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Catharina Moura – 5º Semestre, MDD IV Coagulograma As alterações no organismo causados por defeitos na hemostasia podem ser avaliados por um conjunto de exames, denominado de coagulograma. O uso dos coagulogramas tem como objetivos básicos: triagem diagnóstica, diagnóstico (como as doenças hemorrágicas ou trombóticas) e controle terapêutico (como no acompanhamento de pacientes que fazem uso de anticoagulantes). Cada serviço de saúde/ laboratório disponibiliza diferentes perfis (componentes) do coagulograma, mas os componentes do coagulograma completo clássico são: • TP (RNI) – tempo de protrombina Determina o tempo de formação do coágulo de fibrina após a adição do FIII (tromboplastina tecidual) e Ca+, que culminam na ativação do FVII, seguido da ativação do FX. Dessa forma, o TP mede os fatores envolvidos na via extrínseca e via comum da coagulação. Dos cinco fatores que alteram o TP, três são dependentes da vitamina K (atua como co-fator): protrombina, fator VI e fator X. Esses fatores tornam-se diminuídos com o uso de anticoagulantes cumarínicos, motivo pelo qual o TP é o exame amplamente usado para a monitorização da anticoagulação oral. ¨ RNI/ INR: razão normatizada internacional – medida criada pela OMS a fim de padronizar/ uniformizar a avaliação do TP. TP para uma pessoa saudável – 10 – 14 seg (esses valores não são muito utilizados na clínica e sim nos laboratórios; na clínica, devemos focar na razão - RNI). RNI normal: 0,8 e 1. RNI para pacientes que fazem uso de anticoagulantes orais: entre 2 e 3. • TTPA – tempo de tromboplastina parcial ativado Consiste na determinação do tempo de coagulação do plasma após a adição de um ativador da fase de contato da coagulação e por isso é mais focado na via intrínseca (via que se inicia a partir de elementos que estão presentes no espaço intravascular, como as proteínas presentes na membrana plaquetária, cininogênio e FXI). O TTPA é usado para detecção de deficiências ou inibidores dos fatores da coagulação da via intrínseca, além de prestar para monitorização da anticoagulação com heparina e para screening do anticoagulante lúpico. ð Atenção: Condução do caso Pacientes que apresentam TT ou TTPA prolongado devem ser submetidos a outro teste: Teste de Mistura. Esse teste busca avaliar se o prolongamento foi causado por uma deficiência de algum fator ou por conta da presença de algum inibidor (como anticorpos). Nesse teste, utilizamos o plasma do paciente e um plasma normal industrializado ou não, e os misturamos, em iguais proporções e repetimos o teste. Caso o resultado dessa mistura apresente resultados normais é sinal de que o paciente está com deficiência em algum fator, pois o fator deficiente do paciente com tempo prolongado foi reposto pelos fatores do paciente com sangue normal (sendo muito bom para auxiliar no diagnóstico de hemofilia). Contudo, se o resultado dessa mistura apresente resultados alterados indica a presença de doença com inibidores (presença de anticorpos no sangue do paciente afetado). • TT – tempo de trombina É obtido após a adição de trombina em baixa concentração ao plasma puro, de maneira que o tempo de coagulação é influenciado pela concentração de fibrinogênio e pela presença de inibidores da formação de fibrina, como a heparina. Dessa forma, o TT avalia os fatores envolvidos na via extrínseca (via que inclui elementos que não são normalmente encontrados no espaço intravascular, como FT, FVII e FX). Esse tempo está prolongado na presença de heparina (fármaco que inativa a trombina); concentrações elevadas de Igs como ocorre na macroglobulinemia de Waldenstrom e nas disfribinogenemias (nesses quadros, os Igs em excesso se ligam a fibrina, impedindo a sua Catharina Moura – 5º Semestre, MDD IV funcionalidade adequada) e na hipofibrinogenemia (como nos pacientes hepatopatas). A ausência de coagulação estará presente nos quadros de afibrinogenemia (ausência de fibrina). O tempo referência para o TT é de 12 a 22 segundos, contudo, esses valores são muito relativos pois, dependem de cada serviço. ð Lembrando: os anticoagulantes naturais (como a proteína C e S) e alguns fatores (como II, VII e X) são dependentes da vitamina K. • Fibrinogênio O fibrinogênio é uma proteína de fase aguda (ou seja, pertence ao grupo de proteínas que estarão elevados em quadros de processo inflamatório agudo) que afeta diretamente o VHS, aumentando-o (velocidade de hemossedimentação). Em quadros inflamatórios muito exacerbados (como na sepse), pode provocar o aumento da coagulação de forma descontrolada, levando ao quadro de Coagulação intravascular disseminada (CID). ð Atenção: Outro marcador muito importante que pode ser analisado em suspeitas de CID é o dímero-D; essa molécula é um marcador de fibrinólise, ou seja, é liberada em casos de quebra da fibrina. Na CID estará aumentado em uma tentativa de reverter o quadro de hiper- coagulação. Esse teste permite diagnosticar quadros de hipofibrinogenemias, afibrinogenemias ou hiperfibrinogenemia. • Plaquetas É geralmente feita em sangue total anticoagulado, permitindo a análise quantitativa e qualitativa das plaquetas. û PCT (plaquetócrito) – parâmetro pouco solicitado. û PDW (amplitude de variação do tamanho das plaquetas) – verifica a variedade do volume da população plaquetária. É um parâmetro que permite distinguir trombocitopenia por destruição (PDW aumentado) de uma situação de diminuição de produção de plaquetas (PDW normal ou diminuído). O PDW aumentado reflete maior variedade da população plaquetária, o que acontece em situações como ativação plaquetária na trombose, produção de plaquetas devido ao consumo, trombose venosa profunda, tromboembolismo, quadros de hipercoagulabilidade e CID. û MPV (volume plaquetário médio) Apresenta uma correlação inversa com a contagem de plaquetas (pouca plaqueta => aumento do volume plaquetário a fim de suprir o déficit quantitativo e vice- versa) e representa um importante marcador para a atividade e função plaquetária. Avalia desordens clínicas hematológicas ou não, como diabetes mellitus, IAM, LLA, LMA e outras doenças onco- hematológicas e resposta medular. + VPM aumentado: está associado com circunferência abdominal aumentada; IMC aumentado e glicemia de jejum elevada (por isso devemos ter atenção para os pacientes com Síndrome Metabólica). --> Fator de risco para IAM, devido o quadro de trombofilia que gera --> Gestantes: pode indicar um quadro de pré- eclampsia. -->Hipertensos: pode indicar estonose de artéria renal. --> Falcêmicos: pode predizer complicações. --> Trombocitopenia + VPM aumentado: alterações no sangue periférico, com destaque para lise plaquetária. + VPM diminuído: --> Trombocitopenia + VPM diminuído: alteração de origem intrínseca na produção das plaquetas (como na anemia falciforme ou megaloblástica). --> Inflamação --> Doenças crônicas (como Lúpus e Artrite) --> Doenças inflamatórias do intestino û P-LCR (percentual de plaquetas grandes) Catharina Moura – 5º Semestre, MDD IV ð Atenção: É importante que se oriente o diagnóstico, evitando-se solicitar “coagulograma completo”, mas escolhendo sim os testes para avaliar com precisão o tipo de doença hemorrágica ou trombótica que o paciente apresenta. Outros fatores que podem ser avaliados, mas que geralmente não estão no coagulograma clássico são: • Tempo de sangramento Teste bastante solicitado para a avaliação inicial, representando um screening in vivo da hemostasia primária/ função plaquetária. Antigamente, esse teste era realizado através da Técnica de Duke, na qual era realizada uma perfuração superficial no lobo da orelha. Contudo, por ser uma técnica muito pouca padronizada e consequentemente pouco sensível (sendo capaz de avaliar apenas distúrbios hematológicos graves), desenvolveu-se a Técnica de Ivy. Nesse novo método a localização,tamanho e precisão do corte são padronizados: feita 4 dedos abaixo da fossa do olecrano, com o auxílio de um aparelho específico. Os resultados desse exame podem indicar um tempo de sangramento normal, prolongado ou reduzido. + Tempo de sangramento prolongado: a) Anormalidades plaquetárias quantitativas (quadros de trombocitopenia, principalmente em níveis < 100.000/ mm3) ou qualitativa (plaquetas disfuncionais). Ø Atenção: Trombocitopenia autoimune Nesses casos, os pacientes irão apresentar uma lise das plaquetas devido a presença de Ig autoimunes; contudo, a produção medular estará eficiente. Diante desse quadro de trombocitopenia (devido a lise celular) a MO será estimulada a lançar plaquetas jovens na corrente sanguínea. Essas plaquetas jovens são extremamente funcionais e capazes de realizar a hemostasia primária. Por conta disso, esses pacientes – mesmo apresentando trombocitopenia – podem apresentar o tempo de sangramento normal ou diminuído. Um achado clínico importante nesses pacientes é a presença de púrpuras idiopáticas, mediante a trombocitopenia por destruição plaquetária. b) Anemias graves Nos quadros de anemias graves haverá mecanismos reológicos, que compreendem aos reajustes das camadas do fluxo sanguíneo. Nesses vasos, o baixo de hemácias, move as plaquetas lateralmente, facilitando a interação plaqueta-vaso. c) Defeitos na interação plaqueta-vaso (ex: Doença de von Willebrand) Ø Aprofundando: Doença de von Willebrand A DVW é uma doença hereditária que pode ser apresentar fisiopatologicamente de três formas: alterações qualitativas do FVW, quantitativas ou FVW indetectável. Em geral, esses pacientes apresentam manifestações hemorrágicas leves; facilidade de hematomas e sangramento de mucosa. d) Doença vascular primária (exs: vasculite; síndrome de cushing; amiloidose; escorbuto e doenças do tecido conjuntivo). Ø Aplicação: É importante solicitarmos o tempo de sangramento em casos de screening pré- operatório; principalmente, nos pacientes com histórico de sangramento anormal. • Contagem de plaquetas • Testes automatizados • Agregação plaquetária Catharina Moura – 5º Semestre, MDD IV Útil para a avaliação da função plaquetária in vitro. O método é baseado na medida da formação de agregados de plaquetas após sua exposição a um agente agregante. Alguns dos agentes agregantes (ou agonistas) utilizados são: colágeno; ADP; adrenalina; trombina e ácido araquidônico. O principal objetivo desse teste é avaliar em que etapa/ local da hemostasia primária está o defeito. • Citometria de fluxo Esse exame permite a avaliação de diversos parâmetros físicos e químicos de células isoladas, como a avaliação das glicoproteínas expostas na membrana das plaquetas ativadas (como a P-selectina) através do uso de anticorpos (permitindo o diagnóstico das trombopatias por deficiência de determinada glicoproteína); além disso, permite avaliar a presença de anticorpos antiplaquetários (avaliar doenças autoimunes) e também permite avaliar o ritmo de produção de plaquetas pela MO. • Fator de von Willebrand • Dosagem de fatores • Pesquisa de Ig circulantes • Fragmento 1 + 2 da protrombina e fibrinopeptídeo A • Tromboelastografia • Tromboelastometria • Teste de agregação da trombina • Sistemas reguladores da coagulação – bom para avaliar quadros de trombofilia, como na trombose venosa. a) Antitrombina – apresenta níveis reduzidos em paciente em uso de heparina e quadros de trombofilia (tendência do surgimento de trombos). b) Proteína C c) Proteína S • Avaliação da fibrinólise A medida de concentração de produtos de degradação de fibrina é um ótimo marcador de atividade fibrinolítica, sendo útil em situações clínicas como a CID e trombose venosa, que está elevada nesses pacientes. Legenda: Hemostasia primária – busca avaliar todos as etapas que envolvem a interação das plaquetas com componentes do endotélio vascular e com o FVW. Hemostasia secundária – coagulação – nessa etapa busca-se avaliar a síntese da fibrina e para isso utilizamos uma amostra de plasma livre de hemácias, glóbulos brancos e plaquetas ou o plasma pobre, obtido a na presença de um anticoagulante. Ainda que, fisiologicamente, a avaliação da coagulação não se dê pelas vias intrínsecas e extrínsecas, essa designação ainda é útil na avaliação laboratorial da hemostasia, pois os testes são sensíveis apenas a determinados fatores. Testes globais de coagulação –testes que permitem avaliar a coagulação de sangue total, sendo uteis em ambientes clínicos ou cirúrgicos. O principal método se dá pela avaliação da tensão da rede de fibrina que se forma em sangue à medida que a coagulação se processa. Catharina Moura – 5º Semestre, MDD IV ¨ Aplicação clínica: diagnóstico laboratorial de Coagulação Intravascular Disseminada (CID) O processo de coagulação intravascular disseminada é bem paradoxal pois, ao mesmo tempo que o paciente está coagulando, ele irá apresentar uma queda dos fatores de coagulação, o que irá refletir no prolongamento do TP e do TTPA; isso ocorre pois, à medida que os fatores coagulantes estão sendo sintetizados, eles estão sendo consumidos intensamente. Nos quadros inflamatórios, que esse desequilíbrio está presente, a síntese de citocinas inflamatórias gera e agrava ainda mais a CID, com destaque para a IL-6 e o fator de necrose tumoral (TNF), que atua estimulando a coagulação. ð TNF: o objetivo do TNF ao promover a coagulação é gerar uma “paralização” do patógeno, a fim de impedir a sua disseminação; contudo, a amplitude dessa citocina (“tempestade de citocinas”) gera consequências maléficas para o organismo, como redução do DC e CID. Por conta disso, podemos encontrar nesse paciente: • Prolongamento do TP e TTPA • TT prolongado– reflete hipofibrinogenemia relacionada ao consumo de fibrinogênio. • Plaquetas – inicialmente baixa, pois estão sendo consumidas para formar coágulos, mas a medida que o quadro avança a MO repõem esse consumo. • Produtos de degradação da fibrina -> dímero-D: costumam estar elevados, pois o individuo está formando muito coágulo de fibrina que estimula a fibrinólise e, consequentemente, promove o aumento desse metabólito. Catharina Moura – 5º Semestre, MDD IV • Fibrinogênio – pode estar alto por ser uma proteína de fase aguda e diminuído em casos mais graves. • Esquizócitos: as hemácias com estruturas morfológicas estranhas em decorrência da trombose intravascular que dificulta a sobrevida da hemácia. ð Lembrando que é muito importante fazer exames seriados, pois permite avaliar a evolução do quadro e a resposta terapêutica do paciente. ¨ Aplicação clínica: Caso clínico Paciente do sexo masculino, 19 anos, branco, procurou atendimento no servico de urgencia e emergencia do Hospital Santa Rosa apresentando quadro gripal ha tres dias, sendo tratado com sintomaticos. Evoluiu com cefaleia intensa, vomitos, sudorese, taquipneia, paresia do membro inferior direito e anisocoria, procurando novamente o servico medico. Exames laboratoriais iniciais evidenciaram leucocitose de 163.000/mm3 com presenca de blastos (89%) e trombocitopenia de 56.000/mm3. A tomografia computadorizada de cranio realizada na ocasiao revelou volumosa hemorragia intraparenquimatosa a esquerda diagnosticando acidente vascular encefalico hemorragico. O paciente foi encaminhado ao servico de neurocirurgia e na admissao apresentava-se com indice de coma de Glasgow 4, hemodinamicamente estavel, sob ventilacao mecanica. Ao exame fisico apresentava linfadenomegalias na regiao axilar e inguinal, alem de hepatoesplenomegalia. Havia sinais de sangramentos em locais de puncao, alem de equimoses e petequias nos membros superiores, anisocoria (PE > PD) com reflexo fotomotor presente. Foi internado na unidade deterapia intensiva. Na investigacao laboratorial, apresentava • hemoglobina de 9,2 g/ dL, • hematocrito de 27,5%, • leucocitos de 93.600/mm3 com presenca de blastos (56%), e 27% de componentes da linhagem monocitica, • plaquetopenia de 33.000/mm3 • DHL de 7.850 IU/L Apos analise do servico de hematologia foi diagnosticado com LMA. O tempo de tromboplastina parcial ativada foi de 37 s, o tempo de protrombina foi de 67,10%, e o RNI de 1,48. Nao foram realizadas as dosagens de fibrinogenio, VPM, PDF e Dimero D. Foi submetido a drenagem do hematoma intraparenquimatoso, sem intercorrencias, mantendo quadro neurologico. Apos tratamento quimioterapico em doses convencionais, evoluiu com oliguria, hipernatremia, hipercalemia e aumento dos niveis sericos de ureia e creatinina, sendo necessaria terapia renal substitutiva. A condicao clinica continuou a se deteriorar. Constatado obito no 5º dia de internacao hospitalar. Perguntas 1. Liste as informacoes que falam a favor do diagnostico de LMA 2. O paciente nao realizou dosagem de fibrinogenio, VPM, PDF e Dimero D (segunda internacao), mas caso ele tivesse realizado explique quais seriam os resultados esperados.
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