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Sd. Paraneoplásica ● Leonor, 56 anos; ● Casada, nunca teve filhos apesar de tentar muito; ● Tabagista de um maço de cigarro ao dia desde a adolescência; ● Sempre fez exames preventivos femininos em sua ESF; ● Estava apresentando sinais inespecíficos, como: cansaço, inapetência e um pouco de náuseas nos últimos 3 meses; ● Duas outras coisas chamaram atenção: emagrecimento e uma sensação de indisposição estranha; ● Há cerca de um mês, apresentou discreto sangramento vaginal fora do período menstrual acompanhado de distensão e dor abdominal; ● Médico de família evidenciou um provável aumento de ovário esquerdo, discretamente doloroso e lhe solicitou USG pélvica e exames de sangue para avaliar as condições gerais da paciente; ● Exame confirmou o diagnóstico de neoplasia de ovário, inoperável; ● A terapêutica indicada foi a quimioterapia paliativa. ● Apoio de homecare; Brainstorming: ● Não conseguia engravidar → endometriose (?); ● Dificuldade para engravidar → procurou ajuda? o parceiro foi avaliado? ● Exame para diagnóstico → biópsia; ● Síndrome paraneoplásica → anda junto com a neoplasia, mas não é a neoplasia; ● Tratamento paliativo; ● Estadiamento da neoplasia de ovário (quando é inoperável); ● Inoperável → metástase(?); ● Climatério tem ganho de peso; Fluxograma: Perguntas: 1. Neoplasia de ovário: O câncer de ovário (CA ovário) é o tumor ginecológico de diagnóstico mais difícil e menor chance de cura, sendo que a maioria dos casos (75%) é diagnosticada em fases avançadas. É relativamente incomum, representando cerca de 3 % de todos os cânceres em mulheres no Brasil, mas tem alta letalidade, sendo a oitava causa de morte por câncer no sexo feminino. É uma condição mais comum entre 40-65 anos e a incidência aumenta conforme a idade, sendo mais comum em países industrializados e na raça branca. A grande maioria das massas anexiais nas mulheres na menacme (90% dos casos) são condições benignas, mas no período pré púbere, cerca de 50% dos tumores anexiais são malignos. a) Etiologia Fatores de risco Malignidade relacionada a processos anômalos durante a regeneração epitelial na ovulação, por isso, fatores que levam à manutenção da função ovariana por mais tempo, ou que a estimulam representam risco. - História familiar positiva - Genéticas A. Câncer ovariano isolado: Na maioria das famílias que apresentam mãe, irmã ou filha com câncer específico de ovário verificou-se alteração no lócus BRCA 1 do cromossomo 17q21, nesses casos, há um risco aumentado em 3 a 4 vezes; B. Síndrome câncer de mama-ovário É a relação hereditária mais comumente relacionada aos câncer de ovário, correspondendo a cerca de 85-95% destes. O maior risco da relação hereditária está em mulheres com a incidência de dois ou mais casos de parentes de primeiro grau com câncer de ovário. Também está associada a alterações no lócus BRCA 1 do cromossomo 17q21. A mutação do gene BRCA 2 também está associada ao CA de ovário. C. Síndrome câncer de ovário-cólon (síndrome de Lynch II ou câncer colorretal não polipóide hereditário) Trata-se de uma doença autossômica dominante encontrada associada principalmente ao câncer de cólon, e a outros tipos de câncer como o de ovário hereditário, de endométrio, urogenital e outros sítios gastrointestinais primários. - Idade Incidência aumenta conforme a idade, com incidência máxima entre 60-65 anos - Menarca precoce e menopausa tardia (controverso) - Maior incidência em nulíparas (risco aumentado de cerca de 30-60%). - Mais comum na raça branca - Usuárias de indutores ou estimulantes de ovulação, como citrato de clomifeno ou gonadotrofinas. - Fatores ambientais Há maior incidência em países desenvolvidos e industrializados, não se sabe ao certo qual a relação - Fatores nutricionais Dietas ricas em gorduras saturadas têm risco aumentado de cerca de 1,5% para o câncer de ovário - Endometriose O endometrioma tem risco de cerca de 2,5% de transformação maligna (estando relacionado ao carcinoma ovariano mucinoso, seroso, endometrióide e, principalmente ao de células claras). - Tabagismo Aumenta risco para o carcinoma mucinoso - Obesidade com IMC>30 kg/m² 2) Fatores de proteção Malignidade ovariana está relacionada a processos anômalos durante a regeneração epitelial na ovulação, por isso, fatores que levam à inibição da função ovariana representam proteção. - Amamentação Lactação inibe a função ovariana reduzindo risco para o CA ovário. - Paridade aumentada - Uso de anticoncepcionais orais, representa redução de risco em 50%, sendo o único método de quimioprevenção. - Ooforectomia profilática - Laqueadura tubária Reduz em cerca de 30% risco para câncer de ovário epitelial, teoricamente por interferir no fluxo sanguíneo e migração de fatores carcinogênicos. b) Fisiopatologia; A causa exata do desenvolvimento do câncer de ovário permanece incerta, mas sabe-se que o histórico reprodutivo e fatores relacionados à ovulação exercem papel importante. Mulheres com múltiplas gestações e primeira gestação antes dos 25 anos têm risco menor que as nuliparas ou com gestações após os 35 anos de idade. Menarca precoce e menopausa tardia aumentam o risco. Já o uso de contraceptivos orais, a ligadura tubária e a amamentação são considerados fatores protetores.3-5 O histórico familiar, principalmente pacientes com dois ou mais parentes de primeiro grau com câncer de ovário e famílias com genótipo BRCA1 e BRCA2 e síndrome de Lynch, está associado ao surgimento mais precoce da doença. No entanto, esses casos correspondem a aproximadamente 15% dos casos 1) Vias de disseminação 1.1. Transcelômica É a forma mais comum de metástases, consiste na esfoliação de células neoplásicas ovarianas que caem para o líquido peritoneal com posterior implantação no peritônio. 1.2. Continuidade ou extensão direta É também comum e se caracteriza pela disseminação direta para tecidos vizinhos como trompas, ovário contralateral e peritônio pélvico. 1.3. Linfática É uma forma mais tardia de disseminação, que se inicia no ligamento infundíbulo pélvico e compromete os linfonodos para aórticos e veia cava ou ainda podem seguir a drenagem a partir do ligamento largo e canais parametriais, atingindo os linfonodos pélvicos e seguindo para a cadeia linfonodal obturadora e das ilíacas internas e externas. 1.4. Hematogênica É mais raro e acontece em casos mais avançados. 2) Principais sítios de metástases à distância: fígado, pulmões e cérebro c) Quadro clínico; O câncer ovariano precoce é geralmente assintomático; uma massa anexial, com frequência sólida, irregular, fixa, e pode ser descoberta casualmente. Os exames pélvico e retovaginal normalmente detectam nodularidade difusa. Poucas mulheres apresentam forte dor abdominal secundária à torção da massa ovariana . A maioria das mulheres com câncer em estágio avançado apresenta sintomas inespecíficos (p. ex., dispepsia, distensão abdominal, saciedade precoce, dor causada por gases e/ou dor lombar). Posteriormente, geralmente ocorrem dor pélvica, anemia, caquexia e distensão abdominal por aumento do ovário ou ascite. Os tumores de células germinativas ou estromais podem apresentar efeitos funcionais (p. ex: hipertireoidismo, feminização, virilização). d) Diagnóstico e estadiamento; A ultrassonografia transvaginal costuma ser o primeiro exame diagnóstico para avaliação inicial de pacientes com massa pélvica. A tomografia de abdome e pelve é o exame padrão para avaliação pré-operatória e que auxilia na distinção entre pacientes candidatos à cirurgia citorredutora primária ou pacientes que são candidatos à quimioterapia neoadjuvante antes da cirurgia.6 A ressonância magnética deve ser utilizada para a caracterização de massaspélvicas que não foram bem caracterizadas pela ultrassonografia ESTADIAMENTO O estadiamento do câncer de ovário, assim como os demais cânceres ginecológicos, à exceção do câncer de colo uterino, é cirúrgico. Ou seja, ao mesmo tempo em que há o estadiamento, há o tratamento. 1) Exames a serem realizados a fim de buscar metástases: 1.1. Citologia cervical e endometrial 1.2. Exames laboratoriais (hemograma, bioquímica e CA 125) 1.3. Ultrassonografia abdominal total 1.4. RX de tórax 1.5. Colonoscopia (se suspeita de invasão intestinal) 1.6. Laparotomia ou laparoscopia: Ainda é o acesso padrão ouro preconizado para estadiamento e tratamento do câncer de ovário. O estadiamento é completo somente após a avaliação do material retirado no procedimento cirúrgico. Deve ser realizado: A. Citologia oncótica do líquido ascítico ou lavado peritoneal (diafragma direito e esquerdo, abdome e pelve); B. Múltiplas biópsias peritoneais; C. Avaliar toda a cavidade abdominal à procura de implantes secundários em órgãos ressecando os implantes (citorredução) e realizar congelamento e análise histopatológica; D. Avaliar linfonodos pélvicos e para aórticos no ato cirúrgico (alguns indicam linfadenectomia para todas); E. Histerectomia total extrafascial com salpingo-ooforectomia bilateral com retirada de toda a massa tumoral visível e omentectomia infracólica. A partir do tecido retirado na peça cirúrgica cabe ainda realizar a classificação segundo os graus histológicos do câncer de ovário e) Tratamento (paliativo, multidisciplinar, home care); Estágios IA ou IB e graus I ou II: A. Cirurgia fundamental: Histerectomia total + salpingo-ooferectomia bilateral + omentectomia infracólica e citorredução tumoral (+apendicectomia se tumor mucinoso) B. Cirurgia conservadora: Salpingoforoplastia unilateral - somente se estágio IA e grau I ou II desejo reprodutivo ou tumor borderline. Indicar reoperação após constituir prole. Estágios IA ou IB e grau III ou estágio IC: Cirurgia fundamental + Quimioterapia adjuvante (4-6 semanas após a cirurgia) Estágio II e III: Cirurgia citorredutora + Quimioterapia adjuvante - à cirurgia se presta a retirar a maior quantidade de implantes tumorais e o maior volume possível, sabendo-se que a doença é irressecável, mas que o procedimento cirúrgico reduz a neoplasia facilitando a ação quimioterápica. *Estágio II pode ser possível cirurgia fundamental Estágio IV: Avaliar cirurgia citorredutora, em alguns casos ou quimioterapia exclusiva Seguimento Consultas 3-4 meses por 2 anos, posteriormente 4-6 meses, por 3 anos, e anualmente em seguida. Ca 125 - pode ser solicitado para acompanhamento de tratamento e de progressão de doença. No entanto, mediante elevação isolada do marcador, na ausência de alterações clínicas ou de imagem, sugere-se estreitar o seguimento e repetir imagens mais precocemente. Solicitar tomografias quando clinicamente indicado. 2. Sobre a síndrome paraneoplásica: a) Definição; b) Exames complementares; Alguns indivíduos com câncer desenvolvem sinais e sintomas que não podem ser prontamente explicados devido à distribuição anatômica do tumor, ou pela elaboração dos hormônios nativos do tecido pelos quais o tumor surgiu; esses são conhecidos como síndromes paraneoplásicas. Elas ocorrem em cerca de 10% das pessoas com câncer. Apesar de sua relativa infrequência, é importante reconhecer as síndromes paraneoplásicas, por diversos motivos: • Elas podem representar a manifestação mais precoce de uma neoplasia oculta. • Em pacientes afetados, elas podem causar problemas clinicamente significativos e podem até ser letais. • Elas podem mimetizar a doença metastática e, assim, atrapalhar o tratamento. Uma classificação das síndromes paraneoplásicas e de suas presumidas origens está representada na Tabela. Alguns comentários sobre as síndromes mais comuns e interessantes podem ser encontrados depois dela. As endocrinopatias são síndromes paraneoplásicas frequentemente encontradas. Os cânceres responsáveis não são de origem endócrina e a atividade secretória de tais tumores é referida como produção ectópica de hormônio. A síndrome de Cushing é a endocrinopatia mais comum. Aproximadamente 50% dos indivíduos com essa endocrinopatia apresentam carcinoma de pulmão, principalmente do tipo de células pequenas. Ele é causado por uma produção excessiva de corticotrofina, ou de peptídeos semelhantes à corticotrofina. O precursor da corticotrofina é uma molécula grande conhecida como pró-opiomelanocortina. Pacientes com câncer de pulmão e síndrome de Cushing possuem níveis séricos aumentados de pró-opiomelanocortina e corticotrofina. A primeira não é encontrada no soro de pacientes com corticotrofina em excesso produzida pela hipófise. A hipercalcemia é provavelmente a síndrome paraneoplásica mais comum; de fato, a hipercalcemia sintomática é mais frequentemente relacionada a algumas formas de câncer do que ao hiperparatireoidismo. Dois processos gerais estão envolvidos na hipercalcemia associada ao câncer: (1) a osteólise induzida por câncer, quer seja no osso primário, tal como no mieloma múltiplo, ou metastática para o osso advinda de qualquer lesão primária e (2) a produção de substâncias humorais calcêmicas por neoplasias extraósseas. Apenas o segundo mecanismo é considerado paraneoplásico; a hipercalcemia devido ao envolvimento primário ou secundário do esqueleto através do tumor não é uma síndrome paraneoplásica. Diversos fatores humorais foram associados à hipercalcemia paraneoplásica da malignidade. O mais importante, a proteína relacionada ao hormônio da paratireoide (PTHRP), é uma molécula associada ao hormônio da paratireoide (PTH), mas distinta dele. A PTHRP lembra o hormônio nativo somente em sua extremidade N-terminal. Ela possui algumas ações biológicas similares às do PTH, e ambos os hormônios compartilham um receptor ligado à proteína G, conhecido como receptor PTH/PTHRP (frequentemente denominado PTH-R ou PTHRP-R). Diferentemente do PTH, o PTHRP é produzido em pequenas quantidades por muitos tecidos normais, incluindo ceratinócitos, músculos, ossos e ovários. Ele regula o transporte de cálcio na mama lactante e através da placenta, e aparenta modular o desenvolvimento e remodelação pulmonar. Os tumores mais frequentemente associados à hipercalcemia paraneoplásica são os carcinomas da mama, do pulmão, dos rins e do ovário. Em casos de câncer de mama, a hipercalcemia devido à produção de PTHRP é frequentemente exacerbada por metástases ósseas osteolíticas. A neoplasia pulmonar geralmente associada à hipercalcemia é o carcinoma de células escamosas. Além da PTHRP, diversos outros fatores, tais como IL-1, TGF-α, TNF e diidroxivitamina D, também foram casualmente envolvidos na hipercalcemia da doença maligna. As síndromes paraneoplásicas neuromiopáticas tomam diversas formas, tais como neuropatias periféricas, degeneração cerebelar cortical, uma polimiopatia lembrando a polimiosite é uma síndrome miastênica similar à miastenia gravis. A causa dessas síndromes é pouco compreendida. Em alguns casos, anticorpos, presumivelmente induzidos contra os antígenos das células tumorais que fazem reação cruzada com antígenos dos neurônios, foram detectados. Postula-se que alguns cânceres viscerais são expressos ectopicamente por certos antígenos neuronais. Por alguma razão desconhecida, o sistema imune reconhece esses antígenos como estranhos e monta uma resposta imunológica. A acantose nigricans é uma alteração caracterizada por placas negro-acinzentadas com pele hiperceratótica espessa, de aparência avermelhada. Ela ocorre raramente como uma doença determinada geneticamente em jovens e adultos . Além disso, em cerca de 50% dos casos, principalmente naqueles acima de 40 anos, o aparecimento dessas lesões estáassociado a alguma forma de câncer. Algumas alterações cutâneas aparecem antes de o câncer ser descoberto. A osteoartropatia hipertrófica é encontrada em 1% a 10% dos pacientes com carcinomas de pulmão. Raramente, outras formas de câncer estão envolvidas. Essa desordem é caracterizada por: (1) formação de osso novo periosteal, primariamente nas extremidades distais dos ossos longos, nos metatarsos, nos metacarpos e nas falanges proximais; (2) artrite das articulações adjacentes e (3) baqueteamento dos dedos. Apesar de a osteoartropatia raramente ser vista em pacientes não cancerosos, o baqueteamento das pontas dos dedos pode ser encontrado em doenças do fígado, na doença pulmonar difusa, na doença cardíaca cianótica congênita, na colite ulcerativa e em outras doenças. A causa da osteoartropatia hipetrófica é desconhecida. Diversas manifestações vasculares e hematológicas podem surgir em associação a uma variedade de tipos de câncer. Como mencionado na discussão sobre a trombose , a tromboflebite migratória (síndrome de Trousseau) pode ser encontrada associada aos cânceres de localização profunda, mais frequentemente nos carcinomas do pâncreas ou de pulmão. A coagulação intravascular disseminada pode complicar diversas desordens clínicas; entre os cânceres, ela está geralmente associada à leucemia pró-mielocítica aguda e ao adenocarcinoma prostático. Vegetações fibrinosas não bacterianas, suaves e pequenas, algumas vezes se formam nos folhetos das valvas cardíacas (mais frequentemente nas válvulas do lado esquerdo), principalmente em indivíduos com adenocarcinomas secretores de mucina. 3. Relacione com a perda de peso: a) Neoplasia de ovário; A perda de peso significativa tem associação com a anorexia. A anorexia - perda espontânea e não intencional de apetite - é um dos sintomas mais comuns do câncer avançado. Resulta de alterações do paladar e olfato ou mudanças na regulação hipotalâmica. A desnutrição grave acompanhada de anorexia e astenia é denominada Caquexia. Síndrome da anorexia-caquexia (SAC): A anorexia é um sintoma comum nos pacientes oncológicos, associada inicialmente ao processo natural da doença ou, mais tardiamente, ao crescimento tumoral e presença de metástases. Pode estar relacionada à náusea e vômito, à própria doença, ou ser resultante de medicamentos utilizados durante o tratamento. Consiste na perda de apetite, saciedade precoce, combinação de ambas ou alteração das preferências alimentares. Esses sintomas não são verificados em todos os tipos de tumor. A diferença mais importante entre desnutrição e caquexia do câncer tem a preferência pela mobilização de gordura poupando o músculo esquelético na desnutrição, enquanto na caquexia há igual mobilização de gordura e tecido muscular. A decisão de comer ou não comer é um processo complexo. Está geralmente associada à fome, seja ela por deficiência de alimentos ou mesmo por falta de nutrientes específicos. A fome é o conjunto de sensações despertadas pela necessidade de alimento, que leva o indivíduo à procura captação e ingestão desse alimento. O termo apetite refere-se à sensação de prazer de uma necessidade fisiológica. A regulação do apetite é um mecanismo complexo, mediado pelos níveis séricos dos nutrientes circulantes, função hepática, capacidade GI, sensações de paladar e olfato, todos esses processos mediados pelo cérebro. A saciedade é a sensação consciente de cessação de fome de plenitude. A etiologia da anorexia é desconhecida, pois muitos fatores intervêm em sua aparição, além de substâncias liberadas tanto pelo tumor como pelo hospedeiro, em resposta à presença do tumor. A anorexia ocorre em cerca de 40% dos pacientes com câncer, no momento do diagnóstico, e em mais de dois terços dos doentes terminais. Tumores sólidos constituem a principal causa de ingestão alimentar deficiente, por efeitos do tumor ou por causas não mecânicas, conduzindo à progressiva inanição, com comprometimento do EN, do perfil imunológico, podendo levar à caquexia. Caquexia cancerosa é uma síndrome complexa e multifatorial caracterizada por um intenso consumo generalizado dos tecidos corporais, muscular e adiposo, com uma perda progressiva e involuntária de peso, anemia, astenia, balanço nitrogenado negativo, disfunção imune e alterações metabólicas, geralmente associadas à anorexia. Por ter intensa relação com a anorexia, utiliza-se o termo SAC. Fisiopatologia da caquexia: A origem da SAC é multifatorial. O aumento do consumo energético pelo tumor, a liberação de fatores que agem no centro da saciedade diminuindo o consumo alimentar e as citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumor levam às anormalidades metabólicas características da síndrome. A caquexia pode ser classificada em: primária ou secundária. 1) primária: relacionada às consequências metabólicas da presença do tumor associada a alterações inflamatórias resulta em consumo progressivo e freqüentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo. 2) secundária: resultante da diminuição na ingestão e absorção de nutrientes por obstruções tumorais do TGI, anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. As duas condições aparecem concomitantemente em um só indivíduo. A caquexia secundária ao câncer é decorrente de uma complexa interação entre o indivíduo, seu status social e psicológico, e a resposta endócrino-metabólica desencadeada pela doença e pelas múltiplas opções de tratamento. Alterações hormonais: O controle da ingestão alimentar tem regulação cerebral, a nível de hipotálamo, eixo hipotálamo hipofisário e sistema autonômico (simpático e parassimpático). Essa regulação / controle é feita por mecanismos de ordem comportamental, como ingestão de alimentos, padrões de atividade e de sono ou fisiológicos, como ajuste da temperatura corporal, gasto energético basal e ativação da resposta aguda ao estresse. Vários neuropeptídeos centrais e GI - leptina, neuropeptídeo Y, melanocortina, grelina, insulina, galamina, colecistoquinina, endorfina - interferem na regulação da ingestão dos alimentos, como também no gasto energético. Alterações nos níveis dessas substâncias contribuem para a SAC. Leptina: Hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo, sendo um componente da alça de homeostase que rege o controle do peso corpóreo. Uma das ações da leptina é a regulação das taxas de gordura corpórea. Níveis elevados de gordura são acompanhados de aumento proporcional dos níveis circulatórios de leptina. Quando há restrição calórica ou inanição, com consequente perda de peso, os níveis de leptina como os de insulina decaem, voltando a elevar-se com a realimentação. Assim, quando há perda de peso, ocorre diminuição dos níveis de leptina proporcionais à perda de gordura corporal. Baixos níveis de leptina cerebral aumentam a atividade de sinais orexígenos hipotalâmicos, que estimulam o apetite, suprimem o gasto energético e diminuem a atividade de sinais anorexígenos, os quais suprimem o apetite e aumentam o gasto energético, ou seja, leptina reduz o apetite e aumenta o gasto energético, ativando circuitos catabólicos e prevenindo circuitos anabólicos. Altos níveis de leptina bloqueiam a ação do neuropeptídeo Y. A anorexia associada ao câncer parece resultar de fatores circulantes produzidos pelo hospedeiro em resposta ao tumor -as citocinas - substâncias consideradas mediadores do processo da caquexia. Os níveis aumentados de citocinas reduzem a ingestão alimentar e produzem diversas características da SAC, tendo, ainda, correlação com a progressão de tumores. As citocinas podem produzir longa inibição do apetite por estimularem a expressão e liberação de leptina e/ou mimetizam os efeitos hipotalâmicos de um feedback negativo excessivo, sinalizado pela leptina, impedindo a execução normal e mecanismos compensatórios,diante da diminuição da ingestão alimentar e aumento da perda de peso. Por esta razão, a perda de peso observada em um paciente com câncer, difere muito daquela observada em uma desnutrição simples com ausência de tumores. Neuropeptídeo Y (NPY): O hormônio também associado à caquexia, abundantemente distribuído no cérebro, incluindo o hipotálamo, situado abaixo da leptina na via metabólica, é o mais potente peptídeo orexígeno (estimulante do apetite ativado pela diminuição de leptina, fazendo parte de uma rede interconectada de substâncias anorexígenas, como a galanina, insulina, peptídios opióides, hormônio concentrador de melanina (MCH), orexina e AGRP (Peptídeo Agouti Associado). O NPY pode estimular o apetite por si só ou mediante a liberação de outros peptídeos orexígenos acima citados. O NPY tem como ação aumentar a ingestão de alimentos, diminuir o gasto energético e aumentar a lipogênese, promovendo o balanço energético positivo e o aumento da reserva de gordura. Melanocortina (MC): Constituem uma família de peptídeos regulatórios, que incluem a adrenocorticotrofina (ACTH) e o hormônio melanócito estimulante (MSH), também associados à SAC. Esse grupo de peptídeos e seus receptores ajudam a regular o apetite e a temperatura corporal como também são importantes para memória, bem-estar e imunidade. Apesar da acentuada perda de peso, em que normalmente se esperaria uma regulação negativa dos sistemas anorexígenos relacionados à melanocortina, o sistema permanece ativo, durante a caquexia neoplásica, aumentando ainda mais a taxa metabólica, a anorexia e a perda de peso. Mas, se o receptor central de melanocortina for bloqueado, os processos de anorexia e caquexia são revertidos. Grelina: É um hormônio peptídico, predominantemente, secretado por células epiteliais do fundo gástrico. É um importante regulador do apetite e do peso corporal, por mecanismos centrais envolvendo NPY E O ARGP, ambos potentes estimulantes do apetite a nível hipotalâmico. Tem-se atribuído à grelina a causa do balanço energético positivo, pela diminuição da gordura, por mecanismo independente do GH. Os níveis plasmáticos de grelina podem estar diminuídos em pacientes com SAC devido um bloqueio na resposta adaptada ao jejum, por diminuição da expressão do RNAm da grelina no estômago, diminuindo assim o apetite. Mas, existem controvérsias a respeito dos níveis de grelina na circulação e sua ação. Um experimento realizado com pacientes com câncer de pulmão e em QT, indicou níveis elevados de grelina, com diminuição da ingestão alimentar pós-QT por esses pacientes. Alterações sensoriais: A saciedade precoce também é comum no paciente oncológico, presente em aproximadamente 50% dos pacientes, por alterações na motilidade Gl e redução da capacidade gástrica. O declínio da capacidade gástrica pode ser causado por uma neuropatia autonômica paraneoplásica, em virtude do tratamento quimioterápico que altera o feedback autonômico do SNC. Neoplasias malignas também podem produzir saciedade precoce. b) Quimioterapia; Alterações no apetite são comuns em pessoas com câncer ou em tratamento da doença. Pessoas com falta de apetite ou perda de apetite podem comer menos que o habitual, não sentirem fome ou se sentirem saciados após comer apenas uma pequena quantidade. A perda de apetite progressiva pode levar à perda de peso, desnutrição e perda da massa muscular. Causas: Certos tipos de câncer, como de ovário, pâncreas e estômago, geralmente podem causar perda de apetite, por afetarem o metabolismo. A perda de peso relacionada ao câncer pode ser grave porque a pessoa também perde massa muscular A perda de apetite também ocorre em 80% a 90% das pessoas com câncer avançado. As razões para a perda de apetite incluem: Alterações no metabolismo, saciedade precoce, Outros sintomas de câncer, por exemplo, dor, quimioterapia. Imunoterapia e Sedativos. Além disso, o tratamento radioterápico ou cirúrgico dos órgãos GI, como estômago ou intestino, também podem causar perda de apetite. Os efeitos colaterais relacionados à quimioterapia e radioterapia que podem causar perda de apetite incluem: Náuseas e vômitos, Úlceras e dor na boca, Boca seca, Dificuldade para deglutir, Dificuldade para mastigar, Alterações no paladar e olfato, Dor, Fadiga e Depressão. Os principais efeitos colaterais da quimioterapia são a toxicidade hematológica, GI, a cardiotoxicidade, hepatotoxicidade, toxicidade pulmonar, neurotoxicidade, a disfunção reprodutiva, toxicidade vesical e renal, alterações metabólicas, toxicidade dermatológica, reações alérgicas e anafilaxia. A toxicidade gastrintestinal dos quimioterápicos manifesta-se como náuseas e vômitos, mucosite, anorexia, diarréia e constipação intestinal. Estas variam de intensidade entre leve, moderada e severa, podendo ainda sobrepor-se ou seguir se umas às outras. As náuseas e vômitos, frequentemente, constituem o efeito colateral mais incômodo e estressante referido pelos pacientes submetidos à quimioterapia antineoplásica. Sua ocorrência é atribuída à estimulação do centro controlador do vômito (centro emético) localizado no SNC e sua intensidade guarda relação com o potencial emético da droga utilizada, bem como, com fatores adicionais como dose, via de administração, velocidade de aplicação, combinação de drogas e ainda por reflexo condicionado. Náusea e vômito induzido por quimioterapia - fisiopatologia: provavelmente resulta de fármacos quimioterápicos que atuam em dois locais: diretamente no trato gastrointestinal e no centro do vômito do cérebro. Em ambas as áreas, a náusea e o vômito são mediados pelas ações de certos neurotransmissores, sendo a serotonina, a dopamina e a neurocinina-1 as mais importantes. A mucosite pós-quimioterapia deve-se à destruição das células de revestimento de todo o TGI pela ação dos QT, uma vez que, essas células também apresentam um ciclo de vida curto e rápida proliferação com alta taxa de atividade mitótica. Esta agressão pode manifestar-se como ulcerações da mucosa oral, retal e anal, podendo ser leve, moderada ou severa; aparece entre dois a dez dias após a aplicação do quimioterápico e torna o paciente suscetível a infecções, necrose e sangramento. A anorexia apresentada pelos pacientes submetidos à quimioterapia deve-se a vários fatores associados a esta e entre si. Mudanças na musculatura e mucosa do estômago e intestino delgado retardam o processo digestivo, promovendo uma sensação de plenitude gástrica que interfere no apetite. Somados a este fato, estão a presença de náuseas e vômitos, frequentemente de mucosite oral, alterações do paladar relacionadas a alguns QT específicos, e ainda alterações psicológicas como medo, ansiedade, depressão e estresse. Todas estas alterações, presentes em maior ou menor grau levam o paciente à anorexia que, quando não bem avaliada e tratada, é responsável pela debilitação nutricional chegando à caquexia. Quadros assim predispõem o paciente a diversas complicações, reduzindo a qualidade de vida e mesmo a sobrevida. A diarreia frequentemente aparece como manifestação de toxicidade GI, porque a ação dos QT sobre as células deste trato provoca uma descamação da mucosa sem reposição adequada, fazendo com que a irritação, inflamação e alterações funcionais levem à diarréia. Quando intensa e associada aos demais efeitos colaterais dos QT sobre o TGI, a diarréia pode agravar de forma significativa o estado geral do paciente predispondo- o a complicações como desidratação, desequilíbrio hidroeletrolítico, diminuição da absorção calórica, perda de peso e fraqueza. Ainda a constipação intestinal pode manifestar-se como toxicidade Gl dos QT. Normalmente não é ligada apenas ao uso dessas drogas, mas sim à associação de todas as manifestações relacionadas. Especificamente relacionada à quimioterapia, a constipação intestinalé antes uma neurotoxicidade, em que há diminuição da motilidade Gl devida à ação das drogas sobre o sistema nervoso do aparelho digestivo, levando mesmo a quadros de íleo paralítico. A constipação intestinal frequentemente provoca anorexia, desconforto, dor e distensão abdominal. Quando prolongado, este quadro pode ainda provocar náuseas, vômitos e desequilíbrio eletrolítico. Manejo: O primeiro passo no tratamento da perda de apetite é tratar a causa subjacente. O tratamento de feridas na boca, boca seca, dor ou depressão ajudam a melhorar o apetite. O tratamento adicional para perda de apetite associada à perda de peso pode incluir medicamentos estimulantes do apetite, suplementos nutricionais e alimentação por sonda. 4. Minti.
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