Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
!# Hu JNIV . Col%ze/brary % } //elaco Oe 9aeroge%óctro N s # Oe Sotomayor%2/melôa Y • ela concellow> Ganz 9/6anta Óu/a/a | e%ha 93&ecion4nior >{ � �� � ■ ■■ ■ ■ ■ ** |22#J - S. MATTHEUS PERFIL DE JESUS CHRISTO Desenhadopor Perret segundouma terra-cocta encontradanas catacumbas de Santa Ignez FADRE SANTANNA O EVANGELHO SEGUNDO"." S. MATTHEUS (Com gravuras, mappas e plantas) G>==>==>) LISEOA Tipographia º EDITORA) Largo Conde Barão, 5o 19OQ Ei º 2 q o \/ HARVAND COLLEGE LIBRARY O COUNT OF SANTA EULALIA COLLECTION GIFT OF 10hn a srETse", li , 00T 4 1922 Com approvação d a auctoridade ecclesiastica PRE FA CIO A presente obra não é um commenta rio em forma, philologico e historico-critico, sobre o Evangelho de s. Mattheus. As suas aspirações são muito mais mo destas. E apenas uma traducção despre tenciosa do texto evangelico, acompanhada da analyse do mesmo texto e d'algumas notas explicativas. Ainda assim nunca me resolveria a publicá-la, se a larga conva lescença da operação, que me prostou a IO de maio do anno findo, me não tivesse dado vagar para isso, e se fortes instancias de amigos do Evangelho me não tivessem forçado a pegar na penna para este genero de trabalhos. A traducção, sem ser verbalmente servil, é singela, fiel e literal. Serve-lhe de base o texto latino da Vulgata, editado por Ver cellone, por Brandscheia e tambem, com al VI PREFACIO guns melhoramentos, por Hetznauer, sem descurar a grande edição critica de llor asworth. Mas este texto latino, como o leitor poderá verificar, foi constantemente com parado com o texto grego, com a authen ticidade grega, como diria s. Xeronymo. Servi-me para isso, ordinariamente, das edições manuaes de Brandscheia, de Hetz nauer, de Nestle e de Balyon. A analyse vai sufficientemente indicada nas notas, divididas em paragraphos, se gundo as diversas secções indicadas na Introducção. • Quanto ás notas, tive unicamente em vista facilitar ao leitor a intelligencia literal do texto, indicando aqui e ali uma ou outra applicação pratica. Vão sem apparato cri tico e Scientifico, sem as discussões e dis sertações proprias dos grandes commen tarios, mas nem por isso parecerão inuteis. São apenas um subsidio para a leitura e meditação intelligente do texto evangelico; por isso quiz que fossem sobrias, breves, claras e substanciosas. Tal é o fim, bem modesto, que tive em vista; se o attingi ou não, vê-lo-ha o leitor, PREFACIO • VII Quem desejar mais e melhor, poderá con sultar os grandes commentarios de Fillion, de Schanz, de Maas, e o do meu sabio mestre, amigo e collega o Padre Knaben bauer, um dos meus iniciadores nos estu dos biblicos. Lisboa, 1 de janeiro de 1909. * | INTRODUCÇÃO § 1º — S. Mattheus No primeiro Evangelho (9, 3-13) fala-se da voca ção d'um certo publicano, por nome Mattheus (M25325%, nos codices mais antigos; Mz=32ão, nos codi ces posteriores), que mais adeante (1o,3) vem con tado entre os apostolos, onde occupa o oitavo lo gar, depois de Thomé, e é tambem denominado Mattheus, o publicano. Os outros catalogos dos apos tolos omittem o epitheto pouco honroso de publica no, e nomeam no, o dos Actos (1, 13) em oitavo logar, os de s. Marcos (3 , 18) e d e s. Lucas (6 , 15) n o setimo. Este publicano, que só se denuncia pela sua humildade, é o auctor d o primeiro Evange lho. A historia da sua vocação vem narrada nos tres Synopticos (Mt. 9 , 3-13. Mc. 2 , 13-17. Lc. 5 , 27-32), cujas narrações concordam plenamente em tudo, menos n o nome d o publicano, que em s. Marcos (2 , 14) e em s. Lucas (5, 27) é chamado Levi. Esta pequena divergencia bastou para que alguns pro testantes e racionalistas, aliás contraditados por * X INTRODUCÇÃO muitos outros, negassem a identidade de Mattheus e de Leví, contra o parecer unanime da alta anti guidade christã. A existencia de individuos com dois nomes dif ferentes não era coisa rara entre os Judeus, nos tempos posteriores; comtudo não se pode averiguar se o publicano, chamado por Jesus Christo, já en tão era conhecido pelos dois nomes de Mattheus e de Leví, ou se só mais tarde, em memoria talvez da sua conversão ou vocação, adoptou o nome de Mattheus (r= ou "sne, dom de Iáhve, ou nes o fiel), pelo qual era conhecido no collegio apostolico e na christandade primitiva. Os publicanos— cobradores ou arrematadores dos direitos de barreira— constituiam uma classe á parte, devidamente organizada, e eram detestados pelos Judeus, que os tinham na conta de peccado res publicos e escandalosos, cuja convivencia devia ser evitada pelos zeladores da le i e amigos d a na ção. As injustiças e vexames, que elles commet tiam n o exercicio d a sua profissão, aliás licita, e a sua contínua convivencia com gentios, a cujas idéas e costumes facilmente se amoldavam, explicam o desprezo geral em que eram tidos. Em Capharnaúm, centro do apostolado de Jesus na Galiléa, teve Mattheus muitas occasiões de ver e ouvir a Jesus, e a sua alma estava-lhe tão affei çoada e tão bem disposta, que, mal o Senhor o cha mou para ser seu discipulo, abriu logo mão do oficio, e seguiu a Jesus, dando-lhe em sua honra um grande banquete, em que tomaram parte, além INTRODUcÇÃO XI dos outros discipulos de Jesus, muitos dos seus col legas. Desde esta epoca a vida de s. Mattheus confun de-se com a dos outros apostolos, e nada se sabe que lhe seja especial. Pela narração evangelica e pelo cargo que exercia, vê-se que era homem de certos haveres, conhecedor das linguas grega e ara maica, e com certa facilidade de as escrever. O primeiro Evangelho revela-o um espirito meditativo, profundo, versado no Antigo Testamento, particu larmente no estudo das prophecias messianicas. Segundo Clemente Alexandrino, evangelizou a Pa lestina durante 15 annos, assignalando-se pela aus teridade da sua vida, pois só se alimentava de her vas e de legumes. Ignora-se qual fo i o seu campo de actividade fóra d a Palestina. Os escriptores ecclesiasticos e os apo cryphos trazem informações tão discordantes que nem vale a pena mencioná-las. O Breviario romano, seguindo a Rufino e a Socrates, diz que evangelizou a Ethiopia, nome que nestes auctores deve designar a região a o sul d o mar Caspio. As egrejas latina e grega veneram-no como martyr, mas não se sabe onde e com que genero d e morte faleceu. § 2.° —0 auctor do primeiro Evangelho O primeiro Evangelho é conhecido desde a mais alta antiguidade pela designação d e segundo Mat theus, xxx? Masºzio». Era assim que os Evangelhos eram conhecidos e allegados em todas as commu XII INTRODUCÇÃO nidades christãs pelo meado do segundo seculo, uns 5o annos portanto depois da morte do ultimo apos tolo, s. João. Na grecidade posterior a preposição xzcz, segundo, com accusativo, equivalia ao genetivo (725 M.) de auctor, e era neste sentido que estes titulos foram impostos aos Evangelhos. (*) Neste tempo já a palavra sºzinº, evangelho, ti nha o sentido de livro onde se contem a doutrina (*) Evangelho, sòz}}<Xºy é uma palavra grega, que tendo si gnificado, no periodo classico, desde Homero até Plutarco, alviçaras ou sacrificio em acção de graças por uma boa nova, veio por fim, no grego post-classico, a ter o sentido etymolo gico de boa nova. EÕzysXºy é composto de -5 , bem, e de  , mensageiro, o u 3##XXo, annunciar. Assim define Suidas a pa lavra n o seu Lexicon: sòzyyé).tow r% x%XXtarz &##Xoy. E sempre neste ultimo sentido de boa nova que a palavra se encontra n o Novo Testamento, quer d'um modo generico, talvez em Eph. 1 , 3 , quer no sentido especifico de doutrina d a redempção por meio de Jesus Christo, doutrina que é real mente, entre todas, a boa nova por excellencia. A caracteris tica d’esta boa nova é o ter sido annunciada pelo proprio Jesus Christo (Heb. 2 , 3 ). \, Só mais tarde, quando a doutrina da redempção, depois de ter sido ensinada de viva voz, foi posta por escripto, é que se deu tambem o nome de evangelho aos livros em que o s apos tolos e o s seus discipulosnos transmittiram por escripto a doutrina da redempção, que o collegio apostolico foi encar regado de annunciar a todas as gentes. E ' só neste sentido de livro escripto que a palavra evange lho se emprega no plural, para designar o s livros de s. Mat theus, de s. Marcos, de s. Lucas e de s. João, o s unicos, neste genero, que a Egreja venera como canonicos desde a epoca apostolica. INTRODUCÇÃO XIII da redempção prégada por Jesus Christo. Como nos livros do Novo Testamento o genetivo depois de sòzmáxº designa o auctor da boa nova da redem pção, que é Deus ou Jesus Christo, o objecto d’ella ou a sua destinação, não pareceu bem adoptar o genetivo de auctor e preferiram-lhe a circumlocução mais appropriada — segundo Mattheus, (…: M.). O evangelho é um só, embora os que o annunciaram de palavra ou puzeram por escripto sejam muitos. E um facto hoje scientificamente estabelecido que o nosso Evangelho (o mesmo vale dos outros tres), pelo meado do segundo seculo, era conhecido em todas as communidades christãs, que o venera vam e allegavam como Escriptura, e como obra ge nuina de Mattheus, o publicano, que vem nomeado em todos os catalogos dos apostolos. Os homens mais eminentes d'esta epoca estão todos d'accordo sobre este ponto, e fundam-se, não em conjecturas, mas na tradição certa que lhes fo i legada por aquel les que conheceram pessoalmente o s apostolos o u o s seus discipulos immediatos. Basta citar, como exemplo, o nome d e s. Ireneu, bispo d e Lyão, e discipulo, na Asia menor, de s. Polycarpo, discipulo do apostolo s. João. E nesta epoca admittia-se, como principio fundamental, para o qual se appelava em todas as controversias, que só se devia admittir como genuinamente christã a doutrina communicada á Egreja pelos apostolos. Tudo o mais era novidade profana ou heresia. O testemunho explicito mais antigo sobre o Evan gelho escripto pelo apostolo s. Mattheus é o d e XIV INTRODUcÇÃo s. Papias, bispo de Hierapolis, contemporaneo e amigo de s. Polycarpo. Conheceu tambem e tratou pessoalmente com Aristion e o apostolo s. João, de que s. Ireneu o chama discipulo (Ioá…º 3x2977), e é provavel que tambem conhecesse o apostolo s. Phi lippe, cujas filhas viu em Hierapolis. • Da sua obra, em cinco livros, intitulada A2}{ow xºcºxõw &#íase, «Explanação dos oraculos do Senhor», só nos restam alguns fragmentos, citados por Euse bio na sua Historia Ecclesiastica. Falando do apos tolo s. Mattheus diz: Mz=52ão: viv 05 , #228 32Xíxtº r? X&Y… awaye%zz: «Mattheus escreveu em lingua hebraica o s oraculos» do Senhor. No grego ecclesiastico, modelado pelo grego bi blico, X&Y…», não tem o sentido restricto de dito ou sentença, mas significa a palavra de Deus escripta, o s oraculos divinos contidos nos livros sagrados. Assim em s. Clemente romano, discipulo dos apos tolos, r? X#2:35 Oscº, «os oraculos d e Deus», são a sa grada Escriptura. O mesmo s. Papias falando de s. Marcos diz que elle escreveu aówrx㺠rõ w xºçaxõw XoYíow «uma coordenação dos oracnlos dó Senhor», na qual se continham r? O n º rçõXçarç5 # Xey.5évrzi rçz%3évrz, «as coi sas o u ditas ou feitas pelo Christo». Ora este é o argumento d e todos o s Evangelhos; e quadra-lhes bem o nome de **, porque nelles os discursos de Jesus Christo constituem a sua parte principal. Erraram pois os que, apoiando-se em s. Papias, pretenderam afirmar que s. Mattheus escreveu, não o nosso Evangelho, mas uma simples collecção de ditos de Jesus, coisa absolutamente desconhecida INTRODUCÇÃO XV de toda a antiguidade, que nunca teve noticia d'ou tro escripto de s. Mattheus, distincto do nosso Evan gelho. A estes testemunhos explicitos, accrescem os tes temunhos indirectos dos escriptores anteriores (dos fins do primeiro e principios do segundo seculo), onde se encontram frequentes allusões e citações textuaes, sem nome do auctor (como era costume da época), que só se encontram no Evangelho de s. Mattheus. A Didaché, 8,32% ou Doutrina dos doze apostolos, opusculo escripto na segunda metade do primeiro seculo, em 8o 9o, o monumento mais an tigo da literatura christã, está cheia de ditos de Je sus, e a maior parte, taes com vem no Evangelho de s. Mattheus. Estes são allegados com as clausulas: «como ordenou o Senhor no seu Evangelho», ó: êx#avasy & xópio; º riº sºzymexíº zºr:#, ou «como tendes no Evangelho», ó: #re º riº sºziyº, que só podem refe rir-se a um texto escripto conhecido por todos. A Didaché é o documento mais antigo onde a pala vra sºzni)…», evangelho, se encontra n o sentido d e livro escripto. Encontram-se egualmente citações de s. Mattheus n a Epistola de Barnabé, attribuida ao apostolo d’este nome, e escripta n o tempo d e Nerva (96-98) o u d e Domiciano (8o-96), n a Epistola aos Corin thios d e s. Clemente romano, terceiro successor d e s. Pedro, do anno 9o 99, nas Cartas de s. Ignacio, bispo d e Antiochia, discipulo dos apostolos, marty rizado em Roma no tempo de Trajano (98 117), na Carta de s. Polycarpo, bispo de Smyrna, discipulo B XVI INTRODUCÇÃO # do apostolo s. João e mestre de s. Ireneu, martyri zado em 155 ou 156, no Pastor de Hermas, es cripto em Roma pelo anno 14o- 155. S. Justino, philosopho pagão, convertido, na Asia menor, antes de 132 e martyrizado pelo anno 165, que tambem emprega a palavra sºziné?…» no sentido de livro, nas suas duas Apologias, escriptas pelo anno 15o, e no Dialogo com o Judeu Tryphon, com posto antes de 161, cita com frequencia as Memo rias dos Apostolos, que se chamam Evangelhos, os quaes foram escriptos pelos apostolos e seus disci pulos. Encontram-se nelle numerosas citações de s. Mattheus, contendo doutrinas e factos da vida de Jesus Christo. Taciano, discipulo de s. Justino em Roma, que veio depois a ser o chefe dos Encratitas, deixou no seu Diatessaron (? ? & & !soa%ço" — o Evangelho com os quatro) uma harmonia evangelica, onde se encontra o Evangelho de s. Mattheus. Até os herejes d’estes primeiros tempos conhe ciam e citavam o nosso Evangelho. Basilides escre veu, pelo anno 125-13o, um commentario em 2 4 li vros sobre o Evangelho. Um dos Evangelhos nelle citados era o d e s. Mattheus. Cerintho e Carpocra tes, n o começo, e o s Valentinianos, pelo meado do segundo seculo, tambem se serviam de s. Mattheus. Celso, philosopho pagão, chamado «o Voltaire do segundo seculo», n a obra que escreveu contra o christianismo cita o s nossos Evangelhos, e nomea damente certos factos que só se encontram n o Evan gelho d e s. Mattheus. INTRODUCÇÃo XVII Estes dados da critica externa são confirmados pelos da critica interna, que, só por s i, é bastante deficiente, subjectiva e variavel. O exame philolo gico d a linguagem (vocabulario e syntaxe), o s conhe cimentos geographicos e historicos que o auctor sup põi o u manifesta, a situação religiosa, politica e social dos Judeus, que representa, o modo como fala de Jesus Christo, etc., tudo isto demonstra suf ficientemente que o primeiro Evangelho fo i escripto para o s judeo-christãos por um homem, inteira mente esquecido d e si mesmo e devotado a Jesus Christo, judeu de nação, que vivia na Palestina, e fo i contemporaneo dos factos que refere, e que elle mesmo observou pessoalmente o u lhe foram referi dos por testemunhas oculares. A critica interna não pode ir mais além. Comtudo é nella que se fundam os racionalistas para porem em duvida a origem apostolica d o pri meiro Evangelho. Cada um, segundo o seu feitio e mentalidade, construe a priori um typo do que de veria ser o primeiro Evangelho se fosse realmente obra d'um apostolo, e não achando depois n o Evan gelho esses caracteres imaginarios e presuppostos, rejeita o livro como espurio, attribuindo o a um re dactor desconhecido que impoz a sua obra a toda a Egreja sob o pseudonymo de Mattheus! Holtzmann, por exemplo, condemna o livro: 1 .º porque não segue a ordem chronologica, 2. º por que emprega com frequencia expressões vagas e indeterminadas; 3. º porque narra milagres, que reputa contos fabulosos,indignos d'um apostolo! XVIII INTRODUCÇÃo B. Weiss, Jülicher e outros alegam razões de egual valor scientifico, que tambem são, pela sua inepcia, uma confirmação da verdade historica, scientifica mente demonstrada, que elles, com desdoiro do seu saber e talento, pretendem em vão invalidar. § 3.° — Lingua original e destinação do primeiro Evangelho No testemunho de s. Papias, citado no § 2º, diz se que s. Mattheus escrevera o seu Evangelho no dialecto hebraico, 3çz!$ 3,2%ixº; e s. Papias accres centa que a principio, emquanto não houve traduc ção grega universalmente reconhecida, cada qual procurava interpretá-lo como podia, %víwsuas 3'zºr &; ?» Swx”, fazato. Os escriptores ecclesiasticos antigos são unanimes sobre este ponto. Basta citar, para exemplo, os nomes de s. Ireneu, de s. Epiphanio, de Origenes, de Eusebio de Cesaréa, de s. Jeronymo de s. Cyrillo de Jerusalem, e de s. Chrysostomo. Este consenso unanime, que não é um simples echo do dito de s. Papias, como pretendem alguns racionalistas, representa a tradição bem averiguada da Egreja primitiva sobre a origem do primeiro Evangelho. A despeito das afirmações em contrario de Eras mo, do cardeal Caetano e de mais alguns moder nos, ainda hoje é quasi universalmente seguida, havendo apenas divergencia sobre o que deve en tender-se por lingua hebraica, se o hebreu antigo, que no tempo de Christo só era conhecido pelos INTRODUcÇÃo XIX rabbinos, ou o aramaico, que, depois do exilio ba bylonico, ficou sendo a lingua popular da Palestina, e na qual o evangelho fo i prégado por Jesus Christo e pelos apostolos. Como todos os antigos concordam em que o pri meiro Evangelho fo i escripto para uso dos judeo christãos, e o exame do livro assim o demonstra claramente (*), é pouco provavel que s. Mattheus, (*) Basta enumerar, entre outros, os seguintes indicios de que o primeiro Evangelho foi escripto na Palestina, para os judeo christãos e na lingua popular do paiz: 1 . — As numerosas citações do Antigo Testamento, que no primeiro Evangelho é allegado mais vezes do que em todos OS OUltrOS trêS. - 2 . — As referencias á historia antiga de Israel como figura do Messias, realizada em Jesus Christo. 3 . — As palavras aramaicas, e costumes judaicos menciona dos sem explicação alguma, que elucide o leitor; devendo a s raras explicações que se encontram n o Evangelho ser attri buidas a o traductor grego. 4 . — A insistencia e força com que realça a perversidade do povo judaico e dos seus chefes. 5 . — A insistencia com que se refere á lei, no Sermão do mOnte. • • 6 . — A genealogia de Jesus Christo, desde Abrahão e David, como synthese da historia d o povo judaico. 7 .— A omissão da missão dos 72 discipulos. • 8 . — A ausencia de palavras latinas, com raras excepções faceis de explicar. 9 . — A frequencia das expressões reino dos ceos e Filho d'homem. 1o. — O cuidado com que realça a predilecção de Jesus pelo povo judaico. - XX INTRODUCÇÃO que os instruira em aramaico, fosse legar-lhes, como recordação do seu ensino, um livro escripto numa lingua que elles ignoravam, e em que ninguem naquelle tempo escrevia. As razões internas allega das em contrario nada provam, e se tivessem força probante iriam mais longe do que isso, provariam até, o que já veio á cabeça d'algum, que o proprio Jesus Christo prégou o Evangelho em latim! Quanto ao original aramaico, esse teve a sorte da egreja palestinense, e desappareceu juntamente com ella, depois das guerras de Tito e Adriano (132-137). Dos christãos, uns emigraram, e fundiram-se com as communidades gregas, cujos textos, lingua e usos adoptaram, outros vieram a cahir na seita dos Ebio nitas, onde o Evangelho aramaico se conservou, bem como entre os Nazareus, até aos principios do quinto seculo, mas já desfigurado com varias alterações e interpolações. • Este Evangelho era conhecido na antiguidade christã pelo nome de Evangelho segundo os Hebreus, segundo os Navareus ou segundo os Ebionitas. Os proprios Nazareus de Beroé, na Syria, mostra ram um exemplar a s. Jeronymo (+ 42o), que o co piou e traduziu para grego e latim. A bibliotheca de Cesaréa, pelos fins do quarto seculo, tambem possuia um exemplar. S. Panteno, fundador da ce lebre escola de Alexandria, onde floresceram Cle mente, seu discipulo, collega no ensino e successor, e Origenes, evangelizando a Arabia, achou tambem ali uma antiga christandade, fundada por s. Bar tholomeu, que ainda conservava o Evangelho aramai INTRODUcção xx1 co, que d’elle recebera. Panteno faleceu pouco antes do anno 2oo, com universal reputação de homem eminente na sciencia das Escripturas. Hoje causa nos certa extranheza que estes homens eminentes não fizessem mais diligencias para recons tituir e nos conservar o texto aramaico primitivo, o que para nós seria um subsidio de immenso valor. Mas esta extranheza dissipa-se facilmente, se con siderarmos que a traducção grega actual, a unica que apparece citada nos documentos mais antigos, remonta á epoca apostolica, e portanto tem todo o valor e força d'um texto original. O primeiros christãos tinham o culto da idéa, mas estavam muito longe d'aquella superstição da palavra, que, materialmente considerada, era me ramente humana e não inspirada por Deus. Por isso não tinham duvida, na transcripção dos codi ces, em substituir palavras desconhecidas por outras mais inteligiveis, e até de lhes introduzir aqui e alli certas glossas explicativas, que a sciencia critica pode facilmente discernir. Esta, como é sabido, é, além dos erros proprios dos copistas, uma das cau sas principaes das variantes, que se encontram nos codices, e cuja origem, longe de ser posterior, re monta aos primeiros tempos do christianismo. § 4.° — Fontes do primeiro Evangelho Não é possivel, hoje, por falta de documentos, averiguar como é que s. Mattheus escreveu o seu Evangelho e quaes os subsidios de que se serviu. XXII INTRODUCÇÃo Visto que só fo i chamado mais tarde, quando Jesus já estava estabelecido em Capharnaúm, que veio a ser a sua cidade, não poude, como o s primeiros discipulos, ser testemunha ocular de todos os factos d a vida d e Jesus, desde o baptismo de João até á sua morte e resurreição. Dos factos posteriores á sua vocação não preci sava elle d'outras fontes d e informação porque tinha sido testemunha ocular de quasi todos elles, menos d a resurreição d a filha de Jairo (9 , 18-26), d a trans figuração (17,1-9), d a agonia d e Jesus (26, 36-46) e d e mais algumas particularidades, que podia saber pelos outros apostolos, que d’ellas foram testemu nhas. Estes mesmos o podiam informar dos factos que precederam a sua vocação, porque os primeiros discipulos sahiram da escola o u dos ouvintes d o Ba ptista, e seguiram a Jesus logo depois do seu ba ptismo. • • Da infancia de Jesus é que nenhum apostolo foi testemunha, mas, depois d a resurreição e ascenção d e Jesus, todos elles conviveram com a Mãe de Je sus, que lhes podia dar todos o s esclarecimentos necessarios. Complemento de todas estas fontes é o Espirito Santo, cuja assistencia permanente foi promettida por Jesus aos apostolos, para lhes ensinar toda a verdade (Jo. 16, 13), que Jesus desejava communi car á sua Egreja, e suggerir-lhes tudo quanto elle mesmo, em vida, lhes tinha ensinado (Jo. 14, 26). Só resta a genealogia que, como documento official achava-se, parte n a Biblia, parte nos archivos publi INTRODUCÇÃO XXIII cos e particulares, pois não havia judeu que não pudesse provar, com documentos á vista, a familia e tribu a que pertencia. Como os apostolos, antes de se dispersarem, se conservaram durante alguns annos na Palestina, trabalhando juntos na conversão dos Judeus, na or ganização e instrucção da Egreja nascente, e só muito mais tarde é que dois d'elles, por motivos particulares, escreveram o Evangelho, é provavel que ou elles mesmos ou antes muitos dos seus dis cipulos escrevessem, para as conservarem, as dou trinas de Jesus e os factos da sua vida, que consti tuiam o objecto dacatechese apostolica. S. Lucas (1 , 2 ) diz-nos que realmente foram muitos o s que, desde o principio, procuraram coordenar em narra ções seguidas o s factos e ensinamentos ouvidos nas prégações apostolicas. S . Mattheus não precisava d’estes documentos, mas tambem não repugna que o s utilizasse, pois ninguem melhor do que elle po dia verificar a sua exactidão e corrigi-los onde por ventura se desviassem da verdade. Se de facto se serviu d'elles o u não, é coisa que nós não podemos determinar, nem h a n o Evangelho indicio algum d’isso. § 5.° — Data do primeiro Evangelho * E ' impossivel determinar com exactidão a epoca em que fo i escripto o Evangelho de s. Mattheus. Pode dizer-se com certeza que fo i escripto antes d a ruina d e Jerusalem (anno 7o), que vem prophetizada n o capitulo XXIV, sem o mais leve indicio do seu XXIV INTRODUCÇÃo cumprimento. Por outra parte o modo como fala do nome imposto ao cemiterio comprado com as moe das de Judas (27, 8 ), e d o boato falso espalhado pelos synedristas sobre o roubo d o corpo d e Christo pelos apostolos (28, 15), d á bem a entender que já tinham decorrido alguns annos depois d a morte d e Jesus, e bastantes para estas circumstancias pare cerem dignas d e nota. S e nos fosse possivel precisar este numero d e annos, teriamos juntamente com o anno 7 o dois limites extremos dentro dos quaes de veriamos colocar a data da composição do Evan gelho. Os racionalistas não reconhecem estes limites, mas é por motivos d'ordem subjectiva, inteira mente alheios a estas questões d e critica historica. Como entendem que não pode haver milagres nem prophecias, e veem em s. Mattheus a prophecia da ruina de Jerusalem, sustentam que o vaticinio fo i arranjado depois do acontecimento, e dizem que o Evangelho, cuja authenticidade não admittem, fo i escripto, Hilgenfeld e Holtzmann pouco depois do anno 7o, Weiss e Harnack em 7o-75, Renan depois d e 85, Réville em 69 96, Jülicher em 81-90, Volkmar pelo anno 11o, Baur em 13o-134! Na falta pois de indicios internos suficientes, é mais prudente consultar o s dados externos, o s tes temunhos d a antiguidade christã. Estes testemunhos porém não estão d'accordo em tudo. Concordam todos, sem a mais leve discrepancia, em que s. Mat theus escreveu o seu Evangelho para os judeo-chris tãos palestinenses, o que suppõi que o Evangelho INTRODUCÇÃO XXV fo i tambem escripto n a Palestina (*), como opinam o s antigos exegetas e a maior parte dos modernos. E tambem sentir commum da alta antiguidade que o primeiro Evangelho escripto foi o de s. Mattheus. Clemente Alexandrino, citado por Eusebio, diz que o s Evangelhos, que conteem genealogias (Mt. e Lc.) são anteriores aos outros (Mr. e Jo.). Não o afirma por conjectura propria, mas basean do-se n a tradição dos antigos presbyteros, ro w 2,5225= resogorspoº. Outros, como s. Ireneu, Origenes, Eusebio, s. Epiphanio e s. Jeronymo, são ainda mais expli citos, e dizem terminantemente que s. Mattheus foi o primeiro que escreveu o Evangelho. Todos estes testemunhos se baseiam na tradição antiga, a come çar da epoca apostolica. Quanto á data da composição do Evangelho, já não h a nestes investigadores das origens christãs o mesmo accordo, nem a mesma precisão. O sentir mais commum, quasi geral até, d a antiguidade é que s. Mattheus escreveu o seu Evangelho pouco antes dos apostolos deixarem de vez a Palestina para irem, segundo a ordem de Christo, levar a boa nova aos outros paizes d o mundo. Mas a data da dispersão o u d o exodo dos apostolos, como lhe chama s. Ireneu, é incerta. Uns, com Eusebio, seguido por (*) Esta circumstancia é expressamente afirmada por s. Ireneu em um fragmento conservado por Eusebio. Diz que s. Mattheus é , roi: "E6%2íziz,«estando entre os Hebreus», escre veu o Evangelho y ri . !Síz x}röw & x}ézzº, «na propria lingua d'elles». XXVI INTRODUcÇÃO Theophylacto e Euthymio Zigabeno, colocam-na no anno S." depois da ascensão de Christo, outros, com Nicephoro Callisto, dão-lhe o anno 15.", ao passo que o martyr Apollonio, citado por Eusebio, prefere o anno 12.°, que vem a corresponder ao anno 41 ou 42 da nossa era. S. Jeronymo optou pelo anno 41. Nestes dados se fundam os que sustentam que o primeiro Evangelho fo i escripto em 36-39 (Patrizzi), em 4o-5o (Cornely"), em 42-5o (Kaulen), etc. Aberle escolheu o anno 37; outros attribuem o anno 4 o á redacção d o texto hebraico, e o anno 6o á versão grega. Não faltam porém escriptores, mesmo catholicos, que attribuam a o Evangelho uma data posterior, preferindo o anno 6o-67 (Feilmoser, Hug, Meier, Schanã, Rose). Zahn, protestante, segue esta opinião escolhendo o anno 62. Estes ultimos fundam-se na auctoridade de s. Ire neu, segundo o qual o Evangelho de s. Mattheus parece ter sido escripto a o tempo em que s. Pedro e s. Paulo fundavam juntos a egreja romana, o que succedeu em o 1 , data da primeira vinda de s. Paulo a Roma. Convem porém observar que o texto em questão d e s. Ireneu chegou até nós truncado, parte em latim, parte em grego, e que este ultimo fra gmento, ta l como está, não faz sentido perfeito. E ' mister pois reconstitui-lo, e depois interpretá-lo. Não é portanto d e extranhar que auctores, como Cor nely e Belser, não vejam nesse texto um obstaculo serio á opinião dos que attribuem uma data mais antiga á composicão d o Evangelho de s. Mattheus. INTRODUCÇÃo XXVII § 6.° — Fim do primeiro Evangelho Escripto originariamente em aramaico, e desti nado principalmente aos judeo-christãos, o pri meiro Evangelho devia necessariamente correspon der as necessidades e circumstancias especiaes da egreja da Palestina, fundada e cathechizada pelos apostolos. Segundo Eusebio, s. Mattheus quiz sup prir pela sua palavra escripta a falta da sua pala vra oral. O Evangelho por elle escripto deve ser considerado como a fixação do Evangelho por elle prégado aos Judeus. Ora quaes eram as necessidades especiaes dos judeo-christãos, cuja fé devia ser confirmada e escla recida? Quaes tambem as circumstancias dos Ju deus ainda não convertidos, no meio dos quaes vi viam os christãos, e aos quaes tambem convinha levar a luz da verdade ? A suprema aspiração dos Judeus, em todas as epocas da sua historia, mormente nesta de que es tamos falando, era a vinda do Messias, do redem ptor promettido, do filho de David. Os Psalmos sa lomonicos, escriptos pelos annos 63-48 antes de Christo, os oraculos sibyllinos, o livro de Henoch, o da Assumpção de Moysés, o dos Jubileus, numa palavra toda a literatura Judaica da epoca im mediatamente anterior e posterior á de Christo, está cheia destas esperanças, que, neste tempo, eram conhecidas até dos proprios gentios. E portanto evidente que o primeiro cuidado dos apostolos, quer para converter os Judeus, quer para XXVIII INTRODUcÇÃO confirmar na fé os já convertidos, devia ser mos trar-lhes claramente que aquelle mesmo Jesus que elles tinham visto e ouvido, e depois rejeitado e cru cificado, esse mesmo era o Christo, o Messias promettido aos patriarchas Abrahão, Isaac e Jacob, e depois a David, e annunciado pelos prophetas. «Saiba pois com a maior certeza toda a casa de Israel que a este Jesus, a quem vós crucificastes, a esse mesmo, Deus o fez Senhor e Christo» (Act. 2, 36). Assim terminava s. Pedro o primeiro discurso que fez aos Judeus no dia de Pentecostes, quando o Espirito Santo desceu sobre o collegio apostolico. Por elle e por outros discursos semelhantes conser vados nos livros dos Actos podemos fazer idéa do que era então a prégação apostolica, e do modo como mostravam aos Judeus a messianidade de Je sus Christo. Allegavam as prophecias messianicas nele cumpridas, expunham a sua doutrina, conta vam os seus milagres, a sua morte e sobretudo a sua resurreição, de que elles mesmos tinham sido testemunhas. (cf. Act. 2, 14-36; 3, 12 26; 4, 8-12; 5, 29-32; 7, 2-53; Io, 34 43, etc.) E exactamente o que se observa em s. Mattheus. Começa pela genealogia de Jesus Christo (I, I-17), para mostrar que é descendente de Abrahão e de David, demonstra o seu nascimento virginal (1 , 18-25), e assim vai mostrando nos successos d a sua vida e d o seu apostolado o cumprimento das pro. phecias messianicas, que allega constantemente, e mais vezes d o que nenhum dos outros Evangelistas. A parte principal do seu Evangelho (4 , 12-13, 58), INTROLUCÇÃo XXIX aquella em que se aparta da ordem chronologica dos factos, para os coordenar segundo uma ordem logica, appropriada ao seu intento, é consagrada especialmente á demonstração quasi systematica da messianidade de Jesus Christo, pela sua doutrina (5, 1-7, 27), pelos seus milagres (8 , 1-9, 34), pelo novo reino por elle fundado (Io, I-13, 58). Mas não bastava provar que Jesus era o Mes sias, e que todas a s circumstancias d a sua vida, gloriosa, sim, mas ao mesmo tempo pobre, humilde, obscura e padecente, estavam annunciadas nos va ticinios messianicos, era tambem necessario dar aos Judeus uma verdadeira idéa do reino messianico, o u d a realeza d e Deus, por que elles tão ardente mente esperavam. Como os Evangelhos e a litera tura judaica o demonstram, a idéa da realeza de Deus era então a mais popular na Palestina, a que mais enthusiasmava a alma religiosa e patriotica dos Judeus. Veja-se o alvoroço com que os povoados acudiram a o Jordão, quando nelle appareceu um propheta annunciando a proxima inauguração d o reino dos céos ou do reinado de Deus, e a vinda já imminente do Messias. Mas a idéa biblica da salvação messianica estava então, geralmente falando, inteiramente pervertida pelas doutrinas pharisaicas e pelos livros apocryphos e apocalypticos. Basta ler o Psalmo XVII dos Sa lomonicos, obra d'um phariseu tão religioso como patriota, para ver quaes eram neste tempo as con cepções messianicas dos Judeus. A idéa do Deus creador, supremo portanto, unico \ XXX INTRODUCÇÃO e universal, definitivamente fixada na alma judaica, o conhecimento mais vasto do mundo greco-romano e a correspondente dilatação do horizonte politico, agora tão vasto como o mundo conhecido, tinham modificado profundamente as idéas e as aspirações da nação judaica. Os inimigos de Israel já não eram, como nos tempos primitivos, os bandos de beduinos da Idumea, de Moab e de Amon. Os des potas de Ninive, de Babylonia e de Susa tinham opprimido duramente o povo judaico. Alexandre Magno, destruindo o imperio dos Persas, nem por isso tinha dado plena autonomia aos Judeus, que, depois d’elle, cahiram sob o dominio dos Ptolemeus do Egypto e dos Seleucidas da Syria. A insurreição dos Machabeus levantou momentaneamente os brios nacionaes, mas esse estado de coisas durou pouco, e não tardou que o jugo de ferro dos Romanos se fizesse sentir sobre toda a nação por meio do idumeu Herodes. Roma estava pois senhora da Palestina, e a alma nacional estava sedenta de desforra e de vingança. A fibra religiosa e nacional estremecia ao ver o sacerdocio, a gloria de Israel, vendido pelos oppressores aos sadduceus, impios, materialistas e gosadores. «Iáhve, exclama o nosso phariseu, tu és o nosso rei, para sempre e eternamente!» E conti nuando neste tom pede a Iáhve que lhes suscite, segundo as promessas feitas a seus paes, um rei, filho de David, que restaurando a monarchia de Israel, purifique Jerusalem de pagãos, e os exter mine. Em torno d'este rei agrupar-se-ha um povo santo, as tribus de Israel santificadas por Deus; INTRODUCÇÃO XXXI ele as julgará, e não consentirá que a injustiça ha bite na terra santa. As tribus antigas serão de novo reconstituidas; nenhum colono ou extrangeiro habi tará entre os Judeus. Os proprios pagãos servirão a Deus, submettendo-se ao seu jugo, e virão em grandes romarias dos extremos do mundo a Jeru salem, para ver a gloria do Senhor, trazendo-lhe como ofertas seus filhos extenuados. • Tal será o rei-Messias, o ungido do Senhor. Iáhve é o seu rei, por isso não porá a sua confiança nos cavallos nem nos cavalleiros; a sua força é o espi rito de Iáhve, o Espirito Santo, e com uma só pa lavra da sua bocca ferirá a terra para sempre. Não haverá mais injustiças, nem impurezas. O auctor termina protestando o seu lealismo, e pedindo a Deus que se dê pressa a usar de miseridordia com o seu povo. • • • Taes eram, em substancia, as idéas messianicas correntes entre os Judeus. O antigo reino de Israel será restaurado; as tribus dispersas pelo mundo greco-romano regressarão á Palestina. Jerusalem com o seu templo, com o seu culto e com a le i an tiga, será o centro d'uma nova theocracia; a realeza humana, fóra d e Israel, e os proprios pagãos se tornarão vassallos de láhve e do seu rei. Os Alexandrinos são mais universalistas do que o s Palestinenses, que, opprimidos pelos Romanos, se comprazem nos terriveis castigos com que Deus os vingará dos seus oppressores. Os santos conquista rão o mundo, não pelas armas, mas, como diz Philo, pela sua dignidade, beneficencia e força. Toda C XXXII INTRODUCÇÃo a terra, sob o governo dos prophetas, será um jar dim de delicias; tudo nella será paz, sinceridade e amor. As proprias feras mudarão de natureza. A vida humana recuperará a longevidade das eras pri mitivas, não haverá velhice, nem aborrecimento da vida, nem dores de parto para as mulheres. Esta revolução prodigiosa far-se-ha subita e ma ravilhosamente. Uma intervenção gloriosa de Deus libertará o seu povo da tyrannia romana, e restau rará o antigo reino de Israel, que será um reino ao mesmo tempo de virtude e de immensa felicidade material, sem mistura de vicios e de males. Os pagãos maravilhados virão então constituir-se vas sallos dos Judeus e seus provedores, para attrahir sobre si com seus ricos presentes as bençãos de Iáhve. • Eis o ideal de felicidade que então occupava as mentes e os corações dos homens. O proprio Jesus Christo não conseguiu dissipá-lo, e reduzi-lo ás de vidas proporções. Do mesmo modo que o Precur sor, Jesus fez do reino dos céos ou da realeza de Deus a idéa central da sua prégação, mas explicou melhor a sua natureza, e sobretudo distinguiu me lhor as duas phases d'esse reino, uma inicial e ter restre, outra final e celeste. O reino messianico não se oppõi aos outros rei nos temporaes; não ha incompatibilidade em ser-se ao mesmo tempo subdito de Cesar e de Deus, com tanto que se dê a cada um o que de direito lhe per tence (22, 21). No Evangelho, Jesus Christo não re conhece senão dois inimigos: o demonio e o peccado. INTRODUCÇÃO XXXIII O demonio é o soberano d'este mundo (Jo. 14, 3o), o valente que tinha captivado o genero humano (12, 29), e Jesus Christo veio ao mundo para o lançar fóra d’elle (Jo. 12, 31; 16, 11). Foi contra satanás que elle travou o seu primeiro combate (4, 1- 1 1); a sua obra é a destruição d a suzerania de satanás (12, 22-29), e o s proprios demonios assim o reco nhecem (8, 28-34). Cuidavam o s Judeus que o reino dos céos havia d e vir com grande gloria e majestade, que a sua inauguração seria tão maravilhosa como a da theo cracia antiga n o monte Sinai; Jesus declara-lhes que o reino dos céos não vem com pompa, que já está n o meio d'elles (Lc. 18, 2o-21), e condemna os phariseus que nem entram nelle, nem deixam o s ou tros entrar (23, 13). A le i e o s prophetas duraram até João Baptista (11, 13); desde então está inau gurada a epoca messianica, que durará até a o fim do mundo. Não menos erronea era a idéa que os Judeus fa ziam d a natureza d o reino dos céos, representando-o como um reino d e justiça e d e santidade, sim, mas a o mesmo tempo como um reino d e toda a sorte d e delicias d'ordem material e temporal. Basta ler o Sermão do monte (5 , 1-7, 28), particularmente as bemaventuranças ( 5 , 3-Io), para se ver quanto se melhantes ficções são contrarias a o espirito d e Je sus Christo. O espirito de pobreza, de renuncia e d e abnegação é a base d o evangelho; quem o não tem, não é digno d o reino dos céos, não pode ser disci pulo de Jesus Christo. (6 , 19-23; 8 , 18-22; 19, 16-3o). XXXIV INTRODUCÇÃOE quanto á propria santidade e justiça, quão dif ferentes são os ensinamentos de Jesus Christo das concepções judaicas! A justiça messianica será muito diferente, da justiça da le i antiga, e muito mais ainda d a justiça dos mestres religiosos d e Israel, os escribas e phariseus, successores de Moysés ( 5 , 17"); e o mundo messianico, longe d e ser uma sociedade formada só d e justos, é representado como uma sociedade com posta de justos e de peccadores, e este estado de coisas h a d e durar até a o fim d o mundo (cf. 13, 24-3o. 36-43. 47-5o; 25, 1-13). A sorte tambem reservada, neste mundo, aos discipulos de Christo está muito longe d'aquelle es tado geral e permanente de paz, sem guerras, nem injustiças, nem intrigas, que os messianistas phan tasiavam. A condição dos discipulos de Christo será a mesma que a d o Mestre. Judeus e gentios hão de conspirar contra elles, perseguindo-os universal e constantemente, como se fossem o s maiores malfei tores d a humanidade (cf. 5 , 11. 12; 1o, 16-42). Es tas tribulações, que constituem, para assim dizer, o estado ordinario do reino messianico na terra (24, 4-13), tomarão n o fim dos tempos tal incremento, que se Deus não as abreviasse ninguem se salvaria (24, 22). Nada disto porém ha de impedir a pro pagação e dilatação d o reino messianico, que h a d e crescer, prosperar, fructificar e espalhar-se por todo o mundo a despeito d e todas as tribulações e perseguições (13, 31-33. 24, 14). Não menos notavel é a opposição entre o univer salismo de Jesus Christo e o universalismo judaico. INTRODUCÇÃO XXXV Este, apesar de admittir os gentios ao goso das venturas messianicas, mantem-se sempre no terreno da theocracia antiga. O reino messianico será um reino nacional, com territorio proprio na Palestina, com Jerusalem por capital, com o seu templo, a sua le i e o seu sacerdocio. Os gentios serão apenas admiradores, vassallos e tributarios dos Judeus. Nada d’isto subsiste no reino dos céos, prégado por Jesus. Os proprios Judeus que se denominavam os fi lhos do reino, serão lançados fóra d’elle (8 , 11-12. 21, 43), e excluidos dos seus bens até que reconhe çam a messianidade d e Jesus Christo (23, 37-39), o que só succederá n o fim dos tempos (17, 11). Jeru salem e o templo serão destruidos (24, 1-2. 15-21); a le i antiga será substituida pela nova lei; ao sa cerdocio levitico, com o s seus sacrificios de ani maes, succederá um novo sacerdocio com o sacrifi cio eucharistico; aos escribas e phariseus, succes sores d e Moysés, succederá o collegio apostolico com o triplice poder de reger, santificar e ensinar a Egreja de Jesus Christo, contra a qual não prevale cerão jamais as portas do inferno. Tal é o reino dos céos na sua origem, e nas pha ses successivas d a sua existencia terrestre, até se es palhar por todo o mundo. Só então será a parusia o u vinda gloriosa d o Messias, não para instituir na terra uma theocracia universal, mas para julgar o mundo, separando definitivamente o s bons dos maus, e dando a uns e outros o destino eterno correspon dente a o merito d e suas obras. E o assumpto do XXXVI INTRODUCÇÃO grande discurso eschatologico de Jesus Christo (24, 1-25, 46). Esta idéa christã do reino messianico, em oppo sição ás concepções erroneas dos Judeus, é a se gunda idéa fundamental do Evangelho de s. Mat theus. Penetra-o inteiramente, desde o Sermão do monte até ao grande discurso eschatologico, e é a chave principal para a sua interpretação. Serve-lhe de necessario complemento a idéa posi tiva e absoluta do reino dos céos, ou a exposição da constituição, propriedades e signaes caracteristicos da nova sociedade religiosa, fundada por Jesus Chris to. Nenhum dos Evangelhos é tão explicito, nem tem dados tão abundantes sobre estes pontos fundamen taes, como o de s. Mattheus. Essa sociedade é a Egreja, % Exxxxaíz, nome que ficará substituindo o de reino dos céos ou de reino de Deus. É uma socie dade visivel, una, indestructivel e jerarchica, fun dada sobre o collegio apostolico, sob o primado de Pedro, a quem Jesus deu as chaves do reino dos céos (16, 13-2o). O collegio apostolico que ha de durar até á consummação dos seculos, está inves tido dos poderes messianicos de Jesus Christo, para ensinar (28, 18-20), reger (16, 13-2o; 18, 15-2o) e santificar os fieis por meio de ritos sacramentaes (26, 26-29; 28, 19), e será infallivel no desempenho da sua missão (18, 17; 28, 2o). Não ha ponto im portante sobre a natureza, propriedades e caracte res da Egreja de Jesus Christo que não venha indi cado em s. Mattheus. Esta é pois a terceira idéa fundamental e caracteristica do seu Evangelho. Se INTRODUcção XXXVII elle insiste tanto sobre ella, mais do que os outros, é porque os christãos palestinenses, por causa das idéas judaicas, precisavam de ser particularmente esclarecidos sobre este ponto, muito mais ainda do que os convertidos do paganismo, e inteiramente li vres dos falsos preconceitos messianicos. Ficava por fim um ponto capital por esclarecer, que era uma grande pedra de escandalo para os Judeus não convertidos, e que, não sendo bem com prehendido, poderia fazer vacillar na fé os proprios neophytos: era a reprovação do Messias por parte do seu proprio povo, e a exclusão d'esse mesmo povo do reino messianico por parte do Messias! Se Jesus era o verdadeiro Messias, como é que os Ju deus, que tão ardentemente o desejavam, não só não o receberam, mas até o rejeitaram e crucifica ram? Como é que são excluidos do reino messia nico, sendo chamados em seu logar os gentios? Esta difficuldade está constantemente presente a s. Mattheus desde o princípio do seu Evangelho. Ninguem como ele nos faz penetrar tão a fundo no estado moral e religioso da nação judaica, para nos revelar a causa intima e profunda d’este mysterio. A indiferença religiosa, e a hostilidade positiva para com o Messias manifestam-se logo desde a infancia de Jesus, que, mal nascido, teve logo de refugiar-se em terras extranhas. Herodes e toda Jerusalem fi caram sobresaltados com a nova do nascimento do Messias ( 2 , 3)! Quando voltou da Egypto, a Judéa, sua patria, era-lhe tão hostil, por causa de Arche lau, que teve de retirar-se para a Galiléa, onde v i XXXVIII INTRODUCÇÃo veu, humilde e desconhecido, até dar principio ao seu ministerio. O proprio Baptista deu testemunho da perversi dade dos chefes religiosos de Israel, denunciando lhes a ruina total e irreparavel que os esperava, se não fizessem penitencia e mudassem de vida ( 3 , 1-12). Longe de se emendarem, obstinaram-se cada vez mais em sua malicia, e perseguiram constante mente a Christo. O capitulo XII é consagrado d'um modo especial á demonstração d'esta perversidade, que o s levou á resolução extrema d e darem a morte a Christo (12, 14). Grande parte do Sermão do monte é dirigida contra elles. Outros exemplos em 14, 34-15, 2o; 16, 1-12; 21, 12-17, e sobretudo nos ultimos dias do seu apostolado em Jerusalem, na sua paixão e resurreição. E ' mister ter presente o odio d e satanás contra Christo para se comprehen der a existencia de tanta maldade e obstinação em corações humanos. E o povo não era muito melhor-do que os seus chefes. Vemo-lo, é verdade, acudir pressuroso a ou vir os ensinamentos de Christo, mas a fé não abre brécha naquelles corações inconstantes, interessei ros, fascinados pelas falsas esperanças das glo rias e venturas temporaes d o reino messianico. A sua indole vem pintada ao vivo em 11, 16-24, e em 13, 53-58. Os proprios gentios, como se viu no centurião d e Capharnaúm (8, 5-13), e na cananéa (15, 21-28), estavam melhor dispostos d o que elles para receber o reino messianico. Finalmente, quando o s chefes conspiraram contra Christo, e instaram INTRODUCÇÃo XXXIX com Pilatos para que o condemnasse, apesar de o reconhecer e proclamar innocente, o povo, que pou cos dias antes o tinha acclamado, esqueceu todos os seus milagres e beneficios, e preferiu que lhe sol tassem a Barabbás; quanto a Jesus pediuque o cru cificassem, e que o seu sangue cahisse sobre elles e sobre os seus filhos (27, 25)! Esta terrivel sentença cumpriu-se. O sangue do Messias cahiu sobre aquelle povo deicida, que fo i jus tamente excluido d o reino messianico; e não de vez, mas até ao fim dos tempos, em que a misericordia divina h a d e fazê los regressar á fé e obediencia de seus paes. - Estas quatro idéas fundamentaes constituem o fim d o Evangelho de s. Mattheus, e dão a chave, o fio conductor, para a sua genuina intelligencia e inter pretação. § 7.° — Analyse do primeiro Evangelho As considerações precedentes sobre o fim do Evangelho de s. Mattheus revelam-nos claramente a indole do livro. Seria erro considerá-lo, e inter pretá-lo como uma biographia ou historia d a vida d e Jesus Christo, nem o livro corresponde a este intento. O Evangelho, do mesmo modo que a pré gação apostolica, é uma obra catechetica e doutri nal, destinada a instruir os christãos e a confirmá los na fé, d'um modo accommodado á sua indole especial, e á s difficuldades d o meio em que viviam. A historia é apenas a fonte aonde o Evangelista vai buscar o s argumentos necessarios a o seu intento. XL INTRODUCÇÃO Esses argumentos são os ensinamentos de Jesus Christo, e os diversos factos da sua vida, paixão e resurreição. Nenhum destes factos é descripto in dividuadamente, como o faria um historiador; são apenas allegados summariamente, tanto quanto basta para o fim que o Evangelista pretende. Attendendo pois ás fontes, donde o Evangelista tira os seus argumentos, o Evangelho de s. Mat theus pode dividir-se em 4 partes, muito desiguaes na sua extensão: a infancia messianica de Jesus Christo; a sua vida publica; a sua paixão e morte; e a sua resurreição. Destas quatro partes, a ultima é a mais breve, a segunda, a mais extensa de todas. As tres ultimas são communs a todos os Evange lhos, a primeira é propria de s. Mattheus e de s. Lucas. PRIMEIRA PARTE Infância messlanica de Jesus Christ0 (1 , 1-2, 23) Mostra como Jesus Christo é filho de David e de Abrahão, e como na sua origem virginal, e nos pri meiros successos d a sua vida se cumpriram nelle as prophecias messianicas. 1 . Genealogia de Jesus Christo................... 1, 1 -17. 2 . Nascimento de Jesus Christo.................. 1, 1825. 3 . Adoração dos Magos......................... 2, 1-12. 4 . Fugida para o Egypto ................. - - - - - - - 2, 13-15. 5 . Morte dos Innocentes ........................ 2, 16-18. 6 . Regresso do Egypto. Nazareth................. 2, 19-23. INTRODUCÇÃo XLI SEGUNDA PARTE Ministºrio public0 de Jºsus Christ0 (3, 1-25, 46.) Esta segunda parte, consagrada ao ministerio pu blico de Jesus Christo na Galiléa e na Judéa, pode dividir-se em varias secções: — 1. ° Preparação para o ministerio publico de Jesus Christo (3 , 1-4, 1 1); — 2.° Ministerio de Jesus na Galiléa (4, 12-2o, 34); — 3.° Ministerio de Jesus em Jerusalem (21, 1-25, 46). PRIMEIRA SECÇÃO Preparação messianica (3,1-4, 11.) Mostra como o ministerio publico de Jesus Christo fo i precedido d'um Precursor, que o annunciou a Israel, e o introduziu solemnemente no seu minis terio, que fo i inaugurado por uma victoria de Jesus contra o demonio, o adversario d o reino messianico. 1 . O Precursor................................. 3, 1-12. 2 . Baptismo de Jesus Christo.................... 3, 13-17. 3 . Tentações de Jesus Christo. ................. 4, I - II. SEGUNDA SECÇÃO Ministerio de Jesus na Galiléa (4,12-2o, 34) Depois d'algumas indicações breves e summarias sobre o começo d o apostolado d e Jesus (4, 12-22), XLII INTRODUCÇÃO mostra-nos a Jesus Christo revelando-se como mes tre e legislador do povo no Sermão do monte (5, 1-7, 29), como thaumaturgo (8, 1-9, 38), e fundador do collegio apostolico, destinado a substituir os an tigos chefes religiosos de Israel (1o, 1-42). São os primeiros fundamentos do reino messianico, do qual Israel será excluido por causa da incredu lidade do povo (11, 1-3o), e da obstinação e perver sidade dos seus chefes (12, 1-5o), faltos de verda deira religiosidade, e preoccupados com idéas falsas sobre o reino messianico, cuja natureza e eficacia explica em uma serie de parabolas (13, 1-58). Até aqui s. Mattheus teve principalmente em vista mostrar que Jesus Christo pela sua nova lei, pelos seus milagres, e pela fundação e destino do collegio apostolico é o Messias promettido, funda dor d'um novo reino. Trata-se portanto de estabele cer a messianidade de Jesus Christo, e não é de extranhar que o Evangelista se aparte da ordem chronologica dos factos, e os coordene d'um modo systematico, segundo o fim especial que se pro põi. A partir d’este ponto Jesus começa a subtrahir-se ao povo para se dedicar mais particularmente á instrucção e formação do collegio apostolico. Assim, depois d'uma breve digressão sobre a morte do Baptista (14, 1-12), s. Mattheus representa-nos a Jesus Christo instruindo os apostolos sobre a op posição entre o seu espirito e o dos phariseus (14, 13-16, 12), promettendo o primado a Pedro (16, 13-2O), preparando os apostolos para a sua paixão INTROIUcçÁo XLIII (16, 21-17, 26) e para o exercicio das suas funcções apostolicas (18, 1-3o, 34). 1.— Jesus, legislador, thaumaturgo, fundador d'um novo reino (4, 12— 13, $8) A.—4, 12-15. Principios do seu apostolado Omittindo o primeiro regresso de Jesus para a Galiléa, depois do baptismo, e a sua ida a Jerusa lem por occasião da Paschoa, e tudo o que lá se passou até regressar novamente para a Galiléa (cf. Jo. 1, 19-4, 54), apresenta-nos logo a Jesus em Galiléa, reunindo discipulos, que o sigam d'um modo permanente, e dá-nos uma idéa geral do seu apos tolado. 1. Volta para a Galiléa.......................... 4, 12-17. 2. Vocação dos primeiros discipulos.............. 4, 18-22, 3. Percorre a Galiléa... ........................ 4, 23-25. B. —5, 1-7, 29. Sermão do monte E o maior dos discursos de Christo conservados no Evangelho, e o que tem mais unidade de pensa mento. E ao mesmo tempo uma revelação sublime da dignidade messianica de Jesus Christo, que nelle se manifesta como propheta, legislador supremo e mestre. O plano do discurso é o seguinte: — 1º As bemaventuranças, em que se mostra o caracter e as condições dos cidadãos do reino messianico, cuja XILIV INTRODUCÇÃO espiritualidade é fortemente realçada (5 , 1-1o). Os versos 1 e 2 são d o Evangelista, e servem junta mente com 4 , 23-25 de introducção historica ao Sermão. — 2.º Relações geraes entre os discipulos d e Christo e o mundo (5, 1 I-16).—3.º Jesus Christo e a le i antiga: não vem aboli-la, senão aperfeiçoá la , completá-la, e dar-lhe pleno cumprimento; mos tr a numa serie de exemplos a superioridade d a sua le i sobre a le i antiga, e a opposição entre a sua jus tiça e a justiça dos escribas e phariseus ( 5 , 17-48). — 4. º Passa depois ás disposições e meios necessa rios para se alcançar a perfeição messianica, recom mendando a rectidão de intenção ( 6 , 1-18), o desapego dos bens d a terra ( 6 , 19-34), o espirito d e caridade (7 , 1-6), a oração (7, 7-11), o espirito d e mortifica ção (7, 12-14), e que se evitem o s falsos prophetas 7 , 15-23). — 5.º Conclue, mostrando em um con traste sublime a solidez e estabilidade d o edificio moral edificado sobre a sua doutrina, e a ruina to tal e irreparavel dos que a ouvem, mas não a pra ticam ( 7 , 24-29). Os versos 28 e 29 juntamente com 8,1 são uma especie d e conclusão historica, accres centada por s. Mattheus para declarar os efeitos do Sermão no povo. 1 . As bemaventuranças................... . . . . . . 5 , 1—1o. 2 . Os discipulos de Christo e o mundo.......... 5 , 11—16. 3 . Jesus Christo e a lei.................... .... 5, 17-2o. 4 . O quinto mandamento....................... 5, 21-26. 5 . O sexto mandamento...... • • • • • • • • • • • • • • • • • • 5, 27—3o. 6 . O divorcio......... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 5, 31-32. 7 . O segundomandamento............... ...... 5, 33-37. INTROLUCÇÃO XLV 8. A lei de talião .................. •••••••• •••• 5, 38-42. 9. O amor dos inimigos........................ 5, 43–48. ro. A esmola................................ ... 6, 1-4. 11. A oração. O Padre Nosso... ................ 6, 5-15. 12. O jejum.................................... 6, 16 18. 13. Os verdadeiros thesoiros..................... 6, 19-23. 14. Os dois senhores......... ..... • • • • • • • • • • • • • 6, 24-34. 15. Não julgar...... .. .. ...................... 7, 1-6. 16. Pedir instantemente......................... 7, 7 II. 17. A porta estreita ............................. 7, I ?- 14. 1 8 . Os falsos prophetas ................... ..... 7, 16-23. 19. Contraste final ............................. 7, 24-29. C.—8, 1-9, 38. Milagres de Jesus Christo Cita alguns exemplos das obras messianicas de Jesus Christo, pelas quaes se manifesta o seu poder sobre a s doenças e a morte, que são consequencias d o peccado, sobre a s leis geraes e o s agentes d a natureza, e sobre os demonios, cujo imperio vinha destruir. Estas são as obras do Christo, porque dão testemunho d e quem elle é , pois são obras manifes tamente divinas, que Jesus opera por virtude pro pria, e não por simples intercessão ou mediação, como o podem fazer o s santos e até os simples fieis. Encontram-se intercalados nestes milagres o episo dio dos aspirantes a o discipulado (8 , 18-22), a vo cação d e s. Mattheus (9, 9-13), uma controversia com o s discipulos d o Baptista (9, 14-17), e a lamen tação d e Jesus sobre o abandono do povo (9 , 3638), que serve de introducção á parte seguinte. 1 . Cura um leproso............................ 8, 1-4. 2 . Cura o servo d'um centurião........... • • • • • • • 8,5-13. XLVI INTRODUcÇÃo 3. Cura a sogra de Pedro.................. .... 8, 14-17. 4. Condições do discipulado............. ...... 8, 18-22. 5. Acalma a tempestade.......... .............. 8, 23-27. 6. Os possessos gadarenos....... •••••••••••••••• 8, 28-34. 7. Cura um paralytico.......................... 9, 1-8. 8. Vocação de s. Mattheus.......... : : : : : : : : : : : : 9, 9-13. 9. Os discipulos de João...... ••••• ••••••••••••• 9, 14-17. 1o. Resuscita a filha de Jairo.................. ... 9, 18.26. 11. Dá vista a dois cegos........................ 9, 27-31. 12. Cura um possesso mudo... .. ............... 9, 32.34. 13. Lamenta o abandono d o povo............... . 9, 35-3S. D . — 1o, I-13, 58. Jesus fundador d'um novo reino Esta parte pode subdividir-se em quatro paragra phos distinctos: — 1. º constituição e destino d o col legio apostolico (Io, 1-42); — 2. º incredulidade d o povo (II, 1-3o); — 3. º obstinação dos chefes d o povo (12, 1-5o); — 4º parabolas do reino messianico (13, 1-58). a . — Io, 1-42. O collegio apostolico Compadecido do lamentavel estado moral e reli gioso a que o povo estava reduzido, por culpa dos seus chefes, que se mostravam cada vez mais con trarios ao reino de Deus, pensa em prover a grei d o Senhor d’outros pastores, mais segundo o cora ção d e Deus. A fundação do collegio apostolico im porta a abolição da le i antiga, baseada sobre o sa cerdocio levitico. Reune pois o s doze, e, armados dos seus poderes sobrenaturaes, manda os em missão, dando-lhes largas instrucções, que revelam o seu grande destino até á consummação dos seculos. INTRODUcção XLVII 1. Constituição do collegio apostolico......... . . . IO, 1-4. 2. Missão dos apostolos. Primeira serie de instruc ções ..... • •••••••••••• •• ••••••••••••• •... 1o, 5-15. 3. Missão dos apostolos. Segunda serie de instruc ções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 1 o , 16-42. b . — 11, 1-3o. Incredulidade do povo Toma Jesus occasião d’uma embaixada do Ba ptista para revelar mais claramente a sua dignidade messianica, e dar um bello testemunho em favor de João. Argue depois a teimosia caprichosa do povo judaico, e amaldiçôa a s cidades incredulas e impe nitentes onde fizera em vão tantas maravilhas. Admira e louva os insondaveis juizos de Deus no modo de trazer o s povos á fé , e compadecido d e tamanha cegueira, abre a todos, com palavras d e misericordia, o seu bondoso e amante coração. 1 . Legação d o Baptista ..................... • • • II, 1-6. 2 . Elogio do Baptista................. • • • • • • • • . II, 7-15. 3 . Indole do povo judaico.......... • • • • • • • • • • • • II, 16-19. 4 . Amaldiçôa as cidades incredulas ............. II, 20-24. 5 . Palavras de misericordia.................. ... I I, 25-3o. c. — 12, 1-5o. Obstinação dos chefes do povo Peores do que o povo eram os seus chefes reli giosos. S . Mattheus dá-nos aqui alguns exemplos d a sua perversidade e d o odio systematico com que perseguiam a Jesus Christo. Como não querem ser esclarecidos, e continuam sempre a desviar o povo d a fé , Jesus confunde-os perante o povo, pela sua D XLVIII INTRODUCÇÃO doutrina e pelos seus milagres. Elles porém obsti nam-se cada vez mais, e resolvem matá-lo, o que dá occasião a um bello contraste entre a indole de Jesus e, a dos phariseus, que chegam a attribuir os milagres de Christo ao demonio! Prediz a sua re surreição ao terceiro dia, a ruina do povo ju daico, e, a proposito d’uma visita de sua Mãe e ir mãos, declara que no reino messianico o parentesco natural com o Messias de nada vale, mas sómente o parentesco espiritual, proveniente do cumprimento da vontade de Deus. 1. A questão das espigas....................... 12, 1-8. 2. Cura um aleijado de mão......... ••••••••••• 12, 9- I 4. 3. Indole de Jesus........... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12, 15-21. 4. Cura um possesso. — A questão de Beelzebub. 12, 22-37. 5. O signal de Jonas....... •• •••••••••• ••• ••... 12, 38-42. 6. Ruina do povo judaico....................... 12,43-45. 7. A Mãe e os irmãos de Jesus........... ....... 12, 46-50. c.— 13, 1-58 Parabolas do reino messianico Não podendo falar claramente do reino messianico por causa da incredulidade do povo e da obstinação dos chefes, começa a envolver a sua doutrina em parabolas, o que causa grande admiração aos seus discipulos. Nas sete parabolas d’este capitulo de clara Jesus a natureza do reino messianico, a sua eficacia e preciosidade, lançando lu z sobre o mys terio d a incredulidade judaica, sobre a origem d o mal no reino messianico e sobre a sorte final dos bons e dos maus. Vai por fim a Nazareth, INTRODUcÇÃo XLIX mas nem d'esta vez acha fé entre os seus conheci dos e parentes. 1. Parabola do semeador.......... •••••••••••• 13, 1-9. 2. Porque fala em parabolas................... 13, 1o. 17. 3. Explica a parabola do semeador............. 13, 18-23. 4. Parabola do joio..... •••••••••••••••••••••• 13, 24-3o. 5. Parabolas do grão de mostarda e do fermento 1 3 , 31-33. 6 . Outra razão do seu modo de ensinar......... 13, 34-35. 7 . Explica a parabola do joio.................. 13, 36-43. 8 . Parabolas do thesoiro e da perola............ 13,44-46. 9 . Parabola da rede.......................... . 13, 47-52. 1o. Jesus em Nazareth............. * • • • • • • • • • • • • 13, 53-58. 1 1 . — Jesus, mestre e doutor do collegio apostolico > (14, 1-2o, 34) Comprehende, além do episodio da morte do Baptista (14, 1-12), e d a gloriosa confissão d e Pedro em Cesaréa d e Philippe, o que lhe mereceu a pro messa d o primado (16, 13-20), tres partes mais ex tensas onde Jesus, depois de esclarecer os apostolos sobre a opposição entre o seu espirito e o dos pha riseus (14, 13-16, 12), lhes dá instrucções espe ciaes em vista d a sua paixão (16, 21-17, 26), e d a missão que hão d e desempenhar n o reino messia nico (17, 27-2o, 3o). A . — 4 , 1-12. Morte do Baptista E uma especie de parenthesis, introduzido no meio d a narração para explicar os receios que a Herodes Antipas começava a inspirar o apostolado L INTRODUCÇÃO de Jesus na Galiléa. Até aqui esta provincia tinha sido para Jesus um campo livre e seguro d'acção; mas os phariseus, vindos daJudéa, tinham excitado os seus collegas da provincia contra Jesus, e como tambem na côrte de Antipas já havia inquietações, Jesus achou prudente retirar-se para o territorio de Philippe, na Palestina transjordanica. B. — 14, 13-16, 12 . O espirito de Jesus e o dos phariseus Continúa Jesus Christo a fazer bem ao povo, mas procura subtrahir-se aos seus enthusiasmos e ás in sidias dos phariseus, que o perseguem constante mente. Por isso não pára em parte nenhuma, mas anda em excursões continuas como se só esperasse pelo tempo d a Paschoa para ir a Jerusalem, e con summar lá o grande sacrificio. 1 . Primeira multiplicação dos pães............. 14, 13-21. 2 . Acalma a tempestade..................... . 14, 22-33. 3 . Passa por Genmesar.................. ...... 14,34-36. 4 . Hypocrisia dos phariseus................... 15, 1-9. 5 . A verdadeira santidade.......... • • • • • • • • • • • • 15, 1o-2o. 6 . Jesus e a cananéa........................... 15, 21-28. 7 . Volta para o mar de Galiléa................ . 15, 29-3o. 8 . Segunda multiplicação dos pães.............. 15,32-39. 9 . Os signaes dos tempos...................... 16, 1-4. 1o. O fermento dos phariseus e dos sadduceus... 16, 5-12, C . — 16, 13-2o. O Primado de Pedro E uma das passagens mais importantes do pri meiro Evangelho, e a que melhor nos revela a in INTRODUCÇÃo LI dole da verdadeira Egreja de Jesus Christo. Parece mesmo que Jesus, desde a eleição do collegio apos tolico não teve outra coisa em vista senão levar os apostolos ao conhecimento da sua dignidade de Messias e de Filho de Deus, e de estabelecê-los de finitivamente nesta fé . Tal é a significação e a im portancia d a confissão d e Pedro. D . — 16, 2 I-17, 26. Prepara os discipulos para a sua paixão Assegurada pela confissão de Pedro a fé do col legio apostolico, começa Jesus a predizer claramente aos seus discipulos o mysterio da sua paixão, para que entendessem bem que tudo era ordenação su perior de Deus, que assim o queria glorificar, e que, se ia a padecer, não era por ignorancia o u fraqueza, mas com pleno conhecimento d e tudo, e d e sua livre vontade. 1 . Primeira predicção da paixão ............ .. 16, 21-28. 2 . Transfiguração de Jesus............. • • • • • • • • 17, 1-9. 3 . João e Elias................. • • • • • • • • • • • • • • . 17, 1o-13. 4 . Cura um lunatico....... • • • • • • • • • • • • . . . . . . . . 17, 14-2O. 5 . Segunda predicção da paixão......... • • • • • • • • 17, 21-22. 6 . Paga o tributo ao templo.................... 17, 23-26. E . — 18, 1-2o, 34. Instrucções dadas ao collegio apostolico Grande parte d’estas instrucções sobre os deve res apostolicos pertencem á ultima viagem que Je LII INTRODUCÇÃo sus fez a Jerusalem, passando pela Peréa, para a cele bração da festa da Paschoa, em que padeceu e morreu. 1. Quem é o maior?.......................... 18, 1-5. 2. Do escandalo.............. •••••••••••• •••• 18, 6-9. 3. Valor das almas. A ovelha perdida...... ..... 18, 1o-14. 4. A correcção fraterna..... ………… ......... 18, 15-22. 5. Parabola do mau servo.................... . 18, 23-35. 6. Sobre o divorcio......... •••••••••••••. . . . . 19, 1- 12. 7. Abençôa os meninos...... • ••• •••• ....... 19, 13-15. 8. Perigos das riquezas... ..................... 19, 16-31. 9. Parabola dos obreiros......... ••••••••••... 2o, I-16. 1 o . Terceira predicção da paixão............... 2o, 17-19. 11. Os filhos de Zebedeu...... • • • • • • • .......... 2o, 2o-28. 12. Os cegos de Jericó......................... 2o, 29-34. TERCEIRA SECÇÃO Ministerio de Jesus em Jerusalem (21, 1-25, 46) Reduz-se á entrada solemne de Jesus em Jerusa lem, ás controversias que se lhe seguiram com o s escribas, phariseus e sadduceus, e ao grande dis curso eschatologico d e Jesus Christo. Taes são as duas partes em que esta secção pode subdividir-se. I.—Entrada em Jerusalem e controversias com os synedristas (21, 1-23, 39.) Entra Jesus em Jerusalem, onde os Galileus lhe fazem uma solemne e modesta recepção, perante a qual a cidade se conservou indiferente ou hostil, e vai a o templo, onde se revela como Messias e ma INTRODUCÇÃo LIII nifesta o seu poder. Voltando novamente ao templo, amaldiçôa uma figueira esteril, symbolizando assim a repudiação do povo judaico, onde não achou fé . Indignam-se o s sacerdotes d o procedimento d e Christo e pedem-lhe os titulos da sua auctoridade, mas como se obstinassem em não querer responder lhe a uma questão previa, Jesus não lhes dá res posta nenhuma, apresentando-lhes tres parabolas destinadas a pôr em evidencia a sua perversidade, e a justiça com que hão d e ser excluidos d o reino messianico. Enfurecem-se elles cada vez mais, e ten tam successivamente por tres vezes apanhá-lo em alguma palavra compromettedora, mas nada con seguem, sendo reduzidos a silencio por uma per gunta que Jesus lhes faz ácerca da natureza do Christo. Foi então que Jesus os desmascarou solemne mente perante todo o povo, pronunciando contra e l les oito maldições, e lamentando a ruina d'aquella cidade, que elles perverteram e levaram a dar a morte ao Messias. 1 . Entra em Jerusalem.............. ......... 21, 1-11. 2 . Lança fóra d o templo os profanadores....... 21, 12-17. 3 . A figueira esteril........................... 21, 18-22. 4 . D'onde lhe vem o poder.................... 21, 23-27. 5 . Parabola dos dois filhos........... ......... 21, 28-32. 6 . Parabola da vinha.......... ................ 21, 33-46. 7 . Parabola do banquete nupcial............... 22, 1-14. 8 . A questão do tributo............. • • • •••• • ... 22, 15-22. 9 . A resurreição dos mortos................... 22, 23-33. 1o. O primeiro mandamento.................... 22, 34 4o. 11. Natureza do Christo........................ 22, 41-46. LlV INTRODUCÇÃO 12. Indole dos escribas e phariseus....... •••• ••• 23, 1-12. 1 3 . Maldições contra os escribas e phariseus..... 23, 13-32. . 14. As ultimas graças.......................... 23, 33-36. 15. Lamenta Jerusalem........................ 23,37-39. II . — Discurso eschatologico de Christo (24, 1:25,46) Deixando o povo, a o qual não tornou mais a fa lar, volta-se para os seus discipulos, dando-lhes instrucções como se hão de haver n a ruina d e Jerusalem, que será o primeiro acto do juizo solemne d o Messias, e como se devem preparar para o juizo final, exhortando-os por meio de tres parabolas á v i gilancia. Termina descrevendo a scena do juizo final. 1 . Prediz a ruina do templo.................... 24, 1-3. 2 . Previne o s discipulos contra os seductores.... 24, 4-14. 3 . Ruina imminente da cidade.................. 24, 15-21. 4 . A segunda vinda do Christo................. 24, 22-28. 5 . Como ha de vir o Christo ....….............. 24, 29-35. 6 . Incerteza d o tempo. O servo fiel.............. 24, 36-51 7 . Parabola das dez virgens..................... 25, 1 - 13. 8 . Parabola dos talentos....................... 25, 14-3o. 9 . O juizo final..... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ..... 25, 31-46. TERCEIRA PARTE Paixão e morte d e Jesus Christ0 (26, 1-27, 66.) Narra os acontecimentos que precederam im mediatamente a paixão de Jesus, e como Jesus fo i INTRODUCÇÃO LV preso, julgado e condemnado á morte de cruz a instancias de toda a nação, cumprindo-se assim as prophecias messianicas, e consummando-se a apos tasia do povo de Israel, sobre o qual cahiu O san gue innocente de Jesus. 1. A ceia de Bethania............... •••••••••• 26, 1-16. 2. A ceia paschal............…………… . 26, 17-25. 3. A Eucharistia ............................. 26, 26-29. 4. O escandalo dos discipulos................. 26, 3o-35. 5. A oração no horto......................... 26, 36-46. 6. Prisão de Jesus............................ 26, 47-56. 7. Jesus perante Caiphás...................... 26, 57-68. 8. Negações de Pedro......................... 26, 69-75. 9. Morte de Judas........... ................ 27, 1-1o. 1 o . Jesus perante Pilatos....................... 27, 1 1-26. 11.Jesus coroado de espinhos.................. 27, 27-31. 12. Jesus crucificado.......... • • • • • • • • • • • • • • • • . 27, 32-44. 13. Morte de Jesus................. . . . . . . . . . . . 27, 45-56. 14. Sepultura de Jesus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27, 57-66. QUARTA PARTE Resurreição d e Jesus Christo (28, 1-2o.) Narra brevissimamente como Jesus resuscitou ao terceiro dia, e appareceu á s piedosas mulheres que o acompanharam desde Galiléa até Jerusalem e ao Calvario, ao passo que os Judeus, obstinados e ce gos até á ultima, tentam iludir o milagre calum niando o s discipulos d e impostura. Apparece tam bem aos seus discipulos, e manda-os prégar o evan LVI INTRODUcÇÃo gelho por todo o mundo, promettendo-lhes a sua assistencia até á consummação dos seculos. 1. Jesus resuscitado .............. ............ 28, 1- 1o. 2. Ultima hypocrisia dos Judeus.............. ... 28, 1 1 - 15. 3 . Missão dos apostolos............ ........... 28, 16-2o. § 8.° — Particularidades do primeiro Evangelho E opinião bastante commum entre protestantes e racionalistas que o Evangelho canonico de s. Mat theus, ta l como chegou até nós, depende d e duas fontes: d a supposta collecção dos ditos (…) de Je sus, feita pelo apostolo Mattheus, e d o Evangelho de s. Marcos, talvez numa fórma primitiva (o Urmarcos dos racionalistas) mais reduzida e distincta d a forma actual. Esta opinião funda-se numa falsa interpretação d o texto d e Papias, e suppõi que o Evangelho de s. Mattheus, ta l como existe n a Egreja, não é obra d o apostolo deste nome, nem, segundo a ordem d o tempo, o primeiro dos quatro Evangelhos. Não é necessario insistir mais sobre estas opi niões, porque nos paragraphos precedentes já a l legamos a s razões pelas quaes se deve admittir a authenticidade e a prioridade do primeiro Evange lho, que é tambem o primeiro que se encontra ci tado nos monumentos mais antigos d a literatura christã. Não é tambem intenção nossa entrar aqui no exame d a linguagem d o primeiro Evangelho, por que esse exame philologico só interessa o estudo INTRODUcÇÃO LVII directo do texto grego, e mal poderia ser tratado aqui, no limitado ambito d'esta introducção. Os tres primeiros Evangelhos teem todos um ca racter commum, que os relaciona intimamente entre si , e o s distingue d o quarto Evangelho, intitulado de s. João. Este, que veio muito tempo depois dos ou tros, é uma obra complementar destinada a uma chris tandade adulta, para a confirmar na fé da divindade d e Jesus Christo, e premunir contra as heresias nas centes. Escolheu pois por argumento o apostolado d e Jesus na Judéa, sobretudo em Jerusalem, e as suas sublimes controversias com o s sabios d a capi tal theocratica, sobre a natureza do Christo e a sua filiação divina. Outra é a indole dos tres primeiros Evangelhos. Estes, tirando a historia da infancia, que vem só em s. Mattheus e em s. Lucas, teem por argumento principal, além da paixão e da resurreição (o que é commum a todos o s Evangelistas), o apostolado d e Jesus na Galiléa. Os factos e as doutrinas moraes prégadas á po pulação simples, morigerada, religiosa e laboriosa d a Galiléa eram mais appropriados para a catechi zação dos primeiros fieis. Não é portanto de admi rar que os apostolos os escolhessem de preferencia para as suas catecheses, que deviam necessaria mente revestir uma certa uniformidade de fundo e d e fórma, sem excluir a diversidade propria dos tempos, logares, ouvintes, fins particulares, e d a in dividualidade e feitio pessoal d e cada um. Estes caracteres reflectem-se nos tres primeiros LVIII INTRODUCÇÃO Evangelhos, que fixaram pela escripta a catechese apostolica. Quadra-lhes pois bem o nome de paral lelos ou de synopticos, porque desde o baptismo até á resurreição, caminham a par uns dos outros nar rando, quasi do mesmo modo, os mesmos factos, doutrinas e discursos de Jesus Christo. Nem podia ser d'outro modo, se attendermos á indole e missão dos apostolos, e ao fim dos Evan gelistas. Os apostolos, sem cultura literaria e phi losophica, eram meras testemunhas da vida de Je sus Christo, e a sua missão era dar testemunho do que tinham visto e ouvido, e que todos elles tinham bem presente na memoria e no coração. Durante alguns annos conservaram-se juntos na Palestina, evangelizando os Judeus, até se dispersarem depois por todo o mundo. Formou-se pois, desde o principio, um evange lho oral, prégado pelos apostolos e aprendido, con. servado e transmittido pelos primeiros fieis, sub stancialmente identico em todas as communidades fundadas pelos apostolos, e contendo um certo nu mero de factos e de doutrinas de Jesus Christo. - Este evangelho oral representava a idéa de Jesus Christo, ta l como existia n a mente dos apostolos, e elles a transmittiram á s communidades que succes sivamente fundaram. E facil reconstitui-lo pelos discursos conservados n o livro dos Actos, e pe las epistolas dos apostolos, sobretudo pelas de s. Paulo. Os tres Synopticos, considerados como simples documentos historicos, e dependentes, o primeiro INTRODUcÇÃo LIX da catechese apostolica na Palestina, o segundo da prégação de s. Pedro em Roma, o terceiro do apos tolado de s. Paulo em Antiochia e nas egrejas por ele fundadas, demonstram que essa idéa era sub stancialmente a mesma em todas as communidades christãs. Dos tres Synopticos, o mais importante é o Evan gelho de s. Mattheus. Alem de ser o mais abun dante em factos, em doutrinas e discursos de Jesus Christo, cuja especialidade lhe pertence, tem a pre rogativa de representar a catechese não só de s. Mat theus, mas de todo o collegio apostolico em Jerusa lem e nas outras cidades da Palestina. Sobre isto, como era destinado aos contemporaneos de Jesus Christo, muitos dos quaes o tinham visto e ouvido, não tinha tanta necessidade de adaptar a sua nar ração á indole e disposição dos leitores; bastava lhe apontar os factos, que já sabiam, e narrar os ensinamentos e discursos de Jesus Christo como elle os tinha proferido. Tudo isso tinha para os seus leitores, o mais subido interesse, e era por el les plenamente comprehendido. Compare-se para exemplo, o Sermão do monte em s. Mattheus (5 , 1-7, 29) e em s. Lucas (6 , 2o-49). No Evangelho de s. Mattheus sente-se a grandeza e majestade d o Antigo Testamento, illuminado pe los clarões que sobre ele projecta a sublime figura d e Christo. Quem, conhecendo suficientemente a geographia e a historia da Palestina, as condições sociaes, religiosas, civis e politicas da epoca, ler, comprehendendo-o bem, o Evangelho de s. Mat LX INTRODUCÇÃO theus, pode julgar-se contemporaneo de Jesus Chris to, e contar-se entre os ditosos que o seguiram passo a passo, quando andava evangelizando a Ga liléa. • Assim se comprehende e se explica a physiono mia particular do Evangelho de s. Mattheus, com parado com os de s. Marcos e de s. Lucas. Es tes são mais methodicos, mais individuados nas suas narrações, e ateem-se mais á ordem chronolo gica dos factos. Não são testemunhas oculares, que – narram o que viram e ouviram, são investigadores conscienciosos, que se informaram bem de tudo (cf. Lc. 1, 1-3), e procuraram ordenar o que outros COntaram. S. Mattheus segue outra ordem, que dá ao seu Evangelho uma fórma mais literaria. Nelle as dou trinas e os factos subordinam-se ás idéas fundamen taes que tem em vista; são allegados vagamente e d'um modo summario, quanto o exige a idéa domi nante em cada secção, e coordenam-se segundo uma ordem systematica, propria das obras didacticas e dogmaticas. Descripta a physionomia geral do primeiro Evan gelho, cumpre-nos indicar o que ha nelle de espe cial, que não se encontra em nenhum dos outros Synopticos. A. — Milagres 1. Cura de dois cegos.......................... 9, 27-31. 2. Cura d'um possesso mudo................... 9, 32-34. 3. O estatér na bocca do peixe.................. 17, 24-27. INTRODUCÇÃO LXI B. — Parabolas 1. O joio... ........................ . •• •••••• 13,
Compartilhar