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Neuroplasticidade TIPOS E CARACTERÍSTICAS DA NEUROPLASTICIDADE - Plasticidade: Capacidade de adaptação do sistema nervoso às mudanças nas condições do ambiente que ocorrem no dia a dia. Seu grau varia com a idade (plasticidade ontogenética difere da plasticidade adulta). Ocorre através de novos neurônios que nascem, uma nova conexão feita, alteração do trajeto das fibras, novos dendritos no axônio, modificação no número e forma de sinapses. - Plasticidade Funcional: Mudanças funcionais, mas não morfológicas. Ocorre em determinado circuito ou grupos de neurônio. REGENERAÇÃO E RESTAURAÇÃO FUNCIONAL - O sistema nervoso não regenera neurônios na vida adulta, só partes restritas do SNC, mas, ainda assim é limitada. - Quando um insulto ambiental incide sobre o tecido nervoso, pode atingir muitas células, mas não necessariamente todas, nem de forma idêntica. Dentre as atingidas, as que tiverem o corpo celular lesado provavelmente morrerão, mas as que tiverem apenas os prolongamentos danificados podem regenerá-los. - A regeneração neural, assim, deve ser vista como uma capacidade das populações neuronais cujos prolongamentos são atingidos por um insulto ambiental, e consiste no recrescimento desses prolongamentos possibilitando a restauração do circuito danificado. Regeneração Axônica Central: Inexistente ou Bloqueada? - No SNC ocorre intensa cromatólise dos neurônios axotomizados, seguidos de degeneração e morte. - Os cotos distais dos axônios lesados, assim como a sua mielina, tomam-se tortuosos e fragmentados. Entretanto, sua remoção do tecido é lenta, ao contrário do que ocorre no SNP, apesar da grande proliferação dos oligodendrócitos e dos astrócitos presentes nas redondezas. Surgem também, possivelmente provenientes da corrente sanguínea, grandes quantidades de microgliócitos. Através de estudos utilizando culturas de células, verificou-se que esses gliócitos reativos não só não produzem as moléculas promotoras do crescimento axônico que aparecem no SNP (fatores tróficos, moléculas da matriz extracelular e outras), como liberam moléculas que fazem o contrário: inibem a regeneração. - Isso acontece porque os oligodendrócitos sintetizam proteínas denominadas Nogo incorporadas à mielina central com forte efeito inibitório do crescimento axônico. Quando elas se ligam a moléculas específicas do neurônio lesado, disparam uma cadeia de reações intracelulres que imobilizam os cones de crescimento. Junto a isso, as células de Schwann produzem proteoglicanos, que são glicoproteínas com forte ação antirregenerativa. - Resulta desse processo que a intensa proliferação e concentração glial nas redondezas da lesão, mais uma matriz extracelular hostil, formam uma verdadeira cicatriz que dificulta mecânica e quimicamente a progressão dos axônios regenerantes. - Sob o efeito fortemente limitante de todos esses fatores, portanto, os cones de crescimento que se formam nos cotos proximais dos axônios centrais lesados não são capazes de crescer em busca dos alvos e se restringem às redondezas da lesão. PLASTICIDADE AXÔNICA - Para cada conjunto de axônios de uma dada espécie animal pode-se determinar um período de maior plasticidade, chamado período crítico. A plasticidade que ocorre durante o período crítico é, então, chamada plasticidade axônica ontogenética. Plasticidade Axônica Ontogenética - É a que ocorre durante o período crítico do crescimento e é estimulado pelo ambiente. - A plasticidade ontogenética dos axônios está documentada em alguns casos de malformações congênitas de indivíduos humanos, como ocorre com aqueles que nascem com defeitos ou mesmo ausência do corpo caloso, o calibroso feixe de fibras que liga os dois hemisférios cerebrais. Algum mecanismo ainda desconhecido impede o cruzamento desses axônios através da linha média, durante a vida embrionária, mas as fibras nervosas mudam seu trajeto para formar feixes aberrantes que se dispõem longitudinalmente nos dois lados do cérebro. - A plasticidade axônica ontogenética também foi demonstrada no sistema visual, ou seja, no conjunto de regiões do SNC envolvidas com a percepção de informações luminosas que chegam à retina, utilizando modelos animais do fenômeno chamado ambliopia (falta de visão tridimensional), que é provocado por um desalinhamento dos olhos durante um certo período crítico do desenvolvimento. - A base biológica para a ação plástica do ambiente, é a fase de remodelagem dos axônios que ocorre normalmente durante o desenvolvimento. Os axônios têm grande capacidade de crescer (mecanismos progressivos) e também de regredir (mecanismos regressivos), tendo esses fenômenos, embora opostos, participação cooperativa na “lapidação” dos circuitos neurais. Ao final dessas fases ontogenéticas, cessa a operação desses mecanismos e o grau de plasticidade decresce. E por isso que a plasticidade axônica do adulto é menos acentuada que a plasticidade ontogenética. ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ Períodos Críticos - Para o desenvolvimento da linguagem humana, alguns estudos descrevem que o período crítico vai até a adolescência. - Crianças portadoras de lesões corticais que atingem as regiões linguísticas são suscetíveis de considerável recuperação funcional quando as lesões Crianças portadoras de lesões corticais que atingem as regiões linguísticas são suscetíveis de considerável recuperação funcional quando as lesões. Plasticidade Axônica de Adultos: Brotamento Colateral? - Estudo – Macaco: Cortaram as raízes dorsais da medula (que recebem informações do braço) de animais adultos e 10 anos depois descobriram que essa mesma região se inervou com neurônios da face (ficou com duas áreas no córtex). Conclusões: os circuitos não regeneraram, os circuitos da face são plásticas e adultos tem plasticidade. - Estudo Membro Fantasma: Um homem teve o braço amputado e o pesquisador analisou as áreas cerebrais ao redor do braço. A estimulação da face resultava no polegar, indicador ou mínimo. Conclusões: há brotamento colateral, ou seja, aparecimento de ramos colaterais dos axônios das regiões não atingidas e seu crescimento em direção as regiões vazias. PLASTICIDADE DENDRÍTICA - Como antenas receptoras das informações transmitidas através das sinapses de um neurônio a outro, os dendritos são candidatos potenciais à ocorrência de plasticidade estrutural, morfológica. - Apenas as espinhas dendríticas são sujeitas à plasticidade nos animais adultos, enquanto nos animais em desenvolvimento tanto elas quanto os próprios troncos dendríticos podem ser modificados por ação do ambiente. Plasticidade Dendrítica Ontogenética - Parece ser genético, pois quando se separou neurônios do tecido nervoso embrionário e cultivam no laboratório, desenvolveram-se normalmente. - O ambiente pode causar alterações no número, comprimento e disposição espacial das ramificações dendríticas. - O BDNF (fator neurotrófico derivado de cérebro) é uma neurotrofina moduladora da morfologia dendrítica liberada pelas fibras aferentes em torno do soma, fazendo com que o ajuste da forma dos dendritos seja promovido pela formação de sinapses sobre eles e pela sua entrada, produzindo potenciais sinápticos envolvendo neuromediadores e fatores tróficos. Plasticidade Dendrítica em Adultos - Uma vez estabelecida durante o desenvolvimento, a árvore dendrítica básica de cada neurônio toma-se relativamente consolidada no adulto, embora haja inúmeras evidências de alterações quantitativas na complexidade das ramificações. - Foi notado que digitadores tem mais complexidade dendrítica na região das mãos e percebeu-se também uma relação entre nível educacional e complexidade dendrítica na área de Wernicke (compreensão e linguagens). - A morfologia dendrítica básica dos neurôniosé fixada durante o desenvolvimento, e que uma vez consolidada, ela aceita influência limitada do ambiente, preferencialmente sobre as ramificações mais finas e terminais. - A plasticidade que se pode observar em adultos restringe-se às espinhas. - As espinhas dendríticas são instáveis e móveis. Em minutos, elas aparecem/desaparecem e se movimentam. Isso acontece por causa da actina. Supõe-se que as que se movem não estão com o processo de consolidação da aprendizagem e memória finalizadas. As estáveis teriam memórias de longo prazo. - Como as espinhas dendríticas estão sempre ligadas a terminais axônicos aferentes através de sinapses assimétricas (excitatórias), a instabilidade das primeiras resulta em instabilidade das últimas (ou vice-versa, não se sabe). Esse fenômeno das espinhas, assim, reflete a plasticidade sináptica. PLASTICIDADE SINÁPTICA Habituação - Ocorre quando uma resposta diminui com a repetição. No primeiro estímulo, ocorre um potencial de ação no neurônio sensitivo e uma PPSE no neurônio motor. Com a repetição, o potencial de ação no sensitivo não varia e a PPSE cai em amplitude e depois some. Isso ocorre porque houve um decréscimo de glutamato no terminal pré-sináptico excitatório do neurônio sensitivo. - Este tipo de plasticidade sináptica, baseado na redução passageira da eficácia de transmissão, representa um mecanismo celular simples para a memória de curta duração. Como ocorre em neurônios comuns, e não em sistemas especificamente dedicados ao processamento da memória, talvez se possa generalizar e postular que todos os circuitos sinápticos dispõem desse mecanismo para armazenar informação durante curtos períodos, e que, portanto, esse tipo de memória é universal no sistema nervoso. Sensibilização - Um sinal aumenta quando é precedido de algum “sinal de aviso”. É tipo um trauma. Se um estímulo é muito forte, o organismo fica avisado de que outros podem surgir. Isso ocorre nas aplísias do mesmo jeito que ocorreu a habituação, só que com mais um interneurônio facilitador cujo axônio faz sinapses axoaxônicas com os terminais pré-sináptico do neurônio sensitivo do sifão. - Esse interneurônio libera serotonina e os receptores que recebem acionam 2 vias: adenilciclase com AMPc e osfolipase C com o diacilglicerol (DAG). - Resultado: aumento do número de vesículas sinápticas que ancoram nas zonas ativas e, consequentemente, o aumento da liberação de glutamato na fenda sináptica entre o terminal axônico sensitivo e o neurônio motor. A sensibilização representa o exemplo da memória curta que ocorre entre o 1ª neurônio e o interneurônio no caminho. - Este tipo de plasticidade sináptica consiste na elevação da eficácia da transmissão, justamente o oposto da habituação. Como em todo tipo de plasticidade, o ambiente (estímulo forte na cauda da aplísia, no exemplo utilizado) é capaz de modificar de algum modo o desempenho ou a morfologia do sistema nervoso (neste caso, a transmissão sináptica que medeia o reflexo de retirada da brânquia). - A sensibilização representa também um exemplo de memória de curta duração que pode ocorrer era muitos circuitos neurais inespecíficos. - A sensibilização, assim, pode ser considerada um fenômeno celular típico da memória. Potenciação de Longa Duração - LTP (Potenciação de Longa Duração) e Memória: tem curta fase inicial (minutos), fase precoce (horas) e fase tardia (horas, semanas ou a vida inteira, no caso de memórias). - Entrada de Informação no Hipocampo: ocorre por meio de uma estimulação elétrica repetitiva (ou estimulação tetânica) nas fibras colaterais de Shaffer e o neurônio pós-sináptico leva a resposta para o corpo celular das células piramidais no CA1 (Corno de Amon) do hipocampo. As sinapses entre os colaterais de Shaffer e as espinhas dendítricas da CA1 são glutamatérgicas. A membrana pós-sináptica das espinhas tem receptores NMDA, AMPA e não metabotrópicos. O primeiro que responde ao Glutamato são os AMPAs, resultando a abertura dos canais de sódio e potássio e provocando a despolarização da membrana pós-sináptica. Quando atinge um certo valor, ela remove o íon de magnésio que bloqueia o canal de NMDA e ele se abre, passando grande quantidade de cálcio de fora para dentro das espinhas. O efeito é amplificado pela abertura de outros canais de Ca++ não ligados ao NDMA. Nesse momento também é ativado o receptor glutamatérgico metabotrópico e sua ação através da fosfolipase C se soma a liberação de Ca++ do retículo endoplasmático para ativar as cinases dependentes de cálcio, como a calmodulina cinase. - O NO e o CO são mensageiros gasosos na plasticidade. - As espinhas dendítricas potenciadas são capazes de capturar RNAm e proteínas recém sintetizadas. Depressão de Longa Duração - Um tipo de plasticidade sináptica semelhante à LTP – mas com sinal contrário – ocorre no cerebelo, no hipocampo e no neocórtex. É a LTD, ou depressão de longa duração. - O cerebelo sedia a memória motora. A plasticidade ocorre com sinal inverso no cerebelo, hipocampo e neocórtex. No cerebelo, o neurônio pós-sináptico é a célula de Purkinje, cujos dendritos recebem sinapses das fibras aferentes paralelas (intrínseco ao córtex cerebelar) e das trepadeiras (vem do núcleo bulbar – informação sensorial dos músculos). - A LDT, nesse caso, tem características associativas, pois exige a ativação simultânea das duas vias aferentes. A estimulação das fibras, ao contrário do LTP, é de baixa frequência. - Os mecanismos moleculares da LTD não são tão bem conhecidos quanto os da LTP, mas se sabe que as vias intracelulares envolvidas são diferentes: neste caso, em vez de ativação de enzimas fosforilantes são ativadas fosfatases dependentes de Ca++, que são enzimas desfosforilantes. - Ao que parece, a estimulação de baixa frequência provoca uma pequena entrada de Ca++ nos dendritos, que é “lida” intracelularmente pelas fosfatases; quando a estimulação é de alta frequência, as cinases é que “leem” a mensagem. O resultado da ação das fosfatases é inverso à ação das cinases: ocorre a retirada de receptores glutamatérgicos de tipo AMPA por endocitose, o que acarreta a diminuição da sensibilidade da membrana pós-sináptica e consequentemente a depressão da resposta. PLASTICIDADE SOMÁTICA Neurogênese como Mecanismo Neuroplástico - Ainda não está estabelecido firmemente se a neurogênese adulta é apenas um mecanismo de reposição de neurônios, ou se participa ativamente dos mecanismos da neuroplasticidade. Há indícios experimentais de que a segunda hipótese seja verdadeira, baseados na influência positiva do exercício físico sobre a neurogênese do hipocampo, possivelmente através da formação de vasos sanguíneos que liberam fatores tróficos pró-neurogênicos. Efeito contrário se produz no caso de estresse comportamental, que atua mediante a secreção de glicocorticoides antineurogênicos. - A proliferação de precursores neuronais provocada por essas influências ambientais resulta na integração de uma parcela dos novos neurônios aos circuitos do hipocampo, onde eles se tomam funcionais. - No sistema olfatório há evidências semelhantes de influências ambientais sobre a neurogênese: o acasalamento, a gestação e a lactação, por exemplo, são fatores pró- neurogênicos identificados. PLASTICIDADE COMPENSA? Plasticidade Maléfica - Há evidências experimentais de que a plasticidade pode ser danosa ao indivíduo. Já vimos que os amputados – cujo córtex cerebral sofre uma reorganização plástica – podem sentir “dor fantasma” no membro ausente, o que lhes causa considerável sofrimento. - Músicos com Disfonia Focal (distúrbio motor causado por excesso de prática motora com os dedos): os dedos travam, e a pessoa perde o controle fino necessário para o desempenho musical. O magnetoencefalogramadesses artistas mostra fusão da representação cortical dos dedos no hemisfério cerebral que comanda a mão doente. Esse distúrbio causado por plasticidade mal-adaptativa foi também relatado em escritores e digitadores, usuários “excessivos” dos dedos da mão. Plasticidade Benéfica - Em seres humanos, exemplos de plasticidade compensatória têm sido mostrados através das modernas técnicas de imagem, capazes de revelar as regiões funcionalmente ativas do cérebro. Desse modo, já se mostrou que as regiões linguísticas de indivíduos surdos que utilizam linguagem de sinais são bastante diferentes em sua organização e extensão; que os cegos apresentam ativação das áreas visuais quando submetidos à estimulação auditiva e quando realizam leitura Braille, e além disso possuem uma representação maior da região do córtex motor que controla os dedos que leem Braille; e até que os violinistas treinados desde a infância possuem maior representação cortical dos dedos da mão esquerda. - Os mecanismos celulares da plasticidade compensatória não estão completamente esclarecidos. É possível pensar em várias hipóteses, ainda não demonstradas: Entrada em atividade de circuitos previamente existentes, antes silenciosos; Estabilização de conexões transitórias, que desapareceriam em circunstâncias normais; ou Brotamento colateral de axônios vizinhos às regiões lesadas ou inativas.
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