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Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. MÓDULO DE: LOGÍSTICA DE TRANSPORTES E GESTÃO DE LOGÍSTICA INTERNACIONAL AUTOR: THIAGO RANGEL DE AQUINO 2 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Módulo de: Logística de Transportes e Gestão de Logística Internacional Autor: Thiago Rangel de Aquino Primeira edição: 2008 Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 3 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. APRESENTAÇÃO A palavra Logística deriva do verbo francês “loger” que significa suprir. Este termo começou a ser utilizado na área militar na época dos exércitos de Napoleão Bonaparte e significava a arte de transportar, abastecer e alojar as tropas. Com o passar dos anos, foi tomando um significado mais amplo tanto no sentido militar quanto no industrial estabelecendo-se, nesse último, como sendo a arte de administrar o fluxo de materiais e produtos, desde a fonte de produção até o consumidor. Devido à amplitude de suas definições, a Logística como gestão do fluxo de materiais passou a ser dividida em três dimensões que juntas resultam no significado global do termo Logística. A primeira dimensão refere-se à compra de insumos e sua gestão, desde a entrada da matéria-prima na fábrica até a alocação do produto final nos estoques da indústria. A essa primeira dimensão dá-se o nome de Logística Interna ou de Produção, pois sua gestão limita-se ao interior da indústria, durante a cadeia produtiva. Já a segunda dimensão do processo logístico faz referência à gestão do produto, já acabado, da porta da Indústria onde foi produzido até o consumidor final. A essa dimensão dá-se o nome de Logística Externa ou de Distribuição. A gestão dessa Logística pode ser feita tanto pela Indústria - pois controla a cadeia desde a produção até o consumidor final – quanto pelo varejista – ou ponto de venda (PDV) – que procura gerir a Logística de Distribuição com a intenção de otimizar seus custos de estoque e garantir a quantidade necessária do produto no PDV. Uma terceira vertente dos estudos logísticos se fez necessária devido ao surgimento da globalização. Devido à redução das distâncias comerciais entre as nações, o comércio internacional viu-se cercado por oportunidades de negócios que somente seria possível com uma rede de transportes adequada e otimizada. Surge então a Logística 4 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Internacional de Transportes que tem como principal objetivo coordenar e gerenciar a distribuição dos produtos nos mercados internacionais. O presente Módulo trata, principalmente, especificamente, dessa terceira dimensão da Logística, focando seus estudos no contexto globalizado do comércio e na Logística de Transportes resultante desse contexto. OBJETIVO Formar gestores capazes de, não só definir a melhor opção de transporte para garantir a distribuição dos produtos de sua empresa, mas também propiciar conhecimento necessário para que comecem a pensar em soluções para os principais gargalos logísticos e criar novas saídas para otimizar a relação custo x qualidade de serviços. EMENTA Logística Integrada da Distribuição Física Internacional. Custos logísticos. Global sourcing e a Logística Global. Planejamento da estrutura Logística. Sistema de Transporte. Transporte Marítimo e afretamentos. Navegação de Cabotagem. Hub ports e feeders. Transporte Aéreo. Transporte Ferroviário. Transporte Rodoviário. Transporte Fluvial. Transporte Dutoviário. Multimodalidade de Transportes. Contêiner. Operadores Logísticos. 5 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. SUMÁRIO UNIDADE 1 ................................................................................................................................ 8 A LOGÍSTICA E O MUNDO ................................................................................................................ 8 UNIDADE 2 .............................................................................................................................. 11 CADEIA DE SUPRIMENTOS OU SUPPLY- CHAIN ............................................................................. 11 UNIDADE 3 .............................................................................................................................. 16 JUST IN TIME .................................................................................................................................. 16 UNIDADE 4 .............................................................................................................................. 20 DISTRIBUIÇÃO FÍSICA INTERNACIONAL ......................................................................................... 20 UNIDADE 5 .............................................................................................................................. 28 FATORES QUE AFETAM A DISTRIBUIÇÃO FÍSICA INTERNACIONAL ................................................ 28 UNIDADE 6 .............................................................................................................................. 35 CONCEITOS BÁSICOS DE TRANSPORTES ........................................................................................ 35 UNIDADE 7 .............................................................................................................................. 42 GEOPOLÍTICA DE TRANSPORTES NO BRASIL .................................................................................. 42 UNIDADE 8 .............................................................................................................................. 50 O TRANSPORTE RODOVIÁRIO ........................................................................................................ 50 UNIDADE 9 .............................................................................................................................. 62 TRANSPORTE FERROVIÁRIO I ......................................................................................................... 62 UNIDADE 10 ............................................................................................................................ 80 TRANSPORTE FERROVIÁRIO II ........................................................................................................ 80 UNIDADE 11 ............................................................................................................................ 85 TRANSPORTE MARÍTIMO I ............................................................................................................. 85 UNIDADE 12 ............................................................................................................................ 92 TRANSPORTE MARÍTIMO II ............................................................................................................ 92 UNIDADE 13 ............................................................................................................................ 98 TRANSPORTE MARÍTIMO III ........................................................................................................... 98 6 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 14 .......................................................................................................................... 109 OS PORTOS BRASILEIROS ............................................................................................................. 109 UNIDADE 15 .......................................................................................................................... 114 DOCUMENTAÇÃO UTILIZADANA OPERAÇÃO PORTUÁRIA ......................................................... 114 UNIDADE 16 .......................................................................................................................... 124 CABOTAGEM NO BRASIL .............................................................................................................. 124 UNIDADE 17 .......................................................................................................................... 135 HUB PORTS E NAVIOS FEEDER ..................................................................................................... 135 UNIDADE 18 .......................................................................................................................... 139 CONTÊINER................................................................................................................................... 139 UNIDADE 19 .......................................................................................................................... 149 TRANSPORTE FLUVIAL .................................................................................................................. 149 UNIDADE 20 .......................................................................................................................... 158 TRANSPORTE AÉREO .................................................................................................................... 158 UNIDADE 21 .......................................................................................................................... 164 TRANSPORTE DUTOVIÁRIO .......................................................................................................... 164 UNIDADE 22 .......................................................................................................................... 168 MULTIMODALIDADE DE TRANSPORTES ...................................................................................... 168 UNIDADE 23 .......................................................................................................................... 174 TRANSPORTADORES MULTIMODAIS ........................................................................................... 174 UNIDADE 24 .......................................................................................................................... 180 SERVIÇOS ACESSÓRIOS AO TRANSPORTE .................................................................................... 180 UNIDADE 25 .......................................................................................................................... 185 PARÂMETROS LOGÍSTICOS: CUSTO X TEMPO X QUALIDADE ...................................................... 185 UNIDADE 26 .......................................................................................................................... 192 CONCEITOS BÁSICOS DE ESTOQUE .............................................................................................. 192 UNIDADE 27 .......................................................................................................................... 202 CURVA DE PARETO – UMA FERRAMENTA PODEROSA ................................................................ 202 UNIDADE 28 .......................................................................................................................... 206 OS CUSTOS NO BINÔMIO ESTOQUE X TRANSPORTE ................................................................... 206 7 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 29 .......................................................................................................................... 209 A INFORMATIZAÇÃO DOS PROCESSOS LOGÍSTICOS .................................................................... 209 UNIDADE 30 .......................................................................................................................... 216 CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 216 GLOSSÁRIO ............................................................................................................................ 220 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 221 8 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 1 Objetivo: Conhecer o módulo e os princípios básicos da Logística, que serão aplicados nesse Módulo. A Logística e o Mundo O cenário global Existem diversas definições para o termo “Globalização” da economia. Visando direcionar os estudos para o campo da Logística e dos negócios internacionais, deve-se considerar a globalização como sendo a: “Interdependência comercial entre fatores de produção em países diferentes, como resultante de esforços coletivos para produzir matérias-primas e componentes, obter serviços de montagem e distribuição a produtos que serão vendidos em qualquer lugar do planeta”. Na década de 90, devido ao rápido processo de globalização da economia e o consequente aumento da competitividade, aliado aos avanços nas telecomunicações, a indústria e o comércio passaram a extinguir fronteiras geográficas e a considerar todo o mercado mundial como cliente e fornecedor. A redução nos custos de tecnologia tornou-a mais acessível a todos. Os estoques diminuem e as mercadorias giram com maior frequência. Os ciclos de vida dos produtos são cada vez mais reduzidos. Cada vez mais consciente de seu poder, o Cliente exige qualidade dos produtos, tarifas baixas, não incidência de avarias e serviços agregados na pós-venda. Para obter eficiência no processo suprimento/transformação/distribuição, as empresas tiveram que focar as suas competências chaves, sempre que possível, terceirizando as demais. 9 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. A competitividade gerou sistemas de produção flexíveis, cobrindo os leques de opções de produtos. Hoje a produção em massa cede, cada vez mais, lugar à produção personalizada, ou seja, manufatura de acordo com as necessidades e desejos dos clientes. Ao invés de ter como meta a venda de um mesmo produto para ampla gama de consumidores, a tendência é procurar vender, a um número mais restrito de consumidores, uma gama ampla de produtos com variadas especificações. Para atingir este objetivo, a Logística tem se tornado uma função essencial nas empresas. Por estar diretamente relacionada à qualidade, na definição das estratégias logísticas bem-sucedidas, é imprescindível planejar o atendimento contínuo das necessidades dos clientes, tanto na produção de bens quanto na prestação de serviços, eliminando burocracia, demoras, insegurança, falhas, erros, defeitos, (re)trabalho e todas as demais tarefas desnecessárias. Ao longo do processo industrial, o fluxo de mercadorias deve ser otimizado, protegido de deterioração ou furto e transportado até o consumidor, onerando, mais ou menos, a empresa, conforme sua Gestão Logística. Considerando que o cerne da Logística seja adquirir, movimentar, transportar, distribuir e controlar eficazmente os bens disponíveis; é fácil concluir que seus maiores objetivos são: • Reduzir os custos globais de produção e distribuição; • Garantir altos giros de estoque; • Dar continuidade ao fornecimento de insumos; • Obter o nível de qualidade exigido pelos consumidores; • Acelerar as entregas; • Registrar, controlar e transmitir dados instantâneos e confiáveis. O conceito de Logística Integrada foi se adequando à globalização e hoje, abrange não somente todas as tarefas pertinentes à gestão de materiais e produção como também a 10 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. gestão e coordenação dos processosde embalagem, manuseio do produto, processamento de pedidos, distribuição e gerenciamento da informação, entre outros. Portanto, Logística, no mundo globalizado, pode ser definida como: “Conjunto de atividades direcionadas a agregar valor, otimizando o fluxo de materiais, desde a fonte produtora até o consumidor final, garantindo o suprimento na quantidade certa, de maneira adequada, assegurando sua integridade física, a um custo razoável, no menor tempo possível, atendendo a todas as necessidades dos clientes”. 11 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 2 Objetivo: Reconhecer o papel da Logística no mundo globalizado Cadeia de Suprimentos ou Supply- chain Até a primeira metade do século XX as diferentes atividades que hoje compõem o sistema denominado Logística (transportes, compras, armazenagem, controle de estoques, processamento de pedidos, expedição a clientes, etc.) eram organizadas isoladamente uma das outras. Na maioria das vezes o resultado desta segmentação era o conflito de responsabilidades e objetivos. Os departamentos eram vistos de forma independentes o que fazia com que os seus objetivos acabassem por destoar uns dos outros, quando, na realidade, deveriam ser comuns visando o bem da organização como um todo. Após a 2ª guerra mundial, sobretudo nos Estados Unidos, o mundo dos negócios entende que a verdadeira “guerra” a ser travada encontra-se no mercado, com o objetivo de conquistar e manter o Cliente. A partir de então, os conceitos de Logística que há muito tempo eram utilizados no ambiente militar, passaram a ser incorporados no mundo dos negócios, visando agregar valor e reduzir custos. Segundo BOWERSOX e CLOSS 1, a evolução da Logística no Comércio Internacional passa por quatro fases: 1ª Fase: As funções da cadeia de suprimento eram vistas como estanques, com fábrica, armazém, varejista etc., atuando e sendo otimizados separadamente, com estoques servindo de pulmão para o atendimento. A demanda era padronizada, havendo pouca ou nenhuma 1 BOWERSOX, D.; CLOSS, D. Logistical Management: The Integrated Supply Chain Process. New York, McGraw-Hill Inc., 1996. 12 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. oferta de opções de produtos, o que tornava o planejamento e produção meras repetições sistemáticas do passado. Havia ênfase no controle de custo individual de cada função, preocupação com despachos econômicos e no controle de estoque baseado no modelo de pedido econômico, numa visão de redução de custos de transporte. 2ª Fase: O aumento apreciável do preço dos combustíveis e da mão de obra, durante a década de 70, impacta o custo de transporte, que em conjunto com o congestionamento crescente dos centros urbanos, incorre no aumento do custo de distribuição. Concomitantemente, mudanças culturais provocam alterações nos perfis de demanda, devido ao seu desdobramento por grupos heterogêneos de consumidores. Consequentemente, isto provoca a variação no perfil dos produtos demandados, levando à introdução de processos produtivos mais flexíveis, de forma a permitir maior amplitude de ofertas. Começa a acontecer alguma integração rígida entre os subsistemas, visando reduzir o custo operacional. Isto se traduz na integração entre pedidos e despacho, com processos decisórios mais integrados. Aumenta a importância do profissional de Logística e inicia-se o uso da informática na cadeia produtiva. 3ª Fase: As pressões por resultados intensificaram a concorrência e a competição. Os estudos sobre Qualidade Total se traduzem na ênfase da satisfação absoluta do cliente, aumento do nível de serviço e prazos de entrega mais curtos possíveis. Para melhorar os resultados, aumenta a pressão sobre redução dos custos ao mínimo possível, levando a programas de estoque zero. Para possibilitar estas metas adota-se o uso intensivo da informática. As fronteiras até então rígidas entre as funções da cadeia de suprimento começam a ser menos visíveis, com o desenvolvimento de parcerias colaborativas entre alguns elos do sistema, a exemplo do transporte e da distribuição. 13 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. 4ª Fase: As fronteiras desaparecem, havendo total superposição entre as funções da Cadeia Logística. Surge o conceito de Integração Total da Logística. Cresce o uso da postergação na finalização de produtos, visando o atendimento de demandas específicas. Começa a surgir a combinação de hardware e software, com produtos sendo fabricados praticamente no ato da compra, como livros e talões de cheque, entre outros. Crescem o uso das compras eletrônicas para diminuir estoques, como as compras de automóveis on-line, atendendo as especificações do cliente. A diminuição de intermediários no ciclo do pedido leva a uma aceleração na entrega e os transportes passam a ser otimizados em tempo real, demandando sistemas informatizados e eficientes para a atualização de dados e reprogramação, como o GPS (Global Positioning Satellite System). A garantia de qualidade e a legislação demandam uma série de certificações do sistema logístico para que este prove sua adequação ao processo, como a série de normas ISO 9000 e 14000, dentre outras. Atender a satisfação do cliente passa a ser um processo gerenciável e passível de certificação prévia. Os elos que compõem uma empresa devem trabalhar de forma integrada, com a Logística gerenciando as relações com os fornecedores através das atividades de suprimentos, e na outra ponta da cadeia, gerenciando as relações com os clientes, através da distribuição física. Para tanto, as fronteiras internas devem desaparecer, com a superposição entre as diferentes funções da cadeia de suprimentos levando a concepção da INTEGRAÇÃO TOTAL. O gerenciamento de todo esse processo deve tratar todas as atividades que facilitam o fluxo de bens, desde a aquisição do insumo até a entrega ao consumidor final, apoiada em um fluxo de informação, paralelo ao primeiro, possibilitando o monitoramento do processo. Todas as atividades devem fluir através de um sistema integrado, pois o impacto das decisões em qualquer ponto do sistema afetará todo o processo. Assim, pode-se resumir os principais objetivos da Logística como: 14 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. • Reduzir os custos globais, ou seja, no conjunto de diferentes custos que compõem o custo final; • Acelerar os giros de estoque; • Manter a continuidade do fornecimento em longo prazo; • Obter o nível de qualidade desejada pelo cliente; seja qual for sua percepção do que é qualidade; • Observar pontualidade nas entregas, cuja exigência de rapidez é cada vez maior; • Manter registros, controles e transmissão de dados instantâneos e confiáveis. A integração da cadeia de suprimentos (supply chain) é uma evolução da aplicação de pesquisa operacional no controle dos procedimentos de produção, transferência e entrega de produtos e serviços a clientes, incorporando o gerenciamento financeiro do processo, orientado pelo gerenciamento de dados compartilhados entre fornecedores e clientes. Em cada estágio da cadeia de suprimentos são feitas medições de avaliação do desempenho global obtida. As diferentes equipes envolvidas neste processo passam a atuar como uma única equipe multidisciplinar, trabalhando em estreita colaboração. Ao longo da Cadeia Logística, vários tipos de valor (ou utilidade) são agregados ao produto, destacando-se os seguintes: • Forma: Valor agregado pela Produção ou Fornecedores, consiste na especificação em termos de qualidade e quantidade; • Posse: Informação e efetiva troca de titularidade do produto disponibilizado. Este valor só pode ser agregado pela coordenação de ações de vários elementos, mas é mais facilmente identificadocom a Distribuição Física. • Espaço: Valor agregado pelo transporte; consiste em disponibilizar o produto no local desejado pelo cliente. 15 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. • Tempo: Valor agregado por qualquer elo da Cadeia, com o suporte do transporte – sobretudo quando o prazo de entrega é primordial – consiste no momento acordado para a entrega, consiste na efetiva entrega do produto ao cliente. Para que a Supply Chain se torne realidade, é imperioso que haja uma mudança radical na visão de todos os seus subsistemas, passando um conjunto disperso de fabricantes, transportadores e distribuidores, para um sistema integrado, direcionando e gerenciando a efetiva agregação de valor para o cliente. Global Sourcing O processo que se conhece como Global Sourcing2 é um conjunto de procedimentos destinados a manter monitorado o mercado mundial, buscando novos fornecedores competitivos onde quer que eles estejam; visando o estabelecimento de relacionamentos de longo prazo, de forma a garantir a continuidade dos fornecimentos nos prazos necessários, bem como a manutenção dos níveis de qualidade desejados, a despeito de quaisquer mudanças no cenário macroeconômico, tanto de ordem conjuntural quanto estrutural. Comparando a visão tradicional de compras com o global sourcing tem-se o quadro que segue: VISÃO TRADICIONAL GLOBAL SOURCING Vários fornecedores locais Fornecedores globais competitivos Negociação conflituosa Os melhores do mercado Total falta de integração Participação e dependência mútua Seleção baseada em preço Seleção baseada em desempenho Contatos telefônicos frequentes Sistemas de informação integrados Pedidos no curto prazo Acordos de longo prazo Entregas programadas Entregas frequentes Inspeção do comprador Qualidade garantida em contrato Especificações impostas Especificações acordadas Tolerância a defeitos Zero defeitos são admitidos Menor preço de compra Menor custo da Cadeia Logística Fig. 3 2 BALLOU, Ronald. Gerenciamento da cadeia de suprimentos, 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 16 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 3 Objetivo: Acompanhar a evolução da Logística até o conceito de Cadeia de Suprimentos Just in time A filosofia Just in Time (JIT) foi introduzida na Toyota (Japão), no final da década de 50, com o objetivo de eliminar as atividades que não adicionavam valor à cadeia produtiva compras/fabricação/distribuição, possibilitando fabricar automóveis a custos menores. A ideia contida na Filosofia JIT é o envolvimento dos clientes, fornecedores e transportadores, como forma de diminuir os custos de produção com base: na redução do nível dos estoques, tempos de preparação, inspeções de qualidade etc. A premissa básica é acoplar a demanda ao suprimento, reduzindo os custos com a manutenção de estoques e possibilitando que estes estejam disponíveis, na hora e local necessários à produção. Por meio de embarques mais frequentes e sincronizados é obtida uma substancial economia de escala no transporte, ao mesmo tempo em que o baixo nível de estoques deixa de gerar custos para sua manutenção, uma vez que são mantidos próximos do nível zero. O conceito do Just in Time é praticado juntamente com o Kanban, que consiste na utilização de sinalização ao longo do processo produtivo, destinados a informar aos postos de trabalho próximos sobre o momento das necessidades de componentes. Quaisquer eventuais alterações na demanda podem ser imediatamente ajustadas, pois tanto as quantidades produzidas como as respectivas requisições de insumos sempre ocorrem em pequenas quantidades. Dentre os inúmeros obstáculos para a adoção do Just in Time, o principal deles é a atuação dos fornecedores. Para que o sistema funcione, as matérias-primas devem ser 17 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. entregues na linha de produção quase no exato momento em que serão necessárias ao processo fabril, o que se traduz na necessidade de fornecimentos constantes e em pequenas quantidades. Tal exigência altera profundamente a conceituação de sistema de transportes, além de eliminar a tolerância com eventuais peças defeituosas. Ou seja, para implementar o JIT, a empresa precisará convencer seus fornecedores de todas as vantagens envolvidas, para que eles também o adotem. Caso contrário, todos os esforços são inócuos. O procedimento recomendado quanto à seleção de fornecedores, para atuarem em um sistema de parceria estratégica, no modelo JIT são as seguintes: • Ter poucos fornecedores, geograficamente próximos do grande comprador; • Tentar agrupar os fornecedores distantes em única remessa; • Eliminar a concorrência entre fornecedores quanto ao fornecimento de novas peças e componentes; • Resistir à tendência de integração vertical; • Trabalhar no longo prazo com os mesmos fornecedores; • Utilizar análise de valor para que os fornecedores desejáveis mantenham preços competitivos; Encorajar os fornecedores a estender o JIT também aos seus próprios fornecedores. O conceito operacional do JIT consiste em fabricar apenas a quantidade necessária para cada operação, para uso imediato na operação seguinte do processo. Daí, que o primeiro posto de trabalho ao longo desse fluxo necessitará de peças, componentes ou matérias- primas no exato momento de iniciar o trabalho e apenas na quantidade suficiente para montar ou fabricar as unidades solicitadas pelo segundo posto de trabalho, e assim sucessivamente. 18 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Se o passo subsequente não especificar a quantidade de material necessária e em qual momento; todo o processo passará a assumir a existência de variações na demanda, solicitando estoques para situações de pico, com um efeito multiplicativo para trás, o que resultará em estoques cada vez maiores; retornando ao processo produtivo tradicional; com grandes volumes de matéria-prima e material em processamento. Resumindo, só é possível trabalhar com níveis mínimos de estoques quando a demanda for necessária. Por outro lado, a drástica redução no nível de estoque exige grande conscientização sobre a qualidade das matérias-primas, peças e componentes comprados, impondo a total eliminação de desperdícios e (re)trabalho, sendo possível detectar imediatamente eventuais fontes e defeitos. Além do maior giro de estoque, os benefícios da implantação do JIT abrangem a melhoria da qualidade, a redução da formação de sucata, maior produtividade e melhores relações com clientes e fornecedores. Se um fornecedor fizer entregas de má qualidade, toda a linha de produção ficará comprometida, pois não haverá estoque sobressalente para cobrir entregas fora de especificação. O grau de envolvimento entre o fornecedor e comprador assume tal proporção que, em 1987 foi criado o conceito de Just in Time II, o que significa equipes do fornecedor e do transportador operando, respectivamente, as áreas de compras e de transportes do cliente. Assim, em momentos emergenciais, todo o Planeta pode ser rapidamente vasculhado para localizar, em caráter urgente, onde existe algum componente momentaneamente indisponível e indispensável para manter operando a linha de montagem (Global Sourcing). Outro importante aspecto a ser considerado é o das embalagens, que na maior parte das vezes são relegadas ao segundo plano, desconsiderando a responsabilidade do comprador. Em um processo sob a ótica JIT, a ideia é utilizar pequenos contenedores (padrão) para cada tipo de peça e código. A partir do momento em que estas embalagens contenham quantidade precisa de peças, em consequência podem ser obtidas as seguintes vantagens: 19 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. • Inexistência de excessosou faltas; • Fácil e precisa contagem das peças; • A especificação precisa do conteúdo das embalagens evita que o comprador cometa erros. 20 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 4 Objetivo: Aprender como o Just in Time colabora para a melhoria dos processos logísticos. Distribuição Física Internacional Denomina-se Distribuição Física Internacional (DFI) o conjunto de estratégias utilizadas em todas as etapas do processo destinado a disponibilizar produtos e/ou serviços em outros países. Desde a movimentação e a estocagem dos produtos acabados, até o processamento de pedidos e sua entrega, envolvendo atividades de movimentação, consolidação, documentação, seguros, transporte internacional e distribuição física, de forma a agregar valor aos clientes. Esta é a atividade mais importante em termos de controle dos custos logísticos, já que é responsável por cerca de 2/3 do total desses custos, e, portanto deve ser entendida e controlada como um dos subsistemas fundamentais da gestão Logística. A Administração da Distribuição Física deve ser desenvolvida nos três níveis gerenciais3: (1) estratégico; (2) tático e (3) operacional. • Nível estratégico: como deve ser o sistema de distribuição? • Nível Tático: como o sistema de distribuição pode ser utilizado da melhor maneira possível? • Nível Operacional: como fazer as mercadorias saírem? As decisões a serem tomadas nos três níveis são de capital importância para a efetiva obtenção de vantagem competitiva junto ao mercado, para garantir não somente a lucratividade, mas a sobrevivência da empresa. 21 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. As perguntas cruciais a serem respondidas são: • Qual será a demanda futura em um dado mercado? • O quê, quando e onde comprar insumos e componentes? • Capacidade, localização e quantidade das fábricas e Centros de Distribuição Regionais? • Que clientes ou mercados deverão ser supridos pelos Centros de Distribuição? • Que produtos serão produzidos ou estocados em cada fábrica ou Centro de Distribuição? • Que modais de transporte serão usados no suprimento e distribuição? • Terceirizar ou não as operações? As respostas a essas perguntas não podem ter caráter aleatório, pois envolvem investimentos. São usados modelos matemáticos, chamados “modelos locacionais”, com base no confronto das matrizes de oferta e de demanda de um determinado conjunto de elementos significantes por cada região proposta. A multiplicação dessas matrizes indicará cientificamente a localização ideal. Soluções globais em Distribuição Física4 Atualmente, podem-se identificar muitas abordagens, metodologias, sistemas, etc. para intervir na atuação internacional das empresas, principalmente após ficar claramente definido o entendimento que através da integração das funções logísticas é possível atingir as metas definidas nas estratégias de negócios. 3 KOBAYASHI, Shun’ichi. Renovação da Logística. São Paulo: Atlas, 2000. 4 PRAHALAD, C. K.; HAMEL, Gary. The Core Competence of the Corporation. Harvard Business Review, mai/jun, 1990. 22 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. A transformação dos mercados regionais e protegidos em oportunidades globais de negócios desencadeou um processo de concentração de esforços na busca por excelência. Esse processo foi gerado pela percepção da defasagem entre o poder competitivo das empresas regionais em relação àquelas que já estavam preparadas para atuar no mercado global. As soluções globais, ou sistemas integrados, embasadas no uso intensivo da tecnologia da informação, possibilitam a disponibilização da informação em bases de dados comuns e surgem como uma ferramenta indispensável nesse contexto. A opção por esses sistemas de amplo escopo (inclui módulos para todas as atividades de uma empresa) como recurso para a gestão global, além do alto investimento na forma de desembolso financeiro, requer esforços significativos de implementação, em termos de recursos humanos e de instalações. Muitas questões podem ser discutidas sobre a adoção, implementação e utilização de sistemas. Mas uma análise interessante é verificar a presença de elementos como o enfoque em processo. É razoável admitir que uma análise a partir de elementos da gerência por processos pode ajudar a identificar se os sistemas integrados apresentam ou consideram esse enfoque em sua proposição, ou suportam uma implementação onde a gerência por processos já está presente. A necessidade de revisão e redefinição de processos e negócios é pressuposta na adoção de sistemas de informação integrados. As soluções globais se apóiam na integração das funções. Entretanto, suas premissas têm amparo em aspectos lógicos e objetivos, que podem não ser suficientes para permitir a compreensão da realidade total da situação, sendo também necessário considerar aspectos subjetivos do mundo organizacional. 23 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Estrutura organizacional e estratégica da Distribuição Física Internacional (DFI)5 De acordo com a abrangência de atuação das operações por diferentes regiões do planeta e diversificação do mix de produtos, a definição de uma estrutura organizacional focada na distribuição física internacional pode assumir diferentes formas. As estruturas organizacionais mais comumente empregadas são as seguintes: DIVISÃO INTERNACIONAL: Estrutura separada das atividades domésticas. Mais adequada quando há diversidade de produtos. POR FAMÍLIAS DE PRODUTOS: Fábricas-foco, cada uma direcionada à produção de determinados grupos de produtos. GEOGRÁFICA: Estabelecida para determinados países ou regiões. MATRICIAL: Estrutura complexa, com uma cadeia de duplo comando (por família e geográfica). Destina-se a pensar de forma global, porém com ações direcionadas às peculiaridades locais. REDE TRANSACIONAL GLOBAL: Há um comando central, com subsidiárias semi- independentes em diferentes países. Tendo em mente o tipo de estrutura definido segundo esses modelos, as principais estratégias da distribuição física global se dão sob as seguintes circunstâncias: Exportação: Exportação Indireta: Uso de intermediários de seu próprio país (tradings ou corretores) que atuem no mercado alvo. Não exige nenhum investimento, mas tampouco se tem controle sobre o processo, com a possibilidade de riscos para a imagem. 5 KOTABE, Masaaki; HELSEN, Kristiaan. Administração de marketing global. São Paulo: Atlas, 1999. 24 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Exportação Cooperativa6: Acordos para uso da rede de distribuição de terceiros no país-alvo. Exige pouco investimento, mas assegura algum controle sobre o processo. Adequado para iniciantes nesse mercado. Exportação Direta: Requer o uso de traders ou escritório local sobre o processo, com grande comprometimento de recursos e mão de obra, dando total controle sobre o processo, com alta exposição e risco. Countertrade7: Transações comerciais entre países sem envolver transferências financeiras. Geralmente ocorrem para superar novos mercados, escassez de divisas ou países sem crédito internacional: Podem ser: (a) Trocas simples; (b) Acordo de troca (débitos em conta); (c) Comércio Trilateral; (d) Troca por tecnologia; (e) Acordo de compra ou transferência de tecnologia. Franquias e licenciamentos: Diferentemente da exportação física de produtos, tratam-se de contratos com empresas locais para a cessão de know-how, processos, uso de marcas e patentes, etc., em troca do pagamentode royalties. Demanda poucos recursos e contorna barreiras protecionistas, dando acesso a mercados fechados, gerando receitas pequenas e favorece a existência futura de um potencial concorrente local, com o risco de perda da marca nesse local. Joint-ventures: Implica em compartilhar com uma organização local o capital investido e os riscos do negócio, formando uma nova empresa já dispondo de escala operacional na região. 6 MACIEL, Graccho Machado; LIMA, Leila Maria Moura. Consórcios de Exportação. São Paulo: Aduaneiras, 2002. 7 RAMUSSEN, U.W. Counter Trade: Uma nova teoria monetária no Comércio Internacional. 3 ed. São Paulo: Aduaneiras, 1992 25 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Assegura melhor conhecimento da legislação, peculiaridades e facilidades locais, bem como o acesso aos recursos e à rede de distribuição disponível. Garante retorno do capital e controle maiores que no licenciamento, gerando grande sinergia com o país hospedeiro. Fábricas-foco: Instalação de fábricas em diferentes regiões ou países, cada uma, especializada em uma determinada família de produto. Costumam se destinar à distribuição global. Demanda grandes recursos e gera grandes receitas, sobretudo com o intercâmbio de componentes dentre outras empresas pertencentes ao mesmo grupo transnacional. Subsidiárias integrais: Implantação de novas fábricas, cujas operações iniciam do zero, contando inicialmente com equipes expatriadas. Consome elevados recursos e oferece risco total, mas mantém o controle absoluto do patrimônio da marca por parte da matriz em solo estrangeiro. Exige boas relações governamentais e gera forte comprometimento e integração com o mercado local. Indicado para entrantes precoces nos mercados em crescimento. Fusões e aquisições: Ao invés de implantar a sua própria estrutura a partir do zero, o novo entrante adquire uma empresa já existente no local, podendo começar a operar de imediato, agregando marcas locais à sua própria. Há riscos de choque cultural, aquisição de fábricas obsoletas, elevadas dívidas trabalhistas ocultas e xenofobia. É a opção indicada para entrantes tardios nesse mercado. 26 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Ao se considerar Exportação Direta, Fábricas-Foco, Subsidiárias Integrais ou Fusões/Aquisições, não se pode deixar de mencionar a necessidade de executivos expatriados serem enviados da matriz para viver no país-alvo, de maneira a garantir o controle da sede sobre o que irá ocorrer em solo estrangeiro. Vantagens: • Melhor comunicação com o escritório central; • Familiaridade com os produtos; • Treinamento de futuros gerentes locais. Desvantagens: • Necessidade de treinamento intercultural; • Nível de remuneração adequado e fringe benefits; • Problemas no âmbito familiar do executivo; • Tempo fora da sede; • Preocupações de ordem financeira e quanto a novas oportunidades de carreira por ocasião do retorno. Seja qual for a estratégia definida, a gestão Logística da DFI não pode deixar de considerar os seguintes elementos de custo: Distância: tempo de trânsito (Lead Time necessário para suprir as previsões da demanda), valor de fretes e seguros, custo dos transbordos, alíquotas dos impostos. Flutuações das taxas de câmbio: Se julgado necessário, planejar embarques alternativos de diferentes subsidiárias no exterior. 27 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Intermediários estrangeiros: Necessários nas negociações com governos, na observação das peculiaridades da cultura local, tradições e legislação. O custo não pode inviabilizar a entrada em um determinado mercado. Intercâmbio comercial: Procedimentos aduaneiros, programação de embarques (estoque em trânsito) e estratégias Intraempresa ou Interempresas. 28 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 5 Objetivo: Conhecer o conceito de Distribuição Física Internacional e o papel das empresas nesse segmento. Fatores que Afetam a Distribuição Física Internacional Alguns fatores que influenciam a composição de custos da Distribuição Física Internacional, podendo inclusive inviabilizá-la. Na Gestão Logística da DFI devem ser cuidadosamente avaliados e, caso seja possível, alterados para beneficiar o processo: Distância: Um dos principais elementos no custo do transporte. Envolve combustível, lubrificantes, manutenção e mão de obra. Contudo, viagens diretas mais longas apresentam menos paradas e transbordos, podendo reduzir proporcionalmente os custos quando comparadas a viagens mais curtas. Tamanho do lote: O custo por unidade transportada diminui à medida que aumenta o tamanho do lote (trade-off). Densidade da carga: Relação entre o peso e o volume da carga, também conhecida como “fator de estiva” expressa, geralmente, em m³/t. Facilidade de acondicionamento: Dimensões e peso dos volumes e sua relação com o aproveitamento do espaço no transporte. Facilidade de manuseio ou movimentação: Determina o tipo de equipamento e o tempo médio necessário à realização das operações de carga e descarga. Preço de mercado: O preço de um produto em cada mercado é afetado pela relação oferta e demanda; intensidade e sentido dos fluxos de tráfego e sazonalidade. 29 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Responsabilidade: Relacionada ao custo do seguro, destinado a cobrir riscos de avarias à carga, ao Veículo transportador ou a terceiros, possibilidades da mercadoria deteriorar, ser furtada ou roubada. Além dos aspectos técnicos, na definição das estratégias de distribuição internacional, deve-se ainda considerar os seguintes aspectos políticos: • Restrições gerais às importações originárias de países que desrespeitem direitos humanos; • Restrições a produtos considerados estratégicos, passíveis de serem utilizados por países inimigos; • Restrições a investimentos do capital estrangeiro; • Fomento (incentivos) a alguns setores econômicos; • Salvaguardas de empregos locais; • Licenças prévias, regulamentos fitossanitários, padrões mínimos de desempenho e segurança. Para se obter competitividade em um cenário de constantes mudanças, a interação de todos os atores envolvidos, a obtenção de lucratividade no longo prazo e a busca da redução no custo total, as principais prioridades competitivas devem ser: • Custo: custo inicial x custo do ciclo de vida do produto; • Qualidade: de projeto x de conformidade; • Serviço: velocidade de entrega x confiabilidade da entrega; • Flexibilidade: produção, novos produtos, mix de produtos e customização. 30 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Segundo Dornier8, para se obter vantagem competitiva na guerra travada diariamente no mercado internacional, as principais questões estratégicas a serem observadas devem ser: • Adequada configuração da cadeia de suprimento (Supply Chain); • Alianças e parcerias colaborativas; • Terceirizações de atividades fora do Core Business; • Utilização de operadores logísticos; • Definição do sistema e dos modais de transportes; • Escolha dos canais de distribuição; • Adequação da tecnologia de informação e sistemas de suporte à decisão; • Gestão Estratégica de: Demanda; Compras; Produção e Vendas. Com base nessas premissas, Logística, Produção e Marketing devem trabalhar de forma integrada, objetivando que os investimentos em novos produtos, sejam precedidos de pesquisas de mercado adaptadas às necessidades de uma determinada região, incorporando: • Biotipo predominante; • Nível tecnológico compatível; • Novos materiais e tamanhos de produto; • Adequação das dimensões e resistência da embalagem; • Economia de escala para obter melhor preço;8 DORNIER, Philippe-Pierre, ERNEST, Ricardo, FENDER, Michel, KOUVELIS, Panos. Logística e operações globais: textos e casos. São Paulo: Atlas, 2000. 31 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. • Preocupação com o meio-ambiente; • Diferenciação da concorrência. Segundo Hill9 além das considerações sobre a diversidade dos povos, outras barreiras de ordem Logística podem inviabilizar os custos de um global player impedindo sua entrada em um novo mercado: • Concorrência dos conglomerados transnacionais; • Novos entrantes surgem a cada momento em todos os mercados do planeta; • Rapidez na evolução tecnológica e acelerado processo de obsolescência dos produtos; • Produção em massa, simultaneamente à fragmentação e especialização dos processos; • Consumidores cada vez mais exigentes com a qualidade e o nível dos serviços; • Estrutura de custos e preços diferenciados por países e ou regiões; • Necessidade de implantação de serviços pós-venda em qualquer lugar do planeta; • Ambiente protecionista x subsídios. Analisada a questão dos custos, ainda há outras variáveis a serem vencidas, que podem se constituir em verdadeiros desafios: • Distâncias geográficas a serem percorridas; • Diversidade cultural e religiosa em diferentes países; • Peculiaridade de legislações; 9 HILL, Charles W. L. Internacional Business: competing in the global market place. Ed. Richard D. Irwing. USA, 1997. 32 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. • Aspectos ambientais: Logística Reversa • Vendas simultâneas em diferentes países; • Exacerbação da xenofobia; • Aspectos documentais: certificações específicas; • A complexidade das cadeias de suprimento e a dificuldade de acoplar; demanda e oferta; • Produto certo, no lugar certo, no tempo certo a custo adequado; • Constante evolução e transformação dos processos, mercados e sistemas ao longo do tempo; • Dificuldades causadas pelas relações de poder; • A constante redução do ciclo de vida dos produtos e a crescente tendência de customização. Planejamento das ações na Logística Global10 Para que efetivamente seja possível obter vantagem competitiva global, o planejamento das ações logísticas deve se pautar nas seguintes políticas: • Padronizar componentes básicos, para conseguir economia de escala; • Avançar a montagem final na cadeia de distribuição, de forma a possibilitar a customização de produtos adequados aos diferentes clientes e perfis de demanda; • Compensar custos conflitantes (trade-offs); • Diferenciar níveis de serviço por tipo de produto; 33 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. • Planejar os meios para escoar, localizar estoques e distribuir a clientes; • Selecionar os canais de distribuição mais adequados; • Consolidação de lotes para embarque; • Planejar os fluxos, de maneira a reduzir os riscos; • Ter planos de contingência alternativos; • Monitorar o processo, avaliar o desempenho e adotar medidas corretivas. Na obtenção do binômio, redução de custos x vantagem competitiva, o planejamento logístico global no nível estratégico deve se apoiar sobre as seguintes premissas: • Estabelecer relacionamentos de acordo com os grupos de suprimento (famílias de produtos); • Buscar parcerias colaborativas com fornecedores (certificação ou integração); • Enfocar competências–chave (Core Business); • Investir no desenvolvimento de produtos substitutos e padronização de materiais; • Gerenciar continuamente o processo, otimizando e avaliando a cadeia de suprimentos; • Selecionar fornecedores globais (Global Sourcing). Na obtenção do binômio, redução de custos x melhoria da qualidade, o planejamento logístico global no nível operacional deve se apoiar sobre as seguintes premissas: Redução de custos: Calcular os Trade-offs para minimizar os custos variáveis de transporte, manutenção e estocagem; 10 KOBAYASHI, Shun’ichi. Renovação da Logística. São Paulo: Atlas, 2000. 34 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Redução do capital investido: Sempre que possível, minimizar p nível investimento via terceirização; Serviço a clientes: Avaliar a necessidade de fracionamento ou de consolidação; Melhorias no serviço: Embora os custos aumentem com a elevação da qualidade dos serviços, conforme a consistência das ações adotadas, as receitas podem aumentar mais rapidamente que as da concorrência. As empresas brasileiras ainda não possuem uma participação tão efetiva no mercado global, com bases estabelecidas no exterior. Porém com a tendência de buscar mão de obra mais barata, expandir mercado consumidor, desenvolver a marca e fugir das barreiras protecionistas dos países, algumas empresas consideram como estratégia a migração ou abertura de negócios em outros países. Então, a atenção deve ser redobrada nos modelos de internacionalização possíveis. 35 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 6 Objetivo: Formar a base conceitual no que diz respeito a transportes e manter um primeiro contato com alguns termos específicos da área. Conceitos Básicos de Transportes Em sentido estrito, transporte é o deslocamento de bens e de pessoas no espaço geográfico, ou seja, de um local para outro. Em sentido econômico, mais amplo, é a interligação entre produtores e consumidores, essencial para a exploração ou o desenvolvimento dos recursos econômicos em escala nacional ou internacional. Nos primórdios da humanidade todos os pesos eram transportados pelo próprio homem, de acordo com sua limitada capacidade física. Após ter começado a permutar mercadorias (escambo), alguns animais foram domesticados e utilizados para ampliar a capacidade de transporte. Com o advento da agricultura, as mercadorias disponíveis para serem trocadas se diversificavam cada vez mais. Impulsionado pela necessidade, o ser humano inventou a roda e começou a construir veículos que, puxados por animais domésticos, multiplicava a capacidade da carga transportada de uma única vez. Ao longo do tempo, em decorrência de maiores dificuldades na negociação das trocas, inúmeros materiais então disponíveis foram utilizados como referencial de valor (dinheiro), gerando crescentes demandas por transporte e impondo ao Homem que aprendesse a construir e aperfeiçoar veículos de diferentes velocidades e capacidades de carga. Os povos ribeirinhos e litorâneos lidavam com outro tipo de problema, ou seja, a transposição das águas. Para isso aprenderam a construir jangadas, barcos de papiro, juncos e outras embarcações rudimentares, movidas pela força dos braços (remo) ou impulsionadas pelo vento (vela), para o transporte de pessoas e cargas. Durante a Primeira Revolução Industrial, a invenção da máquina a vapor e a substituição da madeira pelo aço possibilitaram a construção de embarcações cada vez maiores, 36 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. barateando os custos de transporte sobre as águas. No início do século XX, após a consolidação das máquinas voadoras mais pesadas que o ar, o homem passou a transportar mercadorias também via aérea, sempre que a imperiosidade de rapidez no transporte privilegiava a relação custo x benefício, em especial no caso de mercadorias facilmente perecíveis. Atualmente, o estudo do transporte de cargas tomou o cunho sistêmico de especialização científica, buscando-se entender e analisar todas as variáveis envolvidas para melhor atender às complexas necessidades decorrentes das transações comerciais locais, regionais e internacionais. Terminologiautilizada em transportes EMBARCADOR OU EXPEDIDOR – Pessoa física ou jurídica que celebra o contrato de transporte com o transportador, não necessariamente o proprietário da mercadoria. CONSIGNATÁRIO – Pessoa física ou jurídica legitimamente autorizada para receber a mercadoria no local contratualmente acordado para sua entrega. VOLUME INDIVISÍVEL – Volume unitário contendo mercadorias, indivisível durante o processo de transferência e movimentação, ao longo do seu percurso e em todas as modalidades de transporte utilizadas. CARGA FRACIONADA – Volumes de carga solta, constituídos por sacos, fardos, tambores, barris, engradados, etc. CARGA UNITIZADA – Lote formado por diversos pequenos volumes de carga fracionada, acondicionados em uma única unidade de carga. PALLET (ou PALETE) – Estrado com entradas para os garfos de empilhadeiras, feito em madeira ou materiais sintéticos, sobre cuja superfície pode agrupar e fixar as mercadorias com fitas de poliéster, nylon ou outros meios, constituindo uma unidade de carga. 37 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. PRÉ-LINGADO – Rede especial, resistente, manufaturada com fios de poliéster, nylon ou similar, adequada para unitizar mercadorias ensacadas, empacotadas ou acondicionadas de outras formas (marino slings). CONTÊINER – Caixa de aço ou outro material resistente; destinada a acondicionar mercadorias para transporte com segurança, inviolabilidade e rapidez, atendendo igualmente a todas as condições previstas pela legislação nacional e Convenções Internacionais ratificadas no Brasil. Para todos os fins e efeitos legais, o contêiner não se constitui em embalagem e sim acessório do veículo transportador. Dentre outros, o contêiner deve preencher os seguintes requisitos: • Ter caráter permanente e ser resistente o suficiente para suportar o seu uso repetido; • Ser projetado de forma a possibilitar a sua movimentação nos diversos modais de transporte; • Possuir dispositivos que facilitem a sua transferência de um veículo para outro, em uma ou mais modalidades de transporte; • Ser projetado de modo a permitir o fácil enchimento ou esvaziamento (ova e desova); • Ser facilmente acessível à inspeção aduaneira, sem nenhuma possibilidade de ocultar mercadorias. HOUSE TO HOUSE (Door to Door) – A expressão diz respeito ao alcance do transporte. Significa que a mercadoria será recebida pelo seu transportador no seu local de origem ou onde melhor convier ao interesse do embarcador e liberada no destino final onde o consignatário o desejar. O Porta a Porta é a mais perfeita expressão do transporte 38 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. multimodal, pois o transportador mantém a custódia da mercadoria ao longo de todo o seu percurso. PIER TO PIER – A expressão Porto a Porto significa que antes do transportador principal (maior percurso) receber a mercadoria, já houve um transporte anterior, a expensas do embarcador e que, após a mercadoria ser liberada no destino acordado, provavelmente haverá um transporte adicional, antes de ser finalmente recebida pelo consignatário. PIER TO HOUSE – O termo Porto, na origem, identifica que já houve um transporte antes do transportador principal receber a mercadoria e que este, após recebê-la entregará no seu destino final, conforme indica a expressão Porta no destino. HOUSE TO PIER – Situação inversa a anterior. O termo Porta, na origem, indica que o transportador principal irá buscar a mercadoria no seu local de origem e que, após sua entrega no local acordado, provavelmente haverá um transporte adicional antes de ser recebida pelo consignatário. CONTRATO DE TRANSPORTE – Documento que expressa à relação ente o transportador e o usuário. Juntamente com a apólice de seguro e o contrato de compra e venda, todos inter-relacionados, regulam os direitos e deveres entre as partes envolvidas, definindo quem é o dono da mercadoria, quem é o transportador, a modalidade e o valor do frete, os locais de origem e entrega da mercadoria, além das mútuas e respectivas responsabilidades. CONHECIMENTO DE TRANSPORTE (Bill of Lading) – É a prova da existência do contrato de transporte, no qual se discrimina e disciplina as cláusulas que regerão este transporte. Serve como prova de entrega da mercadoria e, em seu original, é um título de propriedade negociável, com força de escritura pública (Código Comercial Brasileiro art. 587). SEGURO-CARGA – A mercadoria ao ser transportada, por qualquer dos modos e formas existentes, corre riscos, devendo ser segurada porta a porta pelo interessado: 39 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. embarcador, exportador, destinatário ou importador. Nos termos da apólice, este seguro garantirá a indenização ao segurado por eventuais perdas ou danos sofridos pela mercadoria. Como sub-rogada, a seguradora poderá cobrar o prejuízo ao responsável pela falta ou avaria. O seguro-carga diz respeito somente à carga e não ao veículo transportador, onde quer que esteja, em qualquer dos modos ou formas de transporte. SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – Quando um transportador aceita receber uma mercadoria para efetuar um transporte, estará submetido às obrigações estabelecidas no contrato e na lei. No caso de deixar de satisfazer alguma dessas obrigações, poderá sofrer sanções ou reparos pecuniários. Entretanto, o transportador pode (e deve) contratar seguro contra alguns desses riscos. Em outras palavras, o seguro de responsabilidade civil transfere para a seguradora a responsabilidade do transportador por ter perdido ou avariado a mercadoria transportada. SEGURO-CASCO – O seguro-casco cobre apenas o equipamento que efetua o transporte. Sua indenização diz respeito aos prejuízos que este possa sofrer, independente de estar transportando carga. É parecido com o seguro do automóvel e não guarda nenhuma relação com a carga. Formas de transporte As formas de transporte dizem respeito À sua contratação. Apesar do Decreto 80.145/77 ter sido revogado, o seu artigo 14 apresenta definições sobre as formas com que os vários modos de transporte se relacionam que, pela força da ideia que expressam, podem e devem ser consideradas válidas. São elas: UNIMODAL – quando a unidade de carga é transportada diretamente, utilizando um único veículo, em uma única modalidade de transporte e com apenas um contrato de transporte. É a forma mais simples de transporte; 40 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. SUCESSIVO – Quando, para alcançar seu destino final, a unidade de carga necessita ser transportada por um ou mais veículos da mesma modalidade de transporte, abrangidos por um ou mais contratos de transporte; SEGMENTADO – quando se utilizam de veículos diferentes, de uma ou mais modalidades de transporte, em vários estágios, sendo todos os serviços contratados separadamente a diferentes transportadores, que terão a seu cargo a condução da unidade de carga do ponto de expedição até o destino final. Qualquer atraso pode significar a perda do transporte nos demais modais, gerando frete morto (pagar por ter reservado o espaço, mesmo sem realizar o transporte). A imputação de responsabilidades por perdas ou avarias é muito complexa e as indenizações por lucros cessantes, flutuação de preços, etc. são praticamente impossíveis. MULTIMODAL – quando a unidade de carga é transportada em todo o percurso utilizando duas ou mais modalidades de transporte, abrangidas por um único contrato de transporte. A prévia coleta e movimentação de mercadorias para unitização, bem como eventuais operações depois de sua entrega no local de destino estabelecido no contrato de transporte, não caracterizam o transporte multimodal, nem dele fazem parte. Modos ou modais de transporte Os modos utilizados para se efetuar um transportepodem ser: RODOVIÁRIO – a carga é transportada pelas rodovias em caminhões, carretas, etc.; FERROVIÁRIO – a carga é transportada pelas ferrovias, em vagões fechados, plataformas, etc.; FLUVIAL/LACUSTRE (Hidroviário) – a carga é transportada em embarcações, através de rios, lagos ou lagoas; MARÍTIMO – a carga é transportada em embarcações pelos mares e oceanos; 41 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. AQUAVIÁRIO – abrange em uma só definição os modais, marítimo e hidroviário. AÉREO – a carga é transportada em aviões, através do espaço aéreo; DUTOVIÁRIO – sempre na forma de granéis sólidos, líquidos ou gasosos, a carga é transportada através de dutos. As principais variáveis de decisão quanto à seleção dos modais de transporte nas transferências compreendem: • Disponibilidade e frequência do transporte; • Confiabilidade do tempo e de trânsito; • Valor do frete; • Índice de faltas e/ou avarias (taxa de sinistralidade); • Nível de serviços prestados O tempo de trânsito, afeta diretamente o prazo de (re)suprimento, abrangendo o tempo despendido pelo embarcador na consolidação e manuseios, o percurso, propriamente dito; os tempos necessários aos transbordos (caso haja) e o tempo necessário à liberação da carga por ocasião do recebimento. Qualquer atraso imprevisto pode paralisar uma linha de produção caso o estoque de reserva seja muito baixo. A possibilidade de avarias aumenta na mesma proporção da quantidade de manuseios e transbordos. Às vezes, a fragilidade da mercadoria justifica a utilização de um modal cujo frete seja sensivelmente mais caro. A sofisticação dos serviços pode sinalizar, por exemplo, para um sistema de posicionamento geográfico instantâneo, via satélite ao longo do seu percurso. 42 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 7 Objetivo: Conhecer as matrizes de transporte, suas histórias e como foram formadas. Geopolítica de Transportes no Brasil O Brasil ocupa uma área de 8.511.965 Km² e equivale a 47,7% do continente sul- americano. Suas fronteiras terrestres totalizam 15.179 km, com as seguintes características geográficas: NORTE: O Planalto das Guianas e a Serra do Imeri estendem-se ao norte da América do Sul, registrando os pontos mais elevados do território nacional, apresentando grandes dificuldades à sua transposição terrestre. NOROESTE: A Floresta Amazônica adentra os países limítrofes. A bacia hidrográfica do rio Amazonas, com aproximadamente 24.000 km de vias navegáveis é o principal meio de transporte e fator de integração regional. Contudo, não alcança as principais cidades e centros comerciais dos países vizinhos, além fronteiras. OESTE: A Cordilheira dos Andes impõe-se como um obstáculo natural à sua transposição terrestre, que só é possível via Paso de Mendoza (Argentina). SUDOESTE: A Planície do Pantanal possui baixa declividade, com enchentes sazonais. Todavia, o sistema hidroviário dos rios Paraná e Paraguai permite a conexão fluvial com a Bacia do Prata. SUL: As ligações rodoviárias e fluviais com o Uruguai e a Argentina são boas, favorecendo as trocas comerciais no âmbito do MERCOSUL. LESTE: O Oceano Atlântico, a grande fronteira líquida que, com uma extensão de 7.408 km liga o Brasil aos seus principais parceiros comerciais. 43 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Como se pode perceber, a Geografia do Brasil aponta para uma vocação marítima. Pode- se ainda acrescentar que, a uma distância máxima de até 500 km do litoral brasileiro (em sua maioria a menos de 200 km) encontram-se: • Todas as concentrações urbanas com mais de 1.000.000 de habitantes, à exceção de Brasília e Manaus; • Todas as refinarias de petróleo, exceto a de Manaus; • 97% de toda a produção industrial; • 90% do consumo de energia elétrica; • 85% de toda a população do país; • 83% de todas as receitas da União; • 75% das rodovias pavimentadas. As Matrizes de Transporte As Matrizes de Transporte de determinadas regiões se definem, em sua maioria, pelo histórico de cada região, relevo predominante, suas políticas e culturas. Para uma análise detalhada das matrizes de cada região, seria preciso recorrer à História de cada região, o que, embora não faça parte do foco da matéria, seria interessante que o leitor o fizesse por conta própria. Aqui, será apresentado um breve resumo das principais matrizes e a ênfase será dada a matriz sul-americana, em especial a brasileira. A Matriz Norte-Americana Sabemos que a conquista do Oeste e a integração nacional do território norte-americano deveu-se em grande parte à utilização intensiva do sistema fluvial Mississipi/Missouri 44 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. (eixo norte-sul) e da ferrovia Transpacific Union (eixo leste-oeste). Essas alternativas foram ampliadas, consolidando os diferentes modais para a integração econômica das diversas regiões. Ao longo da fronteira canadense, foram cortados canais interligando os Grandes Lagos, para possibilitar que, a despeito da restrição do congelamento do Rio São Lourenço durante o inverno, a navegação de longo curso alcançasse cidades como Chicago e Detroit. Apesar de ser considerado o país do automóvel, a praticidade econômica do espírito norte-americano não admite o transporte massivo de cargas via rodoviária. A Matriz Europeia Acredita-se ser desnecessário comentar a importância histórica do Mar Mediterrâneo – o famoso Mare Nostrum, possibilitando uma pujante expansão comercial via marítima entre os europeus meridionais e o Norte da África. Cerca de 3.000 anos a.C. os egípcios – primeiro povo a utilizar o mar com fins comerciais – construíram os primeiros navios de que se tem notícia; com o objetivo específico de trocar papiros e trigo pelas preciosas madeiras do Líbano. Seus discípulos - os fenícios – aprenderam a arte náutica e durante mais de 2.000 anos dominaram o Mediterrâneo com o esplendor de seu comércio. Depois de derrotar os persas e entendendo que o controle do mar era vital, a Grécia estabeleceu ampla hegemonia marítima, reduzindo gradativamente o poder fenício, até a conquista da região pelos romanos, em 64 a.C.. Para os romanos, navigare est – navegar é preciso: estenderam os seus domínios até o Mar do Norte, fundaram Londres, mantiveram os mares livres dos piratas, construíram os faróis em Óstia, Bolonha e Dover, melhoraram os portos, dragaram o velho canal entre o Rio Nilo e o Mar Vermelho. Por sua vez, a relevância estratégica e comercial, da navegação do Mar do Norte – Mar Báltico; tanto a de longo curso como a de cabotagem, decorre em grande parte do fato de ser totalmente integrada a um enorme sistema fluvial formado pelos rios Schelde, Mosa, 45 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Weser e Elba, possibilitando inúmeros acessos ao interior, através da Bélgica, Holanda e Alemanha. Para o povo europeu as hidrovias revestem-se de tal prioridade que, em 1993, finalmente foi concluída uma obra projetada no final do século retrasado e que levou 30 anos sendo executada: a ligação: Reno, Meno, Ródano; criando inúmeras alternativas de transporte, destacando-se as ramificações para os rios Sena e Danúbio. A malha ferroviária da Europa muito se desenvolveu ao longo dos anos, culminando em ferrovias interligadas e com um alto grau de tecnologia, propiciando o transporte rápido e seguro de pessoas e mercadorias por meio dos TGV (trens de grande velocidade). Em 1994 foram concluídas as obras de construção do Eurotúnel, possibilitando a ligação ferroviária subaquática entre a França e a Inglaterra, sob as águas do Canal da Mancha. A Matriz Asiática A História Chinesa desenvolveu-se em duas frentes: No interior, consolidando a sua continentalidade através da construção da milenar muralha, que alémde fortificação contra os inimigos, propiciava o abastecimento rápido e seguro pelo seu interior. No litoral, estabelecendo sua hegemonia nos mares e colonizando vastas regiões, por meio de uma enorme frota de juncos e sampanas, verdadeiros entrepostos comerciais flutuantes, apoiadas por embarcações guerreiras e piratas, que além de defender o poderio comercial chinês, destroçava os inimigos, impedindo a concorrência comercial. Para os japoneses, a navegação sempre foi uma imposição geográfica para a consolidação territorial de um país, já que o país é formado por uma infinidade de ilhas montanhosas e vulcânicas. 46 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Poderiam os famosos Tigres Asiáticos sonhar com o atual surto de desenvolvimento sem ter o mar como via natural para o intercâmbio das riquezas geradas? A Matriz Sul-Americana Transporte eficiente é um dos elementos básicos para o desenvolvimento das nações, em especial as dotadas de grande extensão territorial. A despeito deste fato, o custo interno do transporte no Brasil chega a ser o dobro do verificado em países de dimensões semelhantes. Conforme visto, a longa faixa costeira do país contém grande parte da economia e população nacionais. Por sua vez, esta economia litorânea se concentra em duas sub- regiões: Norte-Nordeste e Sul-Sudeste. Essas sub-regiões são separadas por longas distâncias. Mas, a despeito da vizinhança com o Oceano Atlântico, conecta-se, sobretudo via terrestre, gerando elevados custos com transporte. O grande problema da América do Sul, principalmente o do MERCOSUL, é a desconexão entre os seus sistemas de transportes. Paraguai, Uruguai, Argentina e principalmente o Brasil – que tem dimensões continentais – desperdiçam energia e gastam divisas escassas com a compra de petróleo, porque privilegiam o modal rodoviário, em detrimento da ferrovia e da hidrovia. Mas porque o Brasil optou pelo modal rodoviário em detrimento dos demais? A Matriz Brasileira Para entender a Matriz Brasileira de Transportes, mais a fundo, é preciso analisar, ainda que superficialmente, um pouco da História Política e Econômica do país. Quando a referência é o Brasil colônia, cuja única região desenvolvida era o litoral; o transporte era realizado basicamente por meio de carroças e, principalmente, por navios, 47 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. através da cabotagem. A comunicação com a matriz era realizada através de navios, tanto para o fluxo de pessoas quanto para o fluxo de mercadorias provenientes do extrativismo (principalmente pau-brasil e açúcar). A colonização do interior do Brasil – através das bandeiras e das missões – contribuiu para o desenvolvimento dos transportes no país aumentando o número de vias terrestres. Com a descoberta de minas de ouro, aumentou o interesse das pessoas pela região o que incrementou o fluxo com destino a esses locais. Porém o transporte das minas até os portos – de onde o ouro era enviado a Portugal – ainda era realizado por meio de carroças. Com a vinda da Corte Portuguesa, em 1808 o Brasil passou por um processo de modernização. Ascendeu a Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves, o Rio de Janeiro passou a ser a capital, melhorou as vias de acesso à região central e desenvolveu a indústria naval com a criação de estaleiros. Ainda no início do século XIX tem início no Brasil o ciclo do café, nas regiões do Vale do Paraíba (entre Rio de Janeiro e São Paulo) e na zona de Terra Roxa (entre São Paulo e Paraná). Com o avanço desse novo tipo de cultura, surgiu a necessidade de desenvolver no país novo meios de se transportar a carga das regiões produtoras até os portos e locais de consumo. Para resolver esse problema – na segunda metade do século XIX - o Brasil passa a construir ferrovias para interligar essas regiões com o litoral. A ênfase no desenvolvimento dos transportes ferroviário e marítimo durou até o fim do segundo governo de Getúlio Vargas em 1954. A partir do governo Juscelino Kubitschek – JK - (1956 – 1961) a matriz de transportes do Brasil sofreu uma grande reviravolta. Um dos principais pontos de sustentação do Plano de Metas, criado por JK, previa 11 “investimentos estatais em infraestrutura, com destaque para os setores de transporte e energia elétrica. No que diz respeito aos transportes, cabe destacar a mudança de prioridades, que, até o governo Vargas, centrava-se no setor ferroviário, e passou para o 11 GERMAUD, Amaury Patrick, VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de, JÚNIOR, Rudinei Toneto. Economia Brasileira Contemporânea. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. 48 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. rodoviário, que estava em consonância com o objetivo de introduzir o setor automobilístico no país”. Com a forte indústria automobilística instalada no Brasil, o país foi, aos poucos, migrando para o modelo rodoviário de transportes, com a construção de rodovias federais interligando o litoral ao interior, principalmente à nova capital federal, Brasília. As indústrias; náutica e ferroviária foram preteridas em relação à automobilística e os estaleiros e a malha ferroviária ficou abandonada. Com o advento do comércio internacional, o Brasil sentiu a necessidade de reduzir seus custos visando obter competitividade no mercado global. E a reestruturação da matriz de transportes nacional é fundamental para o país alcançar esse objetivo. Qual o papel do gestor logístico na renovação da matriz de transporte brasileira? Como melhorá-la? Quais as opções de transporte que se adéquam melhor às características brasileiras? O que fazer para modificar o pensamento (caso o mesmo esteja equivocado) das pessoas que lidam com transporte no Brasil? 49 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Para saber mais sobre a formação das matrizes de transportes dos países procure se aprofundar sobre a formação dos países, sua cultura e desenvolvimento; desde os nativos até os dias de hoje. Alguns sites interessantes: • www.historiadomundo.com.br • www.hystory.com • www.transportes.gov.br. Alguns livros interessantes: • Brasil: Uma História - A Incrível Saga de um País – de Eduardo Bueno • National Geographic Concise History of the World: An Illustrated Time Line Outras fontes interessantes são os canais de TV a cabo: • The History Channel • National Geographic. 50 Copyright © 2007, ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. UNIDADE 8 Objetivo: Conhecer a fundo o modal rodoviário, suas especificidades e características. O Transporte Rodoviário Pode-se afirmar que o transporte rodoviário no Brasil começou com a construção, em 1926, da Rodovia Rio - São Paulo, única pavimentada até 1940. Até o início da década de 50, as rodovias existentes no Brasil eram precárias. O governo Juscelino criou o slogan “50 anos em 5”. Construiu Brasília, trouxe a indústria automobilística para o país e construiu estradas ao longo do território nacional, fomentando a demanda pelo transporte rodoviário. A partir de então, a rodovia passou a ser encarada como fator de modernidade, enquanto a ferrovia virou símbolo do passado. Com a criação do Fundo Rodoviário Nacional, formado pela arrecadação do Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes, o setor rodoviário passou a dispor de um mecanismo de financiamento sustentado e de longo prazo, garantindo recurso a fundo perdido para a construção, pavimentação e conservação das rodovias. Ao longo do tempo, outros mecanismos de financiamento oriundos da Taxa Rodoviária Única e dos Impostos sobre o Transporte de Passageiros e Cargas vieram agregar-se ao Fundo Rodoviário Nacional. A rápida ampliação da infraestrutura rodoviária explica-se pelo menos custo de
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