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Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DEPENDÊNCIA QUÍMICA: Terapia cognitivo-comportamental A TCC se baseia na teoria cognitiva e teoria comportamental, partindo do pressuposto de que cognições, pensamentos e emoções estão entre os fatores considerados precipitadores ou mantenedores do comportamento. Tem as seguintes características básicas: 1. Estilo terapêutico: diferente de outras formas de terapia. Pressupõe que o terapeuta tem uma série de habilidades e ideias sobre a intervenção específica. Ele é mais do que alguém que escuta ativamente. É ativo e trabalha com o paciente, no sentido de encontrar informações importan- tes que auxiliem na resolução do problema que este apresenta. 2. Formulação psicológica do problema: é um “quadro” de por que a pessoa está vivendo os problemas daquela forma. Não se trata do diag- nóstico, mas da compreensão de como as experiências são vivenciadas pelo paciente com determinado significado. 3. Relação colaborativa: paciente e terapeuta trabalham juntos para deli- near a conceituação cognitiva. É um processo transparente no qual o paciente é informado a cada passo do caminhar da descoberta. 4. Sessões estruturadas: visam desenvolver e manter um compo- nente colaborativo no tratamento. Devem ser absorvidas e internali- zadas pelo terapeuta e depois divididas com o paciente. Sessões estruturadas auxiliam no uso adequado do tempo – paciente e tera- peuta dividem a res- ponsabilidade pelo seu uso – e enfatizam con- trole e planejamento, que, automaticamente, tendem a reduzir distor- ções cognitivas e comportamentos automáticos, levando a emoções negativas. Um aspecto relevante é que, a partir da estrutura observa- da na sessão terapêutica, espera-se que o paciente possa colocar essa mesma experiência estruturada em seu dia a dia 5. Orientada para metas: paciente e terapeuta trabalham colaborativa- mente no desenvolvimento de metas, que podem ser revistas sempre que necessário. As metas são tanto mais úteis quanto mais específicas forem. 6. Exame e questionamento dos pensamentos: ponto central da TCC, em que, por meio de algumas técnicas, e usando-se vários recursos, o paciente é auxiliado a descobrir respostas mais adaptativas. 7. Disponibilidade de técnicas: o curso da terapia é dirigido pela formu- lação do problema, que vai sendo desenvolvida e mais bem compreendi- da ao longo do tempo. Para isso, quanto maior o número de técnicas disponíveis, melhores os resultados. 8. Ensina o paciente a ser seu próprio terapeuta: ao fim do processo, o paciente deve estar apto a caminhar sozinho. O tempo que esse proces- so leva ou o quão eficaz o paciente se sentirá dependerão de cada paciente em particular. As tarefas entre as sessões são um grande auxí- lio para que o paciente se perceba resolvendo alguns problemas sozinho. 9. Tarefas para casa: é importante que o paciente esteja disposto e apto a trabalhar entre as sessões, especialmente se o tempo da sessão está limitado a um encontro por semana, ou, ainda, em muitos casos, a encontros quinzenais. A tarefa de casa faz o processode mu- dança manter-se ativo e dá ao paciente a sensação de que ele é res- ponsável por esse processo. 10. É limitada no tempo: o que significa que há uma previsão de fim. A meta da terapia é que o paciente se sinta autoeficaz para enfrentar situa- ções de risco, e não que se torne dependente do terapeuta. Essa é uma meta que deve ser lembrada e retomada sempre ao longo do tratamento. Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 02 Terapia cognitivo-comportamental A TCC se baseia nas teorias descritas anteriormente, partindo do pressu- posto de que cognições, pensamentos e emoções estão entre os fatores considerados precipitadores ou mantenedores do comportamento. Tem as seguintes características básicas: 1. Estilo terapêutico: diferente de outras formas de terapia. Pressupõe que o terapeuta tem uma série de habilidades e ideias sobre a intervenção específica. Ele é mais do que alguém que escuta ativamente. É ativo e trabalha com o paciente, no sentido de encontrar informações importan- tes que auxiliem na resolução do problema que este apresenta. 2. Formulação psicológica do problema: é um “quadro” de por que a pessoa está vivendo os problemas daquela forma. Não se trata do diag- nóstico, mas da compreensão de como as experiências são vivenciadas pelo paciente com determinado significado. 3. Relação colaborativa: paciente e terapeuta trabalham juntos para deli- near a conceituação cognitiva. É um processo transparente no qual o paciente é informado a cada passo do caminhar da descoberta. 4. Sessões estruturadas: visam desenvolver e manter um compo- nente colaborativo no tratamento. Devem ser absorvidas e internali- zadas pelo terapeuta e depois divididas com o paciente. Sessões estruturadas auxiliam no uso adequado do tempo – paciente e tera- peuta dividem a res- ponsabilidade pelo seu uso – e enfatizam con- trole e planejamento, que, automaticamente, tendem a reduzir distor- ções cognitivas e comportamentos automáticos, levando a emoções negativas. Um aspecto relevante é que, a partir da estrutura observa- da na sessão terapêutica, espera-se que o paciente possa colocar essa mesma experiência estruturada em seu dia a dia 5. Orientada para metas: paciente e terapeuta trabalham colaborativa- mente no desenvolvimento de metas, que podem ser revistas sempre que necessário. As metas são tanto mais úteis quanto mais específicas forem. 6. Exame e questionamento dos pensamentos: ponto central da TCC, em que, por meio de algumas técnicas, e usando-se vários recursos, o paciente é auxiliado a descobrir respostas mais adaptativas. 7. Disponibilidade de técnicas: o curso da terapia é dirigido pela formu- lação do problema, que vai sendo desenvolvida e mais bem compreendi- da ao longo do tempo. Para isso, quanto maior o número de técnicas disponíveis, melhores os resultados. 8. Ensina o paciente a ser seu próprio terapeuta: ao fim do processo, o paciente deve estar apto a caminhar sozinho. O tempo que esse proces- so leva ou o quão eficaz o paciente se sentirá dependerão de cada paciente em particular. As tarefas entre as sessões são um grande auxí-lio para que o paciente se perceba resolvendo alguns problemas sozinho. 9. Tarefas para casa: é importante que o paciente esteja disposto e apto a trabalhar entre as sessões, especialmente se o tempo da sessão está limitado a um encontro por semana, ou, ainda, em muitos casos, a encontros quinzenais. A tarefa de casa faz o processo de mu- dança manter-se ativo e dá ao paciente a sensação de que ele é res- ponsável por esse processo. 10. É limitada no tempo: o que significa que há uma previsão de fim. A meta da terapia é que o paciente se sinta autoeficaz para enfrentar situa- ções de risco, e não que se torne dependente do terapeuta. Essa é uma meta que deve ser lembrada e retomada sempre ao longo do tratamento. Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 03 Terapia cognitivo-comportamental A TCC se baseia nas teorias descritas anteriormente, partindo do pressu- posto de que cognições, pensamentos e emoções estão entre os fatores considerados precipitadores ou mantenedores do comportamento. Tem as seguintes características básicas: 1. Estilo terapêutico: diferente de outras formas de terapia. Pressupõe que o terapeuta tem uma série de habilidades e ideias sobre a intervenção específica. Ele é mais do que alguém que escuta ativamente. É ativo e trabalha com o paciente, no sentido de encontrar informações importan- tes que auxiliem na resolução do problema que este apresenta. 2. Formulação psicológica do problema: é um “quadro” de por que a pessoa está vivendo os problemas daquela forma. Não se trata do diag- nóstico, mas da compreensão de como as experiências são vivenciadas pelo paciente com determinado significado. 3. Relação colaborativa: paciente e terapeuta trabalham juntos para deli- near a conceituação cognitiva. É um processo transparente no qual o paciente é informado a cada passo do caminhar da descoberta. 4. Sessões estruturadas: visam desenvolver e manter um compo- nente colaborativo no tratamento. Devem ser absorvidas e internali- zadas pelo terapeuta e depois divididas com o paciente. Sessões estruturadas auxiliam no uso adequado do tempo – paciente e tera- peuta dividem a res- ponsabilidade pelo seu uso – e enfatizam con- trole e planejamento, que, automaticamente, tendem a reduzir distor- ções cognitivas e comportamentos automáticos, levando a emoções negativas. Um aspecto relevante é que, a partir da estrutura observa- da na sessão terapêutica, espera-se que o paciente possa colocar essa mesma experiência estruturada em seu dia a dia 5. Orientada para metas: paciente e terapeuta trabalham colaborativa- mente no desenvolvimento de metas, que podem ser revistas sempre que necessário. As metas são tanto mais úteis quanto mais específicas forem. 6. Exame e questionamento dos pensamentos: ponto central da TCC, em que, por meio de algumas técnicas, e usando-se vários recursos, o paciente é auxiliado a descobrir respostas mais adaptativas. 7. Disponibilidade de técnicas: o curso da terapia é dirigido pela formu- lação do problema, que vai sendo desenvolvida e mais bem compreendi- da ao longo do tempo. Para isso, quanto maior onúmero de técnicas disponíveis, melhores os resultados. 8. Ensina o paciente a ser seu próprio terapeuta: ao fim do processo, o paciente deve estar apto a caminhar sozinho. O tempo que esse proces- so leva ou o quão eficaz o paciente se sentirá dependerão de cada paciente em particular. As tarefas entre as sessões são um grande auxí- lio para que o paciente se perceba resolvendo alguns problemas sozinho. 9. Tarefas para casa: é importante que o paciente esteja disposto e apto a trabalhar entre as sessões, especialmente se o tempo da sessão está limitado a um encontro por semana, ou, ainda, em muitos casos, a encontros quinzenais. A tarefa de casa faz o processo de mu- dança manter-se ativo e dá ao paciente a sensação de que ele é res- ponsável por esse processo. 10. É limitada no tempo: o que significa que há uma previsão de fim. A meta da terapia é que o paciente se sinta autoeficaz para enfrentar situa- ções de risco, e não que se torne dependente do terapeuta. Essa é uma meta que deve ser lembrada e retomada sempre ao longo do tratamento. Terapias cognitivos-comportamentais aplicadas ao tratamento da dependência de substâncias Assim como para outros transtornos psiquiátricos, para a dependência de substâncias, várias outras abordagens foram desenvolvidas no sen- tido de melhor contemplar esse transtorno tão complexo. O modelo de prevenção de recaída, a TCC das habilidades sociais e de enfrentamen- to, descrita neste capítulo, o modelo cognitivo do uso de substâncias de A. Beck, a entrevista motivacional, o manejo de contingências e a terapia familiar são fundamentais para a prática das TCCs no tratamento e no manejo da dependência química. Evidências da efetividade das terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da dependência química Vários estudos têm sido conduzidos com o objetivo de comparar a eficácia das intervenções psicossociais no tratamento das dependên- cias. Uma metanálise que examinou 53 ensaios clínicos controlados, com pacientes dependentes de álcool ou drogas ilícitas, concluiu que a TCC é mais eficaz com usuários de maconha, em comparação a gru- pos-controle que não recebem tratamento, e deve ter formato mais lon- go com mulheres do que com homens. Essa metanálise aponta, ainda, que as mulheres aproveitam mais a TCC do que os homens. Outro estudo que analisou a eficácia da TCC considerou 34 ensaios clínicos (5 para usuários de maconha, 9 para dependentes de cocaína, 7 para usuários de opiáceos e 13 para poliusuários), em um total de 2.340 pacientes, e concluiu que dependentes de maconha e de cocaí- na tendem a se beneficiar mais da TCC, ainda que a relutância pela opção da abstinência seja forte e o índice de abandono de tratamento entre usuários de cocaína seja bastante alto. Entre os poliusuários, a eficácia é menor, talvez pela possibilidade de, entre estes, haver uma taxa maior de comorbidades psiquiátricas, o que acaba interferindo na motivação para a participação no tratamento, que sabemos ser funda- mental na prática da TCC. A associação entre TCC e manejo de contin- gências (MC) apresenta desfechos melhores. Usuários de cocaína, em uma revisão recente,13 se beneficiam, segundo os autores, de TCC associada a tratamento farmacológico, o que confirma dados de revi- sões anteriores. Esses dados confirmam uma revisão anterior que já indicava o maior desenvolvimento de habilidades de enfrentamento nos pacientes sub- metidos a TCC. Estudos evidenciam que o aumento da autoeficácia e a aquisição de habilidades de enfrentamento são preditores significativos da manu- tenção da abstinência. Outras abordagens que conseguem resultados positivos nessa área são a entrevista motivacional (EM), o MC e, ainda, abordagens que resultam da sua combinação. É importante notar que o aumento da autoeficácia parece ter relação com o estágio de pronti- dão para a mudança em que se encontra o paciente e sua condição para modelar habilidades de enfrentamento, ainda que saibamos que a mudança não se dá de forma linearmente observada. Em pacientes grávidas, as TCCs associadas a terapia motivacional apresentam resultados similares aos do aconselhamento breve. No entanto, estudos mais recentes sobre esse tema evidenciam ainda a necessidade de mais pesquisas, embora a possibilidade de ganhos com esse tipo de intervenção seja considerável. Um estudo recente também confirma a eficácia das TCCs associadas a terapia motivacio- nal em pacientes adolescentes usuários de álcool com transtorno depressivo associado. Esse mesmo resultado é observado quando se trata de pacientes dependentes de cocaína. Um estudo de revisão mostra que, combinadas com MC, as TCCs apresentam bons resulta- dos no tratamento de dependentes de metanfetaminas e outro estudo revela o mesmo achado em pacientes dependentes de maconha. Em pacientes dependentes de nicotina (mesmo com longo período de uso da substância), as TCCs apresentam resultados positivos, aumentando sua autoeficácia no seguimento, tanto em homens quanto em mulheres. Variações da TCC também mostram bons resultados no tratamento das dependências. A TCC para casais, na qual um dos cônjuges tem o transtorno de dependência de substâncias, tem-se mostrado mais efe- tiva do que a terapia individual. Relatos afirmam que as relações conju- gais melhoram e a frequência e as consequências do uso diminuem no seguimento. Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre-paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 04 Terapias cognitivos-comportamentais aplicadas ao tratamento da dependência de substâncias Assim como para outros transtornos psiquiátricos, para a dependência de substâncias, várias outras abordagens foram desenvolvidas no sen- tido de melhor contemplar esse transtorno tão complexo. O modelo de prevenção de recaída, a TCC das habilidades sociais e de enfrentamen- to, descrita neste capítulo, o modelo cognitivo do uso de substâncias de A. Beck, a entrevista motivacional, o manejo de contingências e a terapia familiar são fundamentais para a prática das TCCs no tratamento e no manejo da dependência química. Evidências da efetividade das terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da dependência química Vários estudos têm sido conduzidos com o objetivo de comparar a eficácia das intervenções psicossociais no tratamento das dependên- cias. Uma metanálise que examinou 53 ensaios clínicos controlados, com pacientes dependentes de álcool ou drogas ilícitas, concluiu que a TCC é mais eficaz com usuários de maconha, em comparação a gru- pos-controle que não recebem tratamento, e deve ter formato mais lon- go com mulheres do que com homens. Essa metanálise aponta, ainda, que as mulheres aproveitam mais a TCC do que os homens. Outro estudo que analisou a eficácia da TCC considerou 34 ensaios clínicos (5 para usuários de maconha, 9 para dependentes de cocaína, 7 para usuários de opiáceos e 13 para poliusuários), em um total de 2.340 pacientes, e concluiu que dependentes de maconha e de cocaí- na tendem a se beneficiar mais da TCC, ainda que a relutância pela opção da abstinência seja forte e o índice de abandono de tratamento entre usuários de cocaína seja bastante alto. Entre os poliusuários, a eficácia é menor, talvez pela possibilidade de, entre estes, haver uma taxa maior de comorbidades psiquiátricas, o que acaba interferindo na motivação para a participação no tratamento, que sabemos ser funda- mental na prática da TCC. A associação entre TCC e manejo de contin- gências (MC) apresenta desfechos melhores. Usuários de cocaína, em uma revisão recente,13 se beneficiam, segundo os autores, de TCC associada a tratamento farmacológico, o que confirma dados de revi- sões anteriores. Esses dados confirmam uma revisão anterior que já indicava o maior desenvolvimento de habilidades de enfrentamento nos pacientes sub- metidos a TCC. Estudos evidenciam que o aumento da autoeficácia e a aquisição de habilidades de enfrentamento são preditores significativos da manu- tenção da abstinência. Outras abordagens que conseguem resultados positivos nessa área são a entrevista motivacional (EM), o MC e, ainda, abordagens que resultam da sua combinação. É importante notar que o aumento da autoeficácia parece ter relação com o estágio de pronti- dão para a mudança em que se encontra o paciente e sua condição para modelar habilidades de enfrentamento, ainda que saibamos que a mudança não se dá de forma linearmente observada. Em pacientes grávidas, as TCCs associadas a terapia motivacional apresentam resultados similares aos do aconselhamento breve. No entanto, estudos mais recentes sobre esse tema evidenciam ainda a necessidade de mais pesquisas, embora a possibilidade de ganhos com esse tipo de intervenção seja considerável. Um estudo recente também confirma a eficácia das TCCs associadas a terapia motivacio- nal em pacientes adolescentes usuários de álcool com transtorno depressivo associado. Esse mesmo resultado é observado quando se trata de pacientes dependentes de cocaína. Um estudo de revisão mostra que, combinadas com MC, as TCCs apresentam bons resulta- dos no tratamento de dependentes de metanfetaminas e outro estudo revela o mesmo achado em pacientes dependentes de maconha. Em pacientes dependentes de nicotina (mesmo com longo período de uso da substância), as TCCs apresentam resultados positivos, aumentando sua autoeficácia no seguimento, tanto em homens quanto em mulheres. Variações da TCC também mostram bons resultados no tratamento das dependências. A TCC para casais, na qual um dos cônjuges tem o transtorno de dependência de substâncias, tem-se mostrado mais efe- tiva do que a terapia individual. Relatos afirmam que as relações conju- gais melhoram e a frequência e as consequências do uso diminuem no seguimento. Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízesbaseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 05 Terapias cognitivos-comportamentais aplicadas ao tratamento da dependência de substâncias Assim como para outros transtornos psiquiátricos, para a dependência de substâncias, várias outras abordagens foram desenvolvidas no sen- tido de melhor contemplar esse transtorno tão complexo. O modelo de prevenção de recaída, a TCC das habilidades sociais e de enfrentamen- to, descrita neste capítulo, o modelo cognitivo do uso de substâncias de A. Beck, a entrevista motivacional, o manejo de contingências e a terapia familiar são fundamentais para a prática das TCCs no tratamento e no manejo da dependência química. Evidências da efetividade das terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da dependência química Vários estudos têm sido conduzidos com o objetivo de comparar a eficácia das intervenções psicossociais no tratamento das dependên- cias. Uma metanálise que examinou 53 ensaios clínicos controlados, com pacientes dependentes de álcool ou drogas ilícitas, concluiu que a TCC é mais eficaz com usuários de maconha, em comparação a gru- pos-controle que não recebem tratamento, e deve ter formato mais lon- go com mulheres do que com homens. Essa metanálise aponta, ainda, que as mulheres aproveitam mais a TCC do que os homens. Outro estudo que analisou a eficácia da TCC considerou 34 ensaios clínicos (5 para usuários de maconha, 9 para dependentes de cocaína, 7 para usuários de opiáceos e 13 para poliusuários), em um total de 2.340 pacientes, e concluiu que dependentes de maconha e de cocaí- na tendem a se beneficiar mais da TCC, ainda que a relutância pela opção da abstinência seja forte e o índice de abandono de tratamento entre usuários de cocaína seja bastante alto. Entre os poliusuários, a eficácia é menor, talvez pela possibilidade de, entre estes, haver uma taxa maior de comorbidades psiquiátricas, o que acaba interferindo na motivação para a participação no tratamento, que sabemos ser funda- mental na prática da TCC. A associação entre TCC e manejo de contin- gências (MC) apresenta desfechos melhores. Usuários de cocaína, em uma revisão recente,13 se beneficiam, segundo os autores, de TCC associada a tratamento farmacológico, o que confirma dados de revi- sões anteriores. Esses dados confirmam uma revisão anterior que já indicava o maior desenvolvimento de habilidades de enfrentamento nos pacientes sub- metidos a TCC. Estudos evidenciam que o aumento da autoeficácia e a aquisição de habilidades de enfrentamento são preditores significativos da manu- tenção da abstinência. Outras abordagens que conseguem resultados positivos nessa área são a entrevista motivacional (EM), o MC e, ainda, abordagens que resultam da sua combinação. É importante notar que o aumento da autoeficácia parece ter relação com o estágio de pronti- dão para a mudança em que se encontra o paciente e sua condição para modelar habilidades de enfrentamento, ainda que saibamos que a mudança não se dá de forma linearmente observada. Em pacientes grávidas, as TCCs associadas a terapia motivacional apresentam resultados similares aos do aconselhamento breve. No entanto, estudos mais recentes sobre esse tema evidenciam ainda a necessidade de mais pesquisas, embora a possibilidade de ganhos com esse tipo de intervenção seja considerável. Um estudo recente também confirma a eficácia das TCCs associadas a terapia motivacio- nal em pacientes adolescentes usuários de álcool com transtorno depressivo associado. Esse mesmo resultado é observado quando se trata de pacientes dependentes de cocaína. Um estudo de revisão mostra que, combinadas com MC, as TCCs apresentam bons resulta- dos no tratamento de dependentes de metanfetaminas e outro estudo revela o mesmo achado em pacientes dependentes de maconha. Em pacientes dependentes de nicotina (mesmo com longo período de uso da substância), as TCCs apresentam resultados positivos, aumentando sua autoeficácia no seguimento, tanto em homens quanto em mulheres. Variações da TCC também mostram bons resultados no tratamento das dependências. A TCC para casais, na qual um dos cônjuges tem o transtorno de dependência de substâncias, tem-se mostrado mais efe- tiva do que a terapia individual. Relatos afirmam que as relações conju- gais melhoram e a frequência e as consequências do uso diminuem no seguimento. Bethea e colaboradores, objetivando examinaro desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 06 Quando se trata de grupos específicos, como adolescentes, a TCC também se mostra eficaz, como evidencia um estudo que analisou os dados de 17 estudos desde 1998, com uma amostra de 2.307 adoles- centes, comparando intervenções com TCC individual e em grupo e, em alguns estudos, com terapia familiar associada. Os adolescentes que foram tratados com abordagens de terapia familiar, tanto multidi- men- sional quanto funcional, e os que receberam TCC em grupo foram os que tiveram melhores resultados no pós-tra-tamento. Carroll e colaboradores conduziram um estudo com indivíduos que atendiam critérios para o diagnóstico de dependência de álcool, maco- nha, cocaína ou opioides, que haviam usado essas substâncias (ou uma delas) nos últimos 28 dias, que não tivessem qualquer transtorno psicó- tico não tratado e que estivessem disponíveis para oito semanas de tra- tamento em regime ambulatorial. Esses indivíduos foram distribuídos randomicamente em grupos que receberam tratamento convencional de aconselhamento individual ou em grupo, e um grupo de pacientes teve acesso a um programa de computador baseado em um manual publicado pelo National Institute on Drug Abuse (NIDA), cujo conteúdo era apresentado usando como referencial teórico de base a TCC. O uso do programa não requeria conhecimentos prévios de computação, e ele utilizava vários recursos, entre eles vídeos, ilustrações gráficas, instru- ções verbais, exercícios práticos e interativos. O conteúdo englobava temas centrais, como compreensão e mudança de pa- drões de uso da substância, como lidar com a fissura, como recusar álcool e drogas, habilidade de solução de problemas, como identificar e mudar pensa- mentos sobre álcool e drogas e melhora das habilidades de tomada de decisão. Os participantes foram avaliados antes do tratamento, duas vezes semanalmente durante o tratamento e ao fim das oito semanas. Testes de urina e coleta de outros materiais também foram instrumen- tos de avaliação utilizados. Comparados os tipos de tratamentos, observou-se que aqueles sub- metidos ao programa de computador baseado na TCC apresentavam resultados negativos maiores de substâcia na urina, bem como maio- res períodos de abstinência durante o tratamento. Os participantes avaliaram positivamente o programa, e a adesão pareceu ser maior do que a normalmente observada. A execução da tarefa de casa também se mostrou indicativa da adesão ao tratamento. As evidências indicam que as intervenções psicossociais que incorpo- ram uma variedade de técnicas cognitivas e comportamentais apresen- tam eficácia no tratamento dos transtornos por uso de substâncias. No entanto, a prática da TCC é complexa. Para ser eficaz, o tratamento depende de fatores-chave: qualidade da intervenção, adesão e aliança terapêutica e domínio da técnica por parte do profissional envolvido. Quando nos referimos à dependência química, sabemos que o tipo de vínculo estabelecido interfere na adesão ao tratamento, no término deste, bem como nos resultados observados. Quanto mais forte a alian- ça, melhores são a adesão, o término dotratamento, os dias de absti- nência durante o tratamento e os resultados pós-tratamento. As carac- terísticas tanto do paciente quanto do terapeuta influenciam o desenvol- vimento desse vínculo. Pacientes com dependência mais grave e menor motivação tendem a fazer vínculos mais frágeis, enquanto terapeutas com maiores conhecimentos/experiência parecem desenvolver uma ligação mais forte com seus pacientes mesmo durante a recaída. Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 07 Quando se trata de grupos específicos, como adolescentes, a TCC também se mostra eficaz, como evidencia um estudo que analisou os dados de 17 estudos desde 1998, com uma amostra de 2.307 adoles- centes, comparando intervenções com TCC individual e em grupo e, em alguns estudos, com terapia familiar associada. Os adolescentes que foram tratados com abordagens de terapia familiar, tanto multidi- men- sional quanto funcional, e os que receberam TCC em grupo foram os que tiveram melhores resultados no pós-tra-tamento. Carroll e colaboradores conduziram um estudo com indivíduos que atendiam critérios para o diagnóstico de dependência de álcool, maco- nha, cocaína ou opioides, que haviam usado essas substâncias (ou uma delas) nos últimos 28 dias, que não tivessem qualquer transtorno psicó- tico não tratado e que estivessem disponíveis para oito semanas de tra- tamento em regime ambulatorial. Esses indivíduos foram distribuídos randomicamente em grupos que receberam tratamento convencional de aconselhamento individual ou em grupo, e um grupo de pacientes teve acesso a um programa de computador baseado em um manual publicado pelo National Institute on Drug Abuse (NIDA), cujo conteúdo era apresentado usando como referencial teórico de base a TCC. O uso do programa não requeria conhecimentos prévios de computação, e ele utilizava vários recursos, entre eles vídeos, ilustrações gráficas, instru- ções verbais, exercícios práticos e interativos. O conteúdo englobava temas centrais, como compreensão e mudança de pa- drões de uso da substância, como lidar com a fissura, como recusar álcool e drogas, habilidade de solução de problemas, como identificar e mudar pensa- mentos sobre álcool e drogas e melhora das habilidades de tomada de decisão. Os participantes foram avaliados antes do tratamento, duas vezes semanalmente durante o tratamento e ao fim das oito semanas. Testes de urina e coleta de outros materiais também foram instrumen- tos de avaliação utilizados. Comparados os tipos de tratamentos, observou-se que aqueles sub- metidos ao programa de computador baseado na TCC apresentavam resultados negativos maiores de substâcia na urina, bem como maio- res períodos de abstinência durante o tratamento. Os participantes avaliaram positivamente o programa, e a adesão pareceu ser maior do que a normalmente observada. A execução da tarefa de casa também se mostrou indicativa da adesão ao tratamento. As evidências indicam que as intervenções psicossociais que incorpo- ram uma variedade de técnicas cognitivas e comportamentais apresen- tam eficácia no tratamento dos transtornospor uso de substâncias. No entanto, a prática da TCC é complexa. Para ser eficaz, o tratamento depende de fatores-chave: qualidade da intervenção, adesão e aliança terapêutica e domínio da técnica por parte do profissional envolvido. Quando nos referimos à dependência química, sabemos que o tipo de vínculo estabelecido interfere na adesão ao tratamento, no término deste, bem como nos resultados observados. Quanto mais forte a alian- ça, melhores são a adesão, o término do tratamento, os dias de absti- nência durante o tratamento e os resultados pós-tratamento. As carac- terísticas tanto do paciente quanto do terapeuta influenciam o desenvol- vimento desse vínculo. Pacientes com dependência mais grave e menor motivação tendem a fazer vínculos mais frágeis, enquanto terapeutas com maiores conhecimentos/experiência parecem desenvolver uma ligação mais forte com seus pacientes mesmo durante a recaída. Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 08 Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico)ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 09 Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser mais forte do que o do terapeuta 3. O crescimento do vínculo tende a ser menor em pacientes com dependência grave 4. O fortalecimento do vínculo parece estar positivamente relacionado com os resulta- dos do tratamento Observou-se que o vínculo dos pacientes aumentava em relação aos seus terapeutas independentemente do nível de gravidade da depen- dência ou dos resultados obtidos com o tratamento. No entanto, o vín- culo dos terapeutas só se fortalecia quando não havia comorbidades ao uso de drogas ou quando o paciente melhorava. A aliança de ambos os lados se mantinha consistente quando as sessões focavam questões emocionais e divergia quando se focava a necessidade de mu- dança, sugerindo que os terapeutas reagem negativamente a pacientes que não progridem. Terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco O sucesso de um tratamento para dependência de substâncias tem suas raízes baseadas em alguns pilares: a conscientização do proble- ma (aceitação do transtorno), a mudança de estilo de vida e o desen- volvimento de habilidades tanto de enfrentamento como de evitação de situações de alto risco para recaída. Partindo desses princípios, foram elaborados os programas de prevenção da recaída e de treina- mento de habilidades de enfrentamento de situações de risco, que apresentaremos a seguir, ambos baseados no modelo cognitivo-com- portamental, em que se identificam as crenças mal-adaptativas e os pensamentos distorcidos delas derivados, tanto em relação às drogas como em relação a outros aspectos, e, a partir da reestruturação cog- nitiva, se gera uma mudança de comportamento, com consequências mais funcionais para o indivíduo. Situações de alto risco, definidas como quaisquer determinantes inter- nos (psicológico) ou externos (ambiental) que coloquem em perigo a percepção de controle (autoeficácia) por parte do indivíduo, são consi- deradas como estímulos precipitadores da recaída (lapso ou recaída propriamente dita) após um tempo de abstinência, portanto devem ser evitadas, se e quando possível, e enfrentadas, quando necessário. No entanto, o importante é que sejam previstas, pois isso favorece o pre- paro para o enfrentamento de forma eficaz, reduzindo a chance de recaída. Habilidades de enfrentamento podem ser definidas como um conjunto de ferramentas cognitivas e comportamentais que, quando usadas, têm como objetivo restaurar a sensação de equilíbrio por parte do paciente em relação às adversidades às quais é exposto. É importante salientar que o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento não é adquirido em um passe de mágica ou simplesmente garantido pelo fa- to de o paciente comparecer às sessões de tratamento. Nossos comportamentos são determinados por nossas crenças e pelos pen- samentos delas decorrentes. A partir da reestruturação dessas cren- ças e pensamentos, novos repertórios de comportamentos são esta- belecidos, mas somente o treino desses comportamentos, a evidência de que essa nova forma de se comportar traz consequências mais positivas, fará tais comportamentos se tornarem parte do repertório do paciente. Em um programa completo para a TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de risco, são incluídas técnicas para o processo de reestruturação cognitiva, técnicas para a resolução de problemas e técnicas para o treino de habilidades propriamente ditas. Monti e colaboradores sugerem que o treino de habilidades seja feito em dois níveis: habilidades interpessoais – de comunicação e resolu- ção de problemas (exercidas nos contextos onde o indivíduo estabe- lece relações com outras pessoas: sociais, conjugais, familiares e de trabalho, como, por exemplo, treino de assertividade, fazer e receber elogios, fazer e receber críticas, inclusive do beber e do uso de outras drogas, falar e ouvir de sentimentos, entre outras) – e habilidades intrapessoais (que incluem o lidar com o pensamento negativo, com o estresse, com a raiva, o manejo da fissura e as tomadas de decisão aparentemente irrelevantes). Vale a pena salientar que, nesse modelo de tratamento, se supõe que o paciente esteja motivado para parar ou reduzir o consumo (se for o caso de uso de alto risco de substância) e que ele precisa adquirir ou desenvolver as estra- tégias para tanto. O paciente, durante o tratamento nesse modelo, deve desenvolver habilidades de enfrentamento e evitação de situações de risco, tanto cognitivas quanto comportamentais. 10 Bethea e colaboradores, objetivando examinar o desenvolvimento desse vínculo, conduziram um estudo com 25 pacientes que, em função de dor crônica, se tornaram usuários de opioides. Os autores levantaram as seguintes hipóteses: 1. O vínculo entre paciente e terapeuta tende a aumentar com o decorrer do tempo 2. O vínculo do paciente tende a ser
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