Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 1. Entender o mecanismo fisiopatológico envolvido na caquexia relacionada ao câncer. O câncer é definido como uma enfermidade multifatorial crônica, caracterizada pela proliferação descontrolada das células. Cerca de metade de todos os pacientes com câncer apresentam uma síndrome de caquexia, caracterizada por anorexia e perda de tecido adiposo e massa muscular esquelética. No entanto, o estabelecimento de desnutrição em quadros oncológicos está diretamente relacionado ao tipo e a localização da neoplasia. A caquexia do câncer é definida clinicamente por anorexia, perda de peso involuntário, perda de massa muscular, alterações da sensibilidade do paladar, saciedade precoce, fraqueza e atrofia de órgãos viscerais. Existem duas formas de caquexia: a) Caquexia primária: é o tipo mais comum e resulta de interações metabólicas entre o tumor e o hospedeiro que levam ao consumo progressivo da proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo. b) Caquexia secundaria: resulta da ingestão e absorção diminuídas. Ambos os tipos podem se apresentam simultaneamente em um mesmo paciente. Porém, geralmente o que ocorre primeiro é a redução da ingesta e posteriormente das alterações metabólicas. A fisiopatologia desse processo é caracterizada essencialmente pelo balanço energético e proteico negativo, combinado com a redução da ingesta e alterações metabólicas. De um modo geral, quatro fatores levam ao desenvolvimento da caquexia: a desregulação metabólica, o aumento da proteólise e da lipólise, a diminuição da absorção de nutrientes e a desregulação do apetite. Esses fatores levam a um desbalanço energético negativo e consequentemente a uma perda de massa muscular. Tem-se demostrado também, uma correlação entre marcadores moleculares de inflamação sistêmica e perda ponderal em doentes oncológicos. Estudos recentes demonstram uma ligação entre a elevação desses marcadores e a diminuição da qualidade de vida e da taxa de sobrevivência em doentes com caquexia. Tanto os fatores tumorais como a resposta fisiológica por parte do hospedeiro, levam ao aumento da expressão e liberação de citocinas pró-inflamatórias, tais como TNF- alfa, IL-1 BETA, IL-6. ALTERAÇÕES METABÓLICAS 1. Carboidratos A glicose é o principal substrato da célula cancerígena, chegando a consumir até 50x mais que uma célula normal. Seria esperado então, que os níveis plasmáticos de glicose diminuíssem, mas isso não ocorre, pois há um aumento de gliconeogênses hepática. Ou seja, o consumo excessivo de glicose pelo tumor, aumenta a produção de glicose hepática a partir do lactato (ciclo de cori) e de aminoácidos musculares do hospedeiro Problema 03 – Quanto tempo? cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 (gliconeogênese). Essa conversão do lactato para a glicose envolve um consumo de ATP, resultando num processo de gasto energético, culminando na perda de peso e de massa. Além disso, outro processo adjuvante é a resistência insulínica que leva a uma semelhança com o diabetes, devido ao processo inflamatório constante que reduz a sensibilidade das células beta pancreáticas e dos tecidos periféricos; 2. Proteínas O paciente com câncer não apresenta mecanismo poupador de proteínas, então a sua proteólise é constante, não havendo redução do catabolismo muscular, que leva à depleção proteica e atrofia muscular, visceral e hipoalbuminemia (devido ao excesso de proliferação celular). O catabolismo muscular esta aumentado para fornecer ao organismo, aminoácidos para a gliconeogênese, com consequente depleção da massa muscular esquelética. Do ponto de vista clinico, a diminuição da massa proteica e atrofia esquelética predispõe o canceroso, um risco no reparo inadequado de feridas, aumentam a susceptibilidade a infecções e levam a fraqueza e a diminuição da capacidade funcional. 3. Lipídios Na caquexia do câncer, a perda de gordura é responsável O metabolismo lipídico encontra-se alterado, resultando na depleção da reserva de gordura e níveis elevados de lipídios circulantes. A perda de gordura é responsável pela maior parte da perda de peso. Além disso, essa perda de gordura está relacionada ao aumento da lipólise associada à diminuição da lipogênese, em consequência à queda da lípase lipoprotéica levando a hiperlipidemia. O tumor produz moléculas capazes de induzir lipólise e aumentar a oxidação de ácidos graxos. Consequentemente, há uma maior utilização de ácidos graxos, como fonte preferencial de energia, devido a exacerbação da gliconeogênese e resistência à insulina. CITOCINAS As citocinas que são tidas como mediadores da caquexia são: IL-1B, IL-6 e TNF-alfa; a) TNF-ALFA: esse fator também é conhecido como caquexina, sendo secretada por macrófagos devido ao crescimento tumoral ou infecções bacterianas. Há a anorexia por ele devido a inibição dos centros de saciedade e a síntese da lipoproteína lipase, que é uma enzima que facilita a liberação de ácidos graxos pelas lipoproteinas. Além disso, ele ativa o sistema de coagulação, aumenta a cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 síntese proteica nos hepatócitos e promove choque endotóxico. b) IL-1: é uma citocina inflamatória secretada pelos macrófagos, e juntamente com o TNF-alfa tem a capacidade de iniciar a caquexia. Vale ressaltar que ela possui os mesmos efeitos da TNF-alfa, mas não age sobre os músculos e os efeitos da caquexia são menos potentes. Além disso, essa citocina age diretamente sobre o centro de regulação do apetite, induzindo a saciedade. c) IL-6: É produzida pelos macrófagos, monócitos e fibroblastos. Produz as proteínas da fase aguda da inflamação e sintetiza fibrinogênio. Tem efeito pequeno sobre a proteólise muscular. Também interfere na ingesta alimentar, desencadeando a anorexia e a caquexia. ALTERAÇÕES HOMORNAIS O hipotálamo-hipofise e o sistema autonômico (simpático e parassimpático) são responsáveis pelo controle da ingestão de alimentos. Esse controle depende de diversos tipos de neuro-hormonios centrais e gastrointestinais. 1) Leptina É um hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo que regula o peso, pelo controle da concentração lipídica corporal. A perda de peso leva a diminuição de leptina e consequentemente à diminuição da gordura corporal. Ela inibe a ingestão e aumenta o metabolismo calórico pelofeedback hipotalâmico, ativando o catabolismo e inibindo o anabolismo. Mas o que acontece na anorexia do câncer, é que o organismo em resposta ao tumor, passa a produzir citocinas que estimulam a liberação de leptina ou mimetizam um feedback excessivo. o. Por esta razão, a perda de peso observada em um paciente com câncer, difere muito daquela observada em uma desnutrição simples com ausência de tumores. 2) Neuropeptídeo Y É um peptídeo estimulador do apetite, regulador de ansiedade, da resistência vascular e periférica. Ele promove a atividade lipogênica enzimática no tecido adiposo, reduzindo a atividade do SNS e inibindo a lipólise. Em situações de estresse, como no câncer, ocorre uma redução da liberação desse neuropeptídio e consequentemente, reduz a ingesta de alimentos, aumentando o gasto energético e reduzindo a lipogênese. 3) Grelina A grelina é um neuropeptídio secretado endocrinamente, principalmente no estomago, que regula o apetite e o peso. Ele tem seu nível aumentado durante o jejum, e diminuído no pós-prandial. Nos pacientes com caquexia por câncer há um bloqueio da resposta adaptada que faz com que o apetite diminua, devido a concentração baixa do mesmo. ALTERAÇÕES SENSORIAIS A baixa ingestão pode ocorrer ainda por reações adversas do tratamento radical do câncer, como náuseas e vômitos decorrentes da quimioterapia, que diminuem o apetite. Muitos pacientes atribuem a diminuição do apetite e da ingestão alimentar a alterações desagradáveis do paladar e olfato. Os fatores cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 que alteram o paladar e o olfato são complexos, sejam eles anatômicos, fisiológicos ou de outra natureza. É importante salientar que a supressão do paladar é mais severa após tratamento radioterápico na região da orofaringe. 2. Estudar os sinais e sintomas secundários ao desenvolvimento das doenças malignas e efeitos do seu tratamento. As manifestações clinicas do câncer são extremamente heterogêneas. No estágio inicial da doença, o paciente encontra-se geralmente assintomático, e com a progressão da doença, sintomas como perda de peso, tosse, dispneia e rouquidão podem se tornar aparentes. Os sinais e sintomas do câncer podem ser divididos em locais, regionais e sistêmicos. Dentre os sintomas locais, estão dor, tumorações e ulcerações persistente. Os efeitos regionais podem decorrer da obstrução de vias aéreas, drenagem linfática, trato gastrointestinal e vias biliares ou trato geniturinários. As manifestações sistêmicas do câncer podem ser secundárias à presença de grandes massas tumorais com repercussões sistêmicas, de metástases disseminadas ou de síndromes paraneoplasicas. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS As síndromes paraneoplásicas são caracterizadas por sinais e sintomas causados pelos tumores que não estão relacionados ao sitio primário da doença ou a localização de suas metástases; Essas síndromes são decorrentes da produção, pelo tumor, de substancias que direta ou indiretamente causam sintomas À distância. A apresentação clinica é variável, podendo ocorrer manifestações endócrinas, neurológicas, hematológicas, dermatológicas, renais, gastrointestinais, reumatologicas e eletrolíticas. O seu reconhecimento pelo médico é de grande importância, pois pode ser a primeira manifestação do câncer. A síndrome é caracterizada pelo seu curso clinico em paralelo ao do câncer subjacente, e desse modo, com o decorrer do tratamento efetivo do câncer, espera-se que as manifestações paraneoplásicas também regridam. Os principais tipos de câncer associados ao aparecimento de síndromes paraneoplásicas são de pulmão, principalmente carcinoma de pequenas células, carcinoma de mama, de ovário, linfoma de Hodgkin e carcinoma tímico. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS ENDOCRINOLÓGICAS As síndromes paraneoplásicas endocrinológicas são decorrentes da síntese e da secreção de substâncias com características hormonais pelas células neoplásicas. Isso pode ocorrer em células que fisiologicamente as sintetizam e passam a faze-los de forma independente ou de células que ao longo do processo de carcinogenese, tornam-se capazes de sintetizar tais substancias de forma clinicamente relevantes. 1. Secreção ectópica de ACTH A síndrome de Cushing (hipercortisolismo) é resultante da produção e da secreção autônoma e/ou excessiva de cortisol, que pode ser dependente ou não do hormônio corticotrófico (ACTH) e a secreção ectópica de ACTH associada a neoplasias corresponde a 12% dos casos de síndrome de Cushing. O câncer mais frequente que causa essa síndrome é o carcinoma de pequenas células. As manifestações clinicas desse quadro de hipercorticolismo são obesidade centrípeta, cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 estrias violáceas, hipertensão secundaria, fraqueza, fácies cushicnoide. 2. Hipercalcemia Os principais tumores relacionados com esta manifestação são pulmão, mama e mieloma múltiplo. A hipercalcemia deve ser lembrada como possível causa de sintomas comuns aos pacientes com câncer, como constipação intestinal, náuseas, vômitos, dor abdominal, convulsões, confusão mental e rebaixamento do nível de consciência. Insuficiência renal aguda é uma das complicações graves que podem ocorrer, sendo causada pela diminuição da capacidade de concentração urinária, ocasionando perda excessiva de água livre, diminuição da taxa de filtração glomerular e, por fim, lesão tubular. 3. Hipoglicemia A hipoglicemia pode ser uma manifestação paraneoplásica resultante do excesso de insulina sintetizada pelo próprio tumor, como no caso dos insulinomas. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS NEUROLÓGICAS Em pacientes com câncer e síndrome neurológica paraneoplásica, qualquer porção do sistema nervoso pode ser afetada, desde o córtex cerebral até a junção neuromuscular. A síndrome neurológica paraneoplásica é pouco frequente, entretanto a miastenia de Eanton-Lambert pode ser detectada em 3% dos pacientes com carcinoma de pulmão de pequenas células. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS HEMATOLÓGICAS As síndromes paraneoplasicas hematológicas são extremamente comuns e compreendem a elevação ou a redução de eritrócitos, granulócitos, plaquetas, os quais são mediados por fatores de crescimento ou interleucinas. A anemia de doença crônica, normocitica e normocromica é a forma mais comum de anemia em pacientes com câncer, seguida de anemia secundaria À infiltração medular e ao tratamento (quimioterapia e radioterapia). A anemia de doença crônicaé caracterizada pelo baixo nível de ferro sérico, ferritina normal ou elevada e capacidade total de ligação do ferro baixa. Anemia hemolítica ocorre principalmente em pacientes com linfoma de células B. Trombocitopenia e leucopenia são raramente causadas por síndrome paraneoplásica, mas secundárias a quimioterapia/radioterapia e/ou infiltração da medula óssea SÍNDROME PARANEOPLÁSICA DERMATOLÓGICA As síndromes paraneoplásicas dermatológicas mais frequentes são acantose nigricans, penfigóide, acroceratose paraneoplásica e dermatose neutrofílica. ANOREXIA E CAQUEXIA A anorexia e a caquexia caracterizam a síndrome paraneoplásica mais comum, afetando 50% dos pacientes com câncer, dos quais 15% experimentam perda ponderal maior que 10%. O quadro clínico inclui anorexia, perda de peso, atrofia muscular, anemia, astenia e alterações do metabolismo dos substratos, e sua presença indica prognóstico sombrio; O objetivo primário é adequar a ingestão de calorias, diminuindo ao máximo as calorias de fontes proteicas. Sempre que possível, o trato cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 gastrintestinal deve ser utilizado como via para suporte nutricional. SINDROMES PARANEOPLÁSICAS RENAIS Glomerulopatias podem ser a primeira manifestação de doença neoplásica. As síndromes nefrítica e/ou nefrótica, decorrentes da deposição de antígenos tumorais, anticorpos e consequente ativação do complemento, podem estar associadas a câncer de pulmão e cólon. EFEITOS COLATERAIS RELACIONADOS AO TRATAMENTO Os principais efeitos colaterais relacionados ao tratamento quimioterápico são náuseas, vômitos, toxicidade hematológica, diarreia, mucosite e distúrbios hidroeletrolíticos. Pacientes em radioterapia para câncer de cabeça e pescoço geralmente apresentam disgeusia (disfunção no sentido do paladar), xerostomia (boca seca) e/ou mucosite oral (inflamação e ulceração na cavidade oral), que podem ser resultado da própria doença ou de seu tratamento Náuseas e vômitos são efeitos colaterais comuns a vários agentes quimioterápicos. Náuseas e vômitos mal controlados podem levar a desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e perda de peso. As náuseas induzidas pela quimioterapia são classificadas em: Aguda: quando ocorre nas primeiras 24h de administração da quimio. Tardia: ocorre após 24h de administração da quimio. Antecipatória: quando o paciente já tem um ciclo prévio de tratamento, o início das náuseas pode ocorrer antes de iniciar o tratamento. Mucosite é um termo geral para eritema, edema, descamação e ulceração da mucosa oral e orofaringe secundaria a quimio ou radio. Esta condição causa dor severa, disfagia, desnutrição e infecções secundarias. Destaca-se ainda entre os efeitos colaterais a toxicidade hematológica. Pode-se manifestar por anemia, plaquetopenia e neutropenia. Dentre as complicações infecciosas relacionadas a quimioterapia, destaca-se a neutropenia febril, caracterizada por contagem absoluta de neutrófilos < 500, aumentando o risco de desenvolver infecções bacterianas. Os agentes quimioterápicos podem induzir também toxicidade cutânea local ou sistema. Isso porque, a pele, mucosas, anexos como glândulas sebáceas e sudoríparas e os pelos e unhas são tecidos de alta proliferação celular, portanto mais susceptíveis a desenvolverem reações adversas, como alopecias, hiperpigmentação, alterações ungueais. 3. Conhecer os exames complementares solicitados em suspeita de caquexia relacionada a neoplasia. A abordagem do paciente com suspeita de câncer baseia-se na história e exame físico completos com o objetivo de identificar o sitio primário da doença. O diagnóstico do câncer baseia-se na confirmação histológica realizada pela biopsia da lesão. Exames complementares, como endoscopia, tomografia, ressonância magnética, cintilografia óssea e tomografia por emissão de pósitrons, podem ser usadas para localizar o sitio primário da doença e definir sua extensão. Deve-se solicitar ainda, na investigação inicial, hemograma completo, função renal e hepática e eletrólitos que são analisados no momento da decisão terapêutica. Algumas neoplasias podem estar associadas à elevação de marcadores tumorais, que são substancias produzidas pelo tumor ou pelo cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 hospedeiro em resposta ao tumor. Porém, em geral estes marcadores não são específicos de um tumor e podem estar elevados em outras situações não neoplásicas. Dessa forma, é importante destacar que os marcadores tumorais não devem ser utilizados para diagnostico de câncer. Alguns marcadores podem ser usados para monitorar o tratamento e a progressão da doença, dentre eles, destacam-se o CEA, CA- 125, PSA sérico. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O estado nutricional dos pacientes é usualmente avaliado pela combinação de parâmetros clínicos, antropométricos e laboratoriais. As medidas antropométricas são frequentemente utilizadas na determinação dos compartimentos corporais: tecido adiposo, muscular, ósseo e agua extracelular. A suspeita de caquexia ocorre diante de uma perda involuntária de 5% em relação ao peso habitual, em um período de 6 meses. Uma perda de 10% indica depleção severa, e é considerada já o início de uma síndrome da anorexia-caquexia. É importante destacar que a perda de peso diminui a resposta do paciente ao tratamento quimioterápico e aumenta a toxicidade da droga no organismo. Além do peso, a prega cutânea do tríceps, a circunferência muscular do braço, circunferência da panturrilha, o perímetro do pulso e o IMC são outras medidas antropométricas utilizadas. Os testes laboratoriais mais comuns na avaliação do estado nutricional são a dosagem plasmática de transferrina e albumina. No entanto, muitas condições podem interferir no resultado, como o estado de hidratação, presença de síndrome nefrótica ou insuficiência hepática. Além disso, a trasnferrina tem meia vida curta, ou seja, reflete apenas alterações recentes e é um exame caro. Em pacientes com câncer, podem haver dificuldades na interpretação desses parâmetros em virtude de alterações fisiológicas, retenção hídrica, aumento da massa tumoral, alterações hormonais devido ao tratamento ou síndromes paraneoplásicas, efeitos de tratamento antineoplásico e da doença sobre o metabolismo corporal. Nos pacientes com câncer é fundamental que ferramentas especificas de triagem identifiquem precocemente, aqueles doentes com risco de complicações nutricionais associadas ao tratamento quimio e radioterápico. 4. Compreender a importância dos cuidados paliativos para pacientes com neoplasia Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, “Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecávele tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”. Princípios gerais dos Cuidados Paliativos: I. Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências oncológicas. II. Reafirmar vida e a morte como processos naturais. III. Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente. IV. Não apressar ou adiar a morte. V. Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021.2 VI. Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. VII. Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. A OMS pontua ainda que se deve iniciar o tratamento paliativo o mais precocemente possível, concomitantemente ao tratamento curativo, utilizando-se todos os esforços necessários para melhor compreensão e controle dos sintomas. E que ao buscar o conforto e a qualidade de vida por meio do controle de sintomas, pode-se também possibilitar mais dias de vida. A OMS classifica os países em quatro grupos, de acordo com seu nível de desenvolvimento em Cuidados Paliativos. Segundo os dados de 2014, o Brasil está incluído no nível 3a – provisão isolada, juntamente com Rússia, México, países do Sudeste Asiático, entre outros Os cuidados paliativos podem ser realizados na casa do paciente, em um hospital ou unidade de saúde, ou em um hospice. Seu principal objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente no final da vida. A decisão para o início dos cuidados paliativos é uma decisão conjunta de paciente, familiares e médico. Um dos problemas com os cuidados paliativos é que, muitas vezes, ele é iniciado de forma tardia. Às vezes, o médico, o paciente ou a família rejeitam essa alternativa porque acreditam que dessa forma o paciente está desistindo ou que não existe mais esperança. Isso não é verdade. Se o paciente melhorar ou se a doença entrar em remissão, ele terá alta e continuará a realizar o tratamento contra o câncer. Mas o que os cuidados paliativos oferecem é uma vida de qualidade, possibilitando que o paciente viva melhor a cada dia durante os últimos estágios da uma doença avançada. Existem dois termos frequentemente usados na literatura para definir condições de pacientes que devem receber Cuidados Paliativos: – Doenças que ameaçam a vida (life- threatening conditions): enfermidades que representam uma grave ameaça de morte, para as quais a terapêutica pode resultar em cura, mas pode falhar. – Doenças que limitam a vida (life-shortening conditions): enfermidades sem possibilidade curativa e que a probabilidade de morte durante a infância ou adolescência é elevada. CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS Além da dor (um dos sintomas mais frequentes), outros sintomas acometem os indivíduos com câncer, como: anorexia, depressão, ansiedade, constipação, disfagia, dispnéia, fraqueza, entre outros. Todos diminuem de algum modo sua qualidade de vida, merecendo, portanto, a atenção dos profissionais de saúde. À medida que a doença progride, maior é a necessidade de cuidados paliativos, o que os torna quase que exclusivos ao final da vida, porém, não terminando com a morte do indivíduo com câncer.
Compartilhar