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GRAVIDEZ ECTÓPICA REZENDE + MEDCURSO LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO GRAVIDEZ ECTÓPICA (ECTOCIESE) Ocorre quando o ovo se implanta fora do útero (tubas, ovário, abdome). O blastocisto normalmente implanta-se na superfície endometrial da cavidade uterina, qualquer implantação fora desse local é denominada prenhez ectópica. Pode ser denominada também de gravidez extrauterina. Incidência de 1,5-2% das gestações. Sendo a incidência maior em mulheres que já tenham concebido. É uma patologia que ameaça a vida da paciente. Entre os possíveis locais da gravidez ectópica, a gravidez tubária é a mais frequente (>95%). Aproximadamente 60% das mulheres que tiveram gravidez ectópica são capazes de apresentar gravidez uterina. FATORES DE RISCO SÃO ELES: Cirurgia tubária prévia Gravidez tubária anterior 10% em única tubária anterior 25% naquelas com dois ou mais acidentes Exposição in útero ao dietilestilbestrol (DES) História de DIP História de infertilidade História de cervite por clamídia ou gonococo Anormalidade tubária documentada Endometriose Ligadura tubária Uso atual de dispositivo intrauterino Em caso de falha, a chance da gravidez instalar-se fora da cavidade uterina é maior do que nas pacientes usuárias de outros métodos ou não usuárias de qualquer método O DIU altera a função tubária, do muco cervical e do endométrio, não interferindo na ovulação OBS: A concepção com o DIU ou após a ligadura tubária é rara, mas estima-se que 25-50% dessas gestações sejam ectópicas. OBS2: A fertilização in vitro também eleva o risco de ectopia, mesmo em mulheres sem lesão tubária. OBS3: Mulheres com uma das tubas uterinas removida, apresentam risco aumentado para a gravidez ectópica na tuba remanescente. OBS4: Outros fatores citados como associados ao risco de gravidez ectópica são mulheres acima dos 35 anos, raça negra, falha de anticoncepcional a base de progestógenos, primeira relação sexual com menos de 18 anos, tabagismo, uso frequente de duchas vaginais, etc. OBS5: Estima-se que em cerca de 50% dos casos nenhum fator de risco pode ser identificado. PATOLOGIA A gravidez ectópica pode ser: Primitiva: A nidação ocorre e prossegue em zona única do aparelho genital Secundária: Após implantar-se em um lugar, o ovo se desprende do aparelho genital e continua o seu desenvolvimento em outro lugar A PRINCIPAIS FORMAS ANATOMOPATOLÓGICAS SÃO: Gravidez tubária Gravidez abdominal Gravidez ovariana Gravidez cervical Gravidez em cicatriz de cesárea OBS: Na verdade, a gravidez cervical e a gravidez e, cicatriz de cesárea constituem tipos de gravidez heterotópica, mas o quadro clínico e o tratamento guardam alguma analogia com a gravidez ectópica. OBS2: Gestação heterotópica Presença de concomitância entre gestação intrauterina e ectópica. LOUISE CANDIOTTO 2 GRAVIDEZ TUBÁRIA Representa 95% das gestações ectópicas. O ovo fertilizado pode se alocar em qualquer posição da tuba uterina: Gravidez tubária ampular A ampola é o local mais frequente(80%) Gravidez tubária ístimica 12% Gravidez tubária intersticial/ cornual 2-3% Gravidez tubária fimbriaria Implantação na extremidade fimbrial 11% Os sintomas iniciais da gravidez tubária são inespecíficos e o diagnóstico pode não ser realizado em um primeiro momento. Com sua evolução, a prenhez tubária pode se manifestar por rotura tubária. RUPTURA TUBÁRIA: Usual na gravidez ístmica Ocorre intensa hemorragia interna ABORTAMENTO: O abortamento tubário depende, em parte, do local de implantação Comum na gravidez tubária ampular GRAVIDEZ INTRALIGAMENTAR: Quando a ruptura ocorre no local da tuba uterina não coberto pelo peritônio O saco gestacional pode se desenvolver entre os folhetos do ligamento largo, constituindo gravidez intraligamentar GRAVIDEZ INTERSTICIAL: A implantação dentro do segmento tubário que penetra a parede uterina em gravide intersticial ou cornual A ruptura ocorre com sangramento massivo, e muitos casos são fatais GRAVIDEZ HETEROTÓPICA: A gravidez tubária quando coexiste com gestação intrauterina, é chamada de heterotópica (ou combinada) Mais comum com as fertilizações in vitro GRAVIDEZ ABDOMINAL Cerca de 1% das ectocieses. Representa risco de morte materna 7,7 vezes superior ao da gravidez tubária e 90 vezes mais elevado do que o da gestação intrauterina. Mais frequente de forma secundária a ruptura ou ao abortamento tubário O ovo pode se implantar em qualquer ponto do abdome e nos diferentes órgãos revestidos pelo peritônio visceral. Poucas sobrevivem na cavidade abdominal e avança, além do 2° trimestre de gestação. A pré-eclampsia pode ocorrer em cerca de 1/3 das gestações abdominais. A sobrevida perinatal é a exceção, com cerca de 80-90% de mortalidade. O feto que nasce vivo frequentemente é malformado. Os casos de prenhez abdominal se associam a elevados riscos de hemorragias maternas, infecções e obstrução intestinal ou de vias urinárias, com índices de mortalidade materna referidos em até 20% dos casos. A retenção prolongada, com conservação de certa quantidade de líquido amniótico, é conhecida como “cisto fetal”. Com o tempo, o feto macera-se pela reabsorção progressiva de líquido amniótico, desseca-se por desidratação (mumificação), e pode sofrer saponificação, isto é, transformação de músculos e partes moles em massa constituída por ácidos graxos, sabões (lipocere ou adipocere). A reabsorção total das partes moles (esqueletização) e a deposição calcária no feto (litopédio) e nas membranas (litoquélifo) são as etapas finais do processo. LOUISE CANDIOTTO 3 GRAVIDEZ OVARIANA Representa 3% das gestações ectópicas. Forma primitiva é muito rara. Em grande parte dos casos ocorre rotura precoce do órgão. Na gravidez ovaria pode ocorrer: Ruptura com reabsorção ovular Evolução mais frequente Ruptura evoluindo para um tipo secundário Abdominal A continuação da gravidez até a viabilidade fetal é fato extremamente raro. Características de uma gravidez ovariana (Critérios de Spiegelberg): 1. Trompa intacta no lado afetado 2. O saco gestacional deve ocupar a topografia ovariana 3. O útero deve estar conectado a gravidez pelo ligamento ovariano 4. Deve haver tecido ovariano na parede do saco gestacional O sintoma mais frequente é dor pélvica crônica. GRAVIDEZ CERVICAL Implantação do ovo no canal cervical. Forma pouco usual de ectopia (<1%). Quanto mais alta, ou seja, mais perto do istmo, for a implantação, maiores as chances do embrião se desenvolver e causar hemorragia. Geralmente provoca sangramento vaginal indolor. Ao exame físico observa-se um colo alargado ou distendido de coloração hiperemiada ou cianótica. Raramente ultrapassa as 20 semanas, pois quase sempre necessita de intervenção cirúrgica devido ao sangramento. Os critérios diagnósticos para prenhez cervical incluem: 1. As glândulas cervicais devem estar presentes no lado materno da placenta 2. A placenta deve estar ligada intimamente à cérvice 3. A não existência de elementos fetais no corpo uterino 4. A placenta deve estar localizada abaixo da entrada dos vasos uterinos ou abaixo da reflexão peritoneal na superfície anteroposterior do útero A ultrassonografia revela útero vazio, canal cervical aumentado com imagem de SG exibindo embrião em seu interior, com ou sem batimentos cardíacos. GRAVIDEZ DE CICATRIZ DE CESÁREA Forma mais rara de ectopia (<1%). Critérios sonográficos transvaginais para caracterizar a gravidez em cicatriz de cesárea: Cavidade uterina e canal cervical vazios Visualização do SG embebido na cicatriz da cesárea Presença de embrião e/ou vesículaviterlina (VV), com ou sem batimentos QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Prenhez ectópica deve ser suspeitada em toda paciente que se apresente com dor pélvica aguda com atraso ou irregularidade menstrual. A história de atraso menstrual sempre deve ser investigada, embora esteja ausente em 1/3 dos casos Pacientes com gravidez tubária rota exibem quadro clínico de choque, incluindo hipotensão, taquicardia e dor à palpação e devem ser tratadas em bases emergenciais. Antes da ruptura, a maioria das pacientes apresenta-se com manifestações inespecíficas que podem mimetizar quadro de abortamento. O quadro clínico pode ser bastante variável. SINAIS E SINTOMAS: Hemorragia de 1° trimestre De sangue escuro ou claro, que raramente excede o fluxo menstrual normal Dor abdominal ou pélvica Pode ser leve a debilitante Muitas vezes, o sangramento vaginal que ocorre associado à prenhez ectópica é confundido com o período menstrual normal. OBS: Mulheres com esse quadro clínico devem ser consideradas altamente suspeitas de gravidez ectópica, sendo necessário o diagnóstico definitivo. O diagnóstico de pacientes com gravidez ectópica deve ser rapidamente confirmado por USG transvaginal e dosagem de hCG. O diagnóstico diferencial que se impõe é entre gestação intrauterina viável, abortamento e gravidez ectópica. O desfecho depende, principalmente, da sua localização. LOUISE CANDIOTTO 4 ULTRASSONOGRAFIA A ultrassonografia deve visualizar imagem intrauterina de gravidez quando o beta-hCG é positivo; caso isso não ocorra, suspeita-se de gravidez ectópica. O diagnóstico é reforçado pela presença anexial de anel tubário e massa complexa anexial com líquido livre na cavidade peritoneal ou pelo sinal do halo. O anel tubário pode ser percebido em cerca de 70% dos casos de prenhez ectópica e consiste em um anel apresentando centro anecoico e periferia com ecogenicidade aumentada. Em seu interior, em raras situações pode ser visualizado o embrião O sinal do halo consiste em halo anecoico ao redor do anel tubário, que representa edema da subserosa da tuba uterina OBS: A ultrassonografia na investigação de prenhez ectópica (PE) é um exame que deve ser sempre realizado com cautela e por examinador experiente, uma vez que um pseudossaco gestacional em pacientes com PE pode ser confundido com uma gestação tópica. DOSAGEM DE GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA Este hormônio é uma glicoproteína produzida pelo sinciciotrofoblasto que previne a involução do corpo lúteo, principal sítio de produção da progesterona durante as primeiras 6-7 semanas. A produção do hCG cresce exponencialmente após o início da gestação, sendo um marcador preciso de atividade trofoblástica. Um beta-hCG negativo afasta a possibilidade de PE, uma vez que não há, por definição, prenhez sem elevação do beta-hCG. Níveis de beta-hCG acima de 1.000 UI/L asseguram a presença de gestação em 95% dos casos. LIMITE DISCRIMINATÓRIO: Alguns pesquisadores descreveram os níveis discriminativos de B-hCG acima dos quais a incapacidade de visualizar uma gestação intrauterina indica que o concepto não está vivo ou tem localização ectópica Limite no qual pode-se diferenciar uma gravidez ectópica e uma gravidez normal Há divergências na literatura USG transvaginal 1500 mUI/mℓ Barnhart e colaboradores (1994) MEDCURSO >3000 mUI/mℓ Limite discriminatório mais fidedigno para diagnosticar a ectopia em gravidez de localização desconhecida REZENDE USG abdominal 6.500 mUI/mℓ Valores acima desses níveis, tornam obrigatórias a visualização de imagem de saco gestacional na USG Caso não visualizada, duspeita-se de gestação ectópica OBS: Esses valores da USG transvaginal possuem muitas divergências na literatura. Basicamente, o valor acima de 1500 já assegura uma grande chance de ser uma gravidez ectópica, porém, valores acima de 3000 são mais fidedignos segundo pesquisas mais recentes. OBS2: Devido a conclusão de valores acima de 3000 para USG vaginal, torna-se imprudente, por exemplo, indicar o tratamento médico com MTX se o valor do hCG for de 2.000 a 3.000 mUI/mℓ. Quando não há imagem característica a USG, deve-se repetir o beta-hCG de forma seriada para diferenciar de quadro de abortamento. Se houver diminuição progressiva do beta-hCG, provavelmente é um quadro de abortamento. Se a elevação persistir, mesmo que lentamente, um novo exame de imagem deverá ser realizado após alguns dias. Em 85% das gravidezes intrauterinas viáveis, o beta-hCG cresce no mínimo 66% em 48h. Um aumento de menos de 50% em 48h é quase que invariavelmente associado à gravidez não viável, embora um crescimento normal de beta-hCG não descarte uma prenhez ectópica. LAPAROSCOPIA Está indicada em todos os casos onde não foi possível esclarecer o diagnóstico através de outros meios complementares como, por exemplo, quando a ultrassonografia foi inconclusiva. É, em geral, reservada para o tratamento da gestação ectópica, e não apenas para fins diagnósticos. FORMAS CLÍNICAS Podem ser bastante variadas. PRINCIPAIS: Subaguda Aguda Abdominal Formas da gravidez tubária LOUISE CANDIOTTO 5 SUBAGUDA É a forma clínica mais comum 70% dos casos. O ovo é habitualmente localizado na ampola tubária. Nestes casos, não ocorre rotura tubária, e a separação parcial do trofoblasto e da placenta decorrente da distensão da trompa ocasiona perda sanguínea para a cavidade abdominal. O crescimento do saco gestacional ectópico e distensão da trompa provocarão o desconforto abdominal. São os casos de abortamento tubário, onde geralmente a gravidez se situa na porção ampular da trompa. O hematoma formado na ampola tubária pode determinar abortamento completo, com eliminação do ovo. Porém, em geral, a separação é incompleta, pois o trofoblasto fica aderido à camada muscular da trompa provocando hemorragia intraperitoneal persistente, a qual é menos intensa que nos casos de rotura. Ao se coagular o sangue intraperitoneal, uma substância irritante, possivelmente a serotonina, é liberada e provoca dor abdominal baixa (hipogástrio). Constituem outros sinais de irritação peritoneal: Náuseas e vômitos Estado subfebril Distensão do ventre Leucocitose moderada (10 a 12 mil/mm3) Abdome doloroso à palpação A paciente exibe quadro clínico compatível com discreta hemorragia interna Lipotimia, taquisfigmia moderada (até 90 bpm), mucosas descoradas, pressão arterial ainda normal. Em 1/3 das histórias de pacientes com gravidez ectópica não existe referência à amenorreia. O atraso menstrual é encoberto por hemorragia vaginal, concomitante com morte ovular e início de separação da decídua. O EXAME GINECOLÓGICO (toque combinado) Revela ocupação (sangue coletado) e dor à pressão do fundo de saco posterior (grito do Douglas), além da moléstia e desconforto decorrentes da manipulação da cérvice. USG A gravidez tubária pode apresentar diversos aspectos na USG Massa complexa (60%) Anel tubário (20%) Anel tubário com embrião, com ou sem BFC (13%) O SG é o primeiro sinal ultrassonográfico de uma gravidez intrauterina, inicialmente ele não contém nenhum eco em seu interior, e portanto, é difícil diferencia-lo do pseudossaco, que é uma coleção de líquido em 15% das gestações ectópicas A visualização na USG transvaginal de SG intrauterino praticamente afasta a gravidez ectópica, exceto em pacientes com ovulação induzida e concepção assistida AGUDA Geralmente, a forma aguda corresponde à ruptura tubária (30% dos casos). A ruptura pode ocorrer em qualquer porção da trompa. Em geral, quando a ruptura ocorre nas primeiras semanas de gestação, a prenhez se localiza na porção ístmica da trompa, local mais comum das roturas. Com a localização habitual do ovo noistmo da tuba uterina, a ruptura ocorre com intensa hemorragia intraperitoneal. A paciente refere dor violenta, em punhalada, na fossa ilíaca ou no hipogástrio. Ao deitar-se, o sangue intra-abdominal pode ascender ao diafragma, irritar o nervo frênico e determinar dor escapular (Sinal de Laffon), sinal expressivo e constante, geralmente no lado direito. A paciente, nesse caso, apresenta-se em estado de choque Palidez, sudorese, extremidades frias, pulso fino e rápido, hipotensão. A palpação do abdome é dolorosa com Blumberg positivo. O sangramento vaginal está presente em grande parte dos casos e deriva da interrupção do suporte hormonal ao endométrio após a rotura da tuba. A hemorragia é em geral escassa e escurecida, podendo ser intermitente ou contínua. Ao exame ginecológico, existe dor à mobilização do colo uterino e abaulamento e dor no fundo de saco de Douglas (sinal de Proust). Esse abaulamento é resultado do acúmulo de sangue intra- abdominal no fundo de saco posterior (hematocele de Douglas), causando sensação de peso no reto e na bexiga e dor à defecação e à micção. OBS: As alterações hemodinâmicas encontradas geralmente são mais graves do que o sangramento exteriorizado, ou seja, a paciente pode apresentar sinais de choque sem apresentar sangramento externo importante. ABDOMINAL Como a gravidez tubária pode ser um antecedente comum da gravidez abdominal, deve-se tentar identificar história sugestiva de retrospecto. O diagnóstico de gravidez abdominal é difícil. A paciente queixa-se de: Dor abdominal Náuseas Vômitos Palpação Revela apresentação transversa, oligodrâmnia, colo deslocado. O diagnóstico é confirmado pelo exame de imagem. LOUISE CANDIOTTO 6 TRATAMENTO A conduta na gravidez ectópica depende de algumas variáveis: Estabilidade hemodinâmica Integridade da trompa Desejo de nova gravidez Características do saco gestacional Acesso a diferentes terapias GRAVIDEZ TUBÁRIA O tratamento da gravidez tubária pode ser: Cirúrgico Médico Expectante CIRÚRGICO Laparotomia: Reservada para os casos agudos, pacientes hemodinamicamente instáveis e com hemoperitônio Além do tratamento do choque, a cirurgia tubária radical por meio da salpingectomia é indicada Laparoscopia: Padrão ouro na maioria dos casos O tratamento cirúrgico da trompa pode ser conservador (salpingostomia) ou radical (salpingoectomia) Salpingostomia: Tratamento cirúrgico conservador Consiste na enucleação do ovo com conservação da trompa que é deixada aberta para que a cicatrização ocorra por segunda intenção A salpingostomia está indicada: Primeira opção para a paciente que apresentar trompa contralateral doente Paciente que quiser ter filhos futuramente Na ectopia tubária de pequenas dimensões, em geral localizada na porção ampolar da trompa e que se apresenta íntegra Uma das principais desvantagens do tratamento conservador é o risco de tubária persistente, em face da permanência de tecido trofoblástico após a salpingostomia Nesses casos estaria indicado o uso profilático de metotrexato (MTX) Após a salpingostomia, quase 10% das pacientes apresentam o quadro de gravidez ectópica persistente, e, por isso, devem ser seguidas até o valor do β-hCG atingir 5 mUI/mℓ Salpingectomia: Tratamento cirúrgico radical Retirada da trompa acometida Pode ser necessária em mulheres: Com sangramento incontrolável Com gravidez ectópica recorrente na mesma tuba Com tuba uterina muito lesada ou SG>5cm A salpingectomia é a melhor indicação para mulheres nas quais a trompa contralateral é normal, pois determina menos complicações que a salpingostomia e a fertilidade futura é a mesma em ambos os procedimentos cirúrgicos TRATAMENTO MÉDICO Tratamento com metotrexate (MTX): A droga de escolha é o metotrexate, um antagonista do ácido fólico que interfere na produção de purinas e pirimidinas, interferindo na síntese do DNA e RNA, e, consequentemente, na multiplicação celular A atividade do trofoblasto é altamente vulnerável ao metotrexate LOUISE CANDIOTTO 7 Indicações: Quadro clinico estável Diagnóstico definitivo Hcg <5000 Mui/ML Aumento de hCG< 50% em 48h Saco gestacional <3,5cm Atividade cardíaca fetal ausente Liquido livre no peritônio ausente/moderado Protocolo para utilização do MTX em dose única: Dose única de MTX 50 mg/m2 IM (dia 1) Mensuração do β-hCG nos dias 4 e 7 pós-tratamento Verificação da queda do β-hCG ≥ 15% entre os dias 4 e 7 Mensuração semanal do β -hCG até atingir o nível não gravídico (< 5 mUI/mℓ) Se a queda do β-hCG for < 15%, deve- se administrar a 2a dose de MTX (50 mg/m2 IM) e realizar o β-hCG nos dias 4 e 7 após a repetição do MTX. Isso pode ser repetido se necessário Se durante o seguimento semanal com o β-hCG o nível se elevar ou estacionar, deve-se considerar a repetição do MTX Em geral, uma segunda dose de MTX é necessária em 15-20% das pacientes Contraindicações: Aleitamento, Imunodeficiência Alcoolismo Doença renal ou hepática Discrasias sanguíneas Doenças pulmonares ativas Úlcera péptica Hemorragia intra-abdominal ativa Hipersensibilidade à droga Pacientes com indicação de conduta expectante Efeitos colaterais: Náuseas, vômitos, diarreia, estomatite, elevação transitória das transaminases, supressão de medula óssea, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, neurotoxicidade, dermatite, fibrose pulmonar, alopecia e dor abdominal Deve-se acompanhar a paciente incluindo a solicitação e avaliação de hemograma completo, coagulograma e funções renais e hepáticas TRATAMENTO EXPECTANTE Reservado para um grupo seleto de pacientes (10- 15%) com quadro clínico estável, B-hCG declinante e com nível inicial <1000 a15000 Mui/ML LOUISE CANDIOTTO 8 GRAVIDEZ CERVICAL QUADRO CLÍNICO INSTÁVEL: Quadro clínico for instável, hemorrágico, É valido tamponar a vagina ou colocar um cateter de Foley de 30 ml insuflando para 100ml, enquanto aguar histerectomia, único tratamento possível QUADRO CLÍNICO ESTÁVEL: Existem duas possibilidades: MTX sistêmico IM, 1mg/Kg caso não houve bcf MTX intraovular, na mesma dose, quando houver bcf O acompanhamento será feito com a dosagem do bhCG no 4° e no 7° dia, depois semanalmente até a negativação GRAVIDEZ EM CICATRIZ DE CESÁREA As opções terapêuticas dependem odo quadro clínico. Injeção de MTX local guiada pelo USG transvaginal, seguida pela administração de MTX sistêmica, Ou, Tratamneto não invasivo com o ultrassom focado de alta-intensidade A laparotomia com histerotomia ou histerectomia está indicada nas pacientes com hemorragia ativa. Alternativa endoscópica, laparoscópica ou histeroscópica, pode ser utilizada na paciente estável. GRAVIDEZ ABDOMINAL Como a sobrevida fetal é a exceção, muitos desaconselham a conduta expectante hospitalar para aguardar a viabilidade do feto. Além disso, o risco de hemorragia que ameace a vida da paciente é elevado. Em gestações iniciais, o tratamento medicamentoso é preferível. Após esta idade gestacional, a laparotomia é o procedimento de escolha, devendo-se manter intacta a placenta para retirada em um segundo momento, após a utilização de metotrexate, visando sua involução. Tentativas intempestivas de extração placentária se associam a hemorragias profusas. O ideal é o diagnóstico antenatal da gravidez abdominal, com localização precisa da placenta pela ressonância magnética (RM), e cuidados pré-operatórios de valia, como inserção de cateteres ureterais, preparação do intestino, reserva de sangue para transfusão e equipe multiprofissional. Em contrapartida,se o diagnóstico tiver sido feito por ocasião da cesárea, muitos aconselham que o concepto seja extraído, que o abdome com a placenta deixada no lugar, se não houver hemorragia, seja fechado e que a paciente seja transferida para centro terciário. Se o sangramento puder ser dominado, deve-se optar pela dequitação completa. A placenta retida no abdome é fonte de supuração, especialmente se o MTX tiver sido administrado no pósoperatório, procedimento que contraindicamos, pois predispõe ao acúmulo de material necrosado e à infecção. GRAVIDEZ OVARIANA O tratamento inicial da gravidez ovariana integra deve ser medicamentoso. Em casos de rotura a ooforectomia parcial está indicada. Quando ocorrer sangramentos incontroláveis, uma ooforectomia total pode ser necessária. PROGNÓSTICO A fertilidade subsequente é idêntica se compararmos os tratamentos médico versus cirúrgico conservador, ou cirúrgico conservador versus cirúrgico radical. Não há diferença significativa com a permeabilidade da tuba uterina homolateral em casos de MTX sistêmico ou salpingostomia por laparoscopia. Na gravidez abdominal, a mortalidade perinatal varia de 85 a 95% e a materna gira em torno de 3%. Há malformação em cerca de 1/3 a 1/4 dos fetos cuja viabilidade é possível.
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