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Tuberculose em Animais

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Tuberculose em Animais de Domésticos
DOENÇAS INFECIOSAS
Definição: Tuberculose (TBC) é uma enfermidade infectocontagiosa (um indivíduo transmite para o outro) granulomatosa crônica, de caráter progressivo, constituindo-se em grave zoonose. A TBC é causada por membros do complexo Mycobacterium tuberculosis (M. tuberculosis).
Provoca formação de granulomas, isso decorre do agente ficar por um bom tempo/crônico naquele tecido estimulando uma resposta inflamatória do organismo, resultando na formação dos abcessos, que conforme vão calcificando/aumentando o tamanho parede, se tornam granulomas.
· Etiologia
Agentes que causam tuberculose são frequentemente chamados de “micobactérias”. Ordem Actinomycetales, Família Mycobacteriaceae, Gênero Mycobacterium. São bactérias dentro deste gênero que farão a infecção.
Formato de bacilos, não móveis (crescem só no local onde estão se multiplicando), aeróbios, não esporulados, não capsulados e não flagelados. São álcool-ácidos resistentes (BAAR) pois tem composição de parede celular muito espessa, para Fucsina conseguir corar, tem que tratar a bactéria com álcool e substancias ácidas primeiro. São relativamente pequenas.
Espécies que causam doença em mamíferos:
O complexo M. tuberculosis possui agentes que precisam obrigatoriamente de um hospedeiro. Os locais específicos de multiplicação são os mamíferos.
Caninos não tem um micobaterium adaptado a ele ou que preferencialmente os acometem, geralmente tem a micobacteriose associado ao seu ambiente (ex: convívio com humano que tenha).
A importância para nossos estudos são referentes aos três primeiros M. da tabela.
Existe ainda uma espécie M. avium pertencente ao complexo M. avium, que não possuem a característa de produzir tubérculos/granulomas. Pode ser encontrado no solo, bioaerossóis e água. Entretando, as espécies desse complexo podem formar pequenos granulomas na pele de animais de companhia (cães, gatos), trato digestivo e respiratório. Doença inflamatória mais branda do que a provocada pelo complexo tuberculosis.
As micobactérias são resistentes a diversas condições ambientais (devido parede celular espessa facilita sobrevivência no meio ambiente), inclusive a desinfecção química e física.
São inativadas por pasteurização, UHT, desinfetantes à base de fenóis, cresóis, hipocloritos e álcool ambulatorial (mínimo álcool 70%). São produtos muito tóxicos. 
· Epidemiologia:
· M. tuberculosis:
O ser humano é o mais importante hospedeiro e reservatório.
Animais submetidos a contatos com humanos infectados, como cães, gatos, bovinos e suínos podem se infectar por M. tuberculosis. O quadro do humano sendo respiratório, a eliminação do agente se dá por aerossóis ou tosse, por onde o animal entrará em contato e irá ingerir o material. Na tuberculose digestiva a principal forma de eliminação é pelas fezes, contaminando o ambiente.
Cães são mais susceptíveis do que gatos, provável relação com ingestão de material infectante humano, gatos são mais seletivos (ex: catarro).
· M. bovis:
Vários hospedeiros podem se infectar, mas bovinos são considerados os principais reservatórios.
Bubalinos e caprinos podem apresentar doença clínica e serem considerados reservatórios e fonte de infecção quando acometidos pela doença.
Humanos como fontes de infecção para animais é irrelevante e em geral é hospedeiro acidental.
Gatos são frequentemente mais infectados do que cães - provável relação com ingestão de leite não pasteurizado ou fervido, além de carne e vísceras não cozidas.
A lei determina que animais infectados com M. bovis devem ser abatidos, pois são fontes de infecção para o ambiente. 
Em relação aos bovinos: Não há dependência de sexo, estação do ano ou clima (o M. permanece no ambiente por longos períodos e atravessa as estações do ano); A raça Bos taurus (gado europeu) é aparentemente mais susceptível que o Bos taurus indicus (Zebu); O confinamento propicia maior contato e promiscuidade; Gir e mestiços, para a produção de leite, é altamente susceptível à enfermidade no Brasil.
· Porta de entrada:
Trato respiratório: Cães, gatos e animais de produção.
Trato digestivo: Cães e gatos. Menor importância em animais de produção (bovinos se infectam mais pela via respiratória, mas a ocorrência em trato digestivo pode ocorrer).
Em cães e gatos as micobactérias acessam o organismo por meio dos tratos respiratórios, digestivos e também pela pele, neste caso, causado por agentes do complexo MAC (Micobacterium avium).
O local de lesão indica o tipo de exposição:
Granulomas cutâneos – soluções de continuidade, inoculação traumática por objetos perfuro-cortantes;
Trato gastrointestinal/linfonodos intra-abdominais – ingestão;
Pneumonia – inalação de aerossóis contaminados;
Doença disseminada (visualizado numa fase mais tardia) – difícil identificação da porta de entrada.
Muitas vezes a disseminação do micobacterium no hospedeiro ocorre por conta de uma dificuldade que o organismo do animal teve em “segurar” a infecção logo na porta de entrada ou no tecido adjacente. Por exemplo: Animal teve contato com M. bovis, acabou inalando e desenvolveu pneumonia com granulomas pulmonares. Esse animal em determinado momento pode não conseguir segurar o micobacterium no granuloma, conforme o granuloma cresce pode se romper e esses micobacterium ter acesso a circulação sanguínea, se disseminando, desenvolvendo lesões em outros órgãos. 
· Vias de eliminação (associa ao órgão que está afetado):
Cães e gatos: 
Envolvimento com disseminação em fazendas;
Bacilo instalado preferencialmente nos tratos respiratórios e digestivos.
Bovinos: 
Eliminação de M. bovis por aerossóis e gotículas de secreção respiratória; 
Principal forma de eliminação – 70% dos casos em bovinos são pulmonares (pela respiração); 
Leite e colostro são fontes de eliminação para bezerros lactantes, humanos, cães e gatos.
Fezes: Pode ser uma via de eliminação desde que o animal apresenta o micobacterium em linfonodos da cadeia mesentérica;
Urina e sêmen tem menor potencial para contaminação de ambiente e/ou animais.
· Transmissibilidade e viabilidade ambiental
Depende de vários fatores:
Frequência da excreção do bacilo, vias de infecção, dose infectante (extremamente baixa para bovinos, em poucos números viáveis de M. bovis é suficiente para instalar a infecção), densidade populacional, manejo e instalações (instalações de laticínios é feito de forma que dificulta a limpeza/lavagem de salas de ordenha), assim como estabulação de grande número de animais em confinamentos.
M. bovis é viável no ambiente por longos períodos (meses a anos):
Protegido da luz solar direta e misturado à matéria orgânica, como fezes e carcaças;
Mamíferos silvestres são susceptíveis e podem ser considerados reservatórios e fontes de infecção.
· Patogenia
AGENTE – PORTA DE ENTRADA após entrar pela mucosa, é fagocitado pelos macrófagos/ neutrófilos e é levado até o linfonodo, já no linfonodo sua parede celular atua inibindo a fusão do fagolisossomo MULTIPLICAÇÃO no linfonodo FORMAÇÃO DO COMPLEXO 1° (é a formação do granuloma, que pode permanecer fechado pelo resto da vida ou fazer furo) SE HÁ FURO OCORRE DISSEMINAÇÃO HEMATÓGENA, LINFÁTICA OU CONTIGUIDADE (ao escapar atinge células adjacentes, aumentando o granuloma) COLONIZAÇÃO DE ORGÃOS OU TECIDOS formando outros complexos primários nesses outros órgãos.v
· Patogenia cães e gatos:
Agente presente no ambiente entra em contato com o animal por solução de continuidade, pele ou perfuração, seguido por multiplicação no tecido subcutêneo (chamado de paniculite infecciosa), tem preferência por tecido adiposo pois é fonte de triglicéris e também há certa proteção contra resposta imune. Ocorre multiplicação e disseminação para a área adjacente, causando infecção de órgãos internos e linfonodos.
Nos cães se observa nodulações em subcutâneo de forma única ou múltipla, geralmente dolorosas, podem sofrer ulceração e exsudação. Geralmente o cão consegue responder bem à essa resposta inflamatória a ponto de não demonstrar dor ou febre. O problema é quando a infecçãoocorre próximo à cartilagem e articulações e acaba tendo envolvimento ósseo.
Em gatos produz placas ou nódulos em pele ou subcutâneo, sendo lesão supurativa que não cicatriza e começa a ser cercada por tecido de granulação (mais duro). Assim como cão desenvolve reação inflamatória. Em casos mais graves desencadeia febre, inapetência e perda de peso.
Pode entrar no organismo também por ingestão ou aspiração (medicamento via oral, água e alimentos contaminados), formando casos de micobacteriose digestiva ou respiratória (responsáveis por Pneumonia na maioria dos casos – M. chelonae abscessos e M. fortuitum).
· Sinais Clínicos
A tuberculose e as micobacterioses em animais de companhia caracterizam-se por um complexo de manifestações clínicas, que envolvem principalmente os sistemas respiratório e gastrointestinal, a pele e anexos. Depende da porta de entrada que houve.
· M. tuberculosis
Broncopneumonia, nódulos pulmonares, linfoadenomegalia, febre e emagrecimento em cães, dispneia e tosse em gatos. Com a evolução da infecção haverá lesões orofaríngeas ulcerativas, disfagia, êmese, derrame pleural ou pericárdico, dispneia, cianose, insuficiência cardíaca em cães e gatos.
· M. bovis
Perda de peso, anemia, êmese, diarréia, linfonodos mesentéricos aumentados, derrame abdominal (ascite), granulomas e linfoadenomegalia regional (mais comum em gatos).
Ambos agentes podem desencadear, se conseguirem escapar do complexo primário (granuloma inicial), as linfoadenopatias generalizadas, hepatomegalia, esplenomegalia, hemoptise, hematúria, icterícia, nódulos cutânos e úlceras supuradas que não cicatrizam. Coroidite tuberculosa e deslocamento de retina.
· MAC
Cães: Doença granulomatosa em baço, fígado, intestino e linfonodos mesentéricos, perda de peso, letargia, emese, febre, diarreia, hematoquesia, uveite, dificuldade respiratória.
Gatos: Aumento de linfonodos regionais e intestinais, edemas subcutêneos (cabeça e face principalmente), perda de peso, anorexia, febre, espessamento das alças intestinais, hepatomegalia e esplenomegalia.
· Bovinos
Em bovinos os sinais clínicos se agrupam em três classificações: generalização precoce, evolução crônica e mastite tuberculosa. A espécie bubalina apresenta características similares aos bovinos, embora com menor frequência.
Generalização precoce: Observa-se rápida evolução dos sinais clínicos, com febre discreta e inconstante, apatia, alteração do apetite, rápido emagrecimento e evolução de caquexia e morte. Normalmente há comprometimento pulmonar que ao exame clínico, constatam-se tosse frequente, estertores, crepitação, roce pleural e áreas de silêncio.
Evolução crônica: É a mais comum. Os bovinos apresentam emagrecimento crônico, embora mantenham alimentando-se normalmente, e não há diarreia. Os animais também apresentam intolerância ao exercício ou trabalho físico, cansaço após esforço, linfonodos retrofaríngeos e supraescapulares aumentados. Aumento dos linfonodos retrofaríngeos podem, em algumas situações, causar obstrução de faringe. Assim como na generalização precoce, observa-se extensas áreas de silencio à auscultação pulmonar, estertores e roce pleural. Os animais podem também apresentar tosse crônica e descarga nasal mucopurulenta, meteorismo crônico e aqueles lactantes ter queda de produção leiteira. 
Mastite tuberculosa: Essa clínica não é frequente, embora seja preocupante em razão dos riscos aos humanos e aos bezerros. A principal característica deste tipo de mastite é a hipertrofia com endurecimento da glândula mamária principalmente no início a partir da região superior do úbere. À palpação observa-se endurecimento típico de presença de granulomas. Com a evolução da mastite o leite passa a apresentar grumos e coloração âmbar.
· Equinos
A tuberculose é rara em equinos. No Brasil não há relatos, embora em outros países os animais infectados apresentam envolvimento pulmonar com clínica e lesões granulomatosas nas vértebras cervicais, dificuldades em movimentação e inapetência.
· Caprinos e Ovinos
Apresentam clínica similar à que ocorre em bovinos. Apresentam pneumonia, tosse, dispneia, emagrecimento progressivo, diarreia ocasional e aumento dos linfonodos mesentéricos. Os animais vão a óbito decorrente da evolução do quadro respiratório.
· Diagnóstico
· Em cães e gatos: 
O diagnóstico é baseado nos achados clínicos-epidemiológicos e exames laboratoriais. 
Epidemiologia (M. tuberculosis e M. bovis): Envolvimento com outros reservatórios ou fontes de infecção, por exemplo humanos na mesma residência portador de M. tuberculosis. 
Achados hematológicos: Inespecíficos, apresentando leucocitose por neutrofilia, monocitose e anemia. Devido aos processos de inflamação granulomatosas, detecta-se níveis de hipercalcemia.
Tuberculinização em pets: Não se encontra muitas informações no Brasil. Basicamente não se tem antígenos apropriados para cães e gatos.
Diagnóstico por imagem (US e RX): Observa-se linfoadenomegalia, infiltrados intersticiais pulmonares, massas abdominais, granulomas calcificados. 
· Bovinos e bubalinos: 
É complexo pois envolvem leis, maior número de animais, e também considerando que o bovino é fonte de alimentação para humanos. Doença de notificação obrigatória.
Deve ser considerada associada à suspeita clínica (animais com emagrecimento progressivo, linfoadenopatias, sintomas respiratórios e queda de produção leiteira), o aspecto sanitário da propriedade, se satisfatório ou deficiente.
Tuberculinização bovina: 
É um teste alérgico-cutâneo, baseia-se na hipersensibilidade tardia tipo 4. Só pode fazer o teste médicos veterinários habilitados pelo ministério da agricultura (curso de habilitação).
Deve seguir a instrução normativa SDA n° 10, de 3/03/2017.
Se utiliza derivados proteicos purificados (PPD) de cepas de M. bovis AN5 ou do M. avium.
Em bovinos de corte se usa somente a tuberculinização bovina em prega caudal enquanto que em rebanho bovino leiteiro se utiliza primeiro a tuberculinização simples, depois se positivo, o teste intradérmico cervical duplo comparativo, para poder discernir se aquela reação positiva foi por um PPD de um M. bovis ou por um PPD de um M. ambiental. 
Animal é considerado positivo quando há formação de granuloma após o teste.
Nem sempre o animal positivo para tuberculina se irá encontrar grandes massas nodulares ou abcessos. Geralmente apresenta complexo primário calcificado no linfonodo de entrada – animal reagiu e conseguiu parar a infecção ali mesmo não tendo evolução da doença.
Achados anatomopatológicos:
Granulomas e pus caseoso na traqueia e na cavidade torácica quando se tratar de tuberculose pulmonar.
Granulomas podem também estar presente no parênquima pulmonar e nos linfonodos mediastínicos.
Lesões similares podem ser observadas na cavidade abdominal quando se tratar de tuberculose generalizada ou de envolvimento digestivo com presença em fígado, linfonodos, e na glândula mamária.
· Métodos moleculares
Geralmente feito por laboratórios credenciados.
O diagnóstico direto pode ser realizado também por PCR convencional ou QPCR seja na colônia ou em espécimes clínicos. Os produtos da amplificação devem ser sequenciados para obtenção da espécie envolvida na lesão.
O gene mais comumente empregado para a detecção é o que codifica a proteína de choque térmico de 65kda (hot shock proteín – hsp65) qual permite a identificação dos microorganismos pertencentes ao complexo M. tuberculosis.
· Diagnóstico diferencial
Em razão da diversidade de sinais e órgãos acometidos, várias enfermidades devem ser consideradas no diagnóstico diferencial entre infecções por micobacterias de cães e gatos = Pneumonias bacterianas, virais e micóticas; sarcoidoses; neoplasias; doenças linfoploriferativas; nocardioses; prototecoses; dermatofitoses; criptococoses; actinomicoses; abscessos; esporotricoses; infecções bacterianas crônicas; demodicose generalizada; paniculite nodular estéril e complexo granuloma eosinofílico.
Entre bovinos, o principal diagnóstico diferencial é com a infecção pelo vírus da leucose bovina, embora linfomas nãovirais, e outras infecções que causam granulomas devem ser consideradas.
· Tratamento
Animais de produção: Não recomendada. Seguir orientações do MAPA (abate ou descarte). Atualmente o frigorifico consegue aproveitar a carcaça que não tiver com lesão.
Animais de companhia: Não recomendada devido ser um difícil tratamento e longa duração. Ainda sim se o ppt optar por fazer tratamento deve haver acordo entre médico veterinário e o responsável pelo pet (declaração). Terapia antimicrobiana de longa duração (6 a 9 meses) com fármacos controlados. Sempre com associação de isoniazida, rifampicina, pirazinamida (M. bovis resistente) e etambutol. Considerar toxicidade em virtude da duração do tratamento. Em caso de micobacteriose de rápido crescimento, como pelos agentes do complexo MAC, que causam lesões cutâneas em gatos, pode fazer excisão cirúrgica seguida de antimicrobianos.
· Controle e profilaxia
Atenção com animais em contato com humanos ou rebanhos positivos para os agentes.
Desinfecção do ambiente: Calor (>65°C por >30 minutos), luz solar direta ou ultravioleta, hipoclorito de sódio a 5%, fenol a 5%, formaldeído a 3% e cresol a 5%. Instrumentos médicos ou cirúrgicos podem ser desinfectados com glutaraldeido 2%, iodóforos 0,0005 a -0,01%, etanol 70-90%, cloro 0,1% ou peróxido de hidrogênio 6%.
Para bovinos seguir Instrução Normativa DAS n°10, de 3/03/2017. Capítulo 9: Animais reagentes positivos a tuberculina tem que ser marcados com ferro candente ou nitrogênio liquído, no lado direito da cara com ‘P’ de positivo. Notificação ao MAPA. Isolamento e abate. Fazer saneamento da propriedade. A propriedade será registrada no mapa como uma propriedade foco/fonte de infecção, sendo que a cada 60 dias deve-se proceder o teste de tuberculinização do rebanho e após três testes negativos o rebanho é considerado livre, podendo retornar a comercialização.

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