Buscar

A Redentora por definição

Prévia do material em texto

2
A Redentora por definição
Resumo: A Constituição Federal Brasileira de 1988 consagrou-se como típico diploma legal da Era dos Direitos[footnoteRef:1], destacando-se pelo protagonismo do Direito Constitucional sobre todos os ramos do direito e definiu os valores democráticos defendidos pelo Estado brasileiro. [1: É no livro intitulado “A era dos direitos” que encontramos grande parte da teoria de Norberto Bobbio sobre os direitos humanos que, embora não isento de críticas, pode ser considerada uma obra que trata de temas atuais sem se referir a nenhum tempo específico. Essa atemporariedade da teoria dos direitos humanos de Bobbio não deixam de ter algo de paradoxal, haja vista a sua firme defesa pela historicidade desses direitos. De qualquer forma, as atuais e futuras gerações serão sempre gratas pelos seus valiosos ensinamentos, parte dos quais serão desenvolvidos como forma de prestar uma merecida homenagem.] 
Palavras-Chave: Constituição Federal brasileira de 1988. Redemocratização.
Estado de Direito. Democracia. Federação Brasileira. Eleições.
Quando ocorreu a realização de eleições diretas para os governos estaduais no Brasil em 1982, consolidou-se o caminho para a redemocratização[footnoteRef:2] e, assim, conclui-se o ciclo iniciado com a extinção do AI-5[footnoteRef:3] como com a anistia aos perseguidos e opositores do regime militar. [2: Após mais de duas décadas de ditadura militar, o nosso país passou por um processo lento de abertura política e reintegração de instituições democráticas, em um período alcunhado de redemocratização. Enfim, a ditadura militar, instaurada em 1964, foi responsável por intensa censura e cruel opressão aos direitos democráticos. A redemocratização representou o momento na história do país em que tais direitos foram sendo reconquistados e deu-se a transição do governo militar para o governo civil. Foi a divulgação contundente dos crimes de tortura produzidos pela ditadura militar que intensificou a rejeição ao regime político. E, a fora isso, o fim do chamado "milagre econômico" notabilizado pelo relativo crescimento da economia e da majoração do poder de compra da classe média, tronou o governo ainda mais impopular. Então, se propôs uma abertura lenta, gradual e segura. Somente em 1979, o então Presidente militar João Figueiredo promoveu os seguintes atos, a saber: a revogação do AI-5; anistia aos presos políticos e exilados; fim do bipartidarismo.] [3: O Ato Institucional Número Cinco (AI-5) foi o quinto de dezessete grandes decretos emitidos pela ditadura militar nos anos que se seguiram ao golpe de estado de 1964 no Brasil. Os atos institucionais foram a maior forma de legislação durante o regime militar, dado que, em nome do "Comando Supremo da Revolução" (liderança do regime), derrubaram até a Constituição da Nação, e foram aplicadas sem a possibilidade de revisão judicial. O AI-5, o mais duro de todos os Atos Institucionais, foi emitido pelo presidente Artur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. Isso resultou na perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, intervenções ordenadas pelo presidente nos municípios e estados e também na suspensão de quaisquer garantias constitucionais que eventualmente resultaram na institucionalização da tortura, comumente usada como instrumento pelo Estado. As consequências imediatas do Ato Institucional Número Cinco foram: O Presidente da República recebeu autoridade para fechar o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas dos estados; esse poder foi usado assim que o AI-5 foi assinado, resultando no fechamento do Congresso Nacional e de todas as Assembleias Legislativas dos estados brasileiros (com exceção de São Paulo) por quase um ano; o poder de fechar forçadamente o Congresso Nacional seria novamente usado em 1977, durante a implantação do Pacote de Abril; O Presidente da República e os Governadores dos Estados passaram a assumir, durante os períodos de recesso forçado das legislaturas federais e estaduais, respectivamente, as funções do poder legislativo, impondo ao Presidente e aos Governadores legislar por meio de decretos-leis, que tiveram a mesma força e efeito que as leis aprovadas pelas legislaturas. Esse poder incluiu o poder de legislar emendas constitucionais. Uma emenda constitucional global da Constituição de 1967 do Brasil (já adotada no âmbito do regime militar) foi promulgada em 1969 (Emenda Constitucional nº 1, também conhecida como a Constituição de 1969, porque todo o texto alterado e consolidado da Constituição foi reeditado como parte da emenda), sob a autoridade transferida para o Poder Executivo pelo AI-5; A permissão para o governo federal, sob pretexto de "segurança nacional", para intervir em estados e municípios, suspendendo as autoridades locais e nomeando interventores federais para dirigir os estados e os municípios; A censura prévia de música, cinema, teatro e televisão (uma obra poderia ser censurada se fosse entendida como uma subversão dos valores políticos e morais) e a censura da imprensa e de outros meios de comunicação; A ilegalidade das reuniões políticas não autorizadas pela polícia; houve também diversos toques de recolher em todo o país; A suspensão do habeas corpus por crimes de motivação política; O poder do Presidente da República de destituir sumariamente qualquer funcionário público, incluindo políticos oficialmente eleitos e juízes, se eles fossem subversivos ou não-cooperativos com o regime. Este poder foi amplamente utilizado durante o regime militar para desocupar os assentos dos membros do partido de oposição (MDB) no poder legislativo, de modo que as eleições fossem realizadas como de costume, mas a composição do legislativo resultante das eleições era dramaticamente alterada pela cassação de mandatos de parlamentares da oposição. Isso, de facto, transformou o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras de Vereadores em um "carimbo de aprovação" das elites militares. A cassação dos mandatos de parlamentares da oposição também afetou a composição do Colégio Eleitoral do Presidente da República (sob as Constituição de 1967 e a emenda de 1969, adotadas sob o regime militar, o Presidente era escolhido por um colégio eleitoral constituído por todo o Congresso Nacional e de delegados escolhidos pelas Assembleias Estaduais). Assim, não só as eleições para o Poder Executivo foram indiretas, mas as vagas criadas na composição dos órgãos legislativos afetaram a composição do Colégio Eleitoral, que também se tornaram subordinados aos militares; O poder do Presidente de decretar a suspensão dos direitos políticos dos cidadãos considerados subversivos, privando-os por até dez anos da capacidade de votação ou de eleição; A legitimidade instantânea de certos tipos de decretos emitidos pelo Presidente, que não foram sujeitos a revisão judicial. De acordo com essas disposições, os Atos Institucionais, e qualquer ação baseada em um Ato Institucional (como um decreto que suspende direitos políticos ou remove alguém do cargo), não estavam sujeitas a revisão judicial.] 
Travou-se uma luta acirrada entre os cinco partidos políticos legais e regulares e, o resultado foi que a oposição venceu nos Estados-chave. Apesar disso, o PDS, o Partido Democrático Social ainda possuía pequena maioria no Colégio Eleitoral[footnoteRef:4] que elegeria indiretamente o Presidente da República em janeiro de 1985. [4: Coube, novamente, ao Colégio Eleitoral definir o escrutínio presidencial. Naquele momento, o Colégio Eleitoral contava com 686 membros - 356 do PDS e 330 dos partidos de oposição, entre os quais o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido dos Trabalhadores (PT).] 
Já, no início de 1983, a proposta de Emenda Constitucional por deputado do Mato Grosso, Dante de Oliveira do PMDB, propunha o restabelecimento da eleição direta para a Presidência da República. O apoio à emenda empolgou todo o país e, no final de 1983 ocorreram muitosatos públicas em defesa da emenda. Porém, só a partir de janeiro de 1984, após grandioso comício em São Paulo que a campanha "Diretas Já!" adquiriu caráter de massa.
No entanto, a dita Emenda não conseguiu ser aprovada pela Câmara dos Deputados, mas por pouco, faltaram apenas vinte e dois votos para atingir o quórum necessário que era de 320 (trezentos e vinte). Assim, a emenda de Dante nem chegou a ser votada pelo Senado brasileiro. 
A derrota da emenda contou com a participação decisiva do governo federal, dos partidários de Paulo Maluf e, ainda, do presidente do PDS, José Sarney, que pressionaram os deputados usando de todos os meios possíveis. Instaurou-se enorme frustração nacional e, a saída foi o lançamento do governador mineiro de Tancredo Neves, como candidato de oposição à Presidência da República.
Na ocasião, o especial articulador foi o governador de São Paulo, Franco Montoro[footnoteRef:5]. Foi necessário convencer Ulysses Guimarães e, para tanto foi preciso dividir o PDS, o que acabou acontecendo. Em agosto fora lançada a Aliança Democrática que era resultante entre a união do PMDB e os dissidentes do PDS. [5: André Franco Montoro (1916-1999) foi jurista e político brasileiro. Entre outros cargos, foi o vigésimo-sétimo governador do Estado de São Paulo, senador, deputado federal e Ministro do Trabalho. Publicou diversas obras jurídicas e políticas especialmente devotadas ao tema da justiça social. Em junho de 1978, Montoro apresentou no Congresso seu projeto de emenda constitucional destinado a restabelecer eleições diretas para governador e vice-governador e a suprimir a instituição do senador eleito por via indireta ou “biônico”, como passou a ser mais conhecido. Assinado por senadores e deputados, esse projeto de emenda contava ainda com a assinatura de oito senadores arenistas, mas acabou sendo rejeitado no Congresso em outubro de 1978, quando obteve 185 votos contra três, não alcançando o mínimo de votos exigidos para a sua aprovação devido à ausência da maior parte dos arenistas e de cinco emedebistas. No dia 15 desse mesmo mês, o Colégio Eleitoral elegeu João Figueiredo e Aureliano Chaves, respectivamente, para a presidência e a vice-presidência da República. Na ocasião, o MDB lançou as candidaturas do general Euler Bentes Monteiro e de Paulo Brossard para presidente e vice-presidente.] 
Havia enorme rejeição ao nome do senador do Maranhão principalmente por ser antigo apoiador do regime militar e, que, na última hora, havia rompido com a candidatura de Maluf. Ninguém jamais imaginaria que Tancredo Neves não chegaria assumir a Presidência da República por motivos de saúde, mesmo depois de eleito pelo Colégio Eleitoral.
A eleição de Tancredo em 15 de janeiro de 1985 deu-se em razão da ampla aliança que começou com o PMDB e aderiu os liberais do PDS, PDT e pelo PTB e, até mesmo, o PT. Tancredo após sete operações cirúrgicas veio a falecer em 21 de abril. E. o presidente eleito assumira o compromisso de convocar uma Assembleia Constituinte e, ainda propôs a criação de uma comissão para elaborar anteprojeto a ser enviado como proposta do Executivo para os constituintes. O que serviria para agilizar a entrega de uma nova Constituição ao país. Porém, a doença e morte[footnoteRef:6] de Tancredo veio interromper tal projeto. [6: Exibido em 21 de abril de 1985, o programa Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão recebeu uma
edição especial, totalmente voltada para a doença e a morte de Tancredo Neves. Intitulado O martírio do Dr. Tancredo, o programa procurava dar conta daquela forte experiência vivida pela sociedade brasileira, que começou cerca de 39 dias antes, quando o presidente eleito pelo Colégio Eleitoral foi internado no Hospital de Base de Brasília, depois de ser acometido por graves dores na região do abdômen na véspera da data prevista para a sua posse. Para além do papel de “mártir” atribuído a Tancredo Neves, expresso no próprio título do programa, o telejornal se iniciava com a imagem de uma cruz, projetada sobre o fundo de um céu azul, na parte superior, e uma faixa verde e amarela, na inferior. Acompanhando a imagem, a veiculação de cânticos religiosos, que perdurariam ainda por alguns segundos à aparição do apresentador Sérgio Chapelain. A acentuação do caráter religioso atribuído ao episódio e à própria figura do presidente morto marcou todo o programa daquela noite, conforme aprofundaremos em outros momentos deste texto. À primeira vista, de fato, impressiona a forte carga simbólica e emotiva mobilizada durante todo o telejornal. À perspectiva de cristalização de uma imagem do personagem corresponderia, por outro, a elaboração de uma certa percepção do que seria a nação ou o povo brasileiro.] 
O vice-presidente era José Sarney que não tinha a história política e a legitimidade de Tancredo em seu curriculum vitae. A comissão para definir o anteprojeto constitucional conta com cerca de uma dúzia de membros. Sarney ampliou para cinquenta, o que deu agilidade as discussões. Inicialmente a comissão ficou conhecida pelo seu presidente, Afonso Arinos[footnoteRef:7], que fora alcunhada de comissão de notáveis e, apresentou projeto de Constituição contendo quatrocentos e trinta e seis artigos e mais trinta e dois nas disposições transitórias. [7: Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990) foi um jurista, político, historiador, professor, ensaísta e crítico brasileiro. Destaca-se pela autoria da Lei Afonso Arinos contra a discriminação racial em 1951. Ocupou a Cadeira 25 da Academia Brasileira de Letras, onde foi eleito em 23 de janeiro de 1958. Foi nomeado pelo presidente José Sarney, presidente da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais (denominada Comissão Afonso Arinos), criada pelo Decreto n. 91.450 de 18.7.85, com o objetivo de preparar um anteprojeto que deveria servir de texto básico para a elaboração da nova Constituição. E, em 1986, aos 81 anos, elegeu-se senador pelo Partido da Frente Liberal. Enquanto membro do Congresso Nacional, integrou a Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, sendo o constituinte mais idoso. Em 5 de outubro de 1988, proferiu, como representante dos constituintes, o primeiro dos três discursos que marcaram a solenidade de promulgação da atual Constituição do Brasil. Foi membro do Instituto dos Advogados Brasileiros, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, membro do Conselho Federal de Cultura (nomeado em 1967, quando da sua criação, e reconduzido em 1973). Foi também Professor Titular de Direito Constitucional na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Morreu em pleno exercício do mandato de senador, em 1990. À época encontrava-se filiado ao Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), por defender este em seu programa partidário a implantação do parlamentarismo no país.] 
Em vez de encaminhar o texto final para os constituintes, Sarney o enviou para o Ministério da Justiça e, depois de muitos meses de discussões os trabalhados acabaram numa gaveta. E, os constituintes iniciaram seus trabalhos a partir do nada, pois a Constituição ainda em vigor era oriunda da ditatura militar e, não servia como ponto de partida.
Foi inesquecível a polêmica sobre a convocação da Constituinte, pois alguns defendiam que a Constituinte era exclusiva, isto é, então seria dissolvida logo após a aprovação da Carta e, evocadas novas eleições tais como em 1933. Porém, o governo desejava que a Constituinte se transformasse em Congresso Nacional, pois considerava elevado risco duas eleições em prazo tão curto. Acabou sendo aprovada a proposta governamental.
Apesar do descrédito geral, em fevereiro de 1986, Sarney adotou o Plano Cruzado[footnoteRef:8] e congelou preços e salários, além de adotar inúmeras medidas de intervenção na economia. Durante três meses, o plano obteve êxito, porém, começou a desaparecer das prateleiras gêneros alimentícios de primeira necessidade. Surgiu ágio, ou seja, sobrepreço cobrado de mercadorias indispensáveis ao brasileiro. A tentativa de revogar o decreto da lei da ofertae da procura começou a dar sinais de esgotamento. [8: O plano Cruzado foi um plano econômico lançado durante o governo de José Sarney. O plano foi criado em 1986 pelo ministro da Fazenda (Dílson Funaro), o Brasil vivia um grande estado de euforia (grandes inflações, eleições, escassez de alguns produtos...). Foi um ano conturbado, pois em 1985 havia morrido o presidente eleito Tancredo Neves. As principais medidas tomadas pelo plano Cruzado foram: - A moeda corrente brasileira que era o Cruzeiro foi transformada em Cruzado, seguido de sua valorização (O cruzado valia 1000 vezes mais);
- Congelamento dos preços em todo o varejo, os quais eram fiscalizados por cidadãos comuns (fiscais do Sarney); - Antecipação do salário-mínimo (O governo garantia a antecipação de parte do salário-mínimo visando assim estimular o consumo); - Correção automática do salário para acompanhar a inflação. O plano foi um fracasso, principalmente devido a: - O principal motivo de fracasso do plano foi o congelamento de preços, que fez a rentabilidade dos produtores caírem para perto de zero quando não faziam os mesmos ter prejuízo, a falta de mobilidade de preços fez os produtos ficarem ausentes do mercados e até leite não era mais encontrado para se comprar, foi a época dos consumidores fazerem “estoque” de produtos em casa; - O governo não era responsável o suficiente para controlar seus gastos, além de fazer o país perder grandes quantias de reserva internacional; - A proximidade das eleições fez com que o governos tomasse algumas atitudes populistas, evitando tomar atitudes impopulares para garantir a sobrevida do plano Cruzado.] 
Assim, oportunisticamente o governo adotou medidas para garantir abastecimento no caso da carne. E, chegou a utilizar até a Polícia Federal à procura de rebanhos bovinos. Queria e conseguiu levar o plano até a eleição, ou seja, 15 de novembro.
Conseguiu bom resultado eleitoral à custa de profunda desorganização da economia nacional. O PMDB e o PDS venceram em 22 (vinte e dois) Estados enquanto a Aliança Democrática venceu em todos os estados. Assim, PMDB obteve maioria absoluta de assentos na Constituinte.
Já em primeiro de fevereiro de 1987 foi instalada Assembleia Nacional Constituinte e, na sessão de abertura fora levantada a questão de senadores eleitos em 1982 com mandato de oito anos e, portanto, sem a devida delegação constituinte. Mas, acabou sendo aceita sua participação, mesmo sem terem sido escolhidos constituintes pelos eleitores. 
Eis a primeira anomalia da Constituinte e, a eleição de Bernardo Cabral como relator foi a segundo, pois nunca fora considerado um jurista, era apenas um político novato em Brasília. E, tinha sido nos anos setenta, presidente da OAB e aproveitou-se do prestígio da entidade que, passou após a gestão de Raymundo Faoro.
Cabral revelou-se inexpressivo e despreparado e, ainda suscetível a pressão de toda ordem, não tendo pulso firme e os trabalhos foram se alongando demasiadamente. Restou mais célebre por seu affaire romântico que manteve com Zélia Cardoso de Melo, durante a Presidência de Collor, quando era o ministro da Justiça e, ela de Economia.
A crise interna do PMDB que era o partido majoritário e que se dividiu durante a Constituinte, com o surgimento da PSDB também foi um elemento que contribuiu para a bagunça constitucional brasileira. O crescimento artificial do PMDB transformou o partido no que ficou conhecido como “geleia geral”. E, a direção partidária perdeu a liderança.
Os grupos suprapartidários foram surgindo e, o mais expressivo e ora em evidência, foi o Centrão, resultante de aliança de constituintes conservadores de várias origens diferentes que tentou dar caráter mais conservador à Carta constitucional de 1988. O desgaste do governo Sarney transformou a Assembleia Constituinte em palco de oposição, como se fosse um invertido espelho do que era decidido pela Presidência da República. Enfim, o texto final da Constituição brasileira fora aprovado em sessão no dia 22 de setembro de 1988. 
Quando recebeu quatrocentos e setenta e quatro votos favoráveis contra apenas quinze contrários. Tais seriam da bancada do PT que considerou a Constituição como elitista e conservadora. Somente um deputado do PT se recusar negativamente era João Paulo de Minas Gerais. 
Em 05 de outubro de 1988, após vinte meses de trabalho, quando foram apreciadas 65.809 emendas, vinte e um mil discursos e nove projetos foram, enfim, foi promulgada a Constituição, com cerimônia transmitida por rádio e televisão. E, a data havia sido escolhida de propósito, pois coincidia com o aniversário de Ulysses Guimarães. Sarney jurou obediência à Constituição, atitude protocolar à que todos os Presidentes da República são obrigados, porém, de pouca eficácia real.
E, em cumprimento do artigo 64 das Disposições transitórias, Ulysses Guimarães aproveitou para fazer uma edição popular do texto constitucional e, ainda, elaborou um prefácio ao documento com o título de "Constituição Cidadã".
Entre inúmeras características, é a Constituição mais longa de todas as anteriores, pois são duzentos e cinquenta artigos e mais setenta nas disposições transitórias, perfazendo o total de trezentos e vinte artigos. 
Ressalve-se que era uma versão enxuta, pois em primeira versão era ainda maior e, contava com quinhentos e um artigos que foram sintetizados para trezentos e trinta e quatro e, até chegar a votação, aos duzentos e cinquenta. Já, em relação às disposições transitórias, se comparado com as Cartas produzidas em assembleias constituintes, o crescimento ou prolixidade é evidente.
A Constituição de 1891 tinha apenas oito artigos, já em 1934 saltou para vinte e seis, mais tarde, em 1946 aumentou para trinta e cinco e, em 1988 duplicou, alcançando setenta artigos.
Infelizmente, nossas constituições já nascem provectas daí tantas emendas[footnoteRef:9] à Constituição. Até o presente momento, 2021 a Constituição Cidadã recebeu .... emendas constitucionais. Ad comparandum, a Constituição dos EUA de 1787, teve, em duzentos e vinte e quatro anos de vigência, apenas vinte e sete emendas, das quais as dez primeiras entraram em vigor em 1791, como o Bill of Rights. [9: A última Emenda Constitucional é a de nº 108 de 26.8.2020.Altera a Constituição Federal para estabelecer critérios de distribuição da cota municipal do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), para disciplinar a disponibilização de dados contábeis pelos entes federados, para tratar do planejamento na ordem social e para dispor sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb); altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; e dá outras providências.] 
De 1992 até 2011, relatou Marco Antonio Villa, o texto constitucional não foi emendado apenas em 1994. A presidência recordista em emendas foi o de Fernando Henrique Cardoso, totalizando trinta e cinco e, em segundo lugar, Lula da Silva, com vinte e sete e, em terceiro lugar empatados estão Fernando Collor e Itamar Franco (duas emendas para cada um.
Convém ressaltar que o artigo 7º do texto constitucional vigente foi alterado por três vezes, por emendas constitucionais sucessivas, a de 1998, 2000 e a 2006. s. Uma delas (XXVII) diz que entre os direitos do trabalhador está a “proteção em face da automação, na forma da lei”.
 Ou seja, o processo de revolução da produção, do aumento da produtividade e da riqueza está, em tese, vedado. É como se o espírito de Ned Ludd[footnoteRef:10] – líder do que ficou conhecido como movimento ludista, na Inglaterra do fim do século XVIII, e que se notabilizou pela destruição das máquinas, consideradas inimigas do trabalho manual – estivesse de volta dois séculos depois. [10: Ned Ludd é a pessoa cujo nome foi utilizado pelo movimento ludista, constituído na Inglaterra da década de 1810. Os ludistas assim se denominavam e assinavam seusmanifestos com o nome de "Ned Ludd" (ou ainda "Capitão Ludd", "Rei Ludd" ou "General Ludd"). Entre outras versões biográficas, afirma-se que Ned Ludd foi originalmente um aprendiz em Anstey, Leicestershire, Inglaterra. Avesso ao regime de trabalho nas máquinas de tecelagem, foi condenado a chicotadas sob alegação de não demonstrar empenho. Em resposta, Ned Ludd destruiu com um martelo a máquina em que trabalhava. Poucos sabem o porquê de ele se vestir de mulher, provavelmente porque ele defendia as mulheres, para que elas não trabalhassem. Ludismo ou luddismo foi um movimento de trabalhadores ingleses do ramo de fiação e tecelagem, ativo no início do século XIX, nos primórdios da Revolução Industrial, e que se notabilizou pela destruição de máquinas como forma de protesto. Os ludistas consideravam que o maquinário era usado, "de maneira fraudulenta e enganosa", para contornar práticas laborais consolidadas pela tradição. A princípio, os ataques ludistas foram enfrentados a tiros pelos proprietários das máquinas. Por fim o movimento foi reprimido por forças militares, e o endurecimento da legislação britânica resultou em penas severas para os participantes do movimento.] 
Dotada de amplo espectro normativo, especial concernente à vida social, o texto se transformou em programa econômico-político-social para o país e, foi promulgada em conjuntura internacional profundamente alterada no ano seguinte, principalmente em face da queda do Muro de Berlim que levou a cabo a Guerra Fria. E, trouxe o modelo social-democrata na Europa, com a prevalência do Estado do Bem-Estar Social, que já enviava sinais de nítido esgotamento.
Com relação à América Latina, desde 1982, com a crise da dívida externa, que teve início no México, quando o Brasil suspendeu pagamento por absoluta falta de recursos para pagar os empréstimos feitos, foi a pior década do crescimento econômico, desde a Segunda Guerra Mundial. Por outro viés, o país vivenciava péssimo momento econômico, com recessão, alta inflação e ainda enormes dificuldades em pagar juros e amortização da dívida externa. E, por outro viés, jazia demanda social reprimida que ambicionava galgar ganhos econômicos a curto prazo.
Todos esses fatores teceram um contexto influenciador no trabalho dos constituintes brasileiros e na final aprovação do texto constitucional. E, ainda havia a campanha eleitoral que prometia mágica por meio do texto, o que asseverou a atuação dos lobistas e dos lobbies, transformando a aprovação de certos dispositivos em ferrenha luta entre os princípios republicanos e as tentativas de coação, por todos os meios.
A denominação do país permaneceu República Federativa do Brasil e, insistiu em tal denominação em quatro artigos iniciais. Foi explicitado que se constituía um Estado Democrático de Direito. Porém, curiosamente, à federação de Estados foram agregados os municípios, caso único, como em qualquer regime federativo.
Numa expressão de democratismo do período que logo cairia no esquecimento foi determinado que o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição, vide o artigo 1º, parágrafo único).
In litteris: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações” (art. 4.º, § único). O “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações” (art. 4.º, § único). 
Lembremos que a dubiedade do texto constitucional fora um meio de aparar arestas entre os mais diversos e diferentes grupos políticos brasileiros. Ao ser garantido o direito de propriedade, logo em seguida está que a propriedade atenderá sua função social[footnoteRef:11]. Sempre apresenta um cravo na mão e a ferradura na outra. [11: A função social da propriedade é um princípio que foi instituído pela Constituição Federal de 1967, e tem sua origem no direito de propriedade. ... Os anseios da burguesia francesa, e a noção liberal de propriedade que vigorava no Código Napoleônico, não atende mais aos anseios da sociedade do século XXI. Os anseios da burguesia francesa, e a noção liberal de propriedade que vigorava no Código Napoleônico, não atende mais aos anseios da sociedade do século XXI. Contudo, a evolução da sociedade trouxe a necessidade da modificação de antigas premissas.] 
Ao estabelecer a desapropriação só poderá ocorrer mediante justa e prévia indenização em dinheiro, logo em seguida determina que a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva.
A questão agrária era um tema cadente nos artigos 184,185 e 186 retomam alguns incisos do artigo 5º da CF/1988. Para os imóveis descumpridores de sua função social, poderia ocorrer a desapropriação e o pagamento de prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária. (art. 184), mas não eram propriedade produtiva, entenda-se os latifúndios.
O artigo 187, primeiro parágrafo definiu que estavam incluídas no planejamento agrícola as atividades agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
Os indígenas mereceram atenção dos constituintes e o termo silvícola desapareceu. Restou à União somente, a esta, legislar sobre as populações indígenas e ainda autorizar a exploração e aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais. E, caberá a Justiça Federal processar e julgar a disputa sobre os direitos indígenas, e na Ordem Social foi reservado um título, o VIII, com exclusividade.
O artigo 231 determinou que competia à União demarcar as terras que “tradicionalmente ocupam”. Pelas disposições transitórias, a demarcação deveria ser concluída em 1993 (art. 67), o que não ocorreu. O processo continua até os dias atuais: o Brasil demarcou mais de 107 milhões de hectares, o que corresponde a 12,6% do território nacional.
Um dos pontos altos da Constituição é o artigo 5.º, que garante as amplas liberdades, principalmente para um país como o nosso, marcado pelo autoritarismo. Foram asseguradas as liberdades de manifestação, opinião e organização. 
O crime de racismo foi considerado inafiançável e imprescritível, foram abolidos a pena de morte e o banimento. Contudo, o artigo – o mais longo da Constituição – foi muito mal redigido. Começa falando que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, para depois tratar de assuntos que não têm a mesma importância legal, como a defesa do consumidor (XXXII), ou que “às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação” (L).
O Legislativo federal manteve o Parlamento bicameral e, assim, o sonho de todo deputado federal é um dia ser senador, com todos aqueles privilégios e um mandato de oito anos. Quanto ao Senado, os constituintes mantiveram a proposta originária do pacote de abril de 1977: dois suplentes para cada senador. 
Para a Câmara de Deputados, cada estado não teria menos de oito deputados, piorando o Pacote de Abril, que tinha estipulado seis. Sendo irredutível esse número mínimo. O Distrito Federal também teve direito a três senadores e a representação na Câmara dos Deputados. A Câmara chegou ao número total de 513 deputados, uma das maiores do mundo (nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes tem 435 membros e a população é superior à brasileira).
De plano, surgiu a polêmica com a medida provisória[footnoteRef:12] que concedeu ao Executivo o direito de, em caso de relevância e urgência, adotar medidas provisórias, com força de lei. Trata-se de antiga discussão que veio desde a república populista (1945-1964) e sofria diversas críticas ao funcionamento do Congresso Nacional, acusado de dificultar a ação administrativa do Executivo. [12: Medida provisória começa a vigorar assim que é assinadapelo presidente; Para não perder o efeito, precisa ser aprovada em até 120 dias pela Câmara e pelo Senado;Quando a MP é enviada ao Legislativo, é criada uma comissão mista (formada por deputados e senadores) para elaborar e aprovar um parecer. Depois, o texto é apreciado pelo plenário da Câmara e, em seguida, do Senado. Depois de aprovada pelas duas Casas, é enviada ao presidente da República para sanção. Exemplo: ao tomar posse, o presidente Jair Bolsonaro editou uma MP para reestruturar a Esplanada dos Ministérios. A medida reduziu o número de pastas de 29 para 22 e redistribuiu as atribuições de cada uma. Embora com algumas alterações, a MP foi aprovada pelo Congresso no prazo e virou lei. Decreto presidencial tem validade imediata. No entanto, os parlamentares podem contestar o seu conteúdo por meio de um projeto de decreto legislativo, com o objetivo de derrubar parcial ou integralmente o decreto. Exemplo: os decretos publicados pelo presidente Jair Bolsonaro para tratar das regras de posse e porte de arma têm como objetivo regulamentar a lei 10.826, de 2003, conhecida como Estatuto de Desarmamento.] 
Tanto que durante a ditadura militar o expediente de decurso de prazo era francamente utilizado para apressar o ritmo do Legislativo. Enfim, com a redemocratização, o Congresso Nacional teria trinta dias para apreciar, aprovando ou rejeitando a medida provisória. E, após a Emenda Constitucional 32/2001, o prazo fora ampliado para sessenta dias, prorrogável por mais sessenta dias, totalizando centro e vinte dias.
Foram editadas e reeditadas milhares de medidas provisórias. A maioria destas não havia nem relevância, nem urgência. É o caso da medida provisória de 3 de novembro de 1988, antes de a Constituição completar um mês de existência: disciplinava a proibição da pesca de espécies em períodos de reprodução.
De uma só vez, foram criados mais três Estados, a saber: Tocantins desmembrado de Goiás, Roraima e Amapá, esses dois últimos eram antigos territórios. Foram abertas nove vagas de senador e 24 de deputado federal, além de centenas de funções administrativas e representativas na esfera estadual. Nessa ocasião, muitos políticos se transferiam para os novos estados os seus domicílios eleitorais. 
Pois, significava um meio de obtenção de mandato sem maiores dificuldades do que nos seus Estados de origem. O caso mais notório é o de José Sarney que transferiu o domicílio de São Luís para Macapá, por mera ficção, pois continuava morando no Maranhão. 
Foi um meio de, fazendo uso das imunidades parlamentares, proteger-se de eventuais processos contra atos ocorridos no seu governo (1985-1990). Ao menos ficamos livres de mais um estado: o território de Fernando de Noronha foi reincorporado ao estado de Pernambuco.
A Zona Franca de Manus[footnoteRef:13] foi outro alvo de controvérsias e na prima versão do texto feita por Bernardo Cabral que era relator da Constituinte e deputado pelo Amazonas, tinha apoiado a inclusão da Zona Franca nas disposições transitórias, porém, de forma permanente, mantendo para todo sempre os incentivos fiscais e a áreas de livre comércio. Diante dos protestos, foi incluído o artigo 40 nas disposições transitórias concedendo os incentivos por mais vinte e cinco anos à Zona Franca, contados a partir da promulgação. A Emenda Constitucional 42/2003 concedeu mais dez anos, assim até 2023 estão garantidos tais incentivos. [13: A manutenção da Zona Franca de Manaus foi recepcionada pela CF através do amparo do Decreto-Lei 288/67, em cujo art. 1º destaca-se o seguinte: a Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, COMERCIAL e agropecuário DOTADO DE CONDIÇÕES ECONÔMICAS que PERMITAM SEU DESENVOLVIMENTO, EM FACE DOS FATORES LOCAIS e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos. Denota-se, pois, que a CF pretendeu assegurar a manutenção de um diferenciado regime tributário que torne mais vantajoso o desenvolvimento da atividade econômica na Zona Franca de Manaus, pois entendeu ser necessária e adequada para minimizar as dificuldades da região e garantir a sua soberania. A concessão de incentivos fiscais aos que estão instalados na área de ZFM garantem a estes as condições de competir com os demais mercados nos demais estados do País e contribuir com o desenvolvimento local.] 
O mandato presidencial foi objeto de enorme disputa, Sarney pressionou os constituintes para obter um mandato de cinco anos. E, a Aliança Democrática promovida pelo acordo entre o PMDB e os dissidentes do PDS, em 1984, permitiu a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em janeiro de 1985. Mas, tinha acordado que o mandado seria de apenas quatro anos, e com a Emenda nº1 sofrera acréscimo do Pacote de Abril de 1988 e ampliou o mandato presidencial para seis anos. No exercício do cargo, ele mudou de opinião. 
Em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão Sarney chegou a afirmar que abriu mão de um ano de mandato, dos seis, sendo um exemplo de desambição. Ofertou dezenas e mais dezenas de concessões a rádio e televisão. Restou famosa a atuação do então Ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, o principal responsáel pela negociação das concessões. Em verdade, no debate sobre a duração do mandato se transformou num grande balcão de negócios. Por fim, conseguiu cinco anos por 328 votos a 222. Foi a única votação em que compareceram os 559 constituintes. 
Já a Emenda Constituição 5/1994 alterou o mandado para quatro anos, mantendo a proibição de reeleição. Três anos depois, nova mudança, quando foi permitida a reeleição.
O artigo 86, que trata dos crimes de responsabilidade do Presidente da República[footnoteRef:14], acabou sendo usado em 1992, quando do impeachment do presidente Collor. No caput do artigo foi concedida à Câmara dos Deputados a responsabilidade para admitir a acusação, desde que obtivesse o apoio de dois terços dos seus membros. Mas o julgamento dos crimes de responsabilidade seria do Senado, que teria até 180 (cento e oitenta) dias para sua conclusão. [14: Lei 1.079, de 10 de abril de 1950. Art. 7º São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais: 1- impedir por violência, ameaça ou corrupção, o livre exercício do voto; 2 - obstar ao livre exercício das funções dos mesários eleitorais; 3 - violar o escrutínio de seção eleitoral ou inquinar de nulidade o seu resultado pela subtração, desvio ou inutilização do respectivo material; 4 - utilizar o poder federal para impedir a livre execução da lei eleitoral; 5 - servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, ou tolerar que essas autoridades o pratiquem sem repressão sua; 6 - subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social; 7 - incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina; 8 - provocar animosidade entre as classes armadas ou contra elas, ou delas contra as instituições civis; 9 - violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e bem assim os direitos sociais assegurados no artigo 157 da Constituição; 10 - tomar ou autorizar durante o estado de sítio, medidas de repressão que excedam os limites estabelecidos na Constituição.] 
Em 1992, a Câmara aceitou a denúncia em setembro e três meses depois o Senado aprovou o impeachment do presidente Collor[footnoteRef:15] por 67 (sessenta e sete) votos a três. Houve uma tentativa dos advogados do então presidente de interromper o processo com a renúncia, mas os senadores rejeitaram por 73 votos a oito. [15: O processo de impeachment de Fernando Collor transcorreu no final de 1992 e foi o terceiro processo de impeachment do Brasil (em 1955 os presidentes Carlos Luz e Café Filho também sofreram processos de impeachment), resultando no afastamento definitivo de Fernando Collor de Mello do cargo de presidente da república.O processo, antes de aprovado, fez com que Collor renunciasse ao cargo em 29 de dezembro de 1992, deixando o cargo para seu vice Itamar Franco. Mesmo assim, o processo continuou e os parlamentares se reuniram em plenário para a votação do impeachment e decidiram que o presidente não poderia evitar o processo de cassação pela apresentação tardia da carta de renúncia. Com o julgamento, Collor ficou inelegível por 8 anos. Collor foi acusado de corrupção pelo seu próprio irmão, Pedro Collor de Mello, em matéria de capa da revista Veja, em 1992. O empresário Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor, foi a personalidade-chave do impeachment. Ele seria o testa de ferro em diversos esquemas de corrupção divulgados de 1992 em diante. A investigação do Esquema PC Farias mostrou que o artifício ilegal usado pelos envolvidos arrecadou cerca de 15 milhões de reais durante o governo de Fernando Collor, sendo que mais de um bilhão de reais chegou a ser movimentado nos cofres públicos. Nenhuma destas contribuições teve qualquer ligação com benefício ao "cliente" de Paulo César por conta de favor prestado por Fernando Collor. O "esquema PC" movimentou mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos.] 
Em caso de impeachment ou impedimento, assume o vice-presidente, foi o que aconteceu com Itamar Franco e, em caso de vacância, é distinto o procedimento, quando nova eleição deverá ser realizada em noventa dias após a abertura da última vaga. Porém, se vacância presidencial ocorrer nos derradeiros dois anos do mandato presidencial, a eleição para ambos os cargos será realizada trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma do artigo 81.7
Outra controvérsia, foi atinente ao artigo 2º, das Disposições Transitórias, pois no dia 7 de setembro de 1993, pouco antes de a Constituição completar cinco anos haveria um plebiscito para decidir a forma (se república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (se parlamentarismo ou presidencialismo). A data do plebiscito acabou sendo antecipada em razão da Emenda Constitucional nº2. 
Porém, foi argumentado que 7 de setembro era data vinculada à monarquia por conta do protagonismo de Dom Pedro I no processo de independência. Então, o dia 21 de abril, um feriado tipicamente republicano e foi tida como nova data para o plebiscito[footnoteRef:16]. Na constituinte apenas um deputado, Cunha Bueno, tinha externado a defesa do regime monárquico. [16: O plebiscito de 1993 no Brasil ocorreu em 21 de abril de 1993 para determinar a forma e o sistema de governo do país. Após a redemocratização do Brasil, uma emenda da nova Constituição determinava a realização de um plebiscito para se decidir se o país deveria ter uma forma de governo republicana ou monarquista, e se o sistema de governo seria presidencialista ou parlamentarista. A Emenda Constitucional número 2, de 25 de agosto de 1992, alterou a data constitucionalmente prevista para o plebiscito, 7 de setembro de 1993, antecipando-o para o dia 21 de abril de 1993. A lei número 8.624, promulgada pelo presidente Itamar Franco em 4 de fevereiro de 1993, regulamentou a realização do plebiscito para ocorrer em 21 de abril de 1993. A maioria dos eleitores votou a favor do regime republicano e do sistema presidencialista, maneira pela qual o país havia sido governado desde a Proclamação da República 104 anos antes – com exceção de uma breve experiência parlamentar entre 1961 e 1963, que também havia sido derrotada num plebiscito. Apesar da veiculação de propaganda eleitoral gratuita nas emissoras de rádio e televisão, o comparecimento às urnas foi relativamente pequeno (74,3%), considerando que o voto é obrigatório no país.] 
Enfim, somos o país dos golpes[footnoteRef:17], ficamos independentes por um golpe, nos transformamos em República por outro golpe... assim o plebiscito se revelava uma medida esdrúxula. Em 1964, por maioria esmagadora, foi decidido pelo presidencialismo. [17: Vide texto de minha autoria, sob o título "Nove golpes da história do Brasil: nada se cria, tudo se copia". Disponível em: https://www.jornaljurid.com.br/colunas/gisele-leite/nove-golpes-da-historia-do-brasil-nada-se-cria-tudo-se-copia 
A evolução política no Brasil foi pautada por golpes desde a Independência perpassando pela República e, até recentemente. Contabiliza-se nove golpes de Estados. Outros argumentam que foram dez.] 
E, durante a Constituinte, o parlamentarismo novamente foi derrotado, quando se escolheu o sistema de governo (foram 343 votos para o presidencialismo contra 213 para o parlamentarismo). Portanto, era uma espécie de terceiro turno. E novamente, o parlamentarismo foi amplamente derrotado e a república venceu por larga margem a monarquia constitucional (foi muito alto o número de votos brancos e nulos, e a abstenção foi maior do que a média das últimas eleições). 
Em 1993, foi o ano da primeira revisão constitucional e, os constituintes incluíram nas disposições transitórias, que cinco anos após a promulgação da Carta Constitucional, seria realizada revisão pelo Congresso Nacional, não por uma Constituinte, e que as modificações seriam aprovadas por maioria absoluta de votos.
A inclusão de tal artigo representou novidade na história de nossas Constituições. Aliás, a Constituição portuguesa de 1976 tinha um dispositivo similar, fruto do clima político do país, após a derrubada de décadas de regime salazarista[footnoteRef:18]. Tal revisão retirada do texto constitucional a perspectiva da longevidade. [18: Como regime político, o Estado Novo foi também chamado salazarismo, em referência a António de Oliveira Salazar, o seu fundador e líder. Salazar assumiu o cargo de Ministro das Finanças em 1928 e tornou-se, nessa função, uma figura preponderante no governo da Ditadura Militar, o que lhe valeu o epíteto de "Ditador das Finanças". Obtendo enorme sucesso num curto espaço de tempo, ficou posteriormente conhecido como o "Mago das Finanças". Ascendeu a Presidente do Conselho de Ministros em julho de 1932 e esteve em funções até ao seu afastamento por doença em 1968, nunca chegando a ter conhecimento de que já não era o Presidente do Conselho de Ministros. A designação salazarismo reflete a circunstância de o Estado Novo se ter centrado na figura do "Chefe" Salazar e ter sido muito marcado pelo seu estilo pessoal de governação. Porém, o Estado Novo abrange também o período em que o sucessor de Salazar, Marcello Caetano, chefiou o governo (1968-1974). Caetano assumiu-se como "continuador" de Salazar, mas, vários autores preferem autonomizar esse período do Estado Novo e falar de Marcelismo. Marcello Caetano ainda pretendeu rebatizar publicitariamente o regime ao designá-lo por Estado Social, "mobilizando uma retórica política adequada aos parâmetros desenvolvimentistas e simulando o resultado de um pacto social que, nos seus termos liberais, nunca existiu", mas a designação não se enraizou. Ao Estado Novo têm sido atribuídas as influências do maurrasianismo, do Integralismo Lusitano, da doutrina social da Igreja, bem como de alguns aspetos da doutrina e prática do Fascismo italiano, regime do qual adotou o modelo do Partido Único e, até certo ponto, do Corporativismo de Estado. A Ditadura Nacional (1926-1933) e o Estado Novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o séc. XX, estendendo-se por um período de 48 anos.] 
Mas, o artigo 3º não abriu a possibilidade de uma revisão. E, com quórum reduzido, de 50% mais um, e não de três quintos. A conjuntura do segundo semestre de 1993, com a presidência de Itamar Franco, que substituiu Fernando Collor, impedido de continuar na presidência definitivamente em dezembro de 1992, por votação do Senado, e um governo de união nacional, com amplo apoio partidário, diminuiu o ímpeto de profundas alterações constitucionais. A revisão constitucional fracassou.
A mesma Carta permitiu aos analfabetos e também os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos votar nas eleições, nãocomo um dever obrigatório, mas como direito facultativo (art. 14, §1º). Para os analfabetos foi retorno à participação nas eleições, pois tal direito fora retirado desde a reforma eleitoral de 1881, a Lei Saraiva, ainda no Segundo Reinado. Ao final de anos de 1950 e início de 1960, ocorreu um intenso debate sobre o direito de voto dos analfabetos. A polêmica revirou o caldeirão das turbulências da época.
Acreditava-se que o voto dos analfabetos ampliaria a democracia e, abriria caminho para um governo de esquerda. Os analfabetos, portanto, seriam aliados em potencial dos chamados “setores progressistas”. Quase 30 anos depois, na Constituinte, a aprovação do voto dos analfabetos ocorreu quase sem nenhuma oposição. 
Em parte, porque se viu que a relação entre seu voto e os candidatos de esquerda era uma ficção. Não havia uma relação necessária entre uma coisa e outra. Hoje, os analfabetos representam cerca de 6% do eleitorado registrado. No entanto, se os analfabetos poderiam votar, não poderiam ser votados[footnoteRef:19]. [19: Os analfabetos votaram durante a maior parte da história do Brasil. Na Colônia, as Ordenações Filipinas diziam que, não sabendo os eleitores escrever, “ser-lhes-á dado um homem bom que com eles escreva” e “que não descubra o segredo da eleição”. Apesar da incompatibilidade ideológica, João Goulart e Castello Branco concordavam em um ponto. Papéis históricos sob a guarda do Arquivo do Senado mostram que tanto o presidente de esquerda derrubado pelos militares quanto o marechal de direita alçado pelo golpe à Presidência tentaram dar aos analfabetos o direito de votar.
Eles não tiveram sucesso. Os iletrados só depositariam o voto na urna em novembro de 1985, na primeira eleição após a ditadura, para escolher prefeitos de capitais, estâncias hidrominerais e cidades em área de segurança nacional. Fonte: Agência Senado. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/11/04/por-100-anos-analfabeto-foi-proibido-de-votar-no-brasil Acesso em 3.3.2021.] 
Foi mais uma anomalia da Constituição. E, isso no mesmo artigo, no parágrafo 4.º: os analfabetos foram considerados inelegíveis. Essa situação gerou diversos problemas. Em muitas eleições, candidatos eleitos foram considerados, pelos seus adversários, como analfabetos.
Com tal previsão, os tribunais eleitorais passaram a ser obrigados a realizar exames com os eleitos para comprovar se eram ou não alfabetizados. Parece incrível que tal constrangimento tenha base constitucional. Em 2010, o deputado federal de mais expressiva votação, o palhaço Tiririca, foi obrigado, logo após a eleição, a realizar exame para constatar que era alfabetizado.
Manteve o quinto constitucional que também estava presente nas Constituições brasileiros de 1934, 1946 e 1967. Por intermédio deste, advogados, membros do MP podem ser designados juízos dos tribunais regionais federais e dos Estados, sem fazer concurso, como os demais juízes. 
A OAB é quem promove a seleção de candidatos em reuniões públicas para as vagas disponíveis nos tribunais. Essa seleção retira de uma lista sêxtupla que é encaminhada para o tribunal onde há a vaga. Este, por sua vez, reúne e encaminha uma lista tríplice para se o tribunal for estadual, o governador, que escolhe, a seu bel-prazer, qualquer um dos três da lista. Dessa forma, temos dois tipos de juízes, os concursados e os que foram escolhidos por mera indicação política da OAB estadual e do governador.
Isso pode explicar a importância das eleições das seções estaduais da Ordem e os enormes gastos, além de presidentes que se perpetuam nos cargos. Ricardo Lewandovski, que hoje está no STF, chegou a juiz do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, não por meio de um concurso, mas pelo quinto constitucional, em 1990, por escolha do governador Orestes Quércia. Tinha sido secretário de governo do prefeito Eron Galante, em São Bernardo do Campo, cidade onde cursou Direito. Em 2006 foi nomeado pelo presidente Lula para o Supremo Tribunal Federal.
Outra anomalia, o Presidente da República para se ausentar o país do país por mais de quinze dias, teria que pedir licença ao Congresso Nacional. Tal tradição advém do Império, pois o imperador não poderia se ausentar sem o consentimento da Assembleia Geral. Dom Pedro I jamais viajou, já Dom Pedro II, fez três viagens ao exterior, a saber:1871-1872, 1876-1877 e 1887-1888. Nessas três vezes, transferiu o governo à princesa Isabel, como regente do Império. A Regência também tinha um fim político: preparar a princesa para assumir a Coroa após a morte do pai. 
Diz que o vice-presidente deve substituir o presidente em caso de impedimento (como no caso Collor/Itamar) e que pode ser convocado para “missões especiais” e ter “outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar” (art. 79). Nunca houve lei complementar, porém a cada viagem internacional, por menor que seja o percurso, como ir ao Paraguai, o presidente transfere o governo ao vice.
Houve casos em que, por alguma impossibilidade do vice, o presidente da Câmara assumiu o governo. Chegou-se ao ponto de ser necessário convocar o presidente do Supremo Tribunal Federal quando não foi possível que o presidente da Câmara ou do Senado (o terceiro na ordem de sucessão) assumissem o cargo por razões eleitorais que envolviam a inelegibilidade. 
Nessas transferências, uma delas foi inesquecível: a ida de Paes de Andrade, presidente da Câmara, à sua cidade natal, Mombaça, no sertão cearense. O deputado exigiu que o deslocamento fosse realizado com toda pompa e cerimonial. Dias depois, “devolveu” o cargo.
Quando da viagem internacional, portanto, o país tem dois presidentes: um no exterior e outro no país. E, os dois com autoridade legal para cumprir todas as atribuições do artigo 84. Essa prática se consagrou durante a chamada República populista (1945-1964). 
Quando João Goulart viajou para os Estados Unidos e o México, em 1962, Ranieri Mazzili, presidente da Câmara, assumiu o governo e nomeou um Ministério próprio! No retorno, Goulart teve de renomear “seu” Ministério. E continuamos assistindo a essa prática a cada viagem presidencial mesmo sem nenhuma base legal.
Foi criado o Conselho da República, “órgão superior de consulta do Presidente da República” (art. 89). Mais uma influência da Constituição portuguesa. Teria 14 (quatorze) membros, o vice-presidente, os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes da maioria e minoria na Câmara e no Senado, e mais seis membros, dois indicados pelo presidente da República e quatro, pelo Congresso Nacional, com mandatos de três anos. Compete ao Conselho pronunciar-se sobre “as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas”, o que é absolutamente vago, e sobre a intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio (art. 90). Quantas vezes – além das cerimônias formais de posse de novos conselheiros – se reuniu? Nenhuma.
Entre as democracias consolidadas, nenhuma tem uma Carta tão detalhista quanto a brasileira. Chega a estipular que “aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos” (art. 230, § 2.º), medida justa, evidentemente, mas que em qualquer país com um mínimo de seriedade legal certamente não faria parte de uma Constituição. 
A prolixidade constitucional alcançou até a relação entre pais e filhos: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” (art. 229). Chega a estabelecer limites para a propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias alternativas (art. 220, § 4.º). 
Nesse terreno – o do desconhecimento do que é uma Constituição – vale destacar que, para surpresa de todos, foi considerado que “a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil” (art. 13). Estranho, pois ninguém estava pretendendo adotar outra língua. Deve ser anotado que a palavra “garantia” aparece 46 (quarenta e seis) vezes no texto constitucional,já “direitos”,16 (dezesseis), mas “deveres” é citada somente quatro.
No terreno do exotismo, a Constituição de 1988 conseguiu superar qualquer uma das suas antecessoras. Confundindo uma Carta constitucional – que é permanente – com um programa político-econômico – que é conjuntural –, foi determinado que a ordem econômica a ser instituída teria como objetivo a “busca do pleno emprego” (art. 170, VIII). 
Uma das passagens mais controversas do texto foi a aprovação de que as taxas de juros reais dos créditos “não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar” (art. 192, VIII, § 3.º)[footnoteRef:20]. [20: O limite da taxa de juros é uma questão que ainda gera muitas dúvidas em quem assina um contrato para obtenção de crédito com um banco ou financeira. Essa dúvida é muito comum porque a Constituição Federal dizia que os juros remuneratórios deveriam ser de, no máximo, 12% ao ano. Além disso, o Código Civil de 1916 fixava a taxa de juros legal em 6% ao ano, enquanto a Lei de Usura previa que era proibido estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal, ou seja, essa era mais uma razão para limitar a taxa de juros em 12% ao ano. Mesmo havendo previsão em leis e na Constituição se discutia muito no Judiciário se os bancos estavam limitados ao percentual de 12% ao ano ou se estavam limitados a taxa média de mercado. Apesar da existência dessa discussão no judiciário, com base nesses fundamentos legais, durante um bom tempo, muitos contratos foram revisados por meio de ações revisionais, para limitar os juros a 12% ao ano. Os juízes consideram que os juros cobrados conforme a taxa média de mercado não é abusiva, esse entendimento está consolidado nas súmulas nº 530 e 296 do Superior Tribunal de Justiça (STJ): Súmula 530 Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor. Súmula 296 :Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado. Resumindo, os juros serão limitados pela taxa média de mercado nas seguintes situações: Nos contratos bancários em que a disponibilização do capital é imediata, o montante dos juros remuneratórios praticados deve ser previsto no respectivo contrato. Ausente a fixação da taxa no contrato, o juiz deve limitar os juros à média de mercado conforme a taxa apurada pelo Banco Central, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente. É possível a correção para a taxa média se for verificada abusividade nos juros remuneratórios praticados, ou seja, quando os juros adotados pelo banco ou financeira estiverem muito acima da taxa apurada pelo Banco Central. In: ALMEIDA, Anderson Dias. Os juros estão limitados a 12% ao ano? Disponível em: https://jus.com.br/artigos/68135/os-juros-estao-limitados-a-12-ao-ano Acesso em 03.3.2021.] 
O absurdo foi tão grande – nunca um texto constitucional tentou regular a taxa de juros – que a disposição não foi cumprida. Depois de 15 anos, a Emenda Constitucional no 40, de 29 de maio de 2003, revogou todo o capítulo IV, referente ao sistema financeiro nacional. Preservou, apenas, três linhas. E fez bem.
As seções reservadas à cultura, ao desporto e à ciência e tecnologia foram as que concentraram o maior número de excentricidades. A “lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais” (art. 215, § 2.º). É inacreditável, mas a Constituição acabou com os feriados nacionais do conjunto do povo brasileiro. 
Doravante, as datas comemorativas deverão estar de acordo com calendário de vários segmentos étnicos nacionais. O parágrafo anterior do mesmo dispositivo, afirma in litteris: "O Estado protegerá as manifestações das culturas[footnoteRef:21] populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. Isto é, o constituinte dividiu a cultura brasileira em quatro partes. Uma dessas é formada pelas culturas populares. A segunda, os indígenas. A terceira é a afro-brasileira e a quarta é de outros grupos participantes. [21: A ideia de cultura como “bem” não é inédita no ordenamento jurídico brasileiro. A Constituição de 1946, conhecida como Constituição da República Populista, ao determinar em seu artigo 174 que “O amparo à cultura é dever do Estado”, revela que o paternalismo pós Estado Novo também pretendia ocupar-se da cultura enquanto objeto de intervenção estatal. De todo modo, pela transmissão, geração a geração, deste tema sempre associado à figura do Estado, bem como a outros temas, tais quais “amparo”, “proteção”, “incentivo”, o vocábulo cultura (re)surge, em diversas passagens do Texto Constitucional de 1988, na acepção de “bem” a ser protegido, alcançado, conforme se observa do artigo 23, incisos V e IX, segundo o qual é de competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios proporcionar “meios de acesso” à cultura, que, além da educação, ensino e desporto, constitui o objeto primordial destes entes de direito público interno.] 
Foram considerados patrimônio cultural brasileiro “as formas de expressão” e “os modos de criar, fazer e viver”. Convenhamos que é muito difícil entender o que desejou expressar o constituinte. 
Logo depois, de forma mais clara, ficou determinado que obras, objetos, documentos, edificações, conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico constituem patrimônio cultural brasileiro. Como um meio de diferenciação, foi especificado que “ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos” (art. 216, § 5.º).
Ao desporto nacional fora reservado um dispositivo e determinou que são deveres do Estado, "a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. Jamais foram identificadas as práticas desportivas que são criação nacional.
O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social e que a justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo para proferir a decisão final. 
O mercado interno brasileiro foi considerado patrimônio nacional e o ensino[footnoteRef:22] da História do Brasil considerará as contribuições das diferentes etnias e culturas para a formação do povo brasileiro, parece que o fantasma temido da identidade nacional continua assombrando. [22: Foram dedicados à educação os artigos 202 a 214 da seção I do capítulo III – Da Educação, Da Cultura e Do Desporto, do título VIII – Da Ordem Social, além do artigo 60 das Disposições Constitucionais Transitórias. Percebe-se, portanto, a relevância dada pelo legislador à matéria. Para Romualdo Portela de Oliveira (1999) a CF/1988 traz um salto de qualidade em relação às legislações anteriores, pois a declaração do direito à educação encontra-se bem detalhada, com maior abrangência e precisão da redação, prevendo inclusive os instrumentos jurídicos que garantam tal direito. O direito à educação aparece na Carta Magna já no art. 6º, onde se elencam, pela primeira vez de forma explícita num texto constitucional brasileiro, os direitos sociais: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. O artigo 205 dispõe que a educação é direito de todos e um dever do Estado. Sua promoção tem como fins o desenvolvimento tanto da pessoa quanto da própria sociedade. O ensinocomeça a ser especificado no artigo 206 que expõem como seus princípios norteadores: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na Escola; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; esse artigo já traz em si uma inovação frente aos textos anteriores, pois passa a assegurar gratuidade de ensino em todas as redes, não somente no ensino fundamental, e no ensino médio não mais como exceção. O ensino superior é, pela primeira vez, também posto como gratuito.] 
Outras disciplinas tais como a Língua Portuguesa, Ciências Naturais ou Matemática não foram contempladas no texto constitucional. O Colégio Pedro II só mereceu menção especial, e fora mantido na órbita federal. Igualmente o consumidor fora contemplado e, na ocasião em cento e vinte dias seria elaborado um código específico, que veio a ocorrer setembro de 1990.
 As principais "bondades" constitucionais[footnoteRef:23] restaram concentradas nas disposições constitucionais transitórias. Aos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que participaram do esforço de guerra (não somente aos que combateram na Itália) foram concedidas pensões especiais vitalícias, correspondentes à de segundo-tenente das Forças Armadas, assim como, “em caso de morte, pensão à viúva ou companheira ou dependente, de forma proporcional”. [23: Houve ampliação significativa na seguridade social e na saúde, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir acesso universal e igualitário à população. Note-se que o texto diz: todo o poder e não todo poder. Trata-se de um só poder, o poder de cidadania enquanto agir conjunto, que a todos incluem e a ninguém absorve. Por isso, soberano e pluralista, respeitador dos limites da sociedade civil, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Os referidos direitos são referentes à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Sua finalidade é a melhoria das condições de vida dos menos favorecidos, concretizando assim, a igualdade social.
Os direitos fundamentais, pilares da Constituição Federal de 1988 e considerados como direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos, por terem como característica advir da própria natureza humana e com caráter inviolável, intemporal e universal, estão intimamente vinculados à história.] 
Poderiam ser aproveitados no serviço público sem a exigência de concurso e com estabilidade (art. 53). Os seringueiros recrutados no Nordeste para ir à Amazônia, no esforço de guerra conhecido como “campanha da borracha”, entre 1942 e 1945, foram aquinhoados com uma pensão vitalícia de dois salários-mínimos, que poderia ser transferida “aos dependentes reconhecidamente carentes” (art. 54, § 2.º). 
Micro e pequenos empresários, mini, pequenos e médios produtores rurais foram contemplados com a retirada da correção monetária dos seus débitos efetuados em bancos e demais instituições financeiras contraídos entre 28 de fevereiro de 1986 (dia da divulgação do Plano Cruzado) e 28 de fevereiro ou 31 de dezembro de 1987 (art. 47). Era uma dádiva aos inadimplentes, isso quando a inflação havia atingido níveis estratosféricos.
A alcunha adquirida da Constituição Federal brasileira de “Cidadã” foi por prever direitos fundamentais que são direitos considerados indispensáveis à manutenção e preservação da dignidade da pessoa humana, o reduto necessário para assegurar a todos, sem distinção, uma existência digna, livre e igualitária.
Tratam-se de limitações impostas decorrentes da soberania popular aos poderes constituídos do Estado Federal e, ainda é um desdobramento do Estado Democrático de Direito. O termo "direitos e garantias fundamentais" que está previsto no título II da Constituição vigente e que engloba, a saber: a) direitos e deveres individuais e coletivos; b) direitos sociais; c) direitos à nacionalidade; d) direitos políticos e e) partidos políticos.
 É necessário realizar a distinção entre os direitos fundamentais e as garantias fundamentais. Sendo direitos fundamentais bens e benefícios previstos na Constituição enquanto as garantias são ferramentas aptas a resguardar e possibilitar o exercício desses direitos.
Os direitos fundamentais são justificáveis para existência da tutela à dignidade da pessoa humana possa existir em sua plenitude. E, caso não existam normas que assegurem e tutelem esses direitos, a ofensa atingirá a própria dignidade.
Há no texto constitucional que há uma série de bens e direitos, a saber:
 1. direito de crença que é resguardado pela garantia da proteção aos cultos e suas liturgias;
 2. o direito à liberdade de expressão que é tutelado pela vedação de censura;
 3. o direito à liberdade de locomoção que é garantido pelo princípio do devido processo legal;
 4. o direito à ampla defesa que está assegurado pela garantia do contraditório e, assim por diante...
Infelizmente, por vezes, as garantias simples não são suficientes e eficazes para resguardar o direito e, a ofensa ao direito ignora a garantia que paira sobre este. Quando é necessário usar as garantias incisivas que provocam intervenção de alguma autoridade. A estas garantias chamamos de remédios constitucionais.
Para a proteção do direito à locomoção quando violado em desprezo do devido processo legal, faz-se necessário manejar habeas corpus. Para o gozo de direito líquido e certo, faz-se necessário manejar o mandado de segurança. Para acesso aos dados e informações, quando sonegados, faz-se necessário o manejo do habeas data.
Pode-se afirmar que além das garantias fundamentais gerais previstas como a vedação à censura, ao devido processo legal, o contraditório, a publicidade dos atos processuais, o respeito à integridade física do preso e, assim, por diante, existem as garantias fundamentais instrumentais ou específicas que visam provocar as autoridades para resguardar e assegurar os direitos fundamentais. Tais garantias podem ser tanto judiciais ou administrativas, a depender da natureza da atuação do ente que intervém.
Será garantia fundamental instrumental administrativa (que é um remédio constitucional administrativo) quando a autoridade intervém na qualidade de agente administrativo, e será garantia fundamental instrumental judicial (remédio constitucional judicial) quando a autoridade atuar como agente judiciário.
Vigem quatro correntes doutrinárias que tentam explicar a natureza dos direitos e garantias fundamentais, a saber:
a) natureza juspositivista de Kelsen e Hart que se originam de normas constitucionais positivas, pois foram colocados na constituição por obra do poder constituinte. A positivação tem natureza constitutiva.
b) natureza jusnaturalista (de Dworkin, Rawls e Habermas, Heller) que nasceram do direito natural, posto que preexistam à obra do Poder Constituinte. A positivação tem natureza declaratória. 
Esta corrente foi encampada pela Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, cujo artigo 2º: “A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão;
c) natureza realista (de Norberto Bobbio) Resultam de lutas políticas e sociais.
Convém elucidar as características dos direitos fundamentais, dentre as quais, pode-se citar, como:
a) extrapatrimonial idade, uma vez que não são direitos mensuráveis economicamente;
b) universalidade, pois são aplicados a todos, indistintamente;
c) inalienabilidade, na medida em que são direitos inegociáveis e intransferíveis, não se podendo vender, doar ou ceder os referidos direitos a qualquer título;
d) imprescritibilidade, posto que não se extinguem pelo desuso, mesmo por inércia;
e) irrenunciabilidade: é possível deixar de exercer estes direitos, mas renunciá-los, jamais. 
f) vinculantes pois os poderes públicos devem observar as normas supremas da Constituição, notadamente seus direitos fundamentais;
g) interdependência- o gozo de liberdades públicas não excluio exercício de outros direitos, ao revés, o usufruto de um direito fundamental pressupõe o gozo simultâneo de outros direitos, ou mesmo de todos os direitos fundamentais;
h) indivisibilidade- todos os direitos fundamentais são merecedores de igual tratamento e não tem como cogitar em igualdade sem cogitar de liberdade.
i) historicidade: significa que os direitos fundamentais são históricos, surgiram emblematicamente com a revolução burguesa e evoluíram no correr dos tempos.
Assim, mais uma característica: a relatividade[footnoteRef:24] dos direitos fundamentais sob o argumento de que não existe direito fundamental absoluto, esse foi o entendimento que o Supremo Tribunal Federal firmou MS 23.452, Relator Min. Celso de Mello, DJ 12.05.2000, em que afirma que, com base no princípio da convivência entre liberdades[footnoteRef:25], nenhuma prerrogativa pode ser exercida de modo danoso à ordem pública e aos direitos e garantias fundamentais, os quais sofrem limitações de ordem ético-jurídica. [24: Relatividade, porque nenhum direito fundamental é absoluto, podendo ser relativizados, uma vez que dois ou mais direitos fundamentais podem entrar em conflito, e a solução de qual prevalecerá em relação ao outro ou outros dependerá na análise do caso concreto. Para Robert Alexy, os direitos fundamentais ostentam tamanha importância, do ponto de vista do direito constitucional, que a decisão sobre eles não pode ser deixada à livre disposição da maioria parlamentar simples, ou seja, do legislador ordinário. Esta historicidade na definição dos direitos fundamentais refere-se ao conteúdo ou amplitude deles, que variam de acordo com as ideologias políticas, filosóficas e axiológicas prevalecentes em cada geração. Assim, pode-se concluir que não há um conceito único e imutável de direitos fundamentais, variando o rol dos que o integram no espaço e no tempo.] [25: Princípio da convivência entre liberdades, segundo o qual os princípios constitucionais são limitados por outros princípios constitucionais, de maneira que não são em si absolutos.
Canotilho (1990, p. 174) afirma que: “Caso de conflito entre princípios, estes podem ser objeto de ponderação, de harmonização, pois eles contêm apenas <exigências> ou <standards> que em primeira linha prima facie devem ser realizados; as regras contêm <fixações normativas> definitivas sendo insustentável a validade simultânea de regras contraditórias. Dito de outro modo: a convivência de princípios é sempre conflitual”.] 
É certo que podem existir restrições a direitos fundamentais, mas isso somente ocorrerá por disposição expressamente constitucional (restrição imediata) por exemplo, artigo 5, XI e XII, ou por meio de lei ordinária promulgada com imediato fundamento na própria Constituição (restrição mediata), por exemplo, artigo 5º, LVIII.
Realmente, a grande maioria de direitos fundamentais admite a exceção, como a ida que sucumbe à legítima defesa ou a pena de morte em caso de guerra. A aplicação desta mesma pena de morte seria uma hipótese de tortura em razão do sofrimento físico e psíquico ou causa.
Reforça ainda mais essa teoria, a ideia de que a decretação do estado de sítio[footnoteRef:26] com fundamento em guerra ou agressão armada toda e qualquer garantia constitucional pode sofrer restrição, desde que expressamente conste no decreto presidencial. [26: O estado de sítio é um instrumento burocrático e político em que o chefe de Estado – que, no Brasil, é o(a) Presidente da República – suspende por um período temporário a atuação dos Poderes Legislativo (deputados e senadores) e Judiciário. Trata-se de um recurso emergencial que não pode ser utilizado para fins pessoais ou de disputa pelo poder, mas apenas para agilizar as ações governamentais em períodos de grande urgência e necessidade de eficiência do Estado. A forma como o estado de sítio funciona depende muito da legislação constitucional que cada país possui. No Brasil e na maioria dos países, o estado de sítio possui uma duração muito limitada – aqui, de 30 dias – e só pode ser estendido em casos de guerra, tendo duração enquanto essa perdurar ou se manter plenamente ativa. Na Constituição Federal (CF), o funcionamento do estado de sítio está fundamentado nos artigos 137 a 141. Podemos perceber que decretar estado de sítio no Brasil não é algo simples. Primeiramente, o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional precisam ser consultados – embora não se especifique que esses devam aprovar a medida, apesar de imaginarmos que isso seja altamente recomendado. Em segundo lugar, o Congresso Nacional precisa aprovar essa ação por maioria absoluta. Mesmo assim, isso só deve se realizar em ocasiões em que o estado de defesa se demonstra ineficaz, em que houver grande repercussão no país ou outros casos relacionados, além do estado de guerra.] 
Nem todos os direitos fundamentais que possuem aplicação imediata e, segundo José Afonso da Silva, as normas que consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia contida e aplicabilidade imediata conforme requer o artigo 5, §1º CF/1988. No entanto, as normas que definem os direitos econômicos e sociais prevendo lei integradora são de eficácia limitada de princípios programáticos[footnoteRef:27] e aplicabilidade mediata, como por exemplo, o artigo 5, XXIV. [27: Jorge MIRANDA (1988, p. 200) aponta essa finalidade desempenhada pelos princípios: “exercem, finalmente, uma função prospectiva, dinamizadora e transformadora, em virtude da força expansiva que possuem (e de que se acham desprovidos os preceitos, desde logo por causa das suas amarras verbais). Daí, o peso que revestem na interpretação evolutiva; daí, a exigência que contêm ou o convite que sugerem para adopção de novas formulações ou de novas normas que com eles melhor se coadunem e que, portanto, mais se aproximem da ideia de Direito inspiradora da Constituição (sobretudo, quando se trate de Constituição programática).] 
É relevante se distinguir a eficácia vertical da eficácia horizontal de direitos fundamentais. A vertical é a razão inicial para a criação e existência dos direitos fundamentais que visam impor obrigações sejam positivas ou negativas ao Estado. Tais direitos produzem efeitos na relação existente entre indivíduo e Estado.
Já eficácia horizontal ou eficácia externa, privada, em relação a terceiros ou particular que foi desenvolvida na década de cinquenta na Alemanha e, está correlacionada ao respeito que os cidadãos devem possuir com as demais pessoas da sociedade. Existe na relação entre particulares e devem ser observados os direitos fundamentais tais como vida, vida privada, honra, liberdade de locomoção, pensamento, religião e, assim por diante. 
A eficácia horizontal dos direitos fundamentais já é reconhecida pela Corte Suprema, que deixou registrado que as violações aos direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito de relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição e vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados igualmente à proteção dos particulares em face dos poderes privados.
Há também a eficácia diagonal, por sua vez, se aplica à relação empregado- empregador, que apesar de ser relação privada, não é, propriamente uma relação entre iguais, uma vez que na maioria das vezes deve existir subordinação para configurar a relação de emprego. Eis a eficácia diagonal, que diz respeito à forma como o trabalhador deve, na empresa, em sua relação de trabalho, ter respeitados os seus direitos fundamentais.
Existem dois princípios dividem direitos fundamentais e, ainda, devem ser observados nas relações particulares. Princípio da eficácia direta ou imediata[footnoteRef:28], que se aplicam logo nas relações privadas, sem necessidade de edição de lei para sua concretização, como por exemplo, artigo 5º, inciso X. Princípio da eficácia indireta ou mediata[footnoteRef:29] pois alguns

Continue navegando