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Desenvolvimento Neuropsicomotor Vitória Correia Moura – T4C Didaticamente, o estudo e avaliação do desenvolvimento é dividido em alguns domínios de funções que são interdependentes, ou seja, todas estão intimamente relacionadas: a) Sensorial; b) Motor (subdividido em habilidades motoras grosseiras, que se referem à utilização dos grandes músculos do corpo, e habilidades motoras finas, relacionadas ao uso dos pequenos músculos das mãos); c) Linguagem; d) Cognitivo; e) Psicossocial. a) DESENVOLVIMENTO SENSORIAL O recém-nascido a termo apresenta todos os sistemas sensoriais em funcionamento, porém esses se desenvolveram em diferentes velocidades durante a vida intra-uterina, e a continuidade desse processo se dará também desse forma. Durante a Anamnese, indagar os familiares se a criança é capaz de escutar e enxergar, se acompanha com o olhar objetos e pessoas, se assusta-se com ruídos diferentes, se é capaz de reconhecer a voz materna e se acalmar ouvindo-a. AUDIÇÃO ●Está presente desde o 5º mês de vida intra-uterina. ●Recém-nascido apresenta preferência para a voz humana. ●Dos 3 aos 4 meses: vira-se em direção ao som. ●Espectro sonoro se amplia até 10 anos. VISÃO ●Imaturidade das lentes dos olhos, das células da retina e neuronal. Movimentos ainda não são coordenados. ●RN: nítida preferência para o rosto humano. ●Melhor distância aos alvos visuais é de 20 a 30 centímetros (exatamente a distância entre o rosto e o seio materno). ●2º mês: identificar contornos dos objetos e movimentos dos mesmos, já sendo capaz de perceber cores diferentes. ●7-8º mês: acuidade visual está próxima do adulto. PALADAR e OLFATO ●Estão bem desenvolvidos desde o nascimento. TATO ●RN: sensíveis ao toque, a mudanças de temperatura e a mudanças de sua posição física. Vitória Correia Moura – T4C b) DESENVOLVIMENTO MOTOR DESENVOLVIENTO MOTOR GROSSEIRO Apesar de familiarizada com a infinidade de movimentos da vida intra-útero, seus movimentos são geralmente reflexos controlados por partes primitivas do cérebro. Alguns desses reflexos serão substituídos por atividades voluntárias, outros simplesmente desaparecerão. Nos primeiros meses de vida, a presença, intensidade e simetria desses reflexos podem ser usadas para avaliar a integridade do sistema nervoso central e para detectar anormalidades periféricas, como alterações músculo esqueléticas congênitas ou lesões de plexos nervosos. Por outro lado, a persistência da maioria desses reflexos no 2º semestre de vida pode, também, indicar anormalidades do desenvolvimento. •Atividades reflexas substituídas por atividades voluntárias. •Diminuição progressiva do tônus flexor e predomínio do extensor. •Reflexos primitivos. •Direção céfalo-caudal e próximo–distal. • Simples – complexa. Vitória Correia Moura – T4C DESENVOLVIENTO MOTOR FINO Ao nascimento, a criança mantém-se com as mãos fechadas na maior parte do tempo. Por volta do 3º mês, em decorrência da diminuição do tônus flexor, as mãos ficam abertas por um período maior de tempo e conseguem agarrar objetos, embora ainda sejam incapazes de soltá-los (mão e polegar funcionam como uma única coisa). Entre o 5º e o 7º mês, é capaz de transferir objetos de uma mão a outra. Progressivamente, o movimento de pinça vai se estabelecendo. Vitória Correia Moura – T4C c) DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM As habilidades da linguagem são comumente subdivididas em habilidades receptivas – relacionadas à capacidade de compreensão da comunicação – e expressivas – relacionadas à habilidade de produzir comunicação. Comumente, a linguagem receptiva desenvolve-se mais precocemente do que a expressiva. d) DESENVOLVIMENTO COGNITIVO O desenvolvimento cognitivo relaciona-se as funções psicológicas mais complexas e sofisticadas, como a atenção, a memória afetiva, a simbolização e o planejamento. O construtivismo de Piaget:  As influências do ambiente sobre o desenvolvimento cognitivo dependem do estágio de desenvolvimento que essa criança se encontra.  Papel ativo das crianças no seu próprio desenvolvimento - professor assume papel secundário. Vitória Correia Moura – T4C  Todas as crianças passam pela mesma sequência rígida de estágios de desenvolvimento - ambiente pode retardar ou antecipar. 1. Período sensório-motor (0 a 24 meses) O conhecimento do mundo dá-se por meio das percepções sensoriais e em comportamentos motores simples. 2. Estágio pré-operatório (2 a 6 anos) Transição entre atos claramente físicos e o pensamento simbólico e internalizado. A criança considera a realidade a partir do seu próprio ponto de vista (egocentrismo) e não concebe um mundo do qual não faça parte. 3. Estágio operatório concreto (6 a 12 anos) Declínio do egocentrismo e incremento do pensamento lógico. Criança tem conhecimento real, correto e adequado dos objetos e situações da realidade externa. 4. Estágio operatório formal (12 aos 19 anos) O indivíduo é capaz de formar esquemas conceituais abstratos, como os relacionados ao amor, à justiça, à fantasia ou à democracia. A abordagem histórico-cultural de Vygotsky:  Fatores biológicos e ambientais atuam no desenvolvimento por meio da cultura.  O conhecimento é construído pela participação ativa da criança, mas também das outras pessoas da comunidade - co-construção.  Contexto cultural e histórico possibilitam ampla variedade de experiências e desempenhos - não há sequência rígida de estágios.  Aprendizado contextualizado. e) DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL Há uma necessidade de conhecer não somente a história biológica ou genética da criança, mas também sua história relacional e transgeracional. Dependendo das experiências ou vivências primitivas, o mundo mental da criança vai apresentando uma qualidade positiva ou negativa, favorecendo ou não o seu nascimento psicológico. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO A vigilância do desenvolvimento é parte fundamental de toda consulta, compreendendo todas as atividades relacionadas à promoção do desenvolvimento normal da criança, à detecção de possíveis fatores de risco e de desvios nesse processo. Assim, é muito importante o conhecimento do desenvolvimento normal e a realização de anamnese e exame físico cuidadosos. • Contexto familiar e social. • Expectativas/fantasias dos pais. • Mudanças nas relações familiares. • Intercorrências maternas na gestação. • Condições de nascimento e intercorrências neonatais. • Aquisição de habilidades. • Opinião dos pais/familiares em relação ao DNPM. Vitória Correia Moura – T4C O exame físico geral e neurológico, a avaliação sensorial e das aquisições da criança compõem o tripé da avaliação do desenvolvimento. O desenvolvimento de uma criança é considerado normal, sempre que suas habilidades forem condizentes não apenas com sua faixa etária, mas também com seu meio cultural, o que faz da avaliação do desenvolvimento um processo individualizado, dinâmico e compartilhado com a criança e sua família. ESCALA DE DENVER Avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças de zero a seis anos de idade, por meio do Teste de Triagem de Desenvolvimento de Denver II. A grande vantagem desse teste de triagem é a sua praticidade na aplicação. Os itens a serem avaliados são apresentados em forma de gráfico, e em cada marco do desenvolvimento, podemos observar os respectivos limites mínimo e máximo da idade de aparecimento. ● Correção da idade  Exemplo: A criança tem 1 ano e 5 meses, mas nasceu de 6 meses. A idade corrigida será de 1 ano e 2 meses, porque nasceu faltando 3 meses para completar 9 meses. A partir de 2 anos não é necessário fazer essa correção! Ficha de acompanhamento do desenvolvimento adotada em 1984 pelo Ministério da Saúde: Avalia três marcos do desenvolvimento:❖ Maturidade. ❖ Psíquico-motor. ❖ Social. ❖ Psíquico. Vitória Correia Moura – T4C Sinais de alerta: • 1 mês – apatia e irritabilidade excessiva. • 3 meses – não apresentar sorriso social. • 4 a 5 meses – não sustentar o pescoço, não sorri, não acompanha com o olhar. • 6 meses – não rolar, não sustentar o pescoço. • 9 meses – persistir com reflexos primitivos, ausência de lalação. • 12 meses – ausência de reflexo de proteção, não localizar sons. • 15 meses- não falar palavras simples, manter marcha nas pontas dos pés. • 21 meses – ausência de interação social. • 24 meses – familiares não compreendem a linguagem, dificuldade de interação social.