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DIRETORIA DA FEBRASGO 2016 / 2019 Alex Bortotto Garcia Vice-Presidente Região Centro-Oeste Flavio Lucio Pontes Ibiapina Vice-Presidente Região Nordeste Hilka Flávia Barra do E. Santo Vice-Presidente Região Norte Agnaldo Lopes da Silva Filho Vice-Presidente Região Sudeste Maria Celeste Osório Wender Vice-Presidente Região Sul César Eduardo Fernandes Presidente Corintio Mariani Neto Diretor Administrativo/Financeiro Marcos Felipe Silva de Sá Diretor Cientí� co Juvenal Barreto B. de Andrade Diretor de Defesa e Valorização Pro� ssional Imagem de capa e miolo: foxie/Shutterstock.com COMISSÃO NACIONAL ESPECIALIZADA EM DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS - 2016 / 2019 Presidente José Eleutério Junior Vice-Presidente Paulo César Giraldo Secretária Ana Katherine da Silveira Gonçalves Membros Geraldo Duarte Iara Moreno Linhares Maria Luiza Bezerra Menezes Mario Cezar Pires Mauro Romero Leal Passos Newton Sérgio de Carvalho Plínio Trabasso Regis Kreitchmann Rosane Ribeiro Figueiredo Alves Rose Luce Gomes do Amaral Victor Hugo de Melo Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho Úlceras genitais Paulo César Giraldo1 Rose Luce Gomes do Amaral1 José Eleutério Júnior1 Ana Katherine Gonçalves2 Descritores Herpes simplex; Sí� lis; Úlceras genitais; Trauma sexual; Úlceras genitais não infecciosas Como citar? Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK. Úlceras genitais. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Ginecologia, no. 1/ Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto-Contagiosas). Introdução Úlceras genitais (UG) são lesões localizadas na vulva, vagina ou colo uterino com perda de tecido, envolvendo a epiderme e a derme ou apenas a epiderme. As UG podem apresentar-se em tamanho e número variados, quase sempre associadas a processo in� amató- rio. A presença de necrose, infecção, sangramento e tecido granu- lomatoso pode ocorrer, mas não é obrigatória. (1-4) Sinonímia: cancro, erosão genital ou ferida genital. (1-4) Epidemiologia: acomete uma parcela signi� cativa da popula- ção feminina, tendo sua lesão mais comum, quando de causa infec- ciosa, associada ao vírus do herpes simples. (1-4) 1Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. 2Departamento de Tocoginecologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil. *Este protocolo foi validado pelos membros da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto- Contagiosas e referendado pela Diretoria Executiva como Documento O� cial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO de Ginecologia nº 1, acesse: https://www.febrasgo.org.br/protocolos 4 Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 Classi� cação: do ponto de vista didático e para facilitar a abordagem das UG, pode-se classi� cá-las em UG causadas por Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e UG não relacionadas às DST. Este entendimento tem desdobramentos clínicos e relacio- nados ao tratamento da paciente e do(s) seu(s) parceiro(s) sexu- al(is). As UG relacionadas às DST têm como agentes etiológicos os seguintes microrganismos:(1-5) • Herpes simplex vírus (HSV) • Treponema pallidum (sí� lis) • Haemophilusducreyi (cancro mole) • Chlamydiatrachomatis sorotipos L1-3 (linfogranuloma venéreo- LGV) • Klebsiellagranulomatis (granuloma inguinal ou donovanose) As UG elencadas não relacionadas às DST têm como as princi- pais causas: • Vasculite autoimune • Traumática • Vascular • Neoplásica Potenciais complicações: as UG, além de proporcionar in- cômodo e, muitas vezes, dor para a mulher, têm como complica- ção importante ser um meio facilitador para aquisição de outros agentes relacionados às DST, em especial, o HIV. As úlceras genitais podem facilitar a transmissão sexual e perinatal do HIV. A quebra da integridade da mucosa cria facilidades na entrada de microrga- nismos, proporcionando um aumento importante no risco de aqui- sição de HIV em mais de três vezes.(4,5) 5 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 Classi� cação CID 10: (6) N76.6: Ulcerações Vulvares A60: Infecções anogenitais pelo vírus do herpes S31.4: Ferimento da vagina e da vulva N48.5: Síndrome de úlcera genital (excluído herpes genital) Diagnóstico(1-5,7) O diagnóstico etiológico das UG femininas nem sempre é fácil de ser feito. Entre outras causas, o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a procura ao serviço de saúde, habitualmente, é longo. Além disso, não há, habitualmente, disponibilidade para o uso de exames laboratoriais para a identi� cação do agente causal. Outro fato importante a ser considerado é que, mesmo em serviços que dispõem de recursos laboratoriais, em mais de 50% dos casos, não se consegue fechar o diagnóstico etiológico. Há, portanto, uma ten- dência a fazer o diagnóstico sindrômico, e não o etiológico. Tanto o Ministério da Saúde brasileiro como a ONU sugerem o tratamento sindrômico das UG para não correr o risco de deixar passar uma DST sem tratamento. Esta abordagem, apesar de ser uma necessi- dade em alguns casos, nada mais é que um teste terapêutico, com todas as inconveniências que isso possa acarretar. A nossa prática, mesmo nos casos em que há a necessidade de se fazer o tratamento sindrômico, recomenda fazer a pesquisa dos possíveis agentes etio- lógicos. As di� culdades dos serviços de saúde não justi� cam uma prática simplista de ignorar e não se preocupar em tentar identi� - car a causa da doença. Pro� ssionais sem conhecimento das causas (DST e não DST) das UG valem-se dessa prerrogativa de “tratar sem saber o que está tratando”. O procedimento básico de inves- tigação das causas das UG consiste em identi� car com detalhes: 1. Tempo e forma de evolução da UG. 6 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 2. Localização precisa, preferencialmente, dividir a vulva em terços. 3. Aspecto (tamanho, profundidade, grau de in� amação). 4. Presença de linfoadenomegalia regional e/ou à distância. 5. Aparecimento concomitante de outras lesões no corpo e na boca. 6. Se houve algum fator desencadeante (trauma, uso de medica- mentos, outras pessoas com o mesmo quadro). 7. Outras doenças sistêmicas. Coletar material para investigação quando possível: 1. Comprimir, delicadamente, uma lâmina de vidro sobre a UG, � - xar a lâmina com � xador de Papanicolaou e encaminhar para o serviço de citopatologia. Identi� car a lâmina como “IMPRINT” e pesquisar células multinucleadas (Herpes Simples) –(proce- dimento disponível na saúde pública). 2. Raspar, super� cialmente, a UG com swab ou espátula de Ayire, dispondo o material em uma lâmina de vidro. Secar ao ar livre. Encaminhar ao serviço de microscopia e pesquisar presença de Haemophyllusducreyi (procedimento disponível na saúde pública). 3. Raspar novamente a base da úlcera quantas vezes forem ne- cessárias para inoculação em: meio de transporte, soro � sio- lógico, meio de � xação para PCR (usar os meios que estiverem disponíveis). 4. Limpar a úlcera e coletar linfa da base (espremer) colocando -a em soro � siológico e lâmina de vidro para investigação de Treponema pallidum em microscopia de campo escuro. 5. Coletar sangue para sorologia de Sí� lis (VDRL, FTA-Abs), Hepatite B e C, HIV (procedimento disponível na saúde pública). 7 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 6. Biopsiar todas as úlceras com evolução maior que 30 dias (pro- cedimento disponível na saúde pública). 7. In� ltrar a lesão com Xilocaína a 2%. Realizar a biopsia da lesão ulcerada vulvar com “Punch” dermatológico 3 mm. Para biopsias sobre vagina e colo uterino, deve-se usar pinça saca-bocado. Colocar o tecido obtido em vidro com formol e en- caminhar ao serviço de citopatologia (procedimento disponível na saúde pública). Conforme a localização, é preciso considerar a prevalência mais frequente das doenças para o tratamento, uma vez que, comojá foi mencionado, o diagnóstico complementar não é su� ciente para identi� car o agente causal em aproximadamente 50% dos casos. Como é possível perceber, a maioria dos métodos de diagnóstico das UG está disponível no sistema público de saú- de brasileiro. O diagnóstico etiológico ajuda a que o tratamento seja preciso, diminui a chance de tratamentos excessivos com seus efeitos colaterais, diminui o desenvolvimento de resistência micro- biana e, principalmente, não cria situações desagradáveis de classi- � car como DST uma UG que não o é. O tratamento deve ser inicia- do imediatamente, mesmo sem ter os resultados da investigação diagnóstica. O médico deve tratar empírica ou sindromicamente, considerando o diagnóstico mais provável, com base na apresenta- ção clínica e nas circunstâncias epidemiológicas.(1-5,7) Principais causas de UG relacionadas às DST 1. Herpes genital O herpes genital (HG) é uma doença sexualmente transmissível de alta prevalência no Brasil. O herpes simples vírus (HSV) pode provocar lesões na pele e nas mucosas dos órgãos genitais mas- culinos e femininos. O HG manifesta-se por pequenas vesículas 8 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 que se agrupam nos genitais masculinos e femininos. Às vezes, elas estão presentes dentro do meato uretral ou, por contiguidade, podem atingir a região anal e perianal, de onde se disseminam se não houver um bom controle por meio do sistema imunológico de cada indivíduo. Falta de sono, traumas, trabalho excessivo, uso de drogas, constrangimentos emocionais, má alimentação (desnutri- ção), AIDS, uso de altas doses de corticoide, neoplasias, quimiote- rapia, entre outras, são as principais causas de imunossupressão. As lesões do herpes genital costumam regredir espontaneamente, mesmo sem tratamento, nos indivíduos imunocompetentes. Nos imunodeprimidos, incluindo os infectados pelo HIV, porém, elas adquirem dimensões extraordinárias. O Centro de Controle de Doenças Americano considera caso de� nidor de AIDS a presença de lesão herpética em mucosas por mais de 30 dias. Caracterizam- se por apresentar ardor, prurido, formigamento e adenomegalia que podem anteceder à erupção cutânea. Hiperemia aparece e, alguns dias depois, evoluem para vesículas agrupadas, que, após, rompem-se formando exulceração dolorosa, seguida de cicatriza- ção. O vírus migra pela raiz nervosa até alojar-se num gânglio neu- ral, onde permanece quiescente até a recidiva seguinte. O diagnós- tico é essencialmente clínico (anamnese e exame físico). A cultura e a biopsia são raramente utilizadas, pois sua sensibilidade diminui com a duração da lesão. A pesquisa de HSV por técnicas de biolo- gia molecular – reação em cadeia da polimerase (PCR) – pode ser útil, mas é desnecessária na prática. A detecção da glicoproteína especí� ca do HSV para determinar a etiologia da lesão pelo HSV 2, utilizando-se testes rápidos, é defendida pelos norte-america- nos, principalmente, em gestantes com a � nalidade de estabelecer medidas pro� láticas da transmissão vertical, ou entre casais soro 9 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 discordantes para o HIV, com o intuito de reduzir a transmissão horizontal.(1,8-10) 2. Sí� lis Também conhecida por Lues, cancro duro, protossi� loma é uma do- ença infectocontagiosa, de evolução sistêmica (crônica), ocorrendo, principalmente, por transmissão sexual e por outros contatos ínti- mos. O agente etiológico é o Treponema pallidum. Pode ser transmi- tida da mãe para o feto (intraútero), ou pelo contato da criança com as lesões maternas durante o parto (transmissão vertical). As mani- festações clínicas dependem do tempo da doença. Na Sí� lis recente, observa-se a presença de lesão única (podendo ser múltipla em raros casos), com bordas endurecidas pelo processo in� amatório linfo- plasmocitário (cancro duro ou cancro de inoculação). É mais comum ser visível no homem, no sulco bálano prepucial, que na mulher. O cancro duro,se não for tratado, pode persistir por 30 a 90 dias, in- voluindo espontaneamente. Na mulher, muito raramente se obser- va lesão em vulva. O cancro duro desaparece em 21 a 30 dias. Além dele, adenopatia satélite ocorre e é bilateral (inguinal), indolor e não in� amatória. Ambos são conhecidos como Sí� lis Primária. Em todas as fases da Sí� lis, pode-se usar a sorologia para fazer o diagnóstico. Existem sorologias: treponêmicas (FTA-Abs; MHA-TP, teste rápido) e não treponêmicas – VDRL, mais usado, RPR, Elisa. O VDRL rea- tor com título igual ou superior a 1/8 é entendido como doença e o paciente deve ser tratado. A sí� lis adquirida é con� rmada quando o indivíduo apresenta evidência clínica da doença (presença de cancro duro ou cancro plano, roséolas, madarose, etc.) e testes não trepo- nêmicos e treponêmicos reagentes. Outra situação ocorre quando o indivíduo está assintomático, mas tem um teste não treponêmico re- 10 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 agente (titulação baixa) e teste treponêmico reagente. O VDRL com titulação baixa pode indicar um falso-positivo devido à possibilidade de reações cruzadas ou falso-negativosno início da fase primária ou mesmo nas fases latente tardia. O mesmo pode ocorrer com exames treponêmicos, porém com menor frequência. Os testes treponêmi- cos costumam � car positivos por toda a vida do indivíduo. Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, caso suspeito em grávidas ocorre quando existem evidências clínicas de Sí� lis, ou teste não treponê- mico reagente (qualquer titulação). O caso é considerado con� rmado quando a gestante apresenta teste não treponêmico reagente (qual- quer titulação) e teste treponêmico reagente, independentemente de qualquer evidência clínica de Sí� lis. Gestantes com teste trepo- nêmico reagente e teste não treponêmico não reagente (ou não rea- lizado), também, devem ser consideras positivas. A Sí� lis secundá- ria e a Sí� lis tardia não costumam apresentar ulceração, contudo as lesões planas da Sí� lis secundária podem ulcerar. Habitualmente, o Condiloma Plano (Sí� lis secundária), devido à umidade, à oclusão e ao trauma, localiza-se na área genital.(1,4,7,11,12) 3.Cancro mole O cancro mole é uma doença infecciosa aguda, de transmissão sexual e ulcerativa, localizada nos genitais, pouco frequente em nosso meio. Pode estar associada a adenopatias inguinais uni ou bilaterais.É causada pelo cocobacilo (ou bastonete curto), Gram- negativo, Haemophilusducreyi. O período de incubação é de 3 a 7 dias. Pequenas pápulas dolorosas rapidamente se rompem para formar úlceras rasas, com bordas irregulares. Logo depois, ocorre erosão fagedênica que ocasionalmente leva à destruição tecidual acentuada. Os linfonodos inguinais tornam-se dolorosos, aumen- 11 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 tados e aderidos entre si e formam um abscesso com � utuação (bu- bão) na virilha. O diagnóstico deve ser feito pelo exame bacterios- cópico após limpeza da lesão com soro � siológico, coletando-se, com alça de platina ou espátula, exsudato purulento do fundo da lesão, preferencialmente sob as bordas. A positividade ocorre em 50% dos casos. A cultura para H. ducreyi e a biopsia da UG podem ser úteis no diagnóstico diferencial ou em casos não responsivos à terapia empregada. Não esquecer que a testagem para HIV deverá ser feita rotineiramente em pacientes com úlcera genital.(1,4,7,13,14) 4. Linfogranuloma venéreo(1,4,5,7,14-16) Também conhecido por linfogranuloma inguinal, mula, bubão ou Doença de Nicolas-Favre, caracteriza-se pelo aparecimento de uma lesão genital (lesão primária),que tem curta duração e que se apresenta como uma ulceração (ferida) ou como uma pápula e tem como agente etiológico aChlamydiatrachomatisL1, L2, e L3. Apresenta um período de incubação que varia de 3 a 32 dias, após o que surge papulovesícula ou pequena erosão, que, em geral, passadespercebida, pois cicatriza em poucos dias. A localização preferen- cial é na genitália externa. Assim como o cancro mole, o LGV tem baixíssima prevalência no Brasil, sendo diagnóstico de exceção. O diagnóstico deve considerar, além do quadro clínico, que muitas ve- zes se apresenta de forma incaracterística, alguns exames comple- mentares que poderão ajudar a propedêutica diagnóstica. Portanto o diagnóstico é embasado na clínica, epidemiologia e exclusão de outras etiologias para proctites, linfoadenomegalia inguinal, ou úl- ceras genitais ou retais. Lesões genitais, material retal e material do linfonodo podem ser testados para C. trachomatis por cultura, immuno� uorescence direta, ou detecção dos ácidos nucleicos. 12 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 Entre os exames utilizados, pode-se citar:(14-16) • Citopatológico: raramente positivo (ver inclusões citoplasmá- ticas características). • Método ELISA: grande sensibilidade, identi� cação dos anticor- pos contra o antígeno do grupo, e não dos diferentes sorotipos. • Cultura com células de McCoy: tem grande especi� cidade, tor- nando-se positiva em três dias, contudo é feita em poucos lu- gares e exige pro� ssional experiente. • Sorológico (reação de � xação do complemento): é o teste mais empregado, apresentando alta sensibilidade e baixa especi� ci- dade. Positividade não implica atividade da doença. • Sorologia de Ct (� xação do complemento com títulos >1:64 ou micro imuno� uorescência com títulos >1:256) talvez supor- tem o diagnóstico do LGV em contexto clínico apropriado. • Micro imuno� uorescência: método mais sensível no diagnós- tico da doença, capaz de detectar anticorpos especí� cos aos diferentes sorotipos. • Teste de Biologia Molecular (PCR e Captura Híbrida): apresentam alta sensibilidade e especi� cidade. O custo anteriormente caro tem- se tornado acessível e facilita muito a realização e interpretação. 5. Donovanose (1,4,7,14-17) É uma DST crônica ulcerativa também conhecida como granuloma venéreo, granuloma tropical ou úlcera venera crônica. É causada pela bactéria Gram negativa intracelular chamada Klebsiellagranulomatis. Após um período de incubação de 8dias a 6meses, aparece lesão no- dular em número variável que evolui para úlcera. A lesão é não dolo- rosa e altamente vascularizada, sangrando facilmente com o conta- to. Outras apresentações: lesões vegetantes, vegetantes e ulcerosas, 13 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 elefantiásicas e eventualme nte pode haver manifestações sistêmi- cas. Exames histopatológicos e citopatológicos podem identi� car os corpúsculos de Donovan, com isso, con� rmando o diagnóstico. Vasculite Autoimune (Doença de Behçet) (18-20) Algumas úlceras genitais que acometem crianças e mulheres jovens preferencialmente. Quase todos os casos têm história de um episó- dio recente de mal-estar geral, estado gripal e reclamam de apare- cimento de feridas dolorosas em genitais. Às vezes, ocorrem tam- bém lesões em boca. O aparecimento de lesões dermatológicas em pernas e dorso também pode ocorrer. Diferentes genes aumentam o risco de desenvolver a doença de Behçet e acredita-se que fatores ambientais como infecções podem ajudar a desencadear a doença. A queixa mais importante é a presença de aftas recorrentes que podem estar associadas ou não a úlceras genitais, lesões de pele, dores articulares, in� amação no olho, alterações neurológicas, in- testinais. As úlceras genitais são mais dolorosas que as aftas. Não há exame de laboratório que determine o diagnóstico de certeza. Critérios diagnósticos para doença de Behçet: · Úlcera oral recorrente; · Úlcera genital recorrente; · Uveíte ou retinite; · Eritema nodoso e/ou papulopústulas; · Teste de patergia positivo. Tratamento Apresenta-se dividido em subitens. A. Herpes genital(1,4,7,20-23) Não existe ainda tratamento e� caz quanto àcura da doença. O tra- tamento tem por objetivo diminuir as manifestações da doença 14 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 ou aumentar o intervalo entre as crises. Inibe a síntese de DNA, possuiação na fase aguda e não atua na latente. Na sequência, as drogas antivirais mais comumente empregadas com suas respec- tivas posologias: • Primoinfecção - Aciclovir 400mg 3xd (7-14dias) - Valaciclovir 1000mg 2xd (7-14dias) - Fanclicovir 250mg 3xd (7-14dias) • Recorrência - Aciclovir 400mg 3xd (5 dias) - Valaciclovir 500mg 2xd (5 dias) - Fanclicovir 125mg 2xd (5 dias) • Supressão - Aciclovir 400mg 1xd (6 meses) - Valaciclovir 500/1000mg 1xd (6 meses) - Fanclicovir 250 mg 2xd (6 meses) • Gestantes Tratar o primeiro episódio em qualquer trimestre da gestação conforme o tratamento para o primeiro episódio. O tratamento da gestante impõe-se, principalmente, na primoinfecção. Está libera- do pela ANVISA o uso de Aciclovir nas doses recomendadas: • Infecção primária 400mg 3xd (7-14d) • Recorrentes 400mg 3xd ou 800mg 2xd (5d) • Dose supressão 400mg 3xd IG 36 sem. até o parto • Infecção disseminada 5-10mg/Kg IV 8/8 h 2-7dias e manter VO 400mg 3xd por no mínimo 10 dias. A escolha da via de parto deve considerar que o período seguro de rotura das membranas não está comprovadamente de� nido, mas acreditasse que, após 4h, a contaminação fetal já tenha ocorrido e, des- 15 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 sa forma, a cesárea não contribuiria para a redução da transmissão, devendo ser realizada, apenas, se houver outra indicação associada. B. Sí� lis(1,4,7,20-23) a. Sí� lis primária, sí� lis secundária e latente recente (até um ano de duração) • Penicilina G benzatina, 2,4 milhões UI, IM, dose única (1,2 mi- lhão UI em cada glúteo). Alternativa: • Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 15 dias (exceto para gestantes); • Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes. b. Sí� lis latente tardia (mais de um ano de duração) ou latente com duração ignorada e sí� lis terciária • Penicilina G benzatina, 2,4 milhões UI, IM, (1,2 milhão UI em cada glúteo), semanal, por três semanas. Dose total de 7,2 mi- lhões UI. Alternativa: • Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 30 dias (exceto para gestantes) • Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes - Critério de cura: VDRL 3, 6 e 12 meses após o tratamento. Deverá haver queda de quatro títulos da sorologia ou sua negativação em 6 meses a 1 ano. As gestantes devem ser acompanhadas mensalmente. Deverá ser feito um novo tratamento se a sorologia aumentar quatro títulos. O esperado é a diminuição de um título por mês. C. Cancro mole(1,4,7,20-23) Os regimes de tratamento recomendados pelo MS são: Azitromicina 500 mg, 2 comprimidos, VO, dose única OU Ceftriaxona 500 mg, IM, dose única. Como segunda opção, usa-se 16 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 também cipro� oxacina a 500 mg, 1 comprimido, VO, 2xdia, por três dias O tratamento sistêmico deve ser acompanhado de medidas lo- cais de higiene. O tratamento das parcerias sexuais é recomendado, mesmo quando assintomáticas. D. LGV(1,4,7,20-23) Deve ter início precoce, antes mesmo da con� rmação laboratorial, a � m de minimizar eventuais sequelas. As tetraciclinas e a azitro- micina são a medicação de escolha e devem ser empregadas, salvo contraindicações (gravidez, infância e intolerância ou alergia). A Doxiciclinab 100 mg, VO, 1 comprimido, 2xdia, por 21 dias é a primeira opção de tratamento. Como segunda opção,tem-se a Azitromicina 500 mg, 2 comprimidos, VO, 1x semana, por 21 dias, com uso preferencial nas gestantes. Se a parceria sexual for assinto- mática, recomenda-se um dos tratamentos a seguir: Azitromicina 500 mg, 2 comprimidos, VO, dose única OU Doxiciclinab 100 mg, 1 comprimido, VO, 2xdia, por 7 dias. O prolongamento da terapia pode ser necessário até a resolu- ção dos sintomas. A antibioticoterapianão tem efeito expressivo na duração da linfadenopatia inguinal, mas os sintomas agudos são frequentemente erradicados de modo rápido. Os antibióticos não revertem sequelas como estenose retal ou elefantíase genital. • Cirurgia Os linfonodos apresentando � utuação devem ser aspirados com agulha grossa, e nunca drenados ou excisados, pois, além de retardarem a cicatrização, esses dois últimos procedimentos po- dem disseminar a doença e propiciar o aparecimento de elefantíase. 17 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 E. Donovanose(1,4,7,20-23) Doxiciclinab 100 mg, 1 comprimido, VO, 2xdia, por pelo menos 21 dias ou até o desaparecimento completo das lesões. O critério de cura é o desaparecimento da lesão, não tendo sido relatada infec- ção congênita. Devido à baixa infectividade, não é necessário fazer o tratamento das parcerias sexuais (Figura 1). Úlcera genital presente IST como causa provável? Não Tratar Sí�lis e Cancroide Tratar Sí�lis, Cancroide e Donovanose. Realizar biopsia História ou evidência de lesões vesiculosas? Lesões com mais de 4 semanas? Laboratório disponível? Sim Não Sim Não Sim Não Sim Sinais e sintomas persistem após 14 dias? Alta Referenciar Coleta de material para microscopia (Gram e Glemsa) e campo escuro Biologia molecular, quando disponível Identi�cação de T. pallidum Tratar Sí�lis primária/secundária Sugestivo de H. ducrey Tratar Cancroide Sugestivo de HSV Tratar Herpes genital Sugestivo de K. granulomatis Tratar Donovanose Tratar Herpes genital Sim Referenciar Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Infecções Sexualmente Transmissíveis: Tratamento das úlceras não DST. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2015. Figura 1. Manejo das UG com uso de � uxograma 18 Úlceras genitais Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 Vasculite Autoimune (Doença de Behçet) (18-20) Contra feridas bucais e nos órgãos genitais e dores articulares: cre- mes de corticosteroides, soluções anestésicas locais e sucralfato podem ser aplicados nas feridas. A colchicina (usada no tratamen- to de gota) pode ser tomada, por via oral, para evitar novas lesões. A talidomida é tomada por via oral e pode ajudar na cura de feridas na boca, órgãos genitais e na pele, mas as feridas podem ressurgir quando a medicação é interrompida. O etanercepte é um inibidor do fator de necrose tumoral (suprimindo assim o sistema imunoló- gico), utilizado para evitar novas feridas bucais. É um medicamen- to injetável. Eventualmente, outros inibidores do fator de necrose tumoral (in� iximabe ou possivelmente adalimumabe) podem ser utilizados no lugar do etanercepte. Na prática, pode-se usar: 1. Predinisona -20 mg VO, 1x/d até remissão da úlcera. Manter 5mg VO 1x/d por mais 3 meses. 2. Cuidados locais com limpeza 3vezes ao dia. 3. Casos especiais usar colcichine0,5mg, 8/8h via oral até remis- são da úlcera. Vascular Con� rmada a etiologia, encaminhar para o angiologista ou cirur- gião vascular. Neoplásica Realizada a biópsia, encaminhar para o oncologista com o resulta- do histopatológico em mãos. 19 Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, Gonçalves AK Protocolos Febrasgo | Nº1 | 2018 Recomendações � nais • A presença de UG é uma emergência de ginecologia pelo sofrimento que causa àmulher e pela vulnerabilidade que proporciona. • Conheça as prevalências e incidências das principais patolo- gias associadas às UG na sua área de atuação, isso facilitará seu diagnóstico clínico. • É importante diferenciar UG associadas às DST das UG não DST. • A “cura” espontânea e o desaparecimento das UG são muito comuns, e não representam cura, portanto, facilite o atendi- mento e exija retorno precoce. • Use sempre os recursos disponíveis para tentar o diagnóstico etiológico, mas não deixe de tratar precocemente, mesmo que sindromicamente. Referências 1. Wessman LL, Andersen LK, Davis MD. Incidence of diseases primarily a� ecting the skin by age group: population-based epidemiologic study in Olmsted County, Minnesota, and comparison with age-speci� c incidence rates worldwide. Int J Dermatol. 2018;57(9):1021–34. 2. Stewart KM. Challenging Ulcerative Vulvar Conditions: Hidradenitis Suppurativa, Crohn Disease, and Aphthous Ulcers. Obstet Gynecol Clin North Am. 2017;44(3):453–73. 3. Bohl TG. Fissures, Herpes Simplex Virus, and Drug Reactions: Important Erosive Vulvar Disorders. Obstet Gynecol Clin North Am. 2017 Sep;44(3):421–43. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Infecções Sexualmente Transmissíveis: Relatório de Recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2015. 121p. 5. Mungati M, Machiha A, Mugurungi O, Tshimanga M, Kilmarx PH, Nyakura J, et al. The etiology of genital ulcer disease and coinfections with chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae in Zimbabwe: Results From the Zimbabwe STI Etiology Study. 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