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Ginecologia 1 DOR PÉLVICA AGUDA E CRÔNICA E DISMENORREIA SECUNDÁRIA 50%-70% das consultas envolvem alguma queixa relacionada a dor. O conceito de dor hoje mundialmente usado é o da Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP) e afirma que a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial, ou descrita em termos de tal dano. O estímulo da dor está relacionado a ativação de receptores periféricos (nociceptores), sendo esta chamada de dor nociceptiva. A dor nociceptiva compreende a dor somática e visceral. Nela, ocorrem estímulos físicos, químicos e mecânicos, que percorrem através de um neurônio até o corno posterior da medula, realizando a decussação para o outro lado da medula. Um outro neurônio ascende através da medula e o terceiro neurônio até a substância cinzenta do córtex. Chegando a substância cinzenta do córtex, há uma avaliação do processo aferente e haverá uma análise de como o organismo vai receber esses estímulos. Para que todo esse processo ocorra, é necessário que todos os neurônios e nociceptores estejam íntegros. Existem as fibras A e C. As fibras A são mielinizadas e chegam mais profundamente no corno posterior da medula, já as fibras C são amielinizadas e o estímulo percorre de forma mais lenta. Se ocorrer um estímulo persistente na fibra C, este irá até o SNC, sendo percebida e manifestada a dor, que é uma dor nociceptiva. A dor neuropática, por sua vez, está quase sempre relacionada a dor crônica, onde há uma lesão da fibra nervosa, e consequentemente de fibras mais profundas que estão levando estímulo mecânico ou térmico, fazendo com que estímulos mecânicos ou térmicos sejam percebidos como sintomas álgicos. Resumindo: a dor neuropática resulta de uma injúria a um nervo ou de função nervosa anormal em qualquer ponto ao longo das linhas de transmissão neuronal, dos tecidos mais periféricos do SNC, dessa forma, o estímulo tátil simples pode desencadear dor (alodinia) e ter paroxismos aberrantes (hiperalgesia). Foi dado o exemplo da endometriose, onde há alteração de um nervo mais superficial, fazendo com que a paciente perceba o estímulo do prazer da relação sexual como uma hiperalgesia. Temos quatro sinais vitais: PA, Temperatura, Pulso e Respiração. Alguns autores propõem que um paciente internado no hospital tem o direito de não sentir dor, sendo necessário que essa a avaliação da dor seja um quinto sinal vital. Dessa forma, não devemos deixar o paciente sentir dor. Na tabela (próxima página) são discutidas algumas formas de aferir a dor. O BPI, Questionário de McGill de Dor e Escala Visual Analógica (EVA) são tipos de aferição de dor. Não discutiu sobre, mas disse que é importante lermos, pois são bastante utilizados. Ao lado vemos a escala visual analógica, onde há a avaliação dos graus da dor: leve, moderada ou intensa (varia de pessoa para pessoa). Ginecologia 2 No quadro ao lado vemos a diferença da dor aguda e dor crônica. A dor aguda é recente, a crônica tem que ter pelo menos 6 meses (alguns autores falam em 3 meses). Na dor aguda temos um processo recente que vai chamar a atenção para a relação de causa-efeito; já na dor crônica muitas vezes fazemos a anamnese e não conseguimos chegar a uma avaliação adequada de quando se iniciou e como foi a evolução da dor. Na dor aguda, há o estabelecimento imediato de causa e efeito; já na dor crônica, essa relação é variável. A dor aguda geralmente não tem recorrência, já a dor crônica é um processo persistente, com recorrência. Com relação a resposta neurovegetativa da dor aguda, há o processo de luta e fuga; na dor crônica há resignação, onde o paciente está abatido, não tem a mínima esperança de cura e já foi a vários médicos, não havendo resolução do seu quadro. A fácies do paciente com dor aguda é de sofrimento, já na dor crônica de desânimo e tristeza. Causas de dor pélvica aguda (só citou) • Obstétricas: prenhez ectópica, aborto • Ginecológicas: DIP, Endometriose, hemorragia do corpo lúteo, dismenorreia, torção de anexo mioma (complicação), hiperestimulação ovariana, mal formação obstrutiva, traumatismo pélvico, Mittelischermtez (sangramento no meio do ciclo menstrual) • Urológicas: Cistite, Pielonefrite, Litíase • Gastrointestinais: Gastroenterite, apendicite, diverticulite, cólon irritável, obstrução intestinal • Outros: hematoma de parede, hérnia, porfiria aguda e aneurisma aórtico Dor pélvica crônica A dor pélvica crônica não está relacionada com a menstruação, podendo ser cíclica ou não, com duração de pelo menos 6 meses, suficientemente intensa para interferir em atividades habituais e que necessita de tratamento clínico ou cirúrgico. Em algumas situações não conseguimos fazer diagnóstico. A dor pélvica crônica não é alerta de uma doença, sendo esta já caracterizada como uma doença propriamente dita. Ginecologia 3 Etiologia: não é clara e resulta de uma complexa interação entre os sistemas: gastrointestinal, urinário, ginecológico, músculo-esquelético, neurológico, psicológico, endócrino e influenciado ainda por fatores socioculturais. Epidemiologia: entre 18-50 anos, 16% das mulheres apresentam dor pélvica. Representa 10% das consultas ginecológicas, 12% das histerectomias e 40% das laparoscopias diagnósticas. A dor pélvica crônica pode ser orgânica ou de fundo psicológico, não apresentar causa aparente, ser um processo funcional (apresenta períodos de agudização e remissão, perdurando a dor; também pode estar associado a doenças oncológicas) e incurável. Diagnóstico → Os exames que vamos utilizar irão depender se há a presença de patologias associadas • Anamnese: quando começou a dor? qual a intensidade? em que interfere? está associada com o ciclo menstrual? • Exame físico • Hemograma, EAS e parasitológico • USG transvaginal (se vida sexual ativa) • Laparoscopia • Histeroscopia • TC • RM → Laparoscopia, histeroscopia, TC e RM são exames mais específicos que irão depender da necessidade do paciente e do médico em realizá-los. A dor pélvica crônica em ginecologia representa apenas 20% dos casos de dor pélvica crônica. Algumas causas de dor pélvica crônica em ginecologia são: leiomioma, endometriose, prenhez tubária organizada (o feto vai sendo absorvido e mumificado, formando aderências no ovário, trompa, intestino e útero, formando um tumor e causando dor), adenomiose, câncer de ovário, hematométrio, BK genital, síndrome de Allen Masters (no parto normal há uma dissecção traumática da base do ligamento largo, causando uma dor pélvica crônica), congestão venosa, piometria, dentre outros. A dor pélvica crônica em gastroenterologia representa a maioria dos casos de dor pélvica crônica (37%). Algumas causas são: BK intestinal, parasitose, hérnias, constipação, obstrução crônica intermitente, doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal, colite, doença diverticular. A dor pélvica crônica em ortopedia representa 12% dos casos, sendo as causas: espondilolistese, neoplasia, hipermobilidade L4-L5, lombalgia, artrite, fibrosite, artrose interapofisária e fibromialgia. Em segundo lugar temos a dor pélvica crônica em urologia (31%). Tem como causas: Síndrome de Dietl (alteração na artéria polar, que passa logo abaixo do ângulo ureteral; por uma má formação, ocorrem fenômenos de obstrução do ureter, causando dor), cistite intersticial, hidronefrose, BK, cálculo, uretrotrigonite e neoplasias. Ginecologia 4 Dor Com relação a dor pélvica crônica, foi postulado que a dor total causada por esse processo deixa de ser física e passa a se tornar um processo mental, social e espiritual. No processo da dor total há uma conjugação com a dor geral, que extrapola os limites do doente e afeta também as pessoas de suaconvivência, sua casa e até a equipe que a atende. Tratamento Se conseguirmos definir qual é a causa da dor pélvica, iremos tratá-la de forma específica. Se não conseguimos definir uma causa específica, iremos tratá-la de forma inespecífica. Tratamento medicamentoso: analgésicos, anti-inflamatórios não hormonais, opióides (morfina – alguns pacientes podem ser refratários) e antidepressivos. Tratamento psicológico: cognitivo e comportamental . Tratamento cirúrgico (em casos de diagnóstico específico), tratamento paliativo (paciente oncológico e terminal) e multidisciplinar (ginecologista, clínico, psiquiatra, psicólogo, assistente social). DISMENORREIA A dismenorreia possui uma forte associação com a dor pélvica crônica. Dismenorreia primária (já falada pelo professor Israel): essencial, intrínseca, funcional e idiopática. Não está associada a uma patologia subjacente. Dismenorreia secundária: sintomática, extrínseca, adquirida e orgânica. Está associada a uma patologia subjacente (é secundária a uma outra patologia). Leu os slides. A dismenorreia secundária está associada a alguma enfermidade orgânica: endometriose pélvica, leiomioma do útero, DIP, distopias uterinas, malformações genitais e estenose do canal do colo do útero, dispositivo intra-uterino, pós-terapêutica com elevadas doses de progestagênios (as duas últimas são menos frequentes). Diagnóstico da dismenorreia secundária • Anamnese • Exame pélvico • Exames complementares: hemograma, VHS, USG, laparoscopia • Diagnóstico diferencial: endometriose pélvica, DIP, leiomioma, adenomiose, malformações genitais, estenose congênita/adquirida do canal do colo do útero, distúrbios emocionais e DIU
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