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MATRIZ COMPLIANCE PARA ENTREGA DO TRABALHO FINAL

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parecer JURÍDICO
Elaborado por: SÉRGIO EUSTÁQUIO RIBEIRO MARTINS
Disciplina: COMPLIANCE OFFICER
Turma: 6ª turma - FGV
Órgão solicitante: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV
Assunto: Parecer jurídico – Conduta ética / profissional entre membros da mesma organização
Ementa:
ANÁLISE DAS OBRIGAÇÕES DO AUDITOR INTERNO; PRINCÍPIOS BÁSICOS DO COMPLIANCE; DIFERENÇA ENTRE AUDITOR INTERNO E COMPLIANCE OFFICER; RESPONSABILIDADE DA ALTA DIREÇÃO, DO AUDITOR INTERNO E DO COMPLIANCE OFFICER E SUAS FUNDAMENTAÇÕES LEGAIS.
Sumário:
1- Análise das obrigações do auditor com a empresa empregadora; 
2- Análise da atuação da alta direção com base nos princípios do Compliance e da Governança Corporativa;
3- Análise quanto a obediência do auditor junto aos gestores da organização, referente ao caso concreto;
4- Análise comparativa do caso concreto, se o auditor interno tem a mesma independência de um Compliance Officer;
5- Fundamentação Legal quanto ao caso concreto;
6- Análise conclusiva do caso concreto – Considerações finais;
7- Referência bibliográficas;
Relatório:
A FGV – Fundação Getúlio Vargas solicita um parecer a respeito do caso concreto, ocorrido com o auditor interno Sr Cláudio Fulano de Tal, funcionário devidamente registrado junto ao Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda, em que durante uma auditoria de praxe realizada pelo mesmo, descobriu que grande parte dos remédios injetáveis para crianças acima de 2 anos que se encontravam no galpão da empresa, iriam vencer em 3 meses.
Não obstante a sua função, Claudio comunicou imediatamente de forma verbal o ocorrido à alta direção, que por sua vez, respondeu de forma verbal ter conhecimento de tais acontecimentos, mas, como conseguiu um melhor preço devido à proximidade da data de vencimento, fez a compra assim mesmo, avisando esse detalhe ao respectivo comprador. 
Por fim, a alta direção da empresa também informou ao Sr Claudio auditor interno que, por ser um funcionário vinculado a empresa, que o mesmo não deveria mais tocar no assunto, ou seja, se omitir do respectivo problema e deixar a responsabilidade por parte da empresa.
Diante do exposto passo a tecer as seguintes considerações jurídicas e técnicas acerca do caso concreto:
1 – Diferença entre as obrigações de um auditor interno e do Compliance Officer com a empresa empregadora/contratante; 
Inicialmente, é necessário demonstrar a diferença entre um auditor interno e um compliance officer. No caso concreto, Claudio tem como prerrogativa funcional a de um auditor interno com vínculo direto com a empresa que o contratou, cuja responsabilidade preponderante como auditor interno é o gerenciamento de riscos e de controle para ajudar a organização a alcançar os objetivos estratégicos, operacionais, financeiras e de conformidade com os interesses da organização, ao passo que o compliance officer é um profissional contratado indiretamente para exercer suas funções em total independência quanto as suas tomadas de decisões sem nenhum tipo de pressão dos outros órgãos ou setores da organização. Esta é a regra.
Não obstante, é importante afirmar que no caso em tela, o funcionário Claudio é um auditor interno e não um compliance officer e, sua responsabilidade hierárquica neste caso não se assemelha a de um compliance officer, uma vez que o compliance officer tem uma função bem mais predominante do que a de um auditor interno, além da independente hierárquica perante a direção da empresa que o contratou. 
Perante sua função de auditor interno, Claudio cumpriu parte da sua obrigação ao comunicar verbalmente a atual direção da empresa, as graves irregularidades quanto a carga de remédios que estavam próximo de vencer. Por sua vez, a alta direção com uma atitude meramente comercial, informou, de forma verbal, que ele (Cláudio) não deveria se preocupar com o caso, não devendo mais tocar no assunto.
Neste caso em tela, mesmo se tratando de uma mera auditoria interna realizada por um funcionário da empresa, a atitude da alta direção ultrapassou todos os limites morais, éticos, técnicos e legais. Adquirir grande parte de estoques de remédios injetáveis para crianças acima de 2 anos cujo prazo de validade estava próximo de 3 meses para vencer, visando apenas os fins econômicos, veste-se do cúmulo da irresponsabilidade comercial. 
A empresa não se limitou a cuidar da preservação da sua imagem, do seu patrominio físico, moral e, principalmente, do reflexo negativo que poderia causar aos seus colaboradores, clientes, parceiros e acionistas, e, principalmente a saúde dos consumidores, neste caso especial, das crianças acima de 2 anos.
Independente de ser um auditor interno ou um Compliance Officer, é certo de que o profissional desta área deve ser um líder, com projetos e soluções, apontando o caminho sustentável para a organização que o contratou e, sua opinião deve ser ouvida, respeitada e aplicada.
Neste caso em tela, se a empresa tivesse um programa de integridade na organização, poderia o auditor interno ter repassado o grave problema encontrado na organização para o profissional Compliance Officer, para que o mesmo tomasse as respectivas providências cabíveis, a fim de notificar e recomendar formalmente e oficialmente a alta direção da organização, eximindo o auditor interno de tal responsabilidade operacional.
O Compliance Officer é uma figura essencial no sistema de governança de uma organização, pois ele será o responsável pela condução do programa de integridade na organização interna e externa da empresa, desde a sua implementação até a plena execução. 
Sobre a importância da autoridade e integridade do profissional de Compliance Officer e sua hierárquia dentro de uma organização, nos ensina o mestre Mendes e Carvalho: 
A supervisão do programa deve ser alocada a pessoas com autoridade na organização para desempenhar as atividades de forma estável, coerente e duradoura. É importante também que esteja garantido um grau razoável de independência e autonomia em relação aos demais setores da empresa e mesmo quanto à direção. (MENDES E CARVALHO 2017, p, 154).
Finalizando este tópico, é importante frisar que atitudes mercantilistas ocorrido como no exemplo do caso concreto, demonstram a triste realidade existente no mercado capitalista praticadas por empresas que visam apenas lucro a qualquer custo. Não há outra solução para este tipo de situação a não ser a implantação de um programa de integridade e governança corporativa de Compliance, cuja mudança de paradigma deve iniciar-se primeiramente dentro da alta direção. 
2- Análise da atuação da alta direção com base nos princípios do Compliance e da Governança Corporativa;
Inicialmente é importante salientar que é imprescindível o pertencimento da alta direção no funcionamento de uma organização. Sem uma administração séria, comprometida e participativa, nenhuma organização prosperará por muito tempo, independente de sua atividade mercantil ou condição financeira.
Um mercado organizacional que contenha membros da alta direção desqualificados, é capaz de discerminar mais fracasso e fechamento de organizações do que as graves crises econômicas, propriamente dito.
Sobre os princípios do programa do Compliance na alta direção, cito na íntegra o entendimento do professor Giovanini, Wagner:
O sucesso de um Programa de Compliance estará nas mãos do “número um” da organização (dono, CEO, presidente ou equivalente). Ele precisa, de fato, apoiar, engajar-se, desejar e promover o desdobramento dos pilares em atividades práticas na empresa, tomando para si a responsabilidade de fomentar a comunicação, permeando todos os níveis, a partir do primeiro escalão, até alcançar todos os empregados. A liderança ocupa posição de destaque desde a introdução do Programa, por seu intermédio, o Compliance penetra na cultura da organização. Assim, a alta direção deve desempenhar a função de patrocinadora da iniciativa, permanecendo como alvo de maior atenção dos funcionários, sendo seus atos “imitados” naturalmente, por admiração, por sinais de lealdade, por receioou por qualquer outra razão. Comprova-se, dessa maneira, a importância do “walk the talk”, ou seja, fazer na prática aquilo que prega. Em outras palavras, não basta dizer apoiar, participar das reuniões ou declarar seu entusiasmo nas comunicações de Compliance. O líder máximo da organização deve incorporar os princípios desse Programa e praticá-los sempre, não só como exemplo aguardado pelos demais, mas também para transformar, na realidade, sua empresa num agente ético e íntegro. Assim, a sua conduta e decisões não poderão sucumbir jamais, mesmo em casos críticos. A Alta Direção precisa andar em um tom coeso, imbuída em um tom de harmonia, focando os seus objetivos. Giovanini (2017, p, 460). 
Para fortalecer a teoria do “walk the talk” (a coragem de seguir em ações e atitudes tudo aquilo que se diz), o professor Dr Leopoldo Pagotto nos ensina através do vídeo “Congresso sobre gestão de pessoas” disposto no material de trabalho do aluno (FGV), onde afirma que “Se você não implementa aquilo que você fala, as suas palavras caem em descrédito”.
Ainda sobre o tema liderança, no mesmo sentido o professor Neves vem nos acrescentar o seguinte:
A decisão da liderança da empresa em adotar uma postura ética nos negócios deve se materializar em documentos e atitudes visíveis e inequívocas. Por exemplo, pode o presidente da empresa declarar em seus comunicados aos empregados, por escrito, e oralmente, seu comprometimento com a ética nos negócios e a determinação que todos também adotem essa atitude. O presidente e os diretores podem firmar uma carta aberta a todos os empregados neste sentido, bem como estabelecer que em todas as reuniões regulares das áreas de negócio o tema de Compliance seja um tópico constante, um item obrigatório da agenda, aos quais os empregados dedicarão sempre um tempo para discussão. A presença do presidente e dos diretores nas reuniões gerais de treinamento de Compliance é outro exemplo de que comprova o tom da liderança. Neves (2018, p, 479).
Quanto ao entendimento da Controladoria-Geral da União (CGU), a mesma publicou no seu guia de programa voltado para empresas da iniciativa privada, o seguinte:
(…) o comprometimento da Alta Direção da empresa com a integridade nas relações público-privadas e, consequentemente, com o Programa de Integridade é a base para a criação de uma cultura organizacional em que funcionários e terceiros efetivamente prezem por uma conduta ética. 
(…) Um programa que não tenha respaldo da alta direção não possui nenhum valor prático.
Portanto, se a alta direção não estiver comprometida e engajada diretamente com sua equipe no programa de integridade, a gestão desta organização dificilmente obterá êxito e a organização estará fadada ao fracasso.
3- Análise do caso concreto quanto a obediência do auditor junto aos gestores da organização;
A relação existente neste caso entre o auditor interno Cláudio e a organização, é vinculatória trabalhista, ou seja, caracteriza legalmente o vínculo empregatício entre as partes, uma vez que Cláudio presta serviços a um empregador que o contratou e o remunera com um salário para que seja exercido subordinadamente as funções que foram designadas a ele.
Claudio atua na empresa como auditor interno e, neste caso, sua função é auditor as possíveis irregularidades encontradas e resolver da melhor forma possível. Outra função, ou melhor, outra responsabilidade de Cláudio, é servir as necessidades da empresa que o remunera. 
Todavia, o caso em tela, traduz na íntegra a realidade das organizações quando seu interesse individualista sobrepõe acima de qualquer conduta. Claúdio aponta uma situação grave acerca da grande quantidade de remédios injetáveis para crianças acima de 2 anos que estavam para vencer nos proximos 3 meses e, a alta direção da empresa o reprime solicitando que ele não deveria mais tocar no assunto.
Não obstante, o poder potestativo é um direito constituído que cabe exclusivamente ao empregador. O direito potestativo do empregador é aquele que impõe uma situação a uma parte, sem que ela possa contraditar, ou seja, cabe ao empregado apenas cumprir o que lhe foi solicitado. O empregador determina suas ordens e, caso não sejam cumpridas, ele poderá aplicar penalidades ao empregado.
Sendo assim, em se tratando de um vínculo empregatício direto entre as partes, Claudio deve obediência aos gestores da organização, uma vez que ele é um funcionário interno da empresa, diferentemente se atuasse como um auditor externo, tal como um compliance officer.
No que diz respeito a moral e a ética do caso concreto, Cláudio como auditor interno da empresa, poderia denunciar a empresa nos órgãos de fiscalização, informando do alto nível de risco que os consumidores, em especial as crianças acima de 2 anos, estariam correndo se os produtos fossem para o mercado, mesmo ciente que tal atitude poderia lhe custar o seu próprio emprego.
Diferentemente da pessoa do compliance officer, o cargo exige pessoas com determinação, honestidade, seriedade e principalmente liberdade para exercer seu trabalho, pois órdens semelhantes ao caso concreto dificilmente chegariam até ele.
O Compliance Officer deve ter total independência no exercício da sua função, pois a sua independência deve ser de tal maneira que possa tomar decisões sem nenhum tipo de pressão dos outros órgãos da organização, porém, deverá ter jogo de cintura para não perder a sua autoridade e harmonia com a equipe e com a alta direção, a fim de fazer valer a sua posição e as suas recomendações.
4- Análise comparativa do caso concreto, se o auditor interno tem a mesma independência de um Compliance Officer;
Em regra, o auditor interno de uma organização privada, deve ser competente o suficiente para executar os seu trabalho, ou seja, ele deve ser especialista, ter experiência, habilidades e conhecimentos necessários para atingir os resultados pretendidos e esperados pela organização.
O auditor interno, em regra, tem o atenuante de possuir estreito relacionamento profissional com a equipe de trabalho e com a alta direção. 
Lado oposto, como agravante, este mesmo laço estreito de relacionamento de amizade entre o auditor interno, funcionários e alta direção, pode gerar o afrouxamento quanto ao rigor dos trabalhos de auditoria e de controle.
Quanto ao trabalho do auditor externo, como é o caso de um compliance officer, existe a atenuante independência para exercício da sua função, porém, por outro lado, a falta de disponibilidade junto aos colaboradores que não o conhecem, o pouco conhecimento das normas da empresa que geram atrasos na entrega de relatórios e a baixa qualidade dos conteúdos entregues, são alguns pontos que diferenciam o auditor interno do compliance officer.
O auditor interno não tem a mesma independência profissional do compliance officer, porém, ele detem maior conhecimento de informações, pelo menos a curto prazo.
Segundo a ISO NBR 37.001 as funções do Compliance Officer são as seguintes: 
Supervisionar a concepção e a implementação pela organização do sistema de gestão antissuborno; Prover aconselhamento e orientação para o pessoal sobre o sistema de gestão antissuborno e as questões relativas ao suborno; Assegurar que o sistema de gestão antissuborno esteja em conformidade com os requisitos deste documento; Reportar o desempenho do sistema de gestão antissuborno ao órgão Diretivo (se existir) e à Alta Direção e outras funções de compliance, como apropriado.
De qualquer forma, a independência existente entre um controlador interno e um compliance office, relacionada a este caso concreto, não pode ser levada em consideração quanto a conduta e a falta de ética e profissionalismo da empresa. 
Ademais, são duas funções que não se confundem (controlador interno e Compliance Officer), ou seja, enquanto o Compliance Officer tem o papel de implementar um programa de integridade que envolve a ética, conduta, legalidade, profissionalismo, gestão e comportamento, o auditor interno ou controlador interno tem o papel de fazer a coisa funcionar da melhor maneira possível para quea organização atinja os resultados almejados.
Não obstante, para dar maior segurança e efetividade ao processo de implementação e acompanhamento do programa de integridade citado no parágrafo anterior, uma organização que se preza, contrataria ainda, uma auditoria externa para auditar todo o processo formalizado pelo auditor interno da empresa e pelo Compliance Officer, concluindo, assim, o ciclo da perfeita condução da governança corporativa.
5- Da fundamentação legal quanto ao caso concreto;
No que tange a questão legal do caso concreto, resta claro a atitude dolosa e inidônia da empresa e a omissão imprópria por parte do funcionário Cláudio.
No caso de uma denúncia junto aos órgãos de fiscalização, ambos estariam sujeitos a responderem administrativamente, civilmente e criminalmente por possíveis atos omissivos, comissivos ou dolosos, ou seja, no caso da empresa por adquirir de forma consciente uma grande parte de remédios injetáveis para crianças acima de 2 anos que estavam próximos de vencer e no caso de Cláudio quanto a sua omissão imprópria.
No que tange a responsabilidade civil das partes, podemos citar os seguintes artigos 186 e 927 do código Civil Brasileiro:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Em se tratando dos crimes penais, ambos respondem pela prática dos crimes previstos no § 2º e no caput do artigo 13 do Código Penal Brasileiro, senão vejamos:
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
No mesmo sentido, concorrem para a prática dos crimes previstos no dispositivo legal do art. 2º da lei 9605/98, que diz:
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
A adoção de uma teoria formal do dever jurídico, nos moldes do art. 13, § 2° do Código Penal Brasileiro, aliada à previsão do art. 2º da Lei 9605/98, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, incididas tanto para os gestores da empresa quanto para o funcionário Cláudio, caso seja omisso quanto a conduta criminosa da empresa, ou seja, caso ele deixe de impedir a sua prática, sendo partícipe de um crime omissivo impróprio.
Pela prática do crime, a empresa também poderá responder aos preceitos da lei federal nº 12.846/2013 (lei anticorrupção) que trata da responsabilização objetiva das pessoas jurídicas pela prática de crimes cometidos, ou seja, neste caso não precisa provar culpa, apenas o nexo causal (efeito e causa).
Vajamos o que diz o artigo 1º e seguintes da lei 12.846/2013:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta Lei às sociedades empresárias e às sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou modelo societário adotado, bem como a quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente.
Art. 2º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não.
Art. 3º A responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.
§ 1º A pessoa jurídica será responsabilizada independentemente da responsabilização individual das pessoas naturais referidas no caput .
§ 2º Os dirigentes ou administradores somente serão responsabilizados por atos ilícitos na medida da sua culpabilidade.
Ainda com relação as sanções previstas na Lei nº 12.846/13, há de se considerar as sanções administrativas que os responsáveis estão sujeitos, conforme previstos no art. 6º do mesmo diploma legal: 
Art. 6º Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídicas consideradas responsáveis pelos atos lesivos previstos nesta Lei as seguintes sanções: 
I - multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto do último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando for possível sua estimação; e 
II - publicação extraordinária da decisão condenatória. 
§ 1º As sanções serão aplicadas fundamentadamente, isolada ou cumulativamente, de acordo com as peculiaridades do caso concreto e com a gravidade e natureza das infrações. 
§ 2º A aplicação das sanções previstas neste 66 artigo será precedida da manifestação jurídica elaborada pela Advocacia Pública ou pelo órgão de assistência jurídica, ou equivalente, do ente público. 
§ 3º A aplicação das sanções previstas neste artigo não exclui, em qualquer hipótese, a obrigação da reparação integral do dano causado. 
§ 4º Na hipótese do inciso I do caput, caso não seja possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto da pessoa jurídica, a multa será de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais). 
§ 5º A publicação extraordinária da decisão condenatória ocorrerá na forma de extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em meios de comunicação de grande circulação na área da prática da infração e de atuação da pessoa jurídica ou, na sua falta, em publicação de circulação nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias, no próprio estabelecimento ou no local de exercício da atividade, de modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial de computadores.
Outro ponto importante trazido pela lei anticorrupção foi a desconsideração da personalidade jurídica, conforme prevê o art. 14 que cita: 
Art. 14. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, sendo estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com poderes de administração, observados o contraditório e a ampla defesa.
No mesmo sentido, o TJ/SC julgou procedente o recurso especial com aplicação de aumento de pena prevista no art. 12, III da lei 8.137/90, que define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências, conforme veremos a seguir:
PENAL. RECURSO ESPECIAL. VENDA DE MEDICAMENTO VENCIDO. ART. 7º, IX, DA LEI 8.137/90. BEM ESSENCIAL À VIDA E À SAÚDE. INCIDÊNCIA DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA PREVISTA NO ART. 12, III, DA LEI 8.137/90. RECURSO PROVIDO.
1. Aplica-se a causa de aumento de pena prevista no art. 12, III, da Lei 8.137/90, porquanto medicamentos são passíveis da caracterização como bens essenciaisà vida e à saúde.
2. Não há falar em negativa de vigência do referido dispositivo legal a pretexto de faltar taxatividade à expressão "bens essenciais à vida e à saúde", na medida em que a amplitude propositalmente disposta na lei objetiva alcançar a multiplicidade de produtos e serviços existentes, cabendo ao julgador, caso a caso, fundamentar o recrudescimento da pena.
3. Recurso provido para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que aplique a causa de aumento prevista no art. 12, III, da Lei 8.137/90, a fim de que, examinando as peculiaridades do caso concreto, redimensione a pena aplicada.
(REsp 1207442/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2015, DJe 11/12/2015)
No mesmo o artigo 7º, IX, da Lei nº 8.137/90 prevê o seguinte delito:
Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo:
IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.(grifo nosso)
6- Da análise conclusiva e das recomendações;
Conclui-se que no caso em tela, o funcionário Claudio é um auditor interno e não um compliance officer e, sua responsabilidade hierárquica não se confunde ou se assemelha a de um compliance officer, uma vez que o compliance officer tem função predominante, além de independência hierárquica perante a direção da empresa que o contrata. 
Claudio fez o seu trabalho de rotina comunicando informalmente a grave irregularidade a alta direção da empresa, que por sua vez, por atitudes tecnicamente comerciais, informou que ele não deveria se preocupar com o caso, não devendo mais tocar no assunto.
Diante disso e, considerando a atitude da alta direção da empresa, resta claro que a alta direção ultrapassou todos os limites morais, éticos, técnicos e legais da sua atividade, pois adquirir remédios injetáveis para crianças acima de 2 anos cujo prazo de validade estava próximo de vencer visando apenas os fins econômicos, foi o cúmulo da irresponsabilidade comercial, passível de responsabilização administrativa, civil e criminal. 
Quanto a jurisprudência, é pacífico o entendimento condenatório para casos concretos praticados contra a vida e contra a saúde dos consumidores. A responsabilidade da pessoa jurídica é objetiva, conforme prevê a lei federal 12.846/2013 e, não exclui a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.
A orientação para casos como este, é que o auditor interno diante de qualquer problema encontrado, notifique a empresa “formalmente” através de relatórios, relatando os fatos, as recomendações, as responsabilidades e as consequências. Assim, o profissional auditor, poderá se eximir de responsabilidade subsidiária ou solidária. 
Por outro lado, é importante salientar que é imprescindível o pertencimento da alta direção no funcionamento de uma organização, em especial, mantendo o compromisso com a governança corporativa. 
Sem a presença de uma alta direção séria, comprometida e participativa, nenhuma organização prosperará por muito tempo, independente de sua atividade mercantil ou condição financeira.
Diante de todo exposto, RECOMENDA-SE que a empresa citada, contrate urgentemente, profissionais externos de auditoria e de Compliance Officer, a fim de implantar e auditar um programa de integridade e governança de Compliance, com fulcro a organizar as políticas internas e externas da respectiva organização.
7- Das referências bibliográficas;
Material do aluno – vídeo compliance no serviços público https://ls.cursos.fgv.br/d2l/le/content/332791/viewContent/2602490/View acesso em 27 de junho de 2021 e 05 de julho de 2021.
Minha Biblioteca: Manual de Compliance - COMPLIANCE E O TERCEIRO SETOR, acesso em 11 de julho de 2021
MENDES, Francisco Schertel; CARVALHO, Vinícius Marques de. Compliance: concorrência e combate à corrupção. São Paulo: Trevisan, 2017. 
GIOVANINI, Wagner. Programas de Compliance e Anticorrupção: importância e elementos essenciais. In: SOUZA, Jorge Munhós de; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (Org.). Lei Anticorrupção e Temas de Compliance. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 457-473.
https://garciadeoliveira.adv.br/compliance/acesso em 05 de julho de 2021
https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=359340 acesso em 09 de julho de 2021
https://www.3rrslabor.com/files/Artigo%20CREA%20Renato%20Regazzi%20ISO%2019600%20e%2037001.pdf acesso em 11 de julho de 2021
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998-http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm acesso em 11 de julho de 2021
LEI Nº 12.846, DE 1º DE AGOSTO DE 2013-http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm acesso em 11 de julho de 2021
LEI Nº 9.677, DE 2 DE JULHO DE 1998. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9677.htm Acesso em 16 de Julho de 2021. 
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3802/000313823.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 16 de Julho de 2021
https://www.conjur.com.br/2013-set-16/farmacia-responsavel-consumidor-ingerir-remedio-vencido#:~:text=Farm%C3%A1cia%20%C3%A9%20respons%C3%A1vel%20por%20vender%20rem%C3%A9dio%20vencido&text=Ser%20respons%C3%A1vel%20pelo%20consumo%20de,a%20repara%C3%A7%C3%A3o%20por%20dano%20moral. Acesso em 16 de Julho de 2021
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8137.htm#:~:text=L8137&text=LEI%20N%C2%BA%208.137%2C%20DE%2027%20DE%20DEZEMBRO%20DE%201990.&text=Define%20crimes%20contra%20a%20ordem,consumo%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em 17 de Julho de 2021
https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-eletronica-1990_11_capJurisprudencia.pdf acesso em 19 de julho de 2021
LEI Nº 8.137, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1990. - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8137.htm acesso em 19 de julho de 2021
	
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