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2 Fisioterapia – Desmame Ventilatório FISIOTERAPIA PNEUMOFUNCIONAL E UTI DESMAME VENTILATÓRIO Figura 1.0 - Fonte: www.google.com/imagens INTRODUÇÃO A ventilação mecânica é fundamental na manutenção das trocas gasosas e da vida em pacientes com insuficiência respiratória aguda, entretanto a sua duração está diretamente associada ao aumento da incidência de complicações, tais como: pneumonia associada ao ventilador, lesão pulmonar induzida pela ventilação, trauma de vias aéreas, uso excessivo de sedativos, complicações hemodinâmicas e fraqueza muscular, que levam ao aumento da morbidade e mortalidade, do tempo de internação e, como consequência, dos custos hospitalares. A retirada prematura do suporte ventilatória invasivo também é prejudicial, aumentando o risco de reintubação, com simultâneo aumento da morbidade e mortalidade. 3 Fisioterapia – Desmame Ventilatório CRITÉRIOS PARA O INÍCIO DO DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA Para o sucesso do desmame da ventilação mecânica, é fundamental que haja a recuperação total ou parcial do evento que levou à falência respiratória, sendo importante uma avaliação clínica cuidadosa e frequente para a determinação exata do momento no qual o paciente estará apto para iniciar a retirada do suporte ventilatório e, posteriormente, ser extubado. Os critérios usados para decidir se um paciente está recuperado o suficiente para tolerar a retirado do suporte ventilatório não estão claramente definidos e variam entre os estudos. Geralmente, são usados combinações de critérios subjetivos e objetivos para avaliação dos sistemas respiratório, cardiovascular, neurológico, equilíbrio acidobásico, presença de distúrbios eletrolíticos e, algumas situações, a força muscular. é importante salientar que, eventualmente, alguns pacientes que não apresentam todos os critérios sugeridos são extubados com sucesso. Parâmetros Critérios Nível de consciência Glasgow ≥I2 e drive respiratório estável Oxigenação PaO2/FiO2 ≥ I 50-200 com PEEP ≤ 5-8 cmH2O Ventilação pH 7,30 e VC 5 mL/KG E FR ≤ 35 (ou FR/VC ≤ 105) com CPAP = 5-8 cmH2O ou PS + PEEP (5-8/5-8 cmH2O) Estabilidade hemodinâmica PA sistólica 90 mmHg, mesmo com uso de baixas doses de drogas vasoativas (dopamina ou dobutamina ≤ 5 ug/kg/ min), ausência de arritmias complexas ou anginas instáveis. Equilíbrio acidobásico 7,3 ≥ pH ≤ 7,6 Equilíbrio hidreletrolítico Potássio, magnésio, cálcio e fósforo normais. Tabela 1.0 - Critérios para avaliar o início do desmame da ventilação mecânica Pao2: pressão parcial de oxigênio arterial; FiO2: fração inspirada de oxigênio; PEEP: pressão expiratória final positiva; FR: frequência respiratória; VC: volume corrente; CPAP: pressão positiva contínua nas vias aéreas; PS: pressão de suporte. 4 Fisioterapia – Desmame Ventilatório Deve-se realizar diariamente uma busca ativa de pacientes que preencham os critérios acima, pois são candidatos potenciais para iniciar o processo de retirada da ventilação mecânica. A presença de todos os critérios não é suficiente para a extubação, mas sugere uma estabilidade clínica, sendo o primeiro passo para o início do desmame. Posteriormente, é necessária uma avaliação mais específica antes de se decidir pela descontinuação da ventilação mecânica e pela extubação. TESTE DE VENTILAÇÃO ESPONTÂNEA Avaliações mais específicas feita com o paciente recebendo suporte ventilatório mínimo ou em respiração espontânea em tubo T durante determinado período de tempo fornecem informações importantes a respeito do potencial de descontinuação do suporte ventilatório. Os referidos exames são denominados testes de ventilação espontânea e mostram-se eficazes, seguros e geralmente abreviam o tempo de desmame, como tem sido demonstrado em vários estudos a serem descritos. Os testes de ventilação espontânea podem ser realizados em tubo T, com níveis baixos de pressão positiva contínua ou expiratória (CPAP/PEEP de 5 a 8 cmH2O) ou com níveis baixos de pressão suporte (5 a 8 cmH2O) e apresentam resultados semelhantes. Devem ter duração de 30 a 120 minutos a ser cuidadosamente monitorados, sendo precedidos de um curto período de screening, durante o qual uma relação FR/VC > 105 prediz a falência do teste. Os pacientes com auto-PEEP significativo podem ter seu trabalho respiratório reduzido com a adição de PEEP externo ou CPAP, que apresenta melhor desempenho do que em testes com tubo T. Critérios para falência do teste de ventilação espontânea FR / VC > 105 SaO2 < 90% FR < 35 FC 20% de +/- em relação ao basal PAS > 180 ou < 90 Alteração do nível de consciência Agitação ou sonolência Sinais de aumento excessivo do trabalho respiratório Ansiedade, sudorese, uso de musculatura acessória Tabela 1.1 FR: frequência respiratória; SaO2: saturação arterial de oxigênio; FC: frequência cardíaca; PAS: pressão arterial sistólica; VC: volume corrente. 5 Fisioterapia – Desmame Ventilatório Os pacientes que toleram um teste de ventilação espontânea podem ser considerados aptos para retirada do suporte ventilatório e para a extubação, entretanto a falência da extubação pode ocorrer não só por incapacidade do paciente de satisfazer suas demandas ventilatórias (falta do suporte ventilatório), mas também por incapacidade de proteger as vias aéreas superiores e manipular adequadamente as secreções ou, ainda, por obstrução de vias aéreas superiores e manipular adequadamente as secreções ou, ainda, por obstrução de vias aéreas superiores (falta da prótese ventilatória), o que tornou necessária uma avaliação cuidadosa antes da extubação, mesmo após o paciente tolerar o teste de ventilação espontânea. USO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA RETIRADA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA Uso da ventilação não invasiva para facilitar a retirada da ventilação mecânica - desmame precoce (ventilação não invasiva facilitadora). Recomenda- se o uso da VNI como facilitadora de retirada da VM de forma precoce em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mesmo naqueles que não passaram no teste de ventilação espontânea desde que sob adequada condição clínica. O paciente deve ser conduzido em centros com experiência no uso de VNI (Fig. 1.1). Figura 1.1 - Fonte: art 6 Fisioterapia – Desmame Ventilatório Deve-se fazer uso de VNI imediatamente após a extubação, de forma preventiva, em pacientes selecionados como de maior risco, especialmente nos hipercápnicos. O uso da VNI em pacientes que desenvolve insuficiência respiratória pós- extubação é controverso, sendo que os dois estudos realizados até o momento não mostraram vantagens do uso da VNI nesta situação. Há um aumento do tempo médio para reintubação e da mortalidade no grupo que usou a VNI, comprovando que o uso da VNI na insuficiência respiratória pós-extubação pode ser deletério se levar a um retardo na reintubação. Nessa situação a VNI só deve ser utilizada com muita cautela e sob intensa vigilância, por um período de tempo inferior a duas horas, devendo ser interrompido e o paciente intubado, se não houve uma melhora substancial nesse período. A FALÊNCIA DO DESMAME OU ‘’DESMAME DIFÍCIL’’ O desmame da ventilação mecânica depende da força dos músculos respiratórios, da carga aplicada a eles e da sua ativação pelo drive respiratório. O desequilíbrio entre essas três partes leva ao insucesso do desmame. O mais provável é que o aumento da carga ventilatória e a fraqueza muscular ocorram juntos na maioria dos casos, podendo ser agravada por uma depressão ou ativação exagerada do drive respiratória. Fatores determinantes da falência do desmame Drive respiratório Sedação e analgesia Hipercapinia Rebaixamento do nível de consciência Hipertensão intracraniana Forças dos músculos respiratórios Distúrbios hidreletrolíticos (hipotassemia, hipomagnesemia, hipofosfatemia, hipocalcemia) Polineuropatia/miopatia Sepse Atrofia muscular Carga imposta aos músculos respiratórios Hiperinsuflação Broncoespasmo Congestão pulmonar/hipervolemia Fibrosepulmonar Tabela 1.2 7 Fisioterapia – Desmame Ventilatório Na grande maioria dos casos, a falência do desmame é causada por vários fatores concomitantes, visto que todos os esforços devem ser feitos para se identificar e corrigir as possíveis causas que levam à dependência do ventilador. Adiante, demonstram-se os passos a serem seguidos na abordagem de pacientes com sucessivas falhas no desmame da ventilação mecânica: • Determinar e corrigir as possíveis causas da dependência ventilatória; • Garantir períodos de repouso muscular adequado; • Garantir ajustes adequados do ventilador; • Corrigir distúrbios eletrolíticos e acidobásicos; • Corrigir hipervolemia; • Remoção adequada de secreções; • Uso de broncodilatadores, se necessário; • Tamanho adequado do tubo traqueal; • Garantir suporte nutricional adequado; • Desenvolver um plano de desmame e informar ao paciente do seu progresso; • Motivar o paciente e promover estímulos ambientais; • Garantir sono adequado; • Considerar traqueostomia; • Apoio familiar. A fisioterapia precoce e a mobilização passiva devem ser realizadas nos pacientes em ventilação mecânica e também durante o processo de retirada. Essas atividades são consideradas seguras e estão associadas a melhores resultados funcionais e menor tempo de ventilação mecânica. O treinamento muscular inspiratório pode ser considerado em pacientes que falharam no desmame, com o objetivo de elevar a PImax e facilitar a retirada do suporte ventilatório. 8 Fisioterapia – Desmame Ventilatório REFERÊNCIAS 1. Azevedo, Luciano. et., al. Medicina intensiva: abordagem prática - Barueri, SP: Manole, 2013 2. Martin AD, Smith BK, Davenport PD, Harman E, Gonzalez-Rothi RJ, Baz M, et., al. Inspiratory muscle strenght training improves weaning outcome in failure to wean patients: a randomized trial. Crit Care. 2011. 3. Gosselink R, Bott J, Johnson M, Dean E, Nava S, Norrenberg M, et., al. Physiotherapy for adult patients with critical illness: recommendations of the European Respiratory Society and European Society of Intensive Care Medicine Task Force on Physiotherapy for Critically Ill Patients. Intensive Care Med. 2008 4. Rivers E, Nguyen B, Havstad S, Ressler J, Muzzin A, Knoblich B, Peterson E, Tomlanovich M; Early Goal-Directed Therapy Collaborative Group. et., al. Early goal-directed therapy in the treatment of severe sepsis and septic shock. N Engl J Med. 2001. 5. BARBAS, Carmen Sílvia Valente et., al. Recomendações brasileiras de ventilação mecânica 2013. Parte 2. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo, v.26, n.3, p.215- 239, Sept. 2014.
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