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Lúria Niemic – MED UNIC 34 Complicação frequente no paciente portador de uma neoplasia maligna em estado avançado. Caracteriza- se por um intenso consumo dos tecidos muscular e adiposo, com consequente perda involuntária de peso, além de anemia, astenia, balanço nitrogenado negativo, devido alterações fisiológicas, metabólicas e imunológicas. A SAC é intensificada pelas alterações no metabolismo dos nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), alterações hormonais (leptina, NPY, MC, grelina), além do aumento das citocinas circulantes (TNF-a, IL-1, IL-6, IFN). Mudanças na percepção de paladar e olfato ocorridas com a progressão tumoral e com o tratamento oncológico, também contribuem com a anorexia e, consequentemente, com a SAC. A SAC no câncer classifica-se em: 1) Primária: consequências metabólicas da presença do câncer gerando alterações inflamatórias. Ocorre consumo progressivo e frequentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo, além de anorexia, saciedade precoce e astenia; 2) Secundária: resultante da diminuição na ingestão e absorção de nutrientes por obstruções tumorais do TGI, anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. As 2 condições podem aparecer concomitantemente no mesmo indivíduo. DIFERENÇA DE DESNUTRIÇÃO E CAQUEXIA: Desnutrição – Má nutrição é um estado no qual o desequilíbrio (deficiência ou excesso) de energia, proteínas e outros nutrientes provoca efeitos adversos mensuráveis sobre a forma do corpo, tamanho, composição, função e evolução clínica. Caquexia – Considerada o resultado da interação entre a doença de base e a diminuída disponibilidade de nutrientes. Visto que, nem todos os pacientes desnutridos são caquéticos, mas todos os pacientes caquéticos são desnutridos. CAQUEXIA Consiste em uma síndrome multifatorial relacionada às doenças subjacentes e caracterizada por perda de peso corporal grave, perda de tecido adiposo e muscular e aumentado catabolismo proteico. Outros aspectos que favorecem o seu aparecimento são anorexia e alterações metabólicas: estado inflamatório exacerbado, aumento da proteólise muscular, resistência à insulina e metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios prejudicados. As anormalidades metabólicas são causadas por mediadores inflamatórios do hospedeiro e do tumor. A classificação da caquexia é segundo sua gravidade: ➞ Pré-caquexia: perda de peso igual ou > 5%, anorexia e alterações metabólicas; ➞ Caquexia: perda de peso igual ou > 5%, ou de 2%, com IMC < 20kg/m2, ou sarcopenia acompanhada de perda de peso corporal equivalente ou > 2%. Refere ainda presença frequente de redução da ingestão e de inflamação sistêmica. ➞ Caquexia refratária: pacientes com diferentes graus de caquexia, mas nos quais há intenso catabolismo e que não respondem ao tratamento anti-câncer e pacientes com baixo escore de desempenho e sobrevida esperada < 3 meses devem ser incluídos. Os parâmetros para determinar a inclusão do paciente em cada um dos estágios abrangem a determinação da concentração de proteína C-reativa no soro, avaliação da anorexia e fatores correlatos (redução do apetite, alterações na percepção gustativa e olfativa, motilidade GI reduzida, constipação, dor, etc), metabólitos indicadores de catabolismo, massa e força muscular (dinamometria dos membros superiores), bem como manifestações psicossociais. Há possíveis variações decorrentes da especificidade da população analisada, como idade, sexo, etnicidade. Essa classificação garante que o paciente receba o tratamento mais adequado às suas necessidades. ANOREXIA É uma entidade clínica, que corresponde à redução ou perda de apetite. A regulação do apetite é feita por um sistema complexo central e periférico. Fatores neuroanatômicos, genéticos, endócrinos, patofisiológicos, nutricionais, físicos, psicológicos, sociais e ambientais estão envolvidos e se manifestam em fome e saciedade. Aspectos neuroendócrinos do centro da ingestão alimentar indicam interação entre hormônios orexígenos, anorexígenos, peptídios e neurotransmissores. Problema 6 – Perda de peso SINDROME ANOREXIA-CAQUEXIA Lúria Niemic – MED UNIC 34 Mecanismos de controle compreendem sinais neuroendócrinos aferentes e eferentes de órgãos e tecidos periféricos. Células do tecido adiposo, pâncreas, músculo e fígado e locais centrais do hipotálamo (núcleo arqueado, núcleo paraventricular e lateral) desempenham papel de manutenção do comportamento alimentar, balanço energético e do peso corporal. O hipotálamo, TGI e células endócrinas de órgãos periféricos são os centros de controle do apetite. Hormônios sinalizadores, neuropeptídios e outros mensageiros químicos desses locais promovem hiperfagia, hipofagia ou ambos em alguns casos. O desequilíbrio desses componentes que regulam o consumo alimentar e o gasto energético representa um fator agravante para a SAC. SARCOPENIA (FORÇA MUSCULAR REDUZIDA) Se refere à menor habilidade de grupos musculares exercerem contração isométrica. Termos relacionados são força isocinética ou pico de torque muscular; mensuração dos compósitos, descrevendo o desempenho muscular, bem como resistência muscular em testes mais longos. Pode ser medida em grupos musculares únicos, no caso o extensor do punho ou joelho, ou de forma mais complexa em testes como andar, sentar, 6 minutos de caminhada ou subida de escada. O mecanismo de declínio da força muscular se deve à menor síntese proteica e maior proteólise muscular. Em caquexia, a proteólise muscular está aumentada com o envolvimento da via ubiquitina-proteasoma (UPP) e da via da proteína mitocondrial UCP-3 (Uncoupling Protein-3), que parece envolver os receptores PPAR (Peroxisome Proliferator-Activated Receptors) e o fator de transcrição NFkB. A diminuição da força muscular adiciona-se à redução da massa muscular, anorexia e alterações bioquímicas, como critérios de diagnóstico da caquexia. Para serem clinicamente úteis, os critérios de diagnóstico de caquexia devem ser sensíveis e específicos para concluir que o paciente é caquético. Além disso, os critérios podem servir para caracterizar grupos distintos de pacientes com caquexia, os quais podem necessitar de diferentes intervenções anticaquexia. FADIGA No câncer avançado, a fadiga é conhecida como um sentimento subjetivo de fraqueza, cansaço e falta de energia. Pode ser também relatada como uma síndrome que envolve componentes físicos, cognitivos e afetivo-emocionais. Ainda não existe consenso sobre esses termos, mas está associada à fadiga física e o cansaço, à fadiga mental ou cognitiva. Pode ser classificada em primária, quando desencadeada pelo próprio câncer. Caracteriza-se pela depleção de energia, alterações nos níveis de ATP e no metabolismo muscular (mecanismos periféricos) e atuação de mecanismos centrais. Estes incluem irregularidade do eixo HHA; papel indireto da serotonina no metabolismo de carboidratos, aminoácidos de cadeia ramificada, dopamina e noradrenalina; ativação vagal eferente; recrutamento diminuído de unidades motoras e perturbação do ritmo circadiano. Pode ser intimamente ligada à persistente resposta a citocinas pró-inflamatórias em pacientes com câncer. A secundária pode ser devido a outras síndromes concomitantes ao câncer, comorbidades e medicações. Entre elas encontram-se anemia, caquexia, infecções, desordens metabólicas e endócrinas, depressão, delírio, dispneia ou dor, distúrbios do sono, drogas sedativas para controle sintomático e inatividade física prolongada. ESTRESSE OXIDATIVO Espécies reativas de oxigênio (ERO) são produzidas em sua maior parte durante a fosforilação oxidativa na mitocôndria e em excesso podem causar danos ao DNA, a proteínase lipídios celulares, por terem elétrons desemparelhados, altamente reativos. Isto altera a função celular e induz à apoptose. O estresse oxidativo, gerado por falha no sistema antioxidante do organismo, está associado à patogênese de muitas doenças crônicas, como DM e suas complicações, aterosclerose, doenças neurodegenerativas e no envelhecimento, incluindo a carcinogênese. A patogênese da anorexia no câncer é descrita como a falta de habilidade das áreas hipotalâmicas envolvidas no controle do metabolismo energético sob condições fisiológicas em responder apropriadamente aos sinais provenientes dos tecidos periféricos. A “resistência hipotalâmica” em pacientes com câncer está mediada por neuroinflamação e alguns efeitos das citocinas parecem ser mediados pela serotonina. A perda muscular é a principal característica da caquexia. Essa perda muscular resulta da degradação proteica aumentada pelo sistema UPP e citocinas pró- inflamatórias estimulam esse sistema, o estresse oxidativo pode também contribuir para a degradação de proteínas. Esse estresse acontece pela atividade antioxidante ineficiente e aumento da produção de ERO. A expressão parece estar relacionada ainda ao estresse nitrosativo secundário à síntese aumentada de NO. Estresse oxidativo e nitrosativo elevados apresentam efeitos moleculares específicos na degradação de proteína. ERO estimula o sistema UPP, via ativação do fator nuclear NFkB e acelera a perda protéica. Lúria Niemic – MED UNIC 34 Por outro lado, a adição de radicais de NO em resíduos de tirosina acarreta degradação das proteínas modificadas pelo proteasoma. O estresse oxidativo induz apoptose do músculo esquelético na caquexia do câncer. Parece que a formação de NO e o estresse nitrosativo induzem fragmentação do DNA. Essa síndrome pode também ser encontrada como “emagrecimento involuntário”. Pode ser definido como o estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia. Tanto o grau de emagrecimento como o tempo em que ele ocorreu, devem ser avaliados sempre de acordo com o seu peso basal anterior ao quadro de emagrecimento involuntário. Considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de • 2% do peso basal em 1 semana, • >5% em 1 mês, • >7,5% em 3 meses e • 10% em 6 a 12 meses. Algumas situações devem ser avaliadas de forma específicas, como em idosos, nos quais considera-se síndrome consumptiva em perdas > 5% em 6 a 12 meses e em pacientes portadores de anorexia nervosa, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas > 15% em 6 meses. Para não precisar gravar todos esses números, a definição mais utilizada é a perda de > 10% do peso basal em 6 a 12 meses. FISIOPATOLOGIA É dividida em 3 categorias: diminuição da ingestão de alimentos, metabolismo acelerado ou aumento da perda de energia. A perda de peso pode ser descrita como um sintoma de desordem multifatorial que inclui alteração da ingesta calórica, da absorção intestinal, da motilidade intestinal, do uso de medicamentos e abuso de drogas ou da produção aumentada de substâncias endógenas como TFN, IL-6, substâncias bombesina-like e fatores liberadores de corticotropina. Outros fatores como náusea e vômito causados pela quimioterapia, dor oncológica e compressões tumorais do TGI, quando provocam disfagia e distensão abdominal, também são importantes na perda de peso. A regulação do apetite sofre alterações com o envelhecimento (“anorexia fisiológica da idade”), há aumento da circulação de colecistocinina, por exemplo, que associada à diminuição do metabolismo basal pode levar à perda de peso importante. A maioria dos homens atinge o máximo de peso corporal ao redor dos 40 anos e as mulheres aos 50 anos. Logo após, ocorre progressiva perda de massa magra corporal, principalmente nas extremidades e estoque de gordura central. Atrofia gordurosa também pode ocorrer gerando aparência caquética. Alguns estudos mostram que há declínio natural da sensibilidade ao paladar e olfato com o aumento da idade, o que pode contribuir para a diminuição de peso. Distúrbios de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a diminuição de ingesta calórica. Classifica-se perda de peso em 2 grandes grupos: 1) Perda de peso involuntária com aumento ou diminuição do apetite COM AUMENTO DO APETITE – Está associada com aumento do gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina. Neste caso, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. São causas deste tipo de condição: No hipertireoidismo, que a perda de peso está associada com aumento do gasto energético basal e com o déficit na absorção intestinal devido ao aumento da motilidade GI. Em idosos também pode ocorrer a associação desta doença com anorexia. No DM descompensado, principalmente no tipo 1, a causa da perda de peso está associada à deficiência de insulina e à hiperglicemia com glicosúria (diurese osmótica), causando depleção de líquido extra e intracelular (desidratação). No feocromocitoma a atividade adrenérgica exacerbada aumenta a taxa de metabolismo basal. Outra causa é a baixa condição econômica, que pode resultar em dificuldades para comprar alimentos adequados para a manutenção do equilíbrio calórico. COM DIMINUIÇÃO DO APETITE – Incluam-se as doenças psiquiátricas como depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade e paranóia, uso crônico de drogas, doenças como câncer, endocrinopatias, doenças crônicas, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças GI. A perda de peso devido ao câncer (SAC) é comum e ocasionalmente pode ser a única manifestação de tumores ocultos. Qualquer câncer pode evoluir com perda de peso, tanto como primeira manifestação ou manifestação tardia do tumor. Nos pacientes HIV+ a perda de peso é sintoma relativamente comum, mas ao contrário dos cânceres, esta redução de peso está associada primariamente à diminuição da ingestão calórica, já que o gasto energético é igual ao paciente sem a doença. Perda de peso súbita geralmente está relacionada à infecção secundária, enquanto que perda gradual geralmente está relacionada à redução de ingesta calórica. SINDROME CONSUMPTIVA Lúria Niemic – MED UNIC 34 Dentre as endocrinopatias, a insuficiência adrenal pode cursar com anorexia, náusea e perda de peso, assim como a hipercalcemia e alguns pacientes com hipertireoidismo, geralmente idoso. Nos pacientes com DM, pode ocorrer a perda de apetite como sintoma da gastroparesia, má absorção intestinal por neuropatia intestinal e insuficiência renal. Diabético tipo 1 pode também apresentar doença de Addison associada. Pacientes com doenças psiquiátricas frequentemente apresentam perda de peso como critério de diagnóstico, como na depressão maior (+ 5,0% em 1 mês). A caquexia pode ser induzida por uso crônico de neuroléptico e deve ser descontinuada neste caso. O uso crônico do álcool, nicotina, opiáceos e estimulantes do SNC diminuem o apetite e causam perda de peso. Nas doenças cardiopulmonares, a perda de peso relaciona-se à insuficiência cardíaca (caquexia cardíaca) ou à DPOC. No entanto, esta perda de peso pode ser ocultada pelo edema concomitante. Doenças neurológicas como o AVC, demências, esclerose múltipla, Parkinson, podem estar associadas com alteração de motilidade GI bem como disfagia, alteração do olfato, paladar (disgeusia), constipação, disfunção esfincteriana e falta de apetite. A doença de Parkinson relaciona-se com anorexia e aumento do gasto energético. Uremia induz anorexia, náusea e vômito, assim como perda de proteína pela urina, por exemplo, na síndrome nefrótica, contribuindo para o balanço negativo calórico. Pacientes em situações de isolamento social tendem a apresentardiminuição do apetite. Nos idosos, o isolamento se refere não apenas ao ato de comer, mas também à dificuldade em comprar e preparar os alimentos. 2) Perda de peso voluntária Anorexia nervosa. Dietas para perda de gordura. DIAGNÓSTICO Deve ser feito o rastreio buscando entender o que levou a perda de peso, com ajuda da anamnese e exame físico. ANAMNESE – Durante investigação etiológica de síndrome consumptiva, é necessário perguntar ao paciente sobre seu apetite, atividade física, como é o padrão da perda de peso (flutuante ou estável), por quanto tempo vem perdendo e se a perda é voluntária ou involuntária. Como auxílio, existe a regra mneumônica que consiste em 9 “D”s de causas de perda de peso nesta população: 1. Dentição: alteração na cavidade oral 2. Disfagia 3. Distúrbio do paladar (Disgeusia) 4. Diarréia 5. Depressão 6. Doença crônica 7. Demência 8. Disfunção (física, cognitiva e psicossocial) ou dependência. 9. Drogas Outra para lembrar-se dos diagnósticos diferenciais é MEALS ON WHEELS: • Medication: medicamentos • Emotional problems: problemas emocionais, principalmente depressão, anorexia nervosa, alcoolismo • Late Life paranóia Swallowing: deglutição • Oral factors: fatores orais • No Money: problemas financeiros • Wandering ou comportamentos alterados • H: hiper/hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, hipoadrenalismo • Enteric problems: problemas entéricos • Eating: problemas para se alimentar sozinho • Low salt, low cholesterol: dieta sem gordura e sal • Stones, social problems: problemas sociais Deve-se também quantificar a Medida de Independência Funcional (MIF) dos pacientes no intuito de avaliar o grau de dependência nas AVDs. Avalia 18 categorias pontuadas de 1 a 7 e classificadas quanto ao grau de dependência para a realização da tarefa. As categorias são agrupadas em 6 dimensões. Cada dimensão é analisada pela soma de suas categorias referentes; quanto menor a pontuação, maior é o grau de dependência. Somando-se os pontos das dimensões obtém-se escore total mínimo de 18 e máximo de 126 pontos. Existem diversos instrumentos validados que poderão auxiliar na avaliação da perda de peso do paciente, como Mini Nutritional Assessment (MNA), que avalia o risco de desnutrição em idosos, e inclui a medida de circunferência do braço (valores < 22 cm para mulheres e 23 cm para homens são sugestivos de deficiência crônica de energia). EXAME FÍSICO – Deve ser detalhado e incluir exame da pele (observar sinais de desnutrição, deficiência vitamina e oligoelementos), cavidade oral, avaliação da tireoide, propedêutica cardiovascular, pulmonar e abdominal, toque retal, palpação de linfonodos, exame neurológico, incluindo o Mini Exame do Estado Mental (avalia orientação, memoria imediata, atenção e cálculo, linguagem), medidas antropométricas para cálculo do IMC (kg/m2), além dos sinais vitais. Lúria Niemic – MED UNIC 34 EXAMES COMPLEMENTARES INICIAIS – Para uma avaliação inicial da etiologia em casos em que a história e o exame físico não forem indicativos da causa, são sugeridos exames: 1) Hemograma 2) Eletrólitos 3) Glicemia 4) Função renal e hepática 5) TSH 6) Sorologia para HIV 7) Proteína C reativa 8) Parasitológico de fezes 9) Raio X de tórax 10) Urina 1 11) PPD Embora concentrações de albumina sérica, pré albumina, transferrina, colesterol e contagem de leucócitos possam ajudar a estabelecer o diagnóstico de desnutrição, suas determinações não contribuem para determinar a causa do problema. Na ausência de alteração no exame físico e nos exames iniciais complementares, deve-se seguir a investigação com exames de rastreamento para câncer, conforme sexo e idade. MARCADORES TUMORAIS – Geralmente não são diagnósticos de neoplasias, embora possam contribuir para isso. O valor diagnóstico do marcador tumoral depende da prevalência da doença na população, podendo auxiliar no diagnóstico diferencial e predizer metástases. TRATAMENTO – As primeiras prioridades são identificar e tratar as causas. O tratamento dos distúrbios metabólicos, psiquiátricos, infecciosos ou sistêmicos coexistentes pode ser suficiente para recuperar gradativamente o peso e o estado funcional. Os fármacos que causam náusea ou anorexia devem ser interrompidos ou substituídos, quando possível. Nos casos de emagrecimento involuntário inexplicável, os suplementos nutricionais revertem a perda de peso em alguns casos. Orientar os pacientes a consumir suplementos entre as refeições, em vez de junto com as refeições, pode ajudar a atenuar a supressão do apetite e facilitar o aumento da ingestão oral. Os pacientes com distúrbios debilitantes e que podem aderir a um programa de exercícios apropriados adquirem massa proteica, força e resistência musculares e podem ampliar suas capacidades de realizar as AVDs. FLUXOGRAMA DE RASTREAMENTO Termo para indicar distúrbios que acompanham tumores benignos ou malignos, mas que não estão relacionados diretamente com o efeito de massa ou com a invasão do tumor primário. Quase todos os tipos de tumor têm potencial para produção de hormônios ou citocinas, ou para indução de respostas imunológicas. Os sinais e sintomas, bem como as alterações metabólicas, associados a esses distúrbios podem passar despercebidos no contexto de um câncer e seu tratamento. Como consequência, manifestações clínicas atípicas em pacientes com câncer devem levantar suspeitas sobre uma possível síndrome paraneoplásica. Elas aparecem em 10-15% dos pacientes, e seu reconhecimento é importante por: podem representar a mais precoce manifestação de uma neoplasia oculta e o complexo de sintomas pode simular doença metastática, confundindo o tratamento. As mais comuns dessas síndromes são: hipercalcemia, síndrome de Cushing e endocardite trombótica não bacteriana; as neoplasias associadas com mais frequência a essas e outras síndromes são os cânceres de pulmão e de mama, bem como as malignidades hematológicas. A hipercalcemia em pacientes com câncer é multifatorial, mas o mecanismo mais importante é a síntese de uma proteína relacionada ao hormônio paratireóideo (PTHrP) pelas células tumorais. Também estão implicados outros fatores derivados do tumor, como TGF-a, um fator polipeptídico ativador de osteoclastos, e a forma ativa da vitamina D. SINDROME PARANEOPLÁSICA Lúria Niemic – MED UNIC 34 Outro possível mecanismo para a hipercalcemia é a doença metastática osteolítica disseminada do osso; entretanto, a hipercalcemia resultante de metástases esqueléticas não é uma síndrome paraneoplásica. A síndrome de Cushing que surge como um fenômeno paraneoplásico normalmente se relaciona à produção ectópica de ACTH ou de polipeptídeos semelhantes ao ACTH pelas células cancerosas, como em cânceres de pulmão de células pequenas. Às vezes, um tumor induz várias síndromes concomitantemente. Também podem manifestar-se como hipercoagulabilidade, levando à trombose venosa e à endocardite trombótica não bacteriana. Outras manifestações são o baqueteamento dos dedos e a osteoartropatia hipertrófica em pacientes com carcinoma de pulmão. CORREÇÃO DO CÁLCIO – A hipercalcemia é definida como cálcio sérico > 10,5 mg/dL ou cálcio iônico acima do valor normal. A hipocalcemia é definida por cálcio total < 8,5 mg/dL ou 2,2 mM, ou cálcio ionizado inferior aos limites da normalidade. A hipoalbuminemia pode levar à mensuração de cálcio total diminuído. Por isso, a concentração de cálcio sérico deve ser ajustada para a concentração de albumina: Ca corrigido = Ca medido + [(4,0 - albumina) x 0,8] É importante reconhecer os sinais de alerta dos cânceres mais comuns passíveis de melhor prognóstico se descobertos no início. A indicação para orastreamento, segundo a OMS, está restrita aos cânceres de mama, colo do útero e cólon e reto. Entretanto, os cânceres de pele, estômago, próstata e cavidade oral são passíveis de diagnóstico precoce mediante avaliação e encaminhamento após os primeiros sinais e sintomas, ao contrário do câncer de pulmão e de esôfago. RASTREAMENTO DE CÂNCER DO COLO DO ÚTERO – O principal método e o mais utilizado para é o teste de Papanicolau (exame citopatológico do colo do útero) para detecção das lesões precursoras. Deve ser disponibilizado às mulheres com vida sexual ativa, prioritariamente àquelas da faixa etária de 25-59 anos, que é a de maior ocorrência das lesões pré- malignas de alto grau, passíveis de serem efetivamente tratadas e não evoluírem para câncer. Antes de 25 anos, prevalecem as lesões de baixo grau, cuja maior parte regredirá espontaneamente e deverá ser apenas observada. Após 60 anos, por outro lado, se a mulher tiver tido acesso à rotina dos exames preventivos, com resultados normais, o risco de desenvolvimento do câncer cervical é diminuído. A continuidade do rastreamento após os 60 anos deve ser individualizada e, após os 65 anos, a recomendação é de suspender o rastreamento se os últimos exames estiverem normais. A rotina no rastreamento é a repetição do exame a cada 3 anos, após 2 exames normais consecutivos no intervalo de 1 ano. Portadoras do HIV ou imunodeprimidas devem realizar o exame anualmente. RASTREAMENTO DE CÂNCER DE MAMA – Quando identificado em estádios iniciais (lesões < 2 cm de diâmetro), apresenta prognóstico mais favorável e a cura pode chegar a 100%. Cerca de 25-30% das mortes por câncer de mama na população entre 50-69 anos podem ser evitadas com estratégias de rastreamento. A mamografia e o exame clínico das mamas são os métodos preconizados para o rastreamento. RASTREAMENTO DE CÂNCER DA PRÓSTATA – É a 2ª causa mais comum de morte por câncer entre os homens. É raro < 50 anos e a incidência aumenta com a idade. Não é uma doença única, mas um espectro de doenças, variando desde tumores muito agressivos àqueles de crescimento lento que podem não causar sintomas ou a morte. Recomenda-se a não adoção do rastreamento em homens assintomáticos com idade > 75 anos, uma vez que existe nível adequado de evidência mostrando que essa estratégia é ineficaz e que os danos superam os benefícios. O teste de PSA pode identificar o câncer de próstata localizado. Porém existem limitações que dificultam a sua utilização como marcador desse câncer: O PSA é tecido-específico, mas não tumor-específico. Logo, outras condições como o aumento benigno da próstata, prostatite e ITU inferior podem elevar seu nível. Cerca de 2/3 dos homens com PSA elevado NÃO têm câncer de próstata detectado na biópsia; Até 20% de todos os homens com câncer de próstata clinicamente significativo têm PSA normal; RASTREAMENTO DE NEOPLASIAS Lúria Niemic – MED UNIC 34 O teste leva à identificação de cânceres de próstata que não teriam se tornado clinicamente evidentes durante a vida do paciente. Ele não vai, por si só, distinguir entre tumores agressivos que estejam em fase inicial (e que se desenvolverão rapidamente) e aqueles que não são agressivos. RASTREAMENTO DE CÂNCER DE CÓLON E RETO – A história natural do câncer do intestino propicia condições ideais à sua detecção precoce, uma vez que a maioria deles evolui a partir de lesões benignas, os pólipos adenomatosos, por um período de 10-15 anos, existindo um período pré-clínico detectável longo. A detecção precoce possibilita tanto a prevenção da ocorrência, ao permitir a identificação e retirada dos pólipos intestinais, quanto à detecção em estádios iniciais, que, tratados, podem elevar a taxa de sobrevida em 5 anos a 90%. A probabilidade de um pólipo adenomatoso se transformar em um câncer está correlacionada ao seu tamanho. Pólipos com < 1 cm dificilmente evoluem para câncer. Logo, aqueles com 1 cm ou + são o alvo do rastreamento para esse câncer. Recomenda-se o rastreamento usando pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou signoidoscopia, entre 50-75 anos. Os riscos e os benefícios variam conforme o exame de rastreamento. Quanto ao intervalo ideal de rastreamento, pode ser tanto anual quanto bienal. RASTREAMENTO DE CÂNCER DE PELE – As evidências ainda são insuficientes para se avaliar os benefícios e malefícios para a recomendação do exame de toda a pele do corpo por um médico de atenção primária ou pela própria pessoa, a fim do diagnóstico precoce de melanoma, câncer espinocelular e basocelular na população geral. A inefetividade do rastreamento de melanomas relaciona-se a algumas particularidades: ➞ O melanoma nodular (10% dos casos) é um câncer agressivo e de rápido crescimento e o rastreamento não é capaz de detectá-lo em uma fase curável; ➞ Alguns melanomas detectados pelo rastreamento consistirão de tumores indolentes que, provavelmente, não representam ameaça à vida do indivíduo; ➞ O rastreamento de melanoma comparado com outras doenças que apresentam baixa incidência não apresenta uma relação custo-efetiva positiva. O câncer de pele é dividido em não melanoma (carcinoma basocelular e carcinoma epidermoide) e melanoma. Os não melanoma, de menor malignidade, são os mais incidentes, sendo 70% deles carcinomas basocelulares e 25% carcinoma epidermoides. Os melanomas representam < 5% do total de cânceres de pele, sendo o mais grave deles devido à alta possibilidade de metástases. Já entre os não melanomas, o carcinoma epidermoide é o que tem possibilidade de apresentá-las. Os principais fatores de risco são: exposição excessiva ao sol e sensibilidade da pele ao sol (queimadura pelo sol e não bronzeamento). Para os melanomas, acrescentam-se nevo congênito (pinta escura), xeroderma pigmentoso, nevo displásico (lesões escuras da pele com alterações celulares pré- cancerosas) e história pessoal ou familiar da doença. É importante ficar atenta aos sinais de alerta: manchas que coçam, doem, sangram ou descamam; feridas que não cicatrizam em 4 semanas; sinais que mudam de cor, textura, tamanho, espessura ou contornos; elevações ou nódulos da pele circunscritos e adquiridos que aumentam de tamanho e tenham a aparência perolada, translúcida, avermelhada ou escura. É importante saber os sinais de transformação de um “sinal” em melanoma – ABCD: Assimetria; Bordas irregulares; Cor variável: preta, castanha, branca, avermelhada ou azul na mesma lesão; Diâmetro > 6mm. RASTREAMENTO DE CÂNCER DE BOCA – As evidências ainda são insuficientes para a recomendação contra ou a favor do exame rotineiro de adultos. O câncer de boca, aqui incluídas as patologias malignas do lábio, língua, gengiva, assoalho da boca, palato, glândulas salivares, amígdala e orofaringe, apesar de estar entre as 10 topografias primárias mais incidentes, não figura entre as principais causas de mortes por neoplasias. O câncer é mais frequente em homem e na faixa etária > 50 anos. Apesar do fato das lesões ocasionadas pelo câncer de boca ser facilmente visualizadas e acessíveis a procedimentos diagnósticos, a maioria dos casos somente é diagnosticada em estádios tardios de evolução, aumentando a morbimortalidade. Vale lembrar que a cavidade oral apresenta alta sensibilidade e, portanto, uma lesão pode ser facilmente percebida por um indivíduo orientado para sinais de alerta: feridas que não cicatrizam nos lábios e na boca, manchas brancas ou avermelhadas nas gengivas, língua ou mucosa oral, tumorações ou endurações (caroços) na região da boca ou pescoço. MARCADORES TUMORAIS São proteínas ou outras substâncias produzidas tanto por células normais quanto por células cancerígenas, mas em quantidades maiores pelas células cancerígenas. Podem ser encontrados no sangue, urina,fezes, tumores ou em outros tecidos ou fluídos corporais de alguns pacientes com câncer. No entanto, cada vez mais, marcadores genômicos, como mutações genéticas tumorais, padrões de expressão gênica tumoral e alterações não genéticas no DNA tumoral, estão sendo usados como marcadores tumorais. ➞ Alfa-fetoproteína (AFP) – Detecta câncer de fígado e tumores de células germinativas. Analisado: sangue. Uso: diagnóstico do câncer de fígado e monitorar a resposta ao tratamento; estadiamento, prognóstico e monitorar a resposta ao tratamento de tumores de células germinativas. Lúria Niemic – MED UNIC 34 ➞ Beta-hCG – Detecta coriocarcinoma e tumores de células germinativas. Analisado: urina ou sangue. Uso: estadiamento, prognóstico e monitorar a resposta ao tratamento. ➞ CA19-9 – Detecta câncer de pâncreas, vesícula biliar, ducto biliar e gástrico. Analisado: sangue. Uso: monitorar a resposta ao tratamento. ➞ PCA3 mRNA – Detecta câncer de próstata. O que é analisado: urina (coletada após o exame retal digital). Uso: determinar a necessidade de repetir biópsia após uma biópsia negativa. ➞ CA-125 – Detecta câncer de ovário. O que é analisado: sangue. Uso: diagnóstico, monitorar a resposta ao tratamento e avaliação da recidiva. ➞ Calcitonina – Detecta câncer medular da tireoide. O que é analisado: sangue. Uso: diagnóstico, monitorar a resposta ao tratamento e avaliação da recidiva. ➞ CA15-3/CA27.29 – Detecta câncer de mama. O que é analisado: sangue. Uso: monitorar a resposta ao tratamento e avaliação da recidiva. ➞ CEA (Antígeno carcinoembrionário) – Detecta câncer colorretal e alguns outros tipos de câncer. O que é analisado: sangue. Uso: monitorar a resposta ao tratamento e verificar se a doença recidivou ou se disseminou.
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