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Ana Victória Ribeiro – M7 Anamnese Obstétrica e Exame Físico Obstétrico INTRODUÇÃO A assistência pré-natal nada mais é do que um conjunto de cuidados destinados à mulher e ao feto, visando oferecer uma gestação saudável, um parto de um recém-nascido saudável sem impacto para a saúde materna. Espera-se que tais cuidados promovam uma experiência positiva durante a gravidez. Alguns autores consideram que a assistência pré-natal inicie no final no 1 trimestre, porém, o maior consenso é que ela deve acontecer o mais breve possível diante do diagnóstico de gravidez. Isto porque, o quanto antes for realizada a estratificação do risco gestacional, a gestante poderá realizar as recomendações necessárias diante de um determinado risco. Avaliação do risco O risco gestacional deve ser avaliado desde a primeira consulta pré-natal devendo ser avaliado a cada retorno. A caracterização do risco gravídico inicia-se com anamnese e exame clínico, aliada aos exames complementares. Assim, as gestantes que possuem critérios de risco devem ser destinadas para uma Unidade que realize acompanhamento pré-natal de alto risco. Porém, ainda assim a gestante deve continuar tendo seu seguimento na unidade onde iniciou seu pré-natal. Segue na tabela alguns fatores de risco que podem indicar encaminhamento ao pré-natal de alto risco segundo a OMS: Componentes do Pré-natal SEMIOLOGIA É essencial que tanto a anamnese quanto o exame físico na primeira consulta pré-natal sejam Anamnese Avaliação de exames complementares Exame Físico Número mínimo de consultas conforme recomendação da OMS e do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento do Ministério da Saúde, é 6, devendo ser realizada 1 no primeiro trimestre, 2 no segundo e 3 no terceiro trimestre. Já a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) recomenda realizar consultas mensais até as 28 semanas, quinzenais entre 28 e 36 e semanais até o termo (36 a 41 semanas). Ana Victória Ribeiro – M7 realizados de forma detalhada, abrangendo o maior número possível de informações. ANAMNESE OBSTÉTRICA - Identificação da paciente: nome, idade materna (extremos de idade podem apresentar intercorrências), raça, estado civil, religião, nome da mãe, profissão (risco de teratogênese, má formação, exposição a altas temperaturas, laser,etc), procedência/residência, domicílio, etc. - Antecedentes pessoais fisiológicos, patológicos: afecções clínicas, cirúrgicas, traumas, alergias. - Antecedentes ginecológicos: menarca, sexarca, tratamento clínico ou cirúrgico, anticoncepção. - Antecedentes obstétricos: gestações, puerpério, amamentação. - Antecedentes familiares: doenças crônicas, síndromes genéticas, malformações congênitas, complicações obstétricas com parentes de primeiro grau. - História obstétrica atual: planejamento e aceitação (apoio psicológico, adoção), DUM, IG, DPP, intercorrências, hospitalizações, dúvidas, mitos, expectativas. - Interrogatório sistemático - Hábitos de vida: atividade física (gestação normal com exercício sem impacto, porém, gestações de risco não deve haver exercícios), uso de álcool, tabaco, alimentação, atividade sexual em qualquer estágio da gravidez, exceto em ITU, risco de trabalho de parto prematuro (após o parto, abster-se de relações sexuais por 6 semanas). - Histórico psicossocial: moradia, educação, transporte, financeiro, relação entre os familiares, violência doméstica, entre outros. Durante a anamnese é muito importante sempre realizar o cálculo da idade gestacional (IG) e, já na primeira consulta, calcular também a data provável do parto (DPP). Tanto a IG quanto a DPP podem ser calculadas por meio de cálculos rápidos ou com auxílio de métodos complementares como a ultrassonografia. - Cálculo da IG A IG pode ser calculada pela regra de Nagele baseia-se na data da última menstruação (DUM), sendo realizada da seguinte maneira: somar o número de dias corridos desde a DUM até o dia no qual está sendo avaliada a IG e dividir por 7. No caso do cálculo da IG por meio da USG, aquela que com base nos estudos representa a melhor para este cálculo é a USG do 1º trimestre. - Cálculo da DPP Para este cálculo, soma-se 7 ao dia da DUM e 9 ao número referente ao mês em que a DUM ocorreu. Caso a DUM ocorra entre os meses de janeiro e março, é possível apenas subtrair 3 do mês da DUM para encontrar o mês correspondente. Ou (se a DUM ocorreu em Janeiro, Fevereiro ou Março): EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO No exame físico são indispensáveis os seguintes procedimentos: - Avaliação nutricional (peso e cálculo do IMC) - Aferir PA - Palpação abdominal e percepção dinâmica - Medida da altura uterina - Ausculta dos batimentos cardiofetais - Registro dos movimentos fetais 𝑵ú𝒎𝒆𝒓𝒐 𝒅𝒆 𝒅𝒊𝒂𝒔 𝒅𝒂 𝑫𝑼𝑴 𝒂𝒕é 𝒂 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒖𝒍𝒕𝒂 𝟕 Dia do parto: Dia da DUM + 7 Mês do parto: Mês da DUM + 9 Dia do parto: Dia da DUM + 7 Mês do parto: Mês da DUM - 3 Ana Victória Ribeiro – M7 - Realização de teste de estímulo sonoro simplificado - Verificação de presença de edema - Exame ginecológico e coleta de material para colpocitologia oncótica - Exame clínico das mamas - Toque vaginal de acordo com as necessidades de cada mulher e idade gestacional Técnicas de exame - Posicionamento: no primeiro trimestre da gestação a paciente pode ser examinada deitada. Nos trimestres posteriores, a paciente deve adotar a posição semissentada de joelhos flexionados (mais confortável e reduz o peso gravídico na aorta descendente e veia cava inferior). Ps.: a maior parte dos exames, exceto o ginecológico, deve ser realizada com a paciente sentada ou em decúbito lateral esquerdo. Paciente na posição semissentada. - Equipamento do exame: espéculo ginecológico e lubrificação; materiais para coleta de amostras, fita métrica, monitor da frequência cardíaca fetal com Doppler e gel. Praticando o Exame Físico (Consulta 1) Inspeção geral: avaliar o estado geral da paciente, seja ele emocional, nutricional, neuromuscular, conforme ela entra e se move para a mesa de exame. Antropometria e sinais vitais: altura, peso, IMC, PA. Cabeça e pescoço: de frente para a paciente sentada avalie: - Face (se há manchas acastanhadas irregulares na fronte, nariz, mandíbula, nas regiões malares, que é indicativo de melasma, muito comum na gestação). - Cabelo e pelos (ressecado, oleoso, hirsutismo leve na face, abdomem). - Olhos (avaliar esclera e conjuntiva buscando alguma palidez ou icterícia). Ana Victória Ribeiro – M7 - Nariz (inspecione as mucosas e o septo nasal). - Boca (dentes e gengiva, é comum hipertrofia gengival associada a sangramentos). - Glândula tireoide (aumento simétrico por hiperplasia glandular é normal, porém aumento na tireoide, bócio e nódulos são anormais). Tórax: - Pulmões (inspeção, percussão, ausculta). - Coração (palpar ictus cordis, auscultar o coração, é comum auscultar o sopro mamário durante o final da gestação ou lactação no 2 ou 3 espaço intercostal). Mamas: - Simetria das mamas, mamilos e aréolas escurecidos e tubérculos de Montgomery (são porções das glândulas sebáceas ou de Montgomery que ficam visíveis e lubrificam a aréola, logo, protegem e preparam a aréola para amamentação). Palpar as mamas à procura de massas e linfonodos; Compressão dos mamilos com o polegar e o indicador. Abdome: exame ginecológico/obstétrico Extremidades: paciente sentada, avaliar membros inferiores à procura de varicosas ou edema. Verificação da presença de edema: paciente em decúbito dorsal ou sentada, sem meias (caso apresente, deve ser graduado em cruzes -> +/IV a ++++/IV. Pressionar a pele na altura do tornozelo e perna, no seu terço médio, faceanterior. Ana Victória Ribeiro – M7 - Região sacra: paciente em decúbito lateral ou sentada. Edema nas faces e membros superiores é identificado pela inspeção. EXAME OBSTÉTRICO Após a 12ª semana, deve-se medir a altura do fundo uterino no abdome. A ausculta fetal será possível após a 10ª - 12ª semana, com o sonar- doppler. Abdome: - Inspecionar o abdome à procura de estrias e cicatrizes, verificando dimensões, formato, contorno. Estrias violáceas e linha nigra são normais na gravidez. - Palpar à procura de massas; movimentos fetais podem ser sentidos após a 24 semana, enquanto a gestante geralmente consegue perceber esses movimentos entre as 18ª e 24ª semanas. - Altura do fundo uterino: coloque o “zero” de uma fita métrica de papel ou plástico no local onde foi palpada a sínfise púbica. A seguir, estique a fita métrica até o ponto mais alto do fundo de útero e anote o número de centímetros aferidos. - Ausculte batimentos cardíacos fetais: o monitor com Doppler da frequência cardíaca fetal (FCF) é o dispositivo padrão para essa aferição da FCF, que normalmente é audível já na 10ª a 12ª semana de gestação. A ausculta com o estetoscópio de Pinard é possível a partir de 16 semanas gestacionais. Ana Victória Ribeiro – M7 ◊ Localização: a partir da 10ª à 18ª semana de gestação, a FCF se localiza ao longo da linha mediana da parte inferior do abdome. Depois dessa época, a FCF é mais bem auscultada no dorso ou no tórax e depende da posição fetal. ◊ Frequência cardíaca: a FCF varia entre 110 e 160 batimentos por minuto (bpm). ◊ Ritmo: a FCF deve variar 10 a 15 bpm de um segundo para outro, sobretudo nos estágios avançados da gravidez. Essa sutileza pode ser difícil de detectar com o Doppler. Manobras de Leopold-Zweifel São usadas para determinar a posição do feto no abdome da gestante no início do segundo trimestre, a acurácia é maior após a 36ª semana de gestação. - Primeira manobra (polo fetal superior): o examinador se posiciona ao lado da paciente e palpa delicadamente o polo superior do útero com as palmas e os dedos de ambas as mãos, tentando identificar qual estrutura está situada nesta região. As nádegas fetais são irregulares e firmes, a cabeça é regular, lisa e endurecida. - Segunda manobra (paredes laterais do abdome materno): na mesma posição o examinador desliza suas mãos, dispondo-as uma em cada extremidade lateral uterina. A palpação deve identificar o lado do dorso fetal, que é regular, liso e rígido. A extremidade que contém os membros se apresenta irregular e seus movimentos podem ser notados. - Terceira manobra (polo fetal inferior e descida para a pelve): com apenas uma das mãos o polo inferior deve ser apreendido entre o polegar e os dedos da mão dominante, logo acima da sínfise púbica. Movimentos laterais são feitos para evidenciar o movimento passivo desta região. Um polo fixo indica insinuação do feto na pelve e proximidade do trabalho de parto. - Quarta manobra (apresentação): o examinador vira-se de frente para os pés da paciente e com as mãos afastadas cerca de 10 cm uma da outra, avança das fossas ilíacas em direção ao hipogástrio. Nesta etapa, tenta aprofundar as mãos na pelve para evidenciar qual região fetal Ana Victória Ribeiro – M7 está no polo inferior do útero (apresentação fetal). A porção fetal cefálica é menor, lisa, irredutível e endurecida quando comparada com a porção pélvica que se apresenta maior, irregular e amolecida. Se o feto estiver transversal, o polo se encontra vazio. Na apresentação cefálica, os dedos em contato com a região occipital do feto avançam mais adentro na pelve que os dedos contralaterais. Teste do estímulo sonoro simplificado (Tess) Para a realização do teste, comece palpando o polo cefálico. Ausculte os BCF por quatro períodos de 15 segundos e calcule a média. Realize o estímulo sonoro, colocando a buzina de Kobo (buzina de bicicleta) sobre o polo cefálico fetal com ligeira compressão sobre o abdome materno (aplique o estímulo entre três e cinco segundos ininterruptos). Durante a realização do estímulo, deve-se observar o abdome materno, procurando identificar movimentos fetais visíveis. Imediatamente após o estímulo, repita a ausculta dos BCF por novos quatro períodos de 15 segundos e refaça a média dos batimentos. Na presença de teste simplificado negativo e/ou desaceleração da frequência cardíaca fetal, está indicada a utilização de método mais apurado para avaliação da vitalidade fetal. Teste positivo: presença de aumento mínimo de 15 batimentos em relação à medida inicial ou presença de movimentos fetais fortes e bruscos na observação do abdome materno durante a realização do estímulo. Teste negativo: ausência de resposta fetal identificada tanto pela falta de aumento dos BCF quanto pela falta de movimentos fetais ativos. O teste deverá ser realizado duas vezes, com intervalo de, pelo menos, dez minutos para se considerar negativo. Estática fetal Compreende as relações das posições fetais com determinados pontos de referência. Atitude: relaciona as partes fetais entre si, ou seja, as porções cefálica e pélvica do feto, formando assim, um ovoide determinado por 2 polos. Situação: relaciona o eixo longitudinal do feto e do útero, que se estiverem paralelos, a situação é longitudinal e se estiverem perpendiculares, a situação é transversal ou córmica. Ana Victória Ribeiro – M7 Apresentação: relaciona a porção fetal situada no estreito superior da pelve materna. Se for o polo cefálico, a apresentação é cefálica, porém, se for o polo pélvico, a apresentação será pélvica. Posição: relaciona o dorso fetal ao lado materno, logo, se o dorso fetal estiver voltado para o lado direito da mãe, a posição será direita. Se o dorso fetal estiver voltado para a o lado esquerdo da mãe, a posição será esquerda.
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