” (ampliar interatividade entre os atores e gestores); Existem grupos influentes que determinam objetivos alheios à realidade; Análise situacional do problema e reconstrução estratégica das ações; Planejamento inadequado por ausência de diretrizes, de interação com outros sistemas. O planejamento com foco predominantemente econômico revela-se pouco eficaz, carece de elementos de integração (pela ausência de planejamento técnico e político etc.). Rever as estratégias e os métodos de controle no contexto (cenário) em prol da governabilidade; Os gestores se limitam ao planejamento com foco apenas econômico, existe incerteza e confusão, sendo que os oponentes são os mesmos atores do governo, que lutam por posição e poder. Ampliar a interação sociotécnico-política entre os gestores e atores na consecução das metas de governo; Fonte: adaptado de Matus (1993). Na tabela, de forma genérica, buscam-se indicar estratégias adequadas para as questões problemá- ticas, baseando tais indicações na teoria administrativa e na argumentação de Matus (1993, p. 200-201): Na concepção de um método de planejamento, o importante é sua eficácia social e não sua viabilidade prática plena e imediata. Um método novo não pode simplesmente adaptar-se à informação disponível, às organizações existentes e ao estilo de práticas estabelecidas. Um novo método demanda nova infor- mação, novas organizações, novas práticas e novas mentalidades. Por vezes, isso exige novos atores. Assim ocorreu com o planejamento normativo, que, entre outras coisas, forçou o desenvolvimento da contabilidade social, a criação dos atuais gabinetes de planejamento e o estabelecimento de uma prá- tica de planejamento até então inexistente. As proposições do PES, ainda segundo o mesmo autor, são objetivas no sentido de que as mudan- ças no cenário da gestão pública implicam que os agentes predominantes de mudança são os atores so- ciais que constituem centros de controle de poder; muitas vezes, eles são representados por instituições (igrejas, sindicatos etc.), uma vez que esses atores e instituições são forças sociais que alteram e exercem influência decisória na consecução de objetivos comuns (entre as políticas públicas e o controle da re- alidade do cenário). Notadamente, Matus (1993, p. 235) conceitua tais mudanças, conforme indicado a seguir: A situação pode mudar por diversas razões, e isso pode ter diferentes consequências. Os fatores capa- zes de produzir uma mudança situacional são, sinteticamente, os seguintes: Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 49 I projetos (ações, politicas etc.) produzidos pelas forças sociais, mediante um cálculo de planejamento ou de forma improvisada; II tendências situacionais, ou seja, o movimento que está contido na situação, ainda que não seja pos- sível distinguir, com rigor, as forças sociais causadoras de tal movimento; III. Mudanças no cenário internacional, em que há produção de eventos com atores internacionais identificáveis, ou tendências que imprimem movimento aos elementos que expressam as relações en- tre a situação nacional e o cenário internacional. Ambas as vias podem afetar as relações de intercâm- bio feno-produtivo, as relações de articulação feno-estrutural e as relações de inserção geno-estrutural que caracterizam uma situação no contexto de seu cenário ou subcenários pertinentes; IV. O acaso, como a produção de eventos e acontecimentos que escapam não só ao cálculo de plane- jamento como também à imaginação dos atores sociais. Estão implícitos por acréscimo (ao contexto), segundo o entendimento de Matus (1993), que o planejamento baseia-se menos na capacidade das predições e mais em prerrogativas de cunho técnico, no que tange à previsão dos acontecimentos (no âmbito do referido cenário), em que tudo acontece em tempo real. Assim, decorre da aplicação da estratégia situacional a conquista dos objetivos das políti- cas públicas de gestão, a exemplo de uma arena teatral, onde o cenário é o aglomerado das situações condicionantes, as quais impingem ao plano os impactos da realidade, do conjunto, das condições e das proposições diretivas a serem controladas. Desse modo, temos, na sistemática do PES, uma ferramenta capaz de antecipar e dar respostas positivas em face das referidas variantes, a partir das ações pratica- das pelos gestores e atores do cenário (gestão pública), consoante as seguintes considerações de Matus (1993, p. 248-249): A construção do cenário baseia-se na segurança das invariantes e das tendências longas para explorar o movimento incerto e imaginável, provável, possível ou desejável das variantes selecionadas como críticas para o plano, e, assim, prever as opções de ação pertinentes ao cumprimento de uma situa- ção-objetivo que pertence ao espaço direcional do ator, caso se materialize um determinado cenário. Como não se trata de adivinhar o futuro, o plano deve situar-se em vários cenários possíveis e rele- vantes. Assim, um cenário é uma forma de articulação de um conjunto de variantes incertas e opções admissí- veis no contexto seguro das invariantes. Surge, assim, a necessidade de formular diversos planos para fazer face às distintas contingências previstas. Em vez de tentar adivinhar o futuro, a técnica de cená- rios convida-nos a tentar predizer as fronteiras do espaço dentro do qual podem ocorrer as variantes, a fim de ter antecipadamente planos de contingência para enfrentá-las. Ao fazer referência ao trabalho de Matus (1993), em artigo denominado “Planejamento e Gerên- cia no Enfoque Estratégico Situacional”, Azevedo (1992) salienta que há uma tendente preocupação no sentido de tornar a máquina pública não apenas eficiente, mas também eficaz (premissa da administra- ção científica). Nesse contexto, os aspectos sociais e técnico-políticos, em geral, carecem de ações e estratégias políticas em tempo real (situacionais). Destarte, conclui-se que a prática do governismo e as mazelas da politicagem precisam ser, se não erradicadas, ao menos minoradas, em razão dos impactos negativos, os quais têm causado grande retrocesso econômico, financeiro e social no contexto da gestão pública. Há uma crescente preocupação com a questão da mudança da máquina pública, no sentido de tor- ná-la não apenas eficiente, mas também eficaz e passível de controle social. Incorpora-se, então, a compreensão do processo de mudança da máquinapública como mudança social e, para tal, a necessidade de um enfoque político e estratégico (AZEVEDO, 1992, p. 129). Dantas (2014) traz importantes argumentos e considerações, referentes à aplicabilidade contextual do PES quando analisado em uma visão situacional, nas quais resume, com pertinente objetividade, o alcance consequente da aplicação dessa ferramenta, no contexto do controle e previsão da realidade, tendo por foco a eficiência da máquina pública no cenário de gestão. Nesse cenário, sabe-se que os atos praticados em determinado momento, produzem situações não controladas, pois interagem com fatos sobre os quais não se conhecem as consequências, senão após a ocorrência de seus desdobramentos em momento posterior, reduzindo ou anulando, assim, a eficácia de controle. Ainda com relação à importân- cia da análise situacional e das informações no processo decisório, Dantas (2014, [n.p.]) destaca: Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 50 Mediação entre o Presente e o Futuro. Todas as decisões que tomamos hoje têm múltiplos efeitos sobre o futuro porque dependem não só da minha avaliação sobre fatos presentes, mas da evolução futura de processos que não controlamos, fatos que ainda não conhecemos. Portanto, os critérios que utilizamos para decidir as ações na atualidade serão mais ou menos eficazes se antecipadamente pu- dermos analisar sua eficácia futura, para nós mesmos e para os outros. Qual o custo da postergação de problemas complexos? Que tipo de efeitos futuros determinada política pública resultará? Estes impactos futuros aumentarão ou diminuirão a eficácia do nosso projeto de governo? Tais perguntas dizem respeito ao necessário exercício de simulação e previsão sobre o futuro, quando devemos adotar múltiplos critérios de avaliação e decisão. É necessário prever possibilidades quando a predição é impossível: na produção de fatos sociais, que envolvem múltiplos atores criativos que também planejam, a capacidade de previsão situacional e suas técnicas devem substituir a previsão determinística, normativa e tradicional que observa o futuro como mera consequência do passado. Decorre dessa percepção a necessidade de elaborar estratégias e desenhar operações para cenários alternativos e surpresas, muitas vezes, não imagináveis. Capacidade para lidar com surpresas: o futuro sempre será incerto e nebuloso, não existe a hipótese de governabilidade absoluta sobre sistemas sociais; mesmo próximo dessa condição, há sempre um componente imponderável no planejamento. Devemos, então, por meio de técnicas de governo apro- priadas, preparar-nos para enfrentar surpresas com planos de contingência, com rapidez e eficácia, desenvolvendo habilidades institucionais capazes de diminuir a vulnerabilidade do plano. Em publicação editada pela FUNDAP (intitulada O método PES: entrevista com Matus), Huertas (1996) entrevista Matus, o qual expõe detalhes a respeito dessa importante ferramenta de planejamento e controle de políticas públicas. Matus responde a pergunta formulada por Huertas (1996); destarte, trata com muita clareza os aspectos problemáticos, em que a realidade determina tanto os pontos de conflito como as possíveis so- luções, cujo centro é o cenário onde atuam os atores, em face dos quais se aplica o Planejamento (PES), conforme destaque transcrito (parcialmente) a seguir: H: Por que o PES concentra-se em problemas e não em setores, como faz o planejamento tradicional? M: A realidade gera problemas, ameaças e oportunidades. O político trabalha com problemas e a população sofre problemas. É um conceito muito prático, reclamado pela própria realidade, que faz o planejamento aterrizar. Ao contrário, o conceito de setor é uma imposição analítica, é muito genérico, pouco prático e mais apropriado à análise macroeconômica. Os problemas reais cruzam os setores e têm atores que se beneficiam ou são prejudicados por eles. Em torno de problemas, a participação cidadã é possível; em torno de setores, é impossível. Os atores do jogo social lidam com problemas, não com setores. O PES cunhou a seguinte frase, que complementa uma frase de Ackoff: a realida- de tem problemas, as universidades têm faculdades e o planejamento tradicional trabalha com seto- res. Quem pensa por problemas? O PES identifica-se com a realidade e gira em torno de problemas (HUERTAS, 1996, p. 35). Com relação à flexibilidade e à aplicabilidade do PES, que permitem enfrentar satisfatoriamente os problemas sociais, mesmo aqueles que apresentam certo grau de complexidade, Iida (1993) considera que tal método não se prende somente ao futuro, pois interage com a realidade presente, cujo objeto perseguido determina os atos a serem praticados, permitindo o controle das variáveis em tempo real, conforme descrito a seguir: O Planejamento Estratégico Situacional – PES – foi desenvolvido pelo economista chileno Carlos Matus, a partir da década de 70, como um método mais flexível, permitindo trabalhar com a comple- xidade dos problemas sociais. Nesse método, o futuro não é determinístico e a realidade é continua- mente acompanhada. Quando houver uma mudança da situação real, o plano é imediatamente ajustado (IIDA, 1993, p. 114-115). Kopf e Hortale (2005) fazem menção a Carlos Matus, destacando que as grandes organizações são sustentáveis principalmente pelas características da direcionalidade e da responsabilidade. Depreende- -se (da referida menção) que os aspectos determinantes da direcionalidade constituem regras necessárias ao atingimento de objetivos, com influência direta sobre o funcionamento geral da organização (macro- organização), conforme transcrição (parcial) do referido artigo: Para Matus, a qualidade de uma macroorganização se dá em função de suas características fundamen- tais e de suas regras: de direcionalidade, de estrutura organizativa/departamentalização, de governa- bilidade e de responsabilidade (RIVERA, 1995a). Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 51 As regras de direcionalidade definem a missão, os objetivos e as funções de uma macroorganização e se expressam na Agenda do Dirigente, estando relacionadas ao uso do tempo e ao foco de atenção do dirigente (KOPF; HORTALE, 2005, p. 162). Assim, as políticas públicas de governo, no contexto da moderna gestão pública, não podem pres- cindir do controle da realidade, ao mesmo tempo que devem primar pela prática de atos cujos resultados propiciem interatividade e flexibilidade dos atos a serem praticados pelos atores e gestores sociais, num cenário com foco para a concretização de metas e objetivos no âmbito da gestão pública. Está implícito, nesse contexto, o empenho dos agentes (atores e gestores), os quais interagem, em face da realidade e complexidade desse cenário, cuja mutabilidade provoca alterações (incontroláveis), que devem ser prontamente identificadas e corrigidas, assegurando estabilidade e controle do cenário (consecução dos objetivos previstos). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por derradeiro, cumpre considerar que os desafios da Administração e do gestor público são cres- centes e carecem dessas novas ferramentas (supraditas) para que possam ser dadas respostas e apresen- tadas soluções (satisfatórias) aos mais diversos problemas, cujas variáveis prescindem de estratégias que possam responder positivamente ao controle e equilíbrio das demandas por soluções sociais e políticas da gestão pública em geral. É indubitável que o planejamento estratégico situacional (se aplicado ao contexto da gestão pú- blica) constitui uma ferramenta de controle e de resultado na consecução das políticas públicas, visto que constitui ferramenta de interação em tempo real, entre a mediação das pendências (passado) e as soluções aos problemas de gestão (previsão situacional). Tal ferramenta pode minimizar os impactos e as incertezas (controle da realidade) provocados pelo governismo intuitivo (exercício autoritário de go- verno, no qual, por falta de planejamento adequadoe por ausência de conhecimento técnico-político (na qualificação) dos atores e gestores, predomina o planejamento informal ou intuitivo, inadequado para responder aos desafios da gestão pública). Dadas as incertezas do futuro (variáveis incontroláveis do macroambiente), em especial aquelas oriundas da ausência de planejamento governamental adequado, cabe ao gestor e aos atores desse ce- nário, por meio de técnicas de governo eficazes (ferramentas de planejamento e controle da realidade), desenvolver as habilidades institucionais, propiciando a redução ou exclusão dos impactos negativos provocados pelas políticas de governo inadequadas, que carecem de ferramentas de controle capazes de produzir resultados em tempo real. No presente trabalho, destacaram-se os aspectos relevantes do Planejamento Estratégico Situa- cional (PES), o qual (devidamente aplicado) pode propiciar a interatividade e a flexibilidade entre os atos praticados pelos gestores e atores (controle em tempo real), dentro de um cenário, com foco para a concretização de metas e objetivos no âmbito da gestão pública. REFERÊNCIAS AZEVEDO, C. S. Planejamento e gerência no enfoque estratégico-situacional de Carlos Matus. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 129-133, junho 1992. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 311X1992000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 abr. 2017. CARLOS MATUS. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikipédia Foundation, 2017. Disponível em: <https:// pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Carlos_Matus&oldid=48777920>. Acesso em: 11 mai. 2017. DANTAS, S. C. O que é o planejamento estratégico situacional? Docslide.net, 2014. Disponível em: <http://docslide.net/ documents/o-que-e-o-planejamento-estrategico-situacional.html>. Acesso em: 4 abr. 2017. HUERTAS, F. O método PES: entrevista com Matus. 4. ed. Tradução de Giselda Barroso Sauveur. São Paulo: Fundap, 2007. Ling. Acadêmica, Batatais, v. 8, n. 1, p. 45-52, jan/jun. 2018 52 IIDA, I. Planejamento estratégico situacional. Produção, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 113-125, dez. 1993. 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